domingo, 1 de janeiro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito III (1968-1974)


A vitória da Guerra dos Seis Dias foi a mais amarga das que Israel saborearia.
Esperava que os nativos se submetessem e que ficasse por isso, contudo, os nacionalistas palestinos não se conformaram com a perda de suas terras e de sua autonomia e resolveram lutar contra o ocupante começando uma luta clandestina que não pararia.
Ahmad Shuqeiri, impotente diante dos problemas que via, deixou a OLP nas mãos de Yahya Hammuda, originário de Lifta (cidade palestina que virou um fantasma de casas desapropriadas que Israel quer transformar em resort, mas que a Unesco pode salvar, agora que a Palestina, a seus olhos, tem direitos iguais aos nossos.
A gestão de Shuqeiri só durou dois anos.
Durante seu mandato, em 1968, o movimento palestino al-Fatah, sediado em Karameh, na Cisjordânia, é atacado com toda a potência pela IDF (exército israelense), aviões de combate, tanques, morteiros, em represália a um atentado do Movimento nos Territórios Ocupados.
O rei Hussein da Jordânia ordena que suas tropas não intervenham, mas o general Mash'hor Haditha e alguns oficiais derespeita a ordem e luta junto com os palestinos pela defesa da cidade.
Após 15 horas de batalha, a IDF bate em retirada.
Embora a participação dos soldados jordanianos tenha sido decisiva, o Fatah é festejado e sua popularidade e a de seu líder, Yasser Arafat, não pode mais ser negligenciada.
Virou capa de revista até nos EUA.

Em 1969 Yahya Shuqeiri foi substituído na direção da Organização para a Libertação da Palestina.
Seu substituto era o emblemático Yasser Arafat, conhecido também como Abu Ammar, seu kunya (nome dado a um adulto a partir da palavra mãe Umm ou pai Abu seguido do nome de seu primogênito).
A OLP começa a ativar nesse ano, com meios mais ou menos recomendáveis conforme o comportamento de Israel na Cisjordânia e em Gaza, e consegue reconhecimento internacional como o único representante oficial dos palestinos.
A guerra de guerrilha artesanal foi intensificada contra alvos militares e toda vez a retaliação era desproporcional, com aviões de ataque e até com napalm, e prisões arbitrárias.
E cada vez que o Egito e Israel entravam em conflito por causa do Sinai, como foi o caso entre 1968 e 1970, os palestinos pagavam o pato.

O mês de setembro de 1970 é citado pelos árabes como "a era dos acontecimentos lamentáveis".
Os palestinos localizados na Jordânia começaram um movimento para pôr fim à monarquia e o rei Hussein respondeu com toda a força ao desafio.
No dia 15 de setembro, o rei Hussein nomeou Habis al Majali comandante das Forças Armadas jordanianas, declarou lei marcial, e o brigadeiro paquistanês Muhammad Zia-ul-Haq foi encarregado do treinamento da operação de dizimação dos palestinos.
No dia seguinte um batalhão de tanques atacou os quartel-general da OLP em Ammam, Irbi, Salt, Swaileh, Baq'ah, Wehdat e Zarqa. Como as ruas de Amman são muito estreitas, o exército não conseguiu travar batalha na cidade e por isto os soldados foram de casa em casa à procura dos insurgentes derramando sangue e botando tudo de cabeça para baixo como a IDF nos territórios palestinos ocupados.
No dia 18 de setembro o presidente da Síria Hafez al-Assad tentou intervir em favor dos palestinos mandando três brigadas com tanques sob o comando do ramo sírio da Palestine Liberation Army (PLA) baseada em Damasco. Mas o Exército jordaniano pediu e conseguiu ajuda dos Estados Unidos, que querendo proteger seu aliado, solicitou ajuda de Israel que sobrevoou com seus aviões de combate o magro batalhão palestino que entendeu que não tinha nenhuma chance de conseguir chegar a Amman para ajudar seus compatriotas.
As perdas foram grandes e a luta durou até julho do ano seguinte, com a expulsão da OLP e milhares de palestinos para o Líbano.
Até então, 400 mil viviam na Jordânia, um terço da população.
No dia 27, o presidente do Egito Gamal Abdel Nasser convenceu o rei Hussein e Yasser Arafat a se reunirem com ele no Cairo para conversar e eles acabaram assinando um tratado que estipulava a legitimidade de ambos os lados e permitia que a OLP operasse na Jordânia.
Porém a morte do presidente egípcio Nasser deixaria os palestinos sem padrinho e o rei Hussein continuou sua campanha contra eles para ficar em paz com Israel e os Estados Unidos. Entre acordos e desacordos, acabou ordenando o confisco de todas as armas dos membros da OLP, que acabaram indefesos e obrigados a instalar-se no Líbano.
Por ironia do destino, o filho e herdeiro do rei Hussein mais tarde se casaria com Rania, a bela rainha que faz uninamidade no coração dos jordanianos, uma palestina.
A vida é mesmo imprevisível e o mundo é redondo e gira.
No final das contas, o massacre que ficou para a História como Black September deixou em 11 dias mais de 5.000 palestinos civis mortos. Em seguida os grupos de resistência se mudaram para o Líbano e uma facção mais combativa criou o grupo Black September em homenagem às vítimas do massacre.

Caçados na/da Cisjodânia e de Gaza, exilados no Líbano, alguns membros da OLP acharam que Yasser Arafat estava dando moleza para os israelenses e resolveram atacar por outro lado.
No grupo Setembro Negro que em 1972 transformou as Olimpíadas de Munique em um evento sangrento em vez de esportivo.
Era para ser a Olímpiada da ginasta russa Olga Korbut e do nadador estadunidense Mark Spitz, mas foi a do Setembro Negro. Em que todo o horror vivido pelos palestinos foi transferido para a Alemanha.
O que devia ser um ato político terminou na morte de 11 atletas israelenses. Deu tudo errado porque eram intelectuais e não soldados.
A operação foi chamada "Ikrit e Biram", nome de duas cidades cristãs palestinas cujos habitantes tinham sido exterminados ou expulsos pelo grupo para-militar israelense Haganah em 1948.
Eles atacaram como aprenderam com o Haganah e como a IDF continua a fazer até agora. No calado da noite. Um ataque covarde como os de seus ocupantes e adversários.
Pediram a libertação de 200 companheiros em troca dos nove atletas que sequestraram.
As autoridades alemãs concordaram com tudo e com o avião que os esperava, junto com tropas de elite, de tocaia.
Deu tudo errado. Nos disparos, os nove atletas foram atingidos e morreram no local.
Como se sabe, o Mossad executou todos os palestinos que participaram da operação Ikrit Biram.
Mas não como Steven Spielberg romantizou em seu filme homônimo, Munique. A vingança retaliativa foi cega e brava.
A então primeira-ministra Golda Meir, a Margareth Thatcher de Israel, deu carta branca para o Mossad executar um por um todos os palestinos de quem suspeitavam.
Mohammed Oudeh, conhecido como Abu Daoud, o cérebro da Operação Ikrit Biram afirmava que só três pessoas assassinadas pelo Mossad haviam participado do sequestro que terminou mal.

Abu Daoud morreu em Damasco no ano passado, com 73 anos. E publicou uma autobiografia, em francês: De Jerusalem à Munich.
E deu muitas entrevistas, sobretudo depois do filme controvertido de Spielberg.
Morreu sem nenhum arrependimento. "Não lamento nada. Antes de Munique, éramos considerados simples terroristas. Depois de Munique, as pessoas pelo menos começaram a perguntar Quem são estes terroristas? O que eles querem? Antes de Munique, ninguém tinha nenhuma ideia sobre a Palestina."
Depois, tiveram ideia errada.
Mas o "mundo" que manda pensou e decidiu: dos males, o menor.
No caso, era a OLP, que corrigiria o tiro e passaria pelas vias diplomáticas para transmitir o SOS que os palestinos enviam ao mundo, em vão, desde 1947.

Em 1974, na reunião de cúpula Árabe em Rabat, no Marrocos, a OLP foi reconhecida como o único representante legítimo do povo palestino.
Em seguida, Yasser Arafat foi recebido na ONU, discursou diante da Assembleia de membros constituintes e a Organização reafirmou seu engajamento (verbal) na soberania da Palestina.
O discurso de Arafat deixou saudade na juventude que em 2011 invadiu as ruas de Ramallah.
Advogou pela paz, depois disse, Hoje vim trazendo um ramo de oliveira e um revóver de lutador pela liberdade. Não deixem o ramo cair das minhas mãos."
Este discurso de Abu Ammar ficou para a posteridade e foi transformado em ato, nas iniciativas diplomáticas de Abu Mazen (nome familiar de Mahmoud Abbas).
Abu Ammar acreditava que com o ramo de oliveira recuperaria cidadania e paz.
A história diria em que tudo isto ia dar.

Yasser Rafat nas Nações Unidas em 1974

Documentário: One Day in September. De Kevin MacDonald.
Relata a Operação Ikrit Biram, em Munique.
 
  


Documentário : Promise Lands
De Susan Sontag
Filmado em 1973 logo após a Guerra do Yom Kippur
relata a opinião pública israelense sobre a situação com a Palestina


"Usando o conflito Israelo-Árabe como uma metáfora para a conduta humana, Susan Sontag conseguiu fazer um filme forte, claro e inteligente".
Roberto Rosselini


Documentário da BBC: Israel started it all

"The development of the crisis in the Middle East is both dangerous and instructive. For over 20 years Israel has expanded by force of arms. After every stage in this expansion Israel has appealed to “reason” and has suggested “negotiations”. This is the traditional role of the imperial power, because it wishes to consolidate with the least difficulty what it has already taken by violence. Every new conquest becomes the new basis of the proposed negotiation from strength, which ignores the injustice of the previous aggression.
The aggression committed by Israel must be condemned, not only because no state has the right to annexe foreign territory, but because every expansion is an experiment to discover how much more aggression the world will tolerate."
Bertrand Russel, 31 de janeiro de 1970

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence  

Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements.

 

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