domingo, 23 de outubro de 2011

Banalização de execução sumária

I and the public know; What all shcoolchildren learn; Those to whom evil is done; Do evil in return.
Eu e o público sabemos; O que todos os meninos aprendem; Aqueles que são maltratados; Por seu lado maltratam.
Esta é uma estrofe célebre de Wystan Hugh Auden. Genro de Thoman Mann e um dos maiores intelectuais britânicos do século passado.
WH Auden, cristão confesso, disse também que Todos estamos na Terra para ajudar os outros. O que não entendo é para quê estão os outros.
Na semana passada (como tantas outras) os Todos continuavam Indignados de Singapura a Nova Iorque, mas os Outros levantaram a voz, e às vezes, armas.
A execução de Gaddafi só é surpresa (?) para a ONU.
A cabeça a prêmio não precisava as condições de captura, se algemado ou em imagem, mas a expectativa de execução era quase clara.
O choque das imagens, a Rússia botou a boca no trombone e a ONU resolveu pedir contas do assassinato. Mas com que moral?
Só neste ano, deixou os EUA executarem sumariamente Osama Bin Laden e seu próprio cidadão Anwar al-Awlaki com o filho de 16 anos, sem questionarem nada.
Neste contexto de impunidade do "líder das nações livres", como fazer os rebeldes líbios engolirem lição de moral?
Estas execuções fazem o mundo "civilizado" regredir moralmente à Idade Média, ao obscurantismo.
E as nações árabes que emergem à democracia têm em Washington um péssimo exemplo.
Sem punir os Estados Unidos na Háguia, vai ser quase impossível punir os rebeldes da Líbia por crime semelhante.
A não ser que a OTAN esteja disposta a atolar, cada vez mais, no solo enlameado do país inteiro, o pé esquerdo com que entrou nos ares tripolitanos.
Gaddafi é morto. E agora, Jalil? E agora, África?
A queda do ditador da Líbia causa satisfação na América e na Europa. Os demais ditadores árabes e a África estão tensos, apesar de terem costas quentes.
Ele não era o único déspota do continente, mas era o único que não tinha rabo preso a nenhuma potência estrangeira. Daí a rapidez com que estas “socorreram” os rebeldes, os armaram e depois bombardearam de cima para ter certeza que Gaddafi não se safaria e que os próximos líderes lhes abririam as portas econômico-financeiras.
Os demais ditadores africanos têm costas quentes, mas talvez nem tanto.
Mesmo protegidos militarmente pelos Estados Unidos em nome da “guerra contra o terror”, e pela China e Índia que não deixar ninguém matar a galinha de ovos de ouro fazendo revoluções, a grande maioria do povo não beneficia dos investimentos que entram no país ou já vão direto para contas clandestinas no exterior. Por isto e por viver em um mundo em que as distâncias encurtaram, a insatisfação, cedo ou tarde, vai chegar aos países mais improváveis.
Quem sabe até na Somália.

The Death of Gaddafi: The Big Picture

Quanto ao futuro da Líbia, ouve-se que a paz momentânea pode ser guerra civil proximamente.
Gaddafi foi para Sirte sabendo que não sairia de lá vivo. Queria morrer junto de sua tribo e transformar-se em mártir para os humildes.
Morrer isolado em palácio, é uma coisa.
Morrer rodeado na cidade natal é outra, com sentido. 
Daí a pressa da ONU em prometer investigação sobre os crimes de guerra cometidos por ambos os lados.
Há semanas que os rumores na Líbia são de que estava condenada a continuar a novela negra que começou no Iraque em 2003.
A queda de Gaddafi é um triunfo, mas a execução é uma derrota flagrante.
Mostra o quanto a autoridade do NTC (Conselho Nacional Transitório) junto aos grupos rebeldes é frágil. E quão aleatória será a posição destes homens unidos pelo ódio de Gaddafi e separados, quem sabe, por ambições de poder tribal ou/e pessoal.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Já dizia Camões. Vide a foto acima, do ano passado.
Uma coisa é certa. O conflito armado não terminou com a execução de Gaddafi. É quase certo que rixas entre prós e contras e contras e contras vão soltar faíscas em algumas partes.
Resta torcer para que as faíscas não provoquem incêndio nacional e que o NTC consiga controlar o que hoje parece dificilmente controlável.
Alguém na Líbia disse que eles podem inspirar-se no processo de reconciliação da África do Sul, exportado com sucesso para Ruanda, Libéria e outros países, mas tem um porém... O programa inaugurado pelo bispo Desmond Dutu é fundado na fé cristã da confissão do pecado e do perdão. Não sei se funcionaria calcado em outra religião. Quem viver verá.
A OTAN prometeu terminar a “campanha da Líbia” no dia 31 de outubro, mas não falou quando abandonará o navio nas mãos de tripulação e capitães nativos.

Nos Estados Unidos, França, Inglaterra,... as empresas que ainda não estão com caixeiros viajantes postados há meses em Benghazi, para abocanhar os espólios milionários da guerra que seus países patrocinaram, estão sendo incitadas vivamente a voarem já! A fim de participarem da festa econômica e deixarem os empresários locais a ver navios, como em Bagdá oito anos atrás.
Boa sorte para a Líbia e para os líbios! Com votos de que o país não protagonize o Cine-catástrofe-realidade: Iraque Bis.

RT: Que direito a OTAN tem de executar Gaddafi?

Duas “revoluções” com duas caras, poderia ter sido o título de um artigo comparativo entre o processo de “libertação” da Líbia e da Tunísia.
Porém, como nos últimos meses já falei bastante sobre o caminho errado tomado desde o início na Líbia, prefiro dar uma palavrinha sobre o país em que o povo venceu na mais perfeita paz.
Na sexta-feira almocei com Jamel, um tunisiano que faz parte da elite pensante e ativa que reside fora.
A falangeta de seu polegar estava curiosamente manchada de tinta preta e ele disse, com orgulho da conquista de um direito universal nascente, que tinha acabado de votar no Consulado para a escolha do Conselho que comporá a iminente Assembléia Constituinte.
ESclareceu que a tinta preta é para evitar fraude. As eleições no exterior duram dois dias e a tinta é impossível de ser apagada em menos de três. O sistema é infalível.
É a primeira vez que ele votava (tem 39 anos).
Não que o deposto Zine El Abidine Ben Ali tenha presidido o país de 1987 a 2011 sem organizar sufrágios, é que era eleito com mais de 90% de votos, fraudados. Os funcionários públicos, por exemplo, recebiam o envelope com a cédula, única, que depositavam na urna e iam ruminando a frustração de volta ao lar, seguro, graças à cumplicidade a que eram obrigados.
Dez meses após a queda de Ben Ali, tunisianos bem sucedidos em outras paragens retornaram ao país para participar do processo de democratização e oitenta partidos foram criados.
Jamel, como os tunisianos bem pensantes e laicos, votou na lista de personalidades que propõem um esboço de constituição que será submetida ao escrutínio público na internet para ser melhorada conforme a expectativa popular.
Dentro do país, os cidadãos que tomaram seu destino em mãos votam neste domingo.
Revolução popular é isto. É o povo unido contra um sistema apodrecido e que deixa a Justiça punir os criminosos, de colarinho branco e sem colarinho.

Após a primeira leva de troca de prisioneiros no dia 18, negociada entre Israel e o Hamas, e a acolhida de herói que tiveram alguns militantes do Hamas responsáveis por crimes de sangue, me perguntaram se acho isto moral e se não há risco que estes voltem aos atentados.
Começando pela segunda pergunta, as estatísticas que Israel mantém desde que procede a estas trocas de prisioneiros mostram que apenas 15% dos libertados retomaram atividades militares.
O risco hoje é menor ainda, pois na visão destes militantes (muitos eram civis presos por nada), eles cometeram estes atos repreensíveis em situação de guerra e agiram como soldados lutando por justa causa, com comando e ações hierarquicamente determinadas e ditadas por uma vontade política clara.
A vontade explícita do Hamas, desde 2005, é de conciliação e paz, não é mais de atentado.

Nelson Mandela, um “terrorista” anos mais tarde, em vida, popularmente canonisado, durante seus primeiros quinze anos de prisão, costumava cantar a célebre balada popular irlandesa (1) composta em homenagem a Kevin Barry, dando ênfase à frase “Fuzilem-me como um soldado irlandês, não me enforquem como um cão, pois lutei pela liberdade da Irlanda”.
Kevin Barry tinha 18 anos quando foi enforcado junto com nove companheiros do IRA, enterrados no pátio da prisão em 1920. Na libertação da Irlanda em 1934, os túmulos dos dez homens foram identificados. Em 2001 uma missa foi rezada na Catedral de Nossa Senhora e os corpos foram devidamente enterrados no cemitério de Glasnevin, em Dublin, onde um monumento foi edificado aos heróis do passado que permitiram que o presente seja desfrutado com liberdade.
Quem já esteve em Israel e, como eu, observa tudo, deve ter reparado que tem muitas ruas e praças chamadas Shlomo Ben Yosef.
O que valeu tanta homenagem a este membro do controvertido partido sionista revisionista Irgun?
Em 1938, um ano depois de ter emigrado para a Palestina, ele fuzilou um ônibus cheio de nativos com a intenção de matar todos os palestinos que conseguisse.
Ben Yosef foi julgado pelas autoridades britânicas, que então ocupavam a região, e foi condenado a morte pelo crime premeditado.
Para a  grande maioria dos israelenses, este homem movido pelo ódio racista é louvável.

Em 1948, Albert Einstein junto com a filósofa Hannah Arendt e outros intelectuais judeus da época, enviaram ao New York Times uma carta aberta (2) condenando a visita aos Estados Unidos de Menachem Begin. Este era líder do Tnuat Haherut, partido cuja organização, métodos, filosofia política e social se assemelhavam à dos fascistas, segundo os assinantes da missiva.
Esta mostra a clarividência destes intelectuais encabeçados por Einstein a Arendt. Viram nesta visita a vontade política estadunidense de apoiar este partido na Nação recém-criada, contra as ideais de Ben Gurion, mais abertas.
A carta mostrou também que a comunidade judia estava dividida, mas não evitou a ascensão meteórica de Begin.
Embora tivesse participado e dirigido vários massacres de palestinos que resultaram na Naqba (blog do 15/05/11), - inclusive do vilarejo vizinho de Jerusalém, Deir Yassin, em que o genocídio dos palestinos deixou traumatizados os soldados ingleses que chegavam sempre após o fato consumado (algumas raras fotos, como as de acima, atestam a história) - co-ganhou o Prêmio Nobel com Anwar al-Sadat em 1979 por assinarem o Tratato de Paz que seguiu a Guerra dos Seis dias.
Assinatura que não impediu Menachen Begin, entre outros atos, de bombardear uma "usina nuclear" no Iraque em 1982; de invadir o Líbano, dando início à “guerra” que culminou com o massacre dos palestinos nos campos de refugiados de Sabrah e Shatila; e de começar o processo de colonização em Cisjordânia e em Gaza.
Em 1983 retirou-se da vida pública e em 2005 foi eleito por seus compatriotas uma das cinco figuras mais importantes de Israel de todos os tempos.
O que prova a teoria do próprio Einstein. Da relatividade.

A lista de “terroristas” convertidos em “heróis” é longa. 
Uns têm glória merecida. Outros menos.
Mas é raríssimo que as pessoas em nome de quem o atos de violência são cometidos questionem o mérito destes indivíduos.
Eu sou e serei sempre contra a solução armada, pois sangue deixa mancha muitas vezes indeléveis e outras marcas dificílimas de tirar com meios brandos.
Quanto à questão moral que alguns leitores colocaram...
A primeira moral da estória é que a história não tem moral.
A segunda é que a vida mostra que pessoas intrinsecamente morais em toda e qualquer circunstância de estres, pressão, dor física ou psicológica extremas, são espécie rara.
A terceira é que sendo cristã - dos três primeiros séculos em que o cristianismo era calcado na tolerância e engajado em princípios irrepreensíveis - acho que todo mundo merece uma segunda chance.
Eu, prefiro dar a outra face e levar mais uma bofetada encarando o meu agressor do que revidar ou pôr o rabo entre as pernas e seguir adiante, de cabeça baixa, com medo da sombra.
E como todos os israelenses ativistas de Direitos Humanos aprovam a troca de prisioneiros (blog anterior) e querem que os outros seis mil palestinos sejam libertados o quanto antes, quem sou eu para emitir opinião sobre um drama do qual sou espectadora e não participante?
Além disso, o risco é relativamente proporcional à vontade de provocação de Binyamin Netanyahu e de seus planos.

Wag the dog é uma expressão anglófona imortalizada no filme homônimo de Barry Levinson, com Robert de Niro e Dustin Hoffman.
Significa dar predominância de algo irrelevante sobre um acontecimento de grande importância.
Barack Obama, coitado, na semana passada, sem solução para o movimento incontrolável de Occupy Wall Street, resolveu wag the dog para ver se as coisas acalmam.
Primeiro forneceu ao público um inimigo comum. Um complô irano-mexicano para matar o embaixador estadunidense na Arábia Saudita em solo estadunidense.
Depois foi a lenga-lenga do papel catalisador do Irã nos conflitos árabes.
E por último, mas não menos importante, declarou que os Estados Unidos retirará do Iraque seus últimos 39.000 soldados até o dia 31 de dezembro deste ano.
Desde 2003, mais de 4.400 cidadãos dos EUA morreram na ocupação do Iraque.
Segundo uma agência de pesquisa britânica, cerca de um milhão de iraquianos morreram no mesmo período em consequência da guerra e da ocupação.


No Yêmen, os protestos não arrefecem e a repressão prossegue.
Ali Abdullah Saleh quer garantias,
antes de abdicar ao absolutismo de seus 33 anos de presidência  



 
Na Síria,
a palavra de ordem não muda: Assad, reforma, ou fora!
A despeito das  passeatas de simpatizantes do presidente em Aleppo e Damasco.


A título de informação, o Brasil finalmente aderiu, oficialmente, à ocupação injusta da Palestina abrindo uma representação nacional do Movimento Brasileiro BDS (Boycott, Disinvestiment, Sanctions) contra Israel. O evento aconteceu na USP na semana passada.
Agora os nossos compatriotas que quiserem, poderão participar do Movimento e pressionar o governo da Dilma para que não permita que Israel use MADE IN BRAZIL para produzir e exportar seus produtos que vêm sendo boicotados no mundo inteiro.
Temos de ficar atentos para que o lobby sionista não transforme São Paulo em Nova Iorque e Brasília em Washington.
Nós somos brasileiros, defensores dos fracos e dos oprimidos; ou isto é ideal ultrapassado nas novas gerações?
"Palestine is the cement that holds the Arab world together, or it is the explosive that blows it apart."
Yasser Arafat
Israel: Estado Militar

1. Balada Kevin Barry: http://youtu.be/ehWfKQRFwWQ; letra: http://celtic-lyrics.com/forum/index.php?autocom=tclc&code=lyrics&id=283.
2. Carta de Einstein enviada ao NY Times: http://www.physics.harvard.edu/~wilson/NYTimes1948.html
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;

domingo, 16 de outubro de 2011

"Econontifada" gringa e em 82 países contra os efeitos perversos do capitalismo




A Espanha brilhou no topo dos 82 países que se manifestaram no Dia dos Indignados.
E das 951 cidades que aderiram com mais ou menos intensidade ao Dia dos 99%, Madri e Barcelona foram exemplares. Juntaram milhares de pessoas nas ruas, sem nenhum incidente lamentável. A democracia funcionou do começo ao fim das passeatas.


De Tóquio a Nova Iorque, o Dia dos Indignados só deixou marca vergonhosa em um patrimônio histórico-cultural da humanidade.
Em Roma, a praça San Giovanni foi transformada em campo de batalha por fascistas encapuzados que atacaram o Corteo degli indignati - Passeata dos Indignados, sequestrando a cidade da calma e destruindo tudo o que via pela frente. A praça San Giovanni foi devastada. Muitas perdas, muitos danos e muitas questões sobre quem está atrás desta investida para-militar contra os manifestantes e contra a própria cidade.




Em Seul,
na Coréia do Sul












Em Sydney, na Austrália












Em Londres, na St Paul's Cathedral









Occupy Wall Street, na Times Square de Nova Iorque






Quem diria que um movimento revolucionário que começou em um pequeno país árabe chamado Tunísia fosse inspirar revoltas ocidentais e atingir até os Estados Unidos?
O movimento Occupy Wall Street, que começou em Nova Iorque, continua e se alastra por muitos estados.


Que 1% da população dos Estados Unidos controla 40% da riqueza do país, já se sabia.




Que de ano em ano aumenta a distância que separa esta super-minoria super-rica dos demais 99% que suam a camisa e apertam os cintos para pagar as contas no fim do mês, também já se sabia.




Que nosso vizinho lá do alto tem um déficite de U$14.3 trilhões, também é sabido.


Que Wall Street foi resgatada em setembro de 2008 por Washington de seu próprio sequestro monetário, todos viram.

Que Washington deixou todos os lesados desabrigados, foi uma medida ressentida.


Que Wall Street era e é o símbolo internacional do capitalismo selvagem, ninguém duvida.


Por que os cidadãos que ficaram calados durante as últimas quatro décadas, que desde a mobilização universitária contra a guerra do Vietnã são passivos, acordaram de repente para a resistência ativa?
Por que a intifada árabe mostrou que tudo é possível e atingiu os estadunidenses como uma bofetada para que acordem da letargia e reivindiquem o que lhes é devido.


Occupy Wall Street em Nova Iorque vem se expandindo como o fogo de subterfúgios que o capitalismo usa para produzir cada vez mais pobres e ricos cada vez mais opulentos.


Para se entender o Basta cidadão que se alastra pelos EUA é só ver os números, as cifras e a queda dramática da qualidade de vida dos 99% que estão botando a boca no trombone.
De 1999 a 2009, não houve nenhum aumento na criação de emprego, sendo que nas décadas precedentes o número foi de pelo menos 20% por década.
Em 2010, a média de salário anual da classe média era de U$48.445, uma perda de 7% em relação a dez anos antes. Uma perda de U$3.719 que leva o país de volta a 2006.
A classe média alta que ganhava U$141.032 passou a ganhar U$138.923.
Quanto aos pobres, perderam 12% da renda, passando de uma média de U$13.538 a U$11.904.
Enquanto a renda dos 90% desmoronava e dos 9% baixava em vez de aumentar, os 1% lá do alto desfrutaram de um acréscimo de 65% de todo ganho de crescimento que o país registrou nos últimos anos.
O último recenciamento constatou um aumento de 46 milhões de pobres que serão 50 milhões em 2015 e 10 milhões a mais em 2017.
Abaixo destes, há os chamados deep poor, os 20.5 milhões que vivem muito abaixo da linha de pobreza e representam 6.7% da população.
Nem os subúrbios asseptizados à Desperate Housewives, símbolo de prosperidade, vêm sendo poupados. Quinze milhões destes suburbanos caíram no solo de pobreza.
O que no frigir dos ovos indica que nos últimos dez anos, houve um empobrecimento de 53% dos habitantes.
O que em termos econômicos significa, além da pauperização da população, uma queda de dominó econômico - queda de consumo, queda em vendas, crise de fabricantes e varegistas, cortes de despesa, desemprego, etc.
15.1% dos estadunidenses vivem oficialmente abaixo do solo de pobreza definido pelo Banco Mundial.
16.4 milhões de crianças estadunidenses vivem na pobreza, sendo que 22% delas abaixo do solo oficial.
A perda de poder de compra das famílias hispânicas foi de 66%; das negras, de 53%, e das brancas, 16% - vale lembrar que em 2009 a média salarial de uma família branca era de U$113.149; negra, U$5.677; hispânica, U$6.325.
O pior de tudo é o mercado de trabalho.
O déficite atual é de 11.2 milhões de empregos.
O único jeito do governo reverter o declínio seria criar 280 mil empregos por mês. O que no contexto de crise interna e de credibilidade internacional do EUA parece impossível.
Barack Obama tem sido um fiasco em política internacional, mas justiça seja feita, tem feito o possível para corrigir a política iníqua de seus antecessores na Casa Branca. Atacou a Seguridade Social, que Bill Clinton prometeu e não ousou atacar, para que seus condidadãos não morram à míngua hospitalar, estabeleceu imposto sobre as grandes fortunas e outras coisas que apesar de urgentes e necessárias, são insuficientes para recolocar o trem EUA em trilhos pra lá de estragados.
Vendo a onda de protesto de Occupy Wall Street (que por enquanto se restringe à classe média) me lembro do que um colega estadunidense disse vinte anos atrás quando deixou o Brasil para retornar à matriz de seu jornal em Nova Iorque: Falam sobre a violência no Brasil, mas perto da nossa é quase irrelevante porque o brasileiro é de natureza cordial e pacífica. No dia em que os Estados Unidos atingir o nível de pobreza em que o Brasil se encontra agora, vai pegar fogo porque meus compatriotas são alimentados pela lei do mais forte e são potencialmente capazes de atos de violência cinematografáfica.
Espero que ele esteja errado.

Como a marioria da mídia dos Estados Unidos trata a intifada nacional como se os manifestantes fossem um bando de vagabundos, para pôr os pingos nos iis, deixo a palavra aos colegas Naomi Klein e a mídia livre de Democracy Now: http://www.democracynow.org/2011/10/6/naomi_klein_protesters_are_seeking_change.


Mas o mundo vai explodir mesmo quando os cidadãos chineses e indianos começarem a botar a boca no trombone e saírem às ruas para exigir a parte do bolo financeiro que lhes é devido.

Os excluídos do enriquecimento da Índia

Os excluídos do enriquecimento da China
 A Índia, um dos nossos "concorrentes/amigos" do BRIC, tem um número de pobres tão alto e em crescimento tão incontrolável que, embora houvesse abandonado há anos os parâmetros do Banco Mundial - renda mínima de U$38 mensais - baixou seu critério nacional ainda mais, a fim de não assustar investidores maquiando os dados reais e para não aumentar os gastos com sesta básica.
Vai diminuir os U$12.75 que estabeleceu como piso para os moradores de cidades e os U$9.93 da zonal rural para "enriquecer", em seus parâmetros, parte dos 27% da população (a porcentagem chinesa oficial é a mesma) que vivem abaixo deste sofrível critério de solo de pobreza e evitar um acréscimo chocante.
Nos parâmetros do Banco Mundial, 41.6% (37% - 1.35) dos indianos vivem abaixo do solo de pobreza. Ou seja, por volta de 1.5 bilhões de indivíduos. 1.1 bilhões não dispõem de saneamento básico e/ou de água potável.
Os slums indianos são muito mais miseráveis do que as favelas brasileiras e tão insalubres quanto as chinesas. Nos slums indianos morrem dois milhões de crianças por ano de doenças relacionadas com má  nutrição.
Na China, país que virou de ditadura socialista para ditadura capitalista selvagem, não há estatísticas, por razões óbvias.
A super-população e a desigualdade social crescente destes dois países do BRIC são uma bomba relógio que não se pode negligenciar na equação econômica do futuro.

Recente relatório da ONU indica que nos últimos dez anos
o número de favelados no Brasil diminuiu em 16% 
A título de comparação entre Índia, Estados Unidos e Brasil, segundo os parâmetros do Banco Mundial, 8.5% da população brasileira se encontra em estado decrescente de pobreza.
Nos últimos dez anos, 12.8 milhões de brasileiros saíram do estado de pobreza e 13.1 milhões saíram do estado de deep poor, ou seja, de indigência. Segundo a definição brasileira (superior à do Banco Mundial) estabelecida pelo IPEA - menos de U$140 de renda mensal para pobre e de U$70 para indigente.
A renda dos 50% mais pobres aumentou 50% nos últimos anos e a dos 10% mais ricos 10%.
O crescimento desigual de renda tupiniquim registrado em 1990, por exemplo, foi de 0.61%. A deste ano foi de 0.53%.
Se o Brasil prosseguir a política de erradicação da pobreza neste ritmo, estima-se que a miséria desaparecerá em 2016 e "apenas" 4% da população do nosso país viverá abaixo do solo de pobreza. No mesmo ritmo e com a mesma política, dentro de 15 anos veremos a erradicação total desta vergonha socio-moral nacional da nossa consciência.
Durante os mesmos anos em que o Brasil vem procedendo a uma melhor distribuição da riqueza que o país promove, a desigualdade de renda entre a população rica e pobre nos nossos parceiros do BRIC - Rússia, Índia, China - em vez de baixar vem crescendo.

As maiores favelas do planeta


Como o mundo não se resume aos cidadãos indignados com os estragos do capitalismo, no Oriente Médio, uma troca de prisioneiros é a grande notícia.
Quanto vale um israelense em 2011?
Vale 1.027 palestinos – A média desde que estou na ativa é de 1.300 por 1.
Nestes últimos trinta anos, sete mil prisioneiros palestinos foram trocados por dezenove prisioneiros israelenses.
Em 1985, 1.150 palestinos foram trocados por três soldados capturados no Líbano; em 1998, 65 membros do Hezbollah vivos e 40 mortos pelo cadáver de um soldado, e assim por diante.
Acho que foi baseado nesta conta que a indignação pública foi acanhada quando do bombardeio e invasão de Gaza em 2009 em que mais de 3.500 gazauís foram assassinados. No final das contas, como morreram 13 soldados israelenses (a metade por fogo amigo), nesta lógica ilógica, Israel teve 10 mortos a mais do que os palestinos.
Agora sim, eu entendo.
O que eu não entendo é como, com todos os meios de comunicação sofisticados dos quais dispõem o Pentágono e Tel Aviv, nem um nem outro conseguiu descobrir onde o soldado Gilad Shalit estava preso. É um enigma.
Shalit talvez desvende este grande mistério aos jornalistas que nunca pensaram em fazer às autoridades israelenses esta simples pergunta: vocês são incompetentes ou ele não está mais em Gaza, foi levado por um túnel para o Egito... Quem sabe?
Onde quer que estivesse o soldado franco-israelense, Israel sofreu uma derrota militar.
Bombardeia, tem tecnologia para ver o que está na cara e o que está camuflado, mas em cinco anos não conseguiu descobrir onde estava um de seus soldados.
Parece incrível.
A não ser que o Golias do século XXI que está enjaulado na Faixa de Gaza tenha aprendido direitinho a lição de David.

Khaled Meshal, Gilad Shalit, Binyamin Netanyahu
No frigir dos ovos a operação numérica da troca de prisioneiros: Gilad Shalit contra 1.207 pessoas do outro lado do muro foi um sucesso de mídia. E como toda operação David, esta também foi espertinha.
Israel resolve parcialmente o problema de suas prisões superlotadas e mostra, mais uma vez, que a vida de um compatriota vale muito mais do que a de qualquer outro homem que respire.
A OLP chamou a atenção para o fato de nenhum dos nomes da lista ter grande relevância política e é verdade que dela não consta nenhum dos intelectuais que poderiam acrescentar algo à causa Palestina.
Israel vai receber seu soldado e entregar simultaneamente 477 palestinos (450 homens e 27 mulheres), na terça-feira, em várias localidades: checkpoints na Cisjordânia, No man’s land em Gaza;, os demais serão deportados.
A má notícia é que parece que só 313 poderão retornar ao lar. Cento e dez serão devolvidos na Cisjordânia e 203 em Gaza. Os demais serão deportados para a Turquia e países europeus em que deverão obter estatuto de refugiado na chegada, já que não dispõem de identidade nacional e nem passaporte que permita que residam no exterior na legalidade.
O grande vitorioso do negócio parece ser o Hamas, que conseguiu 90% do exigido. E os nomes que sobressaem são os de Khaled Meshal, seu líder político, que já está no Cairo desde quarta-feira passada para providenciar a troca, e de Murad Muwafi, chefe do Serviço de Inteligência (ex-Secreto) do Egito.
A operação é espetacular, mas não contribui ao processo de paz a curto, médio e longo prazo.
Dos nomes que constam da lista de prisioneiros a serem libertados, quatro são militantes-militares do Hamas. Ahlam Tamimi, jornalista convertida em militarista, ajudava na escolha de locais para os bomba-suicidas atacarem e os acompanhava pessoalmente até o lugar fatídico; Mohammed al-Sharatha, é um dos líderes das forças especiais 101 do Hamas e responsável pelo assassinato de dois soldados israelenses em 1989; Nasser Iteima, dirigiu o atentado contra o hotel Netanya em 2002; Walid Anjes, dirigiu o atentado contra o Café Moment em Jerusalém no mesmo ano.
Um dos nomes cuja ausência da lista todos lamentam e que faria diferença é o de Marwan Barghouti. Um dos grandes, se não o maior, cérebro do Fatah e um líder carismático da OLP que poderia ajudar, e muito, no processo de reconciliação com o Hamas.
Deve ser por isto que vai continuar atrás das grades.


Ainda restam cerca de seis mil palestinos detidos em 22 prisões em Israel e na Cisjordânia.
Dentre eles, cinquenta prisioneiros políticos fizeram greve de fome no mês passado contra as más condições de dentenção.
Eles não têm acesso a livros, nem a programas educacionais ou mudas de roupa.
Os que são autorizados a visitas esporádicas de familiares, os encontram algemados.
Muitos passam até cinco anos sem nenhum contato com a família ou o mundo externo e o número de prisioneiros confinados em solitárias tem aumentado bastante.
Uma das razões de Israel ter concordado em libertar um número tão alto, além do valor relativo da vida... pode ser a lotação excessiva de seus cárceres. Pois além dos seis mil prisioneiros políticos palestinos ainda tem os prisioneiros comuns israelenses.
Como em todos países, em Israel também tem muito bandido, de colarinho branco e sem colarinho.

Professor Noam Chomsky fala sobre Occupy Wall Street


"The intellectual tradition is one of servility to power, and if I didn't betray it I'd be ashamed of myself.
It makes sense to work towards a better world, but it doesn't make any sense to have illusions about what the real world is.
Israel's military occupation is] in gross violation of international law and has been from the outset. And that much, at least, is fully recognized, even by the United States, which has overwhelming and, as I said, unilateral responsibility for these crimes. . . . On December 5th [2001], there had been an important international conference, called in Switzerland, on the 4th Geneva Convention."
Noam Chomsky

Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
http://www.bigcampaign.org/


domingo, 9 de outubro de 2011

UNESCO desafia os EUA; Afeganistão, aniversário de 10 anos



Insurgentes Talibã em campo de treinamento na fronteira do Paquistão

Dez anos atrás os Estados Unidos com o apoio da OTAN despejou as primeiras bombas no Afeganistão, em princípio, em cima dos Talibã que protegiam Ossama Bin Laden.
Tudo aconteceu com a cumplicidade do Paquistão, então em plena lua de mel com Washington. Tanto que foi de lá que cruzaram a fronteira quatro homens enturbantados, munidos de celulares fornecidos pela CIA. Um deles era o líder de uma tribo Pashtun (cujo líder máximo era o saudoso comandante Massoud), rival dos Talibã.
O homem que chefiava o grupo discreto era Hamid Karzai.
Dois meses mais tarde, Karzai, patrocinado por Washington e “abençoado” por líderes tribais exilados, recebeu uma delegação Talibã no monte Shah Wali Kot em Kandahar como chefe de Estado para negociar a rendição das forças de resistência nacionais.
O chefe dos Talibã, Mullah Muhammad Omar, enviou seu braço direito, Mullah Obaidullah, à reunião para dar-se por vencido mediante garantia que os líderes tribais Talibã pudessem retornar sãos e salvos aos lares.
Nessa noite, Obaidullah mandou pão para Karzai, em um gesto de conciliação.
Pronto. A paz estava garantida e o terreno estava livre para a criação de um novo Afeganistão democrático sem influência Talibã.
Infelizmente a sede de vingança estadunidense pós-ataque em casa estava insaciável e não se resignaram à paz com um tratado. Queriam lavar a honra e fazer o luto de seus mortos com sangue.
Então a máquina de guerra do Pentágono perseguiu os Talibã sem clemência em vez de deixá-los voltar para casa e eles se refugiaram no Paquistão, onde foram curar as feridas e cultivar mágoa, para em seguida se empenhar-se na reorganização da insurgência sem trégua contra os ocupantes que não os pouparam.
Dez anos depois, os EUA conseguiram a vingança que buscavam, mas ela custou cara: 17.000 civis mortos, 2.750 soldados estrangeiros mortos em combate, inúmeros bombas suicidas e nos últimos anos um organizado combate de guerrilha Talibã contra a qual os Aliados não sabem como lutar. A prova disto foi o ataque de 20 horas da própria Embaixada dos Estados Unidos em Kabul, mais vigiada, impossível; porém, frágil.
Barack Obama prometeu evacuar suas tropas até 2014. Os ingleses não querem mais nenhum soldado deles lá porque a opinião pública é em grande maioria contrária a esta ocupação interminável.
Fontes estadunidenses afirmam que o país vai deixar cerca de vinte mil soldados para apoiarem Karzai em sua reestruturação democrática.
Karzai deseja voltar a reunir-se com as lideranças Talibã como fez dez anos atrás para negociar.
Resta saber se ele hoje tem a autoridade que lhe faltava em 2001 e se Mullah Omar vai depositar nele a mesma confiança que depositou dez anos atrás e que lhe foi negada.





O veto da China e da Rússia no Comitê de Segurança da ONU à moção de sanção à Síria mostra o quanto o mundo está mudando de cara. Os líderes do emergente BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) eram contrários ao bombardeio da Líbia e não querem que aconteça o mesmo com a Síria. Roupa suja se lava em casa.
Se fizerem tanta questão de alimentar a indústria de armamento, intervenham na Palestina para protegê-la da invasão do poderoso vizinho que possui até bomba atômica! Esta frase é de um sírio que se opõe a Assad, mas não quer estrangeiros os bombardeando.





Os Estados Unidos deram tanta importância à execução de seu cidadão membro do al-Qaeda Anwar al-Awlaki, no Yêmen, que a CBS chegou a interromper a programação para fazer o anúncio.
Já no Yêmen a morte de Awalaki teve pouquíssima relevância. Os yemenitas estão mesmo preocupados é com a liberdade que vêm reivindicando em praça pública ao ditador Saleh.
O perigo estava no fato de Al-Awlaki fazer proselitismo terrorista em inglês e ter assim recrutado vários anglófonos com sua lábia nociva bem articulada.





Enquanto o Conselho de Segurança da ONU examina o pedido de Estado solicitado pela Palestina, no dia 5, esta ganhou sua primeira vitória diplomática mundial quando o comitê executivo da UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) reconheceu seus direitos em seu seio como 194° membro.
Os quatro votos contrários (Alemanha, Estados Unidos, Letônia, România) aos quarenta países favoráveis e aos quatorze indecisos que querem agradar, ou desagradar, gregos e troianos (Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, França, Grécia – por razões financeiras óbvias, Itália, Polônia, etc.) mostraram que pode ser possível conseguir a maioria de dois terços para a aprovação da Assembléia que reunirá os 193 membros, na sede em Paris, no dia 10 de novembro.
Hillary Clinton levou susto, esperneou, deu grito, mas... ficou por isto.
A UNESCO não sofre jugo de nenhuma superpotência (real ou exangue), pois não dá direito de veto, como no Conselho de Segurança da ONU. Todas as decisões são democraticamente tomadas por maioria em plenário. Todos os votos valem o mesmo tanto.
Na véspera, os Estados Unidos, através do embaixador David Killion, pressionaram todas as delegações para que votassem Não à recomendação. Em vão.
Após o voto contrário ao seu desejo, a deputada Kay Granger, encarregada da comissão parlamentar que aprova os financiamentos internacionais, avisou que os EUA vão cortar sua participação financeira à UNESCO.
Vale lembrar que os Estados Unidos passaram anos sem pagar o que devia à ONU. Só acertaram as contas quando precisaram do voto da Assembléia para começar sua campanha bélica mundo afora.
Portanto a UNESCO sobreviverria sem eles.
Como cultura não suplanta a prioridade de armamento, eles também sobreviveriam sem a UNESCO de 194 membros.
E a Palestina poderá então solicitar a inclusão de vários sítios históricos, ocupados militarmente por Israel, no Patrimônio Mundial da Humanidade.
Para começar, sítios cristãos como Belém, Jericó, Betânia, o Monte das Oliveiras, etc.
Lugares cuja manutenção é cara para os palestinos, que não têm nenhum lucro turístico.
As agências de turismo, inclusive brasileiras, só trabalham com agências israelenses cujos guias levam os peregrinos de igreja em igreja (declamando a ladainha que decoraram) sem deixá-los consumir nada nas cidades, com o falso argumento do perigo.
Embora a maioria dos sítios cristãos esteja na Cisjordânia e serem os palestinos os responsáveis por sua manutenção, sempre impecável, são os israelenses que lucram enquanto eles trabalham.
Faz parte das coisas incompreensíveis.
Como a ameaça de corte de fundos, de ajuda internacional, se os palestinos levarem sua reivindicação de Estado adiante.
O Congresso estadunidense já está bloqueando os U$200 milhões anuais (a Israel dão U$3 bilhões de ajuda militar) atribuídos à polícia civil para a que a Autoridade Palestina possa manter a ordem e para reconstruir parte do que Israel destrói.
Até Binyamin Netanyahu lembrou o Congresso que talvez não seja uma boa ideia cortar a ajuda, pois esta faz parte dos Acordos de Oslo...
Parece mesmo que os assessores de quem decide nos EUA não têm memória e nem se informam sobre a própria história imediata patrocinada por Washington.
Sem falar que nem falam em cortar a ajuda militar que Israel recebe infalivelmente. Corte que talvez ajudasse Binyamin Netanyahu a decidir gelar a expansão das invasões na Cisjordânia.
Só dizem: Não faz isso não! com voz de quem quer em retorno mais humilhação. Como mulher de malandro.




Quanto mais se lê o discurso de Barack Obama do dia 21 na ONU, mais se encontra incongruências incompatíveis com o nível internacional de seu país.
Parece até que quem escreveu o discurso nem se deu ao trabalho de conferir a veracidade de suas informações antes de dar lição pública.
Para começar, comparou o incomparável. Ou seja, o Sudão, que era um país único que foi separado em dois Estados, com dois países, Israel e Palestina, já divididos pela ONU, sendo que um vem se expandindo impunemente em território alheio.
E mesmo que o argumento fosse válido, o redator do discurso esqueceu o precedente do Kosovo que anula seu argumento inteiro de negociações e acordos bilaterais serem condições sine qua non para o reconhecimento de um Estado.
Os EUA, apesar da oposição irredutível da Sérvia, votaram e incitaram a ONU a reconhecer o Estado do Kosovo em 1998. Embora apenas 83 membros da ONU o tenham reconhecido formalmente. Ou seja, número bem inferior aos 127 que reconheceram a Palestina.
Insatisfeita, a Sérvia acionou a Corte Internacional de Justiça para que revogasse a decisão do Conselho de Segurança e o veredito foi claro: O Direito Internacional não proíbe declarações unilaterais de independência.
Embora neste caso houvesse uma verdadeira ambiguidade histórica.
Só para lembrar, o Império Otomano derrotou os sérvios em 1389 e instalou um enclave islâmico no Kosovo, que mesmo assim continuou com maioria étnica e religiosa sérvia por séculos.
Antes dos kosovars destruírem, esta região tinha igrejas, monumentos e monastérios construídos há séculos. Eram maravilhosos legados culturais dos quais os sérvios se recusavam a abrir mão, pois os consideram como o berço de sua civilização e de sua identidade religiosa cristã.
Yasser Arafat declarou a soberania da Palestina em 1988.
Ibrahim Rugova, albano-kosovar líder do KLA (Exército de Libertação do Kosovo), declarou a independência do estado em 1990.
Durante a guerra civil de 1998 morreram mais de duas mil pessoas.
Os militantes do KLA executaram a sangue frio civis sérvios e kosovars moderados e os soldados sérvios executaram também sem piedade civis kosovars-albaneses.
Em 1999, o presidente Bill Clinton liderou um ataque da OTAN em defesa dos kosovars contra a Sérvia, acusada de estar promovendo limpeza étnica.
Guerra ganha, pois contra a OTAN todo Exército é fraco, o KLA assumiu o poder e começou a sua limpeza étnica expulsando milhares de sérvios, ciganos-Roma, turcos e judeus de seu território. Sob acusação de estes grupos terem “colaborado” com os sérvios.
Estes grupos étnicos viviam na região há séculos, ao contrário dos colonos judeus que foram transplantados para as invasões na Cisjordânia nestas duas últimas décadas.
O caso da Sérvia é, em Direito, muito mais embasado do que o de Israel, porém, foi descartado pela Corte Internacional.
Primeiro, Israel é um país. A Palestina é outro. E as fronteiras divisórias foram definidas pela ONU em 1947.
Portanto a decisão não é assim tão unilateral, já que foi da Organização que aceitou a determinação unilateral das fronteiras retificadas por Israel em 1948.
Segundo, os colonos judeus foram transplantados para as colônias/assentamentos/invasões na Cisjordânia nas três últimas décadas. A maioria há poucos anos.
Portanto, não têm nenhum apego-amor à terra, como têm os autótones palestinos que a cultivam há vários séculos e um, dois, quantos mil anos.
Terceiro, tinha 21 invasões judias na Faixa de Gaza. Foram desmontadas em 2004 com esperneio dos colonos diante dos soldados, mas sem nenhum transtorno incontornável.
É verdade que esta evacuação fazia parte de um plano de agressão dois anos mais tarde, que Ariel Sharon promoveu a retirada dos colonos da Faixa para depois bombardeá-la à vontade.., mas deixando isto de lado, com vontade política e militar, desmontar os assentamentos/colônias da Cisjordânia não é um ínfimo da tragédia humana que vivem os ocupados.


Hoje o estado da Palestina já é reconhecido individualmente por países que representam 80% da população do planeta. Ou seja, 5.5 bilhões de indivíduos, contra os 1.6 bilhões que detêm 75% do PIB mundial.




A ex-primeira ministra de Israel Tzipi Livni é célebre por ter dito uma frase inusitada para uma advogada: Detestava leis, ainda mais as internacionais. Frase gravada e reproduzida para a posteridade nos Palestine Papers.
Na semana passada Livni, a dvogada que acha que Direito e Justiça não são indissociáveis, quase parou atrás das grades durante sua visita a Londres.
Livrou-se do mandado de prisão porque gozava de estatuto diplomático.
A acusação de criminosa porém continuará a pesar sobre sua cabeça.
Era Livni que estava em comando quando em 2008 Israel bombardeou Gaza, causando a morte de mais de 3.500 adultos e crianças, deixando centenas de feridos e danos materiais que nunca foram compensados. As casas e os prédios públicos continuam derrubados, já que o bloqueio impede a entrada de material de construção, além de objetos perigosos como papel higiênico e outras coisas do gênero.




Dimitri Medved quer deixar a casa limpa para devolvê-la ao amigo Vladimir Putin.
Deu um ultimatum a Bashar al-Assad (cuja polícia está atirando até em acompanhantes de funeral) que faça reformas imediatas ou se demita e parece ter permitido a execução em Istambul de três chechenos, considerados terroristas, com a mesma displicência do Mossad (serviço secreto israelense).
Os turcos reclamaram e a diplomacia internacional, de mãos amarradas, condenou mais por uma questão de forma.
Além da questão Tchechena ser complicada, sabem que não há como recriminar a Rússia após os precedentes abertos pelos Estados Unidos e Israel.
O primeiro no processo de rendition, sequestros de civis em países alheios à luz do dia e o segundo, mandante do assassinato do palestino Mahmmoud al-Mabhoul em Dubai, em janeiro do ano passado. Os assassinos foram filmados, as provas eram concretas e múltiplas, e no final não deu em nada.
Putin sabe que crime internacionais só são castigados quando o mandante é fraco.
Como os nacionais.




Enquanto Muammar Gaddafi vive sua nova vida, sua milícia continua defendendo Sirte, sua cidade natal, com todos os meios disponíveis. Os rebeldes, que agora são as Forças Armadas líbias legitimadas, dizem que estão na reta final. Enquanto isto, a debandada das famílias não para.




Ellen Johson Sirleaf, Lymah Gbawee, Tawkkul Karman
Como nem todas as mulheres são impiedosas, muito pelo contrário, o Prêmio Nobel da Paz, que desde a derrapagem de 2009 tem tentado reabilitar-se evitando eleições precipitadas, recompensou o trabalho de três mulheres de ações valiosas.
O favoritismo de Ellen era merecido, apesar das reclamações de seus oponentes políticos. Em 2006 ela assumiu as rédeas de um país estraçalhado pelo ditador sanguinário "Lord of War" Charles Taylor que tinha transformado a Libéria em um campo de batalha cheio de crianças-soldados movidos a alucinógenos. Inspirada no projeto do bispo Desmond Tutu da África do Sul pós-apartheid, estabeleceu com sucesso uma comissão de Verdade e Reconciliação com a ajuda de ativistas como Lymah Gbawee. Foi uma luta pacífica ininterrupta junto às famílias que exigiu muita dedicação e coragem.
A jornalista que é também ativista de Direitos Humanos Tawkkul Karman tem mais caminho para a frente do que para trás, mas o que percorreu já fez avançar bastante a causa feminina e democrática no Yêmen.
Estas três humanistas sabem bem que são as mulheres que educam os homens de amanhã e depende delas a perpetuação de comportamentos violentos e preconceituosos ou mudança de mentalidade.

Enquanto isto, o Quênia enterra sua ilustre cidadã Wangari Maathai, recompensada pelo Nobel da Paz em 2004 por seu trabalho de reflorestamento.
Wangari deixou traços indeléveis na história da humanidade: milhares de árvores. 





"The world sees a great and ongoing injustice. They want a just Israel. They see an Israel that occupies and is clearly unjust, and they believe they should do something. We should thank them for this from the bottom of our hearts."
- Gideon Levy, 2006, em With a Little Help from Outside





Artistas contra o Apartheid: http://youtu.be/V28HnPTYz-I;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Lowkey:http://youtu.be/ET6U54OYxGw;http://youtu.be/kmBnvajSfWU; http://youtu.be/GO5Cay6GUkM;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/

domingo, 2 de outubro de 2011

"Estado Judeu" e Ocupação de fato



Os EUA estão diretamente fora da rede de exploração da matéria prima bilionária.Porém, perseguem a quimera do gaseoduto Pipelineistan (Turcomenistão/Afegasnitão/Paquistão).
Oficialmente chamado Trans-Afgan Pipeline - TAP (Gasoduto Trans-Afgão) e que talvez vire TAPI, caso a Índia entre realmente no negócio.
Washington é obcecada com o TAP desde meados da década de noventa quando Bill Clinton negociou sua exploração com os Taliban até eles baterem o pé quanto às taxas de trânsito e Clinton recuar porque queria levar todas as vantagens.
Antes do ataque às Torres Gêmeas em 2001 o governo Bush já havia substituído a retórica do “tapete do ouro” por “tapete de bombas”.
De uma certa forma, representando o advogado do diabo, nesta equação financeiro-militar Ben Laden veio a calhar.
Os EUA não se conformam em perder esta mina de ouro potencial que, apesar do custo de construção avaliado em U$10 bilhões, garante uma renda fixa milionária a longo prazo pela qual os EUA está desesperado.
Os Pashtuns nacionalistas eram uma pedrinha no sapato na época do comandante Massud e esta pedra virou uma pedrona chamada Taliban, no caminho deste contrato.
Contudo, dez anos e U$5.4 trilhões mais tarde, em Washington, o sonho com o Gasoduto ainda suplanta o pesadelo das mortes e da destruição que ele vem custando.
Com os Taliban no comando o gasoduto é inviável. Todos sabem.
Com a guerra interminável também, mas as tropas aliadas estão cuidando bem da faixa pela qual o gás transita.  
Se os EUA tivessem usado as vias diplomáticas no início do milênio e tivessem concordado com as condições tarifárias propostas pelos Taliban, o lucro com o TAP seria menor do que cobiçavam, mas não teriam sofrido nem infligido nenhuma perda humana.
A paz reinaria (pelo menos lá) e a Casa Branca não estaria à mercê de contractors, de credores, e sobretudo, não precisaria fomentar conflitos para vender seus serviços e faturar com o único poder que lhe resta; o das armas.

Um pouco da beleza do Afeganistão em imagens de alguns lugares que gosto.

Rabino Yisrael Dovid Weiss fala sobre o sionismo

Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/.


Artists United: Freedom for Palestine


* Filmografia selecionada de Alexandre Nikolaievitch Sokurov, em russo e inglês, pois não sei como foram intitulados em português: The Lonely Voice of Man, Одинокий голос человека, 1978–1987; The Degraded, Разжалованный, 1980; Mournful Unconcern, Скорбное бесчувствие, 1983–1987; Empire, Ампир, 1986; Days of Eclipse, Дни затмения, 1988; Save and Protect, Спаси и сохрани, 1989; The Second Circle, Круг второй, 1990; Stone, Камень, 1992; Whispering Pages, Тихие страницы, 1993; Mother and Son, Мать и сын, 1997; Moloch, Молох, 1999Taurus, Телец, 2000; Russian Ark, Русский ковчег, 2002; Father and Son, Отец и сын, 2003; The Sun, Солнце, 2004; Alexandra, Александра, 2007; Faust, Фауст, 2011.
Documentários também incríveis, sobretudo a entrevista com o escritor Alexandre Solzenitzin, em 1998.
Apesar de gostar bastante de Sokurov, prefiro publicar aqui uma pérola mais rara e, no gênero, inigualável. Uma entrevista com o grande, imenso, Andrei Tarkovski. Mestre de vários cineastas contemporâneos cujos filmes são inigualáveis em matéria de reflexão e sensibilidade do mundo e dos seres humanos.