domingo, 30 de setembro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XX (01 2002)


O ano de 2002 começou com uma tentativa diplomática acanhada dos Estados Unidos de retomar o processo de paz.
No dia 03, sob pressão de Colin Powell, Israel retirou-se de áreas ocupadas na Cisjordânia, mas autônomas desde Oslo. Talvez para dar boa impressão ao novo enviado de George W. Bush a Tel Aviv - o veterano do Vietnam Anthony Zinni, apelidado The Godfather (pela origem italiana e autoridade, não por ligações com a máfia).
Zinni aceitou o encargo, deixou o uniforme com as quatro estrelas e as medalhas no armário e foi ao Oriente Médio exercer sua "sensibilidade política" lendária.
A escolha de Zinni mostrou que Colin Powell se esforçara para encontrar em seu meio militar um mediador com os talentos necessários já testados, confirmados e com moral suficiente para dobrar outro general aposentado.
Zinni foi realmente um oficial à parte. Tinha 30 anos ao aterrizar no Vietnã como conselheiro de infantaria. Chegou e em vez de viver no acampamento militar com os soldados e oficiais estadunidenses, foi morar em um bairro da cidade como uma pessoa normal. Conviveu com os vietnamitas, aprendeu o idioma nacional e entendeu o povo para e contra o qual seu país lutava. Seu trabalho foi tão apreciado que serviu duas vezes. Na segunda foi ferido e transferido para Okinawa. Isto foi na década de 70 do século passado.
Na década de 80, não hesitou a verbalizar sua desilusão com a estratégia estadunidense no Vietnã e desde então ascendeu na hierarquia militar sempre em postos de comando e sem esconder seus pareceres sobre as táticas do Pentágono que considerava erradas.
"Eu imergia na cultura e via o mundo de maneira diferente dos meus colegas" declararia modestamente ao Washington Post mais tarde.
Passou a década de 90 entre Somália, Turquia, e em 1997 foi "premiado" com o comando da tropa de 36.000 soldados baseada na Arábia Saudita - foi então que aprendeu árabe e leu vários livros de escritores da região, em versão original, para entender um pouco da cultura local.
Antes de aposentar-se em 2001, percorreu vários países asiáticos satélites da ex-União Soviética - Kazaquistão, Turquemenistão, Uzbequistão, etc., tentando cooptá-los para o lado dos EUA.
Zinni dizia que fazer guerra era a parte fácil. O difícil era fazer as pazes. Para um militar de carreira, seu currículo era ideal para a missão im/possível que assumiu com a mesma seriedade de seus precedentes encargos militares.
Ao chegar a Tel Aviv no dia 03 de janeiro, Sharon mantinha Yasser Arafat preso na Mukata'a (sede do governo), no norte de Ramallah. A rua de um lado a outro bloqueada. Porém, retirara as tropas de várias áreas autônomas inclusive Jenin e Nablus.
As conversas foram a portas fechadas.
Zinni deve ter entendido melhor então que poucos são os homens de armas que como ele travavam batalhas questionando ordens incompatíveis com a realidade do terreno e usando armas regulares com objetividade. Descobriria mais cedo do que tarde que este general com quem lidava tinha poderes absolutos e era dado a golpes baixos.
Já no dia 09 de janeiro Ariel Sharon criou verba especial de U$34 milhões para importar "judeus brancos" para popular as colônias. Em sua hierarquia humana impiedosa, o racismo do Primeiro Ministro de Israel aplicava-se também à sua confissão religiosa. Queria "aprimorar" a raça com sangue ashkenazi, ou seja, de israelitas misturados com europeias louras convertidas cujos filhos nasciam de pele, cabelos e olhos claros. Esta leva de imigrantes foi levada para Israel da África do Sul (os Afrikaners do apartheid), Argentina (foi no período daquela crise econômica brava, lá), França, Rússia e a grande maioria dos importados nem falava hebraico. Cada família recebia quase U$400 mil dólares para virar invasor em terras alheias, de bom grado.
A notícia chegou em Ramallah, em Gaza, e a indignação era palpável. "É mais do que injustiça! Centenas de milhares de compatriotas nossos viverem em campos de refugiados espalhados mundo afora enquanto judeus estrangeiros são importados para ocupar nossas terras ancestrais!" Era o que se ouvia por todos os lados.
Para completar, no dia seguinte os caterpillars voltaram à ação na Faixa de Gaza destruindo dois postos policiais.
O Hamas disse "Basta!" e quebrou a trégua unilateral - que Yasser Arafat mantinha desde o dia 16 de dezembro - atacando uma barragem israelense.
Os dois militantes do Hamas morreram depois de matar quatro soldados na operação militar. A retaliação não tardou e foi brava. Vinte e um tanques e uma fila de caterpillars armados reocuparam as zonas autônomas brevemente evacuadas para impressionar o enviado dos EUA.
No aeroporto de Gaza destruiram os 3,5 quilômetros restantes da pista de aterrizagem, em obras de reconstrução desde os bombardeios do mês anterior.
O ataque de Sharon foi carregado de símbolos desmoralizadores.
Para os palestinos o aeroporto  Gaza representava muito mais do que prédios, pistas, aviões estacionados, viagens, enfim, o que compõe e caracteriza este tipo de local - representava a aspiração de soberania e liberdade.
Com a torre de controle derrubada, os prédios e as pistas em pedaços, Sharon contava também esmagar as perspectivas de autonomia que os palestinos almejavam.
O primeiro ministro sabia direitinho onde e que ferida apertar.
Segundo fontes oficiais, o assalto foi "em retaliação ao assassinato dos dois soldados", que na verdade haviam morrido em um dos raros combates de igual para igual em armas.
Mas seu verdadeiro alvo era Yasser Arafat.
O ódio que Sharon sentia pelo líder palestino era tamanho que devia corroê-lo noite e dia no pesadelo que ele próprio fomentava.

Mas a operação "dissuasiva" não parou no aeroporto.
Do dia 10 ao dia 14 de janeiro, o exército e a polícia israelense destruíram dezenas de casas em Rafah, na Faixa de Gaza, em Jerusalém Oriental, e bombardearam prédios públicos em todos os lugares - com afinco triplicado ao pulverizarem o porto de Gaza, destruindo o instrumento de trabalho dos pescadores e uma das poucas fontes alimentícias da Faixa.
A IDF fechou a operação militar de quatro dias assassinando um responsável militar do Fatah de Tulkarm, Raed al-Karmi. O líder da Brigada dos Mártires de Al-Aqsa foi vítima de uma bomba que explodiu seu carro em rua da cidade.
No dia 16, ainda de luto mas querendo fazer um gesto que estancasse o sangue que vinha sendo derramado, Yasser Arafat, de coração pesado, mandou prender Ahmed Saadat, chefe da FPLP (Frente Nacional de Libertação da Palestina), suspeito do assassinato do ministro israelense Rehavam Zeevi em outubro de 2001.
Só que além de não conseguir acalmar a sede de vingança do primeiro ministro israelense, seus compatriotas não gostaram do "presente" em sentido único e rumores diziam que militantes do FPLP pediam em contrapartida que o assassino de seu líder fosse punido para que ficassem quites pelo menos nisso, senão, lia-se nas entrelinhas, que mais sangue seria derramado.
Falaram no vazio.
Vendo que a via da reciprocidade positiva estava fechada, no dia seguinte um militante abriu fogo em um salão de baile de Hadera, no norte de Tel-Aviv, matando seis pessoas.
A Brigada dos mártires de Al-Aqsa reivindicou o atentado e a IDF respondeu com o bombardeio da Prefeitura de Tulkarm e com uma estrondosa incursão de tanques lá e em Ramallah.
Concluíram esta onda de devastação bombardeando o prédio de cinco andares em Ramallah que abrigava o complexo jornalístico palestino. Destruíram todo o material de transmissão radiofônica e televisiva para deixar o povo sem notícias e levaram mais de cinquenta prisioneiros quando saíram de Tulkarm dois dias mais tarde.
No caminho da retirada passaram por Nablus e mataram seis ativistas do Hamas que suspeitavam serem artífices das bombas artesanais.
No dia 23, Avraham Burg, presidente do Knesset e Ahmed Qorei, presidente do Conselho Legislativo palestino se reuniram em Paris em um diálogo interparlamentar e lançaram um apelo "à razão e à sabedoria, para restabelecer a confiança entre os dois povos."
Porém, no dia 24 um tanque da IDF matou dois lavradores palestinos que aravam suas roças situadas perto da invasão judia de Kfar Daron na Faixa de Gaza. Enquanto isso, uma tropa sitiava o bairro gazauí al-Sheikh e saqueava as casas dos moradores procedendo a detenções aleatórias.
No mesmo dia um bomba-suicida se dirigiu a Tel Aviv onde explodiu deixando 18 feridos e seu cadáver estendido.
A poeira mal assentara os Apaches da IDF já estavam no ar para eliminar mais três resistentes do Hamas em Khan Yunis, na Faixa de Gaza.
No mesmo dia 25 reservistas da IDF - dois oficiais e um punhado de soldados - declararam publicamente sua recusa de servir nos Territórios Palestinos ocupados, "a fim de não participar de operações cujo único objetivo é oprimir, expulsar, esfomear e humilhar um povo inteiro".
Dois meses depois o número de objetores de consciência se multiplicaria até chegar a quinhentos.
Mas as operações intimidativas que estes humanistas recusavam prosseguiram com a mesma crueldade.
Em consequência disso, no dia 27 outro bomba-suicida explodiu em Jerusalém Ocidental levando consigo um israelense e deixando uma dúzia de feridos.
Chocado com o sangue de seus compatriotas enchendo as telas de televisão, no dia seguinte à explosão, Avraham Burg deu nova ênfase à sua campanha contra a política de Ariel Sharon. Denunciou em plenário a ocupação dos territórios palestinos porque "um povo de ocupantes, mesmo tendo sido levado a ocupar (os territórios) contra sua vontade, acaba mudado e desfigurado pelas taras da ocupação".
As críticas contra Sharon se acumulavam dentro e fora de seu Estado.
No dia 29 a União Europeia (UE) apresentou ao governo de Israel sua "rejeição contundente" à destruição dos edifícios públicos e das infraestruturas palestinas que financiara - as perdas materiais causadas por Israel só nestas obras se elevava a 17 milhões de euros.
Sob pressão, Ariel Sharon resolveu então parar uns minutinhos com o espalhafato aeronáutico. No mesmo dia mandou a IDF deixar os ares aos pássaros e atacar na surdina, por baixo.
Tropas e tanques invadiram uma cidadezinha detendo três homens e deixando seis feridos, inclusive uma mulher grávida que levou um tiro dormindo.
E no dia 31 o primeiro ministro israelense fechou o primeiro mês do ano de 2002 fazendo uma concessão pragmática ao presidente do Knesset Avraham Burg. Encontrou pela primeira vez o presidente do Conselho Legislativo palestino em seu escritório.
Ahmed Qorei estava acompanhado de Mahmmud Abbas, então braço direito de Yasser Arafat, e o conselheiro econômico deste, Mohammed Rachid.
Mas ao invés de resolver algo, Sharon acabou chateando todo mundo com palavras, palavras, palavras, que no final das contas espelhavam seus atos drástricos.
A trégua seria breve e de fachada.


Entrevista do foto-jornalista/escritor canadense Jon Elmer com o jornalista e ex-parlamentar israelense Uri Avnery, ativista da ONG Gush Shalom. 1
Jon Elmer: There is an active debate in Israeli society, in government and in the media about murdering Yasser Arafat. Have you ever heard of a discussion of assassinating the elected leader of another country taking place in a 'democratic' society? What logic drives the open discussion of assassinating Arafat? What would the consequences of such an action be?
Uri Avnery (foto ao lado): First of all, there is no public debate in Israel at all - on this subject or on any other. We have now a situation where there is a group of generals - including the Prime Minister, the Minister of Defence, the Chief of Staff, the army Chief of Intelligence and Chief of the Security Service - who decide all these methods alone, with the help of a compliant media that accepts everything the government says.
For the past 30 years there has been a campaign to demonize Arafat in the media. I don't remember one single article saying anything positive about Yasser Arafat. So the public just takes this and the public also believes what it has been told since Camp David [of 2000] - that we offered the Palestinians everything and they rejected it; therefore, there is no partner for peace. Within Israel this is an axiom accepted by virtually everybody. When the public believes that peace is impossible, and that the suicide bombings will go on forever, they will accept everything the Prime Minister tells them.
The act itself of assassinating Arafat, apart from its moral and legal aspects, will cause the greatest disaster in the history of Israel. It may put an end to the Israeli state in the long run, because it will put an end to any prospect of peace between Israel and the Palestinian people, and between Israel and the Arab world, for the next hundred years.
Setembro de 2003

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 1
 
 
 
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

 

domingo, 23 de setembro de 2012

Don't shoot the messenger


Há algumas semanas que Ramallah vem sendo palco de passeatas regulares cada vez maiores, de estudantes a profissionais desempregados. Pelos mesmos problemas economico-sociais que despertaram a população israelense e árabe.
Na Cirsjordânia, protestam contra o custo de vida alto, a gasolina inabordável e contra quem eles consideram responsáveis pela inadimplência de seu não-Estado - a Autoridade Palestina.
O alvo da ira dos manifestantes na AP é o primeiro ministro Salam Fayyad, o empresário que Israel e os EUA impuseram a Mahmmud Abbas após as eleições de 2006 em que o Hamas foi majoritário, porém, descartado do governo, na marra.
Pela primeira vez na história da Palestina, os protestos não são dirigidos aos ocupantes e sim ao seu governo de fachada.
Assistindo ao rebuliço de camarote, primeiro penso em Sófocles e em sua peça Antígona - escrita 441 anos Antes de Cristo - e na famosa réplica que ficou para a história: "Ninguém gosta de mensageiro que traz más notícias".
Em seguida, ouvindo os gritos de "Abaixo Fayyad", uma frase de outro grande dramaturgo impõe-se naturalmente na memória: Don't shoot the messenger! que Shakespeare escreveu em sua peça Henry IV em 1598 e desde então virou frase de referência neste tipo de imbróglio.
Não é que ache que Fayyad seja isento de culpa e que defenda os interesses de seus concidadãos mais do que os de Netanyahu e de Obama. É que mesmo que Fayyad fosse santo, sem nenhuma suspeita de corrupção e má intenção, seria impossível proporcionar aos palestinos o mínimo necessário a uma vida decente.
Por que?
Por causa dos Acordos de Oslo e da Ocupação.
De 1967 a 1994, a economia era total e aleatoriamente determinada por Tel Aviv. Da fiscalização a medidas comerciais básicas. A política econômica definida para Israel era automaticamente aplicada à WBGS (West Bank Gaza Strip - terminologia usada para identificar o território palestino), cuja administração estava nas mãos dos ocupantes que ditavam as regras como lhes aprouvesse.
Os famigerados Acordos de Oslo em princípio deveriam mudar esse status quo definindo regras de "colaboração" equilibrada entre as duas administrações "soberanas".
Nestes Acordos, vigentes em obrigações palestinas e direitos israelenses, Israel controla 60% da Cisjordânia, classificada como Área C. As colônias/assentamentos/invasões ilegais vêm se expandindo rapidamente e atualmente, de desapropriação a desapropriação, Israel apropriou-se de todas as terras férteis do Vale do Jordão na Cisjordânia.
Os palestinos são proibidos de investir nessa área e até de "namorá-lo".
O Banco Mundial afirma que a reapropriação apenas desta área já proporcionaria aos palestinos um desenvolvimento substancial - as indústrias israelenses ilegais rendem anualmente U$300 milhões de dólares em exportação.
Os Acordos de Oslo, que visavam preparar o terreno para a criação do Estado Palestino, acabou favorecendo a ocupação israelense ainda mais.
É por isto que Saeb Erekat, o responsável palestino para negociação de paz, declarou estar pensando em cancelar estes Acordos (voltou atrás mais tarde e disse que queria renegociá-lo para que fosse respeitado) que só tem prejudicado o seu povo, já que Binyamin Netanyahu não para de sabotar as negociações que o implementassem de verdade.
"If there is any party that has done everything to undermine Oslo, it has been Israel. There is no indication that Israel has any political will to [restart peace talks]," disse um de seus colegas cansado de bater na mesma tecla.
Ora, os Acordos de Oslo geraram um Protocolo que proíbe os palestinos inclusive de comercializar com o resto do mundo.
Este Protocolo de Relações Econômicas entre Israel e a OLP (Organização de Libertação da Palestina), foi assinado na capital francesa no dia 29 de abril de 1994.
O Protocolo de Paris, foi, com modificações mínimas, incorporado como Anexo V ao Acordo Interino - os Acordos de Oslo - que Yasser Arafat e Yitzhak Rabin assinaram em Washington no dia 28 de setembro de 2005 de maneira transitória.
Só que esse apêndice provisório - que a ocupação prolongou indefinidamente - atou as mãos da Autoridade Palestina, recém-criada, em tudo o que dizia respeito à economia, além dos demais aspectos.
Como todos os documentos entre Israel e WBGS, neste também plana a ambiquidade que favoreça Israel mais tarde.
Em relação ao Trabalho:  O Protocolo de Paris estipula que "both sides will attempt to maintain the normality of movement of labor between them, subject to each side’s right to determine from time to time the extent and conditions of the labor movement into its area. If the normal movement is suspended temporarily by either side, it will give the other side immediate notification.”
Na prática, a mobilidade tabalhista entre Israel e WBGS, deixada à discrição das partes, foi sufocada por Ariel Sharon com os checkpoints, barreiras, barragens e o muro da vergonha, que impedem não apenas a entrada em Israel, como também a circulação dos palestinos em seu próprio território.
No tocante às Relações Comerciais, o Protocolo de Paris "liberou o comércio entre os lados"; subordinou a Israel a exportação palestina para terceiros e proibiu a AP de fixar taxas e preços inferiores aos do ocupante; e impôs regras "comuns" de importação com três listas de produtos e de países estrangeiros. Regras estas que deixam os palestinos à mercê da boa vontade israelense por causa da fronteira externa "comum" - sob controle físico e alfandegário exclusivo de Israel.
O Protocolo incumbe Israel da coleta dos impostos internos e externos palestinos, e além do mais, permite que Israel estabeleça e mude unilateralmente as taxas dos produtos importados.
E o dinheiro da arrecadação?
Deveria ser transferido mensalmente à Autoridade Palestina, mas Israel transfere segundo sua conveniência e sua agenda - punitiva e de chantagem política. Assim como toda verba internacional que, obrigatoriamente, passa pelos bancos de Tel Aviv - onde rendem altos dividendos - antes de serem despachados a Ramallah para pagamento de coisas básicas, como o salário dos 150 mil funcionários públicos.
A separação econômica que Arafat almejava junto com a soberania, foi sufocada por Rabin e seus aliados logo de cara.
Apesar de ser mais realista, Rabin, como seus antecessores, não pregava prego sem estopa. Entendeu que a separação econômica viabilizaria a médio prazo a implementação dos Acordos que assinava, ou seja, de culminar no Estado Palestino que os Acordos visavam. Pois daria um gostinho de soberania e criaria um precedente unitário perdido na Naqba.
Foi por isto que Rabin bateu o pé e encostou Arafat na parede dizendo que era sua condição sine qua non para a assinatura dos Acordos.
Para não parecer ganancioso demais, garantiu a Arafat que, em contrapartida, autorizaria a continuidade da importação de mão-de-obra palestina - a curto prazo, imprescindível à continuidade de emprego  capital para a sobrevivência de milhares de famílias gazauís e da Cisjordânia que trabalhavam do lado de lá da Linha Verde em profissões liberais e em sub-empregos.
Outro argumento do Protocolo que convenceu Arafat a aceitar este ponto fiscal discrimatório, era a garantia à AP de poder impor impostos diretos e indiretos, de etabelecer uma política industrial, um sitema monetário próprio para regular suas finanças, estabelecer um serviço público e obter o cancelamento gradual de restrições de exportação de produtos agrícolas próprios para Israel, até então restrito aos agricultores israelenses. Tudo isto, é claro, ficou só no papel e na palavra.
Na época, ficou claro desde o início que o Protocolo de Paris enfatizava a disparidade de poder entre os dois lados. A disparidade ficou ainda mais óbvia com a proliferação das barragens, da demissão dominó dos trabalhadores palestinos em Israel - por razões políticas ou simplesmente trabalhistas - atrasos e faltas por causa das esperas aleatórias e intermináveis nos checkpoints sucessivos em lugares inesperados, e com a importação de judeus estrangeiros para ocupar as invasões em WBGS.
Para completar, os Acordos alfandegários do Protocolo estabeleceram que o comércio exterior palestino - aéreo, terrestre e marítimo - continuaria a ser monitorado por Israel, que de fato controla o ar, a terra e o mar dos territórios ocupados.
No final das contas, o comércio bilateral revelou-se unilateral, beneficiando apenas o ocupante, e milhares de pais de famílias palestinas ficaram desempregados. Passaram a viver de bicos devido à impossibilidade de desenvolvimento econômico local com o confisco de terras agrícolas, recursos hídricos e gastos constantes da verba internacional na reconstrução de infra-estruturas públicas destruídas pelos bombardeios intermitentes.
Até hoje o Protocolo de Paris é invocado nas relações econômicas entre Israel e Palestina e vira e mexe os palestinos pedem que seja revogado sob alegação que Israel deixa de cumprir sua parte "por razões de segurança" enquanto que, aconteça o que acontecer, a Palestina é obrigada a submeter-se ao compromisso que assumiu nesse Protocolo e em todos os Acordos de Oslo.
Por exemplo, os gazauís não podem exportar seus produtos agrícolas para Israel nem para o Egito vizinho, e nem vendê-los na Cisjordânia; é Israel que explora a água, minerais, enfim, todos os recursos naturais da Cisjordânia; os palestinos pagam muito mais caro pela pouca água potável a que acedem do que os colonos judeus que usufruem dela à vontade até para piscinas; os pescadores de Gaza só podem pescar aquém de três milhas (3.828m) da praia; quando conseguem atravessar muros e barreiras da IDF, os palestinos são proibidos de pisar nas rodovias nas quais os colonos judeus e israelenses transitam para cima e para baixo, o que os obriga a perder muito tempo e aumenta seus custos de transporte inclusive em distâncias curtas.
No dia 31 de julho de 2012, o ministro da economia de Israel Yuval Steinitz e o primeiro ministro palestino Salam Fayyad, assinaram um adendo a esse Protocolo com novas regulamentações fiscais e de transferência entre Israel e a AP.
Segundo o acordo, o mecanismo fiscal de importação, exportação e taxas sobre valor agregado serão baseadas na transferência real dos produtos, substituindo a prática do Protocolo de cálculos preliminares.
Enfim, mudaram as palavras, mas em vez de adquirir a autonomia necessária à soberania a médio prazo, a AP parece ter entrado em outro conto do vigário.
Este adendo estatua que para "apoiar este esforço" as autoridades palestinas e israelenses vão aumentar a "troca de informações" no tocante à transferência de produtos. E para "melhorar o seguimento e assegurar a eficiência do movimento de produtos",  empregar-se-á tecnologias avançadas... armazéns palestinos serão montados, e a transferência dos produtos será "geralmente" conduzida por vias de trânsito designadas por Israel... E condutos de petróleo serão construídos para a transferência de gasolina e produtos derivados diretamente de Israel.
E é aí também que a porca torce o rabo e os protestos contra Fayyad procedem.
Contra Fayyad e não contra os ocupantes porque não dá para entender como não viu que em vez de dirigir seu país a uma soberania econômica, ele estendeu a dependência disfarçada em cooperação.
O petróleo e seus derivados poderiam chegar dos países árabes direto pelo Egito, sem nenhum custo complementar e sem nenhuma subordinação agregada - se a AP tivesse o direito de negociar com países estrangeiros, em vezes de ser obrigada a submeter-se ao comércio exclusivo com o ocupante que priva seu povo de tudo.
Ou Fayyad é um péssimo negociante, ou não aprendeu as lições dos tratados anteriores que só prejudicaram o seu lado, ou tem agenda própria e assinou este acordo ambíguo com aparência castiça com conhecimento de causa.
Qualquer que seja a assertiva certa, Salam Fayyad "está virando" um estorvo.
O fato de ter sido imposto pelos EUA faz dele uma figura impopular e pouco fiável.
O Fatah e o Hamas têm de entrar em um acordo para convocar eleições o mais cedo possível, e Mahmud Abbas tem de ceder sua candidatura no Fatah a Marwan Barghuti.
Embora esteja atrás das grades israelenses há anos, Barghuti, ex-líder do Tanzim - Organização militar do Fatah que renunciou à resistência armada em 2005 - é a única autoridade na Palestina respeitada por todas as facções políticas. Sua vitória obrigaria Israel a libertá-lo e não há nenhuma dúvida que logo logo ele conseguiria o Estado que seu povo almeja desde a Naqba.
É por isto que apesar do discurso pacifista que lhe valeu o apelido de Nelson Mandela palestino, Israel o mantém atrás das grades.
Acima das restrições e Acordos econômicos perversos, é a ocupação em si que inviabiliza o desenvolvimento econômico.
Que investidor estrangeiro investiria em um território em que tudo é submetido à vontade militar aleatória de um governo que tem todos os motivos de manter seus "súditos" de cabeça e moral baixo?
Que investidor estrangeiro quer investir em um território em que todo ato de resistência provoca retaliação brutal - como a destruição física de todos os prédios administrativos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza - e que seu investimento pode ser pulverizado por um míssil por nada?
Que investidor estrangeiro quer pôr dinheiro em um território em que os produtos para exportação podem ficar bloqueados durante meses, por vontade política de Tel Aviv ou simplesmente porque um competidor israelense distribuiu propina para um funcionário público?
De repente, as passeatas em Ramallah começam a assustar pessoas "bem intencionadas" e começaram rumores de "perigo para os Acordos de Oslo"!
Apela-se para países doadores abrirem as carteiras e soltarem dinheiro para a AP pagar os salários e acalmar a situação instável que pode prejudicar Israel - Que os palestinos penem à míngua, tanto faz.
Estes doadores deveriam impor a Israel o respeito das leis internacionais antes de botarem grana no saco furado de um país ocupado.
Toda solução política e financeira é paliativa, e o progresso, fictício e temporário.
Por melhor que seja a medida a curto prazo, só servirá para a Autoridade Palestina empurrar os problemas com a barriga inchada de maneira artificial e precária.
Pois é a ocupação a fonte dos males.
Enquanto o problema não for atacado na fonte, nem a abolição do Protocolo de Paris mudará nada.
A Palestina continuará deficitária e miserável.
Os palestinos jamais terão estabilidade nem autonomia para cultivar suas terras, produzir azeite de oliva e outros produtos de qualidade em grande escala e nem obter divisas os exportando para quem pode comprá-los.
Como já disse inúmeras vezes, Israel controla, com a cumplicidade tácita e mal-informada das agências de turismo internacionais, até o turismo nos sítios cristãos na Cisjordânia.
É por isto que quando ouço um turista ou empresário que foi a Israel e à Cisjordânia (postas no mesmo saco...) "deplorar" a diferença de desenvolvimento (enaltecido pela propaganda israelense) entre um e outro lado, engulo em seco e tento ficar calma antes de perguntar ao dito cujo se quando esteve em Belém tomou pelo menos um chazinho em um estabelecimento comercial da cidade.
A resposta negativa e surpreendida não varia. Ouço-a e volto a explicar que todo o dinheiro que gastou na viagem não foi para os cofres do país certo, que cuida do patrimônio que ele foi visitar, e sim para os do ocupante que o leva até lá.
E esta é só a pontinha econômica do iceberg dos problemas que a Palestina atravessa apesar de todos seus recursos naturais e turísticos - todos os frutos destes recursos lhe são vedados.
 Os israelenses sabem que a dependência econômica assegura a dominação e é por isso que a mantêm.
É por isto que sob pressão internacional começaram a abrir a Faixa de Gaza a conta gotas para a entrada de produtos de primeiríssima necessidade - de preferência israelenses, para lucrar ainda mais - entretanto, não deixam nada sair de lá.
Sabem também que o último obstáculo para a reconciliação completa do Hamas e do Fatah é o problema econômico.
Binyamin Netanyahu acha que enquanto os palestinos estiverem protestando contra palestinos, Israel pode ficar tranquilo para convencer Mitt Romney a atacar o Irã sem consequência na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
(Os palestinos não têm nenhuma simpatia pelo regime do Irã. Como o mundo inteiro pensante, acham o ataque absurdo, mas sua opinião para aí.)
Mas no plano interno seu sofrimento é constante. E com o passar dos dias, das semanas, se e quando chegar a Primavera Palestina, o povo não vai se voltar contra Fayyad nem Abbas porque nenhum deles é o mal encarnado que era Mubarak e Gaddafi.
Vão voltar-se primeiro contra a ocupação que os levou ao estado em que se encontram, tratados como gado, atolados até o pescoço e sufocados.
Depois passaram aos mau-administradores nacionais.

Occupation, curfew, settlements, closed military zone, administrative detention, siege, preventive strike, terrorist infrastructure, transfer. Their WAR destroys language. Speaks genocide with the words of a quiet technician.
Occupation means that you cannot trust the OPEN SKY, or any open street near to the gates of snipers tower. It means that you cannot trust the future or have faith that the past will always be there.
Occupation means you live out your live under military rule, and the constant threat of death, a quick death from a snipers bullet or a rocket attack from an M16.
A crushing, suffocating death, a slow bleeding death in an ambulance stopped for hours at a checkpoint. A dark death, at a torture table in an Israeli prison: just a random arbitrary death.
A cold calculated death: from a curable disease. A thousand small deaths while you watch your family dying around you.
Occupation means that every day you die, and the world watches in silence. As if your death was nothing, as if you were a stone falling in the earth, water falling over water.
And if you face all of this death and indifference and keep your humanity, and your love and your dignity and YOU refuse to surrender to their terror, then you know something of the courage that is Palestine
.” Suheir Hammad

Colonos judeus na Cisjordânia
Meninas israelenses "autografando" torpedos destinados aos palestinos
Rebanho palestino envenenado pelos colonos judeus na Cisjordânia

Documentário: Route 181, fragments d'un voyage Israel-Palestine
De Eyal Sivan e Michel Khleifi.
Um israelense e um palestino, em Rota 181, seguem a Linha Verde em 2002. A situação se deteriorou bastante nos últimos dez anos, mas o documentário retrata a realidade no terreno.
O pseudo-filósofo sectário Bernard-Henry Levy e outros judeus sionistas franceses, na época, impediram que o documentário fosse apresentado em um festival no Centre Georges Pompidou - Beaubourg, em Paris.
Legendado em espanhol
Sul
Centro
Norte (extrato)

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/


domingo, 16 de setembro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XIX (09-12 2001)


Em 2001, no dia em que celebramos a nossa independência, a IDF voltou a atacar a liderança palestina. Desta vez foi em Tulkarm.
O alvo foi o Fatah e os meios foram os dos "ataques cirúrgicos" que provocam grandes danos colaterais e o algoz assiste de camarote, protegido por um tanque ou um avião de combate.
Dois mísseis foram lançados de Apaches matando dois ativistas e deixando dois feridos em estado grave.
No dia 11 de setembro de 2001, aniversário da morte de Salvador Allende durante o Golpe Militar no Chile infiltrado pela Operação condor, da CIA, o saudita Ossama Ben Laden deixou de ser conhecido só por Serviços Secretos e jornalistas que cobrem a área. Ganhou celebridade mundial com o ataque espetacularmente terrível de alvos econômicos em Nova Iorque e militar (fracassado) em Washington.
O mundo comoveu-se com estes mortos em solo gringo, os analistas clarividentes previram o fim do gigante de pés de barro, e Yasser Arafat, em um gesto simbólico de solidariedade, doou sangue para as vítimas no hospital Shifa de Gaza, seguido de todos os membros da Autoridade Palestina.
Nem sei se os estadunidenses ficaram sabendo deste gesto de bons amigos. Sei que Sharon não ficou nem um pouco comovido. Como de costume, aproveitou que as atenções estavam voltadas para Nova Iorque e Ben Laden para, na Cisjordânia, armar mais uma emboscada criminosa.
No dia 13 a IDF matou 13 palestinos em uma incursão brutal em Jenin, no norte da Cisjordânia, pilhando e destruindo a prefeitura e outros prédios públicos.
No dia 16, seus tanques, Apaches e escavadoras armadas penetraram em Jericó, outra cidade mística da Palestina, esmagando história, fraturando memória, derrubando moradias, destruindo veículos, propriedades, e cortando trabalhadores e estudantes de empregos, de escolas e universidades.
Os feridos se acumularam, os mortos se empilharam, mas ficaram fora da mídia. Eram palestinos. Não contavam nem um milésimo de um dos mortos no ataque aos Estados Unidos.
Enquanto o mundo se sensibilizava com os escombros das Torres Gêmeas, os caterpillars D9 destruíam dezenas de casas ancestrais e os bombardeios da IDF não paravam  - eram quase sempre noturnos, como são até hoje em Gaza. Para pegar os moradores dormindo?
Yasser Arafat, que encontrara Collin Powel durante o ano em Ramallah, apelou para os EUA, pôs a boca no trombone, mas nenhum jornal tirou espaço dos bombeiros novaiorquinos cavando sobreviventes nos escombros do atentado que fascinava o planeta como os blockbusters holywoodianos fascinam os que apreciam grandes catástrofes nas telinhas e telonas.
Mas as ONGs de Direitos Humanos estavam atentas e pressionavam como podiam.
E George W. Bush precisava do apoio dos países árabes no processo de formação de sua coalição anti-terrorista.
Então pressionou para que Shimon Peres e Yasser Arafat negociassem uma trégua que envolvesse o fim do sítio de áreas palestinas, inclusive o aeroporto.
Marcaram um novo encontro para a semana seguinte, mas enquanto os dois velhos conhecidos conversavam, um soldado da IDF matou um estudante na Faixa de Gaza à queima roupa... E o mês terminaria como começara.

Outubro chegou com uma bomba que sacudiria o governo de Israel como este vinha sacudindo a Autoridade Palestina em sua operação de assassinatos de seus altos executivos.
George W. Bush, desesperado com o ataque aos Estados Unidos e correndo atrás da ajuda dos países árabes em sua guerra contra o Al-Qaeda, declarou-se favorável à criação de um Estado da Palestina. Contanto que este reconhecesse o direito de exitência de Israel.
Ariel Sharon subiu nas paredes e declarou que os esforços dos Estados Unidos para angariar apoio árabe em sua guerra contra o terrorismo, leia-se, Ben Laden, não evitaria que ele continuasse sua campanha nos Territórios Ocupados. Que Bush não "apaziguasse" os árabes em detrimento do avanço de sua política de ocupação!
O bate-boca durou uns dias, e enquanto isto a Frente Popular de Libertação da Palestina tramava a retaliação contra Sharon pelo assassinato de Abu Ali Mustafá.
O líder palestino morto pelos dois mísseis lançados de um Apache no dia 27 de agosto, foi vingado em Jerusalém.
O alvo foi o ministro do turismo Rehavim Ze'evi, baleado na porta do hotel em que estava hospedado.
Ariel Sharon parou logo as negociações que engatinhavam, jogou toda a responsabilidade em cima de Yasser Arafat irrelevando o precedente de seus próprios assassinatos, e decidiu endurecer as operações militares.
Do dia 18 ao dia 21 a IDF invadiu todas as cidades palestinas autônomas, inclusive Ramallah, Jenin e Belém.
O dia 24 de outubro seria o mais sangrento do ano de 2001. Os Apaches sobrevoavam as cidades metralhando e bombardeando às cegas, os tanques os seguiam causando mais estrago, e os caterpillars armados passavam demolindo o que encontrassem - carros, casas, gente.
O ataque foi tão bárbaro que até os EUA intervieram, em voz baixa.
Ariel Sharon não deu bola para Colin Powell a quem disse que a IDF continuaria no terreno "evitando terrorismo e prendendo terroristas" - para ficar em fase com a terminologia que estava na moda em Washington, e continuou sua campanha bélica.
Usou o jargão de Washington, a AIPAC puxou a rédea e Bush calou a boca na hora. 
No dia 24, a IDF matou mais 6 pessoas em Beit Rima antes da retirada em que deixava atrás das tropas 13 mortos e 20 feridos graves.
(Feridos "colaterais" na Palestina nem entram nas contas. Ferimento de estilhaços, de raspão de bala, de efeitos nocivos de gás são tão comuns que nem são contabilizados. Quando as estatísticas falam em feridos, falam nos que são hospitalizados em estado realmente grave. Os demais são tratados em casa porque não podem e não querem tirar lugar precioso e raro nos hospitais ainda não bombardeados.)
A semana de retaliação da IDF à execução de Rehavam Zeevi, deixou mais de 40 mortos e centenas de feridos na Cisjordânia.
No dia primeiro de novembro a operação vingança prosseguiu do alto. Mísseis israelenses estraçalharam Jamil Jadallah, um chefe militar do Hamas e mais cinco resistentes.
No dia 05 Ariel Sharon adiou sua viagem a Washington por causa "da situação de segurança no país". Contava passar em Londres para ver o amigo Tony Blair, que sabe-se lá por que cargas d'água, já virara "simpatizante" da AIPAC.
Em outra operação militar no dia 08, soldados disfarçados assassinaram outro membro do Hamas. Issa Dababsa de 50 anos, em Yatta, e feriram dois parentes que se encontravam no local.
No dia 13 foi a vez de Mohammed Hassan Reihann, em uma operação que envolveu uma tropa inteira em Tell, perto de Nablus.
Depois a IDF cometeu a bobagem de metralhar de AH (helicópteros Apaches estadunidenses), a American School of Gaza, em Beit Lahyia, no norte da Faixa. Escola frequentada também por filhos dos estrangeiros baseados no local.
Aí foi demais para Colin Powell.
Os boatos em Washington eram que ele já estava para ter um ataque de nervos de general para general. Mas seu patrão pediu-lhe calma.
A discórdia foi abafada e Powell conseguiu de Sharon a promessa vaga e nula de um encontro.
No dia mesmo da promessa os caterpillars D9 passaram ao ataque na Faixa de Gaza demolindo casa atrás de casa.
Sharon disse que era para construir novas residências para os colonos importados de algum país distante e completou com a informação que autorizara a ocupação de moradias palestinas em Hebron, apesar da objeção pública do Secretário de Estado estadunidense.
Os palestinos reagiram com uma operação falha. No dia 25 o general da IDF Shaul Mofaz escapou por pouco de uma explosão nas montanhas de Hebron.
A resposta da IDF à operação falha foi pesada. Uma tempestade de mísseis, balas de borracha e gases caiu nos hebronitas sem parar.

A artilharia do Primeiro Ministro de Israel deixou atrás de si ressentimentos revigorados e no dia 01 de dezembro um bomba-suicida explodiu um ônibus em Israel matando três pessoas e ferindo nove. Irado, Sharon embarcou para Washington no intuito de conseguir o apoio de Bush para sua demanda de sete dias de calma antes de retornar à mesa de negociações.
Em seguida, o Primeiro Ministro israelense chamou Yasser Arafat de "irrelevante", o deteve em Ramallah e seus Apaches e F16 procederam a um bombardeio desenfreado à moda da represália da OTAM no Afeganistão com a desculpa de Ben Laden.
Os estragos foram tantos e a detenção de Arafat foi tão absurda que Saeb Erekat apelou para os países árabes dizendo que os ataques noturnos de Sharon "eram uma declaração de guerra".
Saeb Erekat argumentou com palavras e a resistência armada com um atentado que deixou 25 mortos em Israel.
Só que em vez de cruzar os braços ou ordenar novos ataques como fazia seu homólogo israelense, Yasser Arafat ordenou a prisão de mais de duzentos militantes do Hamas e do Jihad Islâmico.
Apesar das providências impopulares que Arafat tomara a fim de demonstrar boa vontade, Sharon decidiu em vez de conversar, praticar a punição coletiva que era a imagem de marca das Forças Armadas israelenses.
No dia 08 deixou os Apaches estacionados e pôs no ar aviões de combate.
O alvo era a Mukata'a - sede da Autoridade Palestina - em Gaza. O bombardeio deixou mais de 15 feridos e repercutiu em toda a Palestina. 
Mas o general primeiro-ministro não achou essa medida suficiente para vingar seus compatriotas. No dia 10 bombardeou Hebron matando dois meninos, um bebê, ferindo doze adultos e adolescentes; na mesma noite vários prédios públicos foram bombardeados no norte da Faixa de Gaza e no dia 11 soldados mataram dois palestinos perto de Tulkarm em uma barragem da IDF na Cisjordânia.
Os palestinos retaliaram atacando uma das invasões judias matando 10 pessoas e deixando 34 feridos.
E os aviões de combate da IDF voltaram ao ar.
Bombardearam Nablus, um quartel policial em Gaza, o quartel general da polícia naval na Faixa e a unidade de radar do aeroporto, cujas pistas já tinham sido destruídas pelos caterpillars.
Uma mulher morreu durante a investida e dez outras pessoas ficaram feridas.
No dia 14 os caterpillars D9, tanques, Apaches, aviões de combate, continuaram a campanha de destruição dos edifícios públicos para aniquilar toda a infra-estrutura construida desde a criação da Autoridade Palestina.
Dezenas de milhões de dólares adquiridos a duras penas partiram em fumaça em poucos dias.
Sem contar as vidas perdidas e destruídas.
A hostilidade destrutiva de Sharon era tanta, que em Israel a imprensa conjeturava se o seu próximo passo seria a guerra total. E os jornalistas estrangeiros se perguntavam o que podia ser mais total do que a devastação que viam todos os dias.
O mês continuou no mesmo ritmo desvairado.
A adesão aos grupos de resistência palestinos aumentou, os já militantes ficaram ainda mais aguerridos por causa da perda de familiares durante as operações militares da IDF e as ocupações rudes das moradias pelos soldados inimigos, e dezembro começou com três atentados suicidas nos dois primeiros dias.
Em Jerusalém Ocidental e em Haifa, no norte de Israel, provocando 26 mortos e cerca de duzentos feridos no total.
A imprensa internacional lamentou os "atos terroristas" calando a violência da ocupação que os provocava e Sharon cuspiu fogo, literalmente.
No dia 04 parecia ter lançado todos os seus caças F16 sobre os Territórios Ocupados.
Voltou a declarar Yasser Arafat "irrelevante" e para perplexidade internacional, o deteve em Ramallah.
Cercou a Mukata'a (o "Palácio do Planalto" palestino ) de dezenas de soldados.
No dia 24 de dezembro, Sharon o impediu inclusive de assistir à tradicional Missa do Galo em Belém com a esposa e a filha, rompendo a tradição que Arafat mantinha desde 1995 quando os palestinos recuperaram a cidade.
Esta medida do Primeiro Ministro de Israel criou um outro precedente na História Geral. A Palestina é o único lugar do mundo em que um presidente foi detido por um chefe de Estado estrangeiro durante mais de um mês sem que a ONU interviesse de maneira decisiva.
Lembro da perplexidade dos jornalistas e dos demais ocidentais em Ramallah diante desta situação imprecedente. No mínimo inusitada e no máximo inadmissível.
Yasser Arafat invocou a ilegalidade da prisão domiciliar, pediu auxílio internacional, em vão.
Após perder as celebrações natalinas católicas, queria pelo menos ir com a família às celebrações da Igreja Ortodoxa Grega no dia 06 de janeiro e da Armênia, no dia 16, mas Ariel Sharon foi irredutível.
Os Estados Unidos e a Europa estavam enredados no Afeganistão em uma guerra própria contra o Al-Qaeda e a imprensa estava com assunto de sobra para encher seus jornais. Israel infringir as leis internacionais já era um assunto banal - um golpe baixo a mais não passava de um golpe a mais e a Palestina que se virasse com os meios que encontrasse.
Arafat só poderia deixar Ramallah depois que prendesse os dois homens que tinham matado o ministro de turismo israelense, declarou Sharon com a autoridade que se dava.
Os assassinatos dos assessores de Arafat eram "atos de guerra" executados em toda a impunidade peculiar às Forças de ocupação, segundo a propaganda dos comunicados de imprensa de Tel Aviv. Mas toda ação da resistência palestina era "ato de terrorismo" que tinha de ser punido como tal.
E assim acabou o ano. Com 801 mortos e centenas de feridos.
Do lado israelense, 190 mortos dentre os quais 85 civis vítimas de bombas-suicidas. Destes, 36 menores de 18 anos.
Do lado palestino, 611 mortos. 80 menores de 18 anos.
O ano de 2002 seria pior ainda.


"All who want to see an end to bloodshed in the Middle East must ensure that any settlement does not contain the seeds of future conflict.
Justice requires that the first step towards a settlement must be an Israeli withdrawal from all the territories occupied in June, 1967. A new world campaign is needed to help bring justice to the long-suffering people of the Middle East."
Bertrand Russel, 1970

Reservistas da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 


Shovrim Shtika - Breaking the Silence
Nablus
 Balata

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

domingo, 9 de setembro de 2012

Nos EUA, farsa política; em Israel, farsa jurídica condena a Justiça

  
USA viciado em Poder


"Where is the justice of political power if it executes the murderes and jails the plunderer, and then itself marches upon neighboring land, killing thousand and pillaging the very hills?"
Gibran Khalil Gibran 

Esta citação acima do poeta libanês comparado a Victor Hugo no século passado e mago da minha adolescência, prologa uma passagem rápida pela campanha eleitoral nos Estados Unidos antes de abordar o ponto principal do artigo deste domingo.
É claro que Barack Obama é o meu candidato à presidência dos EUA.
Não por causa da política exterior que realizou, mas porque Mitt Romney é bem pior e causará danos bem maiores dentro e fora de suas fronteiras, em todas as situações possíveis e imagináveis.
Obama é fraco (ou o rabo-financiamento de campanha é grande demais e o puxa para baixo), contudo, tem uma consciência que o pune por seus maus atos.
Romney é obtuso e só presta contas ao capital.
Algum formador de opinião com coragem e bem informado deveria dizer aos compatriotas estadunidenses que estão no fim da abastança para que caiam na real, antes cedo do que tarde.  Seus problemas econômicos são crônicos, insolucionáveis a curto, médio e longo prazo.  Embora Romney grite o contrário nos palanques, não resta dúvida que Obama melhorou a situação crítica, porém, a conjuntura é irreversível.  É inerente ao declínio do país e qualquer que seja o presidente eleito, ele só vai ter de conseguir administrar os prejuízos sociais que sufocaram todas as potências que já estiveram no cimo do mundo e no fim do império estagnaram em uma areia movediça - que ao contrário do mito hollywoodiano, não engole ninguém de uma tragada mais ou menos rápida; para livrar-se, basta mover-se devagar ou deixar-se levar pelo fluxo ascendente de água sem gestos bruscos - administrável. Apenas segura o indivíduo onde está, em vez de deixá-lo recriar as asas que foram definitivamente cortadas. 
Pois no caso dos EUA, quanto mais a economia degringolar, a droga do poder a que estão acostumados - entorpecente, excitante, alucinógena - leva-los-á a manter a potência militar em detrimento de tudo o mais a fim de manterem o estado psíquico agradável a que Hollywood e a Casa Branca os acostumaram.

A crença dos EUA que todo e qualquer desentendimento pode e tem de ser resolvido com armas em vez de palavras é maior do que qualquer uma de suas crenças religiosas bitoladas.  Nisto, Republicanos e Democratas são farinhas do mesmo saco.
Para os demais países do planeta que assistem de camarote à disputa de golpes baixos entre os candidatos, no final das contas, tanto faz. Pois inclusive os presidentes democratas (Obama é a prova encarnada) têm compromissos financeiros internos que os levam a tomar decisões internacionais motivadas apenas pelo interesse nacional a curto prazo que prima sobre todos os demais e sobre a moral básica que aplicam em casa e violam em solo alheio.
Enfim, tanto faz, de maneira geral.
Desta vez uma ameaça grave paira sobre o mundo inteiro com a espada de Dâmocles que Israel pôs nas nossas cabeças. Romney acabou de receber mais U$10 milhões de dólares de Sheldon Adelson, a terceira fortuna dos Estados Unidos. O bilionário sionista que enriqueceu no ramo da jogatina desembolsou mais esta quantia - além da que o lobby israelense já garantia ao candidato republicano - contra um acordo tácito entre Romney e Netanyahu de arrepiar os cabelos. Em sua visita a Jerusalém, o candidato republicano declarou a cidade capital do "Estado Judeu" (contra a posição oficial dos EUA) e afirmou que os Estados Unidos têm “a solemn duty and a moral imperative to block Iran from achieving nuclear weapons capability. Make no mistake, the ayatollahs in Iran are testing our moral defences. They want to know who will object and who will look the other way. We will not look away nor will our country ever look away from our passion and commitment to Israel.
Prometeu ao Primeiro Ministro de Israel que caso seja vitorioso na corrida para a Casa Branca, não emitirá oposição à limpeza étnica da Cisjordânia. Nem através de ocupação militar nem das invasões civis através dos assentamentos/colônias que Obama critica de vez em quando, embora impeça seu embaixador na ONU de aprovar as sanções propostas pelos outros países.
E pior do que este fato exclusivo à Palestina, a vitória de Romney afetaria imediatamnete o mundo inteiro, pois dizem também que teria dado carta branca e apoio irrestrito a Binyamin Netanyahu e Ehud Barack para levarem a cabo o ataque que estão cavando contra o Irã - desconsiderando totalmente que tal agressão bélica teria proporções maiores do que pensa, talvez até planetárias.
O Irã não é o Iraque nem o Afeganistão. Tem parceiros internacionais de peso, do eixo Rússia-China ao Egito, que está do ladinho.
Barack Obama tem mantido distância do Primeiro Ministro israelense (de quem não gosta nem um pouquinho mais do que seus colegas europeus). Em Tel Aviv dizem que o Presidente dos Estados Unidos recusou (com desculpa de agenda) o pedido de reunião que Binyamin Netanyahu vem solicitando com insistência para antes do fim de setembro. Negando, porém, qualquer divergência da Casa Branca com o governo israelense.
Estas esquivadas de Obama não significam que negará a Netanyahu mais este delírio megalomano-psicótico de atacar o Irã.
Mas já indica uma certa relutância. Pois sabe que teria de convencer os Democratas a segui-lo nesta medida e na conjuntura atual do partido, não seria assim tão fácil como a dupla Ehud Barak/Binyamin Netanyahu gostariam.
Os judeus liberais noavaiorquinos - artistas e intelectuais - já acordaram para a injustiça da ocupação da Palestina e também estão ativos, pressionando seus representantes no Congresso que ajudaram a eleger com contribuições e/ou propaganda. 
Prova disto foi a dificuldade que o lobby israelense teve para impor sua vontade na Convenção Nacional Democrata.
Até quatro anos atrás, o lobby sionista conseguira aprovar a frase "Jerusalem is and will remain the capital of Israel" logo de cara.
Na quarta-feira passada, a frase foi reprovada uma vez, reapresentada e reprovada uma segunda vez, e a posição crítica em relação ao estatuto final de Jerusalém israelense só obteve "maioria" na terceira votação após pressões, conchavos e contagem por alto.
Quando Ted Strickland, ex-governador de Ohio, propôs a controvertida inclusão da frase fatídica, disse "faith and belief in God is central to the American story" e "President Obama recognises Jerusalem as the capital of Israel and our party's platform should as well".      (A charge do jornal Al-Quds, ao lado, diz acima "Learn about Israel... from behind the fence", e abaixo: "Obama's view".) 
Vale lembrar que o estatudo de Jerusalém é um espinho no sapato de todos os presidentes dos Estados Unidos desde que Israel começou a ocupação civil e militar da Palestina em 1967.
A maioria absoluta dos países membros da Oraganização das Nações Unidas resiste ao lobby sionista (inclusive os EUA, neste ponto) se recusando a reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Estes países esperam que a cidade "santa" ainda seja a capital dos dois Estados - Israel e Palestina - e que a paz reine dos dois lados livres e soberanos.
É por isto que as embaixadas estrangeiras em Israel, inclusive do Brasil, são em Tel Aviv.
E sob pressão de seus eleitores liberais, inclusive judeus esclarecidos, muitos políticos Democratas  acordaram para sua responsabilidade na Convenção do partido e os "nays" foram majoritários até os "ayes" predominarem sem realmente predominarem e a moção ser aprovada.
"In the opinion of that chair, two-thirds have voted in the affirmative. The motion is adopted, and the platform has been amended." A frase definitiva de Antonio Villaraigosa, prefeito de Los Angeles e presidente da Convenção, foi recebida com um coro de vaias da Assembleia.
A frase foi aprovada, mas a contragosto de muitas vozes democratas ativas. Isto renova as esperanças que Netanyahu não consiga fazer valer sua vontade com tanta facilidade no caso da reeleição de Obama, e que se os estadunidenses reelegerem Obama, os Democratas esclarecidos consigam que governe com bom senso, deixe o problema do Irã ser resolvido pelas Nações Unidas - que é quem tem autoridade para isto, e pare os caterpillars israelenses na Palestina. Mesmo que dona Hillary Clinton tenha outro ponto de vista.  
Embora saiba que Obama está e é propenso a beneficiar Israel em uma possível resolução da ocupação militar e civil da Palestina, entre os males, o menor para o mundo continua sendo ele.  

'ONCE UPON a time, President Richard Nixon wanted to appoint a certain lawyer to the US Supreme Court.
“But the man is a complete moron!” one senator exclaimed.
“So what,” answered another, “There are a great many morons in the US, and they have a right to be represented in the court as much as any other sector of society.”
Perhaps the United Morons of the United States have a right to elect Mitt Romney president.
But for the sake of the US and Israel, I hope that this will not happen.
Some people say that Israel is the 51st state of the Union.
Some say that it is the first among the 51.
Whatever, our lives – and perhaps our deaths – depend to a great extent on the man in the White House.
So, with all my misgivings (and I have a lot) about Barack Obama, I very much hope that he will be reelected.'
Uri Avnery, cronista do jornal israelense Haaretz

"No weapon has ever settled a moral problem.
It can impose a solution but it cannot guarantee it to be a just one."
Ernest Hemingway

 
As Relações Exteriores de Israel têm um ministério e um ministro de extrema-direita que é Avigdor Lieberman. Não baba como os cães raivosos, late, late, late e morde quando pode, mas na verdade (por enquanto) não decide nada.
Pois o Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa se apossaram das verdadeiras Relações Exteriores, tais como a relação prioritária e privilegiada que Binyamin Netanyahu se reserva com a Casa Branca e a AIPAC (lobby israelense em Washington). O embaixador israelense nos EUA se comunica diretamente com Netanyahu - e com o bilionário Sheldon Adelson, a terceira maior fortuna dos Estados Unidos e um dos maiores financiadores da campanha do republicano Mitt Romney - U$10 milhões de dólares, para que este campo assegure que não haja nenhuma crítica às colônias, nem à limpeza étnica da Cisjordânia e que Netanyahu fique à vontade para lidar como quiser com o Irã.
As Relações com os palestinos são (mal)administradas por Ehud Barak que é oficialmente encarregado dos Territórios Ocupados, e das Forças Armadas - IDF (Israeli Defensive Forces). A espionagem e policiamento lá é da alçada do Shin Bet (serviço interno de inteligência), ligado diretamente ao Primeiro Ministro.
As relações com os países árabes são mantidas pelo Mossad, também sob autoridade de Netanyahu.
Na prática, são estes dois homens, Binyamin Netanyahu e Ehud Barack, que, direta ou indiretamente, detêm todo poder no Estado de Israel - inclusive de bombardear ou não o Irã - e consequentemente, de tudo o que diz respeito à Palestina.
Portanto, a responsabilidade da farsa jurídica encenada em Haifa no fim de agosto também pode ser considerada da responsabilidade deles.
"A impunidade prevalesceu de maneira sistemática nos casos de violações do Direito Humanitário Internacional pelas autoridades israelenses e em vários outros casos de Direito Penal israelense. A família Corrie estava à mercê de um sistema israelense em que as decisões "são uma paródia de justiça".
Foi Richard Falk - especialista independe nomeado pela ONU para investigar a situação dos Direitos Humanos na Palestina ocupada desde 1967 - que fez esta acusação ao governo de Israel. O julgamento ao qual se refere é o de Rachel Corrie, e por tabela, aos dos outros civis estrangeiros assassinados fria e impunemente por soldados da IDF nos últimos dez anos.
Richard Falk, um diplomata pausado, saiu do sério quando exprimiu "decepção" e "consternação"  com uma decisão judicial israelense de rejeitar a queixa da família Corrie contra os assassinos da filha, condenando a vítima e absolvendo mais uma vez os culpados.
O caso de Rachel não é isolado, mas é mais conhecido por ela ser estadunidense e por sua família ser perseverante e determinada.
Neste caso mediático, o culpado é um soldado da IDF ou IOF (Israeli Defensive/Occupation Forces) que nove anos atrás jogou seu caterpillar armado em cima da militante pacifista a atropelando de propósito e a deixando para trás esmagada.
Rachel foi esmagada por um Caterpillar em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, nove anos atrás.
Sua família, após mover céu e terra para punir os culpados, acabou formalizando uma queixa no Tribunal de Haifa em 2005. 
No fim de agosto de 2012 este tribunal, por intermédio do juiz Oded, absolveu o estado de Israel da responsabilidade do "acidente" e negou as acusações de falha na condução credível de investigação do assassinato. A isenção de responsabilidade dos militares foi uma bofetada nas caras sofridas de Cindy e Craig Corrie, pais de Rachel.
Desconsiderando as provas e os depoimentos dos estrangeiros presentes na cena do crime, o Tribunal manteve a versão oficial que os soldados que estavam no Caterpillar D9 não viram a jovem de 23 anos apesar do colete fluorescente laranjado que ela estava usando.
Quem estava em Rafah nesse dia (ou assistiu ao vídeo) viu bem que, como sempre, ela estava bem visível no seu colete fluorescente.
A negação das falhas na investigação é uma bofetada nos Estados Unidos inteiro, pois em 2004, um ano após o crime, o próprio embaixador dos EUA irritou-se com o então primeiro ministro Ariel Sharon por ter encarregado um jovem de 19 anos de investigar o "acidente".
Durante estes anos todos os "investigadores" mudaram, mas nenhum deles se preocupou em corrigir os erros do colega adolescente no recolher depoimentos das testemunhas, em esclarecer discrepâncias no depoimento dos soldados, em desenhar mapas do local e do desenrolar da cena, enfim, tudo o que teria de ser feito neste tipo de caso.
A impunidade prevalesceu mais uma vez na longa lista de "irregularidades" cometidas pela IDF na Palestina. 
Os Estados Unidos de George W. Bush afirmaram então que o governo de Israel não cumprira a promessa de conduzir investigações "minuciosas, credíveis e transparentes".
Barak Obama não podia, moralmente, deixar por menos do que isso. Mas ele continua mudo sobre o assunto. Precisa do dinheiro da AIPAC e é pouco provável que se manifeste.
Mas o ex-presidente Jimmy Carter declarou imediatamente: “The killing of an American peace activist is unacceptable. The court’s decision confirms a climate of impunity, which facilitates Israeli human rights violations against Palestinian civilians in the Occupied Territory.”
Vale lembrar que cerca de 94 por cento das investigações de soldados israelenses acusados de crimes violentos contra palestinos e suas propriedades terminam em absolução do culpado. 91 por cento das investigações de civis israelenses contra palestinos nos Territórios Ocupados também terminam em absolução do culpado.
Rachel morreu protegendo de demolição a casa de uma família palestina.
Até o dia em que foi "atropelada" os israelenses já haviam demolido, só onde ela estava, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, 1.700 moradias, no processo de punição coletiva durante a Segunda Intifada. Cerca de 400 crianças já tinham sido vítimas "colaterais" dos ataques da IDF. Sem nenhum direito de dar queixa,à Convenção de Genebra contra a violação dos tratados internacionais que Israel não respeita.
Os pais de Rachel batalham há anos para obter justiça para a filha e por tabela, para as centenas de palestinos a quem os mínimos direitos humanos são inacessíveis.
Os israelenses são tão espertinhos que após a queixa civil registrada por Cindy e Craig Corrie em Israel, o Knesset aprovou uma emenda na lei de compensação que impede outros processos do gênero.
Um passinho pra frente. Graças a Rachel.
  
Abusos são cometidos por soldados da IDF diariamente nos territórios ocupados.
Estes abaixo foram "documentados" nos domicílios palestinos que ocupam durante dias sem nenhum respeito pela família 
E quando desocupam a residência da família
I'll be right back, diz o grafite do soldado antes de "mudar" para outra casa 
Documentário sobre a visita do comediante inglês Jeremy Hardy à Palestina em 2002
Jeremy Hardy vs Israeli Army
  
A vídeo do assassinato de Tom Hurndall


Livro : The Only House Left Standing - The Middle East Journals of Tom Hurndall
De Tom Hurndall e Robert Fisk. Editora Trolley Books

Filme do Channel 4: The Shooting of Thomas Hurndall (TV 2008)
Direção de Rowan Joffe, com Kerry Fox, Stephen Dillane, Bader Alami, Ziad Backry, Mark Bazeley.  


Os caterpillars em operação de demolição em Dkaika
Demolição de cisterna em Kheshem Ad Darj 

Reservistas da IDF, Forças de ocupação israelense,
Breaking the Silence

Documentário: Occupation 101: Voice of the Silenced Majority
De Sufyan e Abdallah Omeishah, 2006
Concluído com as palavras de Rachel Corrie