domingo, 11 de setembro de 2011

Declínio de um Império


Queima de livros após o Golpe militar no Chile,
patrocinado pela Operação Condor  
No dia 11 de setembro de 1973, a CIA e sua Operação Condor, no Chile, levou o general Augusto Pinochet ao poder em um Golpe de Estado em que o presidente Salvador Allende perderia a vida. O golpe foi seguido de queima de livros, prisões massivas no Estádio Nacional, tortura, execuções sumárias e o crime econômico de dar plenos poderes aos Chicago boys e sua teoria do choque.
Vinte e oito anos mais tarde, a Operação Condor que havia aberto as veias da América Latina, foi desbancada por outro grupo terrorista liderado por um homem que os EUA mesmo tinham criado.
O homem era o milionário saudita Ossama Bin Laden.
O novo grupo terrorista de dimensão internacional era o al-Qaeda.
Nesse ano eu disse que aquela era a marca do declínio do império estadunidense.
O futuro em que vivemos está provando que não estava errada.
Os EUA caíram na armadilha como patos de primeira viagem e começaram a corrida bélica monstruosa que foi fagocitando todas suas células vivas e estrangulando a energia ativa que até então os movia.
Na “guerra contra o terrorismo” que George W. Bush começou nesse dia com a cumplicidade dos concidadãos incautos, os Estados Unidos foram perdendo os princípios e os direitos individuais com cada nova medida de coerção da liberdade que era o valor do qual os estadunidenses mais se orgulhavam – ao ponto de permitir a expressão racista criminosa de grupos neofacistas como o Klu Klux Klan sem puni-lo.
Bin Laden era um homem horrendo, mas sua célula intelectual é de inteligência rara.
Bush e sua equipe perto da dele eram calouros.
Tanto que nem ouviram sua mensagem. Soltaram tantas bombas por todos os lados que ficaram surdos ao que realmente dizia o Al-Qaeda.
Os demais ouviram que Bin Laden dizia que o único jeito de derrotar os EUA era sangrá-los até exauri-los do que mais prezavam - dinheiro e liberdade.
O meio de derrubá-los era provocar uma série de conflitos, pequenos, mas dispendiosos, nos quais seus inimigos gastariam o que tinham e o que não tinham até chegarem à bancarrota que anunciaria o início do fim do império que dominava o mundo.
O escritor francês Beaumarchais, em seu libreto da ópera de Rossini O Barbeiro de Sevilha, diz que Quando se cede ao medo do Mal já se sente o mal do medo.
Em 2001 os EUA cederam ao mal do medo que lhes foi corroendo as riquezas e a energia até perderem os meios e o fôlego no espaço de uma década, apenas.
Hoje vigiam seus concidadãos noite e dia, fecham escolas públicas e vivem de crédito alheio. Até brasileiro.
Sem educação, vão acabar chegando onde estávamos quando a Operação Condor exportava terrorismo de Estado, tortura e dava as cartas.
O dramaturgo russo Anton Tchekhov dizia que Nada une tanto quanto o ódio: nem amor, nem admiração, nem amizade.
O ódio dos Bush pôs os EUA de joelhos e o medo os fez vender a alma para o diabo. Barack Obama conseguiu resgatá-la aos pedaços, mas não tem peito nem meios de recuperá-la. O declínio está em marcha.  

Massacre de civis em Fallujah, no Iraque
Uma tragédia é uma tragédia. Qualquer que seja a vítima e quantas sejam elas.
O valor de uma vida é o mesmo. Qualquer que seja a origem e a idade do assassinado.
No dia 9, o mundo inteiro celebrou o triste aniversário da explosão do pulmão financeiro de Nova Iorque. E as 2.997 vítimas diretas, instantâneas, foram lembradas e devidamente lamentadas.
Pouquíssimos falaram nas vítimas indiretas, imediatas e mediatas, desta data célebre.
Muito mais pessoas morreram no Afeganistão e no Iraque nos últimos dez anos do que nos EUA, via terrorismo, de 2001 para cá.
Até 2010, 19.629 pessoas haviam sofrido morte violenta no Afeganistão e 900.338 no Iraque.
O Afeganistão conta 48.644 feridos e o Iraque 1.690.903. Sem contar as centenas de milhares de homens, mulheres e crianças forçados ao êxodo e que engrossaram o número total de refugiados, acolhidos em tendas do Alto Comissariado de Refugiados da ONU ou desabrigados.
Não há como lembrar no dia 9 de setembro apenas as vítimas do ataque às Torres Gêmeas, pois a Moral e a Justiça deveriam caminhar de mãos dadas para evitar que a história se repita e derrapagens.
O grande pensador e matemático francês Blaise Pascal dizia, no século XVII, que a Justiça sem Força para ministrá-la é impotente; e a força sem justiça é tirânica.
No século seguinte, outro francês ilustre, o barão de Montesquieu, disse que a tirania mais cruel é a exercida à sombra da lei e com cores de justiça.



E a injustiça leva a atos desesperados. Como o de sexta-feira à noite, quando cerca de mil pessoas desarmadas derrubaram o muro da embaixada de Israel no Cairo e alguns deles penetraram no prédio e o depredaram.
É um alerta a Netanyahu: A cumplicidade do Egito é coisa mesmo do passado.  
Tudo começou em uma passeata na Praça Tahrir, onde uma multidão exigia que os militares, em poder interino desde a deposição de Mubarak, procedam às reformas prometidas em fevereiro.
Desde o assassinato dos cinco guardas de fronteira egípcios pela IDF (exército israelense) no mês passado, que as passeatas e manifestações na porta de embaixada israelense no Cairo têm sido frequentes. A palavra de ordem é que o Egito expulse o corpo diplomático, já que Israel se recusa a desculpar-se formalmente aos egípcios pelo assassinato dos policiais.
Após hesitar, o Ministro do Exército mandou centenas de soldados conterem os manifestantes até atirando com balas de borracha. Quase a metade dos participantes da passeata foi parar no hospital e Barack Obama logo telefonou para Binyamin Netanyahu, em solidariedade. Hillary Clinton puxou a orelha do Ministro das Relações Exteriores do Egito para que o país honre a Convenção de Viena que obriga a proteção de propriedade diplomática.
Sabendo disso, um dos heróis da Revolução da Tahrir em fevereiro perguntou: E que Convenção Internacional protege nossos policiais na fronteira e Cisjordânia e Gaza?

Primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdoğan com Lula
no ano passado, em Brasília
Israel tanto fez e tanto faz que conseguiu se indispor com a Turquia, o único aliado político e econômico que tinha no Oriente Médio.
O veredito da ONU de sua pseudo-legalidade no bloqueio de Gaza e no ataque da Flotilha no ano passado foi um daqueles casos que se parecem com histórias de amor mal-acabadas do quem perde é que ganha. Ganhou na ONU, mas esta vitória é uma derrota.
Os EUA ficaram preocupados e seu embaixador internacional, o Secretário Geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon, chegou até a pedir que os dois países façam as pazes. Isto vimos na semana atrasada.
Na semana passada conjecturava-se em Washington do por que da Turquia ter finalmente, após ter voltado atrás às represálias do ano passado, que sucederam o assassinato dos nove turcos na abordagem israelense pirata do navio Mavi Marmara.
Para mim a resposta é simples. A Turquia é pragmática. E o ex-prefeito de Istambul e atual primeiro ministro Recep Tayyip Erdoğan e mais pragmático ainda.
Até 2010, seu país estava ilhado em sua política liberal laica, que visava à integração na União Européia e Israel era o único parceiro que lhe restava.
Em 2011, a Tunísia e o Egito estão sacudindo a poeira do passado e o mundo árabe está se emancipando e criando um grande mercado.
Por que então arriscar ir contra a corrente popular, e suas próprias convicções, quem sabe? apoiando maus atos de em parceiro acidental que o mundo inteiro condena?
Erdoğan mantém que além da expulsão do embaixador israelense de Ankara, vai contestar o veredito tendencioso da ONU submetendo ao Tribunal Internacional a ilegalidade do bloqueio de Gaza, e vai sim fornecer escolta naval aos navios turcos que levarem ajuda humanitária à Faixa.
Binyamin Netanyahu acabou apresentando semi-desculpas à Turquia pelo assassinato dos turcos no ano passado. Ele chamou o assassinato de “erros operacionais” e prometeu indenizar as famílias das vítimas do dia 31 de maio. Resta saber se, pesando os prós e os contras, Erdoğan, realmente, se satisfará com as desculpas esfarrapadas.
O ex primeiro ministro inglês Winston Churchill disse, no século XX, que O orgulho prefere se perder a perguntar o caminho.
O jornalista francês Rivarol disse, no século XVIII, que O orgulho está sempre mais perto do suicídio do que do arrependimento.

No início do ano, August Burns Red, uma das maiores bandas cristãs metalcore do mundo aderiu ao Global BDS Movement cancelando seu mega show marcado para junho em Israel. Foi uma decisão humanisto-política de boicote à política de apartheid israelense na Cisjordânia.
Daí os sionistas foram atrás de outro cantor que (a troco de quê, de um cachê milionário?) concordasse em tapar o buraco e redourar a imagem do governo de extrema-direita que destrói casas palestinas em Jerusalém para construir colônias judias.
Dizem as más línguas que muitos recusaram participar deste embuste. Até um tupiniquim alienado fazer o triste papel de relações públicas de uma situação que Jesus Cristo certamente condena, lá do alto.
A imprensa nacional aplaudiu, a burguesia que podia pagar a viagem derramou lágrimas, mas o que Roberto Carlos fez mesmo foi o triste papel de envergonhar o Brasil que sabe que ser cristão é ser solidário com os mais fracos.

Enquanto Roberto Carlos cantava para os endinheirados, o escritor e diretor de ópera e teatro britânico Jonathan Holmes (http://www.jonathanholmes.net/) e fundador do Teatro Britânico de Jericó, inaugurava a Tempestade, de Shakespeare, para jovens palestinos que vivem em um campo de refugiado de Aida, em Belém, na Cisjordânia.
A peça foi encenada em inglês (com sinopses esporádicas em árabe), mas apesar desta dificuldade, parte do público ficou até o desfecho da trama shakespeariana.
Os que só falam árabe ficaram assim mesmo fascinados com a semelhança do que une o que vivem à Tempestade.
Os que entendiam as palavras, se emocionaram com a abordagem do dramaturgo inglês de uma disputa territorial entre pessoas de culturas diferentes e iguais.
Uma das cenas que mais agradaram os jovens palestinos foi a de Próspero perdoando seus antagonistas. Bom sinal.
Quem estiver na Palestina ou em Israel neste semestre poderá assistir a esta ótima montagem da Tempestade. De Belém a peça seguirá para Nablus e depois para Haifa. E caso perca estas representações especiais, poderá assisti-la a partir do dia 21 de setembro (dia seguinte à votação da ONU do Estado da Palestina) até o dia 22 de outubro em Londres, na Igreja Cripplegate Saint Giles, conhecida do dramaturgo e onde um de seus principais atores foi enterrrado, em 1661.
Deixo a Hala al Yamani, professora na Universidade de Belém a palavra final sobre a Tempestade: Um irmão detém o poder e o outro nada, mas no fim o poderoso dá ao outro a liberdade que lhe negava. Nós temos de conquistar a nossa. Não acho que a peça seja política. É sobre algo mais. É sobre humanidade.


No Yêmen, a luta continua e as passeatas estão aumentando de intensidade 
A Liga Árabe tomou a dianteira da OTAN na Síria e exige:
Assad, reformas, já!


Interpol procura (vivo ou morto?) :
Abdullah Senussi (chefe da polícia secreta líbia)
Saif al-Islam Gaddafi (filho do déspota líbio que talvez se encontre na Nigéria)
Muammar Gadddafi (temido por cirenaicos e tripolitanos)





A resposta do jornalista John Pilger à declaração de Barack Obama que as 
Forças Armadas dos EUA são "the finest fighting force in History".


The reason that Israel has been able to appropriate Palestine unto itself with American aid and support is that Israel controls the explanation of the Israeli-Palestinian conflict. At least 90% of Americans, if they know anything at all of the issue, know only the Israeli propaganda line. Israel has been able to control the explanation, because the powerful Israel Lobby brands every critic of Israeli policy as an anti-semite who favors a second holocaust of the Jews.” Paul Craig Roberts, 2007




Artistas contra o Apartheid: http://youtu.be/V28HnPTYz-I;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/.

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