domingo, 8 de maio de 2011

Olho por Olho, Ossama é morto e Obama sobe ao topo; Falando Sério, Fatah e Hamas entram em acordo

A semana começou com a execução de Ossama Ben Laden em Abbottabad, a 50 km de Islamabad e a uns 3 km de uma antiga base colonial que hoje abriga a Academia Militar do Paquistão. Se fosse nos EUA, seria como se ele estivesse a dois passos de West Point.
O Serviço de Informação do Paquistão sabia, é claro. A cumplicidade deste com Ben Laden data do início dos anos 80 quando o terrorista ex-mais procurado atuava como correio transferindo fundos dos Serviços secretos Sauditas para o Jammaat-e-Islami no Paquistão durante a jihad anti-soviética. Portanto, sua transferência em 1996 para o nordeste do Afeganistão, área monitorada pelo Paquistão, foi uma movida natural.
O anti-natural é a celebração da “vitória” da ilegalidade internacional como se perder a autoridade moral fosse uma bobagem e estas operações militares fossem mais um filme de ação hollywoodiano em que os GIs são os mocinhos e que os demais possam e devam ser aniquilados sem serem julgados.
E mais anti-natural ainda é a temeridade de transformar um velho patético em mártir só porque foi executado em vez de ser devidamente condenado no Tribunal Internacional da Háguia, que foi criado também para julgar estes casos.
Entendo que com um Ben Laden é difícil Dar a outra face, mas daí a proclamar que Quem com ferro fere com ferro será ferido como se o Direito que rege as sociedades civilizadas e a consciência que nos distingue dos psicopatas não contassem para nada, é demais.
Eu gostaria de acreditar que a distância entre pessoas deste naipe e os seres normais é abissal. Mas Obama está provando o contrário. Recuperou a popularidade de um dia para o outro como se tivesse feito um milagre porque o nome vai ficar gravado na história dos EUA com o de Ossama Ben Laden; porém, deu um golpe terrível na Justiça Internacional e ficou sem álibi.
Como justificar a permanência no Afeganistão, bombardeado e ocupado desde 2001 por causa de Ben Laden? Hillary Clinton continua boiando em um mundo imaginário quando conjetura que a morte do ex-líder do Al-Qaida vai amansar os Taliban e jogá-los nos braços do governo afgão corrupto apoiado pela OTAM. Alguns taliban admiravam Bin Laden, mas nenhum amor os unia como o que os une ao Mullah Omar que inspira o combate às tropas ocidentais. O perigo no Afeganistão vem deste homem que está bem vivo e não de Ben Laden.
Como o perigo do Al-Qaida há anos vem da geração jovem que tem várias caras, uma delas, a do estadunidense muçulmano, Anwar al-Awlaki, baseado no Yêmen, outro país no qual Washington despeja milhões de dólares e está pronto para seguir os passos do Paquistão e deixar os caubóis agirem, para em contrapartida o ditador obter apoio contra a onda democrática contra a qual vem lutando desde janeiro com todas as armas.
Anwar al-Awlaki lembra o Fundamentalista Relutante do paquistanês Mohsin Hamid. O protagonista do livro se chama Changez (tradução em urdu de Genghis) e conta sua estória a Você, um estadunidense sobressaltado, em um café de Lahore, uma bela cidade paquistanesa no Punjab: como um jovem brilhante, bem diplomado, pragmático, laico, com um futuro promissor, se metamorfoseia em islamista radical ao ser progressivamente estigmatisado após o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque.
A moral da estória é que em vez de ações populistas talvez fosse melhor cortar o mal pela raiz erradicando a causa do ódio e da radicalização daninha que alimenta as vocações para o Al-Qaida.


Enquanto isto, na quarta-feira, sob os auspícios do Novo Egito – após 18 meses de infrutíferas tentativas de reunir-se com as outras onze facções menos mediatizadas e mais ou menos radicalizadas – os líderes do Fatah e do Hamas, com a benção dos demais, assinaram um acordo histórico no Cairo.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e Khaled Meshall, o líder do Hamas, se comprometeram a formar um governo constituído de figuras independentes cujas tarefas principais serão de preparar as próximas eleições lidando com os problemas internos resultados das divisões, promover a reconstrução de Gaza e o fim do bloqueio, unindo as instituições da AP na Cisjordânia e em Gaza; organizar as eleições de 2012 para a Assembléia Legislativa, a Presidência e o Conselho Nacional Palestino que representará os cidadãos dos Territórios e da diáspora; montar um comitê de inspeção do processo eleitoral; formar um Conselho Supremo de Segurança concensual; libertar os prisioneiros políticos detidos em Gaza e na Cisjordânia pelas administrações rivais (ambas partes negam a existência de tais presos) após vistoria de um comitê dos dossiês de detenção.
O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, condenou acerbamente este acordo (“um tremendo golpe à paz!”) que marca uma nova era no conflito que ele não para de alimentar desde que assumiu o governo. Reação normal de um homem que quer dominar e ocupar em vez de negociar. O golpe na paz ocorreu quando parou de dialogar para continuar a expandir sua ocupação colonial na Cisjordânia.
Mas agora, com o Egito mudando de lado e os palestinos em fase, vai ser difícil para Netanyahu impor suas vontades.
E do outro lado, sem a pressão dos jovens em Ramallah e em Gaza e sem Murad Muwafi, o novo diretor do Serviço Secreto egípcio, o acordo um dia teria acontecido, mas não teria sido tão rápido. Em três semanas tudo ficou resolvido e os compatriotas fizeram as pazes. Dir-se-ia até que nunca tinham brigado. Abbas parecia renovado, Meshall estava cheio de entusiasmo e Muwafi estava pronto para apadrinhar a formação dos três comitês necessários à efetivação do Tratado que responde às expectativas nacionais.
Uma frente unida tem mais força para limpar a casa, reconstruir as áreas bombardeadas e negociar uma paz duradoura e real.

Falando em paz, pensa-se em Direitos Humanos, liberdade de expressão, combate pacífico por causas apoiadas nas Leis Internacionais, e o boicote que é um direito ao alcance de todo cidadão. Pois bem, várias vídeos de ações do BDS movement vêm sendo sistematicamente bloqueadas no youtube. É uma prova do sucesso mundial do movimento de cinco anos, mas também do controle de certos lobbys sobre a informação.

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