domingo, 23 de junho de 2013

Israel vs Palestina: XXXVbis Sentença de morte de Yasser Arafat

No dia 11 de setembro de 2003, Israel abriu o jogo e declarou publicamente sua decisão de descartar Yasser Arafat.
No comunicado de imprensa, o Comitê de Segurança israelense disse “Recent days’ events have proven again that Yasser Arafat is a complete obstacle to any process of reconciliation … Israel will act to remove this obstacle in the manner, at the time, and in the ways that will be decided on separately …”
Como se tivessem autoridade para "livrar-se" do presidente palestino e que seus concidadãos fossem ficar de braços cruzados vendo seu líder ser aniquilado.
As ruas das principais cidades de Cisjordânia e Gaza foram inundadas de gente protestando e as principais capitais europeias reagiram sem tardar.
Com mais ou menos veemência, os países do Ocidente condenaram por unanimidade a decisão de "remover" o presente da Autoridade Palestina.
Os meios a serem utilizados não foram explicitados, mas nas entrelinhas lia-se a ameaça implícita de assassinato.
A Casa Branca entrou em contato com Ariel Sharon e disse que se opunha a esta medida extrema, embora  “he is part of the problem and not part of the solution”.
Há alguns meses que o rumor de um complô EUA-Israel para assassinar Yasser Arafat (Abu Ammar) corria no Oriente Médio e nos serviços de Inteligência de algumas capitais europeias.
Em setembro de 2003 a decisão do Comitê e a reação de Bush contra qualquer atitude pública transformou este rumor em quase certeza que, privado de autoridade para "expulsar" o líder palestino, a "solução final" seria livrar-se dele do mesmo jeito que vinham se livrando dos outros líderes - executando um por um desde o início da Intifada.
A notícia desta conspiração começara em 2000 e estava tão embasada que o presidente da França Jacques Chirac foi alertado e alertou Vladimir Putin para reagirem juntos e evitar mais uma catástrofe.
A França e a Rússia se ofereceram então para evacuar Arafat imediatamente de Ramallah e fornecer-lhe asilo político no país de seu agrado.
Porém, Abu Ammar declinou a ajuda e o convite. Arrepiava só de pensar em sair da Palestina e jamais poder voltar. Conquistara o direito de retorno, tantas conquistas mais, e não queria nem ouvir falar em exilar-se de novo. Nem para salvar-se.

As descobertas feitas em 2012 levam a crer que as premonições de Arafat tinham fundamento. A aprovação para "removê-lo", condenada pela ONU e no final aprovada pelos Estados Unidos, ia mais longe do que um simples afastamento.
Na época, foi a Síria que defendeu Yasser Arafat nas Nações Unidas solicitando que o Conselho de Segurança proibisse  Israel de cumprir sua ameaça.
Os Estados Unidos vetaram mais uma vez a Resolução que oficializava o repúdio inernacional coletivo e em resposta à "ousadia" de Bashar el-Assad, aviões de combate israelense sobrevoaram Damasco - em outubro bombardeariam um sítio próximo da capital e dariam um desculpa esfarrapada para a invasão territorial: O alvo era um "training facility for members os Islamic jihad."
Em plena War against terror declarada em Washington, jihad era uma palavra mágica que justificava qualquer ato amoral e ilegal.
George W. Bush só daria um tapinha nas costas de Ariel Sharon e as reclamações de Bashar el-Assad na ONU seriam vãs.
Tudo levava a crer que o destino do presidente da Autoridade Palestina tenha sido definitivamente selado neste mês de setembro de 2003.
Já se sabia que desde o assassinato de Yitzak Rabin os sucessivos dirigentes israelenses queriam ver o diabo mas não queriam ver Abu Ammar. Apesar disso, ninguém fora demente o suficiente para correr o risco de eliminá-lo e provocar um desastre global, uma bola de neve de revolta árabe.
É bastante provável que tenha sido selado em setembro de 2003, mas foi traçado em 1996 na Operation Fields of Thorns.
O jornal Ma'ariv publicou no dia 06 de julho de 2001, um documento datado de outubro de 2000 preparado pelo serviço de segurança do então Primeiro Ministro Ehud Barak, que definia que “Arafat, the person, is a severe threat to the security of the state [of Israel] and the damage which will result from his disappearance is less than the damage caused by his existence”.
O assassinato de Arafat era parte do Dagan Plan, de 2001. A declaração semi-oficial de setembro de 2003 era apenas pro-forma.
Na verdade, este Plano dos serviços de Inteligência de Israel visava destruir a Autoridade Palestina inteira, fomentar divisões entre o Fatah e o Hamas (que Dahlan facilitou bastante prendendo e torturando membros do Hamas em nome do Fatah), descartar Abu Ammar e instalar no governo alguém do gosto de Israel e EUA.
O futuro mostraria que o plano maquiavélico seria um sucesso do começo até hoje.
 Só não conseguiram destruir a Autoridade Palestina e a determinação dos palestinos.

O Dagan Plan leva o nome de seu arquiteto, o general de reserva Meir Dagan. Dagan o elaborou quando era conselheiro de Ariel Sharon nas questões de segurança durante a campanha eleitoral.
O Plano consistia em pôr Arafat “out of the game”.
Este Plano era baseado em duas premissas inalteráveis: “One, Arafat is a murderer, and one doesn’t negotiate with a murderer. Two, the Oslo Accord [mutual recognition of Israel and the PLO, 1993] is the greatest evil that has ever fallen upon Israel, and everything should be done to destroy it.”
O objetivo era levar a cabo uma vasta operação militar de intensidade crescente para isolar o Presidente da AP progressivamente em âmbito nacional e internacional.
O plano foi seguido à risca e os resultados foram os desejados. Em 2003 Yasser Arafat tinha virado quase um pária na comunidade internacional. Só faltava sua eliminação física para sua influência interna ser extinta e garantir que jamais ressucitasse políticamente no exterior. 
Segundo o artigo que Ellis Shuman publicou na Global Research em 2002, "The Bush Administration was in all likelihood familiar with the Dagan Plan and did nothing to block its implementation. There were close consultations between US and Israeli military and intelligence officials. In turn, CIA Director George Tenet, had been put in charge of so-called “peace negotiations”. The hidden agenda was to stall the stall the peace process and implement the Dagan Plan.
Contrived behind closed doors in July 2001, the Dagan Plan was slated by its IDF and Mossad architects to be “launched immediately following the next high-casualty suicide bombing, would last about a month and is expected to result in the death of hundreds of Israelis and thousands of Palestinians.”
O que vasou no relatório foi que o Ministro da Defesa israelense, Tenente-general Shaul Mofaz, apresentou em julho de 2001 um plano atualizado para um all-out ataque à Autoridade Palestina.
Este ataque total seria realizado com 30 mil soldados da IDF com a missão de destruir toda infra-estrutura administrativa e militar palestina, confiscar as armas que sobrassem e expulsar ou matar as lideranças militares - que no caso da Palestina, são as mesmas políticas, já que o país todo resiste à ocupação como pode.

Este novo Plano foi chamado de Operation Justified Vengeance.
A OJV lembrava a Operação que o então Ministro da Defesa Ariel Sharon implementara no Líbano em 1982, que culminou na morte de mais de 1.700 palestinos e no massacre nos campos de Sabrah e Shatila.
Portanto, não deveria ficar pedra sobre pedra na Palestina. 
A OJV foi parcialmente posta em prática durante a Intifada com a Operação Defensive Shield e a Operação de Assassinatos dos líderes do Fatah e do Hamas.
Porém, os palestinos não haviam baixado os braços como Sharon esperava.
E Abu Ammar continuava vivo, apesar de despojado de poderes administrativos e dos seus adversários locais terem aumentado.
Em 1982 no Líbano, ele escapara para a Tunísia e a OLP se reforçara.
Em 2003, ainda contava com apoio popular. Para livrar-se dele, só morto. E olha lá. 
Uma morte violenta teria consequências dramáticas. Ela tinha de ser disfarçada, e lenta, para os palestinos e o mundo não suspeitarem, se acostumarem com a ideia e seus compatriotas depois sofrerem calados o luto fechado.
Foi por causa dos objetivos explícitos das Operações Dagan e Vingança Justificada que em setembro de 2003 ficou mais do que claro que os dias de Abu Ammar estavam contados.
Só restava saber quais seriam os meios para riscá-lo do mapa.

A saúde do homem forte e enérgico que era Yasser Arafat começaria a falhar já em outubro.
O líder palestino definharia em uma doença indiagnosticável - os israelenses espalharam o boato que ele estava com AIDS... Boato que levantou suspeita que lhe tinham também inoculado o vírus desta doença. 
Abu Ammar morreria treze meses mais tarde e seria enterrado sem autópsia, embora se desconfiasse que tinha algo muito errado nessa doença que foi destruindo o líder palestino a vista d'olhos sem que nenhum especialista a diagnosticasse.
A esposa e a filha do líder palestino não baixaram os braços e conseguiram exumar seu corpo há poucos meses para que seja examinado por um grupo de cientistas europeus.
http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2012/07/o-que-e-quem-matou-yasser-arafat.html
Muitos jornalistas se lembram da declaração que o porta-voz de Ariel Sharon, Raanan Gissan fez naquele mês de setembro fatídico: "The Cabinet has today resolved to remove this obstacle. The time, the method, the ways by which this will take place will be decided separately, and the security services will monitor the situation and make the recommendation about proper action.” 
Se for provado que Israel assassinou Yasser Arafat por intermédio de um ou mais traidores palestinos, compreender-se-á melhor a via-crucis que Abu Ammar viveu de outubro de 2003 ao dia 21 de outubro de 2004. Dia em que foi tomado de forte crise de vômito.
Os médicos locais pensaram que fosse uma simples gripe, devida ao enfraquecimento de seu sistema imunitário. Um dos muitos problemas causados pela doença indetectável.
Seu estado estava tão precário que quando o presidente francês Jacques Chirac lhe ofereceu tratamento em Paris, Arafat aceitou. Desta vez ele sabia que não tinha escolha, que onde e como estava corria perigo imediato de vida. Sentiu que era a última chance que tinha de voltar a pisar o solo de sua terra natal. 
Em Paris foi logo internado em um hospital militar especializado, mas era tarde demais. Os médicos não conseguiram salvá-lo. Em estado de coma, deu o último suspiro no dia 11 de novembro de 2004, às 3h30, na capital da França. Longe da Palestina. Longe de Jerusalém. Longe de casa.
O Palácio do Elysée cuidou dos documentos administrativos para assegurar-se que no atestado de óbito figurasse que Jerusalém era o lugar de nascimento de Yasser Arafat.
Ariel Sharon se opôs ao retorno do corpo de Abu Ammar a Jerusalém, o funeral internacional foi no Cairo. O líder palestino seria enterrado mais tarde na Muqata'a, em Ramallah.
Foi assassinado? É bem provável.
Por Israel? É pouco provável que Tel Aviv confesse o crime, mesmo que venha a ser provado. Negaram no ano passado e negarão sempre.
Quem teria agido diretamente?
Há conjeturas que o assassino direto, que executou o Plano Dagan e Vinga propriamente dito seja um compatriota que tenha posto veneno em sua comida.
Não há nenhuma prova contra ninguém, nem contra Abu Fadi (Mohammed Dahlan), cuja carta abaixo enviada ao Ministro da Defesa Israelense Shaul Mofaz em julho de 2003 foi revelada pelo Hamas. O mais provável é que quem tiver envenenado Arafat diretamente o fez sem saber o que estava fazendo, pois tudo o que entrava e saía da prisão domiciliar de Abu Ammar, ou seja, na Muqata'a de Ramallah, era controlado por Israel. Inclusive comida e água. 

Be certain that Yasser Arafat’s final days are numbered, but allow us to finish him off our way, not yours. And be sure as well that … the promises I made in front of President Bush, I will give my life to keep.”





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