domingo, 20 de maio de 2012

Omissão, indiferença, consciência de genocídios: Armênia, Palestina...


Todo mês de abril as comunidades armênias espalhadas pelo mundo comemoram um dos maiores genocídios do século XX, cometido contra seus antepassados no canto do cisne do Império Otomano, na atual Turquia.   Como os armênios pouco investiram em lobby, esta data passa quase desapercebida.   Inclusive muitos amigos de descendentes de armênios forçados a imigrar para países como o Brasil pouco sabem do drama que os antepassados destes brasileiros viveram antes de chegar ao aconchego da nossa terrinha tupiniquim.   Para não deixar a data passar em branco e reviver em poucas palavras memórias recalcitrantes, eis alguns dados importantes que não hão de ser esquecidos só porque os armênios tentam perdoar o imperdoável sem clamar por vingança.
A despeito deste espírito de boa-vontade, eles gostariam que a Turquia reconhecesse oficialmente o genocídio e que os sobreviventes que vivem até hoje nesse país pudessem praticar o cristianismo fora de casa sem correr perigo.
O genocídio armênio foi praticado através de deportações e massacres bem organizados.
No final da marcha fúnebre de abril de 1915, Um a um milhão e meio de homens, mulheres e crianças perderam a vida por assassinato ou mau-trato crônico.
Porque eram diferentes ou cristãos, a razão é dupla ou vaga.
O certo é que a violência foi generalizada contra os cidadãos de todas as idades e de ambos os gêneros.
Abusos de toda ordem, estupros, execuções sumárias, privação de comida e água foram lugares comuns durante a "depuração" étnica cuja responsabilidade até hoje a Turquia nega.

Documentário Al Jazeera: Common Pain sobre os armênios na Turquia até 1915


O mês de abril foi o da lembrança do genocídio armênio e o de maio é o da Catástrofe palestina.
A Catástrofe/ Naqba foi desapossamento, expulsão, deportação de mais de 760 mil palestinos de casa e território - cujos descendentes compõem a diáspora atual de 4.7 milhões de refugiados.
A Naqba aconteceu no processo de criação do Estado de Israel em 1948 e atingiu mais de 60 por cento da população nativa. 
 Mais de 530 cidadezinhas foram despopuladas e dizimadas em operações para-militares nesse período.
Cerca de 160 mil palestinos ficaram para trás (hoje são mais de 200 mil). Foram "poupados" e são hoje cidadãos de segunda classe no que é o Estado de Israel (do qual constituem cerca de 20% da população atual). Foram desapossados de bens e moradia como os demais, mas "só" internamente deslocados e impedidos de retornar a suas cidades de origem e às casas de seus antepassados. Suas residências foram "transferidas" a imigrantes judeus, mas até hoje, como os refugiados vítimas do êxodo, guardam com o maior cuidado a chave de casa. 
Passeata Naqba em Amman, na Jordânia 
Passeata na praça Tahrir do Cairo, no Egito
Neste ano a Naqba gerou manifestações em países árabes - Jordânia, Egito, Líbano... - na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A repressão da IDF correu solta e deixou dezenas de feridos - em Gaza atiraram inclusive em uma criança que se aproximou de um checkpoint.
Mortos também não faltaram, de todas as idades, vítimas das balas de borracha e outros artifícios cada vez mais perversos e sofisticados que os israelenses usam à vontade para manter o regime de terror e a ordem de superfície nos territórios ocupados.

Documentário Al Jazeera: The Great book Robbery

Além de destruir vidas na criação de seu Estado, Israel destruiu também patrimônios arquitetônicos e culturais universais em sua campanha de ocupação territorial.
Durante a Naqba em 1948, por exemplo, bibliotecários da recém-criada Biblioteca Nacional de Israel acompanhavam os para-militares e soldados quando estes penetravam nas residências palestinas para despojar as famílias de seus pertences, vandalizarem suas moradias, expulsá-las e massacrá-las in loco ou em seguida.
Estes "civis" eram encarregados da pilhagem intelectual; de apreender o máximo de livros e manuscritos antigos que encontrassem.
No final do saque, 30.000 livros foram surrupiados em Jerusalém e 30.000 em Haifa e Jaffa.
Os israelenses apresentaram este desapossamento como "operação de resgate cultural" mas os palestinos o veem como "furto cultural".
Desde então as vítimas denunciam o confisco da herança cultural de seus antepassados, mas os israelenses se faziam de surdos e a comunidade internacional não agia por não ter prova concreta do saque.
Em 1998 um doutorando israelense "tropeçou" neste acervo estrangeiro durante sua pesquisa de tese no arquivo nacional e levou o fato ao conhecimento da imprensa e das autoridades.
As ONGs de Direitos Humanos israelenses andam fazendo duas perguntas às quais ainda não obtiveram resposta:
Por que este patrimônio cultural palestino ainda se encontra em cofres da Biblioteca Nacional de Israel?
Por que ainda não foi restituído aos proprietários legítimos?
"Se não for restituído, a operação não foi de preservação como foi dito, mas sim roubo, puro e simples," é a opinião que predomina na Tel Aviv pensante.

  
Al-NAQBA
http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2011/05/naqba-catastrofe.html
Al-Jazeera Listening Post: Nakba, rebels and reporters

Na véspera da comemoração da Naqba Netanyahu acabou se dobrando à negociação com os 2.000 grevistas de fome palestinos. Cedeu direitos magros que deveriam ser desde o princípio inalienáveis a um ser humano, mas já foi um passo bastante apreciado em Ramallah.
O "milagre" aconteceu por causa da perspectiva de passeatas gigantes incontroláveis na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e nos países limítrofes, cujas consequências a IDF e os serviços de segurança israelense temiam debaixo do pano.
Outro fator decisivo deve ter sido a ameaça do Hamas de retomar a resistência militar caso um só grevista perdesse a vida "na manifestação legítima de protesto".
O acordo intermediado pelo Egito e pela Jordânia aconteceu in extremis, mas a tempo de evitar a morte dos grevistas já moribundos.
As garantias foram poucas, mas suficientes para acalmar a onda de protestos que tomava proporções graves cujas consequências, do lado de cá e de lá da Linha Verde, apreendia-se.  
No papel, Israel prometeu o seguinte.
Embora os prisioneiros em "prisão administrativa" - sistema esdrúxulo que permite detenção sob "prova secreta", sem acusação formal e sem julgamento - continuem a cumprir penas, estas só serão renovadas se houver provas novas, ou seja, devidamente formalizadas. 
A outra "concessão" feita por Israel é de transferir para celas normais os inúmeros detentos em solitária - um dos maiores pontos de discórdia, pois este confinamento se devia a uma medida retaliatória que há meses caducara, já que era condicionada à libertação do soldado Gilad Shalit, preso em 2006 em Gaza e solto no ano passado.
Para não dar o braço a torcer e aproveitar para levar vantagem, Binyamin Netanyahu disse que seus esforços se inseriam em um contexto de retomada dos Acordos de Paz congelados e que suas concessões eram uma "resposta ao pedido do presidente palestino Mahmoud Abbas.. Esperamos que este gesto de Israel dê início à restauração de confiança entre as duas partes e aproxime a paz."
Naquela prática corrente de dar com uma mão fechada transformando a concessão esquálida em divina dádiva mediática e tirar com a outra arreganhada na discrição dos microfones desligados, concomitante ao comunidado do porta-voz de Netanyahu chegou um mais discreto do Shin Bet ("SNI" local), enfatizando uma "luz verde" das facções palestinas que os líderes dos prisioneiros assinassem "um compromisso de terminar as atividades terroristas dentro dos presídios.... Os prisioneiros pararão todas as atividades que constituem apoio ao terrorismo, inclusive recrutamento de pessoas para atividades terroristas, conselho, financiamento, coordenação e ajuda de recrutas, etc."

O Shin Bet não especificou como tais atividades vêm sendo praticadas, mas entende-se que além da suspeita das visitas dos familiares serem usadas para ativismo político, a falta de clareza visa a contra-informação habitual de justificar os maus-tratos e arbitrariedade nos presídios como necessários, e alimentar no inconsciente coletivo o fantasma dos atentados, embora estes tenham parado há sete anos.   O Protocolo, levado por um mediador egípcio, foi entregue aos líderes do movimento na prisão de Ashkelon no dia 14.
Na Faixa de Gaza houve manifestações de alegria de familiares dos presos que sairiam da solitária. Em Ramallah, a deputada Hanan Ashrawi declarou vitória para milhões de palestinos, " A magnífica coragem dos grevistas e sua generosidade são profundos exemplos de humildade. Eles demonstraram que a resistência não-violenta é um instrumento essencial na luta pela liberdade."
Hanan suspirou de alívio junto com toda a Autoridade Palestina que viveu dias de tensão enquanto os grevistas jejuavam. Temiam as terríveis consequências de Tha'er Halaleh e Bilal Diab, membros do Jihad Islâmico, não resistirem aos 77 dias de greve. As vidas dos dois homens estavam por um fio. Assim como qualquer perspectiva de paz futura.
Ao ouvir a notícia, um ativista de Direitos Humanos declarou que a ONU deveria forçar Israel a definir claramente o estatuto dos prisioneiros palestinos que são sequestrados no próprio território e jogados em cadeias temporárias ou presídios sem nenhum controle da Justiça Internacional e das organizações humanitárias.
"Se Israel definir que os prisioneiros são estrangeiros, são, por definição da Convenção de Geneva, prisioneiros de guerra e têm de ser tratados como tal e gozar do direito de vigilância das Nações Unidas.
Se definir que são prisioneiros locais, considerando os Territórios Ocupados como extensão do Estado de Israel, são então, por definição, prisioneiros políticos, já que seus 'crimes' são em protesto contra o status quo opressivo e repressivo que transforma seu quotidiano em inferno.
Uma coisa é certa, não são prisioneiros comuns e têm de ter direito a uma defesa além e aquém das fronteiras internacionais ".

Detentos palestinos em Israel, em 2012.
Apenas os números fornecidos pelo IPS (Israeli Prison Service).
Não inclui os prisioneiros detidos fora dos presídios, cujo número, lugar e condições de detenção são indefinidos.  
Mês
Dia
Prisão
Total
Cumprindo pena
Detentos
Detentos sob a
Lei de combate ilegal
Detentos em processo
Detentos
Administrativos
Abril
30
IPS
4,424
3,097
165
1
853
308
Março
31
IPS
4,386
3,125
145
1
795
320
Fev.
29 
IPS
4,411
3,213
164
1
713
320
Jan.
31 
IPS
4,357
3,215
156
1
676
309

Detenções aleatórias, horas a fio debaixo de sol e chuva nos checkpoints

 


 Tipos de tortura usadas em prisioneiros de todas as idades



Projeção do número e tipo de detenção nos últimos cinco anos. Fonte B'Tselem. 

Entrevista com o professor Noam Chomsky sobre a Greve de Fome dos prisioneiros palestinos

TED em Ramallah

PS. Netanyahu está furioso com a recusa do Comitê Olímpico de autorizar o "minuto de silêncio" solicitado por Israel em memória dos atletas israelenses assassinados em Munique em 1972.
Aí alguém explicou que se o Comitê concordasse em politizar o evento esportivo, seria obrigado a atender também às inúmeras reivindicações de boicote de Israel das Olimpíadas por desrespeito constante das leis internacionais na prática de apartheid e nas décadas de ocupação da Palestina com os estragos inerentes a estes atos arbitrários.
Aí os sionistas calaram o bico e continuaram suas barbaridades.   


“Since visiting Israel and the occupied territories in 2006, I have been part of an international movement to support the Palestinian people in their struggle for freedom, justice and equality.
I am honored to have been asked by the Palestinian BDS National Committee, to announce an initiative, to hold the World Social Forum Free Palestine in Porto Alegre, Brazil in November of this year, in cooperation with the Brazilian social movement and international civil society networks.
The object will be to create an international gathering there, that will encourage the basic human instinct in all men and women of good faith to unite in support of the Palestinian people in their struggle for self determination.
All over the world, our movement is growing.
Encouraged by events like the one coming here to Brazil, our voice will grow.
We will continue our call for an end to the Israeli occupation of Palestinian land, for the tearing down of The Walls of colonization and apartheid, for the creation of a Palestinian state with its capital in Jerusalem, for the granting of full and equal rights to the Arab-Palestinian citizens of Israel and for promoting the rights of Palestinian refugees to return to their homes as required by the Geneva convention, as stipulated in UN resolution 194, in 1949 and as restated by the International Court of Justice on the 9th of July 2004.
I find myself greatly encouraged by the growth of this movement in Israel, particularly among young Jewish Israelis, not least ‘Boycott From Within,’ With whom I am in contact.
We stand with you.
Events in Israel and the occupied territories are not widely or accurately reported in the west. The coming World Social Forum Free Palestine in Porto Alegre will help to break down The Walls of misinformation and complicity.
I urge people of conscience to support this forum and help make it a turning point in the international solidarity with the Palestinian people.
The truth will set us free
In Solidarity,
Roger Waters, durante a turnê 2012 do Pink Floyd no Brasil

Pink Floyd - Tour for Palestine (2010)

Documentário American Radical: the trials of Norman Finkelstein




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