Nesta época em 2011, o mundo árabe estava em tal efervescência sócio-política que contagiou até Israel e os Estados Unidos atingindo Wall Street.
Nós jornalistas interessados nesta região do mundo cobríamos o rosto como o Zorro (amigo do Tonto) para evitar os gases e corríamos em zigue-zague para escapar das cacetadas enquanto respirávamos sofregamente os novos ares da liberdade na qual queríamos acreditar como os jovens de Alexandria, Cairo, Manama, Saana, Tunis, acreditavam.
Hoje o que se sente em uma e outra capital é um ventinho que sopra nos ouvidos em vez de brisa irresistível, mas quem viver verá como terminará tudo isto.
Nós ocidentais - tanto os poderosos que decidem o destino do mundo quanto os alienados que acham que a vida se resume aos interesses imediatos, ao próprio bairro, cidade, estado e no máximo às fronteiras do nosso país adorado e querem acreditar que o esporte é algo à parte - não deixamos de ter responsabilidade coletiva nos males nacionais e individuais que afligem o mundo.
Começando pela alienação esportiva.
O magnata Bernie Ecclestone declarou sem vergonha que a Formula 1 não tinha nada a ver com as passeatas populares determinadas a evitar que o Grande Prêmio se desenrolasse como se as batalhas de 2011 por respeito e liberdade reprimidas a fogo e gás não representassem nada. No fim deu seguimento ao espetáculo planetário.
A repressão correu solta nas ruas, um homem foi parar no cemitério, mas os pilotos estavam lá, a postos, assistindo de camarote dos hotéis cinco estrelas o pau quebrar e se convencendo que sua atuação no domingo era alheia ao que acontecia à sua volta.
E o que é mesmo que vem acontecendo no Bahrein que o povo continua com as passeatas iniciadas no ano passado?
Tudo começou com a maioria da população xiita reivindicando da família real um regime democrático que permita que o povo tenha voz ativa e desfrute da renda petrolífera e não só a minoria sunita ligada à família real que faz e desfaz conforme os interesses dos sauditas.
Aí a pergunta é simples.
Se fosse no Irã ou na Síria, Eccleston teria aceitado o convite do Grande Prêmio e teria ido até o fim com o circo mediático-esportivo?
É bem provável que não. Os lobis que se opõem a estes países são fortes demais para permitirem a legitimização destes regimes, quanto mais uma corrida transmitida pelas televisões do mundo.
Pratiquei esportes coletivos quando estava na escola e continuo gostando muito de assistir a jogos além dos da Seleção na Copa do Mundo. Tendo vivido a solidariedade de uma equipe, não consigo entender como um desportita consegue dissossiar o esporte do lugar e com quem o pratica.
Isto para mim é um mistério, incompreensível.
A "imparcialidade" esportiva já causou muitos danos no século passado. Nas Olimpíadas na Alemanha nazista de 1936, na Copa do Mundo na Itália fascista e em eventos esportivos na África do Sul do apartheid. Eventos que querendo ou não legitimavam estes regimes.
Não estamos na Idade da Pedra e sim no século XXI e os meios de comunicação permitem que todo mundo, inclusive os responsáveis esportivos, jogadores e corredores profissionais, estejam informados do que acontece no mundo e apliquem a ética esportiva também na política, que, no final das contas, rege tudo.
Como dizia o poeta, todo ato é político. Inclusive a imparcialidade e o imobilismo.
Os jogadores de hoje desfrutam de tratamento mais sofisticado do que de astronauta, os corredores de Fórmula 1 correm em veículos que na época do Emerson Fittipaldi eram ficção científica. Como então justificar que a mentalidade dos atletas, qualquer que seja a disciplina, continue tacanha e desinteressada dos problemas do mundo em que vivem?
Será que é normal que nos contentarmos com os direitos que conquistamos em nossos países - de reclamar, escolher quem nos governa, o que fazer, por onde andar, termos cidadania, enquanto assistimos a ditadores reprimindo e oprimindo seu povo e chefes de Estados expansionistas ocupando terra alheia como se a ilegalidade fosse direito adquirido?
Eu acho que não é normal cruzar os braços e nem que os competidores que ostentem nossas cores se apresentem em quadras, campos e pistas de países dominados por ditadores e de países que oprimem outros.
Nem que disputem de igual para igual competições internacionais com desportistas que representem países que oprimem outros.
Nem que disputem de igual para igual competições internacionais com desportistas que representem países que oprimem outros.
Ignorância tem limite. Displicência e ganância, também deveriam.
Passando a outro assunto, mas correlato também na geografia, em que pé estão as revoluções árabes do ano passado?
No Bahrein, o rei Hamad Salman Al Khalifa continua esmagando os oponentes e derramando sangue enquanto os pilotos correm e bebem champagne.
No Egito, o sinistro Omar Suleiman, ex-chefe do Serviço Secreto do país (o "SNI" local) ousou candidatar-se à presidência e não arreda o pé do poder que gaugou com a queda do amigo Mubarak. Como previsto.
A Líbia livre de Gaddafi está sendo pilhada, sucateada, e os "rebeldes" há meses brigam entre si sem lei nenhuma no país.
Também como previsto.
No Yêmen, o al-Qaeda aproveitou a insatisfação geral contra o ditador que não desencarna para ganhar terreno e o resultado na semanda passada foi uma confrontação que deixou 61 mortos.
Ídem.
Na Síria, em que o quiet american age através dos sauditas e quataris enchendo os rebeldes de armas, Bashar el-Assad dialogou com a ONU e vai receber os 300 monitores do seu projeto de "boa vontade", enquanto a violência chegou à fronteira e ameaça o Líbano.
Também previsível.
E Washington, para garantir que tudo corra da melhor maneira possível para os 1% que elegem o presidente que faz e desfaz as guerras na Terra, criou um Forum de Cooperação de Segurança entre os Estados Unidos e o Conselho de Cooperação do Golfo. Assim a Casa Branca continua no comando por vias indiretas de tudo o que se passa na área e seus trilionários continuem a levar vantagem nos negócios que são abertos.
Eu (e muitos analistas locais) acho mesmo é que o Novo Mundo Árabe que resultou da Primavera revolucionária é um clone do Antigo Mundo Árabe, com mais cabeça de mulher coberta.
A região continua buscando dois elementos vitais para a estabilidade regional.
A primeira é um Estado Palestino autônomo.
A segunda é representar um papel que corresponda à dimensão e importância do poder linguístico que representam, ligação histórico-geográfica, e aspirações de desenvolvimento e integração econômica.
Desde a morte de Nasser que os países árabes viviam cada um para si e a Primavera Árabe, por mais que as flores tenham murchado, foi a primeira tentativa desses Estados reivindicarem unidade de objetivos e de caminho. O da liberdade.
Os islamitas estão na cabeça na Tunísia (com estudantes nas ruas exigindo laicidade) e nas pesquisas egípcias.
Todos (ocidentais e intelectuais locais) prefeririam que os governos desses países fossem laicos.
Porém, os países árabes, como o Irã, são submetidos a uma divisão social nítida que repercute nas expectativas dos cidadãos majoritários.
A partir da classe média que escolariza os filhos, a laicidade impera.
Abaixo dela, a religião é a tábua de salvação à qual os pobres se apegam.
Esta classe C, D, E é dominante em todos os países árabes e a democracia lhe dá voz e a revela.
O poder democrático é o dela.
What must be said, o poema do Prêmio Nobel de literatura Günter Grass que despertou a fúria de Binyamin Netanyahu em Tel Aviv e deu no que falar.
Why have I kept silent, held back so long, on something openly practised in war games,
at the end of which those of us who survive will at best be footnotes?
It's the alleged right to a first strike that could destroy an Iranian people subjugated by a loudmouth
and gathered in organized rallies, because an atom bomb may be being developed within his arc of power.
Yet why do I hesitate to name that other land in which for years – although kept secret –
a growing nuclear power has existed beyond supervision or verification, subject to no inspection of any kind?
This general silence on the facts, before which my own silence has bowed, seems to me a troubling, enforced lie, leading to a likely punishment the moment it's broken:
the verdict "Anti-semitism" falls easily.
But now that my own country, brought in time after time for questioning about its own crimes, profound and beyond compare, has delivered yet another submarine to Israel, (in what is purely a business transaction, though glibly declared an act of reparation) whose speciality consists in its ability to direct nuclear warheads toward an area in which not a single atom bomb has yet been proved to exist, its feared existence proof enough, I'll say what must be said.
But why have I kept silent till now?
Because I thought my own origins, tarnished by a stain that can never be removed, meant I could not expect Israel, a land to which I am, and always will be, attached, to accept this open declaration of the truth.
Why only now, grown old, and with what ink remains, do I say:
Israel's atomic power endangers an already fragile world peace?
Because what must be said may be too late tomorrow; and because – burdened enough as Germans –
we may be providing material for a crime that is foreseeable, so that our complicity will not be expunged by any of the usual excuses.
And granted: I've broken my silence because I'm sick of the West's hypocrisy; and I hope too that many may be freed from their silence, may demand that those responsible for the open danger
we face renounce the use of force, may insist that the governments of both Iran and Israel allow an international authority free and open inspection of the nuclear potential and capability of both.
No other course offers help to Israelis and Palestinians alike, to all those living side by side in enmity
in this region occupied by illusions, and ultimately, to all of us.
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