domingo, 4 de maio de 2014

Israel vs Palestina: História de um conflito LV (06-08 2006)

Entre março e maio de 2006, a IDF lançou mais de 5.000 mísseis na Faixa de Gaza matando oito pessoas e ferindo muitas mais.
Mas o que mais afetou a Palestina foi Abu Mazen (Mahmoud Abbas) sucumbir às pressões estrangeiras e combater o Hamas na Faixa de Gaza até aliená-lo do processo democrático. Dividir para reinar, era a estratégia isaraelo-estadunidense. E reinariam.
Os palestinos divididos e a IDF atuando onde queria.
No mês de junho de 2006, o sangue começou a jorrar na areia. No dia 09, na limitada praia da estreita Faixa.
O "incidente" que ficou conhecido na mídia por Gaza beach blast, levou mais de trinta gazauís ao hospital com ferimentos graves e causou a morte de oito pessoas. Sete da família Ghaliya: Ali, de 43 anos; Raisa, 36; Alia, 24; Ilham, 15; Sabrin, 7; Hanadi, 2; Haytham, 8 meses.
Era difícil imaginar um enredo diferente do envolvimento direto de Israel e os palestinos logo apontaram para a IDF, as Forças israelenses de ocupação.
O "incidente" surpreendeu a mídia e ganhou bastante espaço. Talvez por envolver uma mesma família, mas sobretudo por causa da vídeo que mostrava uma das sobreviventes, Huda Ghaliya, de 11 anos, vagando desesperada entre os corpos inertes de sua família, em um piscar de olhos, dizimada.
A vídeo foi vista por jornalistas e rodou todas as televisões do mundo. Nem todas mostraram as imagens, mas a imprensa estava informada. Em um piscar de olhos Huda virou o símbolo do martírio palestino e a IDF foi por algumas horas e dias vista como a máquina de guerra calculada e fria que é desde seus primórdios; quando foi calcada no grupo para-militar terroristo-sionista Haganah.
Diante do escândalo na mídia, Israel foi obrigado a dar satisfação à opinião pública interrnacional.
Com o cinismo e a arrogância da impunidade que lhe são peculiares, primeiro assumiu a responsabilidade. Depois tentou livrar a cara alegando inocência, "investigando" o crime com o pragmatismo de praxe e terminando como sempre se exonerando de toda responsabilidade.

O fato é que entre 16:31 e 16:50 desta tarde de verão do dia 9 de junho de 2006 em que a família Ghaliya foi à praia divertir-se e tomar um solzinho, a IDF estava fazendo um "exercício" de tiro habitual durante o qual lançaram 8 mísseis na praia de Gaza.
Isto é um fato comprovado e admitido.
Apesar disso, a "investigação" israelense acabou inocentando suas Forças Armadas e acusando o Hamas de ter deixado na praia minas que a IDF havia previamente jogado.
É surreal. Mas o que não é surreal nesta ocupação interminável?
A ONG Human Rights Watch e o The Guardian, que fizeram investigação paralela independente, contestaram o veredito de Tel Aviv com autoridade. Havia um grande lapso no relatório divulgado. Lapso facilmente detetado para quem se desse ao trabalho de lê-lo em vez de ater-se a comunidados oficiais emitidos pelos prováveis culpados.
O relatório em questão omitia dois mísseis navais 76mm encontrados na praia e que a IDF garantiu que haviam caído longe demais da família para ter causado tanto estrago.
Nem o jornal inglês nem a ONG de Direitos Humanos engoliram a impostura e diante de sua tenacidade, Tel Aviv resolveu servir à mídia outra versão menos inverossímil.
O novo comunicado de imprensa dizia que a explosão talvez pudesse ter sido causada por um míssil 155mm lançado anteriormente, que não explodira na hora e sim naquele momento tardio.
Contudo, ao contaminar a mídia com esta "informação fidedigna", a IDF continou a tentar exonerar-se dos assassinatos insistindo em dizer que o tal míssil adormecido teria sido usado pelo Hamas como mina...
O mais interessante, para não usar adjetivo menos elegante, é que mesmo que fosse um míssil adormecido era assim mesmo um crime horrível. Pois a praia de Gaza, vigiada noite e dia por ar, mar e cercada de muro em determinado lugar, é frequentada por famílias e pescadores. Portanto, os mísseis que são jogados lá têm o único objetivo de tirar vidas civis e nada mais.
Mas isto era irrelevante. Os sucessivos governos israelenses têm capacidade ímpar de transformar verdade em mentira e mentira em verdade sempre livrando a cara e seguindo em frente, ganhando terreno.
Para desencargo de consciência, desta vez, quatro sobreviventes da família, três irmãs e um irmão foram tratados no Tel Aviv Sourasky Medical Center, em Tel Aviv, e no Soroka Medical Center de Be'erSheva.
Um deles, Adham Ghaliya, recebeu tratamento inclusive nos Estados Unidos. Encontraram no menino de 12 anos a prova indiscutível do crime da IDF: fragmentos de shrapnel israelense.

File:Shrapnel shell.gif
(Henry Shrapnel foi um tenente-major do Exército britânico que em 1783 inventou o que chamou de  spherical case, uma mina anti-pessoal que seria usada em abundância na Primeira Guerra Mundial.
Atualmente o nome shrapnel é usado indiscriminadamente para certos mísseis de fragmentação. A bomba de fragmentação atual é uma arma terrível (que o Brasil também fabrica) que a certa altura do lançamento "pare" bombinhas, seu alcance se multiplica e sua letalidade se prolonga além do momento em que é detonada. Continua aleijando e matando dias, semanas, meses e anos mais tarde. Neste ano de 2006, Israel estava pronto para usar um monte delas no Líbano. Não brasileiras. Fabricadas nos Estados Unidos.)
Voltando à explosão da família Ghalyia em Gaza, no final das contas, Marc Garlasco, investigador independente contratado pelo HRW concluiu que os fragmentos tirados do corpo de uma das vítimas eram mesmo de shrapnel da artilharia israelense.
Até o Times (o original, de Londres) publicou declarações das lacunas e contradições do tal relatório de Tel Aviv.
Enfim, até a TV Channel 10, de Tel Aviv, relatou este fato incontestável no dia 19 de junho. O Porta-Voz da IDF só respondeu que "Unfortunately, Channel 10 persists in publicizing falsehood despite having been given the true facts."
Foi a voz dele que foi ouvida nas instâncias internacionais, onde o Gaza Beach Blast acabou passando por um "acidente" que logo seria arquivado junto com dezenas de outros semelhantes perpetrados por Israel, irrelevado e esquecido.

Ehud Olmert parecia determinado a seguir a linha dura dos ex-primeiros ministros generais Ehud Barak e Ariel sharon que o precederam. Continuou inclusive a campanha de assassinatos de líderes palestinos.
Foi assim que a IDF lançou no dia 13 de junho um míssil em uma van carregada de resistentes e foguetinhos na rua de um bairro residencial de Gaza. Mataram 11 pessoas. Só dois eram engajados na luta armada. Os outros nove eram passantes.
No dia 20, a IDF voltou à carga. Desta vez lançando um míssil que matou três civis dentro de um carro no campo de refugiados Jabaliya.
Em duas semanas Israel matou 20 civis e feriu gravemente o quíntuplo. Mas isto não era considerado atentado terrorista como eram rotulados os atendados dos bombas-suicidas palestinos. Era "direito de defesa". Como se invasor-ocupante, além de ser isento de tais crimes, ainda gozasse de prerrogativas negadas ao povo oprimido do país invadido.
A história contemporânea da Palestina é mesmo surreal em todos os sentidos.

No dia 24 a IDF continuou as agressões enviando um batalhão na Faixa para capturar dois jovens, Osama (31 anos) e Mustafa Muamar (20), sob a acusação de serem membros do Hamas.
(Na época, o professor do M.I.T. Noam Shomsky declarou em entrevista que os dois palestinos eram civis, o irmão mais velho, médico.)
Esta foi a primeira operação militar terrestre de Israel na Faixa de Gaza desde a evacuação das colônias/invasões judias em setembro de 2005. Os gazauís no começo ficaram sobressaltados e no fim, humilhados.
O troco seria dado no dia 25 de junho.
Resistentes palestinos contra-atacaram, mas não visaram civis e sim militares.
Um grupinho se arrastou por um túnel (cavar um túnel destes demora de 3 a 6 meses) que levava ao outro lado, surpreendeu uma mini-base da IDF fora da Faixa, houve um combate, a IDF perdeu dois soldados, quatro foram feridos e um capturado. Este ficaria célebre como se fosse herói de guerra e não um rapaz perdido no turbilhão da ocupação como centenas de israelenses de sua idade.
No dia seguinte as Brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas, os Comitês Populares de Resistência (que engloba Fatah, Jihad, Hamas) e o Exército do Islã, um grupo até então desconhecido, divulgaram um comunicado oferecendo informação sobre o cabo Gilad Shalit com a condição de Israel libertar dezenas de prisioneiros palestinos. A lista continha os nomes de todas as mulheres e todos os meninos menores de 18 anos.
A resposta de Ehud Olmert foi peremptória: "There will be no negotiations to release prisoners. The government of Israel will not give in to extortion by the Palestinian Authority and the Hamas government, which are headed by murderous terror organizations. The Palestinian Authority bears full responsibility for the welfare of Gilad Shalit and for returning him to Israel in good condition."
E como sempre, Israel ficou com o papel de vítima porque um único soldado seu estava nas mãos do inimigo ocupado.

Desde 1967, Israel deteve em seus presídios 650.000 palestinos de 12 a 75 anos. Isto representa 20% da população total dos territórios ocupados e 40% da população masculina. Toda família palestina já teve pelo menos um familiar preso por razões tão absurdas quanto um menino de 12 anos estar com traque no bolso para brincar com os amiguinhos. Por este "crime", fica preso pelo menos seis meses, sofre abusos, e sai traumatizado para toda vida.
Na época da captura do soldado israelense havia 8 mil prisioneiros palestinos em presídios israelenses. Por volta de dois terços haviam sido condenados em julgamento por delitos de resistência e cerca de 800 mil estavam presos sem nenhuma acusação formal. Muitos destes eram mulheres e meninos.
Em maio deste ano de 2006, o conjunto de prisioneiros políticos palestinos havia lançado um apelo de conciliação entre o Fatah e o Hamas que em Tel Aviv havia preocupado os arquitetos da divisão. Paz na família palestina era a última coisa que o governo de Israel queria, pois fortaleceria o ocupado. Olmert "tinha" de provocar uma nova dissenção. É o que faria. Em setembro, o Hamas e o Fatah se enfrentariam na Faixa de Gaza em um conflito fratricida que por pouco não virou uma guerra civil irreversível.

No dia 29 de junho, a IDF lançou o seguinte comunicado sobre seus planos para a Faixa de Gaza. Early this morning, July 29, 2006, the IDF began engineering work in the Erez industrial area in the northern Gaza Strip in order to thwart terror threats and to discover tunnels and explosive devices in area. In addition, the IDF carried out aerial attacks against a structure used by Hamas to store and manufacture weaponry in Gaza City, as well as a tunnel located along the Israeli-Egyptian border near Rafah in the southern Gaza Strip. Prior to the attacks on these targets, in order to ensure the safety of the residents of the Gaza Strip, the IDF warned the population not to stay in structures that are used by terrorist organizations for storing weapons. Terrorist organizations operate from within civilian population, while cynically exploiting uninvolved civilians and using them as human shields, exploiting their homes to store weapons and launch rockets at Israeli towns from populated areas. The IDF will continue to act with determination against terrorist organizations and terror infrastructure in order to create the conditions for the return of Corporal Gilad Shalit and to stop terror attacks and the launching of missiles against Israel

O comunicado era mais uma maneira da IDF contra-informar assumindo o papel de defensora dos gazauís em vez da opressora e agressora que era.  Aliás, uma nova agressão começara no dia anterior e como não dava para escondê-la da mídia, criaram uma estória para disfarçá-la.
A nova Operação foi poeticamente chamada מבצע גשמי קיץ‎-Summer Rains.
Estas Chuvas de Verão consistiram de invasão militar da Faixa em potência máxima.
A desculpa foram os foguetórios Qassam lançados da Faixa no deserto do Negev, e o resgate do soldado Gilad Shalit.
Na verdade, o objetivo era esfacelar o Hamas e humilhá-lo para que o partido continuasse a antagonizar Israel e "justificar" as ações de ocupação militar. 

Desde a retirada das colônias judias da Faixa que a IDF bombardeava o território intermitentemente com seus mísseis e o Hamas respondia com os foguetes semi-artesanais. 
Durante as "Chuvas de Verão" as incursões militares aumentaram no solo e no ar em busca do soldado israelense" e de túneis no chamado Philadelphia Corridor.
O Corredor Filadélfia consiste de uma estrada estreita de 14 quilômetros entre a Faixa de Gaza e o Egito, sob controle de Israel desde o tratado assinado com Anuwar el-Sadat em 1979  e ratificado nos Acordos de Oslo em 1995. De um lado Israel patrulha e do outro o Egito, impossibilitando o trânsito de pessoas e mercadorias. Foi por isso, e é por isso, que os túneis constantemente cavados e bombardeados são essenciais à sobreviência da Faixa.
Como sempre acontece nas Operações militares israelenses, o primeiro alvo não foi nenhum foco de resistência e sim a única usina elétrica da Faixa. 
Os agressores não paravam de dizer que os mísseis e os caterpillars armados deixariam os gazauís em paz se o cabo Gilad Shalit fosse devolvido, mas sabiam que isto jamais aconteceria sem o pagamento de resgaste concreto em vidas. Só restava saber quantos prisioneiros palestinos seriam soltos e quando Israel cederia. 


No dia 26 de junho Ehud Olmert pôs suas Forças Armadas em pés de guerra. E esta começou na noite do dia 28. Tanques Merkava se alinharam no norte da Faixa e se preparam para tomar posições estratégicas na segunda fase da operação. Do ar, a IDF lançava milhares de panfletos em Beit Lahia e Beit Hanoun ordenando que os civis ficassem em casa para agirem à vontade.
Enquanto isso, ouviu-se uma explosão na cidade de Gaza e logo chegou a informação que um míssil havia sido jogado na Universidade.
A ofensiva duraria semanas, o verão inteiro, por ar, mar e terra.
Em duas frentes oficiais. 
A do norte, em Beit Lahia e Beit Hanoun contra a resistência que lançava os foguetes Qassan.
A do sul, em Khan Yunis, pelo Corredor Filadélfia, oficialmente, procurando o cabo sequestrado.
Do lado de lá da fronteira, Hosni Mubarak, avisado da Operação, em boa camaradagem mandou 2.500 policiais para a fronteira "para evitar que o prisioneiro isarelense fosse transferido para o Egito" e para evitar a entrada de famílias de refugiados. 
Após a destruição do primeiro alvo que deixou quase a metade da população no escuro, logo no início várias pontes, estradas, prédios administrativos que alojavam ministros do Hamas foram visadas e atingidas. Ameaçaram assassinar o recém-eleito Primeiro Ministro Ismail Haniyeh e chegaram a bombardear seu escritório no dia 02 de julho cedinho. 
Nesse ínterim, na Cisjordânia, os Popular Resistance Committees anunciaram que haviam capturado um rapaz da invasão judia Itamar e ameaçaram executá-lo se a invasão da Faixa continuasse. No dia seguinte agentes da Shabak encontraram Eliyahu Asheri morto a tiro. A IDF capturou quatro suspeitos pela morte e desapareceu com eles.
Segundo fontes militares, cerca de 8 mil soldados foram mobilizados e artilharia pesada foi usada para matar 80 palestinos e ferir centenas desde setembro de 2005. 
Do lado dos palestinos, cerca de 800 foguetes Qassam foram lançados em Isarel no mesmo período, sem vítima.
A Operação chuvas de Verão duraria a estação inteira sem que o prisioneiro fosse libertado. Em contrapartida, a IDF levou para Israel mais dezenas de palestinos presos, para não voltar com cara de tacho.
Porém, cumpriram com o objetivo oficiosos que era mesmo era de desestabilizar a Autoridade Palestina com alvos administrativos e desfalcar o Hamas. Sessenta e quatro membros do partido foram detidos. Dentre eles, oito ministros recém-empossados (cinco sequestrados em Ramallah) e 20 deputados. Eram só os primeiros.
O grupo de políticos sequestrados incluía o Ministro da Economia Abed Razek; o do Trabalho Mohammad Barghouti; de Questões Religiosas Nayef Rajoub; Muhammad Abu Tir, o número 2 da lista eleitoral do Hamas e deputado por Jerusalém; o prefeito e o vice-prefeito de Qalqilya. 
Os demais deputados e ministros do Hamas ficaram em liberdade porque se esconderam antes de serem sequestrados. 
Foi a maneira que Israel encontrou de vetar, fisicamente, o voto popular, e condenar o Hamas à marginalidade.

No dia 06 de julho, após bombardear o escritório do Primeiro Ministro palestino, as Brigadas Golani, sob o comando do coronel Tamir Yadai e com a poio aéreo dos caças penetraram na Faixa e reocuparam as ex-invasões civis de Dugit, Nisanit e Elei Sinai no norte da Faixa para usá-las como base de ataque de Beit Lahiya.
No dia 12, a IDF jogou uma bomba de 550 toneladas em um prédio em Gaza matando uma família de nove pessoas. O porta-voz da IDF justificou que eles estavam tentando matar um grupo de membros do Hamas liderado por Mohammed Deif e não sabiam que tinha uma família morando lá quando bombardearam.
E ficou por isso. Que os familiares e amigos cuidassem do enterro de cabeça baixa e engolissem a ira.
Os danos materiais foram estimados a mais de 15 milhões de dólares só nas instalações elétricas. Conforme a rede de ONGs palestinas de Meio-Ambiente, "The public health, safety and environmental hazards stemming from the damage caused to infrastructure as a result of this military operation include water shortages, contaminated remaining drinking water, uncontrolled discharge and untreated sewage flowing in the streets resulting in ground water pollution, pollution of agricultural land which gazans will now be unable to cultivate to harvest crops, negatively impacting their earning."

No mesmo dia 12, no norte, em resposta ao ataque de Gaza, membros do Hizbollah se infiltraram em Israel, mataram três soldados da IDF e capturaram dois. Na tentativa israelense de resgate, mais cinco soldados foram mortos.
Israel, com o consentimento dos Estados Unidos, retaliaria com toda sua artilharia.
No dia 14 de julho, centenas de gazauís desabrigados e cansados de ser bombardeados fizeram um buraco no muro e atravessaram com suas famílias para o Egito. Aí Hosni Mubarak, preocupado com o número de refugiados, ofereceu-se para mediar um cessar-fogo que não aconteceria.
A IDF continuaria martelando a Faixa durante o verão inteiro; matando, ferindo e levando centenas de palestinos prisioneiros. 
No dia 05 de setembro Ehud Olmert declararia que só encontraria Mahmmud Abbas para negociar a paz se o Hamas libertasse o soldado capturado.
Enquanto Olmert tentava enrolar Abu Mazen, a IDF continuava sua "limpeza" na Cisjordânia. Abaixo, em Nablus, no dia 19.

No dia 22 do mesmo mês, após ser perseguido, bombardeado e desfalcado de um terço de seus líderes políticos desde que ganhara as eleições, o Hamas, sem saída honrável possível, anunciou que não participaria de nenhuma negociação junto com um governo palestino que reconhecesse Israel. E Mahmoud Abbas ficou a ver navios.
Se após toda a repressão violenta dos últimos oito meses e os inúmeros parlamentares eleitos presos o Hamas tivesse concordado em encontrar Olmert, seus eleitores teriam se sentido traídos. Pois tinham sofrido horrores por terem exercido seu direito democrático de voto e já se sentiam traídos e punidos por terem feito o que o Ocidente queria que fizessem - votar. Tel Aviv e Washington sabiam disso. E Ommert, que fora prefeito de Jerusalém, só queria mesmo era uma desculpa para não parar o conflito e expandir sua área de ocupação civil na Cisjordânia.
Nesse ínterim, ou melhor, no mês de julho, aproveitando que a atenção do mundo inteiro estava voltada para a Copa do Mundo na Alemanha, Ehud Olmert, o Shabak e a IDF voltariam a descarregar sua ira no Líbano. Que na década de 80 já sofrera demais com a ocupação e a artilharia israelense sob o comando do general Ariel Sharon, "famoso" por causa de Sabra e Shatila.
Esta nova série de bombardeios e enfrentamento desproporcional entre Israel e o Hizbollah, para destruir também, sobretudo, os campos de refugiados palestinos fronteiriços, ficaria conhecida como a Guerra do Líbano. Versão 2006. Em que a tecnologia perderia vergonhosamente para meios artesanais da guerrilha. 
Enquanto isso, na Faixa de Gaza, a Guerra suja dos drones continuaria. Só de 2006 a 2011 Israel mataria 800 gazauís com essa arma desumana e covarde fabricada pela fábrica Elbit e outras da mesma laia.
Na Cisjordânia, a pedido de Zakaria Zubeidi, líder das Brigadas al-Aqsa em Jenine, em fevereiro de 2006 Juliano Mey-Khamis reabrira o Teatro da Liberdade, criado por sua mãe em Jenine após a Primeira Intifada. No dia 06 de julho a IDF tentaria sequestrar ou matar Zakaria durante um funeral. Zakaria escaparia em uma troca de tiros, mas seu tempo na resistência armada estava contado. 
Mas por enquanto, ainda estava atento aos ataques israelenses. Como o do Líbano e os da Cisjordânia e Faixa de Gaza.  


Depoimento do jornalista palestino premiado Mohammed Omeh

Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence  

"If you want to understand the policy of a country, look at the map! advised Napoleon.
What he meant was: Regimes come and go, rulers rise and fall, ideologies flourish and wither, but geography stands forever. It's geography that decides the basic interest of every state.
Vladimir Putin, heir of Czars and Comissars, looked at the map. Looked and picked up the telephone to invite the Hamas leaders.
A hundred years ago, the whole expanse from India to Turkey was a battlefield between Russia and the main Western power at that time - the British Empire. Adventurers, spies, diplomats and plotters of all stripes roamed the area. This contest was known as "The Great Game".
In time, the actors changed. The Bolsheviks took the place of the Czars, the American Empire succeeded the British. But the Great Game went on.
When the Soviet Union collapsed, it seemed as if the game had come to an end. Russian influence disappeared from the region. The Soviet empire dissolved, and what remained was too weak, too poor, to take part in the game. It had no jetons.
And now, with one stroke, Putin has changed everything. Inviting Hamas to Moscow was a gambit of genius: it didn't cost anything, and it put Russia back on the map of the Middle East. While the whole world was still puzzled and confused by the Hamas victory, Putin used the sharp scalpel of unemotional logic and made the first move of a new game.
This way, the new Czar of all the Russias exploited the weakness of his rivals. President Bush has got himself into a dismal position. When all the other pretexts for his bloody Iraqi adventure had evaporated into thin air, he raised a new flag: democracy in the Middle East. He imposed new elections on the Palestinians. In these elections, the most democratic one could imagine, the winner was - alas! - Hamas.
What to do? To declare that democratic elections are good only if they deliver the outcome we desire? 
To boycott the Palestinian authority, now the "Second Democracy in the Middle East"? 
To starve the Palestinians until they elect the "right" leadership?
Bush could, of course, recognize the elected Hamas government. 
But how could he do that? 
After all, the United States has put Hamas on its list of terrorist organizations - not only its military wing, but the whole movement, including the kindergartens and mosques. Now they are caught up in the Clash of Civilizations, the apocalyptic battle between the West and Islam.
Nothing to be done. America is a chess-player caught in a position of stalemate - unable to make any move at all.
Europe is in a similar situation. Like a mental patient in a straitjacket, it cannot move its arms. It put on this jacket itself. Under American and Israeli pressure, it put Hamas on its terror list, and thus condemned itself to total impotence in the new situation.
Putin does not laugh often. But now, perhaps, he may be permitting himself a thin smile.
The palestinians, too, are quite confused. In these elections they surprised themselves, and, no less, Hamas.
Inside Fatah, there are contradictory views about what to do. The good of the Palestinian people clearly demands a wide coalition, which would include all parties, in order to overcome the crisis and prevent a boycott of the Palestinian Authority by the world. 
But the narrow party interest of Fatah says otherwise: Let's compel Hamas to govern alone. It will break its head, the world will boycott it. After a year or two, the Palestinian public will return Fatah to power.
That's Realpolitik, but dangerous. During the one or two years, the Israeli government will enlarge the settlements, build more and more of the Wall, fix new borders, annex the Jordan valley - the sky is the limit. The reaction of the Palestinian public may be quite different from what the Fatah people imagine.
Hamas is also baffled. It knows full well that the elections were less an ideological breakthrough than a protest vote - more against Fatah than for Hamas. Now Hamas must gain the heart of the Palestinian people, and the people want an end to the occupation, and peace at last.
Hamas does not want the world to ostracize the Palestinian Authority and starve the population. But it cannot change its skin on the morrow of its victory. 
What will the Palestinians say if it suddenly declares that it is ready to recognize Israel's right to exist, to disarm and annul its charter? That it has sold its soul to Satan in order to enjoy the comforts of power? That it is as corrupt as Fatah?
If Israel and America wanted to lead Hamas towards a path of peace, they would ease its way towards the desired change. They could find mechanisms for the transfer of the money due to the Palestinians. They could be satisfied with an announcement that the new government is based on the Oslo Agreement (which includes the recognition of Israel) without demanding that Hamas humiliate itself in public. They could agree to a Hudna (armistice) for the transition period and put an end to all violent action by both sides. Hamas can be disarmed by including its fighters in the official security forces. And, of course, and most importantly - prisoners could be released.
But the present Israeli government shows no interest in making it easy for Hamas. And if the Israeli government is not interested, what American politician, if not bent on suicide, can say otherwise?
In Israel, the Hamas victory has not given rise to sorrow and lamentations. On the contrary. Israeli leaders could hardly hold back from dancing in the streets.
At long last, it has become perfectly clear that "There is No One to Talk With". 
If Yasser Arafat was no partner, and if Mahmoud Abbas was no partner, Hamas is the mother of all no-partners. Nobody can rebuke us for going on with "targeted killings", destroying the Palestinian economy, building walls, breaking up the West Bank territory, cutting off the Jordan  valley and generally doing whatever we feel like. And if, with God's help, Palestinian terrorism starts again, we can say to everybody: "We told you so!"
But in Israel, too, there is a lot of confusion. Under American pressure, Ehud Olmert was compelled to transfer to the Palestinian at least once the revenues that Israel has collected on their behalf. He was immediately attacked for "surrendering" to Hamas. Even this small act of surrendering stolen money has caused a political storm. The Israeli election, due to take place in 24 days, casts its shadow on everything.
Now comes Putin's daring step. He makes it easier for the Hamas leadership to moderate its stance - if it is ready to join the political game. He also makes it easier for the government of Israel - if the government of Israel wants dialogue and peace. And, above all else, he is announcing that Russia is back in the Great Game."
Uri Avnery, 04/03/2006

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