domingo, 12 de janeiro de 2014

Israel vs Palestina: História de um conflito XLVII (11-12 2004)



Novembro de 2004 foi o mês em que o republicano George W. Bush venceu o senador democrata John Kerry nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Foi também o mês da morte de Yasser Arafat.

No dia primeiro, a IDF assassinou Majdi Mari, do Fatah, líder das Brigadas Al-aqsa em Nablus.
Em retaliação, um bomba-suicida explodiu em Tel Aviv levando consigo três israelenses.
No dia 03, Yasser Arafat entrou em estado de coma irreversível após maratona médica que já durava duas semanas.
Tudo começou em outubro quando sentiu fortes dores no estômago e começou a vomitar sem parar.
Preso na Muqata'a de Ramallah, médicos são chamados e uma equipe de especialista tunisianos chega no dia 23, o examina, e não encontra "nada alarmante".
No dia seguinte, os médicos diagnosticam uma gripe forte.
"Gripe" que nocauteou o Presidente palestino ao ponto de perder os sentidos.
A Muqata'a inteira entrou em pânico e no dia 25, após tramitações complicadas com Tel Aviv, Ariel Sharon entende a gravidade da decisão que tem de tomar quer queira quer não e é aconselhado a deixar Arafat ser transportado para um país estrangeiro onde possa receber os cuidados necessários, e Israel livrar-se dele.
Livrar-se no sentido próprio e figurado, pois, mesmo que não tivesse participado de nenhum complô para assassinar o líder palestino, Ariel Sharon "autorizou" que fosse levado para ser tratado onde quisesse, inclusive no exterior, mas sem garantia de poder retornar à pátria.
Fazia semanas que Souha, esposa de Yasser Arafat, batalhava para que o governo israelense "autorizasse" que seu marido recebesse o tratamento que precisava, fora da Muqata'a. Sharon só concordou no final porque uma rádio israelense deu a notícia que o presidente da OLP (evitavam e evitam dizer Palestina, como se o próprio nome do país lhes queimasse a língua) desmaiara e que seu estado era mesmo muito grave.
"Se ele tivesse sido examinado mais cedo e recebido tratamento adequado, talvez estivesse vivo e a Palestina já teria um Estado nas fronteiras de 1967. Mesmo que não o tenha matado diretamente, o general Ariel Sharon foi indiretamente responsável pela morte de nosso líder," diz hoje um universitário palestino.

Hipóteses, neste caso de doença e morte de Abu Amar há várias. O fato é que no dia 27 de outubro de 2004 o estado do Presidente palestino era crítico e a junta médica aconselhou que fosse tratado com urgência em hospital devidamente equipado e por médicos especializados.
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Jacques Chirac, se oferecem para fornecer-lhe o tratamento necessário e Abu Ammar escolhe o país mais próximo.
No dia 29 de outubro é transportado para a França, através da Jordânia, dentro de um avião "medicalizado".
Os rumores de sua condição de saúde começaram desde sua última aparição pública durante o trânsito por Ammam, na Jordânia. Na França, a segurança acionada foi de chefe de Estado. A polícia fez barragem a partir do pouso até a chegada em Clamart, subúrbio de Paris onde está localizado o HIA (hospital de instrução militar) Percy.
Depois houve questionamento de porquê Arafat não ter sido levado para o HIA (hospital de instrução militar) Val-de-Grâce, no 5° bairro de Paris, que dispõe até de apartamento VIP em cada serviço por estar preparado para receber o presidente do país, mas a resposta era simples e fazia sentido.

O HIA Val-de-Grâce não dispõe de serviço de emergência e Percy, além de dispor deste serviço (é previsto para receber pacientes civis e militares em estado crítico) imprescindível no caso do Presidente palestino, fica perto da base aérea de Villacoublay para onde Abu Ammar foi transportado por questões de segurança e pela urgência de seu estado.
O HIA Percy, entre outros serviços exigidos a feridos de guerra, tem um de medicina interna sofisticado e para tratamento de pessoas contaminadas por radioatividade e reeducação de toda ordem.
Os diplomatas, os médicos, os militares e o Presidente francês envolvidos na decisão fizeram uma escolha rápida mas difícil de ser questionada.
Os especialistas franceses fizeram tudo o que podiam para salvar Arafat, mas era tarde demais. Seu estado de coma era irreversível, dizia-se off the record. No dia 09, representantes palestinos chegaram ao hospital, ouviram o diagnóstico junto com a família de Arafat e...  On the record, a morte do Presidente palestino foi declarada no dia 11 de novembro de 2004, às 3h30. Abu Ammar morreu com 75 anos.



Enquanto Abu Ammar recebia homenagem oficial no aérodromo militar de Villacoublay na presença do Primeiro Ministro francês Jean-Pierre Raffarin (o presidente Jacques Chirac o visitara no hospital) antes de ser transportado para a cerimônia fúnebre oficial no Cairo na presença de vários representantes políticos estrangeiros, em Ramallah, suas incumbências eram rapidamente transferidas para os líderes que lá ficaram.
Abu Mazen (Mahmoud Abbas) estava sendo nomeado presidente da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e Abut Lutof (Faruk Kaddumi), presidente do Fatah. Abu Ala (Ahmed Qurei), a quem os poderes de Arafat haviam sido transferidos desde o início de novembro, continuou no cargo de Primeiro Ministro.
Em Tel Aviv, o general Ariel Sharon, que teimara com os diplomatas europeus até não poder mais - daí a demora na declaração da morte oficial de Abu Ammar - acabou permitindo que o líder palestino repousasse em paz na terra de seus ancestrais. Porém, apesar de ter acabado concordando que Arafat retornasse à Palestina, Sharon negou autorização para que fosse enterrado em Jerusalém como Arafat desejava.
O caixão chegou em Ramallah de helicóptero no dia 12 escoltado no solo por dezenas de milhares de palestinos de luto fechado. Foi velado na Muqata'a, onde foi enterrado.
Muitos suspeitaram que Arafat fora assassinado e cientistas suiços teriam comprovado no início de novembro de 2013 que a suspeita se justificava. Arafat teria sido envenenado por Polonium, o que outros negaram.

No dia 14 de novembro de 2004, Abu Mazen (Mahmoud Abbas) subiu mais um degrau na hierarquia nacional. Foi indicado candidato oficial do Fatah à Presidência. As eleições estavam marcadas para o dia 09 de janeiro de 2005.
Enquanto isso, em Israel, nem bem Abu Ammar (Yasser Arafat) foi enterrado, o General Primeiro Ministro que o combatera a vida inteira declarou que a morte do líder palestino podia ser um ponto positivo para a paz... Isto foi dito em novembro de 2004...
Aliás, Ariel Sharon demonstrou seu grande interesse na paz expandindo as colônias judias ilegais na Cisjordânia e prosseguindo sua campanha de assassinato de líderes adversários. Desta vez, a vítima foi do Fatah. Muhammad Liftawi e mais duas pessoas que estavam com ele no carro perto de Beitunia.
Para mostrar a veia pacifista de Ariel Sharon, basta dizer que o mês terminou com três isarelenses mortos e 43 palestinos. Sete deles assassinados em procissões fúnebres pacíficas em homenagem a Abu Ammar.


Dezembro de 2004 chegou em Israel tumultuado politicamente.
No dia 1° a coalizão governamental se desfez quando os cinco ministros laicos foram demitidos porque os deputados de seu partido, Shinoui, se opuseram ao projeto de orçamento para 2005, que reforçava o militar em detrimento de reformas sociais urgentes.
Aí o governo guinou mais para a direita.
Embora o Partido Trabalhista, já bastante desfalcado dos liberais, ainda fizesse parte do novo governo de união nacional, a chefia da coalizão era do Likud, partido de Ariel Sharon.
O Likud ("Consolidação" em hebraico) foi formado em 1973 por vários partidos de direita liderados pelo Herut de Menachen Begin até as facções se dissolverem em 1988 e o Likud virar um partido político unitário de direita sionista.
O caminho foi longo para chegar à união nacional com o Partido Trabalhista anunciada no dia 17 de dezembro de 2004.
Uns diziam que os Trabalhistas haviam trocado de casaca e o conservadorismo imperava em seus debates, outros diziam que os Likudistas haviam se centralizado. Pois a ala dura do partido, por incrível que pareça, estava começando a achar que Ariel Sharon estava "bonzinho demais" com os palestinos por causa do plano de evacuação dos invasores civis da Faixa de Gaza.

O início da queda em desgraça de Ariel Sharon no Likud foi uma marca da radicalização paulatina que os israelenses manifestariam nas urnas.
Enquanto isso, no dia 30 os Trabalhistas conseguiram elevar Shimon Peres ao cargo de vice-Primeiro Ministro de Ariel Sharon.
Até dez anos antes, esta notícia poderia ser considerada positiva. Mas já fazia tempo que Shimon Peres mostrara a verdadeira face reacionária e em vez de freio civil-militar no lado de lá da Linha Verde, o General Bulldozer teria era um fiel aliado. Em todos os projetos, inclusive no plano maquiavélico de desmantelamento das invasões judias na Faixa de Gaza para transferir os invasores para novas construções na Cisjordânia, manobrando a opinião pública internacional para que não reparasse que o problema fora deslocado e não terminado.

Na Palestina, no dia 7, enquanto o Likud resolvia as desavenças internas de Israel, uma bomba da resistência palestina matou um soldado na barreira Qarni e a IDF retaliou matando quatro membros do Jihad e do Hamas.
No dia 09, o Shabak, serviço de inteligência israelense (Blog de 04/12/11), encarregado oficial da campanha de assassinatos que a IDF punha em prática, realizou mais uma tentativa na Faixa de Gaza. Desta vez, falha. O míssil atingiu o carro, mas os passageiros sobreviveram.
Tentaram corrigir o erro no dia seguinte em um campo de refugiados, mas só conseguiram matar uma menininha de 7 anos após um morteiro da resistência ter ferido seis israelenses em uma invasão vizinha.

O dia 14 foi mais um dia da operação "demolição residencial" nos territórios ocupados. Os caterpillars armados esmagaram várias casas deixando mais familias desabrigadas.
A tática do general Ariel Sharon para manter os palestinos desorientados e irritados era constante e eficaz. Intercalava atentados com demolições de moradias e no meio disso, no dia a dia, havia os checkpoints desumanos e as ocupações residenciais temporárias insuportáveis.
Mas o quotidiano opressor e opressivo não bastava. O mês de dezembro e o ano de 2004 terminaram com queima de outro tipo de fogos na Virada.
Dos dias 28 ao dia 31, "em resposta" ao foguetório soltado da Faixa - 78 torpedos artesanais, segundo fontes de Tel Aviv - "apavorando" os moradores das cidades israelenses limítrofes, a IDF procedeu a uma violenta incursão militar na Faixa. Quando seus Apaches voltaram para casa, deixaram para trás 13 mortos e dezenas de feridos.
O mês de dezembro terminou com 9 israelenses mortos e 60 palestinos.
Aliás, a contabilidade das perdas humanas de 2004 foi de 112 isralenses e 829 palestinos.
2005 não tardava por chegar trazendo mudanças. Em alguns aspectos cosméticas e em outros radicais.

The Diving Wall

PS: General Bulldozer Ariel Sharon
26/02/1928 - 11/01/2014 

"He was respected in his eight years of near-death, with no sacrilegious cartoons to damage his reputation; and he will, be assured, receive the funeral of a hero and a peacemaker.
Thus do we remake history.
Any other Middle Eastern leader who survived eight years in a coma would have been the butt of every cartoonist in the world. Hafez el-Assad would have appeared in his death bed, ordering his son to commit massacres; Khomeini would have been pictured demanding more executions as his life was endlessly prolonged. But of Sharon – the butcher of Sabra and Shatila for almost every Palestinian – there has been an almost sacred silence.
Cursed in life as a killer by quite a few Israeli soldiers as well as by the Arab world – which has proved pretty efficient at slaughtering its own people these past few years – Sharon was respected in his eight years of near-death, no sacrilegious cartoons to damage his reputation; and he will, be assured, receive the funeral of a hero and a peacemaker.
Thus do we remake history. How speedily did toady journalists in Washington and New York patch up this brutal man's image. After sending his army's pet Lebanese militia into the Sabra and Shatila refugee camps in 1982, where they massacred up to 1,700 Palestinians, Israel's own official enquiry announced that Sharon bore "personal" responsibility for the bloodbath.
He it was who had led Israel's catastrophic invasion of Lebanon three months earlier, lying to his own prime minister that his forces would advance only a few miles across the frontier, then laying siege to Beirut – at a cost of around 17,000 lives. But by slowly re-ascending Israel's dangerous political ladder, he emerged as prime minister, clearing Jewish settlements out of the Gaza Strip and thus, in the words of his own spokesman, putting any hope of a Palestinian state into "formaldehyde".
By the time of his political and mental death in 2006, Sharon – with the help of the 2001 crimes against humanity in the US and his successful but mendacious claim that Arafat backed bin Laden – had become, of all things, a peacemaker, while Arafat, who made more concessions to Israeli demands than any other Palestinian leader, was portrayed as a super-terrorist. The world forgot that Sharon had opposed the 1979 peace treaty with Egypt, voted against a withdrawal from southern Lebanon in 1985, opposed Israel's participation in the 1991 Madrid peace conference – and the Knesset plenum vote on the Oslo agreement in 1993, abstained on a vote for a peace with Jordan the next year and voted against the Hebron agreement in 1997. Sharon condemned the manner of Israel's 2000 retreat from Lebanon and by 2002 had built 34 new illegal Jewish colonies on Arab land.
Quite a peacemaker! When an Israeli pilot bombed an apartment block in Gaza, killing nine small children as well as his Hamas target, Sharon described the "operation" as "a great success", and the Americans were silent. For he bamboozled his Western allies into the insane notion that the Israeli-Palestinian conflict was part of Bush's monstrous battle against "world terror", that Arafat was himself a bin Laden, and that the world's last colonial war was part of the cosmic clash of religious extremism.
The final, ghastly – in other circumstances, hilarious – political response to Sharon's behaviour was George W Bush's contention that Ariel Sharon was "a man of peace". When he became prime minister, media profiles noted not Sharon's cruelty but his "pragmatism", recalling, over and over, that he was known as "the bulldozer".
And, of course, real bulldozers will go on clearing Arab land for Jewish colonies for years after Sharon's death, thus ensuring there will never – ever – be a Palestinian state."
Robert Fisk, The Independent (12/01/2014)




Documentário da israelo-marroquino-francesa Simone Bitton, 2004
MUR
Parte VII - legendas em português, (10')

Reservistas da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 
There were patrols at some stages, they would go in, right inside; sometimes just to provoke, I believe.
Give me an example of a patrol that gave you an impression that you are provoking and just provoking.
You go in, drive. First, there's nothing for you to look for there. You enter the town.
What was the purpose?
I don't remember. I remember why I got the impression, It's a long time since it happened, it's suppressed and foggy, but we entered some intersection and turned around, saw what we wanted to see, God knows what it was. We wanted to go back, asked to go back, they said, "No, do some more rounds. We want you to be seen, put in an appearance".
Put in an appearance?
If you ask me, putting in an appearance is a nice name for a provocation.
What orders did you follow, being there?
I remember in that case they radioed us that we have to put in an appearance, but, really, by then I took less part in those things, so regretfully or not regretfully I can't tell you to much about it. I took part once or twice in those things.
The tanks entered Bethlehem on this deployment?
Yes, into the outskirts.
Were there cases of vandalism?
More in Gaza, I remember. Listen, first of all, any tank driving on a road is unhealthy, the very fact that it is going on a paved road. There were some really clumsy commanders who shaved electric poles.
There was quite a bit of destroying vegetation, also what you call "exposing" that I saw masses of. This was usually done by the engineering corps. All the D-9s, and also just where tanks go, when you arrive at a new they make a very wide lane to drive on, usually where there was some vegetation before. They would do a patrol of sorts, very close to the populated area, so they would shave the vegetation with it. 
Sargento reservista da IDF, na região de Belém.

"About house searches, I wanted to say that I believe that there was not one person on the team who didn't take some prayer beads or a picture or some other souvenir, and with time these became more than just prayer beads and souvenirs, people started to really look for stuff. You're searching anyway, so let's really search and look for lighters and cigarette boxes, and take such things. Finally, it got to discussions about taking money, and once they found a safe and blew it up in order to see what's inside. So a safe was blown up and a lot of money was burnt inside, and the commander wouldn't let them take the money, and they went off and talked about it for days; about why the commander was there and that they should have taken the money, they would have gotten rich. There were lots of Jordanian dinar notes.
How much was that worth?
Lots. A dinar is worth five NIS. So, with time, there was moral deterioration, about what you take and what you don't. Psychologically, I think the reason is that you constantly feel you're at war with them. You don't separate. I think most Israelis don't separate – I mean there used to be Palestinian policemen, but say also between Hamas and such groups and civilians. It's all seen as one block because that's how the army is trained. To fight a war against "Them", so you're against "Them", period. It's very difficult to make this separation when you look at these people. I especially remember things being looted after the murder of the [Israeli] infant Shalhevet Pas. So later you hear a lot of people saying they all have to be killed. Sometimes it's just angry talk, but often when you take this with you into an operation, you are less likely to consider the feelings of civilians standing in front of you, and you'll get more violent, "show them what's what", with a vengeance.
You said everyone takes souvenirs, and if there are more and more searches, you tend to look more and more for your own type of souvenir. Yes.?
What's the worst thing that was taken?
Weapons. If we found Kalachnikovs, there were times. . . after all, it's in battle and the commanders are especially stressed, so finally no one really notices where those weapons that we found are being kept.
People took weapons home?
Yes, they found a Kalachnikov and it's nice to hang it on the wall, or something, instead of bringing it in to Military Police... there were often times, say even in the Muqata'a [em Ramallah], even in the quartermasters' storerooms, with lots of knives and air guns and all sorts of old pistols and people felt they deserved it…"
Sargento reservista da IDF 
Omer

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