domingo, 18 de dezembro de 2011

Israel vs Palestina: História de um conflito II (1948-1967)


Primeira diáspora palestina, em 1948, fugindo dos massacres

The Times de Londres relata de Beersheba que "as cidades palestinas estão desertas, as casas pilhadas e muitas queimadas. Os habitantes escaparam. Ninguém sabe, ou aparentemente se importa, onde foram parar. É óbvio que fugiram em pânico deixando até roupas e cobertores tão necessários para sobreviver nas noites frias das colinas de Hebron".
E a limpeza étnica continuaria.
O cientista Chaim Azriel Weizmann, nascido na Rússia, formado na Alemanha e Suiça, professor universitário em Londres, foi o primeiro presidente de Israel.
O exército israelense, IDF (Israeli Defense Forces), acabou entrando na ativa e as brigadas para-militares sionistas foram extintas e seus membros incorporados no exército regular.
Apesar da profissionalização militar, o treinamento continuou a ser quase o mesmo de antes com a doutrinação e os objetivos de conquista.
O oficial Ariel Sharon logo se sobressaiu com seu Batalhão 101, continuando a prática do Irgun de atacar à noite, na surdina (que a IDF manteve e aplica até hoje), a fim de pegar a população dormindo, desprevenida e assegurar o máximo de perdas em menos tempo possível.

No dia 17 de setembro de 1949 os palestinos perdem sua única oportunidade de sobreviverem a esta catástrofe com menos perda e com dignidade. O representante da ONU, o conde sueco Bernadotte que tinha a missão de investigar os massacres e as condições de vida dos nativos, foi assassinado pelo grupo para-militar sionista Stern. Foi uma execução sumária que não sofreu nenhuma represália da recém-criada Organização das Nações Unidas justamente para assegurar a justiça entre os povos e novos genocídios como o cometido pelos nazistas. Mas não, um novo genocídio estava em marcha. E este estava sendo e seria cometido justamente pelas vítimas. E a ONU deixaria.

    

O primeiro massacre que Chaim Weizman comandou foi na noite de 14-15 de outubro de 1953.
Sob suas ordens, 600 soldados cercaram a cidade de Qibya e metralharam indiscriminadamente as casas enquanto outras tropas se dirigiram aos vilarejos próximos para impedir que socorressem os vizinhos.
O ataque terminou às 4 horas da madrugada.
Ao amanhecer, 56 casas, a escola e a cisterna tinham sido destruidas e 67 corpos inanimados jaziam nos paralelepípedos junto com os feridos.
Ariel Sharon declarou que as ordens eram claras e tinham sido cumpridas, Qibya tinha de servir de exemplo para quem quisesse ficar em vez de aderir à diáspora e deixar aos imigrados israelitas o campo livre.
As Nações Unidas condenaram o massacre, mas não impediu que reincidissem.

Três anos mais tarde, no dia 29 de outubro de 1956, foi a vez de Kafr Qasim.
Às 16:30 o prefeito foi informado por um sargento da IDF que estariam sujeitos a um toque de recolher às 17 horas, e este argumentou em vão que seria impossível avisar os 400 homens que trabalhavam fora, em apenas meia hora.
Ignorando o que estava acontecendo, os trabalhadores foram recebidos a bala ao voltarem para casa.
Só sobreviveram os que tiveram tempo de escapar da tocaia e se esconderem em outras cidades. O balanço final foi de 49 mortos e muitos feridos.
Documentário de Dorothy Thompson : Sands of Sorrow
sobre os refugiados palestinos vítimas da Naqba (1950)

Por causa dos massacres sucessivos (e interesses pessoais dos países envolvidos), as tentativas de transformar o Armistício assinado em 1948 em Tratado de Paz foram vãs, pois Nasser insistia no retorno das vítimas da diáspora e Israel estava irredutível.
Com o coronel Gamal Abdal Nasser, que acedeu à presidência em 1954, ficou claro que o Egito não pretendia deixar os israelenses à vontade para exterminar os vizinhos árabes, e temendo pela cobiça israelense do Sinai, resolveu usar o potencial de persuasão que tinham.
Foi então que Nasser impediu que os israelenses acedessem ao Canal de Suez e bloqueou o Estreito de Tiran (caminho para o Mar Vermelho).
Seu plano foi por água abaixo porque devido à sua personalidade forte, nem os franceses nem os ingleses estavam satisfeitos com a independência que manifestava. Por isto, em uma reunião em Sèvres, na França, dirigentes dos três países assinaram um Tratado que estabelecia que Israel atacaria o Egito e assim daria a desculpa que as duas potências queriam para intervir.
Dito e feito.
O Egito só conseguiu resistir dois meses à investida de Israel com apoio pesado das duas potências europeias.
No final do que é conhecido como a Segunda Guerra Israelo-Árabe, Israel invadiu a Península do Sinai e a Faixa de Gaza.
Por pressão da ONU acabou deixando o Sinai e após pressão maior ainda, retirou-se de  Gaza dois meses mais tarde.

Enquanto isto os palestinos entenderam que tinham de organizar-se para serem ouvidos e em 1964 a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) foi criada. 
Porém, seu presidente Ahmed Shuqeiri escutava mais Nasser do que os palestinos que a OLP representava.
Sua gestão seria encurtada por uma nova guerra.
Esta também foi orquestrada pelos padrinhos de Israel, que lhe prometeram mundos e fundos, após a vitória óbvia.
  
Insatisfeito com a presença estrangeira no Egito, o pragmático Nasser tinha formado um exército unitário com a Jordânia e a Síria e voltou a fechar os Estreitos de Tiran para que o escutassem.
A resposta foi fulminante e a guerra não durou nem uma semana.
É a conhecida Guerra dos Seis Dias.
Os aviões franceses fizeram o trabalho a que vinham, os Estados Unidos forneceram o abastecimento necessário à artilharia e em gazolina, e os árabes não tiveram tempo nem de entender o que os atingia.
No sétimo dia, Israel ficou com a Península do Sinai e com a Faixa de Gaza, que oficialmente tirou do Egito; com a Cisjordânia, que (oficialmente) tirou da Jordânia; com as Colinas de Golã, que tirou da Síria, e portanto, com direito de vida e morte sobre uma população de um milhão e meio de seres humanos.
Os palestinos foram os grandes prejudicados. 

A partir daí a Cisjordânia adquiriu o nome de Territórios Ocupados e em Tel Aviv começou o debate dos pró e dos contra a anexação pura e simples das terras palestinas.
A bem da verdade, tirando os Comunistas e outros pequenos grupos políticos inexpressivos, a divisão era mínima.
Poucos isralenses se opuseram à anexação da Cisjordânia e de Gaza e menos ainda à lei aprovada no Knesset que declarava Jerusalém "completa e unida" eterna capital de Israel.
Como se a terra e as cidades às quais se referiam fossem vazias.
Logo depois do Sétimo Dia, começou o movimento de ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza com o consentimento tácito de todas as forças políticas israelenses.
Os primeiros colonos foram apoiados pela Esquerda tanto quanto pela Direita.
E desde então, todos os governos cultivaram e extenderam as colônias/assentamentos, pois elas representavam a viabilização do sonho que virou pesadelo, do Grande Israel que invade toda a Palestina do Mediterrâneo ao Mar Morto. Do Líbano ao Egito.
Estradas longitudinais para uso específico dos colonos foram construídas, os recursos hídricos dos palestinos foram usurpados para que os judeus vivessem de maneira confortável, e as construções foram ininterruptas, apesar dos discursos contrários.
Esperavam que os palestinos se submetessem calados e qualquer resistência era, literalmente, esmagada.
A ONU condenou mais uma vez o êxodo de mais 350 mil palestinos, deixados sem teto e sem terra, mas acabou se calando e ajudando a construir mais campos de refugiados, em vez de tomar medidas que impedissem a política expansionista de Israel.
Enquanto isto, Israel importava cada vez mais judeus europeus para povoar as casas recém-erguidas em cima dos escombros de construções ancestrais.
A resposta dos palestinos foi começar uma organização militar que realizava ataques artesanais de guerrilha contra objetivos militares.
A retaliação de aviões de combate, artilharia pesada, prisões arbitrárias, embaraçava a ONU com o problema que havia criado, mas sob pressão dos lobbys que exploravam o sentimento de culpabilidade dos governos europeus e a consciência cristã européia, Israel continuou intocável.

Muitos israelenses acham que a Guerra dos Seis Dias é a fonte de todos os males de seu país.
Que foi então que passaram de um Israel progressista a um Israel conquistador e expansionista.
Na verdade, em sua independência proclamada unilateralmente, Israel se apropriou de 55% do território da Palestina. Em 1948, de mais 23%. Em 1967 ocupou os 22% que restavam além da Linha Verde.
Ocupação ilegal, é claro. Segundo a Organização das Nações Unidas.
Muitos observadores do conflito discordam que a Guerra dos Seis Dias seja responsável por todos os males. Argumentam que ela só mudou as circunstâncias e em nada a essência dos objetivos do Movimento Sionista. De certa forma, este manteve a coerência do que buscava desde a Naqba de 1948: conquistar um Estado Judeu na marra, expansão e assentamentos que, para eles, inviabilizassem um Estado Palestino.
Não contavam com a resistência que iam encontrar no povo abatido, mas determinado a não baixar os braços.
Al-Fatah, Movimento Nacionalista de resistência, dirigido por um jovem chamado Yasser Arafat, lhes restituiria a esperança que um dia deixariam de ser apátridas.


Documentário israelense: Six Days in June - The War that redefined the Middle East
De Ilan Ziv, Stephen Phiwicky, Yan Raveh.

“What cause have we to complain about their fierce hatred to us? For eight years now, they sit in their refugee camps in Gaza, and before their eyes we turn into our homestead the land and villages in which they and their forefathers have lived.” 
General israelense Moshe Dayan, em 1956

Reservista da IDF, forças de ocupação da Palestina,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 1
 
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements.
    

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