domingo, 7 de agosto de 2011

É bonita a festa, pá


Após o Sabat, milhares de isarelenses saíram às ruas ontem para protestar contra
as consequências do neoliberalismo que estrangula a classe média do país
No domingo passado começou uma onda de protestos em Israel que foi escalando como nos países vizinhos e culminou em uma passeata imensa que ontem mobilizou cerca de 300 mil vozes revoltadas com o aumento do custo de vida. 
Tendas em Tel Aviv
para protestar contra o custo de vida

O levante cívico começou no dia 14 de julho no mesmo estilo da Primavera Árabe. Através do Facebook, quando Daphne Liff, de 25 anos, escreveu sobre seu despejo e a impossibilidade de encontrar apartamento abordável em Tel Aviv. Razão pela qual tinha se mudado para uma tenda.
Primeira passeata em Tel Aviv no domingo passado

De repente a indignação sacudiu o país inteiro. A classe média não se conforma com a perda de poder de compra e do acúmulo de riqueza nas mãos de um punhado de privilegiados. Protegidos pela política do governo atual de extrema direita.
Israel foi alicerçado no modelo social da esquerda européia, mas de uns anos para cá, Biniamyn Netanyahu decidiu pôr em prática a doutrina do choque de Milton Friedman e aconteceu o previsível. Ou seja, o resultado foi o mesmo dos outros lugares em que esta linha econômica é aplicada provocando um empobrecimento da maioria da população e o enriquecimento desmesurado de um punhado.
Mas os 150 mil manifestantes do dia 31 que duplicaram uma semana mais tarde e tendem a crescer nos próximos dias com participantes de todas origens e idades, demonstraram que apesar de todas as medidas anti-democráticas que o governo de extrema direita vem tomando, cedo, melhor do que tarde, vai ter de escutá-los:
Neoliberalismo, não, obrigado.

Telão no Cairo
para assistir ao processo do ex-ditador Hosni Mubarak
Enquanto isto, a Primavera Árabe, que começou seis meses atrás pelas mesmas razões, em um movimento revolucionário espontâneo que se alastrou da Tunísia ao Egito e a outros países da região, voltou a esquentar em Verão.
Meses atrás, em Tunis e no Cairo resultou no impeachment dos dois ditadores que há décadas reinavam, mas as mudanças estão sendo mais lentas do que as populações destes dois países esperavam.
É por isto que seis meses depois, os tunisianos e os egípcios voltaram a ocupar as ruas das principais cidades para lembrar aos substitutos provisórios que a traição que está acontecendo é inadmissível e que as promessas de mudança política e econômica têm de se cumpridas.
Foram repelidos a gás lacrimogênio e a cassetada como se nem o direito de manifestar tivessem conquistado.
Exigem, além da fome ser saciada, as prometidas eleições democráticas. Estas deveriam acontecer neste outono, o mais tardar em novembro, mas foram adiadas sem data fixa.
Os jovens que reocuparam a praça Tahrir, no Cairo, por exemplo, caíram na real e acusam o SCAF (Conselho Supremo das Forças Armadas) que assumiu o poder pós-Mubarak de proteger aliados deste que estão obstaculando uma mudança real do regime. 
O ex-ditador egípcio Hosni Mubarak atrás das grades
Eu duvidava que a promessa feita sob pressão popular era vã ou vaga. Mas como gosto de ser otimista, esperava que a moral prevalescesse, que o general Mohsen El-Fangari e o primeiro-ministro interino Essam Sharaf tivessem palavra e que o povo conseguisse a vitória desejada na data marcada.
Que nada. Vai demorar, mas depois de todo esforço para chegar onde chegaram, os jovens não estão dispostos a esperar sentados. Além das eleições, querem uma condenação formal de Mubarak no Tribunal.

Protestos na Síria reprimidos a gás, cassetada e bala 
Como se sabe, os outros países atingidos pela onda de anseio democrático e de revolta contra o custo e/ou as condições de vida foram Jordânia, Bahein, Yêmen, Síria e Líbia. Alhures (Arábia Saudita, Argélia), o poder de “persuasão” funcionou antes das ruas virarem realmente públicas.
Em que pé estão os países cujos ditadores ou governos não foram destituídos?
Recente protesto no Yêmen.
O único lugar em que as mulheres estão invisíveis,
 mas ativas.

Bahrein, desertado pela mídia.
Por que os revoltados são xiitas?
Na Síria e no Yêmen os respectivos ditadores estão botando pra quebrar cada vez que o povo sai às ruas para recusar as magras mudanças propostas.
No Bahrein não se fala, mas na Síria já se contam dezenove mortos, no Yêmen sete, e dezenas de feridos mais ou menos grave.
Contudo, o povo continua determinado a conquistar melhores condições de vida e liberdade.
Na Jordânia, vira e mexe Amman volta a inflamar-se contra a corrupção e pró-reformas econômicas rápidas. O rei Abdullah ainda matem sua popularidade e pôs vários curativos nas feridas sociais, mas a cura é árdua e mais demorada do que o povo está disposto a aceitar.
A situação dos revoltosos se complica na Síria, Yêmen e Líbia porque estes são regimes em que a rede de milícias são muito bem organizadas, armadas e financiadas.
Nestes países os mercenários, soldados e oficiais gozam de privilégios infinitamente inferiores aos das famílias que dão as cartas, mas querem mantê-los custe o que custar. Sabem quão grandes são os riscos que correm caso não os sirvam mais.
As milícias são bastante doutrinadas, como os GIs. E são leais a Assad, a Saleh e a Kadhafi. Estão dispostos a todos os atos e sacrifícios para manter suas mordomias. 
Um dos grupos rebeldes na Líbia

A Líbia virou uma guerra de propaganda, com jornalistas que seguem os rebeldes, outros localizados em Trípoli e os patrões da mídia divulgando as notícias de seu próprio interesse. Hoje nenhuma informação que filtra pode ser lida como verídica. O fato é que quem está sofrendo é a população civil que tem sido alvo fácil para as milícias de Khadafi, dos rebeldes e da OTAN. Sem contar as mulheres que têm sido estupradas por ambos os lados. "Arma de guerra” comum por causa da humilhação em curto, médio e longo prazo que este ato acarreta.

Em Jaffa, protesto conjunto de israelenses e palestinos
 contra demolição de casas
Enquanto as ruas de Tel Aviv se lotam de jovens e menos jovens indignados, Binyamin Netanyagu, o alvo do desagravo, atacou uma outra frente mais preocupante (?).
Em uma última tentativa de bloquear a moção de reconhecimento da Palestina na ONU em setembro, ele disse que se a Autoridade Palestina concordar em retirá-la, ele concorda em retomar as negociações.
Porém, como se sabe que Netanyahu é contrário ao reconhecimento das fronteiras de 1967, condição sine qua non para o Estado palestino ser viabilizado, a pergunta que corre é esta: O que ele pretende negociar, se não for a retirada dos colonos, a retirada das tropas e dos check points, a derrubada do muro que invade a Linha Verde, a devolução do vale do Jordão e o fim do bloqueio e do bombardeio constante de Gaza?
As ONGs de direitos humanos vêem esta nova investida como uma manobra de Netanyahu e Obama para bloquear o reconhecimento da Palestina na ONU.
Porém a artimanha dos dois países foi recebida em Ramallah com um ceticismo de gato escaldado: Se ouvirmos da boca de Netanyahu que Israel aceita os dois Estados com a fronteira de 1967 e o gelo das colônias, aí sim voltamos a negociar”.
Se não, vai ficar mesmo nas mãos da ONU.
Mas o que Netanyahu teme mesmo é que a revolta interna dos jovens israelenses contra a Doutrina do Choque que ele aplica em casa entre em fase com a dos palestinos para a criação de seu Estado.
É no dia 20 de setembro que a ONU deverá votar o reconhecimento do Estado da Palestina e há uns dias começou uma campanha em toda a Cisjordânia para uma passeata massiva nessa data fatídica.
A campanha está sendo chamada “Palestina 194” devido à esperança do povo de tornar-se o 194° membro das Nações Unidas.
Se isto acontecer no voto da Assembléia (superior a dois terços) e os Estados Unidos bloquearem a efetivação do Estado, Israel ficará ainda mais isolado e o governo com problemas internos e externos mais graves.
IDF abre fogo contra refugiados palestinos nas fronteiras
 no dia da Naqba
Conforme a situação no dia 20, as passeatas poderiam transformar-se em um levante, puro e simples. Tanto do lado de cá e do lado de lá do muro da vergonha quanto nas fronteiras do Líbano e da Síria, onde os refugiados palestinos já foram contidos pelos soldados da IDF (exército israelense) com gás e bala no dia da Naqba. Enterrados os mortos e medicados os feridos, eles estão prontos para voltar à carga (ou tentar voltar para casa) no dia 20 de setembro.
Teme-se o pior, devido à força crescente da extrema-direita no Knesset e a clara divisão da sociedade israelense entre sionistas radicais e democratas liberais.
E tudo isto poderia ter sido evitado pela própria ONU, se em 1948 tivesse reconhecido não apenas um, mais os dois Estados, nas terras que eram palestinas.





Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/
Ação do BDS contra o Carrefour na França e na Bélgica: youtu.be/dWFlRDfcxYQ;http://youtu.be/ZRBZ2dopQfk;
http://www.bigcampaign.org/


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