domingo, 28 de julho de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXXVII (11-2003)


No domingo, dia 02 de novembro de 2003, o presidente da Autoridade Palestina Yasser Arafat (Abu Ammar) apresentou a plataforma de governo do novo Primeiro Ministro Ahmed Qurei (Abu Ala), que estava para ser substituído no Conselho Legislativo da Palestina.
E aproveitou para declarar-se pronto para retormar o diálogo com o governo de Ariel Sharon.
Na semana anterior o Primeiro Ministro de Israel dissera mais ou menos o mesmo.
Palavras vazias, pois no dia 05 a IDF voltou a investir Tulkarm e Nablus, ao norte da Cisjordânia. Atiraram na meninada que se defendia jogando pedras nos soldados. Mais de 14 meninos sofreram ferimentos graves, mas mesmo assim a IDF "jurava" que só utilizara as balas de borracha como efeito dissuasivo.
No fim da investida três palestinos jaziam sem vida.
Três dias depois a família de Mohammed el-Qayed, de 10 anos, o enterraria junto com mais seis compatriotas adultos e crianças. Todos mortos na segunda semana de Ramadão (nono mês do calendário islâmico durante o qual os muçulmanos praticam seu jejum ritual).
No dia 07, a ONG francesa Médecins du Monde denunciou em relatório público que Israel entravava o socorro aos palestinos feridos. "As barragens impedem os doentes, baleados, parturientes, crianças, idosos, recém-nascidos, ambulâncias de acederem aos hospitais e centros de tratamento."
Enfim, a denúncia repetia o que era de conhecimento público. Ou melhor, dos jornalistas que cobriam o conflito e os observadores estrangeiros que observavam, observavam, e deixavam por isso.

Ariel Sharon, de costas quentes, deu de ombros.
A ONU não disse nada sobre estes assuntos específicos, mas condenou a demolição de residências e "ordenou" que esta prática, contrária à Convenção de Genebra, "parasse imediatamente".
Deu a ordem, porém, não tomou nenhuma medida preventiva nem punitiva  contra a infração que Israel cometia. Portanto, Ariel Sharon voltou a dar de ombros e continuou sua investida de usurpação de terra dos palestinos.
Como seus ataques eram em várias frentes, no dia 10 transgrediu de outrou jeito a Convenção de Genebra. Deportou o resistente palestino Kamal Idris de Hebron para Gaza, onde os caterpillars trabalharam bastante nesse dia violando a lei de não demolição de moradia. Demoliram mais de vinte. Passando em cima das casas de família como os lavradores passam em suas lavouras o arado.
Nessa onda, soldados da IDF mataram um senhor de 62 anos, um menino de 12, feriram gravemente um adolescente e prenderam mais um monte de gente. Dentre elas, importantes autoridades religiosas.

No dia seguinte a ONU retomou a palavra. Desta vez não foi para recriminar nada e sim para divulgar um relatório de seu Departamento Humanitário.
Este precisava que a cerca/muro que Israel estava construindo na Cisjordânia estava tirando 14,5% a mais do território palestino e afetando cerca de 680 mil habitantes. "Este muro vai isolar progressivamente 274 mil palestinos que vivem em 122 cidades e cidadezinhas.
Outros 400 mil palestinos que moram a leste da cerca de cimento armado terão de atravessá-la diariamente para ir à escola, ao trabalho e para aceder a suas roças.
Apenas 11% do traçado total de 680 km do muro respeitará a fronteira de 1967. Em alguns trechos ele invadirá até 22 km do território palestino."
O relatório foi lido, lavrado em ata, e foi para o arquivo.
Nada foi feito concretamente para bloquear o roubo de terra e as barragens que impediam/dem os palestinos de irem à escola e ao trabalho.

No dia seguinte, dia 11, foi a vez do suiço Jean Ziegler, investigador da ONU do Direito de alimentação, divulgar em Nova York suas descobertas.
Ziegler demonstrou com dados e fatos que Israel exercia uma estratégia política semelhante à do apartheid aplicado na África do Sul -  então internacionalmente condenado e combatido com boicotes de toda ordem.
"61 por cento dos palestinos são mantidos em sub-alimentação crônica e 85 por cento são totalmente dependentes de ajuda alimentar externa," mostrou Ziegler. "A situação nos territórios ocupados é semelhante à de alguns países da África como o Tchad. A necessidade de segurança que Israel exprime é compreensível. Mas a segurança não deve ser invocada para toda medida que o país toma. Israel tem de garantir o direito à alimentação nos territórios que ocupa."
Aí o governo de Ariel Sharon bombardeou Jean Ziegler de insultos mais ou menos fortes.
Quanto à ONU, deixou por isso.

No mesmo dia que Ziegler apresentava seu relatório em Nova York, em Ramallah, os deputados palestinos aprovaram por 48 votos a favor, 13 contra e 5 abstenções os novos ministros e secretários do governo de Ahmed Qurei (Abu Ala).
Aisha, viúva de Ismail Abu Shanab, que o Shin Bet  assassinara poucas semanas atrás, fazia parte do Ministério.
Abu Ala aproveitou a visibilidade midiática para dirigir-se publicamente a Ariel Sharon. "Estendo-lhe a mão com sinceridade a fim de chegarmos a um cessar-fogo e poupar civis de ambos os lados. E respeitar os palestinos e seu presidente."
Dirigiu-se também a seus compatriotas resistentes, "acabem com os atos de violência e com o caos que reina em nossos territórios."
A resposta de Sylvan Shalom, ministro das Relações Exteriores de Israel, foi que só reconheceria o governo de Ahmed Qurei como "parceiro real se ele agir contra os grupos armados." Não garantiu nenhuma folga na campanha israelense de assassinatos e nem uma possível trégua da IDF.
A única ação concreta foi um tapa na cara das Nações Unidas com o anúncio da construção de uma nova extensão do muro além da Linha Verde.
Uma manifestação na Cisjordânia seguiu o anúncio e a IDF a reprimiu com cassetada e bala.
As centenas de pessoas que manifestavam era uma miscelânia de pacifistas palestinos, israelenses e estrangeiros.

No dia em que celebramos a Proclamação da República, o jornal israelense Yedot Ahronot publicou uma entrevista explosiva com quatro ex-diretores do Shin Bet (Serviço de Inteligência interna de Israel).
Nela, Avraham Shalom (1981-86), Yaakov Peri (1988-94), Carmi Gilon (1995-96), Ami Ayalon (1996-2000) criticaram acerbamente a política de Ariel Sharon nos Territórios palestinos ocupados.
"A ocupação destrói o moral da nação e mina a economia do país. O prosseguimento da ocupação fecha todas as perspectivas de futuro para a populaço jovem," disseram em uníssono.
Para eles, "os colonos têm de preparar-se para o inevitável, o fim da ocupação e o desmantelamento das implantações".
Preconizaram então "começar o desmantelamento das colônias na Faixa de Gaza, onde residem 7.000 colonos em um território super-populado por 1.2 milhões de palestinos. Se Israel não chegar a um acordo com os palestinos, a retirada tem de ser unilateral."
No mesmo dia em que os israelenses mais bem informados sobre a situação real botavam a boca no trombone, a Corte Suprema de Tel Aviv, por unanimidade, condenou a censura da Comissão Israelense de Cinema do filme JENIN JENIN, de Mohamad Bacri, que narrava o bombardeio da cidade palestina em 2002.
O mesmo filme fora desprogramado na França no dia 1° de abril. Sucumbindo às pressões do lobby judeu, a TV franco-alemã ARTE o tirara do programa na última hora.
Foi passado no Brasil?

No domingo, dia 16, um grupo de parlamentares, o ex-ministro Yossi Beilin e dois deputados do Partido Trabalhista, Amram Mitzna e Avraham Burg, entregaram a Ariel Sharon uma cópia da Iniciativa de Genebra, plano de paz não oficial pronto para ser assinado no dia 1° de dezembro em Calvin, na Suiça.
Foram impressas e distribuídas pelo correio 1.9 milhões de cópias em hebraico, 200 mil em árabe e 100 mil em russo (para os "colonos importados", analfabetos em hebraico).
Na segunda, o Quarteto para o Oriente Médio pressionou Israel para desmantelar as colônias que obstaculavam a implementação do Road Map, e Abu Ala pediu para os grupos palestinos de resistência calarem as armas e darem um tempo para o poeira baixar.
Porém, dois de seus compatriotas haviam sido mortos na véspera em Rafah, na Faixa de Gaza, e os choros nos enterros abafaram suas palavras.

Na quarta-feira, dia 18 de novembro, o Ministro da Energia de Israel Joseph Paritzky concluiu um acordo com o Ministério de Energia palestino em relação ao aprovisionamento de eletricidade.
Desde 1967 que Israel tomou posse dos centros de abastecimento da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Tanto de água quanto de eletricidade.
Desde então, além de controlar ambas como bem lhe apraz, cortando e/ou regrando à vontade, cobra/va um preço exorbitante às empresas, às famílias e aos órgãos administrativos palestinos.
Já os "colonos" judeus instalados nas invasões sempre beneficiaram de tarifas "preferenciais" bem abaixo da que os palestinos pagam. E para eles, nem a água nem a eletricidade são regradas.
Uma das reclamações dos palestinos é/era que a IDF bombardeava sistematicamente as redes de eletricidade e os centros de abastecimento em energia e água. Onerando ainda mais a Autoridade Palestina e deteriorando ainda mais a qualidade de vida dos palestinos.

No dia 18, a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina baseada na Síria) matou dois soldados da IDF em uma embuscada perto de Belém.
A IDF descontou no mesmo dia nos civis em Rafah.
Bombardearam o sul da Faixa de Gaza "para destruir túneis de contrabando", dinamitaram oito residências, e deixaram para trás seis feridos graves.
No dia 20 o Ministro das Relações Exteriores de Israel rejeitou publicamente o apelo do Quarteto para que maneirasse.
Foi pena, pois o Hamas e o Jihad Islâmico da Faixa de Gaza concordaram em participar de negociações de paz marcadas para o mês de dezembro no Cairo.
No mesmo dia, em visita a Roma, Ariel Sharon mostrou que estava se lixando até para o Vaticano. Fez uma desfeita ao Papa fazendo ouvidos moucos à vontade que João Paulo II manifestou de encontrá-lo, embora tivesse espaço de sobra em sua agenda.
Isto porque João Paulo II, no sermão da missa do Angelus no domingo, declarara que "A construção de um muro de separação entre o povo israelense e o povo palestino é visto por muitos como novo obstáculo ao caminho de uma convivência pacífica. Na verdade, a Terra Santa não precisa de muros e sim de pontes."
Mas contruir pontes não era o forte do Primeiro Ministro de Israel. Ariel Sharon não dialogava com quem discordava de seus meios e de seus atos.
Enquanto isso a ONU continuava sua maratona de resoluções infrutíferas. O Conselho de Segurança aprovou por unanimidade a proposta da França, Chile e Rússia de apoiar o Road Map, cujo objetivo era "resolver o conflito de uma vez por todas até 2005" por etapas bem determinadas.
Desta vez foi Ehud Olmert, então vice-Primeiro Ministro que fez pouco caso das Nações Unidas declarando: "Pode ser que retomemos as negociações com este novo governo palestino sobre o Road Map, mas não por causa da resolução do Conselho de Segurança, pois Israel não se sente comprometido com esta resolução."
Irrelevava esta e todas as decisões tomadas pelas Nações Unidas desde a auto-proclamação de seu Estado nas fronteiras que traçara, em vez das fronteiras legais traçadas pela ONU.
Nesse dia 21 de novembro, saiu a proibição antecipada para o dia do fim do Ramadão, que os muçulmanos concluem com uma oração na mesquita. Somente os homens de mais de 45 anos e as mulheres de mais de 35 foram autorizados a cumprir este ritual no dia 25.

No dia 22, milhares de manifestantes saíram às ruas do campo de refugiados de Jabalyia, na Faixa de Gaza, para protestar contra a renúncia palestina ao direito de retorno dos refugiados, um dos capítulos da Iniciativa de Genebra.
Três dias depois o Hamas rejeitaria oficialmente a Iniciativa de Genebra pelas mesmas razões.
No dia 27 três civis palestinos, inclusive uma mãe de família, foram assassinados na Faixa de Gaza perto de uma invasão judia.
Por coincidência, chegou de Washington uma das poucas notícias que podiam abalar Ariel Sharon.
Os Estados Unidos ameaçavam diminuir 10% do patrocínio do combate à Intifada - correspondentes a US$ 290 milhões - caso Ariel Sharon não concordasse com suas exigências de frear a colonização e o muro nos territórios palestinos ocupados.
Vale lembrar que em 2003, George W. Bush dera US$1 bilhão a mais aos israelenses para o combate à Intifada.
(Os EUA ajudam Israel anualmente com US$3 bilhões. Dentre os quais, US$2.1 bilhões em armamento. Contando as doações privadas, Israel recebe dos EUA uma média de US$10 bilhões anuais.)

No dia 28 a IDF admitiu o "erro" da morte dos três civis citados acima, mas justificou o engano com o argumento da necessidade de proteger os colonos.
Quanto a Ariel Sharon, na entrevista coletiva anual dedicada à imprensa israelense, repetiu que não pararia a construção do muro de separação de jeito nenhum.
"Nós estamos acelerando a construção e não pararemos porque é vital para a segurança do Estado."
Ele falou grosso em Tel Aviv. Em Nova York seu embaixador na ONU, após receber críticas abundantes, retirou um projeto de resolução apresentado no dia 29 de outubro à Comissão Social, Cultural e Humanitária em que pedia a "proteção das crianças israelenses vítimas da violência dos palestinos."
Tal projeto fora apresentado em oposição a uma resolução - aprovada na semana precedente - que criticava as consequências nefastas das operações militares israelenses para as crianças palestinas.
O observador palestino na ONU dissera então que a resolução que os israelenses tentavam esvaziar fora aprovada não apenas por causa das 500 crianças palestinas mortas e as milhares feridas durante a Intifada, "e sim porque são todas as crianças palestinas que são privadas de todos os direitos enumerados na Convenção da Infância."
Aliás, nesse ínterim, em mais um "erro" da IDF, seis palestinos estavam sendo enterrados. Inclusive um adolescente de 15 anos e um menino de nove.

Os conflitos do mês de novembro terminaram no dia 29 com a declaração de Ariel Sharon que desmantelaria as invasões-assentamentos judeus na Faixa de Gaza por impossibilidade de garantir a segurança dos colonos.
Anunciou também que abriria outras na Cisjordânia.
Esta parte do final do discurso foi divulgada como aquelas letrinhas de contrato de vendedor ou empresário mala.
A primeira parte do desmantelamento saiu em letras garrafais na imprensa como se fosse um presente de Sharon, e não parte da estratégia para um posterior bombardeamento.
A segunda parte da expansão na Cisjordânia perdeu-se em algum lugar entre a declaração, os repórteres e as matérias publicadas nos jornais. No mundo inteiro, conta-se nos dedos de uma mão quem "pensou" em divulgá-la.


Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 
Only now, when I talk to guys who were my soldiers as a deputy company commander, do I realize what really went on then. That people were taking stuff and we didn't know about it at all. It depends on the severity of cases. Whatever was known was severely punished. Really. What do I mean by punished? We did everything that should be done. The battalion commander referred them to Military Police Investigations, and they investigated and inquired.
Were their punishments severe or light?
I can't judge that. Let whoever judged decide. I think that punishments given soldier who did that were not severe enough.... A person took money out of a Palestinian's ID. The Palestinian had some money he'd earned. He has no wallet, sticks everything inside his ID. So the dumb soldiers…
The soldier took the ID?
For inspection, and inside there was money, so he took the money. You get it? He's not stupid, that Palestinian. He complained, he discovered it was missing and it was looked into. So this whole subject came up. We need to take their money? I don't even know how much was in there. I think it was 150-200 shekels. The soldiers got a 30-day jail sentence. Something like that. I don't even know if actually in jail or just a suspended sentence.
What else was looted?
Stuff from people's homes, photo-maps of Palestine, knives.
Guys took them as souvenirs? For their own use? Both?
Souvenirs. No one would do anything about those. People took blankets. What would you do with a woolen blanket from a Palestinian home, which sorry to say is all stinking and disgusting on top of everything else, but what do you need it for? They took those.
Money? Electrical appliances?
I don't think they had so many expensive complex gadgets, but I think there were all sorts of souvenirs taken.
Were there company lootings? Gear for the company, or stuff that the whole company would pick up?
Not in my own company. Perhaps in others. I don't know this personally so I can't tell you, but I think there were. People took all sorts of things - everyone knew about it – for their companies. Depoimento de um tenente da IDF
Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 


Documentário do Break the Silence Mural Project - 2005
Confronting the Wall - Part I




domingo, 21 de julho de 2013

Mabruk, União Europeia!


A notícia boa da semana chegou no dia 16 de julho. Dia em que a União Europeia deu o golpe fatal (ainda falta ser implementado) no maior infrator mundial das leis internacionais.
Nesse dia, a UE aprovou uma Diretiva que vale como um boicote puro e simples de tudo o que tem a ver com a ocupação israelense da Palestina.
A diretiva da UE foi anunciada e de repente, em Tel Aviv e na Jerusalém ocupada, onde o Knesset foi arbitrariamente instalado, parecia que um terremoto abalara a prepotência israelense de cabo a rabo.
Binyamin Netanyahu soltava fogo pelas ventas, Avigdor Lieberman suava, bufava, possesso de raiva, enfim, todos os sionistas que se julgavam intocáveis por causa da proteção dos EUA tremeram nas bases. De espanto, raiva e preocupação - esta, escondida atrás das palavras de desafio que estão acostumados a pronunciar quando são condenados.
Pois a Diretiva aprovada pela UE não podia ser mais clara. Condena o Estado de Israel a conformar-se com as fronteiras de 1967 e parar de expandir-se apesar das proibições dos tribunais internacionais.
Concretamente, a Diretiva proibe todos seus países membros de efetuar com instituições públicas e privadas israelenses qualquer acordo de cooperação ou negócio financeiro, acadêmico, científico, esportivo, artístico, etc.... A não ser que o governo, ou o empresário, concorde em assinar um contrato com a cláusula que exclua qualquer envolvimento nas/das colônias judias nos territórios ocupados.
Ou seja, para ter qualquer relação comercial, cultural, intelectual ou esportiva com a União Europeia, o israelense que assinar o contrato, além de excluir os territórios ocupados, admite implicitamente que o Estado de Israel para nas fronteiras de 1967.
O texto é claro. Os europeus só poderão interagir com Israel propriamente dito até a Linha Verde. As colinas do Golan, a Cisjordânia e Jerusalém estão fora do limite. São territórios estrangeiros ocupados ilegalmente.
Esta decisão já era praticada no terreno e não inclui "trade", ou seja, importação/exportação. Porém, já é positiva.
A partir de janeiro de 2014 Israel vai ficar mais ilhado ainda, de fato.
Em Ramallah se regozijava. Em Tel Aviv, no meio pacifista israelense, idem.
A palavra boicote não foi utilizada nem murmurada, mas estava claríssimo que a União Europeia dissera BASTA!
As exigências principais e que atingem o governo de Netahyahu como uma bofetada do Hulk não param só nessas exigências de base.
Os israelenses serão submetidos a visto no passaporte para visitar os países da UE. Visto que só será concedido aos israelenses que provarem residência no exterior ou dentro dos limites das fronteiras de 1967. O invasor que vive nas colônias/assentamentos na Cirjordânia e nos Golan terão de passear em outra parte.
Inclusive a eminência parda do governo, Avigdor Lieberman, ministro plenipotenciário sem pasta por estar com problemas na justiça (mas que age como se ainda fosse e estivesse Ministro das Relações Exteriores) está proibido de entrada. Já que mora em uma colônia na Cisjordânia. Conforme a medida da UE, a Europa, a partir do dia 1° de janeiro de 2014, lhe será vedada.
Esta política de visto é construtiva. Terá consequências práticas e psicológicas difíceis de serem negligenciadas. Oficialmente, os colonos viram párias. O que pode dissuadir "importados" a se instalarem nas novas implantações que Netanyahu acabou de anunciar.
O apoio incondicional dos Estados Unidos tem sido o esteio de Israel e o motor para que desrespeite as leis internacionais sem ser prejudicado.
Porém, a população israelense é mais ligada geográfica-econômica-emocionalemente à Europa do que aos Estados Unidos. A maioria dos imigrantes vem de lá. E a UE entendeu isso. Entendeu que é ela e não os EUA que tem o poder real para terminar com o drama que os palestinos vivem desde 1948 e "patrocinar" a justiça e paz entre Israel e Palestina.
O passo é modesto, mas firme.
Tomara que os BRICs sigam no mesmo caminho.

Mabruk (parabéns em árabe) à União Europeia! pela coragem de fazer a coisa certa.
Como já disse neste blog, o boicote é um direito de todo cidadão do mundo e o único instrumento democrático não-violento de resistência quotidiana acessível a todo mundo.
Passeata é bom, chama atenção, influencia, mas não atinge os infratores a médio e longo prazo. É útil, barulhento, mas insuficiente.
No boicote, todo indivíduo tem o direito de decidir sozinho/a, anonimamente, boicotar ou ser cúmplice.
Todo indivíduo pode decidir inclusive o que e quem boicotar, no caso de Israel, na lista recomendada.
Os israelenses liberais, pacifistas, conscientes, também boicotam. Minuciosamente. Há tempos. Desde o início do BDS. Alguns até antes de 2005. Desde 1998.
Só que, como o boicote é privado, alguns excluiam de seus atos Jerusalém Oriental (ocupada), outros os Golã, enfim, cada um define seu limite de consumo. Um artista famoso disse inclusive que seria incapaz de viver sem o vinho que os colonos fabricavam nos Golã... Mas não consumia nada que viesse do Vale do Jordão. Ou seja, da Cisjordânia palestina.
Há pessoas e empresas que se instalam nas colônias/invasões/assentamentos judeus nos territórios ocupados por razões ideológicas. Estes são racistas inveterados, sionistas extremistas que querem ver o "Grande Israel" do Mediterrâneo à Jordânia, e os palestinos todos exterminados.
Mas há empresas que se instalam nas colônias/invasões/assentamentos judeus por razões "puramente" venais. Porque são presenteados com terras roubadas, desfrutam de inúmeros incentivos e de isenção fiscal.
Os lucros são atraentes. A ética inexistente.
Pois bem, o boicote, a escolha cidadã cuidadosa dos produtos no mercado, faz toda diferença. O boicote pode zerar e até tornar os incentivos do governo israelense irrisórios, comparados com a perda de vendas. E assim, contrabalançar a venalidade.
Todo cidadão israelense, brasileiro, de qualquer país do mundo pode aderir ao boicote e fazer sua parte. Não ser cúmplice da ocupação mais longa dos últimos séculos de história da humanidade.
Todo cidadão que discordar desde comportamento bárbaro, pode optar por não ser responsável indireto de uma limpeza étnica que vem sendo efetuada desde 1948 na maior impunidade.
A União Europeia, paradoxalmente, tem sido um dos maiores financiadores indiretos da côlonias. E até ela disse CHEGA! a tudo o que segue abaixo.
Embora não seja de domínio público, por incrível que pareça, devido a um Acordo incrompreensível, os produtos israelenses são isentos de impostos de importação na União Europeia. Circulam pelas fronteiras como se Israel fosse um país europeu.
Por incrível que pareça, Israel conseguiu ser incluído na Liga Europeia de Futebol, no Concurso musical Eurovision e em outros eventos e organizações europeias.
Por incrível que pareça, universidades israelenses recebem patrocínios europeus enormes para pesquisa e participam ativamente de custosos projetos europeus científicos.
É claro que todos os acordos acima eram restritos ao Estado de Israel e não eram extensivos às colônias. Contudo, Bruxelas, o centro nevrálgico da União Europeia, até a semana passada, fechava os olhos aos desvios.
É por isso que apesar do padrinho gringo, o golpe em Israel foi duríssimo.
Vale dizer que os sucessivos governos israelenses viviam ridicularizando a União Europeia. Seu desprezo pelos enviados europeus era às vezes até ofensivo. Um pouco como agem com todos os estrangeiros que discordam de seus procedimentos. Não apenas os não-judeus. Noam Chomsky sofre o mesmo tratamento.
Pois é, até o dia 15 de julho de 2013 - data histórica - os países os maiores parceiros comerciais de Israel eram tratados com desprezo.
Hoje não os subestimam tanto e todos os políticos israelenses, de todas as tendências polítcias - de esquerda, direita e fascista - estão unidos na raiva contra os europeus. Mas não os subestimam como antes.
Como se não soubessem que seu país há anos vem infringindo as leis internacionais impunemente. Uma hora a mamata tinha de acabar.
Ora, a Diretiva da UE segue simplesmente as leis internacionais. Começando pela Convenção de Genebra.
Apesar disso, nenhum político israelense, nem os que discordam de Netanyahu e condenam a invasão civil e militar da Cisjordânia, ousaram elogiar a decisão da União Europeia.
Naftali Bennet - o Ministro da Economia que é também chefe dos representantes dos colonos - rejeitou a decisão como se esta dependesse do seu querer e não do dos europeus. "It was a miserable decision", foi uma das frases mais delicadas que saíram de sua boca.
Vale dizer que Bennet disse há poucos dias que não havia nenhuma pressão internacional sobre Israel... Foi pego de surpresa. Aliás, o mundo inteiro. Até Washington, que não acreditava na determinação dos europeus de pôr um fim nesta situação que julgam injusta e insustentável.
Aliás, o mesmo Bennet, propôs a Netanyahu, em punição à UE, que Israel interdite todos os projetos humanitários europeus na Cisjordânia...
Parece piada mas não é.
Netanyahu foi ao ar soltando fogo pelas ventas e declarou impenitente: "As prime minister of Israel, I will not allow the hundreds of thousands of Israelis who live in the West Bank, Golan Heights and our united capital Jerusalem to be harmed. We will not accept any external diktats about our borders. This matter will only be settled in direct negotiations between the parties."
Como se tivesse poder para isso.  
Mas a piada maior foi terem dito (um dos cupinchas de Netanyahu) que a UE estava minando os esforços diplomáticos de John Kerry para iniciar negociações de paz entre Israel e a Palestina.
Má-fé despudorada, aos ouvidos de quem sabe que há meses os israelenses estão puxando o tapete do Secretary of State dos Estados Unidos para ele não atinja seu objetivo.
Mas quem cobre Israel está acostumado com enganos, mentiras, enrolações, vitimização vergonhosa e contra-informações ilícitas.
Sabendo que o gelo das colônias é condição sine qua non para a retomada das negociações, nem a líder oficial da oposição, Shelly Yachimovich, do Partido Trabalhista, emitia a mínima crítica aos colonos. Muito pelo contrário, não faz muito tempo que dedicou-lhes publicamente sua simpatia.
Quanto à opinião pública israelense, como sempre, dedicou-se à procura de um culpado. Em vão. Não encontrou ninguém porque a população toda é cúmplice passiva ou ativa do crime pelo qual o país acabou de ser condenado.
Aliás, Israel não tem nem Ministro das Relações Exteriores nomeado. Apenas um Vice (!). Já que o cargo vago é de Avigdor Lieberman - atualmente respondendo processo por corrupção. Netanyahu está convencido que nenhum juiz isralense ousará condenar o terrível Lieberman, após o próprio Ministro da Justiça ter tirado o corpo fora.
Enquanto uns esperneiam, outros israelenses de bom senso veem bem que a decisão europeia é pró e não contra Israel. Já que não boicota Israel como um todo e sim o Israel ilegal.
De fato, a Europa foi bastante cometida. Contra a África do Sul do apartheid foi mais categórica.


Há anos pratico o boicote dos produtos israelenses, cujo código-barra, acima, divulgo sempre neste blog.
Muitos acham que o boicote total de Israel é contra-producente. Estes argumentam que ao deixar de restringir o boicote às colônias, a população "legal" eventualmente se faria de vítima e se solidarizaria com os "ilegais".
Eu acredito no boicote total. Como contra a África do Sul do apartheid. Foi assim que o governo ficou estrangulado e foi obrigado a ceder, fazer a coisa certa e acabar emancipando a população autótona de última classe.
O termo boycott apareceu em 1888 em uma situação similar a esta. Era sobre dominação externa, terra, assentamentos.
Só para lembrar, na Irlanda sob ocupação britânica, Charles Boycott, agente de um lorde britânico, expulsou os meeiros irlandeses que não conseguiam pagar as altíssimas rendas cobradas para o cultivo das terras de seus ancestrais. Aí um líder nacionalista teve a brilhante ideia de em vez de atacar o tal Sr. Boycott fisicamente como seus companheiros queriam, arruiná-lo pacificamente. Parando de trabalhar para o sujeito, negociar com ele e falar com ele.
Desde então a palavra boicote virou símbolo do ostracismo ao qual se relega pessoa, entidade ou nação de maneira ativa, individual, pacífica.
O que a União Europeia estatuou publicamente foi que resolveu aplicar a estratégia dos irlandeses contra o opressor todo poderoso como em 1888. Por enquanto, apenas contra a ilegalidade.
Mesmo que os Estados Unidos apoie mais uma vez Israel em uma ofensiva maciça (já em marcha) para que a União Europeia adie a implementação de sua Diretiva, o golpe já atingiu Israel em cheio. O país bambeou inteiro.
Washington, "espantou-se" e engoliu o sapo, em seco.
Os Estados Unidos não são mais os donos do mundo e cedo ou tarde vão ter de conformar-se com a queda de seu status político.
Quanto a Israel, a mensagem que lhe foi enviada foi clara: Os assentamentos/invasões/colônias são ilegais, amorais. Infligem uma injustiça incomensurável no povo palestino.
Além disso, obstaculam a paz e prejudicam o próprio futuro de Israel e dos israelenses.


Nota John Kerry
Graças à diretiva da UE, após semanas de esforços vãos, finalmente John Kerry demonstrou otimismo.
Em conversas individuais com o primeiro ministro israelense Binyamin Netanyahu e o presidente palestino Mahmoud Abbas na semana passada, o secretary of state estadunidense John Kerry conseguiu - segundo ele - fincar bases sólidas para a retomada de negociações entre as partes.
"We have reached an agreement that establishes a basis for resuming direct final status negotiations between the Palestinians and the Israelis. The agreement is still in the process of being formalised."
A impressão que se tem com Kerry é que ele, ao contrário de sua antecessora, tem boa vontade para resolver o conflito de maneira equitável. Ele tem advogado a solução dos dois Estados sem os palestinos serem "muito" prejudicados.
O último encontro, imprevisto, com Mahmoud Abbas em Ramallah no dia 19 mostrou que Kerry e os EUA querem por tudo colher os louros da pressão gerada pela União Europeia e sequestrar a resolução do conflito. Voltou a Ramallah na sexta-feira pra resolver "umas coisinhas".
Graças também à União Europeia e a John Kerry que soube aproveitar da deixa, Israel concordou - oralmente - em libertar alguns das centenas de prisioneiros políticos palestinos. Dentre eles, uns que há trinta anos estão presos.
Mas embora Jhon Kerry tenha sido louvado nas manchetes da grande mídia, que fique claro que se a União Europeia não tivesse soltado a "bomba" diplomática que soltou no governo israelense, Netanyahu jamais teria concordado em retomar nenhuma negociação de paz. Ele quer a Cirjodânia inteira para os judeus importados.
Portanto, que fique claro. Apesar da real boa vontade de Kerry, se alguma negociação realmente começar com sucesso, será graças à Iniciativa de Genebra e à União Europeia.


Eis abaixo o texto completo da Diretiva como foi publicada:
Commission Notice:
GUIDELINES on the eligibility of Israeli entities and their activities in the territories occupied by Israel since June 1967 for grants, prizes and financial instruments funded by the EU from 2014 onwards.
Section A. GENERAL ISSUES
1. These guidelines set out the conditions under which the Commission will implement key requirements for the award of EU support to Israeli entities or to their activities in the territories occupied by Israel since June 1967. Their aim is to ensure the respect of EU positions and commitments in conformity with international law on the non-recognition by the EU of Israel’s sovereignty over the territories occupied by Israel since June 1967. These guidelines are without prejudice to other requirements established by EU legislation.
2. The territories occupied by Israel since June 1967 comprise the Golan Heights, the Gaza Strip and the West Bank, including East Jerusalem.
3. The EU does not recognise Israel’s sovereignty over any of the territories referred to in point 2 and does not consider them to be part of Israel’s territory, irrespective of their legal status under domestic Israeli law. The EU has made it clear that it will not recognise any changes to pre-1967 borders, other than those agreed by the parties to the Middle East Peace Process (MEPP). The EU’s Foreign Affairs Council has underlined the importance of limiting the application of agreements with Israel to the territory of Israel as recognised by the EU.
4. These guidelines do not cover EU support in the form of grants, prizes or financial instruments awarded to Palestinian entities or to their activities in the territories referred to in point 2, nor any eligibility conditions set up for this purpose. In particular, they do not
cover any agreements between the EU, on the one hand, and the Palestinian Liberation Organisation or the Palestinian Authority, on the other hand.
Section B. SCOPE OF APPLICATION
5. These guidelines apply to EU support in the form of grants, prizes or financial instruments within the meaning of Titles VI, VII and VIII of the Financial Regulation which may be awarded to Israeli entities or to their activities in the territories occupied by Israel since June
1967. Their application is without prejudice to specific eligibility conditions which may be laid down in the relevant basic act.
6. These guidelines apply:
(a) for grants – to all applicants and beneficiaries, irrespective of their role (sole beneficiary, coordinator or co-beneficiary). This includes entities participating in the action on a no-cost basis and affiliated entities within the meaning of Article 122(2) of the Financial Regulation. This does not include contractors or sub-contractors selected by grant
beneficiaries in conformity with procurement rules. As regards third parties referred to in Article 137 of the Financial Regulation, in the cases where the costs of financial support to such third parties are eligible under a call for proposals the authorising officer responsible
may, where appropriate, specify in the call for proposals and in the grant agreements or decisions that the eligibility criteria set out in these guidelines also apply to the persons that may receive financial support by the beneficiaries.
(b) for prizes – to all participants and winners in contests;
(c) for financial instruments – to dedicated investment vehicles, financial intermediaries and sub-intermediaries and to final recipients.
7. These guidelines apply to grants, prizes and financial instruments managed, as the case may be, by the Commission, by executive agencies (direct management) or by bodies entrusted with budget implementation tasks in accordance with Article 58(1)(c) of the Financial Regulation (indirect management).
8. These guidelines apply to grants, prizes and financial instruments funded from appropriations of the 2014 financial year and subsequent years and authorised by financing decisions adopted after the adoption of the guidelines.
Section C. CONDITIONS OF ELIGIBILITY OF ISRAELI ENTITIES
9. As regards the place of establishment of Israeli entities:
(a) In the case of grants and prizes, only Israeli entities having their place of establishment within Israel’s pre-1967 borders will be considered eligible.
(b) In the case of financial instruments, only Israeli entities having their place of establishment within Israel’s pre-1967 borders will be considered eligible as final recipients.
10. The place of establishment is understood to be the legal address where the entity is registered, as confirmed by a precise postal address corresponding to a concrete physical location. The use of a post office box is not allowed.
11. The requirements set out in section C:
(a) apply to the following types of legal persons: Israeli regional or local authorities and other public bodies, public or private companies or corporations and other private legal persons, including non-governmental not-for-profit organisations;
(b) do not apply to Israeli public authorities at national level (ministries and government agencies or authorities);
(c) do not apply to natural persons.
Section D. CONDITIONS OF ELIGIBILITY OF ACTIVITIES IN THE
TERRITORIES OCCUPIED BY ISRAEL
12. As regards the activities/operations of Israeli entities:
(a) In the case of grants and prizes, the activities of Israeli entities carried out in the framework of EU-funded grants and prizes will be considered eligible if they do not take place in the territories referred to in point 2, either partially or entirely.
(b) In the case of financial instruments, Israeli entities will be considered eligible as final recipients if they do not operate in the territories referred to in point 2, either in the framework of EU-funded financial instruments or otherwise.
13. Any activity or part thereof included in an application for an EU grant or prize which does not meet the requirements set out in point 12(a) will be considered as ineligible and will not be considered as part of the application for the purpose of its further evaluation.
14. The requirements set out in section D:
(a) apply to activities under point 12 carried out by the following types of legal persons: Israeli regional or local authorities and other public bodies, public or private companies or corporations and other private legal persons, including non-governmental not-for-profit
organisations;
(b) apply also to activities under point 12 carried out by Israeli public authorities at national level (ministries and government agencies or authorities);
(c) do not apply to activities under point 12 carried out by natural persons.
15. Notwithstanding points 12-14 above, the requirements set out in section D do not apply to activities which, although carried out in the territories referred to in point 2, aim at benefiting protected persons under the terms of international humanitarian law who live in these territories and/or at promoting the Middle East peace process in line with EU policy.
Section E. IMPLEMENTATION ARRANGEMENTS
16. Each Israeli entity referred to in points 11(a)&(b) and 14(a)&(b), which applies for an EU grant, prize or financial instrument, shall submit a declaration on honour as follows:
(a) In the case of grants and prizes, the declaration will state that the application of the Israeli entity is in accordance with the requirements under points 9(a) and 12(a) of these guidelines, while also taking into account the applicability of point 15 thereof. For grants,
this declaration will be drafted in accordance with Article 131(3) of the Financial Regulation.
(b) In the case of financial instruments, the declaration will state that the application of the Israeli entity as a final recipient is in accordance with the requirements under points 9(b) and 12(b) of these guidelines.
17. The declarations under point 16 are without prejudice to any other supporting documents required in the calls for proposals, rules of contests or calls for the selection of financial intermediaries or dedicated investment vehicles. They will be included in the package of
application documents for each concerned call for proposals, rules of contests and call for the selection of financial intermediaries or dedicated investment vehicles. Their text will be adapted to the requirements relevant for each EU grant, prize or financial instrument.
18. The submission of a declaration under point 16 that contains incorrect information may be considered as a case of misrepresentation or a serious irregularity and may lead:
(a) for grants – to the measures set out in Article 131(5) and 135 of the Financial Regulation,
(b) for prizes – to the measures set out in Article 212(1)(viii) of the Rules of Application of the Financial Regulation10 and,
(c) for financial instruments – to the measures set out in Article 221(3) of the Rules of Application of the Financial Regulation.
19. The Commission will implement these guidelines in their entirety, and in a clear and accessible manner. It will notably announce the eligibility conditions set out in Sections C and D in the work programmes11 and/or financing decisions, calls for proposals, rules of
contests and calls for the selection of financial intermediaries or dedicated investment vehicles.
20. The Commission will ensure that the work programmes and calls for proposals, rules of contests and calls for the selection of financial intermediaries or dedicated investment vehicles published by the bodies entrusted with budget implementation tasks under indirect
management contain the eligibility conditions set out in Sections C and D.
21. In order to clearly articulate EU commitments under international law, taking into account relevant EU policies and positions, the Commission will also endeavour to have the content of these guidelines reflected in international agreements or protocols thereto or Memoranda of Understanding with Israeli counterparts or with other parties.
22. The award of EU support to Israeli entities or to their activities in the form of grants, prizes or financial instruments requires engagement with Israeli entities referred to in points 11 and 14, for example, by organising meetings, visits or events. Such engagement will not take place in the territories referred to in point 2, unless it is related to the activities referred to in point 15.

domingo, 14 de julho de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXXVI (10-2003)


No dia 24 de setembro, 25 pilotos da IDF haviam declarado publicamente que se recusavam a executar missões nos territórios palestinos que ameaçassem a vida dos civis.
Esta notícia dera pano pra manga e chamou atenção da população israelense para a recusa de muitos jovens a executar ordens de violência gratuita nos territórios ocupados.
Porém, logo no começo de mês de outubro, no dia 04, uma bomba-suicida derrubou em um segundo a simpatia relâmpago pró-palestina. A moça explodiu no restaurante Maxim, no litoral de Haifa, levando consigo 19 pessoas, inclusive três crianças.
A jovem ao lado, de 28 anos matou-se matando toda essa gente e ferindo mais de cinquenta. Chamava-se Hanadi Jaradad e era de Jenin. Dela só sobrou a cabeça.
Como acontece amiúde quando a IDF bombardeia os territórios palestinos, de algumas vítimas em Haifa também só sobraram pedaços. De outras, corpos mutilados ou crivados de estilhaços.
A responsável por esta carnificina, estava para passar o Exame de Ordem após formar-se em Direito na Universidade Yarmouk na Jordânia. Foi a Israel a trabalho e em vez de ir ao encontro profissional marcado, foi a Haifa executar vingança.
Por quê?
Todos os bombas-suicidas palestinos eram jovens e todos tinham uma razão irracional para explodir-se assassinando. A população toda sofre no quotidiano. Todos os palestinos são humilhados e ofendidos todos os dias. Toda família palestina já teve e tem pelo menos um parente sendo torturado atrás das grades israelenses. Toda família já perdeu pelo menos um parente de maneira violenta.
Porém, só alguns pegavam em armas. Embora fossem protegidos e admirados pela coragem. Como os resistentes franceses durante a Ocupação alemã durante a Segunda Guerra.
E pouquíssimos viravam bombas-suicidas. Normalmente estes que se explodiam não eram ativistas. Eram jovens comuns, sem história na resistência. Mas todos tinham uma história dolorosa e um momento em que um acontecimento drástico os levava a dizer Basta e ir pelos ares.
O que levou Hanadi a deixar a sair da "normalidade", deixar a carreira, a vida, para ir explodir-se em Haifa?
No caso dela, foi o assassinato da prima Salah, de 34 anos, e do irmão Fadi, de 25 anos. Soldados da IDF entraram em Jenin à paisana e executaram seus dois entes queridos.
Desde que soubera da notícia a vida de Hanadi mudara completamente.
Ela já perdera o noivo do mesmo jeito. Fora assassinado pela IDF quando ela tinha 21 anos, mas mesmo assim ela não aderira à resistência. Seus estudos de Direito na Jordânia ocuparam sua energia e seu tempo.
Talvez tenha sido também por isso, pela culpabilidade de ter ficado inativa, que ela tenha optado por este recurso extremo, extremista. A prima e o irmão caçula eram combativos. Testemunhar a morte deles foi um choque do qual Hanadi não conseguiu recuperar-se. Caiu em depressão. De jovial e ativa, entregou-se ao luto, depois à leitura constante do Alcorão, ao extremismo religioso  e passou a jejuar dois dias por semana.
Após o atentado, seu pai Taisir declarou: "My daughter's action reflected the anger that every Palestinian feels at the occupation. The occupation did not have mercy on my son Fadi, her brother. They killed him even though he was not a wanted person, they murdered him in cold blood before Hanadi's eyes."
Na mesma noite, ou melhor, às 3 horas da madrugada do dia 05, Apaches da IDF, como de praxe, torpedearam a casa da família dela em Jenin. Junto com a residência da família Jaradad, a IDF destruiu as casas dos dois vizinhos e estragou as de vários.
(Pois esta estória de "bombardeio cirúrgico" é para enganar incautos. É impossível atingir um alvo, do alto, sem "efeitos colaterais".)
Era o procedimento comum de Israel neste tipo de acontecimento. Cada vez que havia um ataque contra algum israelense, as casas dos responsáveis ou suspeitos eram destruidas imediatamente. Geralmente de madrugada.
Para completar as medidas de represália, Israel invadiu o território sírio para bombardear o escritório do Jihad Islâmico em Damasco. Pois o Jihad reivindicara o atentado que Hanadi realizara.
Bashar el-Assad não reagiu militarmente. Deixou a diplomacia tomar providências junto à ONU. Israel não seria nem repreendido. A invasão territorial não seria punida.

No dia 10, mais um menininho de 8 anos foi morto em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. Os soldados da IDF o mataram com um tiro na cabeça.
Nesse ano, o assassinato de Ibrahim al-Qirinawi aumentou para seis o número de execuções desse tipo.
Desse tipo significa incursões militares pesadas de veículos protegidos por helicópteros que atiram a esmo enquanto os caterpillars armados demolem moradias.
Os tiros ao alvo, nos meninos, também eram comuns. Estes aconteciam/acontecem mais nas barragens ou quando os soldados estão sem assunto.
Um menino de 12 anos e um adolescente tinham morrido há pouco do mesmo jeito que Ibrahim. Mortes frequentes que não mereciam nem linha de jornal nem fotografia.
Durante três dias, tanques, helicópteros e caterpillars armados operaram inclementes.
Destruiram quarteirões inteiros de residências ao longo da fronteira com o Egito.
Enquanto os caterpillars demoliam as casas, os soldados atiravam em tudo o que mexia nas ruas do campo de refugiados, obrigando a população a trancar-se em casa sem poder sair para aula, trabalho nem mercado.
A IDF não visava apenas alvos humanos e residências.
Tanques de água (o bem mais precioso e raro na Faixa) e oliveiras (sustento alimentar e econômico das famílias) também foram sistematicamente destruidos.
Quando a Operação passou de Rafah para Yubna, os hospitais tratavam de mais de cinquenta feridos e sete famílias velavam seus mortos. Dentre eles duas crianças.
Em Yubna, campo de refugiados adjacente a Rafah, a incursão militar foi pesada do mesmo tanto e com os mesmos instrumentos terrestres e aéreos aterrorizantes.

Enquanto isso, na Suíça, um grupo de intelectuais preparava a "Iniciativa de Genebra. Baseada em negociações prévias, resoluções internacionais, Road Map, os parâmetros Clinton, e a Iniciativa Árabe de Paz.
Este plano (que até hoje continua na pauta pacifista do conflito) foi revelado no dia 13 de outubro com o apoio do ex-presidente russo Mikhail Gorbatchev e de outros políticos.
Mas o idealizador desta Iniciativa foi o suíço Alexis Keller, professor de Ciências Políticas na Universidade de Genebra.
Fazia dois anos que Alexis mexia os pauzinhos nos bastidores. Mobilizou negociadores israelenses e palestinos, intelectuais pacifistas estrangeiros, e acabou conseguindo chegar a este Acordo que achavam  viável.
A Iniciativa de Genebra era baseada nas Fronteiras de 1967, mas sem respeitá-las na íntegra.
Os israelenses conservariam os dois terços da Palestina inicial, que haviam ocupado a ferro e fogo em 1948 e que haviam declarado como Estado de Israel.
Os palestinos teriam de abrir mão de uma parte do território que a ONU lhes garantira em teoria (sem nenhuma garantia concreta no terreno). Teriam também de renunciar ao "direito de retorno" das vítimas da diáspora da Naqba.
Seria Israel que definiria quantos milhões, mil ou centenas, dos 3.5 milhões de refugiados, poderiam retornar à terra natal.
Em contrapartida da perda de território na Cisjordânia - onde Israel conservaria algumas invasões em locais em que aglomerara colônias e terras além da Linha Verde já engolidas pelo muro da vergonha - a Faixa de Gaza seria ligeiramente aumentada.
Veremos os detalhes desta Iniciativa em dezembro, quando for assinada.
Apesar dos prejuízos, Yasser Arafat demonstrou entusiasmo com a "brave initiative that opens the door to peace".
Ariel Sharon deu de ombros.
O Primeiro Ministro de Israel preferia continuar a expandir as invasões. Contava com a ocupação civil e o muro para inviabilizar um Estado Palestino de terras contínuas. Apostava na limpeza étnica, em um grande Israel. E os palestinos que sobrassem, controlados a punho de aço em um sistema de apartheid.

No mesmo dia 13, Yasser Arafat deu uma estocada em seu novo primeiro ministro Ahmed Qorei.
Ele mesmo nomeou o Ministro do Interior.
Era Hakam Balawi, um dos dirigentes do Fatah, que parecia ao presidente palestino a pessoa mais fiável para cuidar da implementação do Road Map, e de sua própria segurança.
Hakam nasceu em al-Bala, perto de Tulkarm, em 1939. Era dez anos mais novo do que Yasser Arafat. Era antigo no Fatah. Estava no Comitê Central desde 1989.
Como formara-se em Administração, Jornalismo e Educação, virou diplomata logo que foi exilado.
Aos 34 anos foi enviado pela OLP à Líbia. Ficou em Trípoli de 1973 a 1975. De 1983 a 1994 teve a mesma responsabilidade em Tunis. E representou os palestinos na Liga Árabe druante 12 anos.
Na volta do exílio, foi nomeado conselheiro para as agências nacionais de segurança até 1996. Ano em que foi eleito deputado por Tulkarm.
Em 2001, foi encarregado de monitorar o grupo do Fatah.
Hakam é um dos palestinos que assinaram a Declaração comum Israel/Palestina “No to bloodshed, no to occupation, yes to negotiations, yes to peace.”
(Atualmente Hakam Balawi é secretário da União dos Jornalistas e Escritores Palestinos e é autor de vários livros e peças.)
No dia 19, antes mesmo da posse ser efetivada publicamente - só seria em novembro - a tarefa do novo ministro de implementar o Road Map complicou-se ainda mais.
A IDF assassinou mais dois membros do Hamas. Um deles, proeminente. E durante o atentado, mataram uma mulher e um adolescente que se encontravam nas proximidades.
As tensões aumentaram. Não apenas por causa deste último atentado dos israelenses, como também porque pouco tempo antes três guardas de segurança estadunidenses haviam morrido em um atentado palestino a um comboio de observadores dos EUA em Gaza.
E em retaliação a IDF organizou operações militares simultâneas em dois campos de refugiados no Sul da Faixa.
No campo de refugiados Brazil (pois é, tem um no sul da Faixa que homenageia o nosso país, que é muito estimado na Palestina), mataram um dos líderes locais do Hamas, Tareq Abu- Al-Hussain, de 39 anos.
Três dias antes Israel organizara uma batida no Brazil e o Hamas os recebera a balas. Mas todos os soldados saíram de lá vivos.
O outro batalhão da IDF que invadiu Rafah matou um militante do Hamas e uma mulher de 30 anos que estava saindo de casa (na hora errada - em Gaza não tem hora certa de sair de casa; os drones armados rondam e atiram nas horas mais inesperadas).

No dia 21, Ariel Sharon resolveu atacar a Faixa de Gaza pelas frentes aérea e marítima.
Era uma Operação "Sikulim". Ou seja, uma 'Targeted Assassination'. Em português, uma Operação de Assassinato, normalmente realizada por terra ou ar.
A Operação Sikulim desse dia começou de manhãzinha, quando a população ainda estava meio adormecida.
E começou mal.
Os F-16 lançaram mísseis em uma casa em Gaza, mas na casa errada.
Visavam outra que ficava a duzentos metros desta.
Visavam a residência de Abdullah al-Shami, um líder islamita tradicional.
Shami sobreviveu, mas 14 compatriotas foram gravemente feridos na tentativa de assassinato. Inclusive duas crianças.
A partir desta mancada, os F-16 continuaram a atacar sem parar. A investida mais mortífera aconteceu às 21:30. Um míssil atingiu um carro na entrada do campo al-Nusseirat matando os três passageiros. Em seguida, outro míssil atingiu um um grupo de pessoas que fora ao socorro dos atingidos.
Nove delas morreram e 50 foram feridas, dentre as quais 15 em situação crítica.
A Operação de assassinato em si foi um fiasco. Mas causou doze mortes imediatas e mais de cem feridos mais ou menos graves. Na maioria, mulheres e meninos, pois os ataques ocorreram em uma parte densamente populada.

No mesmo dia 21, a Assembleia Geral da ONU adotou uma Resolução solicitando que o Tribunal Internacional de Justiça (Court Internationale de Justice - CIJ) se pronunciasse sobre as consequências legais da construção do muro de separação dentro da Cisjordânia.
144 dos 191 países membros votaram a favor da Resolução.
Os EUA e Israel estavam entre os quatro que votaram contra.
Os demais se abstiveram.
A União Europeia a aprovou a cem por cento.
O muro, que já vinha sendo condenado desde o início, já abocanhara centenas de hectares da terra mais fértil da Cisjordânia.
Na Resolução, a ONU exigia que Israel "stop and reverse" a construção deste muro de separação que invadia terras palestinas.
(Isto foi no dia 21 de outubro de 2003. Dez anos depois o muro continua crescendo e asfixiando os cisjordanianos.
Sharon sabia o que fazia. O muro já tira da Palestina 58% do território mais fértil da Cisjordânia.)

No dia 24 de outubro, na Cisjordânia, um soldado israelense matou um menino palestino de 11 anos que estava "perto demais" de uma colônia judia.
A resposta do Hamas foi contra um alvo militar. Três soldados da IDF foram mortos na Faixa de Gaza.
A retaliação da IDF chegou no dia 30. Contra um menino de 11 anos e um de 16 na Cisjordânia. E na Faixa, um adolescente e um adulto. Além de um ativista morto em Tulkarm.
Assim continuava a roda-viva.


Um ex-capitão da IDF Shovrim Shtika - Breaking the Silence
So how many soldiers were your subordinates?
Officially, fifteen men at the time.
How many were your subordinates but not from your own unit?
Another twenty, approximately. At my command. I must reiterate this was not all so clear-cut. It was somehow… I was told I'd be in charge of them. In short, I decided to get out. I realized I was not fulfilling my mission as I should and decided to get out. Without taking people out. Without I don't know what. And as I was going out, I saw Border Patrolmen banging at someone's door and yelling violently, terrible banging. With soldiers who… This was two o'clock at night, people don't just open their door straight away. It's not like you knock on a door and immediately someone's going to open it for you. After all, two a.m. So I run over to them, I leave my soldiers behind, telling them to cover me. I run over to those guys and say, "Wait a minute…" No, before I run over there, there is horrible banging on the door and yelling, "Come on, move it! Move it!" The door was not opened very fast. So a soldier was already running –without being ordered to, things I'm really not used to – and shattered a window. I run over and shout, "Who's the commander here? Hey, what's going on here?" And one of them says, "I am!" Another guy says, "I am the commander." Suddenly there are three commanders there. 
I say, "Who's really the commander? I want to talk to the commander". Another guy arrives. I say, "Hey, take it easy. Slow down. Let them open their door, let them… No one is firing at us." and he says, "No, no, no" and the havoc continues. The soldiers get people out of their houses in their underwear, and I am registering this… When I say a 'house", I don't mean a house where three people live. It's a building with three families and everyone's outside, and the soldiers are conducting searches. I yell, "Wait, explain to them. Let them know what happened, so they'll understand", and I realize no one is listening. 
Suddenly I look back and notice I still have these soldiers of mine to take care of. So I said, okay, my own soldiers and my own assignment are more important to me, and one moment before I leave I also see a little soldier, looking like he'd just gotten sworn-in today, with this long weapon, jumping up and down and yelling, "Action, action, action!" pointing his rifle at the people. 
I was stunned. So were my soldiers. I saw them stunned. They were right across the street, they saw it all. I go back and explain to the soldiers, "Guys, we have a mission. We need to carry it out. Like the battalion commander defined it for me – to explain to the people. We'll go in and clear things up.", and I continue to enter house after house. 
All in all, we went over five houses, or buildings rather. Later when I asked, "How many buildings did you do?" there were people there who had managed five times four, so that was twenty buildings, and woke everyone up. Actually, the entire village woke up. And the other scene there was at the same time, we got to another house and I … there was a sequence of events there and I must retell them. That was the night that broke the camel's back. The straw that broke the camel's back. I enter a house, there's a woman there. Again, I'm covered with mud, and I really, I look… I can imagine I looked really scary. I go in and there's this old woman and I ask her, "Where is the man of the house?" No one understands anyone. 
Then I see some mattress covered with a blanket. The blanket is moving as if in some earthquake, and I… I don't know, maybe he's hiding in there. I ask my soldier, "Go quickly, see what's under that bed" and he tries to pull the blanket, and no, it's… finally he grabs that blanket. I realize… I counted eight on one double mattress, eight children held together in some… dying of fright. Looking at us as if the next moment I'm going to do I don't know what. Each hiding behind the other's back. Like little cubs hiding… One behind the other, the other exposed so he scurries over and they all move… And I say, God almighty. I try to talk, I say, "Does anyone here understand Hebrew?", and with the Arabic… I don't speak Arabic but I manage to say a few broken words, and they say "No, no…" 
And my soldier asks me, "Listen, maybe we should search" and I feel there's nothing to search here but still I tell him, "You know what? Let's search". We're used to conducting searches in houses where we really search, so this one is… He began to search really thoroughly, knock on walls, check the place out for some hidden partitions. Finally I tell him, "Come on, they've understood. I hope they've understood". I know they haven't. 
Once more I go out. I come out of there in shock. I feel I lost this one. I'm defeated and the army is defeated. I mean, it's not I who lost. There's a whole village here that woke up at two o'clock in the morning. I think 90% of them didn't know why. I felt we did just the opposite here. All the looks I got were enough for me to understand that I did just the opposite. Regarding the Border Patrolmen, do you think that what you saw was… That's just the point.
I know what you're going to ask me, so let me continue. We were stunned. I get inside the vehicle, an armored truck was brought on the spot, two of them. We were so many troops in the village. So I get on and a soldier, a commander, too, but not wearing his ranks, see that I'm rather stunned. I look at my mates, who are looking just as stunned as I am. So a soldier catches the two of us and says, "Guys, get used to it. This is how it is. That's it."
What soldier?
A commander. Some sergeant from the Army, not Border Patrol, the regional brigade. He says to me, "Guys, cheer up. That's how it is. Nothing you can do about it. That's how it's done. That's what needs to be done." We returned, feeling very upset and said this was not right, what we'd done. We said this to our commander. We said what we felt, and I realized how unreasonable the situation was. I smoked my first cigarette after this event....
...It was one of the worst nights. … On our way (to the village) I was not with him, but a friend of mine was, and the battalion commander was very agitated. He suddenly stopped his jeep, caught a (Palestinian) transit van, told the driver, "Show me your IDs". The guy handed him the IDs. "What's this, why are you driving around at such an hour?" and all. He began to rip the whole upholstery inside the car. He trashed the vehicle, found nothing, let him go.
A lieutenant-colonel. A lieutenant-colonel in the Israeli army. A battalion commander, responsible for hundreds of soldiers.
Yes.
Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 1

 
 


domingo, 7 de julho de 2013

Golpe militar no Egito



Oitocentos e oitenta e sete dias após os jovens egípcios tomarem a praça Tahrir no Cairo para exigir o fim da ditadura de Hosni Mubarak, a volta dos militares aos quartéis e melhores condições de vida, o Exército deu um Golpe de Estado.
Que agrade ou não, o que acontecu no Egito foi um Golpe militar, embora os Estados Unidos - que negam participação, mas demonstram apoio velado por vias diplomáticas - resistam a usar o termo exato. Os militares saíram do fundinho dos bastidores a que haviam sido confinados e falaram firme e grosso: Ordem ou nada!
Eu não tinha nenhuma simpatia por Morsi e desde o começo do governo critiquei sua guinada para o autoritarismo e o excesso de poder conferido à Irmandade Muçulmana. 
Porém, como acho que a democracia ainda é o melhor sistema inventado, talvez tivesse sido melhor para o Egito que o povo praticasse a democracia pela qual lutou e esperasse que o mau mandato errado acabasse. A prática da democracia é um aprendizado. Por pior que Morsi tenha sido, o Golpe transmitiu uma mensagem  tão ruim quanto sua traição aos ideais democráticos dos revolucionários.
A base da democracia é o poder das urnas, da escolha da maioria. Se cada vez que os egípcios - ou um segmento da população de qualquer país recém-democratizado - não estiverem satisfeitos com a gestão do presidente eleito os militares derem um Golpe de Estado, o país está condenado à desordem do curto prazo. 
Para mim, um mal não pode absolutamente ser combatido com um mal maior ou igual.
E um Golpe de Estado é sempre um Golpe de Estado. É anti-democrático. É sempre melhor deixar as urnas falarem.
Aconteceu com Morsi e pode acontecer com qualquer outro civil que for escolhido - mal ou bem - pelo povo. Foi esta a mensagem clara que se lia no Cairo.  
E após a informações divulgadas pelo Investigative Reporting Program da Universidade de Berkely, na Califórnia, confirma-se as suspeitas de que nenhum governo se manterá sem o consentimento de Washington.     


O filme do Golpe seguiu um roteiro banal. 
Desde a queda de Mubarak que Mohamed Morsi - quinto presidente eleito no Egito desde a queda da monarquia há seis décadas - vem decepcionando o povo que há dois anos disse Basta! e clamou por uma liberdade que no governo Morsi só vislumbraram, sem conseguir desfrutar de verdade.   

Seu ano de governo foi marcado por decretos controvertidos, instabilidade econômica e política, e cerceamento paulatino dos poderes judiciários e dos movimentos sociais.
Cinquenta pessoas foram mortas nos protestos em janeiro de 2013 e no dia 30 de junho milhões de egípcios foram às ruas "comemorar" o aniversário da posse de Morsi exigindo que se demitisse.
A resposta do Presidente foi dada em um discurso desafiador e incompreensível.
Sem pé nem cabeça, mesmo. Mas ficou claro que ele rejeitava as demandas democráticas.
As imensas passeatas continuaram, o país ficou parado, os generais se chatearam e voltaram ao palco.
Deram a Morsi 48h para que fizesse as malas, Morsi rejeitou o ultimatum e na noite do dia 3 de julho o  Palácio foi ocupado por oficiais do Exército que o tiraram de lá a fim de "restabelecer estabilidade". 
O golpe aconteceu, a Irmandade Muçulmana - que é a base político-religiosa do presidente deposto - foi às ruas e os mortos e feridos se contam aos montes. 
A tendência é que, com a força bélica que dispõem, os militares levem a ordem de volta às cidades, sobretudo ao Cairo, mais cedo ou mais tarde. 
Mas por enquanto, a desordem reina tanto nas cidades quanto no meio dos oponentes a Morsi. A oposição está mais dividida do que nunca. Pois a briga para o poder começa agora.  
Está muito cedo para fazer previsões porque o Cairo está de cabeça para o ar. Literalmente. E os conchavos militaro-político-econômicos estão ocupando todo espaço. Por enquanto, o futuro é incerto. O que é certo é que qualquer que seja o civil que ocupar a presidência, os generais estarão presentes e alertas. 


É mais do que provável que nenhum civil ficará dando as cartas junto com os militares. Por enquanto, posso falar sobre as razões políticas para o Egito ter chegado à situação atual. Primeiro, a Irmandade Muçulmana e sua ala política, The Justice and Freedom Party, escolheu governar sozinha sem pedir apoio dos demais segmentos políticos e sociais.   

Mohamed Morsi fez vários cálculos políticos errados, inclusive sua extensão de poder através de uma pseudo-expansão constitucional que provocou animosidade da Corte Suprema.
Entre a maioria absoluta da Irmandade Muçulmana no governo e os poderes presidenciais aumentados, não sobrou espaço para atender às expectativas dos protagonistas sociais da revolução de 2011. 
Os grupos sociais que fizeram a revolução acabaram sendo marginalizados, assim como os segmentos laicos, liberais, de esquerda, os jovens e as mulheres.
Morsi fez umas tentativas acanhadas para dialogar com as coalisões progressistas, mas a desconfiança era mútua e o Presidente acabou alienando sistematicamente o apoio dessas correntes socio-políticas graças às quais houvera eleiç5es e ele fora eleito. 
E para completar, Morsi não conseguiu administrar direito os antigos centros de poder nem os interesses econômicos. Em vez de cooptar os setores empresariais e financeiros que estavam associados a Mubarak por razões pragmáticas, ele os afastou e prejudicou, provocando falências e desemprego.


No futuro incerto é certo que os generais vão usar o crédito da "ordem", da demonstração que são os guardiães da nação - como fizeram no fim da era Mubarak - para doravante representarem um papel mais importante. 
E a re-militarização será fácil já que as estruturas nunca foram desmanteladas. Porém, o ditador "terá" de prender muita gente e derramar muito sangue nas masmorras do regime e nas ruas das cidades principais.  
Acho difícil a maioria dos egípcios aceitar o retorno de uma ditadura. Mas a chamada "comunidade internacional", ou seja, os Estados Unidos e seus aliados que já evitam usar a palavra "golpe" para definir o golpe de estado egípcio, vão acolher bem esta volta ao status quo da época de Mubarack. O general Sissi jamais teria agido sozinho. Seu ato anti-constitucional deve ter partido dos credores, dos financiadores e dos Estados Unidos. Se não arquitetado, pelo menos abençoado e incitado.

Quanto à Irmandade Muçulmana, duvido que concorde em abrir mão do poder que adquiriu com Morsi com facilidade. Tentar descartá-la seria um erro grave. Se (o que duvido) o poder voltar para as mãos de um civil, será preciso cooptá-la dando-lhe um papel de segundo plano. 
Qualquer que seja o governo transitório, terá de integrar a Irmandade Muçulmana no processo decisório. Caso contrário, assistir-se-á a um banho de sangue a conta gotas ou em enxurrada.
A oposição que apoiava o regime antigo está mexendo os pauzinhos junto com os militares. Mas é pouco provável que consiga recuperar o poder a médio prazo.
Por outro lado, até o príncipe Osman Rifaat Ibrahim, herdeiro do trono do Egito e em exílio desde a Revolução dos Oficiais Livres, que pôr fim à monarquia no Egito em 1952, prontificou-se a retornar ao país.
Sua proposta é a restituição de um regime como o da Espanha, em que ele representaria o papel que o rei Juan Carlos representa na democracia parlamentarista espanhola.
O príncipe tinha dois anos quando a família real foi expulsa do país. Seu pai, o príncipe Amr Ibrahim, foi considerado persona non grata por representar "ameaça à nova ordem". O monarca fora comandante da Polícia Especial durante a Segunda Guerra Mundial e gozava de certa popularidade em alguns círculos cosmopolitas e intelectuais. Sonhar não custa nada.
Os da velha-guarda monárquica ainda lembram com nostalgia do Egito monárquico. Aquele descrito no famoso livro "O Edifício Yacoubian"  do escritor Alaa Al Aswany. No livro tem uma frase reveladora do tipo de saudosismo desta classe "culta": "Era uma era diferente. Cairo era como a Europa. Era limpa, inteligente, as pessoas eram bem educadas e respeitáveis e todos conheciam o seu lugar..."

Os que saíram por cima a curto prazo  
Abdel-Fattah al-Sissi : Ministro da Defesa e comandante das Forças Armadas, formou-se em Academias militares dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Nomeado por Morsi em agosto do ano passado, é religoso e conservador, mas acima de tudo, um militar da pesada.
Tem 58 anos e foi o oficial mais jovem do Supremo Conselho das Forças Armadas que governou o Egito após a queda de Mubarak.
Em fevereiro de 2011 ele foi o chefe de Inteligência Militar e Adido Militar do Egito na Arábia Saudita. Portanto, próximo dos EUA.
O lema dele é ordem a qualquer preço. Vai ficar com o Ministério da Defesa, com certeza, e para mexer os pauzinhos no próximo governo. Se não se transformar em ditador em poucos dias, semanas ou meses. Aposto que isto vai acontecer.

Adly Mansour: Presidente interino desde o dia 1° de julho, é um advogado de 68 anos. Foi um juiz obscuro do Supremo Tribunal da Corte Constitucional. Participou da redação das leis eleitorais que levaram Morsi ao poder. É um homem discreto cujas simpatias políticas são um enigma. On the record. Sua função atual é pro-forma e seu poder limita-se a re-escrever as leis eleitorais. Quando passar esta fase transitória é bem provável que ele desapareça como apareceu.

Mohamed El Baradei: Advogado, diplomata, Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho na direção da Comissão Nuclear da ONU, é uma figura eminente no Egito. Porém, falta-lhe base eleitoral, embora dirija o Constitution party and the National Salvation Front. Ele foi avisado do Golpe e estava do lado do general Sisi quando este anunciou que Morse fora deposto. Espera-se que ele represente um papel de liderança nem ISIe presenteprestou-se ao papel de  Joined Sisi for announcement that Morsi had been deposed, o governo apoiado pelo Exército.
Mansour o convidou para Primeiro-Ministro, mas seu nome foi logo vetado pelo Partido Religioso Nour.
Mas como ele apoiou o Golpe desde o início, é certo que terá de imediato um cargo importante. Quem sabe a pasta das Relações Exteriores. Isto se Baradei não se der conta que está no caminho errado e saltar do barco furado antes que acabe preso por desacato aos golpistas militares.

Hazem el-Beblawi, economista liberal com reputação de tecnocrata e uma história de crítico dos regimes anteriores. Foi professor de Economia em várias universidade, trabalhou nas Nações Unidas e no Banco Árabe de Desenvolvimento.
Opôs-se à política econômica de Hosni Mubarak abertamente em um debate em 2009. Denunciando inclusive a corrupção administrativa e a incapacidade do governo de desenvolver a base industrial egípcia.
Há pouco tempo em uma entrevista ao Daily News Egypt descreveu a política econômica de Morsi um fracasso: "The least that can be said is that it has not been exactly succesfull, and it lacked clarity. Morsi did not present a clear program. He delivered the same speeches that all politians make about accomplishments achievements and attracted foreign investments."
Muitos democratas egípcios confiam que sua teoria liberal produza soluções concretas para os problemas que ele critica. Com ele nas rédeas, é o mergulho do Egito no neoliberalismo. E no bolso dos Estados Unidos.

Ahmed Shafiq: Ex-Primeiro Ministro de Mubarak e ex-comandante da Força Aérea, é visto como um candidato do antigo regime. Nas últimas eleições, Morsi o derrotou por uma margem pequena. Foi acusado de corrupção - acusação que nega e considera política - e está exilado nos Emirados Árabes. A Irmandade Muçulmana o acusa também de conspirar contra o "deep state" do Egito para derrubar Morsi. Seu retorno é a maior especulação no Cairo nestes dias.
Ele conta com o apoio dos "Muabarakistas".


Cronologia dos principais eventos da curta "era" Morsi

July 01 2012, Mohammed Morsi, the first democratically elected president of Egypt, has been sworn in by the country's highest court, succeeding Hosni Mubarak who was toppled 16 months ago. 
Morsi became Egypt's fifth head of state since the overthrow of the monarchy in 1952.
Jul 08, Morsi has defied Egypt's top court and its powerful military council by ordering the country's dissolved parliament back to work. 
The decree that Morsi issued stated that he decided to restore the elected People's Assembly, which was voted into office over three months beginning in November, and reconvene it in session to begin issuing legislation again.
Jul 10, The US secretary of state Hillary Clinton met with President Morsi and declared their support for "ful transition" in Egypt.
The meeting concentrated on the domestic political deadlock and economic development. Clinton pledged hundreds of millions of dollars in debt relief, private investment and job creation funds - money the US administration had earlier promised. The top American diplomat said her country's "shared strategic interests far outnumber our differences" with Egypt.
On the same day, Egypt's Supreme Constitutional Court rebuked Morsi's decree, meeting in a special session to assert that he has no right to reconvene parliament after the court ordered it to dissolve on June. As a reaction, thousands of Egyptians gathered in Tahrir Square for a rally in support of newly-elected president.

August 02, Morsi swore in new cabinet and the Prime Minister Hesham Qandil urged Egyptians to rally behing the government.
Morsi retained military chief Field Marshal Hussein Tantawi as defence minister while giving the Muslim Brotherhood and its allies several portfolios.
The cabinet reflected the precarious balance of power between the president, a former member of the Muslim Brotherhood, and the military, which retains broad powers after transferring control to Morsi.
Aug 13, there's an Army shake up.
Morsi orders the powerful head of the army and defence minister, Field Marshal Hussein Tantawi, and several senior generals into retirement and canceled constitutional amendments issued by the military restricting presidential powers. This move welcomed by thousands who gathered in Tahrir Square.
Aug 19, the presidential state-media announced that Morsi will visit Iran after his first foreign trip to China, to attend the Non-Aligned Movement meetings on August 30. MENA said Morsi's visit would be the first such visit by an Egyptian head of state to Tehran since the Iranian revolution of 1979. At his visit on August 30, he criticised Syria saying it is an "ethical duty" to support the Syrian people against the "oppressive regime" in Damascus.

September 03, Egypt state TV lifted ban on veiled presenters.
Fatma Nabil became the first woman in half a century to present the news to the nation while wearing a hijab. The ban on female news readers wearing the Islamic veil had long been criticised by liberals and human rights activists as an infringement on personal freedoms - particularly in a country where the vast majority of adult women cover their heads.
Sep 09, Egyptian army announced coordination with Israel in security sweep that began in August after 16 soldiers were killed in Sinai.
Egyptian army colonel Ahmed Mohamed Mohamed Ali told a news conference in Cairo on September 8 that 32 "criminal elements" were killed and 38 suspects arrested, including non-Egyptians, during the operation which began on August 7. "Egypt is coordinating with the Israeli side over the presence of Egyptian armed forces in Sinai. They know this," he said. 
The deployment of the armed forces on all the territory of Sinai is not a violation of the peace treaty between Egypt and Israel." An Israeli diplomatic source, who asked not to be identified, confirmed Ali's comments.

November 18, Supreme Administrative Court ruling allowed former members of Mubarak's National Democratic Party to run in Egypt's parliamentary election.
The National Democratic Party (NDP), the party of former president Hosni Mubarak, was officially disbanded in April, but dozens of former high-ranking members are planned to run as independents in the election. In its decision, the court argued that it could not deprive ex-NDP members of "their right to participate in political life."
Nov 22, Morsi assumed wider powers.
Morsi has issued a declaration giving himself greater powers and effectively neutralising a judicial system that had emerged as a key opponent by declaring that the courts are barred from challenging his decisions. He framed his decisions as necessary to protect the revolution that toppled Hosni Mubarak nearly two years ago and to cement the nation's transition to democratic rule.
Nov 24, Egypt judges condemned Morsi's new powers.
The Supreme Judicial Council, Egypt's highest judicial authority, has criticised President Mohamed Morsi's move to grant himself sweeping new powers that would protect his decisions from being challenged as an "unprecedented attack". Thousands of chanting protesters packed Cairo's Tahrir Square, the heart of the 2011 revolution, demanding Morsi to quit and accusing him of launching a "coup".
Nov 30, Constituent assembly approved articles of disputed new constitution, as opposition continued protests.
The assembly - boycotted by liberals and Christians - has been accused of rushing through approval of the document, which is at the centre of a political crisis pitting Mohamed Morsi, the Islamist president, against several opposition parties. Morsi called on Egyptians to vote in a December 15 referendum in a statement after the ceremony, amid mass Islamist rallies in Cairo. Al Jazeera's Sherine Tadros, reporting from Tahrir Square, said the draft was being viewed as the "Muslim Brotherhood constitution".

December 02, Constitutional Court judges ceased work after court house is blocked by President Morsi's supporters ahead of key rulling.
"[The judges] announced the suspension of the court sessions until the time when they can continue their message and rulings in cases without any psychological and material pressures," the court said in a statement. The top court had earlier announced it had postponed its ruling on the legitimacy of the constituent assembly, citing "administrative'' reasons.
Dec 05, Egyptian police have fired tear gas at opposition protesters demonstrating against President Morsi's drive to hold a snap referendum on a controversial draft charter, as the country plunged deeper into crisis. Thousands had taken to the streets waving Egyptian flags, chanting for the downfall of the president and denouncing the Muslim Brotherhood, from which Morsi emerged, for having "sold the revolution" that toppled Hosni Mubarak.
Dec 09, under pression, Morsi annuled the decree that expanded his powers.
However the referendum on a draft constitution would, still go ahead as planned on December 15, said Selim al-Awa, an official acting as spokesman of a meeting Morsi held earlier with other political leaders. "The constitutional decree is annulled from this moment," al-Awa said. The decree and the referendum were at the heart of anti-Morsi protests that have rocked Egypt in the past two weeks.
Dec 15, scheduled constitutional referendum took place amid nationwide clashes.
Voting has ended in the first round of the constitutional referendum in Egypt, with initial results indicating that supporters of the draft document have a narrow lead heading into the second round. The Muslim Brotherhood said the group's tallies showed that 56.5 per cent of voters had supported the constitution, while 43 per cent had voted 'no'.
Dec 22, on the second round of the referendum charter drafted by Islamist supporters of President Mohamed Morsi won 63.8 percent of the votes.
The final official turnout was 32.9 percent of the country's 52 million eligible voters. All decrees issued since the revolution that removed former leader Hosni Mubarak from power in February 2011 stood null and void. These included both those passed by Morsi and those passed by the country's supreme military council, which ruled over Egypt for 16 months after the revolution.

January 06 2012, Finance portfolio and interior ministry, which controls police, changed hands as part of measures to salvage economy.
Egypt's government has sworn in 10 new ministers in a reshuffle of the cabinet aimed at mapping out ways of handling the country's struggling economy. The shake-up has come as a delegation of International Monetary Fund officials prepared to meet Egyptian authorities to discuss a $4.8bn loan and painful economic restructuring.
Jan 25, Police and protesters clashed as opposition groups called for rallies to mark second anniversary of 2011 revolution.
Egyptian security forces have fired tear gas and protesters hurled stones and Molotov cocktails in a day-long demonstration, raising fears of a violent anniversary of the 2011 uprising that toppled President Hosni Mubarak. Youth activists and opposition groups have called for large rallies on the anniversary in Cairo's Tahrir Square and in front of the president palace in the Heliopolis suburb.
Jan 30, The opposition called for a broad national dialogue with Egypt's government as violence continued in Cairo.
Egypt's liberal opposition leader Mohamed ElBaradei has called for a broad national dialogue with the government, all political factions and the powerful military, aimed at stopping the country's eruption of political violence that has left more than 60 dead in the week before.

February 21, Morsi announced that Egypt would hold parliamentary elections in several stages beginning April 27.
It was announced that the election process would take place in four stages: April 27-28, May 15-16 and June 2-3 and 19-20. Meanwhile, The National Salvation Front, the main opposition bloc in Egypt, declared that it would not participate in elections, saying there must first be a law guaranteeing a free and fair vote.

Mars 07, Electoral commission canceled timetable for parliamentary elections which were set to begin on April.
The state media's report, following a court ruling threw the entire polling process into confusion. The elections committee had issued its decision to scrap the voting schedule after "the committee saw the details and reasons for the ruling by the Administrative Court".

April 06, Five Egyptians have been killed and eight more wounded in clashes between Christians and Muslims in a town near Cairo.
In one of the worst sectarian violence for months, four Christians and one Muslim were killed in El Khusus, north of Cairo, when members of both communities started shooting at each other. President Mohamed Morsi has condemned deadly clashes at the Cairo headquarters of the Coptic Christian pope as "an attack against himself", ordering a quick probe into the violence.

May 07, Egypt announced cabinet reshuffle including removal of two ministers involved in IMF loan talks.
Prime Minister, Hisham Qandil's announcement brought nine changes to his cabinet, increasing the representation of Morsi's Muslim Brotherhood in the government. These included the appointment of Amr Darrag, a senior official in the Brotherhood's Freedom and Justice Party, as planning minister.

June 24, Egypt's army chief Abdel Fattah al-Sisi delivered strongly-worded statement ahead of major anti-government protests expected to take place upcoming week.
He has warned that the army will not stand by and allow Egypt to fall into "a dark tunnel of conflict", ahead of major anti-government protests planned for the upcoming week. Sisi asserted that "there is a state of division in society, and the continuation of it is a danger to the Egyptian state. There must be consensus."
Jun 30, Egypt is gripped by anti-Morsi protests.
Hundreds of thousands of people have gathered throughout Egypt to demand the resignation of President Mohamed Morsi, with three reported deaths and buildings burned in sporadic violence. Protesters packed Tahrir Square in Cairo - the focal point of the revolution - blaming Morsi for a stagnant economy, worsening security and an ongoing lack of basic services Many waved red cards and chanted "irhal" - "leave".

July 01, Anti-Morsi protests sweep Egypt.
Around 14 million of people (12% of the 84 million Egyptians) have taken to the streets of Cairo and other cities across Egypt, demanding the resignation of President Mohamed Morsi amid sporadic violence that left several people dead.
On the same day, the Army has asked Morsi to resolve huge protests against his rule or face intervention within 48 hours, placing huge pressure on country's first democratically elected leader. 
In a statement, the army called on all groups – opposition and pro-Morsi alike – to resolve the situation. "The armed forces repeat their call for the people's demands to be met and give everyone 48 hours as a last chance."
Amid unrest, five Egyptian ministers have tendered their resignations from Mohamed Morsi's cabinet, a senior official has said, as protests against the president's rule filled the streets of cities throughout the country. Those who resigned were the tourism minister, Hisham Zaazou; communication and IT minister Atef Helmi; the minister for legal and parliamentary affairs, Hatem Bagato; water minister Abdel Qawy Khalifa; and environment minister Khaled Abdel-Aal. 
July 02, Morsi has demanded the army withdraws an ultimatum to resolve the nation's political crisis, saying that he would not be dictated to. He faced huge pressure to resign from his position, and a warning from the military that politicians must resolve the crisis or face the army's transitional "roadmap".
July 03, The Egyptian army has overthrown President Mohamed Morsi, announcing a roadmap for the country’s political future that will be implemented by a national reconciliation committee. 
According to a senior member of the Muslim Brotherhood, Morsi is being held in a military facility with top aides.
The head of Egypt's armed forces issued a declaration suspending the constitution and appointing the head of the Supreme Constitutional Court, Adly Mansour, as interim head of state.

The state of Egypt’s economy is a mess.
Unemployment is rising, passing 13 per cent earlier this year, and youth unemployment is much higher. Growth has slumped from the 5 per cent annual rate seen before the 2011 revolution.
Egypt’s GDP is expected to expand by just 2 per cent this year, nowhere near enough to create enough employment for the estimated 700,000 new job seekers who join the workforce each year. The sizeable tourist sector is suffering. And a petrol shortage, which resulted in long queues for fuel as seen last week, fed frustration among anti-Morsi demonstrators in Cairo.

Nevertheless, Morsi is not entirely responsible for this disaster.
He raised public sector wages, which helped push the annual budget deficit to 14 per cent of GDP. Foreign investment slumped after he took office in June 2012, and this year the currency has shed some 16 per cent against the US dollar.
The central bank’s currency reserves are under pressure and it has been forced to accept support from allies in Qatar, Turkey and Libya. Egypt now has barely enough foreign currency to cover three months of imports. However, Mr Morsi did expand welfare programmes for the poorest, boosted wheat production to wean the country off food imports, and explored new ways for the government to raise debt.
Now the Egyptian stock market shot up 7 per cent after Mr Morsi was deposed on Wednesday evening, implying that the financial markets think things will get better now he has gone.
The US President, Barack Obama, has refrained from calling the move by the Egyptian army a coup, which means that American aid can keep flowing to the country.
But Egypt’s prospects remain cloudy. The next administration will need to conclude long-running negotiations with the International Monetary Fund to release a $4.8bn aid package.