domingo, 14 de abril de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXXI (11/12 2002)


No dia primeiro de novembro de 2002, a ONG Human Rights Watch publicou um relatório denunciando os "crimes de guerra" dos bomba-suicidas palestinos e dos resistentes que os assistiam.
A HRW omitiu as barbaridades cometidas pela IDF e o Shin Bet nos territórios ocupados, mas a Anistia Internacional corrigiu a falha no dia 04.
Nesse ínterim, a IDF dinamitou, entre outras, duas casas de resistentes em Jenin. Deixando suas famílias desabrigadas.
No relatório da Anistia Internacional, as Forças Armadas israelenses em peso foram acusadas de crimes de guerra. Mas o documento só abordou os massacres em Nablus e Jenin, na Cisjordânia.
No mesmo dia, organizações para-militares palestinas voltaram ao ataque em Kfar Saba. Uma bomba explodiu em uma loja matando duas pessoas e deixando cerca de vinte feridos.
No dia 5, seguinte a este atentado pertinho de Tel Aviv, Israel viveu uma de suas rotinas "democráticas". Encostado na parede, Ariel Sharon anunciou a dissolução do Knesset e eleições antecipadas dentro de noventa dias.
No dia 06, um resistente matou dois colonos na invasão judia Gush Katif no sul da Faixa de Gaza e foi morto no local. Mas sua morte não bastava. Os soldados da IDF descontaram nos habitantes de Rafah. Chegaram atirando indiscriminadamente em civis, causando uma morte e ferindo mais de quinze gazauís.

No dia 10, Israel divulgou que o kibbutz Metzer, criado por imigrantes argentinos em 1953, tinha sido atacado e cinco moradores tinham sido mortos.
Informados sobre o organizador do atentado, a IDF invadiu Tulkarm, cercou a casa do suspeito Mohammed Naifeh com várias tropas, inclusive uma naval.
Encurralado, Naifeh apelou para o Tanzim (organização militar do Fatah), que por sua vez recorreu à ONG israelense B'Tselem e à Cruz Vermelha, a fim de garantir a captura de Naifeh com vida e salvaguardar sua família.
Naifeh foi preso. Mas Sirhan Sirhan, responsável direto pelo atentado, seria assassinado pelo Yamam (uma das brigadas anti-terroristas israelense) em 2003.
Nos dias seguintes, as operações militares no sul da Faixa de Gaza continuaram. Os danos materiais e humanos que os tanques da IDF deixavam eram impressionantes. As perdas, execráveis. Uma delas, a de uma criança, Hamed Asa-ad al Masri, de 3 anos.
Marwan Barghuti estava preso, mas o Tanzim continuava vigilante às incursões militares dos ocupantes.
No dia 15, resistentes desta organização do Fatah armaram uma embuscada em Hebron para a IDF e colonos judeus violentos. Mataram três civis para-militares e nove soldados que os escoltavam. Dentre eles o coronel Dror Weinberg - o oficial mais graduado a morrer durante a Intifada.
A IDF interveio no mesmo dia. Com tropas, tanques e caterpillars armados apoiados por helicópteros que atiraram aleatoriamente nas casas dos hebronitas.
Os danos materiais foram grandes. E grande também foi o número de famílias atingidas pela artilharia.

No dia 19, o general Amram Mitzna, ex-prefeito de Haifa foi escolhido para dirigir o Partido Trabalhista nas próximas eleições legislativas. Ele era chefe da ala "pombos" do partido, assim chamada por ser formada por pacifistas.
A notícia que Mitzna seria o oponente do Likud nas eleições deve ter irritado Ariel Sharon. Pois endureceu ainda mais os ataques nos territórios ocupados.
No dia 21, os feridos se amontoavam e onze palestinos, de sexo e idades variadas, jaziam mortos, sem espaço nos jornais.
Mas a mídia acordou com um bomba-suicida que explodiu em um ônibus em Jerusalém ocidental. No bairro Kiryat Menahem, na parte ocupada. De manhãzinha. O rapaz palestino levou consigo onze israelenses e feriu mais pessoas ainda.
O bomba-suicida se chamava Nael Abu Hilayel, era de Dura, a dez quilômetros de Hebron, e tinha 21 anos. Era considerado um rapaz pacato "empurrado ao extremismo pela humilhação quotidiana," alguém disse. Mas ele levou para o túmulo a razão profunda deste ato terrível.
No dia seguinte foi a vez de um membro das Brigadas Qassam cometer um ato isolado. Mas desta vez o alvo era militar. Jogou uma granada matando os três soldados que patrulhavam al-Barakah, em Dier al-Balah, no centro da Faixa de Gaza.
A retaliação da IDF foi instantânea.
Dier al-Balah foi invadida pela mesma parafernália militar de costume - tanques, caterpillars armados, tropas apoiadas pelos Apaches - para aterrorizar a cidade inteira e semear desastre. O objetivo explícito era bombardear a casa da família do suposto responsável pela morte dos três soldados.
Mas a retaliação não parou na Faixa. Estendeu-se à Cisjordânia. A Jenin, para ser precisa. Sempre visada. Desta vez, foi atacada com a mesma potência militar usada em Dier al-Balah.
Em Jenin, a IDF montou uma operação militar estrondosa para matar dois jovens que já abordamos neste blog. Imad Nastari, chefe do Jihad Islamita local, e Ala'a Sabbagh.
Ala'a era um dos "Filhos de Arna". Era o melhor amigo do único do grupo teatral que continua vivo: Zakaria Zubeidi, que com o assassinato do amigo do peito tomaria a liderança das Brigadas Al-Aqsa em Jenin.
(http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2012/12/teatro-da-liberdade-de-jenin-lava-alma.html)

Ala'a

No dia 28, Ariel Sharon foi eleito triunfalmente para a chefia do Likud, derrotando Binyamin Netanyahu.
As celebrações não tinham acabado quando recebeu a notícia da consequência do assassinato de Imad e Ala'a. Um ataque dentro de Israel. Em Beit She'an. Cidade historicamente palestina no Vale do Jordão que abriga belos sítios arqueológicos.
Os dois resistentes morreram atirando. Levaram consigo cinco israelenses e deixaram mais de trinta feridos.
O ataque carregava um símbolo. Esta cidade foi uma das que foram "esvaziadas" da população nativa em 1948.
A cidade nova foi construída nas ruínas das casas palestinas derrubadas.
Nas ruínas de uma cidade antiga. Da época do Império Filistino na Idade do Bronze, do Ferro, até a Pentápolis filistina ser assolada.

Beit She'an, antiga Scistopolis, por volta de 1100 Antes de Cristo, foi onde os Filistinos, palestinos antigos, combateram os invasores. Foi onde mataram Saul. O rei israelita da época em que a Palestina foi invadida por ser declarada Terra Prometida dos fugitivos do Egito.
Os israelitas conquistaram Scistopolis empurrando os filistinos para as outras cidades que compunham o Império dos Filistinos: Ashkelon, Ashdod, Ekron, Gath (foto à esquerda) e Gaza. Isto aconteceu no segundo período da Idade do Ferro  que estudamos em História na escola, sem estudar este pormenor que envolve a Palestina Antiga.
Foi logo depois deste incidente que Golias, cansado de guerra e de ver seus compatriotas sendo mortos, propôs a David aquela famosa luta corporal entre os dois, no Vale de Elah (foto à direita) para definir a vitória e acabar com a guerra. O vitorioso preservaria a vida do povo do derrotado e todos viveriam em paz.
O resultado é o que se conhece. David traíra, a reza fingida, a areia nos olhos de Golias, a estilingada, a facada fatal quando Golias se encontrava caído tentando recuperar a vista. À execução de Golias seguiu o massacre dos filistinos, a pilhagem das cidades que constituíam o impérioo chamado Pentápolis, o êxodo dos sobreviventes para o que é hoje a Faixa de Gaza.
Gaza que a gazauí Dalila, mais tarde, protegeria do invasor israelita Sansão.
Mas esta é outra história, que em Hollywood virou estória contada de outra forma.
Como a de David nos é contada com ótica que transforma Golias em gigante malvado e David um belo jovem inteligente e frágil.
Voltando à vaca morta, este ataque a Beit She'an, na hora em que Ariel Sharon tinha a eleição assegurada, simbolizava a resistência e lembrava a derrota do rei Saul três mil anos atrás.
O assassinato dos dois jovens líderes e a eminência incontestada de Ariel Sharon ativou a memória da História. Lembrou os palestinos que eles já haviam sido invadidos, derrotados, ocupados, o invasor fora embora mil anos mais tarde, eles haviam recuperado seu território, o invasor voltara em 1948, voltara a ocupar seu território, a humilhá-los, mas eles continuavam lá, firmes e determinados a ficar.
A esperança é a última que morre. Diz o ditado.

Para não perder o costume, o mês de dezembro começou com uma nova incursão militar da IDF no norte da Faixa de Gaza. Noturna, como de praxe. Logo depois da oração muçulmana noturna, a população de Beit Lahya foi surpreendida com os tanques e os caterpillars que avançavam atirando, com apoio de dois Apaches.
No dia 04 Ariel Sharon, em campanha eleitoral, convocou a imprensa para botar lenha na fogueira da Intifada.
Propôs a criação do Estado Palestino, mas em uma área restrita a 40% da Cisjordânia e três quartos da Faixa de Gaza.
No mesmo dia, para mostrar que era isso ou nada, bombardeou "alvos" na Cisjordânia e prédios públicos na Faixa.
A mensagem era clara. Era ele quem mandava.
Uma das vítimas em Gaza foi Mustafá Sabbah, acusado pelo Shin Bet de ser a eminência parda dos ataques contra os tanques da IDF na Faixa.
No dia 11, soldados mataram cinco palestinos na Faixa. Tinha jornalistas nas paragens e por isto não deu para passar batido como os demais assassinatos.
Tel Aviv teve de explicar-se e o porta-voz do governo admitiu que os cinco estavam desarmados. Entretanto, argumentou que foram mortos porque estavam próximos da cerca de arame farpado que enclausura a Faixa.
Explicação que claudicava, mas não foi questionada.
Alguns dias depois, dando continuidade ao processo de destruição de propriedades, os caterpillars armados demoliram cerca de vinte casas, destruíram uma fábrica de pasteurização, oito hortas e pomares na área de Oraiba em Rafah.

No dia 20 os Estados Unidos vetaram mais um projeto de Resolução da ONU condenando Israel. Desta vez a Resolução reprovava o assassinato de vários funcionários das Nações Unidas nos territórios palestinos ocupados.
A frustração dos funcionários internacionais que trabalhavam na Cisjordânia e na Faixa de Gaza era clara, mas sua segurança continuou precária.
Nada foi feito para punir os soldados que mataram seus colegas e todos temiam que o fato se reproduzisse mais tarde.
Seria o caso.
Enquanto isso, no dia 22 a Autoridade Palestina anunciou o adiamento das eleições presidenciais e legislativas marcadas para o dia 20 de janeiro do ano seguinte. Impossíveis de serem realizadas enquanto as tropas da IDF estivessem nos campos e dentro das cidades da zona autônoma.
No dia 26, o número de palestinos mortos no mês de dezembro cresceu para 43 quando sete pessoas perderam a vida. Dentre elas, dois meninos. Além deles, cerca de trinta crianças foram feridas a bala em Nablus quando soldados atiraram em um grupo que voltava da escola. Atiraram porque dois deles jogaram pedras nos tanques na barragem militar.    
Os palestinos lamentaram, reclamaram, mas o "incidente" foi arquivado.
O mês de dezembro e o ano de 2002 acabaram com explosão de mais duas residências em Dura, perto de Hebron.
As duas casas abrigavam as famílias de dois resistentes que haviam sido mortos na semana anterior em um mini campo de batalha. No confronto com soldados israelenses perto da colônia Otanel, os dois jovens palestinos lutaram até a morte. Antes de darem o último suspiro, mataram quatro soldados israelenses deixaram seis outros feridos.
O ano começou e terminou com sangue, enterro e sofrimento de famílias dos dois lados da Linha Verde.
Ariel Sharon celebrava a "vantagem" que levava. Contra seus concorrentes e contra Yasser Arafat.
Pois a despeito de todo o dano que causava a seus compatriotas, sua reeleição estava longe de periclitar.

 

"We were in Bethlehem, Nokdim I believe it is called, near Nokdim. Shdema was the name of the base. A thing I've found out just now, during my reserve service, my company commander told me that before going in they would smoke drugs, he and some other officers. I saw things that were, in my view, immoral; I was really shocked by the irresponsibility. Because these were people some of whom I'd taken as responsible, certainly when dealing with human life, and humanity.
Did they say why they did drugs?
No special reason, just for the kick. Before going out on a reconnaisance tour, something that was expected to warm up, they would sometimes smoke drugs. I don't know how often. It's a story he told me. At the time he told me this he was on drugs as well, so I don't know how credible it is, but in any case it is worrisome."
Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação, Shovrim Shtika - Breaking the Silence

Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence


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