domingo, 20 de abril de 2014

Israel vs Palestina: História de um conflito LIV (02-06/2006)


O mês de fevereiro de 2006 começou com um atrito entre os invasores civis e militares instalados na Cisjordânia.
No dia 01, um batalhão da tropa de choque da polícia israelense teve de enfrentar compatriotas de uma colônia-pirata para evacuá-los na marra.
(De vez em quando israelenses ainda mais espertinhos do que os imigrantes e os empresários autorizados a usurpar terreno - os primeiros, para ter casa de graça; os segundos, para pagar menos imposto - se juntam e invadem mais terra na Cisjordânia espontaneamente, sem autorização de Tel Aviv; como se as lavouras alheias fossem lotes gratuitos à disposição de qualquer estrangeiro espertinho. Aí a ilegalidade da invasão é dupla. Tanto nas leis internacionais quanto nas dos próprios ocupantes. E de vez em quando os palestinos conseguem a expulsão destes.
Na maioria absoluta dos casos, os moradores indesejados só são transferidos para invasões "oficializadas pelo governo" ocupante, onde continuam a ocupar terra palestina, mas, sempre criam caso como se fossem eles que estivessem sido despojados injustamente de domicílios ancestrais.)

No dia 03, o conflito voltou ao que é. Entre ocupante e ocupado.
O Hamas reiterou que não reconhecia o Estado de Israel, mas que estava pronto a negociar uma trégua e tentar entender-se com quem quisesse conversar com eles.
Falou no vazio, pois em Tel Aviv e em Washington ninguém deu crédito à mão que o novo partido dominante na Palestina estendia, mesmo. Os que não se calaram foram sarcásticos e fecharam qualquer possibilidade de entendimento.
Aí no dia 07, para que ficasse claro que não havia outra saída, um dos líderes do Hamas declarou que era bem provável que um deles fosse o novo primeiro ministro, já que constituíam maioria.
O que fazia bastante sentido, conforme as regras de democracia, vale ressaltar, até então, respeitadas na íntegra pela Autoridade Palestina. O processo democrático corria como se o país fosse um Estado cheio de cidadãos com cidadania. Por isso no dia 18 de fevereiro o novo parlamento dominado pelo Hamas foi empossado em um clima de entusiasmo.
Entusiasmo logo abafado.
No dia seguinte os novos parlamentares e os antigos acordaram com uma notícia de arrasar qualquer moral.
Israel parara, nesse dia, de transferir à Autoridade Palestina os impostos coletados em seu benefício assim como suas devidas taxas alfandegárias dos produtos importados que transitam forçosamente por Tel Aviv. Já que nada nem ninguém entra na Palestina diretamente sem ser revistado e sem pagar as taxas de praxe. Pagar taxas não ao país que visita, com o qual comercializa, e sim ao ocupante que capitaliza, capitaliza, e usa a grana da nação ocupada para fazer chantagem.
Graças aos famigerados Acordos de Oslo. Que no final das contas, só servem um lado.
Apesar desta ameaça concreta à economia, no dia 21 de fevereiro Abu Mazen (Mahmoud Abbas) continuou a acatar a vontade da maioria afirmando que encarregaria Ismail Haniyeh, líder do Hamas na Faixa de Gaza, de constituir um novo ministério. Aproveitou também o breve espaço na mídia para explicar que o novo governo prosseguiria as negociações já iniciadas, embora o Hamas achasse que tais discussões fossem perda de tempo, pois "não levarão a nada".
Porém, apesar da boa vontade, o bloqueio do dinheiro continuou e gerou problemas graves imediatos que aumentavam as dificuldades.
A tal ponto que no dia 27 o enviado internacional James Wolfensohn declarar que face à suspensão da ajuda financeira internacional (detida nos bancos de Israel onde rendia lucros que Tel Aviv apreciava) e com o corte israelense do repassamento dos impostos de renda e alfandegários (também rendendo um bom lucro aos bancos israelenses) a Autoridade Palestina estava à beira de um colapso. O prazo que o europeu deu para o país ficar à míngua foi de duas semanas, no máximo.
Preocupante para quem se preocupa com a justiça, mas os padrinhos de Israel só pensavam em como safar-se do que consideravam um "problema" que eles mesmos haviam criado apoiando as eleições e garantindo sua regularidade para que se seguisse as normas e o resultado fosse conforme as regras democráticas de seus respectivos países. Onde, diga-se de passagem, se respeita a vontade da maioria. Mesmo quando esta tem cheiro de fraude, como a de George W. Bush sobre Al Gore no ano 2000.
Por incrível que pareça, apesar de todos os indícios que a população que não aguentava mais as pressões da panela de pressão da ocupação se voltaria para o Hamas em um explode coração! (já dizia nosso poeta Gonzaguinha que se estivesse vivo estaria certamente defendendo esta causa palestina), os aliados de Israel, sobretudo o padrinho gringo, não previram o final do filme cujo enredo estava mais do que nítido.  

Por causa disto, o mês de março começaria com perspectivas sombrias.
No dia 09 de março, o novo primeiro ministro interino de Israel, Ehud Olmert, deu outro golpe nos palestinos que já estavam quase nocauteados após cumprir seu dever democrático de votar apesar de todas as dificuldades impostas pelo general Bulldozer, ainda acamado.
Ariel Sharon estava incapacitado, mas o aprendiz de feiticeiro, ou seja, o ex-prefeito de Jerusalém (que durante o mandato banhou em negócios ilícitos de tráfico de influência e corrupção) que ocupava sua cadeira e nela ficaria representando seu partido Kadima, anunciou que pretendia impor unilateralmente fronteiras permanentes entre Israel e a Cisjordânia. Não as legais de 1967 e sim as que favorizassem Israel. Disse também que se o Hamas "reconhecer Israel e renunciar [sozinho] à violência" retiraria algumas colônias judias da Cisjordânia.
Uma esmola por um grande terreno político e geográfico.
O substituto de Ariel Sharon nem se deu ao trabalho de precisar quais colônias e nem se a ocupação civil e militar também terminariam a curto, médio e longo prazo. Queria que o Hamas assinasse um cheque em branco a um governo que desde 1948 não parava de enganar seu povo e surrupiar seu território inexoravelmente.
A cúpula do Hamas ouviu as bases e nem se dignou a responder a proposta irrisória. Entendeu que o único intuito de Olmert era induzir a opinião internacional a acreditar, uma vez mais, que Israel estava cheio de boa vontade e que o Hamas era intransigente.

No dia 14, em plena crise política, um batalhão de elite da IDF invadiu a prisão de Jericó, na Cisjordânia. O objetivo era sequestrar os resistentes palestinos acusados do assassinato de Rehavam Ze'evi em 2001 - então ministro israelense do turismo.
Um deles era o chefe do PFLP (Frente Popular pela Liberação da Palestina), Ahmad Sa'adat. Segundo acordos internacionais, os quatro presos estavam sob a guarda de estadunidenses e britânicos que haviam se comprometido a garantir-lhes detenção ao mesmo tempo que segurança.
Porém, pretextanto desentendimento com as autoridades penitenciárias, os guardiães internacionais abandonaram seus postos e como por acaso chegou a tropa da IDF em Jericó para efetuar a operação chamada Operation Bringing Home the Goods.
Os prisioneiros resistiram ao sítio durante 10 horas até se renderem ao sequestro e serem levados para Israel deflagrando uma comoção geral na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Tudo levava a crer que mais uma vez o governo israelense abusava dos palestinos por motivos eleitoreiros. Acusações, na maioria anônimas, choveram: "Ehud Olmert usou esta operação para propósitos irresponsáveis de propaganda".
Pois a campanha eleitoral estava da pesada e ele queria eleger-se custasse o que custasse.
Os Estados Unidos de George W. Bush e a Inglaterra de Tony Blair foram criticados, na surdina, pois ficou claro que a retirada dos monitores que garantiam a segurança dos prisioneiros palestinos em território autônomo fora feita em coordenação com Israel, extamente para viabilizar o assalto da IDF.
Estava claro, mas a invasão da prisão palestina e o sequestro dos prisioneiros ocupou pouco tempo das autoridades estrangeiras e poucas linhas de jornal, apesar do assalto militar inclusive descreditar Mahmoud Abbas aos olhos de seus compatriotas já fartos de sua passividade.
A abordagem do presídio foi feita da seguinte maneira. 
De manhãzinha os tais monitores ingleses e estadunidenses disseram ao diretor da prisão que iam levar o carro para consertar. Da prisão foram direto para o checkpoint israelense na entrada de Jericó. Lá chegaram por volta das 9 horas onde os soldados anotaram sua passagem. Logo depois as Forças Especiais da IDF invadiram a cidade e com o apoio de tanques cercaram o prédio. Por volta das 9h30 cerca de 100 soldados sitiavam o local. No fim do sítio que durou mais do que o esperado, cerca de mil soldados da divisão armada já se encontravam nas proximidades, em apoio. Cerca de cinquenta "crueis" (como os veículos militares da IDF são carinhosamente chamados), três tanques e uns tantos caterpillars armados. Dois helicópteros sobrevoaram o edifício para intimidar os sitiados - 200 prisioneiros e guardas - que resistiam estoicamente ao ataque - antes de começar o bombardeio.
Um oficial israelense graduado disse aos jornalistas que chegaram apressados:  "We want to take them out alive, but if they threaten us, we won't hesitate to kill them. We won't agree to any change in Saadat's prison status".
E a IDF usou todos os meios que sua força bélica lhe proporciona.
Cercaram o edifício com todo o aparato citado, os caterpillars derrubaram paredes vizinhas e os helicópteros lançaram mísseis com a intenção de transformar a prisão, segundo as palavras dos oficiais, em uma "pressure cooker" - panela de pressão. Literalmente.
E o local ferveu mesmo e com a pressão muitos sitiados se renderam, sobretudo os guardas e prisioneiros comuns. Saíram de mãos levantadas e apenas de cueca, conforme as ordens que os auto-falantes lançavam.
Quanto a Sa'adat, arrumou um telefone e disse à TV Al Jazeera: "Our choice is to fight or to die. We will not surrender. We are not going to give up, we are going to face our destiny with courage".
Contudo, ao anoitecer, sem água, sem energia, bombardeado e esfumaçado, o resistente palestino acabou ordenando a seus camaradas que se rendessem. Logo depois das 19 horas o major da IDF Yair Naveh anunciou a "vitória".
E a vitória não bastava. Os seis resistentes saíram humilhados e foram "interrogados" de cueca na prisão mesmo. Daí em diante eles desapareceram. Com os seis alvos principais a IDF sequestrou mais sessenta e sete palestinos que foram levados para presídios do outro lado da Linha Verde para interrogatório e coisas mais.
Enquanto os sitiados resistiam dentro do presídio, de fora, meninos jogavam pedra nos crueis e nos soldados que bloqueavam vários bairros da vizinhança para atuar à vontade.
No final da Operação Bringing Home the Goods dois meninos estavam feridos, dois guardas da prisão estavam mortos e havia mais 28 palestinos vítimas de "dano colateral". A IDF não sofreu nenhuma perda. Um terço do edifício estava destruído. 182 dos sitiados foram interrogados ou simplesmente detidos. Alguns, até hoje, como centenas de outros. Sem julgamento nem acusação formal.
A Faixa de Gaza e a Cisjordânia pegaram fogo e se transformaram em lugares inóspitos para os cidadãos estadunidenses e britânicos. As Brigadas Al-Aqsa, o braço armado do Fatah, logo disseram para estes irem embora porque corriam perigo. E de fato. A população estava chocada com o assalto e sentia-se um certo desejo de vingança.
Na Faixa de Gaza muitos comerciantes fecharam as portas em protesto e de repente Gaza estava em greve e as ruas cheias de gente em passeata.
Por incrível que pareça, todas as organizações palestinas de resistência lançaram manifestos com ameaças, menos as Brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas. A circunspecção de Ismail Haniyeh não podia ser mais clara quanto às suas vãs intenções de conciliar. 
Em Nablus, os manifestantes cantaram vários slogans contra Mahmoud Abbas por ter ficado "de braços cruzados".
Nem tanto. Abu Mazen (Abbas) reclamou. Chamou o ataque de "crime imperdoável" e acusou os Estados Unidos e a Inglaterra de cumplicidade. E disse irritado,  "I'm giving the facts. They [the monitors] left at 9.20 am and the Israelis came in at 9.30am. How can we explain that?".
Saeb Erekat, o representante do Fatah encarregado das negociações estava desolado. "This was a severe blow to the Palestinian Authority and to Abu Mazen [Abbas] personally".
Quanto a Ismail Haniyeh, declarou durante o sítio que "The occupation forces' operation is a serious escalation and blatant violation of agreements on Palestinian prisoners with Israel. We warn against any harm to Sa'adat and we see the Israeli operation as part of the elections in Israel. This is unacceptable to us and the Palestinian people. These operations will not scare the Palestinian people and won't dictate surrender to the occupiers. We call on all sides to act responsibly to stop this operation in Jericho and prevent further deterioration".
Sufian Abu Zaida, responsável pelo sistema penitenciário palestino, talvez tenha sido o mais claro. "The operation", disse, "was designed to show the Palestinians what the Israelis can do, and to show the Hamas government what will happen -- no agreements, no cooperation, no coordination, only force".
Mahmoud Zahar, da ala militar do Hamas, também acertou em cheio: "It seems like nobody can win the election among the Israelis without dipping his hands in the blood of the Palestinians".
Khalida Jarrar, uma deputadada da PFLP que Sa'adat liderara, fez uma declaração na mesma linha. Sa'adat was the winning card for Olmert in the elections. We demand of the international community to fulfill its obligations and responsibilities towards the Palestinian people against the crimes of the occupation"
E um dos membros da ala armada da PFLP foi explícito quanto às consequências previsíveis do assalto eleitoreiro. "We will respond, and we will respond harshly, whether Saadat is harmed or not".

No dia 16 de março, na leva, a IDF voltou a atacar a já sofrida Jenine, na Cisjordânia. Em busca, segundo o oficial encarregado da operação, "de terroristas que atiraram em dois colonos nas proximidades de um assentamento judeu  na vizinhança". E a coisa só fez piorar.
No dia 22, Khaled Meshaal, líder do Hamas em exílio, declarou que diante das operações militares constantes de Israel, não havia como os grupos de resistência palestinos pararem de defender seu povo e sua terra. Que a luta contra Israel continuaria. E avisou de novo os Estados Unidos que sua política no Oriente Médio punha lenha na fogueira da violência ao invés de apagar o fogo dos ânimos exaltados.
Pois é, mas Bush pouco ligava. Ou melhor, ligava, mas só para um lado e sem querer entender que a ocupação era O Mal absoluto sem nenhuma relatividade que provocava sofrimento de ambos os lados.

No dia 28 foi a vez dos israelenses irem às urnas, mas para um plebiscito sobre as colônias. Não para erradicá-las e sim para aprovar um faz de conta de fechar umas, aumentar outras duas vezes mais, e aprovar o plano de Ehud Olmert de impor fronteiras definitivas conforme seu agrado e em infração às leis internacionais.
No dia 29, o mesmo Olmert começou conchavos internos para formar uma coalizão após a vitória eleitoral do dia anterior.
No dia 30 de março, uma quinta-feira, as Brigadas al-Aqsa reivindicaram o atentado a bomba-suicida na entrada da colônia judia Kedumim. O bomba-suicida, disfarçado em caroneiro judeu ortodoxo entrou em um carro e explodiu perto da entrada da invasão, perto de um posto de gasolina. Levou consigo quatro israelenses.
No dia 31 de março um carro explodiu na porta de uma mesquita em Gaza matando um resistente palestino proeminente na cidade.
Alguém duvida que foi de propósito?
Conforme o que os provocadores esperavam, Ismail Haniyeh reagiu logo. Também conforme o desejado pelos autores do atentado, descartou então publicamente qualquer possibilidade de reconhecer Israel ou de abandonar a luta contra o ocupante até este retirar-se definitivamente da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
"A ocupação era a origem de todos os males", disse então um professor da Universidade Islâmica de Gaza.
A ocupação e o comportamento devastador do ocupante.

Em abril, em resposta ao ataque à prisão e ao sequestro de Ahmad Sa'adat que traumatizara Jericó e a Palestina inteira, um bomba suicida explodiu em Tel Aviv.
Desta vez foi uma operação do Jihad. Fora da Cisjordânia. As Brigadas Al-Aqsa só agem, enfim, agiam (já foi desmilitarizada), dentro das fronteiras delimitadas pela Linha Verde. 
Foi em uma segunda-feira, dia 17 de abril de 2006. Por volta das 13h30 um rapaz carregado de explosivo aproximou-se de um restaurante fast food perto da rodoviária de Tel Aviv, no sul do bairro Neve Shaanan.
O bomba-suicida explodiu quando um segurança se aproximou para verificar sua sacola. Levou consigo onze pessoas e feriu cerca de setenta.
Como sempre, foi identificado, a casa de sua família foi demolida pela IDF e sofreu represálias.
Quanto a Ehud Olmert, obteve o que queria. Mostrar que o general Ariel Sharon e o general Ehud Barak não eram os únicos a sujar as mãs de sangue para eleger-se. Um civil também podia.
A ambição pelo poder é cega em qualquer país. Em Tel Aviv ela é também fulminante e sanguinária. O preço é sempre o mesmo, vidas de israelenses e palestinos. E de maneira mais do que desproporcional. Assim continuaria no mês de maio. O de junho, veremos.

Documentário de Shinon Dotan: Hot House
Em V.O. http://youtu.be/PeWpbl5tMns
Em espanhol

Influência do lobby israelense para os EUA considerar Hamas "organização terrorista"


Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 

"If one wants to understand what the Palestinians did on election day, one has to see the film "Paradise Now", which has been nomitaded for and Oscar for the best foreign film, after collecting several prestigious international prizes. It explains better than a million words.
The two main characters, Sa'id and Khaled, are suicide bombers. The film addresses a question that is troubling everyone in Israel, and perhaps throughout the world: Why do they do it? What makes a person get up in the morning and decide to blow himself up in the middle of a crowd of people in Jerusalem or Tel Aviv? 
And some of the people also ask: Who are they? What is their background? How did they come to be like that?
Today, a long time after it was made, the film also answers another question: Why did the great majority of the Palestinians elect the very group that sent these people to blow themselves up?
The film answers these questions. Not with slogans, not with propaganda speeches, nor with an academic report. It does not preach, praise or get mad. It tells a story. The story says everything...
...I studied the faces of the people leaving the Tel-Aviv cinematheque after the performance. They were silent and thoughtful. For the first time in their life they have seen the terrorists who are killing us, who blow themselves up among children, men and women. They see ordinary youngsters, who behave and react as ordinary people. They see the occupation from the other side, the underside.
I sat in the dark cinema, and found myself in a situation of total dissonance: we, the intended victims, who could easily have been sitting on that bus, see everything through the eyes of our murderer. A thought strikes us: that force will not help here. If we kill those two, two others will take their place. The fence will hold up some of them, but not all of them. The Security Service, with the help of collaborators, will prevent some of the attacks, but cannot prevent all of them - and the children of the collaborators will come to avenge. When there are people like that, who grow up in these conditions, some of them will always reach their targets.
The film does not provide solutions. It does not even pretend to be balanced. It exposes us to the face of a reality that we do not know, from an angle that we are not used to - and tortures us with the tension of conflicting emotion.
And perhaps also prompts us to think about a solution that will cause Sa'id and Khaled to turn in a different direction. A solution that will put an end to the humiliation, to the crushing of personal and national dignity, to the destitution and hopelessness.
A few days later, I saw another film that was nominated for Oscars, the much-praised film of Steven Spielberg, "Munich". As it so happens, I saw it in Germany, not so far from Munich itself.
On leaving the cinema, my German host wanted to know what I thought of it. Spontaneously, without thinking, I said what I had felt throughout: "Disgusting!"
Only later did I have time to sort out the impressions that I had accumulated during this very long film. What had disgusted me so much?
First of all, the Spielberg style, a combination of the highest cinematic technique and the lowest cultural content. It has pretensions to profundity, with new and revealing insights, but basically it is nothing but another American Western, where the good guys slaughter the bad guys and the blood flows like water.

Some Jewish politicians protested against the film for equating the "terrorists" with the "avengers". And indeed, in several places in the film the "terrorists" were allowed to declaim some sentences in their defense, about the injustice done to them by the Jews and their right to a homeland. But that is only lip-service, a pretense, in order to give an impression of balance. But in the portrayal of the Munich attack - fragments of which are dispersed throughout the film - the Arabs appear as miserable, ugly, unkempt, cowardly creatures, the very opposite of Avner, the Israeli avenger, who is handsome and decent, brave and well turned-out - in short, the younger brother of Ari Ben Canaan, the superman of "Exodus". The Arabs have no qualms of conscience, but the Israelis have scruples in every interval between murders. They hesitate every time when they blow up / shoot / cut down one of their "targets"- which they do, of course, only after ensuring the safety of the wife and children of the victim. They are not just killers, they are Jewish killers. As an Israeli satirical slogan goes: "Shoot and weep."
The presentation of the affair itself is highly manipulative. It withholds from the viewer some very relevant facts. For example: 
. That the post-mortems showed that nine of the 11 Israeli athletes were killed by the bullets of the pathetically untrained German policemen. (The post-mortem reports are kept secret until this very day, both in Israel and Germany. But a powerful person like Spielberg should know about them.)
. That it was Golda Meir and her German colleagues - great heroes, every one of them - who sealed the fate of the hostages, when they rejected the kidnappers' demand to take them to an Arab country, where they would have surely been traded for Palestinian prisoners held in Israel.
. That the Palestinians, who were killed in revenge for Munich, had nothing to do with the affair. The Mossad was looking for easy targets and chose PLO diplomats posted to European capitals, who were quite unprotected.
The film [Munich]contributes nothing to an understanding of the conflict. It is basically a routine gangster film, which Spielberg centered on the Israeli-Palestinian conflict in order to garner the longed-for Oscars that have eluded him until now."
Uri Avnery. 04/02/2006

Filme "PARADISE NOW", de Hani Abu-Assad (autor palestino de outro filme excelente - OMAR - em 2013, também indicado aos Oscars 2014).
Paradise Now, Produção franco-germano-holando-palestina de 2005. Não ganhou o Oscar, mas ganhou o Golden Globe, o festival de Berlin, e outros prêmios de prestígio. É um ótimo filme. Ei-lo abaixo. (1h31')


Nenhum comentário:

Postar um comentário