domingo, 27 de janeiro de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXVII (04/05 2002 - ODS)


A Operação Defensive Shield ainda estava em andamento quando Ariel Sharon marcou um grande ponto contra a resistência palestina.
No dia 14 de abril, Marwan Barghouti, braço direito de Yasser Arafat e líder do Tanzim, organização militar do Fatah, foi preso em Ramallah. Na casa que o abrigava na clandestinidade.
Tal era o medo que a IDF tinha do intelectual palestino empurrado à resistência, que pôs um batalhão quase inteiro em seu encalço.
Um monte de soldados do Batalhão Duchifat - unidade ante-tanque altamente treinada -amontoou-se dentro de uma ambulância para aproximar-se subrepticiamente do local que lhes fora indicado. Lá chegando, cercaram o recinto, renderam os presentes e capturaram Barghouti, tido como o comandante da Intifada.
"While I, and the Fatah movement to which I belong, strongly oppose attacks and the targeting of civilians inside Israel, our future neighbour, I reserve the right to protect myself, to resist the Israeli occupation of my country and to fight for my freedom," he wrote in the Washington Post newspaper in 2002.
I still seek peaceful coexistence between the equal and independent countries of Israel and Palestine based on full withdrawal from Palestinian territories occupied in 1967," declarou ao Washington Post, no ano de sua captura, o número 2 (após Arafat) na lista israelense de inimigos perigosos.
As Brigadas al-Aqsa selaram a prisão do líder do Tanzim quando, sem intenção de prejudicá-lo, é claro, o indicaram como líder máximo.
Como estas Brigadas eram responsáveis pela maioria dos ataques suicidas dentro da Linha Verde, as autoridades israelenses aproveitaram a deixa para fazer de Barghouti o bode expiatório que precisavam. Ao dar aos compatriotas uma cara para a qual pudessem canalizar sua sede de vingança, Sharon esperava apoio para continuar sua campanha sanguinária.
Mas neste caso preciso, o sangue seria derramado a conta gotas, longe da imprensa, da opinião pública internacional. Nas masmorras.
Marwan escapara no ano anterior a uma tentativa de assassinato, na qual perdera seus guarda-costas. Desta vez Sharon o queria vivo. Talvez para desviar a atenção de seus compatriotas durante o processo no qual pretendia levar vantagem.
Marwan foi torturado durante os 108 primeiros dias de detenção. Com as mãos amarradas nas costas da cadeira, privado de sono, enfim, as torturas básicas praticadas pelo Shabak (*abaixo, detalhes publicados pela ONG B'Tselem). Os interrrogatórios eram diários. Era enclausurado em uma cela pequena e húmida, sem janela, sem aeração, sob luz artificial noite e dia. Com o tempo, nos onze meses seguintes, seria autorizado a uma hora diária de saída ao pátio. De mãos e pés acorrentados.
No dia 24 de dezembro de 2003, seu filho Qasem, universitário de 19 anos, seria preso na ponte de Allemby e levado para a prisão de Ofar. Estava vindo do Cairo, onde estudava, passar férias natalinas com a família. Foi preso só para ser usado como pressão contra o pai que não se dobrava aos interrogários e se recusava a "cooperar" com os torturadores.
Pois em agosto de 2002, no início do julgamento que duraria dois anos, Marwan foi acusado da morte de 26 pessoas e de ser membro de uma organização terrorista e recusou-se a reconhecer a legitimidade do Tribunal israelense de julgá-lo por defender sua pátria usurpada. Seus advogados insistiram o tempo todo que ele era apenas um líder político, e transformaram o processo em um processo de Israel e da ocupação da Palestina.
A postura nobre e irredutível de Marwan Barghouti foi contra as expectativas de Ariel Sharon de pintá-lo como um terrorista desvairado.
O Primeiro Ministro de Israel deve ter lamentado tê-lo capturado vivo, mas não tinha outro jeito. Se tivessem executado Marwan Barghouti como executaram outros líderes palestinos, qualquer que fosse o número de Apaches e Phantons que colocassem no ar e quantos fossem os tanques "cruéis" e caterpillars D9 armados, os trinta mil reservistas jamais teriam conseguido conter a revolta popular que seguiria. Sem contar as operações militares da resistência.
Em 2004, Marwan Barghouti seria condenado a prisões perpétuas consecutivas por cinco das 26 mortes das quais era acusado.
O ex-líder do Tanzim é a única pessoa na Palestina a gozar de respeito e popularidade junto à população inteira. Tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza. O único catalisador e unificador de todas as facções do Fatah e do Hamas.
(O percurso de Marwan está no capítulo XV de Israel vs Palestina.)
No dia 19 de abril, a notícia que estava preso em Israel já se espalhara quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas adotou a Resolução 1405.
Uma a mais.
Esta tratava do envio de comissão de inquérito a Jenin, a fim de apurar a chacina.
Dois dias depois, enquanto a IDF ainda atirava nos meninos que em Dura, no sul da Cisjordânia, se aventuravam a pôr a cabeça fora de casa, matando seis e ferindo vários, Ariel Sharon anunciou o fim da primeira fase da Operação Defensive shield, se dizendo satisfeito com os resultados.
O cálculo rápido de então foi de mais de 250 palestinos mortos, 29 soldados israelenses, e perdas materiais estimadas a U$900 milhões de dólares.
Entretanto, o fim oficial da ODS não significava nem trégua nem retirada.
No dia 23, dando prosseguimento à campanha de execuções, dois Apaches da IDF torpedearam o carro de Marwan Zalloum, mais um proeminente ativista. Zalloum morreu com seu braço direito Samir Abu Rajab. Os dois, e o veículo em que estavam, foram reduzidos a detritos.
Os "efeitos colaterais", as pessoas atingidas no bombardeio, nem foram mencionadas.
E na dança surreal dos dois pesos e duas medidas, Arafat estava sendo obrigado a concordar com uma punição unilateral em troca de uma trégua para que respirassem.
No dia 25, um tribunal improvisado por Arafat na Mukata'a, em Ramallah, julgou e condenou quatro membros da FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina) a penas de 1 a 18 anos pelo assassinato do ministro israelense do turismo, em outubro de 2001.
Era uma das condições sine qua non para os EUA concordarem em forçar Israel a terminar a ODS sem muito tardar.
Surtiria efeito imediato, de fachada.
No dia 28, a Casa Branca anunciou que, atendendo a George W. Bush, Ariel Sharon concordava em retirar o sítio da Mukata'a de Yasser Arafat e evacuar Ramallah. Em contrapartida do julgamento e da detenção, em prisão palestina mas sob supervisão britânica e estadunidense, dos quatro acusados do atentado.
Nada foi dito sobre as dezenas de membros da administração palestina executados por Israel nos últimos dois anos.
Era como se os assassinatos premeditados e friamente executados com armamentos sofisticados Made in USA os legitimassem.
Entretanto, a lembrança dos líderes mortos continuava viva em toda a Palestina. Ninguém entendia o porquê dos resistentes serem punidos pelo mesmo crime que os soldados e agentes israelenses eram apriorísticamente absolvidos.

Em Gaza, o Hamas logo demonstrou descontentamento com a barganha desproporcional, mas engoliram o sapo de mau-grado.
E embora a Operação Defensive Shield - cuja tradução literal do hebraico מבצע חומת מגן‎ é Defensive Wall em uma premonição da serpente de muros fagocitários - tivesse sido oficialmente concluída, os hebronitas continuavam sob ataque.
Hebron, que já vive sitiada, fora "poupada" enquanto as outras cidades eram bombardeadas.
Sua vez chegara. Mais tarde.
No dia 29 de abril mais de cem tanques "cruéis" e caterpillars armados, apoiados pelos Apaches investiram a cidade. Lá, os colonos que aterrorizam os nativos foram aconselhados a ficar em casa para os soldados atirarem em tudo o que movesse e não usasse kipa.
Como nas outras cidades, o acesso foi vedado à imprensa e a socorro médico. Enquanto isso, os soldados usavam uma tática covarde já usada em Jenin, Nablus, Gaza e em outras cidades. A dos escudos humanos. Um soldado israelense jamais enfrenta a resistência de cara. É sempre atrás de um cidadão local. 
No fim das "operação", feridos jaziam nas ruas e vários carros, lojas e casas estavam vandalisadas.

Enquanto isto, Bush compactuava com Sharon e o enviado do papa João Paulo II encontrava o presidente de Israel. O cardeal Roger Etchegaray foi a Tel Aviv com a missão de transmitir a Moshe Katsav a condenação do Vaticano das chacinas, do sequestro do líder palestino e do cerco de Belém e da Basílica da Natividade.
Após advogar e mediar, no dia 01 de maio, o cardeal francês foi a Ramallah garantir, com sua presença, a segurança de Arafat quando este emergiu do confinamento em que se encontrava desde o dia 29 de março.
O líder palestino foi aclamado na porta da Mukata'a com cantos de "Deus é grande - Allah uakbar - em companhia do cardeal, e em seguida, cercado de guarda-costas armados, entrou no carro preto que o esperava.
Apesar do longo período de prisão domiciliar, e dos 72 anos passados desde moço em duras batalhas, o líder palestino demonstrou energia contagiante. Por algumas horas, na efusão da celebração de sua liberdade precária, parecia até que a paz tivesse sido concretizada, os territórios palestinos desocupados, os milhões de refugiados de volta ao lar.
Arafat abanava a mão para a meninada que corria alegre em volta do carro, pôs a mão na massa junto com policiais que tapavam buracos de bala na parede de uma delegacia, e orou nas covas dos recém-enterrados no estacionamento do hospital.
Ramallah, "Monte de Deus" em árabe, não estava tão destroçada quanto Jenin e Nablus. Contudo, a IDF entrincheirara a Mukata'a e os ramallenses se puseram logo a devolver-lhe um aspecto de liberdade enquanto seu líder circulava para encontrar o povo e avaliar os estragos.
Apesar de partes do complexo terem sido amputadas de paredes e telhados, o que destoava mesmo eram as barricadas. No mais, o aspecto da sede do governo da Palestina estava em fase com o resto da cidade.  
O que Arafat viu foi furos de balas e rombos em edifícios e casas, ruas com enormes buracos abertos pelas bombas e carros esmagados por tanques e caterpillars.
"Quanto mais destruição vejo, mais me fortaleço", disse Arafat aos jornalistas.
Era mesmo o que parecia.
Apesar da frase de batalha, deixou claro que botava fé na retomada das negociações de paz que estava pronto para reinaugurar.
Uma das partes do acordo negociados pelos mediadores estrangeiros era que o líder palestino teria liberdade total de movimento. Dentro e fora dos terriórios ocupados. Ou seja, após cinco meses de prisão docimiciar, poderia viajar para o exterior e transitar pela Cisjordânia e pela Faixa de Gaza.
Este era o trato.
Porém, Ariel Sharon voltou atrás. Ou talvez jamais tivesse concordado com a promessa feita pelos mediadores ou cruzado os dedos quando assinou embaixo. O fato é que no final das contas demorou a garantir que não impediria o retorno de Arafat à Palestina, caso ele saísse de lá. E essa garantia não era fiável.
De qualquer jeito, de imediato, Arafat tinha muita coisa para resolver em casa antes de ir buscar apoio na Europa e nos EUA. A IDF se retirara das cidades principais, exceto de uma. Belém continuava sitiada e a Basílica da Natividade continuava cercada.
Além deste cerco que não se afrouxara, a IDF continuava a bombardear pontualmente alguns campos de refugiados.
Yasser Arafat avaliava as perdas e danos, enterrava os mortos, animava seus concidadãos e pedia calma aos resistentes do Fatah e do Hamas.
Tarefa árdua. Quase impossível. Era difícil assistir placidamente Ariel Sharon cantando vitória na televisão do "sucesso" da ODS na Cisjordânia enquanto dezenas de famílias estavam de luto e milhares, desabrigadas.
Para completar, Kofi Annan, então secretário das Nações Unidas, anunciou, no dia 02 de maio, a dissolução da comissão encarregada de investigar os "combates" em Jenin.
Por quê?
Porque Ariel Sharon "não autorizou o inquérito" e a ONU dobrou-se à proibição de bico calado. Como se a vontade de um único país suplantasse a autoridade de mais de 150 Nações Unidas.
A ONU nem se recuperara de mais esta humilhação quando cerca de cinquenta tanques "cruéis" reinvestiram Nablus.
Esta bela cidade mal enterrara seus mortos e mal começara a pôr pedra sobre pedra para palear ao vandalismo a que Sharon a submetera quando, no dia 03 de maio, voltou a ser invadida.
No dia 07, as tropas da IDF se retiraram de Belém com o balanço já conhecido no capítulo XXIV desta história.
E enquanto os palestinos celebravam a liberdade relativa, receberam um golpe que os deixou nocauteados.
O golpe chegou no dia 12. Veio do comitê central do Likud, partido de Ariel Sharon. Este aprovou, por maioria absolutíssima, a moção apresentada por Binyamin Netanyahu contra a criação de um Estado palestino.
Obsessão sionista arraigada, provocação deliberada, ou ambos na mesma dosagem, não se sabe.
O que se sabe é que a publicidade dada à decisão do partido do Primeiro Secretário de impedir a emancipação almejada, foi um balde de água fria nas iniciativas de paz de Yasser Arafat.
Na ONU, foi um tapa na cara. Mais um, na série interminável. 


* Special” interrogation methods:
"The report published by B'Tselem and HaMoked in May 2007 indicates that, in a small percentage of cases, Shabak agents use “special” interrogation means, most of which entail the use of direct physical violence. The ISA's director and the State Attorney's Office approve their use in “ticking bomb” cases. Based on the statements of the sample group, there are seven methods in this category.
Sleep deprivation
This method includes preventing the detainee from sleeping for a whole day, by means of “intensive interrogation,” with the detainee sitting in the shabach position. Some of the sample group reported that the interrogators shouted into their ears to prevent them from sleeping. In most cases, sleep deprivation is used only during the first days of the interrogation.
Beatings This includes “dry” beatings, meaning slaps, punches, and kicks to the body. Most of the sample group noted that they were beaten only once during interrogation, generally in the first or second interrogation.
Painful cuffing
The agents tighten the cuffs as much as possible, causing intense pain to the wrists. Some of the interrogees stated that in one interrogation session, the interrogators pushed the cuffs toward the joint, causing a stoppage of blood flow to the palms of the hands for a few minutes.
Sudden pulling of the body The interrogator grabs the detainee suddenly by the shirt or by the shoulder and yanks him, usually forward, once. The interrogator repeats this action a number of times during the interrogation. The detainee's hands are cuffed behind him, connected to a loop on the seat of the chair, so the sudden pulling causes intense pain in the joints of the interrogee's hands and arms.
Sudden twisting of the head
The interrogator grabs the interrogee's chin and twists the head sharply to one side. The interrogator may also, or in the alternative, push the detainee's head backwards by a blow with a fist to the detainee's chin.
The “frog” crouchThe interrogators force the interrogee to crouch on his toes non-stop for a few minutes, his hands cuffed behind him. When in the crouch, they push or strike him until he loses his balance and falls forward or backward.
Bending the back (the “banana” position)The interrogators turn the chair so that the interrogee sits with the backrest to the side, and cuff his hands in front of him, then push him backwards, so that his back rests at a forty-five degree angle. The moment he cannot maintain this angle, he falls backward, his body forming an arch.
Isolation from the outside world
Most of the members of the sample group reported they were isolated from the outside world during a large part of the interrogation period. Isolation included preventing the detainees from meeting with their attorneys, Red Cross representatives, and family members. This isolation increased the sense of helplessness among the detainees, who were unable to tell a friendly person about what was happening in the interrogation facility. The prevention of meetings between the interrogees and their attorneys is especially important in creating this sense of helplessness, since it denies the interrogees access to legal guidance regarding their rights during detention and interrogation.
The use of the conditions of confinement as a means of psychological pressureThe detainees spend most of their detention period in solitary confinement, in cells without windows and thus no natural light or fresh air. A light fixed to the ceiling of the cell provides dim light twenty-four hours a day. A hole in the floor is used as a toilet. A mattress and two blankets are placed on the floor. Other than these, no other items or furniture are provided for the cell, nor are any allowed in it, including reading material or writing implements. These conditions alone result in mental distress. Their use in combination creates the phenomenon referred to as "sensory deprivation" in the psychiatric literature.
The use of the conditions of confinement as a means for weakening the detainees' physical stateThree major features of imprisonment cumulatively and over time physically weaken the detainee. First, the denial of a daily walk, together with the protracted interrogation in which they sit constantly, gives them no opportunity to move about, weakening their muscles and decreasing their resistance to illness. Second, during the interrogation, the interrogees have difficulty sleeping because a light is kept burning in their cells, the jailers knock on the cell door, and so forth. Third, during interrogation, the detainees are provided with insufficient and poor-quality food.
Tying up in the “shabach” position
In this method , the detainee is tied to a regular chair that is fastened to the floor, his hands bound behind his back with metal cuffs, with the cuffs attached to a loop on the backside of the seat, such that his hands are stretched and kept under the backrest. In most instances, the interrogee's legs are shackled and chained to the front legs of the chair. He remains bound like this all the time he is in the interrogation room. However, in most cases, the interrogators come and go, but the detainee remains bound, and waits. Almost the entire sample group mentioned that use of the shabach position caused them severe back pain.
Beating and degradationAt intake at the interrogation facility, the detainee undergoes a body search. In some instances, the jailers force the detainees to undress completely and to stand naked in front of them. During the interrogation itself, Shabak interrogators swear at and insult the interrogee's family and make sexual connotations. In addition, the interrogators humiliate the interrogees in other ways, by shouting into their ears and spitting in their face.
Threats and intimidation
Two-thirds of the sample group reported that Shabak agents threatened them. One of the most common forms of threat: extreme physical torture will be used if the interrogee does not cooperate. Another common threat is that the interrogee's relatives will be arrested if the interrogee does not provide the requested information, and that the family's house will be demolished. To illustrate the seriousness of the threat, the interrogators invite the relatives against whom the threat has been directed to come to the facility and let the interrogee see them from a distance away. The more credible the threat, the greater the chance it will break the detainee's spirit.
Obtaining information through informers This method uses false representation, whereby, after the interrogation has ended, the detainee is taken to a “regular cell.” The Shabak plants persons in the cell to get the detainee to talk. Unlike other methods, this method does not cause the detainee suffering or distress. However, its effectiveness depends largely on the traumatic experience that the detainee had undergone prior to being placed in the cell, which causes them to ignore actions that should raise suspicion."

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence - 2

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/




domingo, 20 de janeiro de 2013

O Sahel refém da barbárie


Países do SAHEL, como é chamado o Saara nessa região:  do Oeste para o Leste - Cabo Verde, Senegal, Mauritânia, norte do Mali,  sul da Argélia, note do Burkina Faso, Niger, norte da Nigéria, centro do Tchad, centro do Sudão, Eritrea, Etiópia.

Faixa sensível do Sahel, a faixa marron.
Sul da Mauritânia, norte do Mali, extremo sul da Argélia, note do Burkina Faso, norte da Nigéria, centro do Tchad, centro do Sudão (sobretudo o Darfour e o Kordofan).

Antes de Ossama ben Laden ser o terrorista mais procurado do planeta, ele foi sucessivamente um simples milionário árabe bem relacionado, um jovem ideólogo de ideias radicais, um ex-combatente patrocinado pelos EUA contra a União Soviética no Afeganistão.
Nessa época, em 1993, para ser precisa, ele mandou um mensageiro à Argélia para oferecer seus préstimos ao Grupo Islamita Armado que semeava o terror na área e em atentados motíferos na França. Este grupo cometia atrocidades com a bandeira de rebeldia contra o governo socialo-laico-corrupto que reinava em Argel. O GIA queria derrubar o presidente Chadle Bendjedi para instalar um regime governado pela sharia (lei) islamita.
Ben Laden ofereceu dinheiro e assistência logística ao GIA e em contrapartida, engrossaria a coalição jihadista que ben Laden, então baseado no Sudão, estava construindo.
O GIA, selvagem mas ainda nacionalista, recusou a oferta generosa do estrangeiro e o mensageiro de ben Laden quase perdeu a vida entregando a mensagem.
Quatrorze anos mais tarde, no fim de uma guerra civil que deixou 150.000 mortos na Argélia e um GIA derrotado, os sobreviventes do grupo mandaram recado para bin Laden, já pós-graduado em terrorismo e celebricíssimo pelos ataques no solo dos Estados Unidos.
O GIA havia perdido todo e qualquer apoio da população local, estava moribundo, e, portanto, seus sobreviventes estavam prontos para captar fundos que os reabastessem. E em um gesto oportunista, integraram a rede internacional extremista em 2007.
Foi assim que o AQIM nasceu no sul da Argélia e norte do Mali.
O que não prova que o ataque à refinaria na Argélia tenha sido comandada pelo al-Qaeda - que atualmente está mais preocupado em infiltrar a Síria do que dominar a África.
Para começar, os laços entre as lideranças do AQIM e a do al-Qaeda sempre foram tênues. Os interesses são os mesmos, mas os africanos tentam manter uma certa independência. Facilitada pela dificuldade de comunicação e locomoção na região Sahel-Sahara.
E muita água rolou desde que ben Laden tirou o grupo extremista do buraco. As atividades ilegais e a cumplicidade do governo do Mali o levaram a reconstituísse rápido, a fortalecer-se e os papeis acabaram se invertendo. A fonte financeira do al-Qaeda não está tão opulenta quanto na época de ben Laden e atualmente o AQIM, com sua bandidagem, é milionário e tem dinheiro e meios à vontade para comprar o que quiser. Inclusive estrategistas do al-Qaeda.
Para concluir esta parte, o AQIM não é o único bandidão islamita do pedaço.
Mokhtar Belmokhtar, o "maestro" dos ataques lidera seu próprio grupo e não tem nenhuma submissão ao al-Qaeda. Seu ego, sua convicção de líder religioso brilhante, excluem, a meu ver, qualquer possibilidade de ele seguir ordens.
Dito isto, os serviços de inteligência ocidentais têm constatado que nos últimos 18 meses uma série de membros do al-Qaeda foram despachados para o Sahel e para a África em geral. Mas não se sabe com que papel. É mais provável que seja de apoio. Atualmente, o al-Qaeda tem mais a ganhar com a ligação com os grupos extremistas da África Ocidental do que o contrário.
Que se saiba, os líderes locais, sobretudo Mokhtar Belmokhtar, não fez juramento de fidelidade - bayat - a ninguém.
Acho que a demanda de liberdade do egípcio Omar Abdel-Rahman, ideólogo jihadi preso em 1993 nos EUA logo após o ataque de Nova York, não é um presente para o al-Qaeda nem um sinal de obediência. E sim uma vontade de impor-se no cenário internacional e de demonstrar ao próprio al-Qaeda que está querendo tomar as rédeas do extremismo islamita além do Sahel.

As televisões do mundo inteiro estão se encarregando de mostrar os bombardeios e a imprensa escrita de dar as notícias que lhe chegam. Como não gosto de chover no molhado nem de falar no óbvio, resolvi hoje descrever as forças belicosas principais que poluem o norte do Mali. Pelo menos as que conheço.
E depois falar um pouco nos tuaregues, os grandes prejudicados nesta relação de forças militares entre os extremistas islamitas e a França.
É o Mali centraliza todo o conflito nessa área.
Foi por isso que aviões franceses, com apoio dos Estados Unidos e assistência logística alemã e inglesa, vêm bombardeando alvos no Mali considerados ligados ao al-Qaeda.
Quem dera fosse tão simples!
Há anos a região é um caldeirão de instabilidade. Começou com a primeira rebelião tuaregue em 1962 e aumentou com a invasão do Afeganistão e o aumento de pressão sobre o Yêmen.
Não há unidade sectária nem militar entre todos os bandos.
São diversas facções armadas. Distintas tanto nas tendências religiosas quanto étnicas. Há inclusive seculares.
Pôr todos no saco do terrorismo radical do lobo mal al-Qaeda é um simplificação perigosa e fátua.
Só eu, tenho conhecimento de vários grupos dominantes que pouco têm em comum, com exceção da violência.
Como tudo está sendo posto nas costas do Al-Qaeda, vou começar a listar das Organizações militarizadas pela coalição extremista pseudo-religiosa que engloba três grupos.
Primeiro o "famoso" AQIM. Ou seja, o Al-Qaeda no Magreb islâmico.
Neste, predominam homens originários da Argélia e da Mauritânia.
Instalaram-se no Mali em 2003 e são especializados em sequestro de ocidentais. Nos últimos dez anos barganharam 50 reféns europeus e canadenses em troca de um total de R$100 milhões de dólares.
Segundo o ministro das Relações Exteriores da Nigéria, Mohamed Bzoum, a presença do AQIM no Mali deve-se a um acordo entre o grupo e o presidente deposto Amadou Toumani Toure. O acordo teria sido feito através de outro Maliano. O parceiro político do ex-presidente, Iyad Ag Ghali.
Dinheiro dos resgates teria sido distribuído generosamente para servidores públicos malienses em troca de passe livre nas áreas tuaregues. Tudo isto sob as barbas do desmoralizado exército do Mali, cujos soldados fechavam os olhos seguindo ordens e por questão de sobrevivência.
O AQIM ainda detém pelo menos nove europeus no norte do Mali.
Com o passar dos anos, alguns membros da etnia Ifogha local, tuaregues e árabes, aderiram ao AQIM no Mali. Por causa de alianças de casamento e aliciamento de jovens. Vários membros do AQIM se casaram com mulheres das comunidades em que se instalaram.
Nos últimos anos este grupo tem desenvolvido suas atividades nas principais cidades do Mali, e graças à sua associação a grupos locais, como o Ansar al Din, foi se transformando em uma corrente para a qual convergiram jovens perdidos do sul do Mali, Senegal, Nigéria e outros países limítrofes. Estes recrutas aderiram à insígna da Polícia Islâmica, controlada pelo AQIM.
O líder do AQIM é o argelino Abdel Malek Droukdel. Conhecido como Abu Musab abdel Wadoud.
Além de Abu Musab, o grupo tem também um Emir para o Saara, chamado Yahia Abou Hammam. Mais um número de brigadas encabeçadas por indivíduos famosos no Sahel, tais como dois bandidos argelinos notórios. O traficante caolho Moktar Belmokhtar e Abou Zaid.
A estrutura de liderança não me é muito clara, portanto, paro nestas duas figuras famosas que mostram as caras.    
Mencionei o Ansar al Din acima.
Este é um grupo local de tuaregues Ifoghas, árabes berabiche e outros grupos étnicos locais que têm o mesmo objetivo religioso radical. Querem implantar a sharia, a lei muçulmana, no Mali inteiro e em todos os países muçulmanos.
O fundador e atual líder do Ansar al Din é Iyad Ag Ghali. Um ex-chefe tuaregue da década de 90.
Iyad começou a ajudar o ex-presidente do Mali a combater a revolta tuaregue no início do milênio. E a negociar com o AQIM resgates dos sequestrados.
O porta-voz do Ansar al Din, Sanda Ould Boumana, é um árabe de Timbuktu que foi preso na Mauritânia em 2005 sob acusação de pertencer ao al-Qaeda.
A maioria dos paramilitares do Ansar al Din são da área de Timbuktu.
Este grupo evita confrontação com o MNLA e FNLA para não derramar sangue de parentes, o que os desligitimaria aos olhos dos demais. Preferem deixar o derramamento de sangue nas mãos do AQIM e do MUJAO, que abordaremos em seguida.
O Ansar al Din se preocupa em manter um grupo essencialmente maliense e nega publicamente ligações com o al-Qaeda. Mas por baixo do pano, "hospeda" ações deste grupo terrorista internacional e do AQIM local - um pouco como a relação entre os Talibã e o al-Qaeda no Afeganistão antigamente. E asseguram, juntos, o policiamento religioso radical.
O Ansar al Din está presente nas três principais cidades do norte: Gao, Kidal e Timbuktu. 
O terceiro grupo extremista é o MUJAO (Movement for Unity and Jihad in West Africa - Movimento pela Unidade e Jihad na África Central). É o mais turvo, dos ligados ao Al-Qaeda no norte do Mali.
Apresenta-se como uma dissidência do AQIM, mas ao mesmo tempo, seus líderes trabalham com o AQIM em Gao no combate de inimigos mútuos.
O MUJAO também quer impor a Sharia, mas no mundo todo. E ao contrário do Ansar al Din, ele acolhe em suas fileiras tanto locais quanto estrangeiros da região do Sahel e da África do Norte.
Tem sido o grupo mais agressivo contra elementos do MNLA e de grupos árabes que lutam pela auto-determinação do norte do Mali. Cada vez que o MNLA conquista uma área, o MUJAO os ataca até que batam em retirada.
Dizem que quem fundou o MUJAO foram os drug lords árabes Tilemsi da área de Gao, com o recrutamento de jovens. 
AQIM, Ansar al Din e MUJAO são grupos radicais religiosos que poderiam ser considerados terroristas por causa das ideias extremistas islamitas. Entretanto, são meso é bandidos.
Tirando estes, há outros movimentos laicos de proeminência no Mali. Grupos movidos por um ideal e não pela bandidagem.   

Political Map of Mali
O MNLA (National Movement for the Liberation of Azawad - Movimento Nacional para a Libertação de Azawad), por exemplo, é uma organização secular separatista tuaregue.
Estes rebeldes querem a independência do norte do Mali, chamado Azawad.
Seus líderes dizem que desejam este Estado para todos os nortistas (tuaregues, songhai, árabes e fulani são os grupos étnicos preponderantes).
Alguns de seus participantes são Songhai, mas 99 por cento dos guerrilheiros são tuaregues motivados pela conquista de um Estado.
O líder do MNLA é Bilal Al Cherif, um tuaregue Ifogha. Seu "vice" é Mahmadou Djeri Maiga, um Songhai.
O grupo chegou a controlar as cidades de Gao e Kidal, mas foram forçados pelos MUJAO a recuar e misturar-se com a população à espera de uma oportunidade de re-emergir para conquistar espaço.
Sua força é subestimada por causa das recentes derrotas no terreno para os grupos contolados pelo al-Qaeda.
Mas acho que esta é apenas a parte visível da relação de forças, já que a gênesis da crise atual foi uma ação militar do MNLA no intuito de conquistar o norte do Mali. O invisível é uma reação em cadeia, pragmática.
A raiz das aspirações do MNLA são profundas. São fincadas na primeira rebelião tuaregue em 1963.
Não é um movimento emergente e oportunista como os três extremistas religiosos acima.
Suas pretenções não desaparecerão com bombas.
Querendo ou não, continuarão a ser a base da crise do Mali.
Assim como o FLNA (National Front for the Liberation of Azawad - Frente Nacional para a Libertação do Azawad). Um grupo árabe aliado do MNLA que luta pelo direito à autodeterminação do norte do Mali.
Pleiteiam o direito dos nortistas decidirem se querem ou não continuar ligados ao governo central. Através do mesmo tipo de referendum usado para separar o Sul do Norte do Sudão.
O FNLA também não reivindica nenhuma lei religiosa sectária.

Os Ganda Koy (Senhores da Terra) são um grupo étnico Songhai que data da segunda rebelião tuaregue.
Na década de noventa os Ganda Koy criaram uma milícia para auto-proteção e esta lutou com o exército maliense contra os rebeldes tuaregues.
Dizem na região que os Ganda Koy massacraram muitos civis tuaregues.
Segundo a ONG internacional de Direitos Humanos Human Rights Watch, este grupo tem executado muitos árabes e tuaregues. Assim como o grupo Ganda Izo.

O Ganda Izo é uma milícia da etnia Fulani. Foi formada em 2008 para o mesmo fim do Ganda Koy. Ou seja, fornecer auto-proteção para a população local Fulani e combater a rebelião tuaregue. Porém, acabou abrindo as portas de sua organização a outras etnias e abrindo campos de treinamento militar em Mopti.

Dito isto, qual é a dos tuaregues?
Nesta história, são os bonzinhos.
A tribo tuaregue maliense faz parte da comunidade nômade do Saara.
No Mali, vivem na área Azawad - que se refere à língua tuaregue que cobre o norte do país. Azawad consiste de três regiões: Timbuktu, Gao e Kidal.
Os tuaregues representam cerca de 7% da população do Mali. Há décadas que o MNLA reclama da negligência e da marginalidade à qual são submetidos pelo governo maliense, confortavelmente instalado em Balako, no sul do país.
E reivindicam a independência do norte para poderem dirigir o Azawad como quiserem, pois o consideram seu país legítimo povoado desde sempre por seus ancestrais.
Como o Sudão do Sul conquistou a liberdade com facilidade, não entendem como a comunidade internacional não apoia sua luta pela sepração do sul e pela soberania.
A história pós-colonial dos tuaregues no Mali tem se caracterizado por uma série de rebeliões iniciadas em 1962.
E por que não são ouvidos em vez de serem perseguidos e massacrados?
Porque a porção do Sahel que reivindicam pode estar cheia de petróleo e gás.
A Argélia, a França e o Qatar têm explorado o lado da Mauritânia na Bacia Taoudeni, e a Argélia tem a concessão do lado do Mali. Justamente na região tuaregue, na qual especialistas dizem conter urânio, ouro e outras riquezas naturais.
Os tuaregues são ricos em teoria. Pois o norte do Mali é uma das mais pobres do planeta e o governo do sul não fez quase nada para desenvolvê-la a fim de melhorar as condições precárias da população tuaregue.
Daí a rebelião tuaregue liderada pelo MNLA em janeiro de 2012. Ela conquistou dois terços da área reivindicada e declarou a independência do Azawad.
A alegria durou pouco. A rebeldia dos dois grupos separatistas foi logo esmagada pelos grupos de bandidos jihadistas milionários com a ajuda do governo central.
Agora os ocidentais estão pedindo ajuda aos tuaregues para combater o al-Qaeda no Sahel que conhecem como a palma da mão.
E foi aí que Bilal Al Cherif, chefe do MNLA e presidente do ex-futuro-Estado Azawad perguntou: "Temos de combater o al-Qaeda em troca de quê? Os governos ocidentais vão reconhecer o Azawad e ajudar-nos? Que eles nos deem assistência política, militar, econômica e segurança, aí lutaremos contra os terroristas".     
Enquanto os franceses bombardeiam e os diplomatas tentam seduzir os tuaregues com palavras,o AQIM, o Ansar Din e o MUJAO controlam o Timbuktu fazendo como os talibã fazem para ganhar adeptos. Os salafistas distribuem arroz e pão à população miserável e polícia religiosa impõe a ordem.
Exatamente o que pretendem fazer na Síria logo que tiverem a oportunidade.

Trocando em miúdos, faz dez anos que os simpatizantes do al-Qaeda  instalou-se no norte do Mali como parte de um acordo secreto com Amadou Toumani Touré (ATT), então presidente do país. ATT foi deposto em um golpe militar em março de 2012 devido à conquista tuaregue sucessiva das cidades do Norte.
Durante a presidência de ATT, o AQIM acumulou uma fortuna com resgastes. US$250 milhões. Mais de cinquenta europeus e canadenses foram sequestrados na última década. Geralmente na Nigéria.
Atualmente há sete sequestrados à espera de serem libertados contra US$132 milhões de dólares de resgaste.
As negociações de resgate eram feitas através da presidência do Mali e enriqueceram muitos VIPs do governo. Cada um recebia sua parte. Inclusive o presidente.
Um dos homens que mais se enriqueceram com o negócio de sequestros foi Iyad Ag Ghali, líder do Ansar Din, um equivalente local do Mullah Omar dos Talibã afegãos. Ghali intermediou quase todas as negociações. De 2003 a 2012.
Faz anos que os tuaregues malienses reclamam da cumplicidade entre o governo e o al-Qaeda, em vão.
Segundo os Nortistas, para-militares do AQIM circulam livremente em cidades tuaregues. Fazem compras, frequentam casamentos e desfilam armados pelas ruas na frente da polícia. Que não faz nada porque não pode e não consegue.
O coronel Habi ag al Salat, um oficial maliense que deixou o Exército para integrar-se no MNLA, foi um dos primeiros a denunciar a presença de argelinos do GSPC (Salafi Group for Preaching and Combat - Grupo Salafista para religião e combate) em cidades tuaregues.
Mas quando Habi avisou seus superiores hierárquicos, eles o mandaram calar a boca e deixar os para-militares em paz porque "não são inimigos do Mali".
E mesmo depois do GSPC mudar o nome para AQIM - al-Qaeda no Magrebe Islâmico - após um pacto anunciado por Ayman al Zawahiri, a polícia não mudou nada.  
O Mali facilitou a instalação do al-Qaeda lhe garantindo liberdade de movimento dentro das famílias para aliciar a juventude.

Essa cumplicidade do governo com bandidos radicais deve-se ao desejo tuaregue de emancipação.
Faz cinquenta anos que o Mali vem administrando a rebelião tuaregue, que começou depois da independência da França em 1960.
Nenhum dos países do Sahel ou Sahara apóia a noção de de um novo Estado. Sobretudo um que incite as aspirações Berber na Argélia, ou a mais séria dos tuaregues na parte rica em petróleo no sul da Argélia, ou do sudoeste da líbia também rica em petróleo, ou a parte rica em uranio no norte tuaregue da Nigéria.
A maior ameaça existencial para os Estados do Mali, Nigéria e Argélia são as rebeliões tuaregues/berberes .
Os governos dessa região morrem de medo e de inveja dos tuaregues, embora eles sejam um dos povos mais pobres e isolados do planeta. Porque vivem em alguns dos solos mais ricos em recursos naturais do mundo.
Nestes últimos anos, a União Europeia e os Estados Unidos encheram o governo do Mali de milhões de dólares e euros para combater o al-Qaeda. Só que a maioria absoluta deste dinheiro foi desviada para esmagar a insurgência tuaregue.
Em vez de combater o Mal internacional, o governo usou o dinheiro para combater rebeldes nacionais.
Segundo o UNODC - departamento de Droga e Crime das Nações Unidas - o norte do Mali é o maior corredor de tráfico de drogas do planeta. O movimento é de US$1.8 a US$2 bilhões anuais em cocaína transitando do Oeste da África para a Europa e Oriente Médio.
Ibrahim Ag al Saleh, deputado de Bourem, epicentro do tráfico de cocaína no norte do Mali, afirma que ATT e a esposa estavam envolvidos no negócio da droga até o pescoço.
"O presidente usava o lucro do tráfico e dos resgates para financiar as milícias no norte que protegiam o tráfico e a rebelião tuaregue. Hoje em dia são os mesmos traficantes que ostentam a bandeira de Allah em Gao e em Bourem. Agora que não têm mais a proteção de ATT, estão se escondendo atrás dos salafistas (islamitas radicais)."
Enquanto ATT investia nas milicias para-militares, o Exército maliense passava necessidade e estava desmoralizado. Os soldados vendiam armas para comprar comida e eram obrigados a assistir o AQIM desfilar na frente dos quarteis e aviões aterrizarem perto de suas bases. O sistema estava podre. Por isto foi derrubado.
O próprio emir do AQIM, o argelino Abdelmalek Droukdel, vulgo Abu Musab Abdel Wadoud, ousou apresentar-se na televisão para pedir para os malienses rejeitarem o MNLA e assim "preservarem a integridade territorial do Mali". Como se fosse isso que lhe interessasse.
O fato é que o ocidente fechou os olhos para o crescimento da coalição extremista no Sahel e agora a França bombardeia mais em desespero de causa.
Bombardear do alto é fácil. Limpar o terreno é muito mais complicado.
Vai ser difícil dizimar a coalição "al-Qaedista" no Sahel. Suas bases militares foram se solidificando com o tempo e com a fortuna que saiu do bolso das empresas e dos governos ocidentais em pagamentos de resgaste. E do tráfico.
Estes grupos se prepararam para expandir-se além do Sahel e do Saara. Daí sua presença na Síria, que o ocidente teima em minimizar. 
Boa sorte à França e seus aliados. Mas sobretudo boa sorte aos Tuaregues.
E a Bashar el-Assad no combate dos milhares de salafistas estrangeiros que estão tentando derrubá-lo para depois passar uma rasteira nos rebeldes nacionais e instalarem a Sharia.

Post-Scriptum
Com tudo o que está acontecendo no Mali e na Argélia, com o número de pessoas sendo mortas, e o único comentário que fazem comigo, fora do trabalho, é sobre a morte e o perigo que correm os reféns ocidentais.
É demais.
Eu nunca consegui entender porquê o "collateral demage" da responsabilidade dos países da Europa e dos EUA é diferente do "collateral damage" dos outros lados.
Para os argelinos, sua operação militar foi um sucesso. Os mortos europeus, estadunidenses, japoneses, que estavam lá com salários no mínimo três vezes mais altos do que o argelino mais bem pago, eram collateral damage.
Para a mídia e os governos ocidentais, estes funcionários-mercenários viraram mártires.
É claro que não mereciam morrer e nem serem maltratados. Aliás, ninguém merece.
Contudo, se fossem argelinos, o máximo que teria sido dito sobre a perda humana teria sido "consequência trágica".
Esta regra de dois pesos e duas medidas é, no mínimo, cansativa. No máximo, insuportável.
Lembro-me que durante a "guerra" do Iraque, um dia, George W. Bush ousou dizer que o collateral damage de civis iraquianos era de "Thirty thousand, mor or less". Ou seja, não se importam nem com a conta aproximativa do número de vidas de homens, mulheres e crianças que para eles não têm importância.
Mas todos sabem de cor quantos soldados estadunidenses morreram, no mesmo período: 4.486.
Bernard Kouchner, o francês oportunista disfarçado de humanitário, chegou a solicitar a ajuda da Inglaterra para combater o "terrorismo islamita" em sua ex-colônia Mali. (Que poucos ingleses, europeus, asiáticos, americanos, conheciam antes da semana passada. Menos ainda sabiam que Bamako era o nome da capital. Estou errada?)
O caolho Mokhtar Belmokhtar, o novo inimigo n°1 do Ocidente, não é nenhum Osama ben Laden. Que era perigoso porque era fanático religioso radical, mas acreditava em algo.
Belmokhtar é traficante, contrabandista, sequestrador, assassino, em suma, bandido. Não é um ideólogo islamita. É um malfeitor que quanto mais for tratado de "islamita", mais será aproximado de jovens muçulmanos carentes e incautos, que verão nele um herói; e se for morto, um mártir.
Ele não é nenhum herói idealista. É um bandoleiro da pior espécie. Dar-lhe um rótulo religioso, mesmo sendo para obter simpatia da opinião pública francesa e apoio dos aliados, é um erro.
Disto isto, e voltando ao início, que não me venham condenar os argelinos por tratarem os mortos dos países do Primeiro Mundo com o desdém que o Primeiro Mundo trata os mortos iraquianos, afegãos, palestinos, enfim todos os que atravessam no caminho de conquista de riquezas naturais e de hegemonia.
Daí o ódio contra Bashar el-Assad. O ditador que tem agenda própria, que não se dobra às vontades dos ocidentais. Assad é "inimigo de Israel", portanto, persona non grata. Isto, embora - como disse acima e venho dizendo desde o ano atrasado - muitos de seus oponentes sejam bandoleiros do mesmo naipe de Belmokhtar e de seus cupinchas salafistas radicais, que foram à Síria bagunçar para reinar.
Que pelo menos François Hollande entenda que não pode bombardear a turma de Belmokhtar no Mali, na Argélia e na Nigéria (onde os bombardeios tendem a propagar), e na Síria, defendê-los e apoiá-los como se fossem bons rapazes - naquela mesma lógica imediatista gringa do pragmatismo irresponsável.
Espera-se que a França, altamente intelectualizada e orgulhosa da lógica cartesiana que a caracteriza, tenha um mínimo de coerência. Enfim, o raciocínio básico que falta aos Estados Unidos.

Curiosidade jornalística.
Em dezembro do ano passado, o New York Times , que a imprensa brasileira adora louvar, publicou em seu site uma matéria cujo título admitia que Israel ocupava a Palestina. Algumas horas depois o título foi mudado como por milagre, certamente após as pressões e a censura mostrarem a cara.
Há uma cordo tácito na grande mídia gringa de usar o termo "disputed" em referência às terras tiradas dos palestinos para a construção de invasões judias. Ilegais, segundo as leis internacionais. Mas nesse dia o colega responsável estava com vontade de dizer a verdade. Sua sinceridade ficou seis horas no ar.
1. Editado às 13:09 “Palestinians Set Up Camp in Israeli-Occupied West Bank Territory.”
2. Reeditado às 19:10 “Palestinians Set Up Tents Where Israel Plans Homes.”
Confira abaixo.


domingo, 13 de janeiro de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXVI ( 03/04 2002 - ODS em Nablus)


A ODS - Operação Defensive Shield começou no dia 29 de março de 2002 com a incursão da IDF em Ramallah e o sítio de Yasser Arafat na Mukata'a.
No dia 1° de abril a IDF invadiu Tulkarm e Qalquilya. 
No dia 2, foi a vez de Belém e do sítio da Basílica da Natividade que duraria até o dia 10 de maio.
No dia 03 de abril os tanques entraram em Jenin e em Nablus, fechando o cerco em torno de seis das principais cidades da Cisjordânia, suas cidadezinhas satélites e campos de refugiados.
As únicas cidades "poupadas" nesta operação específica foram Jericó e Hebron - sitiadas anteriormente.
Hebron é quase um caso à parte, pois vive sob ocupação civil e militar permanente e sofre constantes incursões de revista violentas de outros batalhões.
Hoje vamos a Nablus, que é o capítulo da ODS neste domingo. 

Nablus é relativamente "recente" - comparada com Jerusalém, Hebron, Gaza, Belém.
Foi construída em 72 DC, na Samaria bíblica, pelo imperador romano Titus que a chamou de Flávia Neápolis em homenagem ao pai Flavius Vespasiano. A foto ao lado data de 1898.
Durante o processo de conquista islâmica, os Otomanos a embelezaram ainda mais. Daí seu grande patrimônio arquitetural - destruído pela IDF e em grande parte restaurado pela UNESCO, exceto as ruínas romanas.

 A cidade é rodeada de montes. Um deles é citado na bíblia. O monte chamado Gerizim, venerado pelos samaritanos.
Se não ficasse na Palestina, Nablus seria uma destinação turística recomendável e recomendada. Mas o desinteresse má-fé ou/e ignorância das agências de turismo, somados às barragens da IDF, dissuadem o passeio (seguro) dos estrangeiros menos determinados.
A cidade em que nasceu Suha, filha de Yasser Arafat, tem 300 mil habitantes e é o pulmão comercial da Palestina. É famosa pela qualidade do linho que fabrica, por seus ateliês de tecelagem, o azeite de oliva  (tudo isto, exportável, se os Acordos de Oslo não os privassem deste negócio rentável). Suas iguarias culinárias também são famosas. As receitas com frango (caipira) são deliciosas e os doces de lá são de comer ajoelhado - sobretudo o kunafa.
Mas a indústria mais típica da cidade é a de saponáceo.  Sabão e sabonete nabluenses (empilhados à esquerda em uma caverna-fábrica antes de ser cortado e adornado) são cobiçados e invejados.   Aliás, Nablus ficou famosa na Europa durante as Cruzadas, justamente por causa da qualidade do sabonete de oliva que fabricava.    Os cavaleiros ocidentais gostaram tanto do produto, que "observaram" a fabricação para revelá-la ao voltar para casa e aproveitar deste artesanato nabluense em seu comércio.   A receita chegou à cidade de Marselha, na França, que fez do produto uma marca registrada.    O famoso savon de Marseille é "inspirado", em detalhes, no nabluense. Porém, na minha opinião, aquém do original palestino feito até hoje nos moldes antepassados sem nenhum produto químico.

O general Ariel Sharon sabia da importância histórica e econômica da antiga Flávia Neápolis ao planejar sua invasão desenfreada.    
A investida e o sítio de Nablus durante a Defensive Shield durariam três semanas. Até o dia 21 de abril.
O ataque desta segunda cidade mais populada da Cisjordânia (e uma das mais bonitas) começou como era costume da IDF, a fim de fragilizar a população agredida. Corte de energia para os habitantes ficarem incomunicáveis e de água para ficarem vulneráveis, devido à rápida deterioração de seus corpos desidratados.
Os instrumentos de Sharon foram dois batalhões das forças especiais de infantaria. Em concomitância com os Apaches que atacavam elementos móveis e imóveis na praça principal e nas ruas que a esta levavam.
A cidade abriga três campos de refugiados compostos de famílias exiladas de suas casas e cidades em 1948, durante a Naqba.
Dois deles, criados em 1950, eram centros nevráugicos da resistência palestina. Razão que Ehud Barak e Ariel Sharon evocavam para as invasões repetitivas que organizavam nesses lugares.
Um deles é Askar, que abriga cerca de 15 mil refugiados dentre os quais 40% menores de 14 anos e 20% menores de 24 anos, de famílias exiladas de 36 vilarejos palestinos da área de Lydd, Haifa e Jaffa. 
O outro é Balata, à esquerda, que abriga mais de 23 mil refugiados das mesmas idades do campo de Askar, de famílias exiladas de 60 vilarejos e das cidades de Lydd, Jaffa e Ramleh, muitos deles de origem beduína.
Desta vez a IDF entrou para causar danos humanos, e também, mais ainda, danos materiais. E foi por isto que os Apaches e o Caterpillars armados (fotos acima) visaram o centro histórico e os campos de refugiados.
O centro histórico, composto da Casbah e al-Yasmina, têm áreas que parecem labirintos, com becos, vielas e ruazinhas apertadas que conectam os bairros. As construções são de pedra e extremamente sólidas; as mais recentes datam do século XV.
Estes locais foram investidos simultanemante por dois batalhões com métodos distintos e complementares.
A Brigada Golani dentro dos tanques achzarit ("cruel", em hebraico) e caterpillars armados. Ela foi mandada na frente para "abrir passagem" - empurrando os resistentes palestinos para a parte oeste da Casbah. O propósito desta manobra era de entregá-los à Brigada de Paraquedistas, de mãos beijadas.
Conforme declaração posterior do comandante desta Brigada especial, coronel Aviv Kochavi, o general Shaul Mofaz que comandava a IDF estava insatisfeito que Qalqiliyah e Tulkarm tivessem se rendido "quase sem palestinos mortos". Desta vez era melhor, segundo ele,  não deixar "homens armados" em Nablus que voltassem a atacá-los mais tarde - (como se os filhos não tomassem as dores dos pais e os que nascessem mais tarde, nascessem conformados com o status quo que Israel impunha.)
A ordem foi acatada e os torpedos dos Apaches choveram sobre a cidade milenar e suas ruas estreitinhas que dificultavam a passagem dos cruéis e dos caterpillars armados.
Um dos jovens palestinos que sobreviveu à investida disse que "estávamos esperando que os soldados descessem dos tanques e bulldozers e viessem lutar conosco a armas iguais, mas eles ficaram escondidos dentro de suas carapaças atirando ao alvo e nos derrubando como se fôssemos pinos e suas bombas bolas de boliche superdimensionadas."
Quando o comandante palestino Ahmed Tabouk foi morto por um atirador da IDF no dia 08, os resistentes avisaram que render-se-iam.
Mas Ariel Sharon não estava interessado em rendição nenhuma.
Ignorou a Convenção de Genebra e nas duas horas seguintes a IDF intensificou o fogo em vez de dar trégua para que os rendidos se juntassem e saíssem de braços erguidos.
Os oficiais seguiam a ordem velada de matar o maior número possível de resistentes. As mulhres e crianças que se encontrassem no caminho eram vítimas dos mesmo estigma.  
Quando a rendição foi finalmente acatada, os soldados da IDF mostraram a cara e o balanço de mortos e feridos foi de desproporcionalidade gritante.
A IDF perdeu um oficial, vítima de fogo amigo.
Quanto a Nablus, centenas de prédios antigos sofreram estragos, sessenta dos quais de extrema gravidade - dentre estes, dezessete de alto valor histórico, inclusive o Palácio Abd al-Hadi (à direita).
As perdas humanas foram grandes. Feridos à parte (considerando a dificuldade de discriminar a gravidade das sequelas psicológicas, físicas, por falta de socorro organizado e de seguimento psicológico adequado) oitenta palestinos foram mortos dentre os quais cerca de cinquenta civis - quinze mulheres e menores de 15 anos.
Centenas de homens de idades variadas foram presos - reunidos à Pinochet, mas não em estádio; em ruas e praças.
No mesmo espírito destrutivo, os veículos militares chamados cruéis se locomoviam provocando o máximo de danos materiais e os caterpillars cumpriam seu papel conhecido de demolir o maior número de casas.
A restauração da Casbah e al-Yasmina - cidadelas com patrimônio histórico elevadíssimo - custaria à UNESCO cerca de U$114 milhões de dólares - sem Israel desembolsar nem um tostão furado.
No dia 21 de abril, o governo de Israel declarou o fim oficial da ODS - Operação Defensive Shield iniciada no dia 29 de março de 2002.
Os danos materiais na Palestina inteira foram avaliados a U$361 milhões de dólares.


Ariel Sharon foi a Nablus conferir pessoalmente, de camarote blindado, os estragos que causara.

Depoimentos de sobreviventes, conferidos pela Anistia Internacional.
"I saw the bulldozing of the Ghanem house from my house. I saw Sulayman Ghanem and his wife on the street. I shouted to them from the window and asked if the rest of the neighbours had left. He told me his family had all left and I asked about the al-Shu’bi family and he said that he thought they had left as well. I then looked and I saw one of the large bulldozers coming from the west side bulldozing the al-Shu’bi family house and I saw the house tilt over. Without even thinking, I yelled to the soldier in the bulldozer, ‘Let the residents leave the house.’ At this point the soldier came out of the bulldozer, took his weapon and started to fire in my direction. I moved out of the way and the bullets hit the wall of my house. You can still see the holes. At this moment, I told my children to leave the house and I told two other families nearby also to leave. We headed for the mosque."
Ahmad Fu’ad al-Najjar

"The soldier took me to my neighbour’s house, about five metres away. It was now about 9am on Sunday. There were about 6-7 soldiers behind me. My neighbour saw me and shouted out my name. The soldier told me that if I said anything, he would shoot me.
We entered my neighbour’s house. The soldiers began to drill a hole in the wall that led to another house. I went with three soldiers and the dog through the wall into the next building. The soldier kept the gun positioned at my head. When we arrived in the next building, it was empty. It wasn’t a house, just an empty building. The soldiers then opened a hole in another wall. This happened about six or seven times. In each case, when we passed from wall to wall and building to building, the soldiers always kept me in front of them.
At the last place, there was an iron door. One of the soldiers opened the iron door and told me to go out. I pulled the door back and just as I was walking out, I heard shooting. The soldiers pulled me back from the alley and began to return fire. I was about one metre behind the soldiers. I was crouching down while they were firing."
Maher Salim

"We live in a very old house that was built under the Ottoman Empire. When the IDF first came to the door, we rushed to open it so that they would not explode it, as I know they have done with others. I was in the house with my family and my brother and his family. There were about 12 children between 3-18 years, four women, my brother, and myself. When they entered the house they asked me where were the fighters? I told them there were no fighters. I had seen fighters in the passages below my house but they were never in my house. They said that I must tell them where the fighters were or they will demolish the house. I did not answer them. Within a few seconds, they brought a huge hammer. After that they opened a large hole in the guestroom wall and planted some dynamite in it. They took us out to the courtyard, and with a remote control they blew up part of the house. It was now about 12pm.
I thought that after this they would go, but instead the IDF set up an operation in the neighbours house. After the explosion, the neighbour’s house and my house had no divide. From my neighbour’s balcony the IDF would have a view to the east. The IDF told us to go to one room and not to leave. We had no water, no electricity and no communications. We asked the soldiers through the bathroom window for coffee and water, they told me to shut the window. During the days the soldiers were in the house, they continued to fire from the house. I can understand Hebrew and I heard a soldier bragging that he had shot three Palestinians."
Ghazi Abu Kishik.

"The soldiers bound our hands in front with plastic handcuffs. We were taken into APCs and IDF soldiers told us to keep our eyes to the ground. There were about eight other men with me. They took us to an apartment building in Rafidiyeh. When we reached there, we were blindfolded and told to sit on the stairs. From just under my blindfold I could see soldiers going up and down the stairs. I could also hear the sound of children on the upper floors and I assumed residents were still inside the building.
We were kept there for three hours. We were told to keep our heads lowered and not to move At about 12pm, we were told to form a human chain with our hands and were put in a truck. There must have been about 50 men at this stage. We were driven about 11 kilometres to Huwara military base. When we arrived there, we were taken to an open place and told to sit. We were still blindfolded and still had our hands tied our personal belongings were taken from us. We were then taken into a tent. The soldiers told us not to speak to one another, and not to move the blindfolds from our eyes. There was a young man there, maybe 18 years old, who moved his blindfold a bit. I saw from below my blindfold a soldier approach the man and hit him on the head with a baton. Then a soldier came in and asked who could speak Hebrew. Someone raised his hand and the soldier told him to translate and asked us to repeat what he said. He said, ‘Bring me humus’, ‘Bring me ful [beans]’ and ‘I like the IDF’.
At this point, I needed to use the bathroom. I asked the soldier and he took me. When we reached the place, I asked him how I was meant to use the bathroom with my hands tied. He told me to just to do it in my pants, it wasn’t his problem. I was taken back and remained in this place and in the same position until 11pm."
Muhammad Daraghmeh
"Around 5pm on that Sunday, tanks came into ‘Askar camp. … My sister Suna was standing by the metal door, which leads on to the road. My father was in the courtyard. I then heard shooting. I called on my father to take the children inside. There were about seven children all around him. He gathered them and went inside. I did not see him come out again.
My neighbour Ahmad then yelled that Suna had been hit. Suna had just been closing the door when she said she felt something hit her head. At that moment, we did not realize my father had also been shot. We went into his room after about 10 minutes and saw that he looked very ill but we thought he had a heart attack.
We called on a friend that worked close to a medical relief centre that had opened up in an empty house and asked him if he could make contact with a doctor, as we knew no ambulance could reach us. After about one hour, the doctor and some nurses came. The doctor provided Suna with some first aid and rang the PRCS for an ambulance. The ambulance tried to reach us on three occasions. When my brother called a final time, someone told him that on the third attempt to reach us, the ambulance had been shot at and turned back. The doctor examined my father. He had died."
Manal Hafez Sabreh

Reservista da IDF Breaking the silence sobre invasões e ocupações de domicílio de famílias palestinas.
"And then came the instruction: you may cause damage, but you may not steal.
What does that mean?
Because what would happen is that soldiers would simply steal.
What does that mean: “you may cause damage”?
You go in, so as far as the IDF is concerned, you may cause damage, you may cause damage for the sake of the mission. What we would do is, we would shoot couches, causing damage for the sake of the mission.
Could I tip a closet?
For the sake of the mission – yes, to make sure that there’s nothing in the clothes and there’s no one behind it. That I could do, but I was not allowed to steal.
And where does one draw the line?
This is the thing, that sometimes people would do it for fun – shooting television sets, my paratrooper friends would tell me that they would lay on rooftops in Nablus and shoot solar water tanks to see how they’d explode, or people would steal CD players and steal dollars."

 
  
Entrevista de Jon Elmer com Uri Avnery - 5
Elmer: Is Ariel Sharon and his generals' goal to turn so-called Greater Israel, from the Mediterranean to the River Jordan, into a Jewish State?
Avnery: That is their real aim.
It is the aim of Ariel Sharon, and I strongly suspect that the core of whole higher office will follow him on this.
His idea of a Greater Israel - or, as you call it in Hebrew, the entire Eretz (land of) Israel - is from the Mediterranean to the river Jordan, and to turn this into a purely, ethnically clean Jewish state. I would say this is the ultimate objective of all of these people, which would entail, of course, ethnic cleansing [of the Palestinian people].


Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 2
Nablus
 Balata

Documentário: Nablus, la ciudad fantasma - de Alberto Arce, 2004

 

Nablus, Freedom Bus Ride do Teatro da Liberdade de Jenin, setembro de 2012