domingo, 29 de maio de 2011

Dando um passo pra frente e um galope pra trás, Obama afasta a paz


Mapa das cercas e muros ditos de "apartheid" que recortam a Cisjordânia além da Fronteira de 1967,
marcada pela Linha Verde.
Os nomes indicam as principais cidades palestinas.   
Eu pensava em falar sobre a Anistia Internacional, ONG de Direitos Humanos que está completando 50 anos e sobre o pedido de socorro do G8 à Rússia para que intermedie a partida de Kadhafi do governo da Líbia. Mas o último discurso de Barack Obama deu um pontapé nas minhas vontades. Ou uma cotovelada, para que celebrasse o aniversário da Anistia e sua militância internacional, incorruptível e inatacável, mais tarde. Hoje tenho de reagir ao bombardeio do presidente dos EUA das esperanças que ele mesmo tinha levantado na semana passada.     
“Quando eu tinha 9 anos na Alemanha, ousei deixar meu braço parado quando os dos colegas se levantaram para fazer a saudação nazista e cantar os hinos a Hitler. Não tem ninguém em Washington com esta coragem simples? Bastou um parlamentar levantar-se e aplaudir e todos o seguiram. Washington é realmente IOT – Território Ocupado de Israel – como dizem os anti-semitas?”
Esta frase-pergunta indignada foi feita pelo jornalista israelense Uri Avnevy a propósito dos aplausos do congresso estadunidense ao discurso do líder máximo (pareciam parlamentares da Дума - Duma, Congresso russo, diante de Stalin), em que bota os pingos nos is sobre o que realmente (?) entende (?) por Fronteira de 1967, entre Israel e a Cisjordânia.

Rodovia construída junto do muro em Tulkram, na Cisjordânia,
para uso exclusivo dos colonos
Eu mesma ainda não sei se Obama é um homem sem coragem; se justiça não é mesmo sua praia; se fala o que público quer escutar (aliás aconselhou o líder do Labour Party em Londres que Para ganhar, têm de acenar com perspectivas otimistas e não falar nos problemas do passado); ou se no fundo (bastante raso) está tão comprometido com Israel quanto Bush, Clinton, Reagan, Nixon e vai deixar a água rolar até inundar a Palestina inteira e os palestinos afogarem. Aquela história de limpeza étnica disfarçada.
Em poucas palavras, ele disse que os interesses de Israel e a segurança deste país continuavam prioritários. Que a alusão à fronteira de 1967 não significava autonomia palestina a partir da Linha Verde e nem que Israel fosse obrigado a retirar-se (militarmente e colonialmente) dos territórios ocupados. Ou seja, Obama joga com a semântica como se fosse um dado: A volta às negociações está “baseada” e não “estabelecida” nas Fronteiras de 1967. Caso os ouvintes não tivessem entendido a nuance dialética (perdoe-me Marx pela heresia verbal!), precisou que as partes envolvidas negociariam uma fronteira “diferente” da de 1967, considerando as “mudanças” dos últimos 44 anos, “inclusive demográficas”.
O palestino Said Eid observa a construção
 de uma colônia israelense em Jerusalém oriental,
na Cisjordânia
Obama pôs no mesmo plano ocupantes e ocupados, admitiu direitos iguais aos colonos (no Brasil, a palavra é invasores) que vivem nas invasões na Cisjordânia e aos palestinos que são donos das terras usurpadas. Neste prisma, o muro de separação que devora a Linha Verde parece ser mesmo parte de um plano maquiavélico de ocupação de facto do território palestino anexado; Obama e Bush, tirando o floreado universitário, parecem falar a mesma língua securitário-sectária sem nenhum respeito pela justiça internacional e pela legalidade, a não para seu próprio interesse imediato.

Sinais que os israelenses põem nos arames farpados e no cimento armado
Zona Militar: Quem atravessar ou estragar põe sua vida em perigo
(de mina, tanque e bala)
Devolvo a palavra a Avnevy, que é pessoalmente afetado pelo muro no qual Obama subiu e depois de hesitar, parece ter saltado para o lado oposto ao que os israelenses humanistas, intelectuais, lúcidos, e até os pragmáticos, querem que salte.
“A mensagem que Obama passou pode ser resumida em uma palavra: NÃO.
Não ao retorno às fronteiras de 1967. Não à capital palestina em Jerusalém Oriental. Não a um retorno mesmo simbólico de refugiados. Não à retirada militar do Vale do Jordão – o que significa que o Estado Palestino seria completamente cercado pelo exército israelense. Não à negociação com um governo palestino ‘apoiado’ pelo Hamas, mesmo que este não esteja representado. E assim por diante – Não. Não. Não.
O objetivo é que nenhum líder palestino possa sequer sonhar em aceitar negociar (Prova disto é que a Liga Árabe já anunciou que as negociações só começarão quando Israel estiver disposto a negociar), nem na situação improvável de concordar com a condição de reconhecer que o o Estado-Nação de Israel é do povo judeu... Netanyau e seus comparsas estão determinados a evitar a criação do Estado da Palestina de qualquer jeito. Isto não começou com este governo – está calcado na ideologia e na prática sionista montada por seus fundadores e que David Ben-Gurion implementou em 1948, em colisão com o rei Abdallah da Jordânia. Netanyahu só está fazendo sua parte.
Não a um Estado da Palestina, representa não à paz, agora e jamais. O resto é bobagem. Todas as frases carolas sobre felicidade para as nossas crianças, prosperidade para os palestinos, paz com o mundo árabe, um futuro brilhante para todos, são bobagem.
Netanyahu cuspiu nos olhos de Obama. O público republicano deve ter se divertido. Talvez até alguns democratas. Pode ser que Obama não tenha se divertido. Se não tiver, o que vai fazer agora? Tem uma piada judia sobre um homem que pede comida em um hotel ameaçando fazer o que o pai fazia. Apavorado, o responsável do local o alimenta e depois pergunta timidamente: ‘O que o seu pai fazia?’ Engolindo a última garfada o homem responde: ‘Ele dormia de barriga vazia’.
É provável que Obama faça de conta que o cuspe em seu rosto é pingo de chuva. Sua promessa de evitar que as Nações Unidas reconheçam o Estado da Palestina lhe tirou a maior arma de pressão sobre Netanyahu. Alguém em Washington parece estar querendo que Obama discurse no Knesset em Jerusalém, como uma retaliação a Netanyahu por este ter se dirigido diretamente a seus concidadãos. Foi o que sugeri no ano passado, mas não neste ano.
Anwar Sadat no Knesset em novembro de 1977
A ideia da vinda de Obama é inspirada no discurso de Anwar Sadat diante do Knesset, mas a comparação é impossível. Naquela época Israel e o Egito ainda estavam oficialmente em guerra. Ir à casa do inimigo só quatro anos depois de uma batalha sangrenta, provocou um choque na população, eliminando preconceitos e abrindo mentes. Ninguém se esquece da hora em que a porta do avião se abriu e lá estava, bonito e sereno, o líder do inimigo.
A visita de Sadat foi em si um ato e um evento. Obama não. Ele não vai mudar a opinião pública, a não ser que chegue com um plano concreto de paz detalhado, com prazo e vontade explícita de levá-lo a cabo, qualquer que seja o custo político. Um discurso simpático a mais, por mais que seja bem fraseado, não bastará. Discursos são importantes quando são seguidos de atos, mas não substituem atos. Os discursos de Churchil ajudaram a mudar a história porque foram acompanhados de atos históricos. Sem a Batalha da Inglaterra, sem o desembarque da Normandia, sem El Alamein, seus discursos teriam soado ridículos.
Agora que todas as estradas foram bloqueadas só tem um caminho aberto: o reconhecimento do Estado da Palestina pelas Nações Unidas acompanhado de atos não-violentos massivos da parte dos palestinos contra a ocupação. As forças de paz de Israel também vão agir, pois o destino de Israel depende da paz tanto quanto o destino da Palestina.
É claro que os EUA vão tentar obstruir e o Congresso vai pular, mas a Primavera Israelo-Palestina está para começar."



Para aderir ao boicote, basta estar de olho nas etiquetas e perguntar a origem dos produtos que compra na perfumaria e no supermercado. Marcas a boicotar:  Carmel (frutas e legumes);  Jaffa (frutas e legumes);  Kedem (frutas);  Coral (cerejas);  Top (frutas e legumes);  Beigel (biscoito para aperitivo);  Hasat (agrumes);  Sabra (comida pronta);  Osem (sopas, snacks, biscoitos, comida pronta);  Dagir (conservas de peixe);  Holyland (mel, hervas);  Amba (conservas);  Green Valley (vinho);  Tivall (produtos vegetarianos);  Agrofresh (legumes);  Jordan Valley (frutas secas);  Dana (tomate);  Epilady (aparelho de depilação);  Ahava (cosméticos do Mar Morto).
Plantar uma árvore para a Palestina

Esta colônia, Har Homa, custou à Cisjordânia, além da invasão,
a derrubada do último pinheiral de Belém.  
Ação do BDS no salão de turismo em Paris: http://youtu.be/plUA0fVNQAc;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/; http://www.bigcampaign.org/;


Nenhum comentário:

Postar um comentário