domingo, 24 de julho de 2011

Terrorismo doméstico passa dos EUA para a Noruega, e muda de cara no Oriente Médio

Na sexta-feira, um norueguês “tranquilo”, de 32 anos, bonito, loiro, de olhos azuis, cometeu um ato abominável premeditado e executado com uma minúcia de gelar o sangue.
Quando a bomba explodiu e ainda não se sabia o nome do culpado, a acusação direta ou velada foi logo dirigida a islamitas.
Quando descobriram o culpado – um militante de extrema-direita cujos ideais fascistas levaram a atacar compatriotas no próprio solo – este foi logo definido como doente mental por ter cometido tamanha barbaridade.
Se em vez de louro o assassino fosse um imigrante de pele morena, cabelos pretos, e, além disso, árabe, teria sido chamado de terrorista.
Europeu, ou estadunidense - vide Oklahoma city em 1995 - só pode ser "perturbado".
Como toda vez que acontece crime racista ou atentado desta índole nos países ocidentais.


O primeiro da lista foi um judeu australiano que em 1969 pôs fogo na Mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém. Em vez de condenado como criminoso incendiário foi internado em hospital psiquiátrico como “doente mental” e ficou por isso.
Depois dele, vários colonos judeus na Cisjordânia cometeram “atos de loucura” matando palestinos por razão nenhuma, inclusive crianças, e sendo absolvidos por alienação ou algum motivo incompreensível.
Porém, como em Israel, o neonazismo tem crescido na Europa – na França, a candidata chegou a ultrapassar 20% nas pesquisas – mas a questão-tabu continua banalizada pela Direita tradicional e a Esquerda não consegue acreditar que seus compatriotas sejam majoritariamente capazes de atos ou ideias cujos danos já foram provados.
Os noruegueses estão em estado de choque e Anders Behring Breivik, o assassino, diz que quer explicar-se. Explicar o quê? Que foi por acaso que seu alvo foi a Esquerda nacional? Em Oslo, o Partido Trabalhista, e na Ilha de Utoya, um acampamento de jovens liberais? Em nome de uma paranóia injustificável?
Os Estados Unidos e a Europa têm de enxergar a sujeira que está entulhando suas cidades antes que seja tarde.
O radicalismo está atingindo até o Canadá! onde o primeiro ministro Steven Harper, loiro, bonitão, de olhos azuis, resolveu declarar, em eco à declaração de uma Comissão Parlamentar que confunde humanismo com anti-semistimo, que criticar a política ocupacionista de Israel é uma nova forma de expressão anti-semita...
O surrealismo dos dois pesos e duas medidas não tem mesmo limite.


Falando em surrealismo… Segundo jornalistas locais, o governo de Israel cancelou a visita de Michael Williams, enviado especial da ONU no Líbano, por causa do relatório que fez sobre a atuação do exército israelense no aniversário da  Naqba, no dia 15 de maio, em resposta à queixa dada pelo Líbano.
O exército libanês afirma que 111 pessoas desarmadas foram feridas a bala de verdade e sete pessoas morreram sob fogo israelense nesse dia.
O incidente na celebração da Naqba – dia em que a milícia sionista expulsou de suas terras 700 mil palestinos em 1948 – aconteceu perto do vilarejo de Maroun el-Rass. Desde 2006 que não acontecia uma tragédia parecida.
No dia 15 de maio deste ano, os soldados israelenses usaram balas reais quando atiraram em refugiados palestinos, libaneses e ativistas internacionais que manifestavam do outro lado da cerca que marca a Linha Azul que separa o Líbano de Israel.
O primeiro secretário da ONU, Ban Ki-moon, de cima do muro, teve de condenar o uso excessivo de força de Israel (estabelecido no relatório confidencial vazado), mas acrescentou que em um relatório preliminar lia-se que com o uso de pedras do outro lado, os manifestantes libaneses atuaram de maneira provocativa. Porém, concluiu pedindo para Israel “evitar responder com munição real neste tipo de situação”, deixando a porta aberta a uma nova carnificina, “a não ser em autodefesa”...


E voltando a Terrorismo, o número de atentados dos colonos israelenses na Cisjordânia contra os bens e as vidas dos palestinos está tão gritante, que até o chefe do Comando militar israelense, general Avi Mizrahi está botando a boca no trombone.
O general Mizrahi nasceu em Haifa em 1957, entrou na IDF (exército israelense) em 1975 e desde então foi ganhando galões e está em comando desde 2009.
Nesta semana ele avisou o governo que “terror judeu” contra os palestinos nos Territórios Ocupados pode mergulhar a Cisjordânia em um novo conflito. O general aconselhou o governo a fechar o seminário yeshiva, na colônia de Yitzhar (que desapropriou grande parte do município de Nablus), por ser um foco extremista e uma fonte de terror contra os palestinos.


Saman Nawaj'ah, após o ataque
Para que o general Mizrahi, militar de carreira nacionalista calado e comedido, faça esta declaração eloquente, acreditem, é preciso que a situação esteja pretíssima.
Aliás, espera-se que o ministro das relações exteriores, Avigdor Lieberman, um sionista radical e fascista declarado que escolheu morar em uma dessas invasões, contra-ataque nesta semana.
Porém, não tem como negar o que está na cara e que os soldados e oficiais vêem diariamente mesmo sem querer enxergar.
A violência dos colonos israelenses contra os autóctones tem aumentado a olhos vistos. Vêm queimando oliveiras e casas, vandalizando postos de água e outras propriedades palestinas essenciais, há pouco chegaram a incendiar uma mesquita, e só neste ano já mataram três palestinos. Sem contar que o assassino de uma criança, acabou de ser "inocentado" no Tribunal de Tal Aviv, por vício de forma.
Vale lembrar que estas colônias, invasões, ou assentamentos (até hoje não entendi este termo ambíguo usado no Brasil; será fruto de simples tradução inadequada ou algo mais?) são ilegais, segundo as leis internacionais.
O general afirmou, ao vivo na televisão, “o que está acontecendo no terreno é terrorismo e tem de ser contido”; a IDF teme que “este terrorismo contra os palestinos inflame os Territórios” Ocupados. Aproveitou também para extravasar a frustração de não poder agir junto aos colonos violentos.
Aliás, as ONGs de Direitos Humanos palestinas e israelenses vivem acusando a IDF de tomar partido dos colonos. A resposta tem sido que o exército israelense é obrigado a proteger seus cidadãos e não a definir política de atuação.
Estas ONGs de Direitos Humanos acham que estes colonos sionistas radicais que se opõem à criação dos dois Estados estão agitando para evitar o reconhecimento da Palestina em setembro. Acham que o aumento dos ataques e a gravidade galopante da violência contra os cisjordanianos visa provocar revolta e finalmente, uma quebra da resistência pacífica estabelecida em 2005.
Adam Keller, porta-voz do grupo de Direitos Humanos Gush Shalom, confirmou que o exército israelense teme uma Terceira Intifada, ou seja, um levante palestino massivo, e “o nervosismo do exército está aumentando a agressividade dos colonos”, segundo Adam.
Vale lembrar também que estes grupos de colonos sionistas radicais são apenas parte dos 500 mil judeus, na maioria "importados" para Israel e exportados diretamente para as invasões além da Linha Verde que separa os dois países, no processo de ocupação sub-reptícia da Cisjordânia.


Os habitantes do vilarejo de Asira, no sul de Nablus (na ex-Samaria bíblica), literalmente cercado pelo muro e pela colônia de Yitzahr são constantemente terrorizados pelos vizinhos ilegais.
Um grupo de invasores armados ocupou a montanha do lado da qual os nabluenses desfrutavam (fazendo piqueniques e caminhadas familiares) para usá-la como base e a IDF (Forças Armadas de Israel) não faz nada para tirá-los, pois os soldados estão na Cisjordânia justamente para proteger os colonos e manter os palestinos assustados, ocupando suas casas de madrugada e impondo humilhação e arbitrariedade nos checkpoints. 

Yitzahr Yeshiva, fonte do radicalismo.
Desde 2008 que a IDF solicita seu fechamento a fim de acalmar os ânimos dos colonos. Armados, eles atacam os palestinos e confiscam o que conseguem nas terras em volta das que já invadiram para construir sua colônia, no distrito de Nablus. 


Na mesma região, mas em outro registro, como segui aqui o avanço e a obstrução da Flotilha da Liberdade II, talizada Stay Human em homenagem a Vittorio Arrigoni, termino com a chegada na semana passada do único barco que conseguiu furar o cerco da Grécia e da Turquia para aproximar-se da Faixa de Gaza.
Segundo a colega jornalista israelense Amira Hass, que estava a bordo do barco francês Dignité Al-Karama, de 16 metros, os 16 ativistas europeus foram presos (estão sendo deportados aos poucos para seus países) quando o barco foi interceptado em águas internacionais por 7 barcos da polícia naval, 3 navios equipados de mísseis e 150 soldados.
Os outros 14 barcos foram ilegalmente interditados pela potência de Israel. Ou melhor, dos EUA, seu único verdadeiro aliado.
Voltarei ao assunto mais tarde. Junto com a situação do Egito, onde os jovens continuam a lutar pela liberdade, do Irã, em que o Partido Verde está mostrando a cara, e do rombo financeiro dos EUA, que é tão grande que os russos já estão tomando a dianteira da conquista espacial.


Checkpoint em Paris: http://youtu.be/PPEfi2kFNp8; http://youtu.be/Z4YEnEBw424;
Ação do BDS em Paris nos Invalides: http://youtu.be/J3SoKvYNdYo;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/; http://www.bigcampaign.org/

Reservista da IDF Breaking the Silence


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