A Palestina em 2007 continuou sofrendo as consequências da vitória democrática do Hamas nas eleições parlamentares de janeiro de 2006. Ou melhor, o povo palestino, sobretudo os gazauís, continuaram a ser punidos por terem cumprido seu direito democrático e ter eleito o partido "errado" - ao ver de Israel e Estados Unidos.
Em seguida, por iniciativa de Washington, o Quarteto para o Oriente Médio (EUA, UE, Rússia, ONU) suspendera sua ajuda externa à Palestina, a fim de pressionar o Fatah, levar Mahmoud Abbas ao desespero e dividir para quebrar a OLP (Organização de Libertação da Palestina) de uma vez por todas.
Enquanto isso, no terreno, Israel agia bloqueando militarmente o acesso de mercadorias à Faixa de Gaza. Uma lista interminável de produtos que iam do supérfuo ao indispensável - papel higiênico era um dos produtos "perigosos" impedidos de entrar.
Para obter resultados rápidos à surdina, a Casa Branca primeiro usou seu método preferido que nunca falha, o da chantagem. Para a Autoridade Nacional Palestina receber o mínimo de ajuda financeira estrangeira e pelo menos parte dos impostos a que tinha direito e que há dez meses Israel confiscava, o Fatah foi obrigado a esquecer quem eram seus inimigos reais e combater o que Israel fabricara, quando incentivara o desenvolvimento do Hamas na Faixa de Gaza durante a Primeira Intifada.
Por outro lado, para respaldar suas atividades ilícitas e facilitar sua ingerência na política interna palestina, o Congresso dos EUA aprovou antes do recesso natalino de 2006 uma lei contra o Hamas. O chamado "Palestinian Anti-Terrorism Act" repudiava explicitamente o partido, seus afiliados, seus recém-eleitos ministros e deputados.
O objetivo explícito do Act estadunidense era "fortalecer" a Autoridade Nacional Palestina contanto que ficasse sob direção exclusiva do Fatah. O objetivo implícito era dividir os palestinos para Israel poder esbaldar-se.
Conforme esta lei gringa, os Estados Unidos puniriam o recém-vitorioso partido até que "the Hamas-controlled PA (Palestinian Authority) has made demonstrable progress toward purging from its security services individuals with ties to terrorism, dismantling all terrorist infrastructure, and cooperating with Israel’s security services, halting anti-American and anti-Israel incitement, and ensuring democracy and financial transparency.”
Quem cobria o Oriente Médio há tempos sabia que, concretamente, cada vez que um partido palestino se sobressaía no combate à ocupação, aos olhos de Tel Aviv e Washington virava bicho-papão. Yasser Arafat e a OLP, durante a predominância do Fatah, já haviam sido alvo deste veredito simplista e da etiqueta de terrorista. E Arafat acabou pagando sua ânsia por um Estado soberano com uma morte sofrida.
Com o descarte de Abu Ammar (Yasser Arafat) e a posição conciliatória e até ambígua de Abu Mazen (Mahmoud Abbas) que defendia Mohammed Dahlan na Faixa de Gaza, agora a vez de ser proscrito era do Hamas, "culpado" de ter acabado com os 40 anos de domínio do Fatah na política nacional com apoio popular.
Fora por causa deste "crime" democrático que, atendendo ao comando israelense, desde março de 2006 os Estados Unidos impusera sanções ao partido. Sanções que no terreno geraram o bloqueio que estrangulava os gazauís, mas que ao mesmo tempo legitimava a perseverança do Hamas em combater o verdadeiro responsável pela situação insuportável em que os palestinos se encontravam.
Segundo as Nações Unidas, esta foi (e continua sendo) a primeira vez na História em que sanções eram impostas a um território ocupado, isto é, ao oprimido, em vez de ao invasor que oprimia, humilhava e usurpava terra e água.
Mas este conflito, como se sabe, não respeita nenhuma regra moral e nenhuma lei internacional. Israel é (?) / está (?) intocável.
Um ano após as eleições e dez meses após o início do bloqueio, a Faixa de Gaza já estava vivendo o que a World Food Programme (WFP) da ONU descrevia como crise humanitária.
Pelo menos um quarto da população de 1 milhão e 500 mil habitantes estava vivendo em estado de pobreza e carente de água potável e alimento. Duzentos e vinte mil dependiam diretamente da assistência da WFP, sem a qual ficavam ao Deus dará.
A situação sócio-econômica estava crítica, mas segundo as pesquisas, a precariedade causada pelo bloqueio em vez de diminuir a popularidade do Hamas fizera com que ela aumentasse.
Os palestinos sofriam com esta luta interna, mas estavam divididos porque achavam Abu Mazen fraco e seu braço securitário na Faixa de Gaza, o de Dahlan, pesado demais.
A solução que Israel e os Estados Unidos encontraram de jogar Mahmoud Abbas contra Khaled Meshaal - o Fatah contra o Hamas - e provocar dissensão na OLP para enfraquecê-la ainda mais, foi um golpe baixo que fez com que até membros das Brigadas al-Aqsa, ligadas ao Fatah, se recusassem a entrar na jogada.
Porém, na Faixa de Gaza, o Fatah entregou o poder a um homem violento e controvertido, em quem Abu Ammar não confiara e jamais confiaria nem uma calçada quem dirá a Faixa. Este homem era Mohammed Dahlan, citado acima.
Mohammed Dahlan virou o maior inimigo do recém-eleito primeiro ministro Ismail Haniyeh. Seus policiais, que representavam administrativamente a ANP, receberam armas novinhas dos Estados Unidos via Egito de Hosni Mubarack puxaram briga.
Um dos maiores responsáveis, se não o maior, da guerra fratricida foi ele, Mohammed Dahlan.
No dia 07 de janeiro, em pleno distúrbio, Dahlan organizou uma passeata imensa do Fatah em Gaza e chamou o Hamas de "a bunch of murderers and thieves. We will do everything, I repeat, everything, to protect Fatah activists".
E o Hamas respondeu o chamando de "putschist" (o que era) e o acusando de incitar os palestinos a uma guerra civil.
(Em 2008 o papel proeminente de Dahlan no complô estadunidense para aniquilar o Hamas seria exposto à luz do dia. Até a revista nova-yorquina Vanity Fair (“The Gaza Bombshell,” http://www.vanityfair.com/politics/features/2008/04/gaza200804) que era a ele que os Estados Unidos forneciam dinheiro, armas e treinamento militar para que removesse o governo do Hamas eleito democraticamente.)
Contudo, contra os prognósticos e expectativas israelo-gringas, o Hamas resistiu estoicamente ao golpe patrocinado por Washington.
Era difícil saber se Dahlan era movido apenas por ódio do partido adversário e ambição desmesurada ou se era, como diziam e dizem, por traição, pura e simples. Ou seja, por ser espião israelense e só visar benefício próprio e o poder (que pleiteia até hoje perigosamente, de fora da Palestina, em seu fausto auto-exílio nos Emirados Árabes).
Os boatos que ele tivera participação ativa no assassinato de Yasser Arafat já corriam soltos na Faixa. Na Cisjordânia ainda não se falava, mas no final das contas até os membros do Fatah, inclusive Abu Mazen, se mostrariam desconfiados e o considerariam persona non grata. Mas seria bem depois de ele fazer bastante estrago.
Mohammad Dahlan ficou por cima militarmente na Faixa de Gaza graças a uma mãozinha de Israel. Em janeiro de 2007, houve uma quebrinha do bloqueio. Uma supensão relâmpago. Devidamente aautorizada pelo ocupante, e não foi por razões sociais nem humanitárias.
Em cumplicidade com Hosni Mubarack, Ehud Olmert permitu a abertura do Kerem Shalom, barragem de fronteira entre o Egito e a Faixa, durante o tempo suficiente para que um único caminhão passasse. O veículo não estava carregado de leite, água, de nenhum bem de primeira necessidade que os gazauís necessitavam. Sua carga era de 2.000 rifles e as balas necessárias para aguentar semanas de combate contra um oponente precariamente armado.
"Por coincidência", a munição destinada a Dahlan chegou à Faixa ao mesmo tempo que a Casa Branca anunciava que liberaria 84.4 milhões de dólares ao presidente da ANP, Mahmoud Abbas, em Ramallah.
A violência estava garantida e a IDF podia tirar folga relativa durante pelo menos semanas, esperavam.
O Hamas denunciou o envolvimento de Washington no treinamento e financiamento de policiais do Fatah, e seu porta-voz, Ismayil Rawan declarou que "Washington’s intention is to fuel a civil war in the Palestinian arena.”
De fato. Um analista do Grupo International Crisis, Rabbani, confirmou a mesma coisa em outros termos. “It was developed to take on the Executive Force of Hamas. The United States is preparing for the long haul, rather than trying to spark the clashes that Gaza is immediately experiencing. This is not a direct instigation by the Americans, because they are not yet convinced that Fatah are ready to take on Hamas,” butt they are beginning to pump significant amounts of weapons, training and funds in the hope that Fatah will prevail in the eventual conflict.”
Por sua vez a Casa Branca admitiu materialmente seu envolvimento partidário ao enviar a Jericó um grupo de instrutores militares para treinar a guarda presidencial de Abu Mazen a táticas de guerra. A intervenção não podia ser mais oficial do que era. A equipe estava sob as ordens do Tenente General Keith Dayton, coordenador estadunidense oficial de segurança em Israel e na Palestina.
Em uma entrevista em dezembro, o militar gringo não escondera o jogo ao jornal israelense Yehidot Ahronoti: “We are involved in building up the Presidential Guard, instructing it, assisting it to build itself up, and giving them ideas.” Entretanto, negou oficialmente que este treinamento visasse fomentar o confronto do Fatah contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O prelúdio deste conflito interno de 2007 fora no dia 15 de dezembro de 2006 quando Forças de Segurança Nacionais Palestinas, sob as ordens de Mohammed Dahlan, começaram a atirar em uma passeata do Hamas em Ramallah deixando mais de vinte feridos.
Este ataque aconteceu logo depois de tropas do Fatah, sob as ordens de Dahlan, terem tentado assassinar Ismail Haniyeh. Em dezembro as trocas de tiro continuaram, mas piorariam mesmo em 2007. Em janeiro, um mês após a tentativa de assassinato do Primeiro Ministro eleito, a luta fratricida já fizera 33 mortos.
Mahmoud Abbas deu-se conta de ter posto um pé em areia movediça que talvez o engolisse junto com seu país inteiro e deu um passo atrás. Tentou incorporar as Forças de Segurança do Hamas ao aparato da Autroridade Nacional Palestina, mas não contava com a dificuldade maior que era de corrigir outro erro, o de ter nomeado a pessoa errada na Faixa de Gaza.
Enquanto ele tentava apaziguar, Dahlan continuava os estragos e a violência que jurara.
Como o Hamas o conhecia melhor do que Abu Mazen, e por isso sabia que seu objetivo não era o diálogo e sim o confronto, que lhe rendia mais, negou-se à união das Forças militares. Sabia que esta união seria mesmo era um aniquilamento e por isso optou por aumentar sua própria polícia que em pouco tempo dobrou em número de para-militares.
O mês de janeiro foi uma sucessão de tiroteios até Abu Mazen e Khaled Meshaal se encontrarem e concordarem com um cessar fogo bilateral.
Dia a dia, o conflito em janeiro seguiu o seguinte rítmo.
O ano de 2006 terminara com 9 palestinos feridos por compatriotas.
No dia 01 de janeiro, após uma semana de trégua natalina os confrontos entre as duas facções recomeçaram. As Brigadas al-Qassan, ala militar do Hamas, sequestrou três dirigentes do Fatah e as Brigadas Al-Aqsa, ala militar do Fatah, reagiram sequestrando 10 membros do Hamas.
Trocaram tiros sobretudo no norte da Faixa de Gaza e a população temeu que a escaramuça virasse guerra, pois em Beit Lahiya as al-Qassan lançavam um foguete na casa de um dos líderes da AL-Aqsa.
No dia 02 lançaram um morteiro em um caminhão israelense na barragem de Karni.
No dia 03, voltaram a atirar entre si e cinco palestinos foram mortos nas trocas de tiros. Quatro membros do Fatah, em Khan Younis e Beit Lahiya, e uma passante que se encontrava no lugar errado, na hora errada, em Jabaliya. Dez outros combatentes foram sequestrados. Ao anoitecer, os beligerantes concordaram em acalmar a situação no sul da Faixa. E lançaram um foguete, mas desta vez em Israel. A calma só baixou durante essa noite. No dia seguinte, apesar do apelo à calma, seis mortos jaziam na calçada.
No dia 05 um agente de segurança do Fatah morreu no hospital e um imam que condenou os afrontamentos inter-palestinos em seu sermão de sexta-feira foi baleado.
No dia 07 foi a tal passeata do Fatah provocativa, organizada por Mohammed Dahlan, cujo resultado vimos acima.
Foi depois disso, e dos tiroteios que seguiram, que Abu Mazen resolveu garantir uma trégua de vinte dias a fim de estabelecer um diálogo para constituir um governo de união nacional.
Com este propósito, no dia 22, Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal se encontraram em Damasco. Passaram três horas conversando até concordarem sobre a melhor atitude a tomar.
A Faixa acalmou-se momentaneamente, mas na Cisjordânia, membros do Hamas resolveram fazer uma passeata em Nablus para comemorar o aniversário da vitória eleitoral do seu partido e o pior aconteceu. Membros das Brigadas al-Aqsa atiraram, outros das Brigadas Qassam replicaram, uma bala perdida matou um passante.
No mesmo, um militante do Fatah e um do Hamas foram mortos em Gaza.)
No dia 23, um grupo da resistência palestina explodiu um pedaço do muro fronteiriço e milhares de gazauís aproveitaram para ir abastecer-se no lado egípcio da cidade de Rafah. A pé, de carro, de carroça, famílias inteiras atravessaram para fazer compras dos produtos bloqueados na Faixa, e em poucos minutos os supermercados, padarias e mercearias da cidade estavam com todas as prateleiras vazias. Os comerciantes não esperavam tantos compradores em um só dia.
A notícia espalhou-se como fogo no feno e muitos gazauís desceram do norte como puderam e percorreram até quarenta quilômetros até El Arish, no Egito, para comprar o indispensável.
"I have bought everything I need for the house for months. I have bought food and even two gallons of diesel for my car," disse um deles.
O Hamas não assumiu a responsabilidade do buraco no muro, mas seus militantes entraram em controle do local em um piscar de olhos do lado fronteiriço da Faixa. Os guardas egípcios ficaram do lado de lá, de olho, mas sem intervir no que não achavam ser problema deles.
As compras eram todas vistoriadas pelo Hamas, que confiscou sete revólveres. Enquanto isso, ouviu-se 17 novas explosões de madrugada para fazer outros buracos no muro em outras partes de Rafah. No total, demoliram dois terços dos 12 quilômetros de muro, até com bulldozer "emprestados".
O Hamas não protagonizou o levante, mas o apoiou, dizendo que "Blowing up the border wall with Egypt is a reflection of the catastrophic situation which the Palestinian people in Gaza are living through due to the blockade."
Ehud Olmert e Hosni Mubarack certamente não contavam com essa reviravolta e esse "jeitinho" palestino de contornar o bloqueio.
Em Tel Aviv estavam preocupados e Arye Mekel, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, contou outra lorota: "Israel has no forces in Gaza or Egypt, and the Egyptians control the border, and therefore it is the responsibility of Egypt to ensure that the border operates properly according to the signed agreements. We expect the Egyptians to solve the problem. Obviously we are worried about the situation. It could potentially allow anybody to enter."
Na verdade, estavam mesmo preocupados era que a Faixa fosse reabastecida, pois na semana anterior Israel reforçara a barragem econômica com o apoio tácito do Egito que mantinha a fronteira trancada.
Mas as ONGs de Direitos Humanos alertavam tanto a mídia internacional para a crise humanitária causada pelo bloqueio que Israel acabou "permitindo" a entrada de uma carga de combustível e óleo de cozinha. Uma gota no oceano de carência da Faixa. Faltava eletricidade, água potável, combustível e víveres de primeira necessidade. O que autorizaram foi uma gotinha de víveres, entretanto, a propaganda funcionou como Israel queria e permitiu que os Estados Unidos continuassem a apoiar este bloqueio que nos olhos da opinião pública ocidental era e é invisível.
O fato é que desde junho de 2006 a Faixa estava totalmente cortada do mundo e os gazauís sobre/viviam na maior prisão do planeta. Jamais visto.
E a privação só fazia aumentar o nervosismo. O dia 26 começou como se a trégua nunca tivesse existido. Houve combates em várias cidades e no final do dia, sete militantes do Hamas estavam mortos, cinco do Fatah, três civis, e 24 membros do Hamas haviam sido capturados pelo Fatah na Cisjordânia.
Na noite do dia 27 um militante do Hamas e um civil foram mortos por um ataque de morteiro à residência do Ministro das Relações Exteriores do Hamas, Mahmoud Zahar. E dois militantes do Fatah foram mortos em confrontos perto da Universidade Islâmica de Gaza.
Tiros de morteiro, tiroteios, carros explodidos, e no final do dia, seis famílias choravam a perda de entes queridos. Dentre eles, dois civis, inclusive um menino de 12 anos. Um militante do Hamas ferido na véspera também morreu em Beit Lahiya durante a tarde.
No dia 28 foi a vez de um militante do Hamas e um civil de 45 anos perderem a vida.
No dia 29, um agente de segurança do Hamas foi morto de manhã em Gaza, outro na frente da mesquita de Khan Yunis, e três passantes. E assim por diante.
No mesmo dia 29 houve uma súbita volta no tempo que pegou os israelenses desprevenidos. O Jihad e as Brigadas al-Aqsa resolveram atacar o verdadeiro inimigo. Enfim, acabou dando errado e o alvo foi civil, que a seus olhos, também representavam os horrores pelos quais passavam porque eram considerados cúmplices passivos do governo que elegiam.
Nesse dia, Muhammad Faisal al-Saqsaq, um rapaz de 21 anos, originário de Beit Lahia, esgueirou-se entre as redes da IDF, saiu da Faixa, pegou carona com Yossi Waltinky, um coronel da IDF aposentado. Este suspeitou de sua vestimenta, agasalho fechado, e deu o alarme logo depois de deixar o rapaz em um posto de gasolina na cidade israelense de Eilat. Do posto Muhammad dirigiu-se a uma padaria do subúrbio norte e sete minutos após o telefonema do Coronel para a polícia, o bomba-suicida explodiu levando consigo os dois donos do comércio e um funcionário. Cinco fregueses sofreram ferimentos leves.
Muhammad combatera em Jabalia, Beit Hanoun, e perdera seu melhor amigo e sua filhinha. Seu irmão era um resistente influente, do Jihad, mas ele era das Brigadas al-Aqsa, ambos grupos ligados ao Fatah. A padaria não era seu destino final, parou lá apenas para tomar café. Puxou o detonador quando viu policiais israelenses se aproximarem, e saltou a padaria pelos ares.
A casa de sua família foi demolida no dia seguinte, como é a praxe da IDF, em represália. Fazia meses que os atentados suicidas haviam parado.
Ao reivindicar o atentado, Khaled al-Batch, do Jihad, disse que era uma resposta lógica "aos crimes contínuos do inimigo sionista".
Os israelenses divulgaram a notícia em altos brados e a condenação internacional foi imediata. Afinal, três, dois, um morto israelense vale bastante. Mais do que o dobro, o décuplo, o céntuplo, de um palestino assassinado pela IDF ou por um invasor/colono. Convencido disso, Ehud Olmert prometeu vingança.
Esta veio em forma de vários bombardeios do sul da Faixa de Gaza. Com os danos materiais e humanos de sempre. Mas tudo bem, nenhum israelense sofreu nada.
Voltando ao atentado, por que foi em Eilat, uma estação balneária?
Porque dois meses antes a cidade sediara um congresso governamental de promoção desta destinação aos agentes de viagem. Daí a irritação de Ehud Olmert. A explosão era ruim para o comércio. E foi por isso que ela aconteceu: "Na Faixa estávamos privados até de pesca em nossas águas territoriais, não podemos ir à praia nem na área autorizada porque corremos o risco de ser explodidos por bombas ou minas, e os israelenses organizam turismo balneário do lado?!" Disse um resistente indignado.
(Desde então, este resistente entendeu como os demais que embora Israel só ouvisse a voz da violência - que aplicam na Palestina com a mão pesada sem levarem nenhuma palmada da tal Comunidade Internacional - era só a violência homeopática da resistência que era condenada internacionalmente e era só sua imagem que piorava. Ele também aderiu à resistência pacífica, também por questões humanas. A resistência através do boicote e outras mais. Acessível a eles e a nós.)
Trocando em miúdos, em janeiro de 2007 a Faixa de Gaza vivia em sobressalto, mas desta vez, por causa de concidadãos e não por causa direta dos ocupantes.
“I took my daughter to kindergarten this morning and couldn’t pass because of the roadblocks. All the shops are closed and the streets are empty. Every house in Gaza is listening only to the news reports and the gunfire,” disse então Nabil Diab, relações públicas do Crescente Vermelho em Gaza.
De repente, o divide ut regnes estava funcionando a todo vapor.
"The children used to play ‘Palestinians versus Israelis’; now they play ‘Fatah versus Hamas’,” disse o pai de dois meninos.
O Centro de Direitos Humanos Al-Mezan, em Gaza, documentou a morte de 63 palestinos de ambos os lados e mais de 300 feridos.
Ora, Gaza é uma das cidades mais densamente populadas do planeta e os combates aconteciam nas ruas. Daí o alto número de vítimas civis. Inclusive crianças. Oito morreram com bala perdida e trinta foram feridas do mesmo jeito.
Fazia sete anos que os gazauís combatiam os invasores civis e militares israelenses e 60 anos que enfrentavam desapropriação, exterminação e êxodo sem que o moral desmoronasse. Esta era a primeira vez desde a Naqba que as mulheres pareciam realmente preocupadas. Pareciam ser as únicas que entendiam o que este conflito interno representava. Uma mãe de família falou desolada: "If this fighting continues, we will destroy ourselves.”
Era justamente o que Israel e os Estados Unidos queriam. O conflito interno ainda duraria, como previsto.
PALESTINIAN PAPERS
Proposta de Mahmoud Abbas:
Enquanto isso, no terreno, Israel agia bloqueando militarmente o acesso de mercadorias à Faixa de Gaza. Uma lista interminável de produtos que iam do supérfuo ao indispensável - papel higiênico era um dos produtos "perigosos" impedidos de entrar.
Para obter resultados rápidos à surdina, a Casa Branca primeiro usou seu método preferido que nunca falha, o da chantagem. Para a Autoridade Nacional Palestina receber o mínimo de ajuda financeira estrangeira e pelo menos parte dos impostos a que tinha direito e que há dez meses Israel confiscava, o Fatah foi obrigado a esquecer quem eram seus inimigos reais e combater o que Israel fabricara, quando incentivara o desenvolvimento do Hamas na Faixa de Gaza durante a Primeira Intifada.
Por outro lado, para respaldar suas atividades ilícitas e facilitar sua ingerência na política interna palestina, o Congresso dos EUA aprovou antes do recesso natalino de 2006 uma lei contra o Hamas. O chamado "Palestinian Anti-Terrorism Act" repudiava explicitamente o partido, seus afiliados, seus recém-eleitos ministros e deputados.
O objetivo explícito do Act estadunidense era "fortalecer" a Autoridade Nacional Palestina contanto que ficasse sob direção exclusiva do Fatah. O objetivo implícito era dividir os palestinos para Israel poder esbaldar-se.
Conforme esta lei gringa, os Estados Unidos puniriam o recém-vitorioso partido até que "the Hamas-controlled PA (Palestinian Authority) has made demonstrable progress toward purging from its security services individuals with ties to terrorism, dismantling all terrorist infrastructure, and cooperating with Israel’s security services, halting anti-American and anti-Israel incitement, and ensuring democracy and financial transparency.”
Quem cobria o Oriente Médio há tempos sabia que, concretamente, cada vez que um partido palestino se sobressaía no combate à ocupação, aos olhos de Tel Aviv e Washington virava bicho-papão. Yasser Arafat e a OLP, durante a predominância do Fatah, já haviam sido alvo deste veredito simplista e da etiqueta de terrorista. E Arafat acabou pagando sua ânsia por um Estado soberano com uma morte sofrida.
Com o descarte de Abu Ammar (Yasser Arafat) e a posição conciliatória e até ambígua de Abu Mazen (Mahmoud Abbas) que defendia Mohammed Dahlan na Faixa de Gaza, agora a vez de ser proscrito era do Hamas, "culpado" de ter acabado com os 40 anos de domínio do Fatah na política nacional com apoio popular.
Fora por causa deste "crime" democrático que, atendendo ao comando israelense, desde março de 2006 os Estados Unidos impusera sanções ao partido. Sanções que no terreno geraram o bloqueio que estrangulava os gazauís, mas que ao mesmo tempo legitimava a perseverança do Hamas em combater o verdadeiro responsável pela situação insuportável em que os palestinos se encontravam.
Segundo as Nações Unidas, esta foi (e continua sendo) a primeira vez na História em que sanções eram impostas a um território ocupado, isto é, ao oprimido, em vez de ao invasor que oprimia, humilhava e usurpava terra e água.
Mas este conflito, como se sabe, não respeita nenhuma regra moral e nenhuma lei internacional. Israel é (?) / está (?) intocável.
Um ano após as eleições e dez meses após o início do bloqueio, a Faixa de Gaza já estava vivendo o que a World Food Programme (WFP) da ONU descrevia como crise humanitária.
Pelo menos um quarto da população de 1 milhão e 500 mil habitantes estava vivendo em estado de pobreza e carente de água potável e alimento. Duzentos e vinte mil dependiam diretamente da assistência da WFP, sem a qual ficavam ao Deus dará.
A situação sócio-econômica estava crítica, mas segundo as pesquisas, a precariedade causada pelo bloqueio em vez de diminuir a popularidade do Hamas fizera com que ela aumentasse.
Os palestinos sofriam com esta luta interna, mas estavam divididos porque achavam Abu Mazen fraco e seu braço securitário na Faixa de Gaza, o de Dahlan, pesado demais.
A solução que Israel e os Estados Unidos encontraram de jogar Mahmoud Abbas contra Khaled Meshaal - o Fatah contra o Hamas - e provocar dissensão na OLP para enfraquecê-la ainda mais, foi um golpe baixo que fez com que até membros das Brigadas al-Aqsa, ligadas ao Fatah, se recusassem a entrar na jogada.
Porém, na Faixa de Gaza, o Fatah entregou o poder a um homem violento e controvertido, em quem Abu Ammar não confiara e jamais confiaria nem uma calçada quem dirá a Faixa. Este homem era Mohammed Dahlan, citado acima.
Um dos maiores responsáveis, se não o maior, da guerra fratricida foi ele, Mohammed Dahlan.
No dia 07 de janeiro, em pleno distúrbio, Dahlan organizou uma passeata imensa do Fatah em Gaza e chamou o Hamas de "a bunch of murderers and thieves. We will do everything, I repeat, everything, to protect Fatah activists".
E o Hamas respondeu o chamando de "putschist" (o que era) e o acusando de incitar os palestinos a uma guerra civil.
(Em 2008 o papel proeminente de Dahlan no complô estadunidense para aniquilar o Hamas seria exposto à luz do dia. Até a revista nova-yorquina Vanity Fair (“The Gaza Bombshell,” http://www.vanityfair.com/politics/features/2008/04/gaza200804) que era a ele que os Estados Unidos forneciam dinheiro, armas e treinamento militar para que removesse o governo do Hamas eleito democraticamente.)
Contudo, contra os prognósticos e expectativas israelo-gringas, o Hamas resistiu estoicamente ao golpe patrocinado por Washington.
Era difícil saber se Dahlan era movido apenas por ódio do partido adversário e ambição desmesurada ou se era, como diziam e dizem, por traição, pura e simples. Ou seja, por ser espião israelense e só visar benefício próprio e o poder (que pleiteia até hoje perigosamente, de fora da Palestina, em seu fausto auto-exílio nos Emirados Árabes).
Os boatos que ele tivera participação ativa no assassinato de Yasser Arafat já corriam soltos na Faixa. Na Cisjordânia ainda não se falava, mas no final das contas até os membros do Fatah, inclusive Abu Mazen, se mostrariam desconfiados e o considerariam persona non grata. Mas seria bem depois de ele fazer bastante estrago.
Mohammad Dahlan ficou por cima militarmente na Faixa de Gaza graças a uma mãozinha de Israel. Em janeiro de 2007, houve uma quebrinha do bloqueio. Uma supensão relâmpago. Devidamente aautorizada pelo ocupante, e não foi por razões sociais nem humanitárias.
Em cumplicidade com Hosni Mubarack, Ehud Olmert permitu a abertura do Kerem Shalom, barragem de fronteira entre o Egito e a Faixa, durante o tempo suficiente para que um único caminhão passasse. O veículo não estava carregado de leite, água, de nenhum bem de primeira necessidade que os gazauís necessitavam. Sua carga era de 2.000 rifles e as balas necessárias para aguentar semanas de combate contra um oponente precariamente armado.
"Por coincidência", a munição destinada a Dahlan chegou à Faixa ao mesmo tempo que a Casa Branca anunciava que liberaria 84.4 milhões de dólares ao presidente da ANP, Mahmoud Abbas, em Ramallah.
A violência estava garantida e a IDF podia tirar folga relativa durante pelo menos semanas, esperavam.
O Hamas denunciou o envolvimento de Washington no treinamento e financiamento de policiais do Fatah, e seu porta-voz, Ismayil Rawan declarou que "Washington’s intention is to fuel a civil war in the Palestinian arena.”
De fato. Um analista do Grupo International Crisis, Rabbani, confirmou a mesma coisa em outros termos. “It was developed to take on the Executive Force of Hamas. The United States is preparing for the long haul, rather than trying to spark the clashes that Gaza is immediately experiencing. This is not a direct instigation by the Americans, because they are not yet convinced that Fatah are ready to take on Hamas,” butt they are beginning to pump significant amounts of weapons, training and funds in the hope that Fatah will prevail in the eventual conflict.”
Por sua vez a Casa Branca admitiu materialmente seu envolvimento partidário ao enviar a Jericó um grupo de instrutores militares para treinar a guarda presidencial de Abu Mazen a táticas de guerra. A intervenção não podia ser mais oficial do que era. A equipe estava sob as ordens do Tenente General Keith Dayton, coordenador estadunidense oficial de segurança em Israel e na Palestina.
Em uma entrevista em dezembro, o militar gringo não escondera o jogo ao jornal israelense Yehidot Ahronoti: “We are involved in building up the Presidential Guard, instructing it, assisting it to build itself up, and giving them ideas.” Entretanto, negou oficialmente que este treinamento visasse fomentar o confronto do Fatah contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O prelúdio deste conflito interno de 2007 fora no dia 15 de dezembro de 2006 quando Forças de Segurança Nacionais Palestinas, sob as ordens de Mohammed Dahlan, começaram a atirar em uma passeata do Hamas em Ramallah deixando mais de vinte feridos.
Este ataque aconteceu logo depois de tropas do Fatah, sob as ordens de Dahlan, terem tentado assassinar Ismail Haniyeh. Em dezembro as trocas de tiro continuaram, mas piorariam mesmo em 2007. Em janeiro, um mês após a tentativa de assassinato do Primeiro Ministro eleito, a luta fratricida já fizera 33 mortos.
Mahmoud Abbas deu-se conta de ter posto um pé em areia movediça que talvez o engolisse junto com seu país inteiro e deu um passo atrás. Tentou incorporar as Forças de Segurança do Hamas ao aparato da Autroridade Nacional Palestina, mas não contava com a dificuldade maior que era de corrigir outro erro, o de ter nomeado a pessoa errada na Faixa de Gaza.
Enquanto ele tentava apaziguar, Dahlan continuava os estragos e a violência que jurara.
Como o Hamas o conhecia melhor do que Abu Mazen, e por isso sabia que seu objetivo não era o diálogo e sim o confronto, que lhe rendia mais, negou-se à união das Forças militares. Sabia que esta união seria mesmo era um aniquilamento e por isso optou por aumentar sua própria polícia que em pouco tempo dobrou em número de para-militares.
O mês de janeiro foi uma sucessão de tiroteios até Abu Mazen e Khaled Meshaal se encontrarem e concordarem com um cessar fogo bilateral.
O ano de 2006 terminara com 9 palestinos feridos por compatriotas.
No dia 01 de janeiro, após uma semana de trégua natalina os confrontos entre as duas facções recomeçaram. As Brigadas al-Qassan, ala militar do Hamas, sequestrou três dirigentes do Fatah e as Brigadas Al-Aqsa, ala militar do Fatah, reagiram sequestrando 10 membros do Hamas.
Trocaram tiros sobretudo no norte da Faixa de Gaza e a população temeu que a escaramuça virasse guerra, pois em Beit Lahiya as al-Qassan lançavam um foguete na casa de um dos líderes da AL-Aqsa.
No dia 02 lançaram um morteiro em um caminhão israelense na barragem de Karni.
No dia 03, voltaram a atirar entre si e cinco palestinos foram mortos nas trocas de tiros. Quatro membros do Fatah, em Khan Younis e Beit Lahiya, e uma passante que se encontrava no lugar errado, na hora errada, em Jabaliya. Dez outros combatentes foram sequestrados. Ao anoitecer, os beligerantes concordaram em acalmar a situação no sul da Faixa. E lançaram um foguete, mas desta vez em Israel. A calma só baixou durante essa noite. No dia seguinte, apesar do apelo à calma, seis mortos jaziam na calçada.
No dia 05 um agente de segurança do Fatah morreu no hospital e um imam que condenou os afrontamentos inter-palestinos em seu sermão de sexta-feira foi baleado.
No dia 07 foi a tal passeata do Fatah provocativa, organizada por Mohammed Dahlan, cujo resultado vimos acima.
Foi depois disso, e dos tiroteios que seguiram, que Abu Mazen resolveu garantir uma trégua de vinte dias a fim de estabelecer um diálogo para constituir um governo de união nacional.
Com este propósito, no dia 22, Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal se encontraram em Damasco. Passaram três horas conversando até concordarem sobre a melhor atitude a tomar.
A Faixa acalmou-se momentaneamente, mas na Cisjordânia, membros do Hamas resolveram fazer uma passeata em Nablus para comemorar o aniversário da vitória eleitoral do seu partido e o pior aconteceu. Membros das Brigadas al-Aqsa atiraram, outros das Brigadas Qassam replicaram, uma bala perdida matou um passante.
No mesmo, um militante do Fatah e um do Hamas foram mortos em Gaza.)
A notícia espalhou-se como fogo no feno e muitos gazauís desceram do norte como puderam e percorreram até quarenta quilômetros até El Arish, no Egito, para comprar o indispensável.
"I have bought everything I need for the house for months. I have bought food and even two gallons of diesel for my car," disse um deles.
O Hamas não assumiu a responsabilidade do buraco no muro, mas seus militantes entraram em controle do local em um piscar de olhos do lado fronteiriço da Faixa. Os guardas egípcios ficaram do lado de lá, de olho, mas sem intervir no que não achavam ser problema deles.
As compras eram todas vistoriadas pelo Hamas, que confiscou sete revólveres. Enquanto isso, ouviu-se 17 novas explosões de madrugada para fazer outros buracos no muro em outras partes de Rafah. No total, demoliram dois terços dos 12 quilômetros de muro, até com bulldozer "emprestados".
O Hamas não protagonizou o levante, mas o apoiou, dizendo que "Blowing up the border wall with Egypt is a reflection of the catastrophic situation which the Palestinian people in Gaza are living through due to the blockade."
Ehud Olmert e Hosni Mubarack certamente não contavam com essa reviravolta e esse "jeitinho" palestino de contornar o bloqueio.
Em Tel Aviv estavam preocupados e Arye Mekel, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, contou outra lorota: "Israel has no forces in Gaza or Egypt, and the Egyptians control the border, and therefore it is the responsibility of Egypt to ensure that the border operates properly according to the signed agreements. We expect the Egyptians to solve the problem. Obviously we are worried about the situation. It could potentially allow anybody to enter."
Na verdade, estavam mesmo preocupados era que a Faixa fosse reabastecida, pois na semana anterior Israel reforçara a barragem econômica com o apoio tácito do Egito que mantinha a fronteira trancada.
Mas as ONGs de Direitos Humanos alertavam tanto a mídia internacional para a crise humanitária causada pelo bloqueio que Israel acabou "permitindo" a entrada de uma carga de combustível e óleo de cozinha. Uma gota no oceano de carência da Faixa. Faltava eletricidade, água potável, combustível e víveres de primeira necessidade. O que autorizaram foi uma gotinha de víveres, entretanto, a propaganda funcionou como Israel queria e permitiu que os Estados Unidos continuassem a apoiar este bloqueio que nos olhos da opinião pública ocidental era e é invisível.
O fato é que desde junho de 2006 a Faixa estava totalmente cortada do mundo e os gazauís sobre/viviam na maior prisão do planeta. Jamais visto.
E a privação só fazia aumentar o nervosismo. O dia 26 começou como se a trégua nunca tivesse existido. Houve combates em várias cidades e no final do dia, sete militantes do Hamas estavam mortos, cinco do Fatah, três civis, e 24 membros do Hamas haviam sido capturados pelo Fatah na Cisjordânia.
Na noite do dia 27 um militante do Hamas e um civil foram mortos por um ataque de morteiro à residência do Ministro das Relações Exteriores do Hamas, Mahmoud Zahar. E dois militantes do Fatah foram mortos em confrontos perto da Universidade Islâmica de Gaza.
Tiros de morteiro, tiroteios, carros explodidos, e no final do dia, seis famílias choravam a perda de entes queridos. Dentre eles, dois civis, inclusive um menino de 12 anos. Um militante do Hamas ferido na véspera também morreu em Beit Lahiya durante a tarde.
No dia 28 foi a vez de um militante do Hamas e um civil de 45 anos perderem a vida.
No dia 29, um agente de segurança do Hamas foi morto de manhã em Gaza, outro na frente da mesquita de Khan Yunis, e três passantes. E assim por diante.
No mesmo dia 29 houve uma súbita volta no tempo que pegou os israelenses desprevenidos. O Jihad e as Brigadas al-Aqsa resolveram atacar o verdadeiro inimigo. Enfim, acabou dando errado e o alvo foi civil, que a seus olhos, também representavam os horrores pelos quais passavam porque eram considerados cúmplices passivos do governo que elegiam.
Nesse dia, Muhammad Faisal al-Saqsaq, um rapaz de 21 anos, originário de Beit Lahia, esgueirou-se entre as redes da IDF, saiu da Faixa, pegou carona com Yossi Waltinky, um coronel da IDF aposentado. Este suspeitou de sua vestimenta, agasalho fechado, e deu o alarme logo depois de deixar o rapaz em um posto de gasolina na cidade israelense de Eilat. Do posto Muhammad dirigiu-se a uma padaria do subúrbio norte e sete minutos após o telefonema do Coronel para a polícia, o bomba-suicida explodiu levando consigo os dois donos do comércio e um funcionário. Cinco fregueses sofreram ferimentos leves.
Muhammad combatera em Jabalia, Beit Hanoun, e perdera seu melhor amigo e sua filhinha. Seu irmão era um resistente influente, do Jihad, mas ele era das Brigadas al-Aqsa, ambos grupos ligados ao Fatah. A padaria não era seu destino final, parou lá apenas para tomar café. Puxou o detonador quando viu policiais israelenses se aproximarem, e saltou a padaria pelos ares.
A casa de sua família foi demolida no dia seguinte, como é a praxe da IDF, em represália. Fazia meses que os atentados suicidas haviam parado.
Ao reivindicar o atentado, Khaled al-Batch, do Jihad, disse que era uma resposta lógica "aos crimes contínuos do inimigo sionista".
Os israelenses divulgaram a notícia em altos brados e a condenação internacional foi imediata. Afinal, três, dois, um morto israelense vale bastante. Mais do que o dobro, o décuplo, o céntuplo, de um palestino assassinado pela IDF ou por um invasor/colono. Convencido disso, Ehud Olmert prometeu vingança.
Esta veio em forma de vários bombardeios do sul da Faixa de Gaza. Com os danos materiais e humanos de sempre. Mas tudo bem, nenhum israelense sofreu nada.
Voltando ao atentado, por que foi em Eilat, uma estação balneária?
Porque dois meses antes a cidade sediara um congresso governamental de promoção desta destinação aos agentes de viagem. Daí a irritação de Ehud Olmert. A explosão era ruim para o comércio. E foi por isso que ela aconteceu: "Na Faixa estávamos privados até de pesca em nossas águas territoriais, não podemos ir à praia nem na área autorizada porque corremos o risco de ser explodidos por bombas ou minas, e os israelenses organizam turismo balneário do lado?!" Disse um resistente indignado.
(Desde então, este resistente entendeu como os demais que embora Israel só ouvisse a voz da violência - que aplicam na Palestina com a mão pesada sem levarem nenhuma palmada da tal Comunidade Internacional - era só a violência homeopática da resistência que era condenada internacionalmente e era só sua imagem que piorava. Ele também aderiu à resistência pacífica, também por questões humanas. A resistência através do boicote e outras mais. Acessível a eles e a nós.)
Trocando em miúdos, em janeiro de 2007 a Faixa de Gaza vivia em sobressalto, mas desta vez, por causa de concidadãos e não por causa direta dos ocupantes.
“I took my daughter to kindergarten this morning and couldn’t pass because of the roadblocks. All the shops are closed and the streets are empty. Every house in Gaza is listening only to the news reports and the gunfire,” disse então Nabil Diab, relações públicas do Crescente Vermelho em Gaza.
De repente, o divide ut regnes estava funcionando a todo vapor.
"The children used to play ‘Palestinians versus Israelis’; now they play ‘Fatah versus Hamas’,” disse o pai de dois meninos.
O Centro de Direitos Humanos Al-Mezan, em Gaza, documentou a morte de 63 palestinos de ambos os lados e mais de 300 feridos.
Ora, Gaza é uma das cidades mais densamente populadas do planeta e os combates aconteciam nas ruas. Daí o alto número de vítimas civis. Inclusive crianças. Oito morreram com bala perdida e trinta foram feridas do mesmo jeito.
Fazia sete anos que os gazauís combatiam os invasores civis e militares israelenses e 60 anos que enfrentavam desapropriação, exterminação e êxodo sem que o moral desmoronasse. Esta era a primeira vez desde a Naqba que as mulheres pareciam realmente preocupadas. Pareciam ser as únicas que entendiam o que este conflito interno representava. Uma mãe de família falou desolada: "If this fighting continues, we will destroy ourselves.”
Era justamente o que Israel e os Estados Unidos queriam. O conflito interno ainda duraria, como previsto.
PALESTINIAN PAPERS
Proposta de Mahmoud Abbas:
http://thepalestinepapers.com/files/767.PDF
Resistência à barreira israelense em Bil'in
E na ausência da mídia estrangeira, a IDF se esbalda
em Bil'in e na Cisjordânia inteira
"If Arafat were alive..." one hears this phrase increasingly often in conversations with Palestinians, and also cith israelis and foreigners.
"If Arafat were alive, whatés happening now in Gaza wouldn't be happening..."
"If Arafat were alive, we would have somebody to talk with..."
"If Arafat were alive, islamic funamentalism would not have won among the Palestinians and would have lost some forece in the neighboring countries!"
In the meantime, the unanswered wuestions come up again: How dit Yasser Arafat die? Was he murdered? If so, who murdered him?
On the way back from Arafat's funeral in 2004, I ran into Jamal Zahalka, a member of the Knesset. I asked him if he believed that Arafat was murdered. Zahalka, a doctor of pharmacology, answered "Yes!" without hesitation. That was my feeling, too. But a hunch is not proof. It is only a product of intuition, common sense and experience.
Recently we got a kind of confirmation. Just before he died, Uri Dan, who had been Ariel Sharon's loyal mouthpiece for almost 50 years, published a book in France. It includes a report of a conversation Sharon told him about, with President (George W.) Bush. Sharon asked for permission to kill Arafat and Bush gave it to him, with the proviso that it must be done undetectably. When Dan asked Sharon whether it had been carried out, Sharon answered: "It's better not to talk about that." Dan took this as confirmation.
The secret services of many countries have poisons that are all but undetectable. The Mossad tried to kill Khaled Meshaal, the Hamas leader, in broad daylight on a main Amman thoroughfare. He was saved only when the Israeli government was compelled to provide the antidote to the poison it had used...
Is there proof that Arafat was murdered by Israeli or other agents? No, there is none. This week I again ran into MK Zahalka, and both of us concluded that the suspicion is growing stronger, together with the conviction that Arafat's absence is felt now more than ever.
If Arafat were alive, there would be a clear address for negotiations with the Palestinian people.
The claimed absence of such an address serves the Israeli government as the official pretext for its refusal to start peace negotiations. Every time Condoleezza Rice or another of Bush's parrots talks about the need to "restart the dialog" (don't mention "negotiations") for "the final status" or "the permanent settlement" (don't mention "peace"), that is the response of Tsipi Livni, Ehud Olmert & Co.
Dialog? With whom? No use to talk with Mahmoud Abbas, because he is unable to impose his will on the Palestinian people. He is no second Arafat. He has no power. And we couldn't possibly talk with the Hamas government, because it belongs to Bush's "axis of evil". So what do you want, Condi dear?
Tsipi Livni, Condi's new buddy, goes further: at the convocation of the billionaires' cabal in Davos she warned Abbas publicly not to strike a "compromise with terrorists". A timely warning. Desperate to create a credible Palestinian address, Abbas had just flown to Damascus to meet Mashal. Thus, by the way, he has admitted publicly that nothing can be done without the Hamas leader, who has become a kind of Palestinian super-president.
Livni recognized the danger at once and rushed to torpedo the mission. No dialog with a Palestinian unity government, much as there is no dialog with Abbas or Hamas. That Ok, Condi honey?
...In war, that makes sense. A split between your enemies is a gift to you. In World War I, the German general staff sent Lenin back to Russia in the famous sealed wagon, hoping to create a split between Russia and her British and French allies. In the 1948 war, we were saved because the armies of Egypt and Jordan were more interested in competing with each other than in fighting us. In the 80s, the Israeli army sent officers to North Iraq in order to help Mustafa Barzani to tear the Kurdish region away from Saddam's country.
That is a good strategy in war, which states have followed since the beginning of history. In this respect, Israel is no exception. The question is: is this also a good strategy when one wants to achieve peace?
IF - "IF" in capital letters - the government of Israel desired peace, it would adopt the opposite strategy.
But is this good for Israel? It is good for the continuation of the war against the Palestinians, for annexation and the building of settlements. It is not good for the termination of the historic conflict with the Palestinians, the ending of the occupation and the laying down of arms.
There is no chance of making peace with Mahmoud Abbas, nor would it have any value, without the full support of Hamas. But even a Fatah-Hamas partnership would not be broad enough to ensure a peaceful future for Israel. It would need the support of the whole Arab world.
There lies the immense importance of the "Arab Peace Initiative", the Arab League proposal that was adopted by the 2002 Beirut summit conference. Only a united Palestinian leadership, which enjoys the backing of the entire Arab world, can carry out such a revolutionary historic undertaking. Not only should we not object to it, but we should in fact demand it.
The terms of the Arab initiative are the same as those already set out by Yasser Arafat in the 70s: a Palestinian state side by side with Israel, whose border is the Green Line and whose capital is East Jerusalem; the dismantling of the settlements; an "agreed upon" solution of the refugee problem. Unofficially Arafat agreed to swaps of territory that would enable some of the settlements located near the Green Line to remain in place. There is practically no Palestinian, and indeed no Arab, who would agree to less. It would leave the Palestinians a mere 22% of historic Palestine.
This can be achieved, provided the Palestinian people are united and the Arab world is united. That means the agreement of Syria, Hizbullah, Hamas and also Iran, which is of course not Arab.
Therefore, if one wants peace, one will not rejoice in face of the bloodshed in Gaza and the Lebanon. We have nothing to laugh about when Arab hits Arab. Woe to such laughter.
And, of course, if Arafat were alive, everything would be much, much easier."
Uri Avnery, 27/01/2007
"If Arafat were alive, we would have somebody to talk with..."
"If Arafat were alive, islamic funamentalism would not have won among the Palestinians and would have lost some forece in the neighboring countries!"
In the meantime, the unanswered wuestions come up again: How dit Yasser Arafat die? Was he murdered? If so, who murdered him?
On the way back from Arafat's funeral in 2004, I ran into Jamal Zahalka, a member of the Knesset. I asked him if he believed that Arafat was murdered. Zahalka, a doctor of pharmacology, answered "Yes!" without hesitation. That was my feeling, too. But a hunch is not proof. It is only a product of intuition, common sense and experience.
Recently we got a kind of confirmation. Just before he died, Uri Dan, who had been Ariel Sharon's loyal mouthpiece for almost 50 years, published a book in France. It includes a report of a conversation Sharon told him about, with President (George W.) Bush. Sharon asked for permission to kill Arafat and Bush gave it to him, with the proviso that it must be done undetectably. When Dan asked Sharon whether it had been carried out, Sharon answered: "It's better not to talk about that." Dan took this as confirmation.
The secret services of many countries have poisons that are all but undetectable. The Mossad tried to kill Khaled Meshaal, the Hamas leader, in broad daylight on a main Amman thoroughfare. He was saved only when the Israeli government was compelled to provide the antidote to the poison it had used...
Is there proof that Arafat was murdered by Israeli or other agents? No, there is none. This week I again ran into MK Zahalka, and both of us concluded that the suspicion is growing stronger, together with the conviction that Arafat's absence is felt now more than ever.
If Arafat were alive, there would be a clear address for negotiations with the Palestinian people.
The claimed absence of such an address serves the Israeli government as the official pretext for its refusal to start peace negotiations. Every time Condoleezza Rice or another of Bush's parrots talks about the need to "restart the dialog" (don't mention "negotiations") for "the final status" or "the permanent settlement" (don't mention "peace"), that is the response of Tsipi Livni, Ehud Olmert & Co.
Dialog? With whom? No use to talk with Mahmoud Abbas, because he is unable to impose his will on the Palestinian people. He is no second Arafat. He has no power. And we couldn't possibly talk with the Hamas government, because it belongs to Bush's "axis of evil". So what do you want, Condi dear?
Tsipi Livni, Condi's new buddy, goes further: at the convocation of the billionaires' cabal in Davos she warned Abbas publicly not to strike a "compromise with terrorists". A timely warning. Desperate to create a credible Palestinian address, Abbas had just flown to Damascus to meet Mashal. Thus, by the way, he has admitted publicly that nothing can be done without the Hamas leader, who has become a kind of Palestinian super-president.
Livni recognized the danger at once and rushed to torpedo the mission. No dialog with a Palestinian unity government, much as there is no dialog with Abbas or Hamas. That Ok, Condi honey?
...In war, that makes sense. A split between your enemies is a gift to you. In World War I, the German general staff sent Lenin back to Russia in the famous sealed wagon, hoping to create a split between Russia and her British and French allies. In the 1948 war, we were saved because the armies of Egypt and Jordan were more interested in competing with each other than in fighting us. In the 80s, the Israeli army sent officers to North Iraq in order to help Mustafa Barzani to tear the Kurdish region away from Saddam's country.
That is a good strategy in war, which states have followed since the beginning of history. In this respect, Israel is no exception. The question is: is this also a good strategy when one wants to achieve peace?
IF - "IF" in capital letters - the government of Israel desired peace, it would adopt the opposite strategy.
But is this good for Israel? It is good for the continuation of the war against the Palestinians, for annexation and the building of settlements. It is not good for the termination of the historic conflict with the Palestinians, the ending of the occupation and the laying down of arms.
There is no chance of making peace with Mahmoud Abbas, nor would it have any value, without the full support of Hamas. But even a Fatah-Hamas partnership would not be broad enough to ensure a peaceful future for Israel. It would need the support of the whole Arab world.
There lies the immense importance of the "Arab Peace Initiative", the Arab League proposal that was adopted by the 2002 Beirut summit conference. Only a united Palestinian leadership, which enjoys the backing of the entire Arab world, can carry out such a revolutionary historic undertaking. Not only should we not object to it, but we should in fact demand it.
The terms of the Arab initiative are the same as those already set out by Yasser Arafat in the 70s: a Palestinian state side by side with Israel, whose border is the Green Line and whose capital is East Jerusalem; the dismantling of the settlements; an "agreed upon" solution of the refugee problem. Unofficially Arafat agreed to swaps of territory that would enable some of the settlements located near the Green Line to remain in place. There is practically no Palestinian, and indeed no Arab, who would agree to less. It would leave the Palestinians a mere 22% of historic Palestine.
This can be achieved, provided the Palestinian people are united and the Arab world is united. That means the agreement of Syria, Hizbullah, Hamas and also Iran, which is of course not Arab.
Therefore, if one wants peace, one will not rejoice in face of the bloodshed in Gaza and the Lebanon. We have nothing to laugh about when Arab hits Arab. Woe to such laughter.
And, of course, if Arafat were alive, everything would be much, much easier."
Uri Avnery, 27/01/2007
Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence
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