domingo, 25 de setembro de 2011

63 anos bastam: "É hora do povo palestino ser livre"



As vias do Senhor são impenetráveis.
Na sexta-feira, na tribuna das Nações Unidas, aconteceu algo extraordinário e notável: baixou em Mahmoud Abbas o espírito do Yasser Arafat irredutível e determinado.
O New York Times, ignorante da natureza humana e de como e quanto a opressão transforma um homem, espantado, descreveu Abbas com uma frase condescendente que esconde um temor latente de Binyamin Netanyahu, Barack Obama, uma certa imprensa, terem criado um “monstro” incontrolável. Em suma, independente.
A surpresa do colega estadunidense ficou nítida nesta frase: “Um homem cinzento de terno cinza e sapatos sensíveis pode estar emergindo da sombra”.
Pode não, emergiu porque estava afogando e após respirar como homem livre é pouco provável que retorne ao fundo do poço para morrer à míngua, na qual 44 anos de ocupação e espoliação territorial e hídrica deixaram o povo que conta com ele na Organização das Nações Unidas.
De um dia para o outro, o homem tido por fantoche virou estadista.
Agora vai ficar na história. Merece biografia.

Era uma vez um homem chamado Mahmoud Abbas, conhecido pelos seus como Abu Mazen, nascido em 1935 em Safed, na Galiléia antes desta ser separada da Palestina, obrigado a deixar casa e terra na Naqba, exilado na Síria com a família, onde se formou em Direito na Universidade de Damasco e doutorado na Universidade moscovita Patrice Lumumba.
Recrutado para a OLP (Organização de Libertação da Palestina) por Yasser Arafat em 1961, no Qatar, subiu discretamente na hierarquia do Fatah até, em 2003 – com a recusa de Israel e dos EUA de negociarem com Arafat e por as eminências do partido (como Marwan Barghouti) estarem no fundo dos cárceres – emergir como Primeiro Ministro do Presidente (apátrida) Yasser Arafat com quem esteve em conflito permanente até demitir-se no ano seguinte e pela mesma razão de antes (dos grandes do Fatah estarem presos em Israel, e mais tarde, com a “ilegalidade” internacional do Hamas) após a morte de Arafat, acabar presidindo a Autoridade Palestina, sem nenhuma oposição de Tel Aviv nem de Washington.
Por quê?
Porque era considerado pela Casa Branca um dirigente manipulável.
Abbas escreveu um livro de 600 páginas sobre a Palestina sem mencionar uma única vez a palavra “ocupação”. Era portanto um homem, para Washington, fiável.
Os Palestine Papers divulgados pela TV Al Jazeera em janeiro revelaram que nas negociações com Israel e os EUA ele estava disposto a ceder muito mais do que podia. Era portanto um animal (como os palestinos são chamados pelos sionistas extremistas) domesticado.
O fato do ano passado ter empreendido uma campanha diplomática de reconhecimento da Palestina, bem sucedida no Brasil e em outros países que conhecem o ônus do militarismo, opressão e imperialismo, não mudou muito sua imagem nas altas instâncias de poder de seus dois ferrenhos adversários.
Tanto que o repreenderam como se fosse criança e acharam que na hora H ele afinaria e recuaria até ser de novo espremido contra a parede que vêem construindo além da Linha Verde, na sua Palestina.
Por causa desta miopia conhecida, de sua história moderada e de sua personalidade reservada, até quinta-feira, até sexta, o Quarteto Oriente Médio, formado pelos EUA, ONU, EU e Rússia, achava que conseguiria dissuadi-lo de fazer ao que tinha vindo.
Os jornalistas que trabalham com comunicado de imprensa e que torciam para o outro lado, também juravam que ele fosse aceitar a saída impossível que Obama lhe oferecia...
Mas o tiro saiu pela culatra e quem foi humilhado, uma vez mais, foi o presidente dos Estados Unidos. Expôs-se a mais uma afronta pública para nada. Saiu de mãos abanando e sob risos velados.
O Poder está mudando de mãos e os Estados Unidos sentiram a pontada ali, em plenário.
Cedo ou tarde todo império enfraquece até decair de importância e perder influência sobre o destino dos dominados. O processo é paulatino e irreverssível.
E todos caem por gastos excessivos em armas destrutivas.
As vias do Senhor são impenetráveis.

A semana passou como uma corrente elétrica passaria se entrasse e saísse por duas vias.
Uma popular de oração e espera na Cisjordânia e do outro lado do Atlântico, em Washington e Nova Iorque, uma de lobby e diplomacia que pressionava Mahmoud Abbas para fazer o moralmente impossível: Esperar mais um ano e voltar às negociações com um Binyamin Netanyahu que quer tudo sem ceder nem um milímetro.
Ou seja, Barack Obama pediu, em nome do lobby sionista, que o representante dos palestinos abandonasse a reivindicação legítima de um Estado sem nenhuma garantia jurídica de defesa e sem nenhuma perspectiva de paz e liberdade frente a um adversário expansionista de extrema-direita que os próprios compatriotas combatem há semanas.
O pior cego é o que não quer enxergar o tanque desenfreado que o achata.

Os jornalistas que seguem a saga palestino-israelense (o mais antigo, há mais de 45 anos, o mais novo, 4 meses) estavam “estacionados” lá, ali, aqui (o advérbio depende de onde estiver e de quem você se aproxima), no lugar que, no final das contas, tudo se decide.
No lugar em que a emoção das mulheres se traduzia em força risonha e lágrimas, a dos homens em um misto de resignação e entusiasmo, a dos jovens e das crianças em energia e esperança jamais vistas nas paragens.
Por “lá” “aqui” leia-se Nablus, Ramallah, Jerusalém e outras aglomerações dos Territórios Ocupados onde a emoção era palpável.
Na Via Dolorosa os versos da Bíblia e do Alcorão se misturavam em um manso hino de liberdade que aguçava a sensibilidade até dos colegas que põem em volta do coração uma carapaça.
A presença dos jornalistas era para informar e para evitar a chacina que os colonos armados anunciavam, sem que nenhuma medida tivesse sido tomada para conter a ira dos invasores contra o povo invadido, humilhado, ocupado, sem nenhum direito de reagir militarmente ou solicitar proteção internacional.
Daí a necessidade de “existir” e de ter um Estado.
Os palestinos não têm demonstrado nenhuma agressividade nas reuniões e passeatas de espera do voto que esperam que vá libertá-los.
Ouvindo os rumores de Nova Iorque que Mahmoud Abbas renunciaria à missão dada, eu não entendia a ingenuidade dos colegas que acreditavam (?) nos boatos de uma diplomacia internacional defasada com o terreno e alheia à potência da consciência da injustiça de ser lesado, despojado de terra, água, e sobretudo, de pátria.
Quem estava na Palestina perto dos que Abbas representava e que seguiu passo a passo expectativas, engodos, decepções dos últimos 30 anos e o fracasso diplomático e mediático da reunião de cúpula organizada por Bill Clinton no ano 2000, em Campo David, entre o primeiro ministro israelense Ehud Barak e o líder da OLP Yasser Arafat, sabia que Abbas não tinha como recuar.
Morrer na praia?
Impensável.


No Campo David de Clinton, Israel exigiu tudo sem ceder nada. Por isto, Yasser Arafat retirou-se. Ciente que o circo tinha sido armado para que nada mudasse e que ele saísse de gaiato.
E saiu. Arafat foi crucificado por jornalistas mal-informados, ou mal-intencionados.
De lá pra cá, a verdade veio à tona e os gatos escaldados que cobrem o Oriente Médio agora tentam escutar os dois lados em vez de se aterem a comunicados de imprensa e a boatos fabricados.
Como os desta semana, que Abbas recuaria, que diplomatas ocidentais conseguiriam convencê-lo a esperar mediante promessas vagas – já que Binyamin Netanyahu não quis nem ouvir falar em respeitar as leis internacionais, o que no caso se traduziria em pelo menos gelar as expansões das colônias judias na Cisjordânia.
Mahmoud Abbas foi às Nações Unidas com um único objetivo. Todos sabiam.
Missão cumprida.
Agora a decisão está nas mãos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que não tem prazo fixo para comunicar o veredito.
Enquanto deliberam, é certo que farão tudo, junto com o Quarteto (no qual muitos gostariam que o Brasil fosse admitido como quinto violino) para que Israel e a Autoridade Palestina retomem as negociações.
Porém, caso Netanyahu continue intratável, Abbas deverá requerer (rapidamente) que o Conselho exprima seu voto, o qual Obama, se cumprir a palavra dada ao afilhado, vetará em seguida.
Os palestinos então recorreriam à opção que sobra. Ou seja, solicitar aos 193 membros das Nações Unidas que elevem seu status na Organização, com poucas prerrogativas de um Estado.
O que permitiria que Israel continuasse sua política de ocupação e limpeza étnica sem ser incomodado.
Resta ver quão longe Barack Obama está disposto a ir para defender seus custosos aliados.


E enquanto Mahmoud Abbas desabrochava em um homem corajoso e honrado que será para sempre lembrado, do outro lado do Atlântico, outro homem, murchava.
Quando Abbas estava em cima do muro olhando Abbou Mazen embaixo, espremido e angustiado, Obama discursava como se fosse Jimmy Carter, com uma convicção dinâmica que a ocupação da Cisjordânia e o roubo de terras árabes tinham de acabar.
Quem diria há dois anos que na quarta-feira na ONU baixaria em Barack Obama o espírito do Ariel Sharon, que permitiu o massacre nos campos de Sabra e Shatila, em lugar do lúcido e humano recém-eleito presidente dos EUA?
O presidente de hoje mereceu o adjetivo “patético” que os anglófonos usaram com desprezo enfático por sua falta de vergonha de virar uma ferramenta do governo de extrema-direita israelense.
Com a cumplicidade da imprensa nacional.
Como é possível que esta não tenha relevado o absurdo de Dan Shapiro, embaixador dos EUA em Tel Aviv, ter viajado para Nova Iorque no avião de Binyamin Netanyahu, trocando figurinhas com o Primeiro Ministro como se fosse um de seus funcionários?
E foi preciso que o Haaretz, principal jornal de Israel, ousasse publicar a nova alcunha do presidente dos Estados Unidos que os jornalistas já murmuravam: Barack Netanyahu.
Aliás, o homônimo político do recém-batizado o respeita tanto, que na hora de seu discurso estava entretido em conversa animada com o presidente da Colômbia...
Outro tapa na cara que Obama recebeu calado.
E como todo sujeito débil, humilhado, esbofeteou então Abbas por “ousar” reivindicar o direito a uma pátria, ao respeito, a uma identidade.
Como declarou a deputada do Fatah e militante de Direitos Humanos Hanan Ashrawi ao Haaretz, ouvindo o discurso do presidente dos EUA, dir-se-ia que são os palestinos que ocupam Israel em não o contrário.
Nenhuma palavra de simpatia pelas centenas de milhares de palestinos forçados à diáspora na Naqba, os refugiados; nem pelos ocupados, terrorizados pelos 500 mil colonos invasores dentre os quais bastante estão armados; pelos despojados de terra, água, identidade; nem pelas milhares de vítimas gazauís bombardeadas, pelos sobreviventes sem casa, sem meios e enclausurados em um estado de sítio interminável.
Nada.
Só os infortúnios israelenses lhe interessaram.
Levantou os defuntos dos bombas-suicidas, que deixaram de ser atualidade em 2005, como se continuassem em atividade; lamentou os pobres israelenses atingidos pelos foguetes artesanais jogados de Gaza como se fossem torpedeados dia e noite por dirigíveis sofisticados; teve coragem até de desencavar o holocausto da Segunda Guerra Mundial, argumento inesgotável, como se fossem os palestinos os responsáveis ou tivessem sido eles os idenizados com uma pátria, em vez de terem sido desfalcados de nacionalidade.
Shame on him! disseram membros de ONGs israelenses de Direitos Humanos.
O holocausto é um fato histórico que faz parte de todo curriculum escolar no Ocidente. É um Mal irrefutável e condenado com merecida veemência.
Contudo, não foram os palestinos que cometeram aqueles atos abomináveis.
Como sempre, os EUA recorreram ao argumento de chantagem que funciona com os europeus, que um dia, vão ter de pôr fim a esta culpabilidade inesgotável: Foram cúmplices ativos ou mudos, mas já reconheceram, se desculparam, se redimiram com o Estado de Israel; ponto final.
Agora têm de consertar outro erro do passado.
Madeleine Albright, a Hillary Rodhan do governo de Bill Clinton, costumava servir ao mundo, no conflito Israelo-Palestino, uma mentira que ficou nos anais jornalísticos: “Só depende das duas partes”.
Quem conhece a história das últimas décadas sabe qual parte quer paz e qual quer ter tudo ou guerra.
E a Justiça depende da Organização das Nações Unidas e do voto de um indivíduo:
Barack Houssein... Netanyahu ou Obama.


Milícias terroristas de judeus franceses chegaram na Cisjordânia, armados até os dentes e recrutando mercenários na internet.
55 homens e mulheres com treinamento militar já estão a postos em colônias e em pé de guerra.
Chegaram no aeroporto Ben Gurion sem ser incomodados, embora há poucos meses a entrada de militantes de Direitos Humanos de ONGs internacionais, inclusive franceses, que vinham em paz, tenha sido bloqueada.
Pedras contra kalishnikovs.
A ONU vai permitir outra Naqba? Limpeza étnica total?

Treinamento de tiro ao alvo nas colônias/assentamentos/invasões judias na Cisjordânia - até as mulheres aderem à onda terrorista.
Em uma confrontação de uma milícia de Esh Kodesh com uma passeata pró-Estado da Palestina de pessoas desarmadas, entre gás lacrimogênio e balas, Issam Badran, palestino de 35 anos, pai de oito filhos, virou cadáver.




The reason that Israel has been able to appropriate Palestine unto itself with American aid and support is that Israel controls the explanation of the Israeli-Palestinian conflict. At least 90% of Americans, if they know anything at all of the issue, know only the Israeli propaganda line. Israel has been able to control the explanation, because the powerful Israel Lobby brands every critic of Israeli policy as an anti-semite who favors a second holocaust of the Jews.”
Paul Craig Roberts, 2007, em Carter's Inconvenient Truths

Entrevista Jimmy Carter
 
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/



domingo, 18 de setembro de 2011

Palestina, 194ª Nação Unida?


Para todo cidadão do mundo lúcido e justo, o reconhecimento do Estado da Palestina é um Direito Moral inalienável e que a nossa geração tem de corrigir este lapso das gerações passadas.
Como foi, após a Segunda Guerra Mundial, o Direito dos judeus terem um pedaço de terra que lhes desse a Nação que lhes faltava.
É desumano viver sem identidade.
A controvérsia atual levantada pelos governos de Israel e dos Estados Unidos é então surreal.
O próprio Barack Obama, em 2009, afirmou no Cairo em discurso memorável: Os israelenses têm de saber que do mesmo jeito que o direito de Israel existir não pode ser negado, também não pode o da Palestina.
De 2009 para cá, como se sabe, o Presidente dos EUA virou a casaca, subiu e desceu do muro, até o Primeiro Ministro de Israel transformá-lo em vassalo.

A arte do grafiteiro palestino no muro que já estampa Yasser Arafat,  sob olhar vigilante dos soldados isralenses:
O que o 20 de setembro muda? É o que dizem as letras árabes
O apoio incondicional de Barack Obama a Binyamin Netanyahu é incompreensível em todos os sentidos.
Primeiro, porque o candidato do “Yes, we can!” prometeu, entre as coisas que podia, justiça; e portanto, inaugurou o mandato pressionando o governo de extrema-direita de Tel Aviv para que se preparasse para a independência da Palestina.
Segundo, porque o presidente do “Sorry, we can’t” abandonou o tema do Direito e da Liberdade para empenhar-se em uma ajuda política incompreensível ao Primeiro Ministro de Israel.
Uma dedicação cega  de mão única que põe em perigo o (acanhado) capital simpatia que os Estados Unidos recuperaram nos países árabes (e no mundo) após sua promissora eleição.
Obama, em relação a Netanyahu, parece aquela estória da mulher de malandro: quanto mais apanha, mais ama e mais se dedica a quem a debilita e quebranta.
Foi humilhado em Israel: Na visita oficial de seu vice-presidente John Biden, que havia ido, em seu nome, negociar o congelamento das colônias na Cisjordânia. Biden recebeu um tapa na cara: Em vez de dar ouvidos ao eminente embaixador de Obama, Netanyahu anunciou a construção de novas invasões durante sua estadia.
Foi humilhado nos Estados Unidos: Em visita a Washington, Netanyahu fez um discurso na Casa Branca dando lições ao Dono da Casa sobre o direito histórico judaico à Palestina e o perigo que os nativos representavam para esta reivindicação sionista.
Obama ficou furioso, a portas fechadas, e nos bastidores mandou seu recado. Porém, o apoio ao Primeiro Ministro continuou firme.
Até quando Netanyahu atacou a Flotilha da Liberdade em águas internacionais, nove turcos foram assassinados e o mundo inteiro criticou, chocado.
Até quando Netanyahu recusou pedir desculpas à Turquia, apesar da fórmula milagrosa confeccionada pela Casa Branca ter sido aceita por ofensor e ofendido.
Até sabendo que Netanyahu teme seu ministro das relações exteriores Avigdor Lieberman mais do que se preocupa com o bem-estar de seus concidadãos.
Até sabendo que para o Novo Egito, Netanyahu e Mubarak são farinha do mesmo saco. Os próprios israelenses já manifestam nas passeatas que entenderam isto.       
Mesmo sendo humilhado e estando consciente da inconsciência de sua oposição à criação do Estado da Palestina e de seu subsídio financeiro a um governo cada vez mais distante dos valores democráticos que os EUA admiram, Obama continua apostando que o lobby extremista judeu sionista vai reelegê-lo, em vez de apostar em Rick Perry...
Esquece uma lei Física elementar: os extremismos se atraem como ima.

O Primeiro Ministro de Israel espaldado (ou acossado?)
por seu Ministro das Relações Exteriores (ao fundo),
o fascista declarado Avigdor Lieberman;
um dos "colonos" que moram nas invasões judias na Cisjordânia
 Quanto a Binyamin Netanyahu, bicho papão de israelenses, gazauís e cisjordanianos, estará em Nova Iorque esta semana com seu lobby, armado de toda munição (verbal) disponível, a fim de combater a criação do Estado Palestino.
Deve dar um pulo em Washington para cumprimentar o Republicano que ganhou do Democrata que perdeu a cadeira na Câmara por causa da política pró-Israel de Obama.

O que os israelenses temem com a criação do Estado da Palestina, além das invasões/colônias/assentamentos serem mais oficialmente ainda proibidas internacionalmente?
Temem que os palestinos tenham direitos iguais aos dos demais países. Dentre estes, o de solicitar proteção militar da ONU e de acionar a Corte Criminal Internacional, contra os crimes impunes, abusos territoriais (inclusive a ilegalidade do muro) e os ataques constantes de colonos e soldados bem mandados.
Vide vídeo de policiais israelenses a paisana prendendo Islam Jaber, palestino de 13 anos que estava jogando futebol perto de casa, em Jerusalém Oriental, na Cisjordânia. http://www.youtube.com/watch?v=VprzsYoUfjI&feature=player_embedded

Soldados israelenses prontos para o ataque, do outro lado do muro
O Plano B dos palestinos, caso (?) os Estados Unidos lhes fechem as portas e que fique por isto, é solicitar, via Assembléia Geral da ONU, o mesmo estatuto do Vaticano.
Washington sabe disto e sabe que não tem poder de veto nesta área, porém já disse que providenciará em seguida o corte dos fundos financeiros para a Palestina.
Ativistas de Direitos Humanos acham que se obama fizesse a mesma ameaça a Israel, neste caso, de cortar os bilhões de ajuda militar, Netanyahu pensaria duas vezes antes de prosseguir sua limpeza territorial e étnica na Cijsordânia e em Gaza.



Uma fonte do Shin Bet, Serviço Secreto Interno de Israel, alertou para o perigo das milícias de judeus extremistas, ativas na Cisjordânia. Estes grupos terroristas sionistas vêm atacando impunemente palestinos e ativistas israelenses de direitos humanos; além de destruir cisternas, queimar e arrancar oliveiras, depredar casas, escolas, universidades e até mesquitas.


Turki al-Faisal, ex-chefe do Serviço Secreto da Arábia Saudita e ex-embaixador em Washington já avisou que o veto dos Estados Unidos ao Estado da Palestina no dia 20 encerraria a “relação especial” entre seus dois países e faria que os EUA se tornasse “tóxico” no Mundo Árabe.
Vale lembrar que com a libertação do Egito, Ryad é o maior aliado, e o único peso pesado, de Washington nesse território do mundo bastante minado.


Mahmoud Abbas, Presidente da OLP (Organização pela Libertação da Palestina),
criada por Yasser Arafat, e da Autoridade Palestina.
Pronto para defender o Direito à Cidadania nas Naçõs Unidas 
A Assembléia das Nações Unidas vai viver um momento histórico nesta sexta-feira. Uma das maiores batalhas verbais ouvidas na Organização. Nesse dia, Mahmoud Abbas e Binyamin Netanyahu pronunciarão em plenário os discursos que anunciam as posições oficiais de seus dois países.

Na Líbia, onde as mulheres foram essenciais na luta contra Gaddafi (transportando balas nas bolsas, cozinhando e costurando para os guerrilheiros, vendendo jóias para financiar compra de jipes e com o apoio moral imprescindível à vitória), embora o Conselho Nacional de Transição de Benghazi, em reconhecimento ao trabalho fornecido, tivesse prometido que na Nova Líbia elas seriam embaixadoras e ministras, dos 41 ministérios só um foi confiado às guerrilheiras de bastidores: o das mulheres.


No Yêmen, onde a luta pela democracia continua,
o rapaz ostenta na cara as cores do país e as da Palestina








Artistas contra o Apartheid: http://youtu.be/V28HnPTYz-I;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Lowkey:http://youtu.be/ET6U54OYxGw;http://youtu.be/kmBnvajSfWU; http://youtu.be/GO5Cay6GUkM
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net

domingo, 11 de setembro de 2011

Declínio de um Império


Queima de livros após o Golpe militar no Chile,
patrocinado pela Operação Condor  
No dia 11 de setembro de 1973, a CIA e sua Operação Condor, no Chile, levou o general Augusto Pinochet ao poder em um Golpe de Estado em que o presidente Salvador Allende perderia a vida. O golpe foi seguido de queima de livros, prisões massivas no Estádio Nacional, tortura, execuções sumárias e o crime econômico de dar plenos poderes aos Chicago boys e sua teoria do choque.
Vinte e oito anos mais tarde, a Operação Condor que havia aberto as veias da América Latina, foi desbancada por outro grupo terrorista liderado por um homem que os EUA mesmo tinham criado.
O homem era o milionário saudita Ossama Bin Laden.
O novo grupo terrorista de dimensão internacional era o al-Qaeda.
Nesse ano eu disse que aquela era a marca do declínio do império estadunidense.
O futuro em que vivemos está provando que não estava errada.
Os EUA caíram na armadilha como patos de primeira viagem e começaram a corrida bélica monstruosa que foi fagocitando todas suas células vivas e estrangulando a energia ativa que até então os movia.
Na “guerra contra o terrorismo” que George W. Bush começou nesse dia com a cumplicidade dos concidadãos incautos, os Estados Unidos foram perdendo os princípios e os direitos individuais com cada nova medida de coerção da liberdade que era o valor do qual os estadunidenses mais se orgulhavam – ao ponto de permitir a expressão racista criminosa de grupos neofacistas como o Klu Klux Klan sem puni-lo.
Bin Laden era um homem horrendo, mas sua célula intelectual é de inteligência rara.
Bush e sua equipe perto da dele eram calouros.
Tanto que nem ouviram sua mensagem. Soltaram tantas bombas por todos os lados que ficaram surdos ao que realmente dizia o Al-Qaeda.
Os demais ouviram que Bin Laden dizia que o único jeito de derrotar os EUA era sangrá-los até exauri-los do que mais prezavam - dinheiro e liberdade.
O meio de derrubá-los era provocar uma série de conflitos, pequenos, mas dispendiosos, nos quais seus inimigos gastariam o que tinham e o que não tinham até chegarem à bancarrota que anunciaria o início do fim do império que dominava o mundo.
O escritor francês Beaumarchais, em seu libreto da ópera de Rossini O Barbeiro de Sevilha, diz que Quando se cede ao medo do Mal já se sente o mal do medo.
Em 2001 os EUA cederam ao mal do medo que lhes foi corroendo as riquezas e a energia até perderem os meios e o fôlego no espaço de uma década, apenas.
Hoje vigiam seus concidadãos noite e dia, fecham escolas públicas e vivem de crédito alheio. Até brasileiro.
Sem educação, vão acabar chegando onde estávamos quando a Operação Condor exportava terrorismo de Estado, tortura e dava as cartas.
O dramaturgo russo Anton Tchekhov dizia que Nada une tanto quanto o ódio: nem amor, nem admiração, nem amizade.
O ódio dos Bush pôs os EUA de joelhos e o medo os fez vender a alma para o diabo. Barack Obama conseguiu resgatá-la aos pedaços, mas não tem peito nem meios de recuperá-la. O declínio está em marcha.  

Massacre de civis em Fallujah, no Iraque
Uma tragédia é uma tragédia. Qualquer que seja a vítima e quantas sejam elas.
O valor de uma vida é o mesmo. Qualquer que seja a origem e a idade do assassinado.
No dia 9, o mundo inteiro celebrou o triste aniversário da explosão do pulmão financeiro de Nova Iorque. E as 2.997 vítimas diretas, instantâneas, foram lembradas e devidamente lamentadas.
Pouquíssimos falaram nas vítimas indiretas, imediatas e mediatas, desta data célebre.
Muito mais pessoas morreram no Afeganistão e no Iraque nos últimos dez anos do que nos EUA, via terrorismo, de 2001 para cá.
Até 2010, 19.629 pessoas haviam sofrido morte violenta no Afeganistão e 900.338 no Iraque.
O Afeganistão conta 48.644 feridos e o Iraque 1.690.903. Sem contar as centenas de milhares de homens, mulheres e crianças forçados ao êxodo e que engrossaram o número total de refugiados, acolhidos em tendas do Alto Comissariado de Refugiados da ONU ou desabrigados.
Não há como lembrar no dia 9 de setembro apenas as vítimas do ataque às Torres Gêmeas, pois a Moral e a Justiça deveriam caminhar de mãos dadas para evitar que a história se repita e derrapagens.
O grande pensador e matemático francês Blaise Pascal dizia, no século XVII, que a Justiça sem Força para ministrá-la é impotente; e a força sem justiça é tirânica.
No século seguinte, outro francês ilustre, o barão de Montesquieu, disse que a tirania mais cruel é a exercida à sombra da lei e com cores de justiça.



E a injustiça leva a atos desesperados. Como o de sexta-feira à noite, quando cerca de mil pessoas desarmadas derrubaram o muro da embaixada de Israel no Cairo e alguns deles penetraram no prédio e o depredaram.
É um alerta a Netanyahu: A cumplicidade do Egito é coisa mesmo do passado.  
Tudo começou em uma passeata na Praça Tahrir, onde uma multidão exigia que os militares, em poder interino desde a deposição de Mubarak, procedam às reformas prometidas em fevereiro.
Desde o assassinato dos cinco guardas de fronteira egípcios pela IDF (exército israelense) no mês passado, que as passeatas e manifestações na porta de embaixada israelense no Cairo têm sido frequentes. A palavra de ordem é que o Egito expulse o corpo diplomático, já que Israel se recusa a desculpar-se formalmente aos egípcios pelo assassinato dos policiais.
Após hesitar, o Ministro do Exército mandou centenas de soldados conterem os manifestantes até atirando com balas de borracha. Quase a metade dos participantes da passeata foi parar no hospital e Barack Obama logo telefonou para Binyamin Netanyahu, em solidariedade. Hillary Clinton puxou a orelha do Ministro das Relações Exteriores do Egito para que o país honre a Convenção de Viena que obriga a proteção de propriedade diplomática.
Sabendo disso, um dos heróis da Revolução da Tahrir em fevereiro perguntou: E que Convenção Internacional protege nossos policiais na fronteira e Cisjordânia e Gaza?

Primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdoğan com Lula
no ano passado, em Brasília
Israel tanto fez e tanto faz que conseguiu se indispor com a Turquia, o único aliado político e econômico que tinha no Oriente Médio.
O veredito da ONU de sua pseudo-legalidade no bloqueio de Gaza e no ataque da Flotilha no ano passado foi um daqueles casos que se parecem com histórias de amor mal-acabadas do quem perde é que ganha. Ganhou na ONU, mas esta vitória é uma derrota.
Os EUA ficaram preocupados e seu embaixador internacional, o Secretário Geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon, chegou até a pedir que os dois países façam as pazes. Isto vimos na semana atrasada.
Na semana passada conjecturava-se em Washington do por que da Turquia ter finalmente, após ter voltado atrás às represálias do ano passado, que sucederam o assassinato dos nove turcos na abordagem israelense pirata do navio Mavi Marmara.
Para mim a resposta é simples. A Turquia é pragmática. E o ex-prefeito de Istambul e atual primeiro ministro Recep Tayyip Erdoğan e mais pragmático ainda.
Até 2010, seu país estava ilhado em sua política liberal laica, que visava à integração na União Européia e Israel era o único parceiro que lhe restava.
Em 2011, a Tunísia e o Egito estão sacudindo a poeira do passado e o mundo árabe está se emancipando e criando um grande mercado.
Por que então arriscar ir contra a corrente popular, e suas próprias convicções, quem sabe? apoiando maus atos de em parceiro acidental que o mundo inteiro condena?
Erdoğan mantém que além da expulsão do embaixador israelense de Ankara, vai contestar o veredito tendencioso da ONU submetendo ao Tribunal Internacional a ilegalidade do bloqueio de Gaza, e vai sim fornecer escolta naval aos navios turcos que levarem ajuda humanitária à Faixa.
Binyamin Netanyahu acabou apresentando semi-desculpas à Turquia pelo assassinato dos turcos no ano passado. Ele chamou o assassinato de “erros operacionais” e prometeu indenizar as famílias das vítimas do dia 31 de maio. Resta saber se, pesando os prós e os contras, Erdoğan, realmente, se satisfará com as desculpas esfarrapadas.
O ex primeiro ministro inglês Winston Churchill disse, no século XX, que O orgulho prefere se perder a perguntar o caminho.
O jornalista francês Rivarol disse, no século XVIII, que O orgulho está sempre mais perto do suicídio do que do arrependimento.

No início do ano, August Burns Red, uma das maiores bandas cristãs metalcore do mundo aderiu ao Global BDS Movement cancelando seu mega show marcado para junho em Israel. Foi uma decisão humanisto-política de boicote à política de apartheid israelense na Cisjordânia.
Daí os sionistas foram atrás de outro cantor que (a troco de quê, de um cachê milionário?) concordasse em tapar o buraco e redourar a imagem do governo de extrema-direita que destrói casas palestinas em Jerusalém para construir colônias judias.
Dizem as más línguas que muitos recusaram participar deste embuste. Até um tupiniquim alienado fazer o triste papel de relações públicas de uma situação que Jesus Cristo certamente condena, lá do alto.
A imprensa nacional aplaudiu, a burguesia que podia pagar a viagem derramou lágrimas, mas o que Roberto Carlos fez mesmo foi o triste papel de envergonhar o Brasil que sabe que ser cristão é ser solidário com os mais fracos.

Enquanto Roberto Carlos cantava para os endinheirados, o escritor e diretor de ópera e teatro britânico Jonathan Holmes (http://www.jonathanholmes.net/) e fundador do Teatro Britânico de Jericó, inaugurava a Tempestade, de Shakespeare, para jovens palestinos que vivem em um campo de refugiado de Aida, em Belém, na Cisjordânia.
A peça foi encenada em inglês (com sinopses esporádicas em árabe), mas apesar desta dificuldade, parte do público ficou até o desfecho da trama shakespeariana.
Os que só falam árabe ficaram assim mesmo fascinados com a semelhança do que une o que vivem à Tempestade.
Os que entendiam as palavras, se emocionaram com a abordagem do dramaturgo inglês de uma disputa territorial entre pessoas de culturas diferentes e iguais.
Uma das cenas que mais agradaram os jovens palestinos foi a de Próspero perdoando seus antagonistas. Bom sinal.
Quem estiver na Palestina ou em Israel neste semestre poderá assistir a esta ótima montagem da Tempestade. De Belém a peça seguirá para Nablus e depois para Haifa. E caso perca estas representações especiais, poderá assisti-la a partir do dia 21 de setembro (dia seguinte à votação da ONU do Estado da Palestina) até o dia 22 de outubro em Londres, na Igreja Cripplegate Saint Giles, conhecida do dramaturgo e onde um de seus principais atores foi enterrrado, em 1661.
Deixo a Hala al Yamani, professora na Universidade de Belém a palavra final sobre a Tempestade: Um irmão detém o poder e o outro nada, mas no fim o poderoso dá ao outro a liberdade que lhe negava. Nós temos de conquistar a nossa. Não acho que a peça seja política. É sobre algo mais. É sobre humanidade.


No Yêmen, a luta continua e as passeatas estão aumentando de intensidade 
A Liga Árabe tomou a dianteira da OTAN na Síria e exige:
Assad, reformas, já!


Interpol procura (vivo ou morto?) :
Abdullah Senussi (chefe da polícia secreta líbia)
Saif al-Islam Gaddafi (filho do déspota líbio que talvez se encontre na Nigéria)
Muammar Gadddafi (temido por cirenaicos e tripolitanos)





A resposta do jornalista John Pilger à declaração de Barack Obama que as 
Forças Armadas dos EUA são "the finest fighting force in History".


The reason that Israel has been able to appropriate Palestine unto itself with American aid and support is that Israel controls the explanation of the Israeli-Palestinian conflict. At least 90% of Americans, if they know anything at all of the issue, know only the Israeli propaganda line. Israel has been able to control the explanation, because the powerful Israel Lobby brands every critic of Israeli policy as an anti-semite who favors a second holocaust of the Jews.” Paul Craig Roberts, 2007




Artistas contra o Apartheid: http://youtu.be/V28HnPTYz-I;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/.

domingo, 4 de setembro de 2011

Israel se anima na Tentifada enquanto na Cisjordânia os colonos se armam


Passeatas em Israel: Caminhe como um egípcio
De cabeça erguida
Hoje deixarei de lado a Síria, onde uma calma lúgubre voltou a reinar em Damasco por medo do potencial de repressão do presidente Assad assim como Gaddafi e a Líbia que este abandonou desgovernada e cheia de cadáveres.

Primeiro vamos à parcialidade da Organização das Nações Unidas e a subserviência do seu atual Secretário Geral Ban Ki-Moon ao presidente dos EUA (que de candidato intelectual salvador da pátria passou a mais um governante míope manipulável) e consequentemente ao governo de extrema-direita de Israel.
É claro que ele não está sozinho na cumplicidade, mas como é ele que não tem vergonha de dizer aberrações sem mudar de cara, é ele que tem de pagar o pato.
A ONU nasceu durante a ressaca da calamidade causada por Adolf Hitler no fim da Segunda Guerra Mundial. Como se sabe, os nazistas exterminaram 6 milhões de pessoas. Centenas de milhares de ciganos (executados diretamente onde estavam) e judeus (asfixiados em câmaras de gás); internaram em campos de concentração (dos quais muitos não voltaram) milhares de comunistas e opositores de toda índole, credo e nacionalidade; trataram homossexuais e deficientes como se fossem animais, e resistentes alemães loirinhos foram julgados sumariamente e executados por traição à pátria por terem se rebelado.
A criação do Estado de Israel também nasceu desta ressaca. Foi aí que lobistas judeus milionários e governos ocidentais de consciência pesada resolveram “doar” aos israelitas dois terços de um país chamado Palestina, que a Grã-Bretanha ocupava. Isto sem legalizar a situação dos nativos no pedacinho que lhes sobrava.
Sessenta e três anos, diáspora palestina forçada e guerras expansionistas mais tarde, a Palestina se encontra dividida em duas partes incomunicáveis, chamadas Cisjordânia e Gaza.
A primeira, após ser invadida, ocupada militarmente, amarrada, amordaçada e despojada de sua água, vem sendo paulatinamente desapossada de sua terra invadida por colonos judeus importados e subsidiados (alguns mal falam hebraico) que se instalam como se fossem donos da casa e os autótonos fossem bichos selvagens ou objetos inanimados.
A segunda é a Faixa pequenininha onde vivem um milhão e meio de homens, mulheres e crianças concentrados e em estado de sítio desde 2007, contra o qual o mundo inteiro, responsável, se levanta e grita, até agosto, sem que nada mude.
Neste contexto iníque, para surpresa geral, a ONU acabou de anunciar que o bloqueio de Israel da Faixa é legal e justificado... “a fim de evitar a entrada de armas na Faixa”.
Ataquedo navio Mavi Marmara pela IDF
em águas internacionais, no ano passado 
E segundo o novo relatório que desmente estranhamente o do ano passado, o ataque israelense da Flotilha da Liberdade, em águas internacionais, também foi justificado porque tinham de defender-se da resistência que encontraram...!
De quem?
De ativistas internacionais que tentavam palear um pouquinho à carência alimentícia e às destruições materiais causadas pelos bombardeios sucessivos de Gaza.
O único porém que a ONU encontrou foi que a IDF (exército israelense) usou de força excessiva na “abordagem” dos navios. Força que, diga-se de passagem, resultou na morte de nove cidadãos turcos que estavam a bordo do navio Mavi Manara. Este encabeçava a Flotilha que levava víveres e material de construção para Gaza.
O Ministro das Relações Exteriores da Turquia
promete questionar o bloqueio da Faixa de Gaza
 na Corte Internacional de Justiça
A Turquia voltou a exigir desculpas de Biniamin Netanyahu, que recusou até uma esfarrapada, embora o governo de Ankara seja seu único aliado nas paragens, e os turcos foram obrigados a levar de novo seu embaixador para casa.
E o presidente da ONU não deixou por menos. Lembrando oportunamente de seu papel de árbitro, apelou para os dois países entrarem em acordo, como se ambos fossem culpados do “acidente diplomático”.
Enquanto a ONU deu corda para Israel continuar seus atos ilegítimos, Netanyanu voltou a ameaçar a Autoridade Palestina para que esta não apresente à ONU a moção de reconhecimento de seu Estado no dia 20.
Famosa foto que cela os Acordos de Oslo
Yasser Arafat sorridente aperta a mão de Yitzhak Rabin reticente
“Se fizerem isto, consideramos o Acordo de Oslo caduco”, disse, querendo dizer que Israel e Palestina voltam a ser oficialmente inimigos.
Seria risível se a IDF não estivesse armando os 500 mil invasores que moram nas colônias/assentamentos na Cisjordânia, e treinando cães de ataque que são mostrados na televisão israelense para “tranquilizar” os moradores israelenses com esta arma secreta e nociva.
Avigdor Lieberman, o ministro fascista responsável pelas questões externas mas especialista mesmo é em incentivar guerra, não para de apavorar seus compatriotas incautos dizendo que “A Autoridade Palestina está planejando um banho de sangue após o dia 20!” 
Os colonos que estão sendo
treinados e armados
Setembro na Palestina é um mês de esperança em que cidadãos apátridas na terra natal terão o direito de existir, de ter passaporte, identidade reconhecida, e isto é entendido nos meios liberais israelenses como uma marca de futuro livre e dinâmico para a Palestina, e que gerará paz.
A extrema-direita sionista israelense está se preparando para uma guerra sem trégua contra a Terceira Intifada, como se as passeatas que os palestinos estão preparando fossem campanhas militares. Nesta semana a IDF vai proceder ao treinamento militar de colonos e continuar a armá-los de material militar que atira e mata, contra pedras eventuais.
Aliás é difícil fazer a separação da IDF e dos colonos, pois muitos destes servem o exército ou são oficiais, e muitos militares moram nessas colônias ilegais.
O que agrava mais ainda o caso de Israel porque quando oficiais e soldados de um país infringem as leis internacionais de maneira descarada, a coisa fica muito mais complicada. Se não fosse Israel, a OTAN já teria bombardeado...
A Primeira Intifada levou aos Acordos de Oslo
Só para refrescar a memória, a Primeira Intifada (que em árabe significa algo intraduzível, mas parecido com Revolta), rebentou no dia 9 de dezembro de 1987.
Foi na época de Yasser Arafat e denunciava a ocupação israelense. Esta é considerada como vitoriosa para os palestinos porque originou os Acordos de Oslo.
As pedras dos palestinos contra os tanques israelenses
na Segunda Intifada na Cisjordânia
A Segunda Intifada começou no dia 29 de setembro de 2000 em Jerusalém. 
Após o fracasso das negociações de Campo David, nos EUA, o general Ariel Sharon, até então em semi-ostracismo após o massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila no Líbano, resolveu voltar à ativa da pior maneira possível. Escoltado de dezenas de soldados devidamente armados, penetrou na esplanada da Mesquita Al-Aqsa em um gesto de provocação deliberada de conflito.
Em resposta, aconteceu uma imensa passeata de jovens violentamente reprimidos pela IDF, que conteve a caminhada a gás, tanques e balas, ocasionando a morte de um estudante local.
Funeral do sheikh Ahmed Yassin criador do Hamas 
assassinado pela IDF em Gaza durante a 2a Intifada
A violência de ambos os lados - de um humilhações, check points, tanques e balas, do outro pedras e bombas suicidas que substituíam, segundo os organizadores, as forças armadas que não possuíam para combater com armas iguais – durou até fim de 2004. Ano em que Hamas e Fatah decidiram passar à resistência pacífica.
Foi então que as bombas suicidas pararam. Foi então que o Global BDS, movimento internacional de boicote a produtos israelenses, foi criado e vem expandindo sem parar. Ao ponto de deixar o governo de Israel preocupado.

Apesar da luta pacífica dos palestinos (com exceção de foguetes esporádicos lançados de Gaza por grupos extremistas), a ocupação militar de Israel continuou firme, os checkpoints entre as cidades palestinas dobraram de arbitrariedade, as colônias israelenses na Cisjordânia multiplicaram, a água foi confiscada até os palestinos só poderem desfrutar de 10% de seus recursos hídricos, Gaza foi bloqueada, bombardeada, centenas de palestinos de todas as idades foram presos aleatoriamente, e outras coisinhas mais.
Os quatro anos e pouco de conflito declarado após a Segunda Intifada, entre repressão da IDF e ataques suicidas, resultou na morte de 4.546 civis palestinos, dentre os quais 882 crianças. E do lado de Israel, 716 civis, incluindo 124 crianças.
É verdade que conforme for a reação dos EUA e a postura da ONU em relação à criação do Estado da Palestina, uma terceira Intifada é mais do que provável.
Porém, 2000 e 2011 só são separados por uma década, mas por dois mundos.
A Primavera Árabe, o fim da época Mubarak e da cumplicidade do Egito, adicionados aos movimentos populares na Cisjordânia e sobretudo na Síria, mudam totalmente a perspectiva.
Entre a potência militar da IDF com a assistência dos colonos contra as pedras eventuais dos jovens palestinos é provável que Netanyahu, Lieberman e sua cupinchas consigam fomentar o banho de sangue que anunciam.
Os caras-pintadas de Israel vão conseguir derrubar
Binyamin Netanyahu?
A maioria dos israelenses, que moram em residências legais em cidades reconhecidas, parece despreocupada. Muitos acham que tudo isto é uma invenção de Netanyahu para desviar a atenção das reivindicações domésticas econômicas e sociais.
E acho que têm razão. Que é realmente uma distração, mas infelizmente, a distração para um inimigo comum fabricado pode gerar um drama, já que o governo está preparando um coquetel mortífero junto aos colonos: terror + armas + treinamento militar = banho de sangue.
O fato é que por maquiavelismo de um e ingenuidade de outros, tanto os EUA quanto alguns israelenses incautos, vivem dizendo que as colônias/assentamentos/invasões bloqueiam as negociações e que este é o problema crucial. Ou seja, “os imbecis dos colonos”.
O que não admitem, por má-fé ou comodismo, é que como os colonos dominam a coalição política que governa o país, é o governo que está comprometido.
As tendas de protesto que cobrem a Alameda Rotschild, em Tel Aviv
O problema sócio-econômico de Israel é grave. Para encará-lo de frente e solucioná-lo, o governo precisa fazer reformas econômicas que exigem verbas elevadas. Dinheiro há, mas é utilizado em armamento e nas colônias que são um saco sem fundo literal.
Israel tem 7.5 milhões de habitantes e suas Forças Armadas, incluindo a bomba atômica negada ao Irã, ocupa o quarto lugar como potência bélica do planeta. Os cerca de 4 bilhões de ajuda militar dos EUA alimenta só uma parte do que sua manutenção exige.
No final das contas, a guerra tem um custo alto demais para os cidadãos israelenses (como para os estadunidenses: lá, em grana e em outros países, em vidas). E os colonos são o maior ponto de discórdia entre Israel e a Palestina. Portanto, os colonos são diretamente responsáveis pela queda brutal da qualidade de vida de seus compatriotas que vivem na legalidade. Além disso, estão prontos para iniciar uma guerra em que no final todos serão vencidos.
Repito: por que não recorrer às tropas da ONU para a retirada dos colonos e matar o mal pela raiz, já que Netanyahu diz que é um processo perigoso e difícil?
Um colega de Tel Aviv diz que é porque judeu tem uma regra intransigível de lavar roupa suja em casa. Ao que respondo que ao instalar-se em casa alheia sem ser convidado, o penetra já perdeu os princípios na entrada e tem de estar pronto para sair enxotado.

Enquanto os fora-da-lei se armam com ódio na Cirjordânia que invadiram, os israelenses que vivem na legitimidade em seu próprio país engrossam as passeatas de protesto em suas principais cidades (500 mil desfilaram ontem em Tel Aviv), a preocupação doméstica do governo aumenta, e o capetinha espeta o diabolismo da saída imediata fácil (?) de distrair a atenção para os palestinos e a Terceira Intifada.
Tenho dificuldade em imaginar que no Egito, na Síria, na Cisjordânia e no Líbano, os refugiados palestinos e a população local, desta vez, fiquem de braços cruzados enquanto a IDF e os colonos armados massacrarem os cisjordanianos.
A tensão está realmente grande em Israel. O país está em pé de guerra. Tanto social interna quanto literal.
Portanto, com a aproximação do dia 20 de setembro fatídico (a União Européia liberou o voto de seus membros na questão da criação do Estado da Palestina), por que as tropas pacificadores da ONU não estão na Cisjordânia, já que os palestinos são proibidos de proteger-se das forças armadas dos invasores que os agridem?
Por que Ban Ki-Moon está deixando como é que está para ver como é que fica?

Autocolante da ONG israelense de Direitos Humanos Gush Shalom 

Mãe de Samer Allawi

Jornalista Samer Allawi no trabalho
E para concluir, ontem em Gaza, cerca de 150 jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas internacionais fizeram um protesto pacífico. Sentaram na porta do escritório da ONU na Faixa para solicitar que a Organização intervenha junto a Israel a fim que liberte nosso colega Samer Allawi, palestino detentor de passaporte jordaniano (por os palestinos não terem nacionalidade reconhecida e nem identidade). Detido arbitrariamente desde o dia 10 de agosto.
A palavra de ordem dos manifestantes da imprensa é que esta detenção atinge indiretamente todos os jornalistas que trabalham no Oriente Médio, passíveis às mesmas medidas arbitrárias para virarem dedo-duro se quiserem salvar a pele.
Samer Allawi é chefe do escritório da TV Al Jazeera em Kabul. Visita a família uma vez por ano (como qualquer pessoa que mora longe de casa) em Sabastia, sua cidade natal próxima de Nablus nos Territórios Ocupados. Foi detido por soldados da IDF no fim das férias quando atravessava a ponte Allenby, que liga a Cisjordânia à Jordânia, sob acusação oficiosa de “manter contato com membros do seguimento armado do Hamas”.
Acusação absurda, pois como todo jornalista que vale algo tem de ter contato com todos os lados, a acusação serve a qualquer profissional que se preza e exerce o direito e obrigação de informar com conhecimento de causa.  
O advogado de Samer, Salim Waakim, disse que até hoje a Justiça israelense não formalizou nenhuma acusação contra seu cliente, que foi interrogado sobre seu trabalho, finanças, relações pessoais desde a infância, colegas de escola e outros detalhes de sua vida na Cisjordânia. Também se estava em contato com agentes secretos de EUA, Jordânia, Palestina, e confiscaram seu computador e o forçaram a divulgar a senha para lerem todo correio pessoal, profissional e artigos.
Samer, que trabalha na Al Jazeera desde 2006, declarou rapidamente à equipe de TV presente no tribunal que sua prisão “é arbitrária; estão tentando me forçar a dar informações que impliquem Al Jazeera e eu,” antes que soldados impedissem a filmagem.
Seu advogado diz que os interrogadores estão ameaçando acusar Samer de transferência de dinheiro do Afeganistão para a Cisjordânia se ele não concordar em virar informante de Israel.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ-Committee to Protect Journalists) baseado em Nova Iorque exigiu que Israel “esclareça as razões legais da manutenção de Samer Allawi em detenção”. E lembrou que em março deste ano já insistiu com o governo de Israel que pare de perseguir jornalistas e que respeite os parâmetros internacionais de liberdade de imprensa permitindo que o jornalista trabalhe sem interferência.
O CPJ teve de intervir por causa das violações correntes e persistentes da IDF de liberdade da imprensa na Cisjordânia, inclusive censura, detenções e ataques físicos de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Em Israel de Netanyahu e Lieberman, informar é crime.

Campanha do CPJ contra a impunidade de violação à liberdade de imprensa
e assassinato de jornalistas mundo afora
Ataque do navio Mavi Marmara em 2010

Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Lowkey: http://youtu.be/GO5Cay6GUkM;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/
Reservista da IDF Breaking the Silence