domingo, 30 de março de 2014

A Des/Ordem Mundial dos Dois pesos e Duas medidas


Anonymous manda recado para Israel: Pare com seu terrorismo eletrônico, ou...
SourceFed: Anonymous vs Israel

A rapidez com a qual os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções econômicas à Rússia após a anexação voluntária da Crimeia é inversamente proporcional à lentíssima reação dos ditos cujos às ações ilegais de Israel na paulatina anexação do território palestino através das colônias/invasões/assentamentos civis e ocupação militar draconiana.
Pois é, tento pôr de lado a minha consciência deste crime que testemunho há anos, décadas, e também a vergonha da cumplicidade por omissão, mas minha indignação - que graças a Deus continua presente - acaba gritando para cérebro e coração a tragédia humana da minha, desta geração. Não adianta, por mais que tente distanciar-me, por mais que veja e analise os conflitos geopolíticos intermitentes fora e dentro da minha área geográfica, não enxergo nada que se compare com o abuso menosprezado pelo mundo na Palestina.
Talvez seja por isso que esta "crise" na Ucrânia/Crimeia vem me desgostando da profissão de jornalista.
Não que ache que Vladimir Putin tenha razão de sair recuperando o terreno russo que o desleixado Boris Yeltsin perdeu no desmantelamento da União Soviética. Não. Mas também não acho que, apesar da contra-informação estadunidense, Putin queira expandir seu país além de suas fronteiras socio-linguistico-culturais ou que queira invadir a Ucrânia inteira - nem o Leste está cogitado, apesar dos russos que lá moram.
É que de fato embora a Organização das Nações Unidas tenha sido criada no pós-choque da Segunda Geurra Mundial a fim de unir as nações exauridas de violência em uma tentativa de criar diálogo entre elas, paridade, e sobretudo, prover justiça a fim de evitar guerras, o mundo continuou desgovernado.
Enfim, não desgovernado deveras. E sim governado por um pensamento único que é o dos Estados Unidos da América, que ao invés de respeitar o desejo da maioria e investir no interesse comum que asseguraria a paz global, impôs e impõe, inexoravelmente, seu desejo na vizinhança e alhures sempre em benefício próprio.
Esta crise na Ucrânia é mais uma prova da miopia gringa em sua política internacional incoerente e improvisada que cria problemas difíceis de serem resolvidos mais tarde.
Minha descrença com minha profissão é que pouquíssimas mãos botaram o dedo na ferida e mostrar que a tragédia que corrói o mundo não é a anexação de uma região majoritariamente satisfeita de ser anexada e sim a política inclemente dos dois pesos e duas medidas.

A Crimeia abençoou em referendum a anexação à Rússia que já está pronta para soltar verba de milhões para desenvolver o turismo na região, criar emprego e facilitar o trânsito através de uma ponte a ser construída entre a península e o "continente" russo.
Porém, a vontade popular foi considerada irrelevante para os países ditos civilizados que queriam por tudo estender seu mercado à Ucrânia sem o ônus de gastar euros, libras ou dólares. Mas soldados e armas da OTAN já estão marchando em sua direção.
Putin foi banido do G8 para Obama cantar de galo pelo menos uma vez durante seus mandatos e aproveitou para levantar a voz sem concorrência.
E para quê?
Para acabar tendo de abaixar o facho uma vez mais negando uma nova guerra fria acima de suas posses. Ora, no estado atual dos EUA, o país jamais conseguiria bancar um confronto econômico e militar com a Rússia sem pagar um alto preço social. Alto demais.
E não é que desgoste de Obama. Dos males  - republicanos e até a "ameaça" de candidatura democrática da madame Clinton - que poderiam/podem assolar a Casa Branca Obama é sem dúvida alguma o menor. É que infelizmente ele é fraco. Por ser vaidoso e precisar ser amado. Aí a porca torce o rabo porque para governar com eficácia é preciso ser aberto a vozes experientes e ter pulso para impor a decisão certa, em vez de conciliar, conciliar, e fazer bobagem.
É por isso que gosto da nossa presidente. Pois quer queiram quer não, ela é trabalhadora, firme e bom caráter. De forma geral, a política é mesmo representada eleitoralmente em todos os países do planeta por seres de uma baixeza ilimitável.
A resposta sensata e civilizada da Casa Branca à anexação da Crimeia era conversar com Vladimir Putin de "homem a homem" durante a reunião do G8 para saber quais eram suas intenções e dar uma basta, se fosse o caso.
Mas não, Obama optou pela resposta infantil do desagravo. Barrou Putin do baile do círculo fechado como o dono da bola escolhe o time em que joga mesmo sendo perna de pau.
Pois que bola é essa à qual Obama se agarra e carrega para todo lado?
É uma bola hipotecada à China, ao Japão, ao Brasil, aos seus credores que lhe dão corda, corda, e se os EUA não tomarem cuidado vão acabar se enforcando com ela.
Quanto à União Europeia, seguiu o dono da bola furada. Em resposta à anexação oficial da Crimeia, assinou um acordo de segurança e um pacto de cooperação com a Ucrânia. Pois o Pentágono, por seu lado, cancelara um exercício militar multinacional programado na Rússia e inventou um tal de Rapid Trident, a ser executado brevemente na Ucrânia. Mas isto não é ingerência, é cooperação. Palavras, palavras.

A ONU também votou depressa uma Resolução condenando o quê mesmo?
O referendum, a anexação solicitada e concedida pelo Kremlin, ou o fato de Vladimir Putin ter peitado o chefe do Secretário Geral que dita as regras de Washington?
Ora, até a ONU tem dois pesos e duas medidas.
Quando em 1947 a Organização teve a ideia de dividir a Palestina, os palestinos recusaram a medida ipso facto.
O país estava sob mandato britânico e ninguém na Grã-Bretanha nem na ONU teve a ideia de um referendum nacional.
Ninguém teve a ideia democrática e justa de submeter ao julgamento dos nativos o destino ao qual a divisão condenaria suas vidas.
Portanto, quando Israel declarou unilateralmente seu Estado após massacrar centenas de homens, mulheres, anciãos e crianças palestinas, e destruir mais de 500 cidades forçando o êxodo de cerca de 700 mil palestinos aterrorizados, nem os países europeus nem os Estados Unidos impuseram qualquer tipo de sanção a Israel.
Aliás, os Estados Unidos reconheceram o Estado de Israel rapidinho e se tornaram, desde então, seu fiel padrinho. Como todos sabem, mas poucos dizem.
Mais tarde, quando Israel anexou militarmente (sem referendum dos palestinos), no dia 28 de junho de 1967 Jerusalém Oriental inclusive a Cidade Antiga - submetendo os residentes palestinos à sua juridição sob ocupação militar, a ONU suspirou, é verdade; mas não agiu.
Quando Israel tirou da Síria o território sírio que compreendia as colinas do Golã (nascente do rio Jordão) a fim de sequestrar a água dos palestinos, e anexou a região totalmente povoada por sírios a seu Estado, ninguém deu um pio.
Enfim, a bem da verdade, ambas anexações foram invalidadas por várias Resoluções das Nações Unidas, como a 269, 478 e 497.
Todas elas rejeitadas por Israel sem que esta rejeição lhe custasse nada.
No dia 20 de março, enquanto a crise ucraniana prosseguia, a Administração Civil de Israel desafiou com a arrogância que lhe é peculiar as negociações de paz anunciando a construção de mais duas mil residências ilegais nos assentamentos/colônias/invasões na Cisjordânia.
Alguém do G8 disse algo? Houve sanções de algum lado?
Se tiver havido, eu não vi nada.
O que vi, e tenho visto, foi diplomatas estadunidenses tentando convencer a União Europeia a não aderir ao boicote das empresas israelenses instaladas ilegalmente nos territórios palestinos ocupados.
Atualmente há dezenas de empresas e 121 invasões/colônias/assentamentos israelenses na Cisjordânia subsidiadas pelo governo e por milionários sionistas do mundo inteiro. Inclusive brasileiros.
(Só não sei é se no Brasil também as operações financeiras destes magnatas tupiniquins que financiam o apartheid e a limpeza étnica dos palestinos é isenta de impostos como é nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, na Austrália e no Canadá. Também não sei se algum jornalista brasileiro investigativo independente já descobriu e denunciou esta manobra de sonegação indecorosa da qual tenho certeza que a maioria absoluta dos meus compatriotas discorda e combateria, se fosse informada.)
Este dinheiro que sionistas abastados desviam de nossos cofres vão diretamente para os territórios ocupados para patrocinar as residências ilegais de cerca de 500 mil invasores judeus civis na Cisjordânia e empresas piratas como Sodastream, Ahava e tantas mais. E o número só está aumentando, graças a patrocínios e incentivos fiscais.
E estes imigrantes indesejados não apenas roubam terra dos palestinos como também queimam suas lavouras, envenenam cisternas e animais, contaminam água e terra despejando esgoto, atacam meninos a caminho da escola, intimidam, surram, atiram, atropelam e fogem, enfim, recorrem a todo tipo de agressão física e verbal; e tudo isso, impunemente. Protegidos pelos soldados da IDF - Forças Israelenses de Ocupação, que olham e quando não ajudam, cruzam os braços.

Nos últimos meses, enquanto a crise na Ucrânia roubava a cena internacional, na Cisjordânia, a ocupação continuou de vento em popa e em Tel Aviv continuaram os planos de demolição da mesquita Al-Aqsa para a cosntrução de um Terceiro Templo com filme de propaganda e tudo o mais.
(O primeiro foi construído por Salomão; o segundo por Herodes, destruído pelos romanos no século I DC.  Dois séculos mais tarde os romanos erigiram no local uma basílica para Nossa Senhora com um complexo cristão comum na época, compreendendo escola e hospital. Tudo destruído pelos otomanos que ergueram a mesquita Al-Aqsa - nome de Jerusalém em árabe. O Muro das Lamentações é tido por uma ruína do templo israelita, mas poderia ser também do complexo da basílica. Só Deus sabe de verdade.)

Trocando em miúdos, a anexação que a Rússia fez da Crimeia validada expressamente em referendum popular me parece incomparavelmente menos agressiva e menos trágica do que a que Israel vem fazendo há 67 anos na Palestina. Com a cumplicidade internacional.
A judenização de Jerusalém também tem sido uma afronta às leis internacionais. O governo de Israel vem procedendo há anos a coerção, desapropriação e "remoção" dos palestinos que ainda "teimam" em morar nas casas milenares herdadas de seus antepassados.
Trocando em miúdos, a limpeza étnica está sendo feita de maneira constante e evidente. Nem disfarçada é porque os israelenses sabem que na estória dos Dois pesos e Duas medidas, seu padrinho na Casa Branca sanciona Putin por ter anexado um território que suplicava por isso, porém, fecha os olhos a seus crimes hediondos sem perder o sono.
Ora a Quarta Convenção de Genebra é clara em seu Artigo 53: "Any destruction by the Occupying Power of real or personal property belonging individually or collectively to private persons is prohibited."
Na Palestina, os israelenses despojam à vontade. Tanto os colonos/invasores civis quanto os soldados - os testemunhos dos reservistas do Breaking the Silence neste sentido são inumeráveis.
Por que vir ao socorro de ucranianos prestamente e negligenciar o povo palestino décadas a fio como se merecessem menos?
É incompreensível e uma vergonha inexplicável.

Quando a chamada comunidade internacional - ou seja, os países ocidentais mais desenvolvidos do planeta - despreza a tal ponto uma nação e um povo acobertando atos horrendos de um outro, não é apenas este povo, palestino, que é atingido brusca e violentamente pela hipocrisia dos líderes destes países que decidem o que é perdoável e o que é condenável de maneira amoral. Somos todos nós cidadãos do planeta Terra. Você, eu, brasileiros, ingleses, indianos, sul-africanos, e as próximas gerações que também correm risco de ser vítimas do des/governo da cínica des/ordem mundial dos dois pesos e duas medidas.
Obama está reclamando veementemente dos países da União Europeia decidirem diminuir o orçamento militar a fim de aguentar a crise com menos ônus social. Argumenta que todos têm de contribuir na luta pela segurança.
Segurança de quem mesmo? E a que preço?
O mundo só será seguro quando o único exército for o da Organização das Nações Unidas.
O mundo só viverá em paz quando o Secretário Geral da ONU, apoiado pela Assembleia de 194 países - a Palestina incluída - for o árbitro supremo nos conflitos e regulamentações internacionais sem nenhuma espada de Dâmocles pendendo sobre sua autoridade.
Até lá, sou pessimista. Não tenho nenhuma dúvida que a desordem reinará através da vontade soberana do Pentágono e do Capital dos 1% que elegem o Presidente dos Estados Unidos e decidem aleatoriamente nosso presente e nosso futuro sem aprender nada da História e pisoteando o passado.

PS. Atualmente, a Des/Ordem Militar Global é a seguinte, entre os dois elefantes:
The thaw of the US-Russian "reset" that led to the New Strategic Arms Reduction Treaty (New Start) in 2010 has passed and the disarmement process is largely frozen.
The reductions in both countries' strategic arsenals to the 1,550 deployed strategic warheads agreed four years ago do appear to be going ahead. 
Nevertheless, Putin has made clear that he has little interest in a more ambitious follow-on treaty that would have addressed the issue of tactical nuclear weapons in Europe, because of the "threat" of an US major presence in his borders.
The US has an estimated 150-200 such weapons: B61 gravity bombs, based in Netherlands, Belgium, Germany, Italy and Turkey.
Russia has 2,000 warheads for short-range missiles and artillery shells. 
Putin wants to link negotiations on tactical nuclear weapons to the issue of US missile "defence" sites in Europe. Washington insists that the system under construction is only intended "to defend against Iranian and North Korean threat". The US has cancelled the last and most capable phase of the project, but given the US ambiguous position, Russian leader has shown little interest in further discussion. 
Voices within Nato arguing for unilateral confidence building steps, such as the removal of the obsolescent B61 bombs from Europe, have been muffled, and in US Congress there is more support for spending money on upgrading the US arsenal rather than on disarmament.
Therefore, there is no "Cold Peace" in sight. 

Palestine Marathon for Free Movement 2014

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