domingo, 6 de janeiro de 2013

Ano aberto para balanço


Em 2012, a população mundial chegou a 7 bilhões de habitantes. Em 2025 seremos 8 bilhões, segundo a ONU. As condições de vida vão piorar mais ainda em países como a China e sobretudo a India. Os problemas também. 
Entrando em 2013, embora uma das minhas caraterísticas jornalísticas seja a percepção do "invisível", sou contrária aos astrólogos que, em dezembro, enchem as páginas de jornal e telinhas televisivas de previsões, mirabolantes ou óbvias, a cada ano que termina. Sou refratária a conjeturas até a alma.
Porém, meu ofício de análise e a curiosidade legítima dos leitores me obrigam a este esforço. De um balanço a todo novo ano da era cristã - que é a que impera m nossos corações ocidentais e no planeta Terra. 
Serei breve neste exercício temerário.
O "despertar árabe", ou seja, o movimento revolucionário universitário iniciado em 2011 nos países árabes, por dignidade, perspectiva e liberdade, deve continuar.
Deve continuar nos corredores das universidades, nas ruas e praças das principais cidades árabes.
Portanto, também vai continuar a provocar arrepios em Washington e nos palácios dos emires, sheikes e príncipes trilhionários árabes que controlam e desperdiçam a riqueza do petróleo com futilidades nas butiques de Londres, Paris e Nova Iorque; enquanto seu povo pena para ter uma vida decente e clama por liberdade.
A Arábia Saudita encabeça a insatisfação que ainda reina no Bahrein e nas monarquias vizinhas.

E não há dúvida alguma que em todos os países orientais, da Turquia, passando pela Síria, até o Irã, um sonho, ou um pesadelo, vai continuar a povoar o imaginário popular: o de uma Palestina livre e soberana.
É um fato inexorável, mas com muitos obstáculos. Já que nem os dirigentes dos Estados Unidos nem da Europa manfestam nenhuma coragem política de peitar o lobby sionista que mantém as rédeas curtas nas capitais ocidentais.
À menor oposição à ocupação ilegal, os simpatizantes da limpeza étnica põem a máquina da desinformação em marcha e esguelam "anti-semita!" para abafar e calar as vozes justas e humanitárias.
O lobby não é o único empecilho à Justiça e à Paz.        
Muitos veem a falta de arrojo de Mahmoud Abbas e sua ala do Fatah - que não andam fazendo unanimidade nem na Cisjordânia - um problema a mais. Por causa das concessões que não param de fazer a Israel em troca de migalhas. Estão avançando, mas devagar demais; no entender do Hamas.  
O líder deste, Khaled Meshaal, em Gaza e em Doha, deve continuar a negar o Estado de Israel, dando uma desculpa esfarrapada para um novo ataque sanguinário à Faixa de Gaza com seus tanques Merkava, seus aviões de combate sofisticados, seus caterpillars armados e seus drones Made in USA - estes dragões voadores que parecem aviões de brinquedo que bombardeiam telecomandados.
Ou não, caso Marwan Barghuti tome as rédeas do processo de paz. Da prisão ou fora dela, caso os israelenses decidam que a paz tem de prevalescer sobre a expansão territorial.  
Os palestinos talvez acionem o Tribunal de Háguia contra a barbárie israelense, mas já fez isto antes por outras vias contra a construção do muro da vergonha e não deu em nada.
Mas os tempos eram outros e na era dos BRICs podem, finalmente, obter justiça.
A ocupação deve continuar no mesmo rítmo. Até o mundo acordar de verdade e rebelar-se contra o lobby que desinforma através de seus cúmplices na mídia internacional. O lobby que persegue políticos bem intencionados e jornalistas que ousem fazer seu trabalho de informar. 

 O Irã vai continuar na mira de Israel e dos EUA (cupinchas até que a morte os separe?), mas deve sobreviver à ira (in)controlável do "casal" egoísta por cima, como de praxe.
Graças aos erros geopolíticos da potência bélica máxima.
Guerra após guerra feita pelo Pentágono para destruir os ayatolás, acabaram os fortalecendo em vez de derrubá-los.
No Afeganistão, livraram os iranianos de seus inimigos sunitas, que na miopia anglo-estadunidense, então, representavam o perigo. Aquele do curto prazo.  
No Iraque, livraram os iranianos de seu arqui-inimigo Saddam Hussein por um simples capricho de George Bush pai.
Ou pelo medo do influente ditador convencer o cartel petroleiro a mudar a divisa do dólar para o euro e a bancarrota dos EUA agilizar-se.
Ou por ambas razões, que estão sempre ligadas: interesses financeiros dos 1% de bilhionários (que possuem 93% da renda nacional) que governam  a Casa Branca e orgulho ferido do ocupante desta e/ou de seus compatriotas desinformados e estrábicos.
Israel e os EUA vão continuar a acenar com a ameaça do Irã nuclear. Da perspectiva que a teconologia e bombas que Teerã fabrique caiam em mãos indesejadas.
E alguns vão acreditar.
Embora o Paquistão, dificilmente governável, cujas armas nucleares nenhum dos dois contesta, apresente maior insegurança pública do que o Irã dos ayatolás.
Mas este discurso também está gasto - o do Irã perigosíssimo. (O do perigo no Paquistão ainda vai dar no que falar.)
Discurso gasto como o da Síria e da notícia fabricada do perigo de as armas biológicas nacionais caírem em mãos erradas.       
Gasto como o da Democracia ter caído em mãos erradas em 2006 na Faixa de Gaza, quando os candidatos do Hamas tiveram vantagem irrefutável no pleito popular, e a Faixa passou a ser bloqueada.
Nos EUA, o "novo" Barack Obama vai continuar com a velha decisão de deixar seus drones espionarem os gestos de seus compatriotas e os nossos, e enviar os drones armados matarem sem piedade civis estrangeiros. Em areias desérticas longe de suas praias.
E o presidente democrata, à luz dos holofotes, vai voltar a "lamentar" os "danos colaterais". Como o líder israelense "lamenta" cada vez que câmeras mostram crianças gazauís mortas. Contudo, os drones vão continuar a destruir vidas e propriedades em toda impunidade.
Esta é a arma mais perigosa e injusta da atualidade. Ainda vou falar sobre isto com mais detalhes.
       
 
Na Síria, Bashar el-Assad vai continuar a ganhar terreno. Sobretudo agora que "apresentou a prova" - o próprio irmão do número 1 da organização terrorista - que seu combate principal é contra a infiltração estrangeira do Al-Qaeda em território nacional.
Como os rebeldes sírios sabem há meses  que tem estrangeiros suspeitos demais nas paragens, e são, antes de tudo, patriotas responsáveis, vários grupos estão pendendo a aceitar a capitulação, a entregar as armas e apoiar uma "transição" pacífica. Coordenada por quem? Por Assad.
Embora o enviado da ONU discorde - devido à de descartar Assad que lhe foi dada - o ditador da Síria vai sair, mas a decisão será dele. E de Vladimir Putin. É claro.
Tanta morte e destruição para nada.  

No Iraque, embora a mídia ocidental tente ignorar a realidade, a guerra civil vigora e não dá sinal de parar. Centenas de civis já padeceram desta rivalidade sectária que os Estados Unidos despertaram e que deixaram para trás, na retirada estratégica do "lavar as mãos" do terrível fora dado.
Deixaram para trás também a base militaro-diplomática monstruosa - em tamanho e objetivo - instalada na beira do rio Tigre para controlar as poucas águas que rolam no Oriente Médio. E assim, reinarem sem necessidade de armas convencionais. 

Em Israel, a campanha eleitoral ocupa as ruas e as manchetes de jornal. As eleições do dia 22 de janeiro vão definir o novo governo e a nova (?) política de ocupação.
Algumas semanas atrás, no ano passado, quando o primeiro ministro Binyamin Netanyahu recebeu a imprensa para a entrevista coletiva anual, estufou o peito quando um colega estrangeiro mencionou a grande vantagem de 81 por cento (corrrespondente a 46 das 120 cadeiras do Parlameno) de seu partido de direita  Likud nas pesquisas nacionais, em aliança com o partido de extrema-direita Yisrael Beiteinu.
Porém - ha, porém! - a realidade de 2013 é outra.
Nesse ínterim, o líder do Yisrael Beiteinu, Avigdor Lieberman - fascista imigrado da Moldávia, colono assumido que vive em uma das inúmeras invasões judias ilegais na Cisjordânia, e até há pouco Ministro das Relações Exteriores - caiu em desgraça. Foi acusado de quebra de sigilo em um caso de fraude, teve de afastar-se do cargo ministerial e o processo em que está envolvido é só a ponta do iceberg que ameaça abalar o sistema político israelense, minado na base pela corrupção e tráfico de influência.
De repente, os 81 por cento foram baixando e uma cara nova foi ganhando espaço na mídia e nos bate papos populares.
A cara nova é a de um líder carismático de 40 anos. Naftali Bennett (foto acima). Candidato do partido de direita-religioso- sionista Bayit Yehudi (Casa Judia). As últimas pequisas indicam que ele obteria 15 cadeiras no Knesset (Parlamento israelense) - apenas uma a menos do que o Partido Trabalhista, de oposição. As previsões para o Likud e o Yisrael Beiteinu caíram para 31.
Bennet é novo no cenário político eleitoral de Tel Aviv, mas seu sionismo radical é antigo e alardeado onde quer que fale.
O debate em Israel tornou-se então uma disputa de extremismos. Ao ponto de um político influente do Likud ter sugerido que Israel "dê a cada família (palestina) US$500.000 para encorajá-la a emigrar"... Ou seja, abandonar a terra dando uma nova face à limpeza étnica.
Mas, por incrível que pareça, as propostas radicais de Bennet atraem os eleitores ainda mais.
Bennet nasceu em Haifa de filhos de imigrantes estadunidenses. Serviu o Exército - IDF - em uma tropa de elite. Depois fundou uma companhia de software, Cyota, que vendeu para a firma de Segurança estadunidense RZA por US$145 milhões de dólares.
Participou da campanha militar do Líbano em 2006 e entrou na política em seguida. Como chefe de gabinete de Binyamin Netanyahu.
Em 2010 já voava com as próprias asas. Passou a combater a política "soft" de seu ex-chefe Netanyahu na Cisjordânia e foi ganhando terreno dentro das invasões judias e junto aos jovens sionistas radicais.
Ele está disputando as eleições para Primeiro Ministro com Binyamin Netanyahu e com mais dois candidatos. Além do "defunto" (?) Lieberman, que pode resssuscitar.
Na verdade, duas candidatas.
Uma delas já foi Primeira Ministra, Tzipi Livni. No partido Kadima, esta liderou as pesquisas em 2009 e entregou o poder a Binyamin Netanyahu e sua coalição de direita-radical.  Hoje Livni está no partido pseudo-centrista Hatnuah. E admite apoiar a coalição governamental de direita e extrema-direita, com cujas ideias simpatiza. Era ela que governava em 2008-09, durante o massacre na Faixa de Gaza e que, embora seja advogada, disse que as Leis Internacionais se danassem. 
A outra mulher no páreo preside o Partido Trabalhista. Shelly Yachimovich é, ou era, jornalista. Seu partido de oposição está em segundo lugar, mas é provável que seja superado pelo de Naftali Bennet. 
De qualquer jeito, o número de simpatizantes dos partidos de direita e extrema-direita é muito, muito, muito superior ao dos democrato-liberais.
Portanto, de todas as previsões possíveis no Oriente Médio, a única que não corre risco dar com os burros n'água é a de que em 2013 a política sionista-irraciono-ilegal de Israel tende a perdurar e até piorar.
No segundo caso, dá para pressagear, sem também muito risco, uma Terceira Intifada. Sobretudo após os acontecimentos em novembro na Faixa de Gaza que demonstraram que o Hamas consegue mais com armas do que o Fatah consegue com palavras. Ou seja, que a única linguagem que o governo de Israel entende é a que aplica desde 1947: a da violência.

RT Abby Martin entrevista deputado britânico George Galloway sobre  Oriente Médio 

Enquanto Israel vê desfilar os candidatos ao governo, do outro lado da Linha Verde, Mahmoud Abbas vestiu a camisa de Abu Mazem (seu nome nacional) para assinar, no dia 03 de janeiro,  o primeiro decreto presidencial de 2013.
A cerimônia foi ofical e muitos estavam emocionados quando viram a substituição da Autoridade Palestina para Estado da Palestina.
Foi uma assinatura conforme aos Acordos de Oslo, que desta vez, serviram de garantia.
Neste decreto, a "Autoridade Palestina", criada para um período de cinco anos pela Declaração de Princípios de Oslo assinada na Casa Branca em setembro de 1993, foi absorvida e substituída pelo "Estado da Palestina".
Este já fora proclamado em novembro de 1988 e reconhecido por 131 dos 193 membros das Nações Unidas na Assembleia de novembro de 2012.
Apenas 28 países ainda não reconheceram o fato, mas não há dúvida que, pelo menos no papel e na maioria dos Estados que compõem as Nações Unidas, o Estado da Palestina já é um fato.

Inside Story - Palestine: what's in a name (change)? Al Jazeera

 
"When Israeli ambassadors openly criticize the government of Israel - It shows how bad Israel's internacional situation is. The government's disastrous settlement spree has brought this about."
    Publicado no jornal Haaretz, em 04/01/2013.  
 


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