domingo, 22 de maio de 2011

Obama teria coragem de promover a paz no Oriente Médio?


Palestina dos palestinos em verde: Mapa 1- até 1946; 2- Divisão da ONU em 1947; 3-Divisão Naqba em 1948; 4-Território ao qual muros e checkpoints progressivamente os confinaram.
O mapa 3 indica a Linha Verde, fonteira internacional, dita de 1967 
O único caminho para a paz é o de um compromisso histórico no qual Israel devolva os territórios ocupados em 1967 e que em contrapartida os palestinos renunciem aos territórios perdidos em 1948.
Foi Adam Keller, porta-voz da ONG Gush Shalom que pronunciou estas palavras, acrescentando que Quem não quiser pagar o preço necessário, não conseguirá chegar a um acordo essencial para o futuro de Israel. Netanyahu e seu governo estão tentando cortar vários pedaços dos territórios ocupados construindo colônias de maneira acelerada, não permitindo o gelo nem de três horas; instigando a ocupação do Vale do Jordão que representa um terço da Cisjordânia;... Assim o governo de Israel bloqueia todas as estradas para a paz, para o compromisso, e com os próprios atos aumenta seu isolamento no mundo e constrói uma pressão internacional em relação a setembro.
Re-União do Fatah (Abbas) e do Hamas (Meshaal)
Setembro é a data marcada para as eleições parlamentares que definirão as novas lideranças políticas palestinas e também para a reunião prevista na ONU na qual reconher-ce-á, ou não, o Estado da Palestina – quando a ONU criou o Estado de Israel esqueceu-se de legalizar a situação dos autóctones, os deixando sem direitos nacionais e apátridas.
Keller falou antes do esperado discurso de Barack Obama desta semana, no qual o presidente dos Estados Unidos demonstrou menos firmeza do que o (pós-eleição) feito no Cairo. Deu o sermão de sempre aos ditadores árabes hostis e reafirmou, diretamente ou nas entrelinhas, seu apoio aos ditadores aliados apelando até para a ignorância – o que, neste caso, é que protege o “presidente” do Bahein (que usa de meios violentíssimos contra os manifestantes democratas) por causa do perigo de infiltração iraniana no movimento pro-democracia. O que é uma acusação leviana, para não dizer errada, e não um fato.
O fato é que os ditadores do Bahein e da Arábia Saudita (o do Yêmen alega ameaça do Al-Qaida) sabem que seu poder econômico lhes dá carta bege que usam como carta branca para agir como se fossem intocáveis. O outro fato é que a Primavera Revolucionária nos países árabes pegou os EUA de surpresa e tirando a Líbia, que a OTAN concordou em atacar porque o ódio contra Kadhafi e o interesse no petróleo é mútuo, Washington (e nenhuma outra capital) não teve e não tem nenhuma influência sobre estas revoltas nacionais (embora haja rumores de que a Blackwater - empresa provedora de mercenários aos EUA que está sendo processada no Iraque por massacres - esteja recrutando colombianos e africanos para treiná-los; para quê e para onde, ainda não se sabe).      
Onde os EUA intervieram, ou seja, na Líbia, a situação mostra que os líbios vão ser mesmo derrotados. Não apenas Kadhafi. Este está de joelhos, é verdade, mas os “rebeldes” estão prostrados. Todos estão exauridos nesta guerra civil em que, como previsto, os vitoriosos ocidentais é que vão dar as cartas. Pelo menos até a resistência à ocupação estrangeira começar e com ela os atentados. Aí a Líbia vai virar mais um Iraque. Mais um Afeganistão. Mais uma fonte de renda para a indústria de armas e de mercenários. Mais um país instável propício ao Al-Qaida, e em uma zona em que este já está bastante implantado. É aquela política míope do curto prazo. A mesma que pôs os cidadãos do Paquistão à mercê de uma cadeia de atentados, dos taliban e simpatizantes recém-engajados, desencadeada pela execução sumária de Ben Laden.

Colônia israelense na Cisjordânia
Mas voltando ao discurso de Obama, no tocante à Terra Santa amaldiçoada, precaveu-se contra a ira reacionária criticando os palestinos por terem se retirado de uma discussão que ele sabia ser um monólogo de imposições unilaterais, mencionando a multiplicação das colônias israelenses na Cisjordânia sem condenar sua ilegalidade (coerente com seu voto recente no Conselho de Segurança da ONU). Porém, acabou pronunciando a frase que não podia mais deixar de lado; a frase que desde que assumiu o governo vem ouvindo de todos os que realmente entendem algo do Oriente Médio e do caminho que leva à paz. Não foi categórico como Adam Keller, mas reconheceu, para o mundo inteiro, que o respeito de Israel às fronteiras anteriores a 1967 é uma condição sine qua non para a paz. Uma guinada de 360 graus à qual foi quase obrigado pela lógica intelectual e pela moral. Um rompante passageiro, acho.
O aniversário da Naqba na semana passada mobilizou um número recorde de palestinos tanto na Cirjordânia e Gaza quanto dos que vivem em países vizinhos em campos de refugiado. A simpatia da opinião pública internacional à sua causa é inegável. A repressão israelense foi desmesurada e internacionalmente condenada.  

Uma terceira Intifada não parece iminente, mas em um futuro próximo ou remoto, não é descartável.
Se acontecer, será um banho de sangue maior do que o do Líbano (2006) e de Gaza (...2008-09-10...a semana passada) e esta pode ser a gota d'água para o despertar de uma solidariedade concreta dos países árabes recém-libertados.
 Os jovens palestinos também chegaram ao ponto do Basta (prova disto, a união nacional que forçaram), e os vizinhos egípcios que enxotaram Mubarak já deixaram claro que não aceitarão nenhuma cumplicidade na ocupação da Palestina e afirmaram qual é o seu lado.   
Encostado na parede, a voz e a postura de Obama indicaram a recalcitrância em liderar um mundo que não entende tanto quanto desejava, sobretudo sem a força de vontade (ou ideológica) que demonstrava para descompromissar-se dos contratos, dos pesos e dos afilhados inconvenientes que seus antecessores carregavam. As garras da AIPAC e dos demais lobbies sionistas nos EUA e particularmente em Washington, são potentes e tenazes. Duvido que Obama tenha coragem de libertar-se. Afinal de contas, é um político a mais e não um homem de caráter inabalável. A prova disso é manter sua Secretary of State Hillary Clinton, que bóia em uma lama mais pesada do que as águas do Mar Morto, e o impede de re-alinhar-se aos europeus neste caso espinhoso.
Obama está indo à Europa buscar apoio, primeiro em Londres com James Cameron, que, diga-se de passagem, precisa se redimir pelos erros do passado. Tony Blair é caso perdido, um sanguessuga sem escrúpulos que só pensa em lucrar. Apesar dos dois, a sociedade civil inglesa é uma das mais ativas no boicote econômico, intelectual e cultural a Israel e o Primeiro  
Um dos produtos boicotados
Ministro, mais cedo ou mais tarde, terá de acatar o que seus concidadãos proclamam por todos os lados (na televisão-documentários claros e vários seriados que enfocam a questão Palestina), inclusive, ou mais ainda, nas universidades - a União dos estudantes da Universidade de Londres (a maior organização estudantil da Europa) votou a favor do boicote de pessoa, empresa ou instituição que contribua direta e indiretamente na ocupação da Palestina.
Obama também tem de estar em fase com seus eleitores e ele não foi eleito pelos membros da APAIC (lobby sionista radical cortejado por Sarah Palin), mas por judeus liberais formadores de opinião, como o comediante Jon Stewart (Daily Show), o professor Noan Chomsky e tantos intelectuais e artistas estadunidenses contrários à política colonio-expansionista atual.
O contra-ataque do primeiro ministro Binyamin Netanyaun foi imediato, mas sucinto demais para convencer que tem a última palavra. O Conselho de Segurança da ONU só depende de um voto que sempre faltava para impor o Direito nos Territórios Ocupados: o dos EUA. Com este voto, as Nações Unidas estarão em fase na criação dos dois Estados respeitando a fronteira de 1967.
Contudo, não vejo Barack Obama com peito para dar o passo justo para a frente em vez de recuar como os outros presidentes estadunidenses. Só se Netanyahu humilhá-lo, humilhá-lo e humilhá-lo publicamente até ele não poder mais. Os EUA têm um orgulho desmesurado. É por isso que fazem tanta bobagem. Mas neste caso, não seria para causar dano e sim para fazer uma boa ação inquestionável.

checkpoint na Cisjordânia
Fala-se muito na pressão interna que Netanyahu sofre dos ortodoxos e dos sionistas radicais, mas fala-se pouco da pressão das forças democráticas internas, das ONGs de Direitos Humanos que proliferam, dos jovens que dizem Basta, como a própria filha do ex-chefe do Mossad. Exemplares do livro Breaking the Silence lançado no ano passado pelos reservistas que criaram a ONG homônima, têm passado de mão em mão nas escolas e os estrangeiros que o lêem ficam chocados com o relato das violências físicas, psicológicas e morais que os oficiais impõem aos palestinos através dos soldados. Resta esperar que a era obscurantista israelense que se eterniza com a influência crescente do fascista Avigdor Lieberman se reverta para uma tomada de consciência. Não precisa ser nem justa e humanista. Só pragmática.

O livro do Breaking the Silence tem 344 páginas com uma seleção de 183 depoimentos sobre a ocupação diurna e noturna da Cisjordânia. Depoimentos que embora não denunciem os atos mais escabrosos dos ocupantes militares e civis israelenses contra os palestinos ocupados, já dão uma ideia do clima de maudade e impunidade de Israel. Todos os relatos são indiscutíveis. Nenhuma das histórias escabrosas foi negada pelo exército, que nem podia, já que tanto os editores quanto os demais adultos que o serviram sabem discernir a verdade.

Como por exemplo, as incursões militares noturnas nas cidadezinhas tranquilas em que os soldados invadem casas aterrorizando famílias que acordam apavoradas com a investida; as humilhações nos checkpoints entre as cidades, em que os pais de família são maltratados diante dos filhos; as horas de espera injustificada; os entraves diários à ida dos meninos à escola, dos adultos ao trabalho, das visitas familiares.

Fronteira do Egito com Rafah, em Gaza
O Egito de Mubarak ia construir um muro de ferro na fronteira com Gaza. O Novo Egito já anunciou que enterrou estas obras e que vai abrir a fronteira com Rafah. (Mas quanto tempo os EUA deixarão no Egito um governo pró-palestino?)
Por outro lado, a Flotilha da Liberdade já está em marcha com um número crescente de navios hasteando bandeiras de muito mais países do que no ano passado. Em junho alcançarão Gaza - se os países vizinhos deixarem os navios passarem.
Obama já descobriu que matar é fácil. E já matou bastante gente desde que foi premiado com o Nobel precipitado. Mas para ocupar um lugar de destaque na História universal vai precisar de muito mais do que a cor da pele e a execução midiática de Bin Laden. Vai precisar fazer juz ao Nobel que virou jacota e que segundo as más línguas o constrange e pesa  na sua consciência pesada. Deve suspeitar que não é com promessas nem discurso e sim com medidas concretas, justas, que deixará uma marca válida.
Resta saber até que ponto a Paz a que o Prêmio Nobel o engaja lhe dará a coragem que precisa e que lhe falta. Eu acho que se fizer algo positivo, será em fim de um segundo mandato e olha lá.  

Muro/barreira israelense em Belém, na Cisjordânia

No Way through : E se a minha cidade fosse cortada por checkpoints? 

Manifestação semanal contra o Muro em Bil’in, na Cisjordânia: http://youtu.be/8_adfyJvcOw, http://youtu.be/NIdBsChSNRE;
Campanha Breaking the silence no Facebook: http://www.facebook.com/BreakingTheSilenceIsrael;
LIVRO on line: http://www.scribd.com/doc/45787174/Breaking-the-Silence-Full-Book-ENG-Dec22-10-Occupation-of-the-Territories-Israeli-Soldier-Testimonies-2000-2010;
Desapropriação em Jerusalém:http://youtu.be/LcjchhD3qBc;
Free Gaza Movement:http://www.freegaza.org/
Global BDS Movement:http://www.bdsmovement.net/;


Reservista da IDF (Exército Israelense) Breaking the Silence

Passeata anti-lobby israelense AIPAC em Washington

Nenhum comentário:

Postar um comentário