domingo, 9 de outubro de 2011

UNESCO desafia os EUA; Afeganistão, aniversário de 10 anos



Insurgentes Talibã em campo de treinamento na fronteira do Paquistão

Dez anos atrás os Estados Unidos com o apoio da OTAN despejou as primeiras bombas no Afeganistão, em princípio, em cima dos Talibã que protegiam Ossama Bin Laden.
Tudo aconteceu com a cumplicidade do Paquistão, então em plena lua de mel com Washington. Tanto que foi de lá que cruzaram a fronteira quatro homens enturbantados, munidos de celulares fornecidos pela CIA. Um deles era o líder de uma tribo Pashtun (cujo líder máximo era o saudoso comandante Massoud), rival dos Talibã.
O homem que chefiava o grupo discreto era Hamid Karzai.
Dois meses mais tarde, Karzai, patrocinado por Washington e “abençoado” por líderes tribais exilados, recebeu uma delegação Talibã no monte Shah Wali Kot em Kandahar como chefe de Estado para negociar a rendição das forças de resistência nacionais.
O chefe dos Talibã, Mullah Muhammad Omar, enviou seu braço direito, Mullah Obaidullah, à reunião para dar-se por vencido mediante garantia que os líderes tribais Talibã pudessem retornar sãos e salvos aos lares.
Nessa noite, Obaidullah mandou pão para Karzai, em um gesto de conciliação.
Pronto. A paz estava garantida e o terreno estava livre para a criação de um novo Afeganistão democrático sem influência Talibã.
Infelizmente a sede de vingança estadunidense pós-ataque em casa estava insaciável e não se resignaram à paz com um tratado. Queriam lavar a honra e fazer o luto de seus mortos com sangue.
Então a máquina de guerra do Pentágono perseguiu os Talibã sem clemência em vez de deixá-los voltar para casa e eles se refugiaram no Paquistão, onde foram curar as feridas e cultivar mágoa, para em seguida se empenhar-se na reorganização da insurgência sem trégua contra os ocupantes que não os pouparam.
Dez anos depois, os EUA conseguiram a vingança que buscavam, mas ela custou cara: 17.000 civis mortos, 2.750 soldados estrangeiros mortos em combate, inúmeros bombas suicidas e nos últimos anos um organizado combate de guerrilha Talibã contra a qual os Aliados não sabem como lutar. A prova disto foi o ataque de 20 horas da própria Embaixada dos Estados Unidos em Kabul, mais vigiada, impossível; porém, frágil.
Barack Obama prometeu evacuar suas tropas até 2014. Os ingleses não querem mais nenhum soldado deles lá porque a opinião pública é em grande maioria contrária a esta ocupação interminável.
Fontes estadunidenses afirmam que o país vai deixar cerca de vinte mil soldados para apoiarem Karzai em sua reestruturação democrática.
Karzai deseja voltar a reunir-se com as lideranças Talibã como fez dez anos atrás para negociar.
Resta saber se ele hoje tem a autoridade que lhe faltava em 2001 e se Mullah Omar vai depositar nele a mesma confiança que depositou dez anos atrás e que lhe foi negada.





O veto da China e da Rússia no Comitê de Segurança da ONU à moção de sanção à Síria mostra o quanto o mundo está mudando de cara. Os líderes do emergente BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) eram contrários ao bombardeio da Líbia e não querem que aconteça o mesmo com a Síria. Roupa suja se lava em casa.
Se fizerem tanta questão de alimentar a indústria de armamento, intervenham na Palestina para protegê-la da invasão do poderoso vizinho que possui até bomba atômica! Esta frase é de um sírio que se opõe a Assad, mas não quer estrangeiros os bombardeando.





Os Estados Unidos deram tanta importância à execução de seu cidadão membro do al-Qaeda Anwar al-Awlaki, no Yêmen, que a CBS chegou a interromper a programação para fazer o anúncio.
Já no Yêmen a morte de Awalaki teve pouquíssima relevância. Os yemenitas estão mesmo preocupados é com a liberdade que vêm reivindicando em praça pública ao ditador Saleh.
O perigo estava no fato de Al-Awlaki fazer proselitismo terrorista em inglês e ter assim recrutado vários anglófonos com sua lábia nociva bem articulada.





Enquanto o Conselho de Segurança da ONU examina o pedido de Estado solicitado pela Palestina, no dia 5, esta ganhou sua primeira vitória diplomática mundial quando o comitê executivo da UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) reconheceu seus direitos em seu seio como 194° membro.
Os quatro votos contrários (Alemanha, Estados Unidos, Letônia, România) aos quarenta países favoráveis e aos quatorze indecisos que querem agradar, ou desagradar, gregos e troianos (Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, França, Grécia – por razões financeiras óbvias, Itália, Polônia, etc.) mostraram que pode ser possível conseguir a maioria de dois terços para a aprovação da Assembléia que reunirá os 193 membros, na sede em Paris, no dia 10 de novembro.
Hillary Clinton levou susto, esperneou, deu grito, mas... ficou por isto.
A UNESCO não sofre jugo de nenhuma superpotência (real ou exangue), pois não dá direito de veto, como no Conselho de Segurança da ONU. Todas as decisões são democraticamente tomadas por maioria em plenário. Todos os votos valem o mesmo tanto.
Na véspera, os Estados Unidos, através do embaixador David Killion, pressionaram todas as delegações para que votassem Não à recomendação. Em vão.
Após o voto contrário ao seu desejo, a deputada Kay Granger, encarregada da comissão parlamentar que aprova os financiamentos internacionais, avisou que os EUA vão cortar sua participação financeira à UNESCO.
Vale lembrar que os Estados Unidos passaram anos sem pagar o que devia à ONU. Só acertaram as contas quando precisaram do voto da Assembléia para começar sua campanha bélica mundo afora.
Portanto a UNESCO sobreviverria sem eles.
Como cultura não suplanta a prioridade de armamento, eles também sobreviveriam sem a UNESCO de 194 membros.
E a Palestina poderá então solicitar a inclusão de vários sítios históricos, ocupados militarmente por Israel, no Patrimônio Mundial da Humanidade.
Para começar, sítios cristãos como Belém, Jericó, Betânia, o Monte das Oliveiras, etc.
Lugares cuja manutenção é cara para os palestinos, que não têm nenhum lucro turístico.
As agências de turismo, inclusive brasileiras, só trabalham com agências israelenses cujos guias levam os peregrinos de igreja em igreja (declamando a ladainha que decoraram) sem deixá-los consumir nada nas cidades, com o falso argumento do perigo.
Embora a maioria dos sítios cristãos esteja na Cisjordânia e serem os palestinos os responsáveis por sua manutenção, sempre impecável, são os israelenses que lucram enquanto eles trabalham.
Faz parte das coisas incompreensíveis.
Como a ameaça de corte de fundos, de ajuda internacional, se os palestinos levarem sua reivindicação de Estado adiante.
O Congresso estadunidense já está bloqueando os U$200 milhões anuais (a Israel dão U$3 bilhões de ajuda militar) atribuídos à polícia civil para a que a Autoridade Palestina possa manter a ordem e para reconstruir parte do que Israel destrói.
Até Binyamin Netanyahu lembrou o Congresso que talvez não seja uma boa ideia cortar a ajuda, pois esta faz parte dos Acordos de Oslo...
Parece mesmo que os assessores de quem decide nos EUA não têm memória e nem se informam sobre a própria história imediata patrocinada por Washington.
Sem falar que nem falam em cortar a ajuda militar que Israel recebe infalivelmente. Corte que talvez ajudasse Binyamin Netanyahu a decidir gelar a expansão das invasões na Cisjordânia.
Só dizem: Não faz isso não! com voz de quem quer em retorno mais humilhação. Como mulher de malandro.




Quanto mais se lê o discurso de Barack Obama do dia 21 na ONU, mais se encontra incongruências incompatíveis com o nível internacional de seu país.
Parece até que quem escreveu o discurso nem se deu ao trabalho de conferir a veracidade de suas informações antes de dar lição pública.
Para começar, comparou o incomparável. Ou seja, o Sudão, que era um país único que foi separado em dois Estados, com dois países, Israel e Palestina, já divididos pela ONU, sendo que um vem se expandindo impunemente em território alheio.
E mesmo que o argumento fosse válido, o redator do discurso esqueceu o precedente do Kosovo que anula seu argumento inteiro de negociações e acordos bilaterais serem condições sine qua non para o reconhecimento de um Estado.
Os EUA, apesar da oposição irredutível da Sérvia, votaram e incitaram a ONU a reconhecer o Estado do Kosovo em 1998. Embora apenas 83 membros da ONU o tenham reconhecido formalmente. Ou seja, número bem inferior aos 127 que reconheceram a Palestina.
Insatisfeita, a Sérvia acionou a Corte Internacional de Justiça para que revogasse a decisão do Conselho de Segurança e o veredito foi claro: O Direito Internacional não proíbe declarações unilaterais de independência.
Embora neste caso houvesse uma verdadeira ambiguidade histórica.
Só para lembrar, o Império Otomano derrotou os sérvios em 1389 e instalou um enclave islâmico no Kosovo, que mesmo assim continuou com maioria étnica e religiosa sérvia por séculos.
Antes dos kosovars destruírem, esta região tinha igrejas, monumentos e monastérios construídos há séculos. Eram maravilhosos legados culturais dos quais os sérvios se recusavam a abrir mão, pois os consideram como o berço de sua civilização e de sua identidade religiosa cristã.
Yasser Arafat declarou a soberania da Palestina em 1988.
Ibrahim Rugova, albano-kosovar líder do KLA (Exército de Libertação do Kosovo), declarou a independência do estado em 1990.
Durante a guerra civil de 1998 morreram mais de duas mil pessoas.
Os militantes do KLA executaram a sangue frio civis sérvios e kosovars moderados e os soldados sérvios executaram também sem piedade civis kosovars-albaneses.
Em 1999, o presidente Bill Clinton liderou um ataque da OTAN em defesa dos kosovars contra a Sérvia, acusada de estar promovendo limpeza étnica.
Guerra ganha, pois contra a OTAN todo Exército é fraco, o KLA assumiu o poder e começou a sua limpeza étnica expulsando milhares de sérvios, ciganos-Roma, turcos e judeus de seu território. Sob acusação de estes grupos terem “colaborado” com os sérvios.
Estes grupos étnicos viviam na região há séculos, ao contrário dos colonos judeus que foram transplantados para as invasões na Cisjordânia nestas duas últimas décadas.
O caso da Sérvia é, em Direito, muito mais embasado do que o de Israel, porém, foi descartado pela Corte Internacional.
Primeiro, Israel é um país. A Palestina é outro. E as fronteiras divisórias foram definidas pela ONU em 1947.
Portanto a decisão não é assim tão unilateral, já que foi da Organização que aceitou a determinação unilateral das fronteiras retificadas por Israel em 1948.
Segundo, os colonos judeus foram transplantados para as colônias/assentamentos/invasões na Cisjordânia nas três últimas décadas. A maioria há poucos anos.
Portanto, não têm nenhum apego-amor à terra, como têm os autótones palestinos que a cultivam há vários séculos e um, dois, quantos mil anos.
Terceiro, tinha 21 invasões judias na Faixa de Gaza. Foram desmontadas em 2004 com esperneio dos colonos diante dos soldados, mas sem nenhum transtorno incontornável.
É verdade que esta evacuação fazia parte de um plano de agressão dois anos mais tarde, que Ariel Sharon promoveu a retirada dos colonos da Faixa para depois bombardeá-la à vontade.., mas deixando isto de lado, com vontade política e militar, desmontar os assentamentos/colônias da Cisjordânia não é um ínfimo da tragédia humana que vivem os ocupados.


Hoje o estado da Palestina já é reconhecido individualmente por países que representam 80% da população do planeta. Ou seja, 5.5 bilhões de indivíduos, contra os 1.6 bilhões que detêm 75% do PIB mundial.




A ex-primeira ministra de Israel Tzipi Livni é célebre por ter dito uma frase inusitada para uma advogada: Detestava leis, ainda mais as internacionais. Frase gravada e reproduzida para a posteridade nos Palestine Papers.
Na semana passada Livni, a dvogada que acha que Direito e Justiça não são indissociáveis, quase parou atrás das grades durante sua visita a Londres.
Livrou-se do mandado de prisão porque gozava de estatuto diplomático.
A acusação de criminosa porém continuará a pesar sobre sua cabeça.
Era Livni que estava em comando quando em 2008 Israel bombardeou Gaza, causando a morte de mais de 3.500 adultos e crianças, deixando centenas de feridos e danos materiais que nunca foram compensados. As casas e os prédios públicos continuam derrubados, já que o bloqueio impede a entrada de material de construção, além de objetos perigosos como papel higiênico e outras coisas do gênero.




Dimitri Medved quer deixar a casa limpa para devolvê-la ao amigo Vladimir Putin.
Deu um ultimatum a Bashar al-Assad (cuja polícia está atirando até em acompanhantes de funeral) que faça reformas imediatas ou se demita e parece ter permitido a execução em Istambul de três chechenos, considerados terroristas, com a mesma displicência do Mossad (serviço secreto israelense).
Os turcos reclamaram e a diplomacia internacional, de mãos amarradas, condenou mais por uma questão de forma.
Além da questão Tchechena ser complicada, sabem que não há como recriminar a Rússia após os precedentes abertos pelos Estados Unidos e Israel.
O primeiro no processo de rendition, sequestros de civis em países alheios à luz do dia e o segundo, mandante do assassinato do palestino Mahmmoud al-Mabhoul em Dubai, em janeiro do ano passado. Os assassinos foram filmados, as provas eram concretas e múltiplas, e no final não deu em nada.
Putin sabe que crime internacionais só são castigados quando o mandante é fraco.
Como os nacionais.




Enquanto Muammar Gaddafi vive sua nova vida, sua milícia continua defendendo Sirte, sua cidade natal, com todos os meios disponíveis. Os rebeldes, que agora são as Forças Armadas líbias legitimadas, dizem que estão na reta final. Enquanto isto, a debandada das famílias não para.




Ellen Johson Sirleaf, Lymah Gbawee, Tawkkul Karman
Como nem todas as mulheres são impiedosas, muito pelo contrário, o Prêmio Nobel da Paz, que desde a derrapagem de 2009 tem tentado reabilitar-se evitando eleições precipitadas, recompensou o trabalho de três mulheres de ações valiosas.
O favoritismo de Ellen era merecido, apesar das reclamações de seus oponentes políticos. Em 2006 ela assumiu as rédeas de um país estraçalhado pelo ditador sanguinário "Lord of War" Charles Taylor que tinha transformado a Libéria em um campo de batalha cheio de crianças-soldados movidos a alucinógenos. Inspirada no projeto do bispo Desmond Tutu da África do Sul pós-apartheid, estabeleceu com sucesso uma comissão de Verdade e Reconciliação com a ajuda de ativistas como Lymah Gbawee. Foi uma luta pacífica ininterrupta junto às famílias que exigiu muita dedicação e coragem.
A jornalista que é também ativista de Direitos Humanos Tawkkul Karman tem mais caminho para a frente do que para trás, mas o que percorreu já fez avançar bastante a causa feminina e democrática no Yêmen.
Estas três humanistas sabem bem que são as mulheres que educam os homens de amanhã e depende delas a perpetuação de comportamentos violentos e preconceituosos ou mudança de mentalidade.

Enquanto isto, o Quênia enterra sua ilustre cidadã Wangari Maathai, recompensada pelo Nobel da Paz em 2004 por seu trabalho de reflorestamento.
Wangari deixou traços indeléveis na história da humanidade: milhares de árvores. 





"The world sees a great and ongoing injustice. They want a just Israel. They see an Israel that occupies and is clearly unjust, and they believe they should do something. We should thank them for this from the bottom of our hearts."
- Gideon Levy, 2006, em With a Little Help from Outside





Artistas contra o Apartheid: http://youtu.be/V28HnPTYz-I;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Lowkey:http://youtu.be/ET6U54OYxGw;http://youtu.be/kmBnvajSfWU; http://youtu.be/GO5Cay6GUkM;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/

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