domingo, 2 de setembro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XVIII (06-08 2001)


O mês de junho de 2001 começou com sangue. No dia 1°, um bomba-suicida matou 20 pessoas em Tel Aviv. Foi a operação palestina mais mortífera desde o início da ocupação israelense.
Yasser Arafat foi pego de surpresa, procurou saber quem era responsável e propôs aos grupos de resistência palestinos e a Sharon um cessar-fogo para acalmar os ânimos pelo menos do seu lado.
O Hamas concordou e Arafat começou a mexer os pauzinhos para conseguir dialogar com o adversário.
Então George W. Bush mandou ao Oriente Médio um velho conhecido de Arafat. O chefe da CIA George Tenet que pressionara e chantageara o líder palestino em Campo David e mais tarde.
Tenet estava encarregado de reunir os responsáveis de segurança dos dois lados a fim de mediar uma trégua. Seus argumentos foram convincentes, a curto prazo, e no dia 12 um acordo teórico foi alcançado. As duas partes concordaram em providenciar um cessar-fogo nas próximas 48 horas.
Porém, apesar da declaração oficial ter sido esta e Sharon ter dado uma de bonzinho na saída prometendo à mídia local calar seus fuzis dentro do prazo, os representantes palestinos, pouco dados a acordos de fachada,  não mediram as palavras ao descreverem a reunião como um fracasso. Disseram de cara que os israelenses não haviam se comprometido em dar nenhum passo específico em direção da trégua, como por exemplo afrouxar o sítio da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Prova disto foi que dez dias depois o novo enviado especial de Washington, William Burns, continuava tentando convencer o novo ministro das Relações Exteriores Shimon Peres a concordar com um frágil cessar-fogo.
Enquanto isto, dois adolescentes gazauís foram gravemente feridos durante um dos ataques da IDF e em retaliação dois soldados das forças de ocupação foram mortos em Gaza.
Os ataques prosseguiram como se nem reunião tivesse tido, e Ariel Sharon resolveu não perder tempo com intermediários. Convidou-se à Casa Branca para marcar pontos com George W. Bush em detrimento de Yasser Arafat.
Suas esperanças de conquistar o republicano logo na chegada, com conversa fiada e charme (pois é, Sharon podia ser muito envolvente nas horas vagas, como Golbery do Couto e Silva, Slobodan Milosevic, Benito Mussolini, Adolf Hitler...) foram por água abaixo. Teve um desentendimento público com o novo presidente estadunidense sobre o limite da violência, e a portas fechadas, sobre o congelamento das colônias.

À imprensa, Sharon repetia sem parar que "a violência tinha de cessar completamente" antes de qualquer negociação, desconsiderando as perguntas se estava disposto a parar primeiro e se irritando quando se falava na disparidade de meios de combate da IDF e dos grupos palestinos de resistência. No final do encontro tumultuoso, Bush, que tinha o general Collin Powel do lado, deixou clarou que não compartilhava o ponto de vista israelense do "tudo ou nada".
(Aliás, com raríssimas exceções, os presidentes dos EUA logo que empossados costumam ter uma visão clara do conflito e pressionam Israel para que aja conforme o direito e a justiça. Vão mudando de postura por causa dos acordos feitos com os predecessores e sob pressão do influente e milionário lobby israelense em Washington. A AIPAC é o segundo lobby mais potente dos EUA. Faz presidentes, compra a simpatia de formadores de opinião com corte assídua, presentes, fábulas mirabolantes e desfaz carreiras com acusações de anti-semitismo injustas, ameaças e perseguições.)

Apesar das desavenças na Casa Branca, Ariel Sharon voltou para Tel Aviv como se Bush lhe tivesse dado carta branca para fazer o que quisesse em vez de lhe ter dado um puxão de orelha público.
No dia 09 de julho seus caterpillars voltaram à ação demolindo casas de 14 famílias nas imediações de Jerusalém.
Um das vítimas disse então que estas demolições corriqueiras faziam parte da "política israelense de diminuir o número de palestinos na área."
Três dias depois, dois jornalistas testemunharam dois outros fatos banais nos checkpoints dos Territórios Ocupados. Em um, uma mulher em trabalho de parto foi bloqueada durante duas horas e meia no caminho do hospital e acabou dando a luz no carro - o recém-nascido morreu antes da mãe conseguir chegar ao hospital para receber os cuidados que precisava. Em outro, uma mulher foi baleada quando o táxi em que se encontrava se desviou da rota para evitá-lo - também morreu antes de receber cuidados médicos.
Estes fatos corriqueiros, mas que desta vez foram vistos por um repórter estrangeiro, deram no que falar e chamaram a atenção para os danos que a ocupação causava na vida quotidiana dos palestinos. Atenção curta e poucos jornais lhe deram o espaço necessário à conscientização da opinião pública.
As bombas falavam bem mais alto do que "banais" mortes individuais na calada.
Na semana seguinte, no dia 17, dois helicópteros de combate bombardearam uma fazenda perto de Belém matando quatro pessoas. Dois deles eram os militantes do Hamas Omar Saadeh e Taha Aruj.
Na semana seguinte, no dia 25, a IDF matou outro ativista do Hamas e fechou o mês bombardeando uma oficina na Cisjordânia. Seis mecânicos que estavam trabalhando durante este ataque perderam a vida, no dia 30.
Em Gaza bombardearam a Delegacia de polícia central em pleno expediente, causando feridos leves e graves.
Julho terminou com 539 palestinos enterrados e centenas de feridos.
No dia 04 de agosto Sharon resolveu pegar pesado. Mandou assassinar Marwan Barghuti, líder do Fatah na Cisjordânia. Barghuti escapou por um fio ao míssil que lhe era destinado em Ramallah. Quem contra-atacou não foi o Tanzim, que Barghuti comandava, e sim o Jihad. Mandou um bomba-suicida explodir em Jerusalém Ocidental provocando 18 mortos e ferindo oitenta pessoas.
Sharon resolveu então, além de atacar fisicamente o povo palestino, atacar seu orgulho. Ordenou a tomada da Casa Oriental - sede histórica da OLP em Jerusalém - e uma campanha militar que foi crescendo até o ápice da investida do dia 15. Neste dia, cerca de 70 tanques e tropas ocuparam edifícios públicos, inclusive escritórios da Autoridade Palestina e delegacias nas cidades mais importantes.
A operação durou três horas.
Os caterpillars demoliram tudo o que encontraram no caminho. Quando os assaltantes se retiraram, deixaram um rastro de ruinas, três cadáveres e vários feridos que foram transportados, nos braços ou como dava, aos postos de saúde já sobrecarregados.
Mas isto não bastava.
No dia seguinte em Hebron, soldados da IDF à paisana executaram com tiros na cabeça, ombro, estômago e pernas Imad Abu Seineh, ativista palestino conhecido.
No dia 23, logo após os lados concordarem em retomar o diálogo outro palestino foi baleado em uma barragem das forças de ocupaçã e quando três concidadãos tentaram socorrê-lo, foram crivados de balas pelos soldados.
Parecia a última cena de Bonnie and Clyde, com a diferença que os três civis estavam desarmados.
Para completar as derrapagens mortíferas de agosto, a IDF assassinou um dos líderes palestinos mais queridos e respeitados. O chefe da Frente de Libertação da Palestina (PFLP), Abu Ali Mustafá, de 64 anos, de maneira espetacular "para servir de exemplo". De quê, não se sabe.
Mustafá atendeu o telefone e quando desligou, dois mísseis lançados de helicópteros atravessaram as janelas o destroçando dentro do escritório. Da caça às bruxas, Mustafá foi até então a presa mais elevada na hierarquia próxima de Arafat. Nasceu na Palestina sob Mandato Britânico em 1938, em Arraba, no norte da Cisjordânia, fora deportado, retornara em 1999 e quando Habash "se aposentou" em 2000, assumira a chefia do PFLP.
Seu enterro no dia 27 foi seguido por cerca de 50 mil pessoas, a ala armada do PFLP foi rebatizada Brigada Abu Ali Mustafá, e Ahmed Saadat assumiu seu lugar.
O assassinato de Mustafá não só não foi dissuasivo como despertou vocações de jovens revoltados. Seu sucessor, Ahmed Saadat era muito mais determinado do que Mustafá. Este foi um dos erros táticos que o ódio cego de Ariel Sharon faria com que todos fossem prejudicados.
Saadat é filho de refugiados vítimas da Naqba. Grupos para-militares judeus apagaram do mapa sua cidade, Dair Tarif, no dia 13 de julho de 1948, matando ou forçando ao êxodo os oito mil habitantes. Ele nasceu em 1953, em 1967 aderiu ao movimento estudantil do FPLP, do qual virou membro em 1969. Quando substituiu Mustafá, Saadat tinha 48 anos, muitos anos de militância, muita experiência de terreno e sede de vingança.


Um reservista da IDF - sargento do Armored Corps, Shovrim Shtika - Breaking the Silence sobre um episódio em Belém. 2001. 
"We were in Bethlehem, Nokdim I believe it is called, near Nokdim, Shdema was the name of the base.
A thing I've found out just now, during my reserve service, my company commander told me that before going in they would smoke drugs, he and some other officers.
I saw things that were immoral in my view, I was really shocked. By the irresponsibility. Because these were people some of which I'd taken as responsible, certainly when dealing with human life, and humane."
Did they say why they did drugs?
"No special reason, just for the kick. Before going out on a reconnaisance tour, something that was expected to warm up, they would sometimes smoke drugs. I don't know how often. It's a story he told me.
At the time he told me this he was on drugs as well so I don't know how credible it is, but in any case it is worrisome."
Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 2
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

"A quarter-century ago I barnstormed around the United States encouraging Americans, particularly students, to press for divestment from South Africa.
Today, regrettably, the time has come for similar action to force an end to Israel's long-standing occupation of Palestinian territory and refusal to extend equal rights to Palestinian citizens who suffer from some 35 discriminatory laws".
Bispo Desmond Tutu em entrevista para o Times.

Nenhum comentário:

Postar um comentário