domingo, 29 de julho de 2012

O "rei" da Síria ofega, a disputa pelo trono começa


Os dirigentes da Síria resolveram pegar pesado em Alepo e Damasco, que Bashar el-Assad não quer de jeito nenhum deixar escapar para indivíduos pouco recomendáveis. 
Há algumas semanas eu disse que Bashar el-Assad só "abdicaria" se Putin lavasse as mãos ou o enxotasse, que só cairia quando generais e próximos debandassem, e só seria derrotado quando Damasco e Alepo fossem tomadas, no sentido próprio e figurado.
Hoje volto à carga porque tenho recebido muitas perguntas sobre o assunto, devido às notícias que levam a pensar que Bashar el-Assad está encurralado, perdendo fôlego, dando os últimos suspiros, caindo no abismo dos ditadores.
É uma vontade internacional, inclusive dos repórteres que não querem ver Assad nem pintado.
Eu também tenho antipatia pelo regime autoritário da família Assad. Porém, este sentimento pessoal não me leva a vendar os olhos aos fatos.
Os rebeldes entraram em Alepo e Damasco? Entraram. Muitos deles drogados como as crianças-soldados dos warlords da África. E alguns, sem nada a ver com os rebeldes locais.
As famílias de classes média e alta encheram as estradas com o que conseguiam carregar para o Líbano, e Beirute ficou cheia de sírios.
Porém, Bashar recuperou o controle de Damasco e os "refugiados" já voltaram para casa. Pelo menos por enquanto. E é o que vai fazer em Alepo daqui a pouco, enquanto os habitantes debandarem e encherem as estradas. E se os EUA/OTAM/Israel/Arábia Saudita não intervierem de novo, ele talvez consiga salvar a esta linda cidade. Se continuarem a apoiar os "rebeldes", Aleppo está com os dias contados. 
Os soldados lutam menos pelo regime do que para salvar a pele e seu país. Sabem que a vingança vai ser bravíssima quando e se forem capturados, e que na pior das hipóteses, o país não existirá mais. 

O exército bombardeou "seus próprios concidadãos" em Damasco e Alepo?
Bombardeou, sim, mas não necessariamente seus concidadãos, e continua bombardeando.
Primeiro os aviões fizeram vôos dissuasivos e depois atiraram para proteger os soldados que estavam no solo.
Sem falso moralismo, qualquer general teria dado a mesma ordem. As forças da OTAN estão cansadas de fazer o mesmo nos países estrangeiros que ocupam.
É ingenuidade ou cinismo esperar que Assad ou qualquer outro em seu lugar assistisse de braços cruzados à tomada da segunda cidade do país por grupos carregados de artilharia pesada que Bashar considera como o mal encarnado.
Bashar sabe que grande parte destes batalhões "rebeldes" são terroristas estrangeiros. Os EUA abriram a porta para a banalização do termo, agora é difícil contestar o uso devido ou indevido do mesmo. Dito isto, alguns destes grupos são mesmo aterrorizantes e aterrorizadores. 

Os russos também acham que um dos grupos que o Qatar e a Arábia Saudita estão armando, consciente ou/e inconscientemente, é o Jabhat Al Nusrah, o braço armado do al-Qaida na Síria. O que é bem provável, pois as armas que são contrabandeadas para o território são entregues de maneira aleatória.
Aliás, o fotógrafo holandês Jeroen Oerlemans, detido no dia 19 de julho no norte da Síria com o britânico John Cantlie, afirmou que no campo de rebeldes em que foi capturado não tinha nenhum sírio. Eram todos africanos e tchetchenos cujo objetivo não é estabelecer a democracia e sim uma charia draconiana, contrária ao atual islamismo moderado que predomina na Síria.
É verdade que há "rebeldes" que nem falam árabe, e se falam, é de outras paragens.
O que prova que Assad não está assim tão paranóico. Está convencido que quando atira, é contra "forças do mal", e argumenta que se os rebeldes "não tivessem sido e não estivessem sendo abastecidos em artilharia, o exército nacional não teria de responder aos ataques com potência bélica máxima."
Ele jamais entregará Alepo e Damasco sem lutar até não poder mais.
E sem ele, quem teria de lidar com os "rebeldes" estrangeiros - terroristas ou mercenários - seria um novo governo fragilizado.

Personalidades importantes abandonaram o navio que está naufragando? Abandonaram. A última foi Lamia al-Hariri. Nada mais nada menos do que a sobrinha do vice-presidente Farouk el-Sharaa. Aproveitou uma viagem oficial a Cyprus na terça-feira para ficar por lá. Outros diplomatas já haviam pulado do barco - embaixadores na Alemanha, República Tcheca, Belarússia, Suécia, etc. - mas Lamia é peso pesado.
Antes dela a defecção mais significativa fora a do general de brigada Manaf Tlass.
O filho de Mustafá Tlass (Ministro da Defesa de 1973-2002) e amigo pessoal de Bashar (como o pai era de Hafez Assad) pôs-se há pouco a "denunciar" os crimes cometidos pelo regime como se jamais tivesse tomado parte de nada e que Bashar fosse um apavorante déspota solitário como Muammar el-Gaddafi.
Não é bem assim. Mas é verdade que Manaf andava ressabiado, insatisfeito com a repressão contra os seus. Exilou-se na Turquia no início do mês de julho e de lá tenta formar uma Junta Militar do estilo da que assumiu o poder no Egito pós-Mubarack.
É possível que Tlass, que há poucos meses era recebido em palácio como amigo para trocar ideias e lembranças da escola militar com o presidente, assim como os demais dissidentes, tenha abandonado o "navio Assad" ao naufrágio, a exemplo dos ex-ministros do déspota da Líbia, esperando colher os mesmos frutos que o famoso Comitê de Benghazi está colhendo após os rebeldes terem feito o grosso do trabalho.
Porém, já tem outro postulante ao "trono" que ainda está ocupado. É Riyad Seif. Este civil de 65 anos é dissidente de longa data. Na morte de Hafez el-Assad criou um comitê de reflexão sobre a democratização do país, mais tarde fundou um partido de oposição para quebrar a supremacia do Ba'ath, foi preso político de 2001 a 2006, depois brevemente em 2008 - após seu panfleto Declaração de Damasco - sob acusação de querer derrubar o regime. Voltou ao cárcere em 2011 pelo mesmo motivo. Seif é o candidato natural do Syrian National Council (SNC) a maior coalição anti-Assad, nos moldes do Conselho de transição de Benghazi.
O SNC deixa os partidos de esquerda meio inquietos por ser muito próximo de Qatar, Turquia e Arábia Saudita; por Robert Ford, ex-embaixador dos EUA na Síria ser membro chave do comitê estratégico deste;  e por causa da divisão interna entre liberais e islamitas, árabes e kurdos que o fragiliza.
Mas é com este Conselho que Kofi Annan negocia.
Os europeus privilegiam a alternativa da liderança conjunta ou única de Maflat Tlass por causa da lição aprendida no Iraque - para que a mudança seja feita sem danos irreversíveis, é preciso conservar membros do antigo regime no comando. Pois ninguém conhece o país melhor do que eles.
E neste caso, o melhor candidato à sucessão que já foi lançada pelos ocidentais é o general bonitão Manaf Tlass. Conhece o regime como a palma da mão, já que cresceu dentro do poder que o estabeleceu, o manteve, e além disso, foi confidente do "rei" cujo trono cobiça, "para o bem do país". Tem pinta dos célebres Comandantes Massoud e Che Guevara. Embora seja provável que lhe falte o idealismo desinteressado que animava ambos líderes revolucionários, talvez conseguisse arrumar a casa com seu punho forte.
Trocando em miúdos, a defecção de Maflat Tlass é importante, mas ele é sunita. O navio de Assad está naufragando, mas o naufrágio só acontecerá quando os líderes civis e militares alauitas o deixarem. Enquanto isto, muita água vai rolar, e o amigo da onça vai ter o tempo que precisa para mexer os pauzinhos e conseguir sentar no trono que ele sabe que vai vagar.
O tempo de Bashar el-Assad está contado?
Está, mas não em dias, em semanas ou meses. Dependerá de seu próprio estado de ânimo, dos russos, dos iranianos, dos chineses e da vontade real da população de tirá-lo. 
Damasco e Alepo lhe continuam fiéis. Mais por instinto de preservação do que por querê-lo no comando.
As minorias religiosas temem os salafistas mais do que a morte. Abandonaram suas casas em Homs - os dois bairros cristãos estão às traças - e estes 150 mil foram buscar refúgio em Damasco. O mesmo aconteceu nas demais cidadezinhas cujas minorias kurda, cristã, alauíta buscaram refúgio na capital e em Alepo.
Há 1 milhão e 500 mil cristãos na Síria - tem 47 igrejas e catedrais só na região de Alepo. E eles preferem ficar neutros. Embora como os palestinos - 500 mil refugiados no país - estão naquela do Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come; já estão desagradando todos os beligerantes.
Dezessete palestinos foram massacrados há poucos dias. Dizem que era um aviso de um dos dois lados para não apoiarem o outro. Estão em um beco sem saída.
Se apoiarem Bashar, cujo regime também deploram, são protegidos a curto prazo. Se apoiarem os rebeldes, perdem o apoio imediato de Bashar e ficarão totalmente à deriva.
Os palestinos sofrem pressão de todos os lados, pois embora Assad lhes tenha dado asilo político, eles são cristãos e sunitas moderados, próximos da Irmandade Muçulmana. Khaled Mechaal, o líder do Hamas já debandou no ano passado para outras paragens menos inóspitas, mas o problema continua o mesmo para seus milhares de compatriotas que continuam em solo sírio sem nenhuma possibilidade de irem para outro lugar.
Qualquer que seja o resultado desta peleja e acabe quando acabar, estas duas comunidades serão negativa e terrivelement afetadas. Talvez tenham inclusive de se refugiarem alhures.

Por enquanto, Bashar se mantém bem que mal com o apoio do exército liderado por oficiais alauítas que lutam mais por si mesmos do que por ele. Conhecem a história cíclica de vingança na Síria e quão pouco valerá sua vida quando forem derrotados. A selvageria da vingança no país a cada golpe de Estado é conhecida. O terror reina nas duas maiores cidades da Síria. 
Vale lembrar que Bashar não é auto-suficiente e nem o "líder máximo" que era Gaddafi. Foi atingido no círculo íntimo com a defecção de Tlass e com o recente assassinato de próximos, mas o governo não sofreu abalo. Pois não governa sozinho. Acima, ou ao lado dele, tem o tal comitê de oligarcas que herdou do pai. Um pouco como os aiatolás que são a eminência parda de Ahmadinejad - sem o fanatismo religioso destas autoridades, mas com ganância que não acaba.
A queda de Bashar será a deles, e esta é a principal razão de forçarem a barra.
Bashar é um tipo de testa de ferro da repressão e sobretudo da corrupção que permitiu que o regime se mantivesse. A família da mãe de Bashar lidera o tráfico de toda índole no norte do país. Aliás, a primeira desavença que o dissidente Riyad Seif teve com o regime foi econômica - dizem as más línguas que foi por isto que deixou o partido Ba'ath.
Em 2001 a família de Anissa Makhlouf, viúva de Hafez, obteve o monopólio da telefonia celular no país e Seif, que detinha a franquia da Adidas na Síria e talvez quisesse aproveitar do filão da telefonia, fez críticas acerbas à concessão "ilegal que custaria milhões e milhões de dólares aos cofres do Estado"; e sua rebeldia o levou ao cárcere. No final das contas, o problema foi o vil metal que os urubus não queriam largar.
Aliás, segundo os boatos, esta família está negociando "asilo" na França. Sem dúvida, pagando pedágio com os milhões desviados de seus concidadãos.
Como ao contrário de Gaddafi, Assad não é auto-suficiente - nem militar nem emocionalmente - continua na luta porque sabe que conta com o apoio de quem precisa. Sem estas pessoas que lhe são caras (em ambos sentidos) e necessárias (no sentido concreto e abstrato), já estaria pedindo asilo (se já não estiver...). Em Moscou ou São Petersburgo, pois o casal aprecia cultura - embora Serguei Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia, diga que seu país não cogita dar-lhes asilo.
Só que também ao contrário de Gaddafi, Assad não estava preocupado apenas em defender o poder conquistado pelo pai Hafez em 1971 em um Golpe de Estado.
Como já disse, governou rodeado de conselheiros, amigos e próximos do pai, dentre os quais, a maioria abusava da autoridade para enriquecer-se com tráficos diversos e variados - o norte do país é dedicado a esta prática. A ironia desta saga histórica síria é que Bashar el-Assad, que se facilitar é o menos mal desta "liga" venal e autoritária, no final das contas talvez seja o único a pagar o pato.
Não é que tenha as mãos limpas; longe disto. Mas na Síria há mãos muito mais sujas do que as de Bashar e é quase certo que os donos destas saiam ilesos e vão desfrutar de seus milhões em Paris, Nova Iorque, Londres, ou talvez até no que sobrar de Alepo e Damasco. 
Enquanto isto, embora só há pouco tenha começado a entender a proporção tomada pelo movimento de rebelião, Bashar conhece seu país melhor do que os estrangeiros que aplaudem os rebeldes sem interessar-se em saber de onde vêm e do que são capazes.
Ele vê o leão invisível e afirma que a rebelião é monitorada por potências e/ou organismos terroristas nocivos que querem destruir a Síria e sabe que os líderes do movimento que se encontram na frente de batalha não têm capacidade de governar nem o bairro em que nasceram, quem dirá Damasco e o país inteiro.
E é aí que a porca torce o rabo. Estava obcecado em assegurar a transição sem entender que já era tarde, a Inês é morta. Parece que a batalha de Alepo fez cair a ficha.
Entendeu que cometeu um pecado capital na defesa de Alepo e Damasco. Os helicópteros de combate chocaram os moradores que pensavam que suas cidades estivessem ao abrigo de ataques, que ele os protegeria da "desordem" das demais. Viram os tiros, a fumaça, e estão começando a questionar a capacidade de Assad de protegê-los, ou se têm de deixá-lo.
O terceiro fator que eu citara para a queda de Bashar el-Assad era o Adeus de Vladimir Putin.
Por enquanto ainda não é o caso.
Os colegas do Pravda, de Moscou, que normalmente veiculam a versão oficial, mantêm que Assad (e a Rússia) têm de salvar a Síria do batalhão (60.000, segundo seus cálculos) de "terroristas" que atravessaram as fronteiras da Jordânia e do Iraque para derrubar o regime e instalar o caos.
É também o que pensa Bashar el-Assad. É por isto que em vez de ir refugiar-se na Rússia, seguindo o exemplo de Ben Ali que foi parar em Ryad, continua em Damasco defendendo a "integridade do único país árabe que desafia os EUA e protege os refugiados palestinos, iraquianos e dos demais países vizinhos".
A Rússia e a China, visceralmente contrárias à ingerência estrangeira em conflitos domésticos, continuam vetando a intervenção da OTAN e criticando a "política irresponsável de armar rebeldes que ninguém conhece".
Não é que estes dois países prefiram que o presidente da Síria massacre seus compatriotas. É que acham que se a revolta fosse realmente popular como foi na Tunísia e no Egito, com armas ou sem armas Assad cairia, cedo ou tarde, sem jorrar tanto sangue nas ruas de Homs, Alepo e Damasco.
A situação evoluiu nas últimas semanas, os rebeldes estão cada vez mais bem armados, e além das armas, tem chegado muita droga pesada nos batalhões improvisados de jovens que estão consumindo heroína como se fosse um coquetel de proteína que os mantenha alertas com a mão no gatilho pronta para atirar no que move.
Em alguns lugares, a impressão que se tem é de estar em um conflito na África cheio de crianças-soldados alimentadas a anfetamina para que seu lado humano racional deixe lugar à animalidade que leva aos atos atrozes dos warlords.
Parece incrível que um país como a Síria, de tradição hospitaleira e culta, esteja mergulhado em tal caos material e humano.
Dói-me a alma ver Alepo e Damasco despedaçadas e tanta gente morta - de ambos os lados.
Hillary Clinton e Barack Obama queriam derrubar Assad para atingir o Irã que abominam ainda mais do que a Síria, e estão conseguindo destruir o país. E com ele, certamente a democracia religiosa que primava, a convivência pacífica entre as comunidades e a cultura da qual os sírios tanto se orgulham, ou orgulhavam.
O comando das forças rebeldes no terreno está esfacelado. A palavra de ordem das forças estrangeiras é destruição e o motor dominante é um ódio explicável apenas pelo fato da Síria não lhes abrirem as portas comerciais e querem os Golã de volta.
Os rebeldes sírios não estão e não são preparados para governar nem uma cidadezinha.
Os grupos estrangeiros infiltrados querem  poder ditatorial para instalar um regime obscurantista e o caos.
O que farão quando derrubarem Assad e se derem conta - se o efeito da droga passar e a dependência ainda não estiver arraigada - que as elites que dirigiam o país foram assassinadas ou fugiram de mala e cuia para longe de Alepo e Damasco?
Eu disse que não há comando dos rebeldes, mas não é exato. Comando há, mas é um comando extremista que os universitários que aderiram ao movimento renegam. Estes maus-elementos tomaram as rédeas e por incrível que pareça os EUA e seus aliados sauditas, que admitam ou não estarem armando estas pessoas incontroláveis, estão para entregar o país, de mãos beijadas, a esta ala radical do islamismo.
Se não ao Nusrah e companhia, aos salafistas, uma oposição à Irmandade Muçulmana. Embora esta tenha começado o movimento de revolta para vingar o massacre cometido por Hafez el-Assad em Hama, seus rivais os foram descartando e de repente começaram a cantar de galo e botá-los pra escanteio.
Eu havia dito também que os extremistas estavam dominando e que ao contrário do que se pensava, os rebeldes não tinham todos boas intenções.
A elite religiosa e militar que se opõe a Assad e tem a cabeça no lugar está exilada, e quando a coisa apertar, muita água vai rolar até que consigam chegar a Alepo e Damasco.
O plano é levar o SNC para dentro da Síria para que cheguem rapidamente em Damasco e Alepo quando Assad entregar os pontos. Antes dos rebeldes armados passarem à "caça às bruxas" e porem as cidades abaixo.
Tomara que consigam.   
As ONGs de Direitos Humanos já receberam cerca de duzentas queixas de estupro de mulheres nas imediações de Homs, e embora alguns estupradores sejam soldados de Assad, a maioria não usa farda.
Notícias contraditórias indicam de vez em quando que Bashar está ao ponto de fugir da capital, mas boatos não faltam. Espontâneos ou fabricados, eles correm por toda parte.
Inclusive que o quiet american pode aproveitar a confissão de Bashar da posse de armas químicas para soltar um das suas e deixá-lo levar a culpa. Assim como certos massacres anunciados aos jornalistas antes que aconteçam, como se fossem com o único objetivo de carregar ainda mais o processo contra Assad. Esta é uma teoria do jornal russo Pravda. 
Eu só tenho uma certeza. A Síria inteira está ferida com esta guerra civil que poderia ter sido evitada se os "rebeldes" não tivessem sido armados, se os interesses dos EUA imediatos não fossem de se livrarem da única voz de oposição e único governante árabe que contestava sua política no Oriente Médio, se a Síria não advogasse a causa palestina e não quisesse recuperar os Golan que Israel ocupou e não quer devolver nem a pau, se os EUA não quisessem atingir o Irã por tabela e se Assad tivesse peitado os oligarcas e democratizado o país após a morte do pai.
Mas a realpolítica não é de SIs e sim de fatos.
Os fatos são que Bashar anunciou no dia 26 a criação de uma Corte Anti-Terrorismo em Damasco. Segundo a mídia local, ela julgará casos relacionados com atos terroristas e a implementação de sentenças.
A arbitrariedade continua, legalizada. Mas aí também Assad não inventa nada. Inspira-se nos atos institucionais estabelecidos e praticados nos EUA nos últimos 11 anos na paranóia do terrorismo.
A crise na Síria já se estende por 17 meses e Washington parece ter se conformado a armar os rebeldes, prestar apoio logístico - assistência médica, comunicação, inteligência, em vez de intervir diretamente como na Líbia. Mas já causam muito estrago por tabela.
Talvez por acatar o diagnóstico do vizinho que conhece a Síria melhor do que ninguém. O ministro das relações exteriores do Líbano, Adnan Mansour, disse para quem quisesse ouvir que a intervenção militar estrangeira e a invasão da Síria seriam um desastre. Falou no vazio.
A Liga Árabe levantou a hipótese da criação de "áreas de segurança" no país que permitissem a instalação do SNC, mas Lavrov que conhece melhor o terreno disse logo que esta missão era impossível.
Enquanto isto a luta em Alepo continua. E Assad sua.
Para diminuir as perdas e não agravar o avanço estrangeiro, o ideal seria que Bashar peitasse a junta oligarca e entregasse ou dividisse as rédeas com Ryiad Seif e Maflat Tlass para que transição se fizesse com a limpeza necessária dos extremistas simpatizantes de um líder chamado el-Bagdadi e do al-Qaeda.
Alepo está sofrendo demais. A Síria inteira. Há mais de dezessete meses.
Mas Assad insiste que tem primeiro de limpar a casa. Limpeza cara. Mas concordo com ele porque o país está impregnado de para-militares vestidos de preto, de olhos injetados de ódio e de sabe-se lá o que mais. Que dão medo. Se Obama os visse, pararia de dizer lorotas e tentaria ver as coisas como são e não como deseja que sejam.

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