domingo, 4 de setembro de 2011

Israel se anima na Tentifada enquanto na Cisjordânia os colonos se armam


Passeatas em Israel: Caminhe como um egípcio
De cabeça erguida
Hoje deixarei de lado a Síria, onde uma calma lúgubre voltou a reinar em Damasco por medo do potencial de repressão do presidente Assad assim como Gaddafi e a Líbia que este abandonou desgovernada e cheia de cadáveres.

Primeiro vamos à parcialidade da Organização das Nações Unidas e a subserviência do seu atual Secretário Geral Ban Ki-Moon ao presidente dos EUA (que de candidato intelectual salvador da pátria passou a mais um governante míope manipulável) e consequentemente ao governo de extrema-direita de Israel.
É claro que ele não está sozinho na cumplicidade, mas como é ele que não tem vergonha de dizer aberrações sem mudar de cara, é ele que tem de pagar o pato.
A ONU nasceu durante a ressaca da calamidade causada por Adolf Hitler no fim da Segunda Guerra Mundial. Como se sabe, os nazistas exterminaram 6 milhões de pessoas. Centenas de milhares de ciganos (executados diretamente onde estavam) e judeus (asfixiados em câmaras de gás); internaram em campos de concentração (dos quais muitos não voltaram) milhares de comunistas e opositores de toda índole, credo e nacionalidade; trataram homossexuais e deficientes como se fossem animais, e resistentes alemães loirinhos foram julgados sumariamente e executados por traição à pátria por terem se rebelado.
A criação do Estado de Israel também nasceu desta ressaca. Foi aí que lobistas judeus milionários e governos ocidentais de consciência pesada resolveram “doar” aos israelitas dois terços de um país chamado Palestina, que a Grã-Bretanha ocupava. Isto sem legalizar a situação dos nativos no pedacinho que lhes sobrava.
Sessenta e três anos, diáspora palestina forçada e guerras expansionistas mais tarde, a Palestina se encontra dividida em duas partes incomunicáveis, chamadas Cisjordânia e Gaza.
A primeira, após ser invadida, ocupada militarmente, amarrada, amordaçada e despojada de sua água, vem sendo paulatinamente desapossada de sua terra invadida por colonos judeus importados e subsidiados (alguns mal falam hebraico) que se instalam como se fossem donos da casa e os autótonos fossem bichos selvagens ou objetos inanimados.
A segunda é a Faixa pequenininha onde vivem um milhão e meio de homens, mulheres e crianças concentrados e em estado de sítio desde 2007, contra o qual o mundo inteiro, responsável, se levanta e grita, até agosto, sem que nada mude.
Neste contexto iníque, para surpresa geral, a ONU acabou de anunciar que o bloqueio de Israel da Faixa é legal e justificado... “a fim de evitar a entrada de armas na Faixa”.
Ataquedo navio Mavi Marmara pela IDF
em águas internacionais, no ano passado 
E segundo o novo relatório que desmente estranhamente o do ano passado, o ataque israelense da Flotilha da Liberdade, em águas internacionais, também foi justificado porque tinham de defender-se da resistência que encontraram...!
De quem?
De ativistas internacionais que tentavam palear um pouquinho à carência alimentícia e às destruições materiais causadas pelos bombardeios sucessivos de Gaza.
O único porém que a ONU encontrou foi que a IDF (exército israelense) usou de força excessiva na “abordagem” dos navios. Força que, diga-se de passagem, resultou na morte de nove cidadãos turcos que estavam a bordo do navio Mavi Manara. Este encabeçava a Flotilha que levava víveres e material de construção para Gaza.
O Ministro das Relações Exteriores da Turquia
promete questionar o bloqueio da Faixa de Gaza
 na Corte Internacional de Justiça
A Turquia voltou a exigir desculpas de Biniamin Netanyahu, que recusou até uma esfarrapada, embora o governo de Ankara seja seu único aliado nas paragens, e os turcos foram obrigados a levar de novo seu embaixador para casa.
E o presidente da ONU não deixou por menos. Lembrando oportunamente de seu papel de árbitro, apelou para os dois países entrarem em acordo, como se ambos fossem culpados do “acidente diplomático”.
Enquanto a ONU deu corda para Israel continuar seus atos ilegítimos, Netanyanu voltou a ameaçar a Autoridade Palestina para que esta não apresente à ONU a moção de reconhecimento de seu Estado no dia 20.
Famosa foto que cela os Acordos de Oslo
Yasser Arafat sorridente aperta a mão de Yitzhak Rabin reticente
“Se fizerem isto, consideramos o Acordo de Oslo caduco”, disse, querendo dizer que Israel e Palestina voltam a ser oficialmente inimigos.
Seria risível se a IDF não estivesse armando os 500 mil invasores que moram nas colônias/assentamentos na Cisjordânia, e treinando cães de ataque que são mostrados na televisão israelense para “tranquilizar” os moradores israelenses com esta arma secreta e nociva.
Avigdor Lieberman, o ministro fascista responsável pelas questões externas mas especialista mesmo é em incentivar guerra, não para de apavorar seus compatriotas incautos dizendo que “A Autoridade Palestina está planejando um banho de sangue após o dia 20!” 
Os colonos que estão sendo
treinados e armados
Setembro na Palestina é um mês de esperança em que cidadãos apátridas na terra natal terão o direito de existir, de ter passaporte, identidade reconhecida, e isto é entendido nos meios liberais israelenses como uma marca de futuro livre e dinâmico para a Palestina, e que gerará paz.
A extrema-direita sionista israelense está se preparando para uma guerra sem trégua contra a Terceira Intifada, como se as passeatas que os palestinos estão preparando fossem campanhas militares. Nesta semana a IDF vai proceder ao treinamento militar de colonos e continuar a armá-los de material militar que atira e mata, contra pedras eventuais.
Aliás é difícil fazer a separação da IDF e dos colonos, pois muitos destes servem o exército ou são oficiais, e muitos militares moram nessas colônias ilegais.
O que agrava mais ainda o caso de Israel porque quando oficiais e soldados de um país infringem as leis internacionais de maneira descarada, a coisa fica muito mais complicada. Se não fosse Israel, a OTAN já teria bombardeado...
A Primeira Intifada levou aos Acordos de Oslo
Só para refrescar a memória, a Primeira Intifada (que em árabe significa algo intraduzível, mas parecido com Revolta), rebentou no dia 9 de dezembro de 1987.
Foi na época de Yasser Arafat e denunciava a ocupação israelense. Esta é considerada como vitoriosa para os palestinos porque originou os Acordos de Oslo.
As pedras dos palestinos contra os tanques israelenses
na Segunda Intifada na Cisjordânia
A Segunda Intifada começou no dia 29 de setembro de 2000 em Jerusalém. 
Após o fracasso das negociações de Campo David, nos EUA, o general Ariel Sharon, até então em semi-ostracismo após o massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila no Líbano, resolveu voltar à ativa da pior maneira possível. Escoltado de dezenas de soldados devidamente armados, penetrou na esplanada da Mesquita Al-Aqsa em um gesto de provocação deliberada de conflito.
Em resposta, aconteceu uma imensa passeata de jovens violentamente reprimidos pela IDF, que conteve a caminhada a gás, tanques e balas, ocasionando a morte de um estudante local.
Funeral do sheikh Ahmed Yassin criador do Hamas 
assassinado pela IDF em Gaza durante a 2a Intifada
A violência de ambos os lados - de um humilhações, check points, tanques e balas, do outro pedras e bombas suicidas que substituíam, segundo os organizadores, as forças armadas que não possuíam para combater com armas iguais – durou até fim de 2004. Ano em que Hamas e Fatah decidiram passar à resistência pacífica.
Foi então que as bombas suicidas pararam. Foi então que o Global BDS, movimento internacional de boicote a produtos israelenses, foi criado e vem expandindo sem parar. Ao ponto de deixar o governo de Israel preocupado.

Apesar da luta pacífica dos palestinos (com exceção de foguetes esporádicos lançados de Gaza por grupos extremistas), a ocupação militar de Israel continuou firme, os checkpoints entre as cidades palestinas dobraram de arbitrariedade, as colônias israelenses na Cisjordânia multiplicaram, a água foi confiscada até os palestinos só poderem desfrutar de 10% de seus recursos hídricos, Gaza foi bloqueada, bombardeada, centenas de palestinos de todas as idades foram presos aleatoriamente, e outras coisinhas mais.
Os quatro anos e pouco de conflito declarado após a Segunda Intifada, entre repressão da IDF e ataques suicidas, resultou na morte de 4.546 civis palestinos, dentre os quais 882 crianças. E do lado de Israel, 716 civis, incluindo 124 crianças.
É verdade que conforme for a reação dos EUA e a postura da ONU em relação à criação do Estado da Palestina, uma terceira Intifada é mais do que provável.
Porém, 2000 e 2011 só são separados por uma década, mas por dois mundos.
A Primavera Árabe, o fim da época Mubarak e da cumplicidade do Egito, adicionados aos movimentos populares na Cisjordânia e sobretudo na Síria, mudam totalmente a perspectiva.
Entre a potência militar da IDF com a assistência dos colonos contra as pedras eventuais dos jovens palestinos é provável que Netanyahu, Lieberman e sua cupinchas consigam fomentar o banho de sangue que anunciam.
Os caras-pintadas de Israel vão conseguir derrubar
Binyamin Netanyahu?
A maioria dos israelenses, que moram em residências legais em cidades reconhecidas, parece despreocupada. Muitos acham que tudo isto é uma invenção de Netanyahu para desviar a atenção das reivindicações domésticas econômicas e sociais.
E acho que têm razão. Que é realmente uma distração, mas infelizmente, a distração para um inimigo comum fabricado pode gerar um drama, já que o governo está preparando um coquetel mortífero junto aos colonos: terror + armas + treinamento militar = banho de sangue.
O fato é que por maquiavelismo de um e ingenuidade de outros, tanto os EUA quanto alguns israelenses incautos, vivem dizendo que as colônias/assentamentos/invasões bloqueiam as negociações e que este é o problema crucial. Ou seja, “os imbecis dos colonos”.
O que não admitem, por má-fé ou comodismo, é que como os colonos dominam a coalição política que governa o país, é o governo que está comprometido.
As tendas de protesto que cobrem a Alameda Rotschild, em Tel Aviv
O problema sócio-econômico de Israel é grave. Para encará-lo de frente e solucioná-lo, o governo precisa fazer reformas econômicas que exigem verbas elevadas. Dinheiro há, mas é utilizado em armamento e nas colônias que são um saco sem fundo literal.
Israel tem 7.5 milhões de habitantes e suas Forças Armadas, incluindo a bomba atômica negada ao Irã, ocupa o quarto lugar como potência bélica do planeta. Os cerca de 4 bilhões de ajuda militar dos EUA alimenta só uma parte do que sua manutenção exige.
No final das contas, a guerra tem um custo alto demais para os cidadãos israelenses (como para os estadunidenses: lá, em grana e em outros países, em vidas). E os colonos são o maior ponto de discórdia entre Israel e a Palestina. Portanto, os colonos são diretamente responsáveis pela queda brutal da qualidade de vida de seus compatriotas que vivem na legalidade. Além disso, estão prontos para iniciar uma guerra em que no final todos serão vencidos.
Repito: por que não recorrer às tropas da ONU para a retirada dos colonos e matar o mal pela raiz, já que Netanyahu diz que é um processo perigoso e difícil?
Um colega de Tel Aviv diz que é porque judeu tem uma regra intransigível de lavar roupa suja em casa. Ao que respondo que ao instalar-se em casa alheia sem ser convidado, o penetra já perdeu os princípios na entrada e tem de estar pronto para sair enxotado.

Enquanto os fora-da-lei se armam com ódio na Cirjordânia que invadiram, os israelenses que vivem na legitimidade em seu próprio país engrossam as passeatas de protesto em suas principais cidades (500 mil desfilaram ontem em Tel Aviv), a preocupação doméstica do governo aumenta, e o capetinha espeta o diabolismo da saída imediata fácil (?) de distrair a atenção para os palestinos e a Terceira Intifada.
Tenho dificuldade em imaginar que no Egito, na Síria, na Cisjordânia e no Líbano, os refugiados palestinos e a população local, desta vez, fiquem de braços cruzados enquanto a IDF e os colonos armados massacrarem os cisjordanianos.
A tensão está realmente grande em Israel. O país está em pé de guerra. Tanto social interna quanto literal.
Portanto, com a aproximação do dia 20 de setembro fatídico (a União Européia liberou o voto de seus membros na questão da criação do Estado da Palestina), por que as tropas pacificadores da ONU não estão na Cisjordânia, já que os palestinos são proibidos de proteger-se das forças armadas dos invasores que os agridem?
Por que Ban Ki-Moon está deixando como é que está para ver como é que fica?

Autocolante da ONG israelense de Direitos Humanos Gush Shalom 

Mãe de Samer Allawi

Jornalista Samer Allawi no trabalho
E para concluir, ontem em Gaza, cerca de 150 jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas internacionais fizeram um protesto pacífico. Sentaram na porta do escritório da ONU na Faixa para solicitar que a Organização intervenha junto a Israel a fim que liberte nosso colega Samer Allawi, palestino detentor de passaporte jordaniano (por os palestinos não terem nacionalidade reconhecida e nem identidade). Detido arbitrariamente desde o dia 10 de agosto.
A palavra de ordem dos manifestantes da imprensa é que esta detenção atinge indiretamente todos os jornalistas que trabalham no Oriente Médio, passíveis às mesmas medidas arbitrárias para virarem dedo-duro se quiserem salvar a pele.
Samer Allawi é chefe do escritório da TV Al Jazeera em Kabul. Visita a família uma vez por ano (como qualquer pessoa que mora longe de casa) em Sabastia, sua cidade natal próxima de Nablus nos Territórios Ocupados. Foi detido por soldados da IDF no fim das férias quando atravessava a ponte Allenby, que liga a Cisjordânia à Jordânia, sob acusação oficiosa de “manter contato com membros do seguimento armado do Hamas”.
Acusação absurda, pois como todo jornalista que vale algo tem de ter contato com todos os lados, a acusação serve a qualquer profissional que se preza e exerce o direito e obrigação de informar com conhecimento de causa.  
O advogado de Samer, Salim Waakim, disse que até hoje a Justiça israelense não formalizou nenhuma acusação contra seu cliente, que foi interrogado sobre seu trabalho, finanças, relações pessoais desde a infância, colegas de escola e outros detalhes de sua vida na Cisjordânia. Também se estava em contato com agentes secretos de EUA, Jordânia, Palestina, e confiscaram seu computador e o forçaram a divulgar a senha para lerem todo correio pessoal, profissional e artigos.
Samer, que trabalha na Al Jazeera desde 2006, declarou rapidamente à equipe de TV presente no tribunal que sua prisão “é arbitrária; estão tentando me forçar a dar informações que impliquem Al Jazeera e eu,” antes que soldados impedissem a filmagem.
Seu advogado diz que os interrogadores estão ameaçando acusar Samer de transferência de dinheiro do Afeganistão para a Cisjordânia se ele não concordar em virar informante de Israel.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ-Committee to Protect Journalists) baseado em Nova Iorque exigiu que Israel “esclareça as razões legais da manutenção de Samer Allawi em detenção”. E lembrou que em março deste ano já insistiu com o governo de Israel que pare de perseguir jornalistas e que respeite os parâmetros internacionais de liberdade de imprensa permitindo que o jornalista trabalhe sem interferência.
O CPJ teve de intervir por causa das violações correntes e persistentes da IDF de liberdade da imprensa na Cisjordânia, inclusive censura, detenções e ataques físicos de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Em Israel de Netanyahu e Lieberman, informar é crime.

Campanha do CPJ contra a impunidade de violação à liberdade de imprensa
e assassinato de jornalistas mundo afora
Ataque do navio Mavi Marmara em 2010

Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Lowkey: http://youtu.be/GO5Cay6GUkM;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/
Reservista da IDF Breaking the Silence 

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