domingo, 11 de agosto de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXXVIII (12-2003)


A Iniciativa de Genebra foi lançada oficialmente no dia 1° de dezembro de 2003.
(continua atuante e ativa)
Foi estabelecida como estatuto modelo, permanente, entre o Estado de Israel e o Estado da Palestina.
O Acordo tinha a ambição de apresentar uma solução compreensível e inequívoca para as questões vitais ao fim do conflito.
Seus criadores pretendiam, pretendem ainda, que a adoção e implementação de suas propostas solucionassem o conflito histórico. Com renúncias de ambas as partes a fim de cada um realizar sua visão nacional de maneira pacífica.
Para não correr o risco de trair o Acordo de Princípios, eis abaixo o sumário deste na íntegra:
End of conflict. End of all claims.
Mutual recognition of Israeli and Palestinian right to two separate states.
A final, agreed upon border.
A comprehensive solution to the refugee problem.
Large settlement blocks and most of the settlers are annexed to Israel, as part of a 1:1 land swap.
Recognition of the Jewish neighborhoods in Jerusalem as the Israeli capital and recognition of the Arab neighborhoods of Jerusalem as the Palestinian capital.
A demilitarized Palestinian state.
A comprehensive and complete Palestinian commitment to fighting terrorism and incitement.
An international verification group to oversee implementation.


O reconhecimento mútuo dos dois Estados e a soberania de ambos era um ponto crucial, e discordante.
Em compensação pela integração a Israel dos blocos de invasões judias na Cisjordânia, a Faixa de Gaza seria um pouco estendida, como mostra o mapa ao lado.
(Hoje, as invasões quaduplicaram na Cisjordânia. Em tamanho e número de habitantes e a perda de território palestino é um fato irrefutável, porém, reversível, como foi o caso da Faixa de Gaza.)


No tocante às fronteiras entre os dois Estados, a Iniciativa propunha/õe o seguinte, na íntegra:
The border marked on a detailed map is final and indisputable.
According to the accord and maps, the extended borders of the State of Israel will include Jewish settlements currently beyond the Green Line, Jewish neighborhoods in East Jerusalem, and territories with significance for security surrounding Ben Gurion International Airport. These territories will be annexed to Israel on agreement and will become inseparable from it.
In return to the annexation of land beyond the 1967 border, Israel will hand over alternative land to the Palestinian, based on a 1:1 ratio. The lands annexed to the Palestinian State will be of equal quality and quantity.

Quanto a Jerusalém, a Iniciativa fez a seguinte proposta, também na íntegra:
The parties shall have their mutually recognized capitals in the areas of Jerusalem under their respective sovereignty.
The Jewish neighborhoods of Jerusalem will be under Israeli sovereignty, and the Arab neighborhoods of Jerusalem will be under Palestinian sovereignty.
The parties will commit to safeguarding the character, holiness, and freedom of worship in the city.
The parties view the Old City as one whole enjoying a unique character. Movement within the Old City shall be free and unimpeded subject to the provisions of this article and rules and regulations pertaining to the various holy sites.
There shall be no digging, excavation, or construction on al-Haram al-Sharif / the Temple Mount, unless approved by the two parties.
A visible color-coding scheme shall be used in the Old City to denote the sovereign areas of the respective Parties.
Palestinian Jerusalemites who currently are permanent residents of Israel shall lose this status upon the transfer of authority to Palestine of those areas in which they reside.

Um grupo de implementação e supervisão (Implementation and Verification Group - IVG) seria estabelecido a fim de facilitar, assistir, garantir, monitorar e resolver disputas relacionadas à execução do Acordo.
Este IVG previa a constituição de uma Força Multinacional (Multinational Force - MF) que garantisse a segurança de ambos Estados. Para este fim, a MF seria instalada no Estado da Palestina.
Na época, o Acordo não definia bem a questão dos milhões de refugiados forçados ao êxodo durante a Naqba.
(Hoje, propõe a compensação financeira dos refugiados pelos bens confiscados por Israel durante a Naqba e os seguintes direitos: de retorno ao Estado da Palestina; de ficar no país em que residem, mas sem serem apátridas nem párias da sociedade local; ou ir para um terceiro país de sua escolha, inclusive o que é hoje Estado de Israel. Contanto que o país aceite recebê-los.
O último ponto do Acordo aborda a questão da segurança.
Diz que Israel e Palestina teriam de reconhecer e respeitar o direito do outro de viver em paz dentro das fronteiras reconhecidas. Livres da ameaça de guerra, ataques militares, terroristas e violência - sem precisar se apenas física ou também moral, que Israel aplica/va com igual ou maior frequência).
(Também não menciona ocupação civil e militar, pois parte do princípio que este problema das invasões civis seria solucionado)
Os dois Estados soberanos evitariam a formação de forças irregulares ou bandos armados, e combateriam a incitação e a prática de terrorismo - sem precisar a índole).
Para completar e para que Israel aceitasse (aceite) o Acordo de Paz, a Iniciativa excluía a possibilidade do Estado da Palestina possuir Exército nacional ou qualquer força de defesa. Apenas uma polícia local para implementar o Acordo e manter a lei.

Ao mesmo tempo que, em Genebra, pacifistas estrangeiros, israelenses e palestinos se reuniam para inaugurar um Plano de paz, em Ramallah e em al-Beirah, na Cisjordânia, a IDF terminava uma nova incursão militar.
No domingo, na campanha de assassinatos, um membro do Hamas foi executado.
A investida começou na segunda-feira de madrugada, como sempre. Para pegar as famílias dormindo ou desprevenidas. Desta vez mataram três pessoas, prenderam dezenas e explodiram um edifício.
Nesse ínterim, na fronteira com o Egito, centenas de refugiados se manifestavam contra a Iniciativa de Genebra. Para os refugiados, o Acordo lhes negava o retorno ao lar, já que este dependia da autorização de Israel.
Junto com a questão de Jerusalém, a dos refugiados sempre foi a mais controvertida em todas as negociações. Inclusive a de Oslo. E continuaria.
O dia 1° de dezembro foi prolífico em acontecimentos. Foi também o Dia Internacional de Solidariedade com o povo palestino.
Foi celebrado na ONU pelo Secretário Geral Kofi Annan e representantes de várias organizações de apoio ao povo palestino. Phyllis Bennis, co-presidente do International Coordinating Network on Palestine, foi a primeira a falar em nome de todos.
Phyllis chamou atenção para o fracasso da comunidade internacional de terminar a ocupação, dizendo que "While the cruel illusions of the so-called Road Map has collapsed, the United Nations continues to be denied the central diplomatic role, mandated to it by the Charter, in favour of the false multilateralism of the United States-dominated Quartet. Yet, as civil society around the world recognized, the United Nations has the responsibility to protect those languishing under military occupation, to restore the human rights of those illegally denied them, and to defend those unable to protect themselves."
Depois foi a vez de Hans Koechler, presidente da International Progress Organization, reiterar o compromisso de sua organização "to a peaceful settlement of the Israeli-Palestinian conflict on the basis of international law, in particular the Palestinian people's inalienable right to self-determination." Insistindo "on the need for the evacuation of all Jewish settlements in occupied Palestine and for the dispatch of United Nations monitors and peacekeeping troops to the occupied territories."
Pois é, tropas da ONU na Linha Verde, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza resolveriam o problema na hora. Porém, Ariel Sharon queria ver o diabo mas não queria ver capacetes azuis da ONU entravando sua limpeza étnica. E os Estados Unidos fechavam os olhos à barbaridade e votavam contra todas as Resoluções concretas solicitadas pelos palestinos para manter a ordem.
Tropas da ONU teriam (resolveriam ainda) resolvido o conflito, então de 55 anos, no máximo, em 55 dias. Mas não. 

Dezembro continuou sem soldados onusianos. 
E nos dias que seguiram a cerimônia, a IDF continuou a agir.
Um soldado israelense matou um adolescente de 15 anos, Jihad al-Akhrass (foto ao lado), que estava parado na fronteira de Rafah com o Egito esperando a volta de parentes. Foi morto com seis balas na cabeça e no peito. Outros soldados mataram mais dois adolescentes em outros incidentes na Faixa de Gaza do mesmo gênero.
Depois a IDF procedeu a uma nova investida em Rafah com apoio de Apaches. O objetivo desta operação "relâmpago" no sul da Faixa de Gaza, era, segundo o porta-voz militar, capturar líderes do Hamas e do Jihad Islâmico. O resultado foi cinco palestinos mortos. 
Ramallah também fora visada. Um aviso a Yasser Arafat e a Ahmed Qorei para que se comportassem. 
Uma semana depois a IDF matou cerca de sete palestinos nos territórios ocupados, inclusive um menino de 13 anos e um adolescente. Um senhor morreu por falta de socorro médico, interditado nas barreiras israelenses. 
No processo de manter a população aterrorizada com operações intermitentes, a IDF voltou a invadir Nablus com veículos militares leves e pesados, e no ar, Apaches apoiano o assalto. 
Neste tipo de operação, os soldados vão de casa em casa invadindo a privacidade da família, vasculhando, depredando em sua passagem, às vezes surrupiando algo, e dando tiros esporádicos para demonstrar, a quem duvidar e resistir, quem está no comando.
Vários feridos foram deixados para trás para os familiares cuidarem. Ambulâncias são sistematicamente retidas nas barreiras, por horas, ou simplesmente mandados de volta.
O campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia, também recebeu a visita dos tanques da IDF. Os habitantes se defenderam com pedradas. Quatro pessoas foram mortas, incluindo um idoso e duas crianças.
O mês de dezembro de 2003 terminou com mais mortes palestinas e o primeiro ministro palestino Ahmed Qorei dizendo que faria apelo à Arábia Saudita para que fosse ao socorro do Road Map, enfim, de um plano que paz que parasse o terror e a carnifica.
Isto porque estava preocupado com o Hamas que estava perdendo paciência contando os mortos e feridos na Faixa de Gaza.
A Brigada Qassan, ala militar do Hamas, resolveu tomar a dianteira e lançar seus foguetes obsoletos. Lançou seis em colônias judias na Faixa - 4 em Dogit e 2 em Uz. Mal chegaram ao solo, mas o susto bastou para irritar Ariel Sharon com a ousadia do ataque. 
No último dia do ano de 2003, o troco chegou com a sofisticação bélica dos Apaches da IDF. Bombardearam um carro que transportava militantes do Hamas. Deixaram onze feridos mais ou menos graves.
Aliás, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza os feridos eram tantos que ninguém contava mais. Quanto aos mortos no conflito, o número oficial de palestinos enterrados era de 590. E 201 israelenses.

Durante a Intifada, a IDF usou e abusou dos meninos, usados como escudos humanos. A comprovada pelo Daily Mirror (ao lado) foi apenas um das dezenas de escudos do gênero.
E além deste crime horrendo e das perdas de vidas citadas acima, de ocupantes e ocupados, opressores e oprimidos, o conflito, ou melhor, a IDF, tirou a vida de mais três estrangeiros em 2003.
O documentarista inglês James Miller foi assassinado porque estava filmando a Intifada.
O fotógrafo inglês Tom Hurndall e a ativista estadunidense Rachel Corrie foram assassinados salvando moradias e vidas.
Em homenagem aos três, a Vittorio Arrigoni, a Juliano Mer-Khamis e a todos os humanistas estrangeiros voluntários do International Solidarity Movement na Palestina, dê uma olhada no documentário abaixo.


Documentário: Rachel an American Conscience
"I’ve been here for about a month and half now and this is definitely the most difficult situation that I have ever seen. In the time that I have been here, children have been shot and killed. On the 30th of January, the Israeli military bulldozed the two largest water wells, destroying over half of Rafah’s water supply. Ever few days, if not everyday, houses are demolished here.. so I feel like what I am witnessing here is a very systematic destruction of peoples’ ability to survive and that is incredibly horrifying."
Yahya Barakat, who teaches at Al-Quds University, told The Washington Report that he began work on the documentary the instant he learned that Corrie had been crushed to death by an Israeli-driven Caterpillar bulldozer.
This documentary offers rare footage of Rachel talking to a camera and describing Israeli human rights violations against a Palestinian civilian population. The film opens with grim images of dinosaur-like Caterpillar bulldozers turning urban Rafah into a garbage pile of destroyed buildings. It continues with interviews of Rachel’s fellow International Solidarity Movement volunteers, and concludes with comments from her parents"


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