domingo, 27 de dezembro de 2015

Israel vs Palestina : Operações Militares IX (1982-Líbano II)


Após e durante a Operação de assassinatos Wrath of God/Bayonet do esquadrão da morte do Mossad em parceria com a IDF, Israel organizou várias operações militares contra Jordânia, Egito e Síria. Essas operações tiveram consequências indiretas sobre a Palestina, inclusive a Guerra do Yom Kippur que privou a Síria das Colinas de Golã. No entanto não tiveram tanta importância quanto as campanhas israelenses contra o Líbano, país que acolhera os dirigentes da OLP que escaparam do Setembro Negro. A Síria abrigava Yarmouk, o maior campo de refugiados e capital da diáspora palestina, o governo sírio dava apoio à OLP, mas o quartel general de Yasser Arafat era em Beirute, cidade plurireligiosa e cosmopolita como Damasco mas que gozava de instituições democráticas.
Desde 1977 que o Primeiro Ministro de Israel era o imigrante polonês Menachen Begin, premiado em 1978 com o Prêmio Nobel da Paz junto com o presidente do Egito Anwar el Sadat pelo Acordo de Paz patrocinado pelo presidente dos EUA Jimmy Carter. A foto do aperto de mão em Campo David foi manchete de todos os jornais do planeta e da noite para o dia o general sectário com fama de irresponsável radical-nacionalista, promotor mor da ieologia sionista do "Grande Israel", foi transformado pela 'grande mídia' influenciada pela hasbara em estadista de proporções históricas inacreditáveis. Pois não era e jamais seria um estadista respeitável e muito menos pacifista. A prova foi que no ano seguinte aprovaria a construção da colônia de imigrantes judeus Elon Moreh perto de Nablus, e diria: "There are many more Elon Morehs to come". Cumpriu a palavra. Durante seu governo quadruplicou o número de invasões judias na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Na verdade, a paz com o Egito foi uma tática para proceder à limpeza étnica da Palestina sem que o Cairo reclamasse.
Para conseguir este objetivo, "tinha de livrar-se" da OLP e de seus líderes. Foi então que voltou à carga no Líbano com uma operaçãos militar de nome idílico que deixaria Beirute em pedaços.

Operation Peace for Galilee vista pela grande mídia 

1982
JunhoOperation Peace for Galilee. Operação que ficou conhecida em Israel e na grande mídia como First Lebanon War e no Líbano e na Palestina simplesmente como  Al-Ijtiyãh - A Invasão.
Tudo começou no dia 06 de junho com a desculpa da tentativa de assassinato do embaixador de Israel na Inglaterra Shlomo Argov. O autor do atentado era membro da organização de Abu Nidal, banido da OLP por radicalismo e inimigo pessoal de Yasser Arafat, sobretudfo após o acordo de cessar-fogo que Abu Ammar assinara em 1978. Embora a dissidência de Abu Nidal fosse fato público irrefutável, Menachen Begin usou o pretexto do atentado para inaugurar novo ciclo de violência 'justificando' que a invasão era um "ato de defesa" para "avoid another Treblinka", referindo-se ao campo de concentração nazista.
Dizem que o Ministro da Defesa Ariel Sharon convenceu o Primeiro Ministro que a operação seria uma incursão rápida para destruir a infraestrutura político-militar da OLP e espantar o apoio sírio do sul do Líbano. Tudo isso a fim de assegurar a hegemonia em Beirute de políticos aliados de Tel Aviv e dar espaço às milícias libanesas pseudo-cristãs extremistas que a IDF treinava em Israel para combater os refugiados palestinos.
Porém, como na Jordânia quando a Operation Tofet/Inferno se transformara na Batalha de Karameh da qual a OLP saiu reforçada e Israel vulnerável, a Operation Peace for Galilee encontrou tamanha resistência do exército libanês e da OLP que a palavra guerra logo pareceu mais adequada, apesar da desproporção do arsenal de agressor e agredido. O campo de batalha foi da capital do Líbano para baixo até as Fazendas de Shabaa. A IDF jogou bombas e mais bombas para limpar o caminho dos tanques e soldados em uma sucessão de perdas, danos, e semeando caos.
(O grande Mahmoud Darwich relata poeticamente o calvário diário dos beiruti e a resistência palestina à invasão, em seu livro Memórias do Esquecimento)
O general Ariel Sharon semeou o terror em Beirute durante dias e a deserção da direção da OLP em vez de acalmá-lo só fez piorar seu estado de ânimo. Só pensava em saciar sua sede de sangue e vingança. Por isso após semanas de bombardeio apelou para as milícias libanesas treinadas em bases israelenses para fazerem um trabalho imundo em seu lugar - massacrar famílias inteiras nos campos de refugiados de Sabra e Shatila* no subúrbio de Beirute dos dias 16 a 18 de setembro de 1982 (Blog 15/01/12).
Depoimento de Robert Fisk sobre Sabra e Shatila

A notícia e as imagens da carnificina correram o mundo e chocaram até os israelenses. Centenas de milhares de pessoas encheram as ruas de Tel Aviv na maior passeata da história do país. Encostado na parede, o general Begin teve de abrir inquérito sobre a ocorrência. Nomeou a Kahan Commission para investigar e esta constatou o envolvimento "indireto" do governo através do Ministro da Defesa.
Apesar das provas cabais, o general Ariel Sharon safou-se apenas com acusação de "negligência". Porem, foi obrigado a demitir-se a fim de salvar a pele do Primeiro Ministro e acalmar seus concidadãos que pediam a demissão de ambos.
Talvez Begin realmente não soubesse das tramas de Ariel Sharon, pois consta que parecia desorientado ao visitar o local da Batalha de Beaufort (retratada ludicamente no filme Valsa com Bashir de Ari Folman). A prova maior de sua ignorância da amplitude da operação militar que autorizara foi a pergunta que fez a Ariel Sharon, que o acompanhava à paisana (foto ao lado): "Do Palestinians have machine guns?!"
(Anos mais tarde o jornalista do Haaretz Uzi Benziman publicou uma série de artigos acusando o Ministro da Defesa Ariel Sharon de ter enganado o Primeiro Ministro Menachen Begin com conhecimento de causa. Tanto em relação aos objetivos iniciais quanto ao desenrolar da operação-guerra. O general Sharon deu queixa contra Benziman em 1991, o processo durou 11 anos com o ponto culminante do depoimento de Benny Begin, filho do general Begin, em favor do jornalista. Sharon perdeu o processo, sem nenhuma consequência.
Por outro lado, o jornalista argentino Hernan Dobry afirmou que no mesmo período Primeiro Ministro de Israel mandou armas para a junta militar argentina no combate à Inglaterra pelas Malvinas. Não se sabe se foi por Menachen Begin simpatizar com a iedologia autoritário-repressiva da ditadura militar ou por vingança (sede insaciável dos israelenses) por os ingleses terem executado seu amigo do Irgun Dov Gruner na Palestina em 1947 por atos terroristas e homicídio).

Witnesses talk about Sabra and Shatila

Na Operation Peace for Galilee o homem que Menachen Begin queria pôr no governo do Líbano para garantir seu domínio era Bashir Gemayel. Bashir encontrara Ariel Sharon alguns meses antes e este lhe anunciara a intenção de invadir seu país para "limpá-lo" da OLP como o Hagannah limpara a Palestina em 1948. A notícia da cumplicidade de Bashir com Tel Aviv revoltou os libaneses cristãos progressistas e os muçulmanos, que sentiam que Bashir queria o poder a qualquer preço. Em nome de Sharon, encontrou Hani al-Hassan, da OLP e transmitiu-lhe o recado para a OLP ir embora do Líbano antes que fosse tarde. Hami não respondeu nada.
A Operação começou no dia 06 de junho e os líderes da OLP lutaram junto com os fedayin até Bashir Gemayel ser eleito à Presidência no dia 23 de agosto. Daí em diante os dias do Fatah estavam contados e a ordem oficial de expulsão foi rápida. Yasser Arafat deixou Beirute no dia 30 de agosto com os outros companheiros expulsos deixando os fedayin protegendo a cidade com meios bem aquém dos do invasor. E sem a proteção da OLP e do respeito e medo que seus líderes inspiravam em seus inimigos, as famílias dos refugiados ficaram desprotegidas. Viraram presas fáceis. Daí o massacre de Sabra e Shatila. Totalmente desnecessário e militarmente injustificável. Não dá nem para chamar de vingança porque não havia do que vingar. Foi simplesmente um ato bárbaro, de jovens doutrinados, drogados, treinados em Israel para matar outros árabes.

Operation Peace for Galilee vista pela grande mídia 

Durante a Operação O bombardeio do setor Oeste de Beirute foi constante, inclemente e não parou nem depois da OLP ter relocalizado seu quartel-general para Trípoli. O banimento de Yasser Arafat e dos líderes políticos palestinos para Atenas aconteceu no dia 30 de agosto. A rendição de Abu Ammar decepcionou muitos resistentes que esperavam que ele cumprisse a palavra de lutar até o fim. Mas há quem argumente que foi necessária para proteger a liderança e acalmar a ira de Israel contra o Líbano. Sei lá. Só sei com certeza que a evacuação dos líderes políticos da OLP foi organizada pelo diplomata mais famoso da década de 80, Philip Charles Habib (citado no vídeo da jornalista francesa Christine Ockrent abaixo), que merece uma palavrinha. Philip Charles nasceu em Brooklyn, em Nova York, de pais libaneses-cristãos imigrantes durante a perseguição sob o Império Otomano. Conhecia e reconhecia bem o drama dos palestinos e não apenas. Foi graças a Habib que o governo de Ronald Reagan conseguiu vitórias diplomáticas históricas. Talvez tenha sido o único diplomata estadunidense com capacidade e vontade de resolver o problema da ocupação da Palestina justamente. Doutorado na Berkeley University, foi special envoy to the Middle East do Presidente dos Estados Unidos de 1981-1983. Durante esse período Habib conseguiu evitar duas guerras de Israel em 1981 - uma contra a Síria e uma contra a OLP. Não conseguiu evitar a do Líbano nem a carnificana de Sabra e Shatila.
Entretanto, foi ele que negociou o fim do sítio de Beirute e foi ele que conseguiu deslocar com segurança a direção da OLP para Trípoli sem que Ariel Sharon conseguisse assassiná-los - pois o Esquadrão da Morte da Operação Bayonet ainda estava ativo nesse período.  Habib representou também papel importante na eleição de Bashir Gemayel à presidência do Líbano (foto dos dois ao lado).
Infelizmente, como era diplomata de carreira, Habib foi transferido para outros continentes onde resolveu muitos problemas, mas deixou a questão Palestina nas mãos de compatriotas judeus ou wasp simpatizantes de Israel. Com excessão de George Mitchell, mas até ele acabou se curvando.

Sabra e Shatila

Concluindo esta Operação sangrenta Peace for Galilee, ao ser questionado pela imprensa britânica em junho de 1982 sobre o direito dos palestinos terem um país seus, Ariel Sharon disse com cinismo: "But they have a homeland. It is the Palestine that is called Jordan."
Um lintelectual palestino refugiado no Líbano respondeu à altura: "Why don't they [Israel] call the next one 'Kill the sons of dogs'That way we'll be sure they really are coming in peace." e continuou, "War aims were wider than the publicised mission of the invasion which was to remove the PLO. Ordinary people were instead wiped out by indiscriminate bombing, while the PLO and its leaders remained very much intact and alive." Concluiu descrevendo as condições de 'vida' de seu povo: "Through settlements, through the harsh and daily realities of occupation, through state terror tactics, through laws and administrative procedures that discriminate on ethnicity and race, through imprisonment without charge for indefinite periods, denial of freedom or movement to residents of towns or villages, and more than fifty years of emergency laws that have sanctioned the humiliation of an entire people - the government of Israel has tried to destroy the will, the national identity and consciousness of Palestinians, as well as weaken and divide surrounding Arab nations."
De fato, no dia 9 de julho de 1982 o Ha'aretz (jornal mais liberal de Israel) confirmou o objetivo dos governos sucessivos com essas operações militares que mudavam de nome idílico mas não de ideologia. O general da IDF Rafael Eitan explicou: "Israeli stay in Lebanon is part of the struggle over Eretz Israel (Talmud, greater Israel.) That is the point. This whole battle in Beirut - it is the struggle over Eretz Israel, a war against the main enemy that has been fighting over Eretz Israel for a hundred years."
Por sua vez, seu Ministro da Defesa declarou explicitamente seu objetivo: The bigger the blow and the more we damage the PLO infrastructure, the more the Arabs in Judea and Samaria and Gaza will be ready to negotiate with us and establish co-existence.' Co-existência nos termos de ocupante expansionista e ocupado submisso, foi o fim omitido em sua frase.
Mas não conseguiria, pelo menos a curto prazo. Pois em pouco tempo os palestinos o surpreenderiam com a Intifada.

 Hasbara sionista sobre a Operation Peace for Galilee
Filme do Spielberg Jewish film Archive

No dia 1° de setembro, logo após a partida da Yasser Arafat e apenas uma semana após sua eleição, Bashir Genayel encontrou o primeiro ministro Menachen Begin em Nahariya, no norte de Israel. O general Begin pediu para Gemayel assinar um acordo de paz imediato em contrapartida do 'apoio' israelense ao Exército libanês e que a IDF se instalasse no sul do Líbano.
Segundo fontes libanesas próximas de Bashir Gemayel, este teve um acesso patriótico tardio: "Bashir was furious at Begin and told him that the Lebanese Forces didn't fight for seven years and that they didn't sacrifice thousands of soldiers to free Lebanon from the Syrian Army and the PLO so that Israel can take their place. Bashir also added that he would not sign the Peace Treaty without national consensus on the matter. Begin was angry at Bashir for his public denial of Israel's support. Bachir refused signing a peace treaty arguing that time is needed to reach consensus with Lebanese Muslims and the Arab nations. That angered the Israelis because they knew that it was almost impossible for the Lebanese Muslims to agree on a Peace Treaty. They realized that Bashir was starting to distance himself from them."
No dia 12 de setembro, o general Ariel Sharon tentou juntar os pauzinhos. Encontrou Bashir Gemayel escondido em Bikfaya, no Líbano. A mesma fonte conta: "During the meeting, Bashir told Sharon that the Lebanese Army would soon enter into the Palestinian Camps to disarm any remaining fighters. They also agreed that the Lebanese Army would attack the Syrian Army's positions in Lebanon assisted by the Israeli Army. In addition, Sharon tried to convince Bashir about signing a Peace Treaty, but Bschir did not change his position on this matter. Bashir had planned to use the IDF to push the Syrian Army out of Lebanon and then use his relations with the Americans to pressure the Israelis into withdrawing from Lebanese territory. By taking this move, Bashir crossed all international red lines about Lebanon and this was believed to be the main reason for his assassination. He tried to force a solution for the Lebanese War at the expense of Israel, Syria, and part of the American administration Henry Kissinger and Alexander Haig."
Pois é, o problema com Bashir Gemayel foi que viveu pela espada e subiu com conchavos com dirigentes perigosos. Foi assassinado no dia 14 de setembro, dois dias depois de encontrar Ariel Sharon. Habib Shartouni, cristão marronita do Syrian Nationalist Party confessou o crime. Dois dias depois começou o massacre de Sabra e Shatila. No dia 22 de setembro Amin Gemayel assumiu a presidência do Líbano sem a força e sem o carisma do irmão caçula. A estabilidade com a qual os libaneses cristãos e muçulmanos sonhavam  estava longe de ser conseguida.
Quanto à OLP, Yasser Arafat retornaria rapidinho. Não para Beirute, mas para Trípoli, no norte do Líbano.
Voltaria à Palestina mais tarde, graças à Intifada que começaria em 1987 e terminaria com seu retorno do exílio em 1991.


* O massacre em Sabra e Chatila foi o terceiro grande drama que os palestinos viveram no exílio. 
O primeiro foi o Setembro Negro em 1970 na Jordânia.  
O segundo foi o de Tel al-Zaatar (A Colina do Tomilho), um campo que abrigava cerca de 60 mil refugiados no nordeste de Beirute. Este foi obra das milícias extremistas cristãs com o apoio da Síria e terminou com cerca de 2.000 palestinos mortos e mais de 4.000 feridos. Os palestinos conseguiram resistir dois meses ao sítio que começou no dia 22 de junho. Até começarem a passar fome. Pediram ajuda a Yasser Arafat e aos companheiros do Fatah, mas era tarde demais e foram aconselhados a se renderem. Foi o que fizeram no dia 11 de agosto, exangues e confiantes na proteção da Cruz Vermelha, encarregada de organizar a evacuação dos civis e dos combatentes palestinos. Contudo, após concordar com os termos de rendição, no dia seguinte as milícias libanesas extremistas invadiram o campo massacrando todos os palestinos que encontravam pela frente. Em seguida destruíram e queimaram o campo inteiro, obrigando os sobreviventes a voltar a procurar refúgio alhures.

Documentário Al Jazeera: História da OLP
History of the PLO  - Winds of Heaven  III  (24')  
The Great Survivor  IV  (24')  
 Intifada V  (24')  

NEWS Palestine
Resultado de imagem para norman finkelstein carlos latuff
French PM accuses Israel's critics of anti-SemitismAli Abunimah.

Norman FinkeslteinAnti-Semitism–A Jewish Hobby. Dec.23rd, 2015.
Jews on US campuses benefit from reverse discrimination. "Is There a new anti-semitism”? PART 6. https://www.byline.com/project/13/article/686

Resultado de imagem para intifada 2015 palestinians killed by israelis
Dossiês da B'Tselem:
Unjustified use of lethal force and execution of Palestinians who stabbed or were suspected of attempted stabbings.

The journey from Nazareth to Bethlehem, today. Virgin Mary and Saint Joseph would have to pass through Israeli checkpoints occupied land, illegal settlements and separation wall.

Nenhum comentário:

Postar um comentário