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domingo, 9 de setembro de 2012

Nos EUA, farsa política; em Israel, farsa jurídica condena a Justiça

  
USA viciado em Poder


"Where is the justice of political power if it executes the murderes and jails the plunderer, and then itself marches upon neighboring land, killing thousand and pillaging the very hills?"
Gibran Khalil Gibran 

Esta citação acima do poeta libanês comparado a Victor Hugo no século passado e mago da minha adolescência, prologa uma passagem rápida pela campanha eleitoral nos Estados Unidos antes de abordar o ponto principal do artigo deste domingo.
É claro que Barack Obama é o meu candidato à presidência dos EUA.
Não por causa da política exterior que realizou, mas porque Mitt Romney é bem pior e causará danos bem maiores dentro e fora de suas fronteiras, em todas as situações possíveis e imagináveis.
Obama é fraco (ou o rabo-financiamento de campanha é grande demais e o puxa para baixo), contudo, tem uma consciência que o pune por seus maus atos.
Romney é obtuso e só presta contas ao capital.
Algum formador de opinião com coragem e bem informado deveria dizer aos compatriotas estadunidenses que estão no fim da abastança para que caiam na real, antes cedo do que tarde.  Seus problemas econômicos são crônicos, insolucionáveis a curto, médio e longo prazo.  Embora Romney grite o contrário nos palanques, não resta dúvida que Obama melhorou a situação crítica, porém, a conjuntura é irreversível.  É inerente ao declínio do país e qualquer que seja o presidente eleito, ele só vai ter de conseguir administrar os prejuízos sociais que sufocaram todas as potências que já estiveram no cimo do mundo e no fim do império estagnaram em uma areia movediça - que ao contrário do mito hollywoodiano, não engole ninguém de uma tragada mais ou menos rápida; para livrar-se, basta mover-se devagar ou deixar-se levar pelo fluxo ascendente de água sem gestos bruscos - administrável. Apenas segura o indivíduo onde está, em vez de deixá-lo recriar as asas que foram definitivamente cortadas. 
Pois no caso dos EUA, quanto mais a economia degringolar, a droga do poder a que estão acostumados - entorpecente, excitante, alucinógena - leva-los-á a manter a potência militar em detrimento de tudo o mais a fim de manterem o estado psíquico agradável a que Hollywood e a Casa Branca os acostumaram.

A crença dos EUA que todo e qualquer desentendimento pode e tem de ser resolvido com armas em vez de palavras é maior do que qualquer uma de suas crenças religiosas bitoladas.  Nisto, Republicanos e Democratas são farinhas do mesmo saco.
Para os demais países do planeta que assistem de camarote à disputa de golpes baixos entre os candidatos, no final das contas, tanto faz. Pois inclusive os presidentes democratas (Obama é a prova encarnada) têm compromissos financeiros internos que os levam a tomar decisões internacionais motivadas apenas pelo interesse nacional a curto prazo que prima sobre todos os demais e sobre a moral básica que aplicam em casa e violam em solo alheio.
Enfim, tanto faz, de maneira geral.
Desta vez uma ameaça grave paira sobre o mundo inteiro com a espada de Dâmocles que Israel pôs nas nossas cabeças. Romney acabou de receber mais U$10 milhões de dólares de Sheldon Adelson, a terceira fortuna dos Estados Unidos. O bilionário sionista que enriqueceu no ramo da jogatina desembolsou mais esta quantia - além da que o lobby israelense já garantia ao candidato republicano - contra um acordo tácito entre Romney e Netanyahu de arrepiar os cabelos. Em sua visita a Jerusalém, o candidato republicano declarou a cidade capital do "Estado Judeu" (contra a posição oficial dos EUA) e afirmou que os Estados Unidos têm “a solemn duty and a moral imperative to block Iran from achieving nuclear weapons capability. Make no mistake, the ayatollahs in Iran are testing our moral defences. They want to know who will object and who will look the other way. We will not look away nor will our country ever look away from our passion and commitment to Israel.
Prometeu ao Primeiro Ministro de Israel que caso seja vitorioso na corrida para a Casa Branca, não emitirá oposição à limpeza étnica da Cisjordânia. Nem através de ocupação militar nem das invasões civis através dos assentamentos/colônias que Obama critica de vez em quando, embora impeça seu embaixador na ONU de aprovar as sanções propostas pelos outros países.
E pior do que este fato exclusivo à Palestina, a vitória de Romney afetaria imediatamnete o mundo inteiro, pois dizem também que teria dado carta branca e apoio irrestrito a Binyamin Netanyahu e Ehud Barack para levarem a cabo o ataque que estão cavando contra o Irã - desconsiderando totalmente que tal agressão bélica teria proporções maiores do que pensa, talvez até planetárias.
O Irã não é o Iraque nem o Afeganistão. Tem parceiros internacionais de peso, do eixo Rússia-China ao Egito, que está do ladinho.
Barack Obama tem mantido distância do Primeiro Ministro israelense (de quem não gosta nem um pouquinho mais do que seus colegas europeus). Em Tel Aviv dizem que o Presidente dos Estados Unidos recusou (com desculpa de agenda) o pedido de reunião que Binyamin Netanyahu vem solicitando com insistência para antes do fim de setembro. Negando, porém, qualquer divergência da Casa Branca com o governo israelense.
Estas esquivadas de Obama não significam que negará a Netanyahu mais este delírio megalomano-psicótico de atacar o Irã.
Mas já indica uma certa relutância. Pois sabe que teria de convencer os Democratas a segui-lo nesta medida e na conjuntura atual do partido, não seria assim tão fácil como a dupla Ehud Barak/Binyamin Netanyahu gostariam.
Os judeus liberais noavaiorquinos - artistas e intelectuais - já acordaram para a injustiça da ocupação da Palestina e também estão ativos, pressionando seus representantes no Congresso que ajudaram a eleger com contribuições e/ou propaganda. 
Prova disto foi a dificuldade que o lobby israelense teve para impor sua vontade na Convenção Nacional Democrata.
Até quatro anos atrás, o lobby sionista conseguira aprovar a frase "Jerusalem is and will remain the capital of Israel" logo de cara.
Na quarta-feira passada, a frase foi reprovada uma vez, reapresentada e reprovada uma segunda vez, e a posição crítica em relação ao estatuto final de Jerusalém israelense só obteve "maioria" na terceira votação após pressões, conchavos e contagem por alto.
Quando Ted Strickland, ex-governador de Ohio, propôs a controvertida inclusão da frase fatídica, disse "faith and belief in God is central to the American story" e "President Obama recognises Jerusalem as the capital of Israel and our party's platform should as well".      (A charge do jornal Al-Quds, ao lado, diz acima "Learn about Israel... from behind the fence", e abaixo: "Obama's view".) 
Vale lembrar que o estatudo de Jerusalém é um espinho no sapato de todos os presidentes dos Estados Unidos desde que Israel começou a ocupação civil e militar da Palestina em 1967.
A maioria absoluta dos países membros da Oraganização das Nações Unidas resiste ao lobby sionista (inclusive os EUA, neste ponto) se recusando a reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Estes países esperam que a cidade "santa" ainda seja a capital dos dois Estados - Israel e Palestina - e que a paz reine dos dois lados livres e soberanos.
É por isto que as embaixadas estrangeiras em Israel, inclusive do Brasil, são em Tel Aviv.
E sob pressão de seus eleitores liberais, inclusive judeus esclarecidos, muitos políticos Democratas  acordaram para sua responsabilidade na Convenção do partido e os "nays" foram majoritários até os "ayes" predominarem sem realmente predominarem e a moção ser aprovada.
"In the opinion of that chair, two-thirds have voted in the affirmative. The motion is adopted, and the platform has been amended." A frase definitiva de Antonio Villaraigosa, prefeito de Los Angeles e presidente da Convenção, foi recebida com um coro de vaias da Assembleia.
A frase foi aprovada, mas a contragosto de muitas vozes democratas ativas. Isto renova as esperanças que Netanyahu não consiga fazer valer sua vontade com tanta facilidade no caso da reeleição de Obama, e que se os estadunidenses reelegerem Obama, os Democratas esclarecidos consigam que governe com bom senso, deixe o problema do Irã ser resolvido pelas Nações Unidas - que é quem tem autoridade para isto, e pare os caterpillars israelenses na Palestina. Mesmo que dona Hillary Clinton tenha outro ponto de vista.  
Embora saiba que Obama está e é propenso a beneficiar Israel em uma possível resolução da ocupação militar e civil da Palestina, entre os males, o menor para o mundo continua sendo ele.  

'ONCE UPON a time, President Richard Nixon wanted to appoint a certain lawyer to the US Supreme Court.
“But the man is a complete moron!” one senator exclaimed.
“So what,” answered another, “There are a great many morons in the US, and they have a right to be represented in the court as much as any other sector of society.”
Perhaps the United Morons of the United States have a right to elect Mitt Romney president.
But for the sake of the US and Israel, I hope that this will not happen.
Some people say that Israel is the 51st state of the Union.
Some say that it is the first among the 51.
Whatever, our lives – and perhaps our deaths – depend to a great extent on the man in the White House.
So, with all my misgivings (and I have a lot) about Barack Obama, I very much hope that he will be reelected.'
Uri Avnery, cronista do jornal israelense Haaretz

"No weapon has ever settled a moral problem.
It can impose a solution but it cannot guarantee it to be a just one."
Ernest Hemingway

 
As Relações Exteriores de Israel têm um ministério e um ministro de extrema-direita que é Avigdor Lieberman. Não baba como os cães raivosos, late, late, late e morde quando pode, mas na verdade (por enquanto) não decide nada.
Pois o Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa se apossaram das verdadeiras Relações Exteriores, tais como a relação prioritária e privilegiada que Binyamin Netanyahu se reserva com a Casa Branca e a AIPAC (lobby israelense em Washington). O embaixador israelense nos EUA se comunica diretamente com Netanyahu - e com o bilionário Sheldon Adelson, a terceira maior fortuna dos Estados Unidos e um dos maiores financiadores da campanha do republicano Mitt Romney - U$10 milhões de dólares, para que este campo assegure que não haja nenhuma crítica às colônias, nem à limpeza étnica da Cisjordânia e que Netanyahu fique à vontade para lidar como quiser com o Irã.
As Relações com os palestinos são (mal)administradas por Ehud Barak que é oficialmente encarregado dos Territórios Ocupados, e das Forças Armadas - IDF (Israeli Defensive Forces). A espionagem e policiamento lá é da alçada do Shin Bet (serviço interno de inteligência), ligado diretamente ao Primeiro Ministro.
As relações com os países árabes são mantidas pelo Mossad, também sob autoridade de Netanyahu.
Na prática, são estes dois homens, Binyamin Netanyahu e Ehud Barack, que, direta ou indiretamente, detêm todo poder no Estado de Israel - inclusive de bombardear ou não o Irã - e consequentemente, de tudo o que diz respeito à Palestina.
Portanto, a responsabilidade da farsa jurídica encenada em Haifa no fim de agosto também pode ser considerada da responsabilidade deles.
"A impunidade prevalesceu de maneira sistemática nos casos de violações do Direito Humanitário Internacional pelas autoridades israelenses e em vários outros casos de Direito Penal israelense. A família Corrie estava à mercê de um sistema israelense em que as decisões "são uma paródia de justiça".
Foi Richard Falk - especialista independe nomeado pela ONU para investigar a situação dos Direitos Humanos na Palestina ocupada desde 1967 - que fez esta acusação ao governo de Israel. O julgamento ao qual se refere é o de Rachel Corrie, e por tabela, aos dos outros civis estrangeiros assassinados fria e impunemente por soldados da IDF nos últimos dez anos.
Richard Falk, um diplomata pausado, saiu do sério quando exprimiu "decepção" e "consternação"  com uma decisão judicial israelense de rejeitar a queixa da família Corrie contra os assassinos da filha, condenando a vítima e absolvendo mais uma vez os culpados.
O caso de Rachel não é isolado, mas é mais conhecido por ela ser estadunidense e por sua família ser perseverante e determinada.
Neste caso mediático, o culpado é um soldado da IDF ou IOF (Israeli Defensive/Occupation Forces) que nove anos atrás jogou seu caterpillar armado em cima da militante pacifista a atropelando de propósito e a deixando para trás esmagada.
Rachel foi esmagada por um Caterpillar em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, nove anos atrás.
Sua família, após mover céu e terra para punir os culpados, acabou formalizando uma queixa no Tribunal de Haifa em 2005. 
No fim de agosto de 2012 este tribunal, por intermédio do juiz Oded, absolveu o estado de Israel da responsabilidade do "acidente" e negou as acusações de falha na condução credível de investigação do assassinato. A isenção de responsabilidade dos militares foi uma bofetada nas caras sofridas de Cindy e Craig Corrie, pais de Rachel.
Desconsiderando as provas e os depoimentos dos estrangeiros presentes na cena do crime, o Tribunal manteve a versão oficial que os soldados que estavam no Caterpillar D9 não viram a jovem de 23 anos apesar do colete fluorescente laranjado que ela estava usando.
Quem estava em Rafah nesse dia (ou assistiu ao vídeo) viu bem que, como sempre, ela estava bem visível no seu colete fluorescente.
A negação das falhas na investigação é uma bofetada nos Estados Unidos inteiro, pois em 2004, um ano após o crime, o próprio embaixador dos EUA irritou-se com o então primeiro ministro Ariel Sharon por ter encarregado um jovem de 19 anos de investigar o "acidente".
Durante estes anos todos os "investigadores" mudaram, mas nenhum deles se preocupou em corrigir os erros do colega adolescente no recolher depoimentos das testemunhas, em esclarecer discrepâncias no depoimento dos soldados, em desenhar mapas do local e do desenrolar da cena, enfim, tudo o que teria de ser feito neste tipo de caso.
A impunidade prevalesceu mais uma vez na longa lista de "irregularidades" cometidas pela IDF na Palestina. 
Os Estados Unidos de George W. Bush afirmaram então que o governo de Israel não cumprira a promessa de conduzir investigações "minuciosas, credíveis e transparentes".
Barak Obama não podia, moralmente, deixar por menos do que isso. Mas ele continua mudo sobre o assunto. Precisa do dinheiro da AIPAC e é pouco provável que se manifeste.
Mas o ex-presidente Jimmy Carter declarou imediatamente: “The killing of an American peace activist is unacceptable. The court’s decision confirms a climate of impunity, which facilitates Israeli human rights violations against Palestinian civilians in the Occupied Territory.”
Vale lembrar que cerca de 94 por cento das investigações de soldados israelenses acusados de crimes violentos contra palestinos e suas propriedades terminam em absolução do culpado. 91 por cento das investigações de civis israelenses contra palestinos nos Territórios Ocupados também terminam em absolução do culpado.
Rachel morreu protegendo de demolição a casa de uma família palestina.
Até o dia em que foi "atropelada" os israelenses já haviam demolido, só onde ela estava, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, 1.700 moradias, no processo de punição coletiva durante a Segunda Intifada. Cerca de 400 crianças já tinham sido vítimas "colaterais" dos ataques da IDF. Sem nenhum direito de dar queixa,à Convenção de Genebra contra a violação dos tratados internacionais que Israel não respeita.
Os pais de Rachel batalham há anos para obter justiça para a filha e por tabela, para as centenas de palestinos a quem os mínimos direitos humanos são inacessíveis.
Os israelenses são tão espertinhos que após a queixa civil registrada por Cindy e Craig Corrie em Israel, o Knesset aprovou uma emenda na lei de compensação que impede outros processos do gênero.
Um passinho pra frente. Graças a Rachel.
  
Abusos são cometidos por soldados da IDF diariamente nos territórios ocupados.
Estes abaixo foram "documentados" nos domicílios palestinos que ocupam durante dias sem nenhum respeito pela família 
E quando desocupam a residência da família
I'll be right back, diz o grafite do soldado antes de "mudar" para outra casa 
Documentário sobre a visita do comediante inglês Jeremy Hardy à Palestina em 2002
Jeremy Hardy vs Israeli Army
  
A vídeo do assassinato de Tom Hurndall


Livro : The Only House Left Standing - The Middle East Journals of Tom Hurndall
De Tom Hurndall e Robert Fisk. Editora Trolley Books

Filme do Channel 4: The Shooting of Thomas Hurndall (TV 2008)
Direção de Rowan Joffe, com Kerry Fox, Stephen Dillane, Bader Alami, Ziad Backry, Mark Bazeley.  


Os caterpillars em operação de demolição em Dkaika
Demolição de cisterna em Kheshem Ad Darj 

Reservistas da IDF, Forças de ocupação israelense,
Breaking the Silence

Documentário: Occupation 101: Voice of the Silenced Majority
De Sufyan e Abdallah Omeishah, 2006
Concluído com as palavras de Rachel Corrie



domingo, 24 de junho de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XIII (08/09 2000)


A reunião de cúpula de Campo David terminou em julho de 2000 com a "oferta generosa" de Ehud Barak recusada por Yasser Arafat.
Logo em agosto soldados da IDF deram um tiro na cabeça de Mahmoud Abdullah, um palestino de 70 anos, e impediram que tivesse socorro médico durante uma hora. Fato corriqueiro nos Territórios Ocupados, mas este senhor tinha nacionalidade estadunidense e o caso deu no que falar; até terminar em pizza, como todos os casos similares.
No dia 18, três semanas após o colapso de Campo David, os negociadores voltaram a reunir-se em torno de uma mesa para dialogar como haviam prometido ao deixar os EUA.
Ehud Barak tomou a dianteira mediática comunicando que "oferecia" aos palestinos um estado independente contanto que terminassem formalmente o conflito com Israel.
Na mídia estas palavras soaram como uma demonstração de sua imensa boa-vontade, mas na verdade, era um belo golpe de palavras, pois quaisquer que fossem as garantias apresentadas por Yasser Arafat, poderiam ser consideradas insuficientes e ele sempre sairia de bonzinho na história.
De quem foi esta ideia brilhante, não se sabe, mas que Dennis Ross estivesse nas imediações era bem provável.
E o enviado estadunidense ficou lá fazendo seus conchavos.
Com a corda toda, Ehud Barak voltou às manchetes quando "garantiu" que "quando" Jerusalém estivesse sob sua guarda, nenhum dano seria causado aos santuários e às duas mesquitas, como se as igrejas que a cidade abriga não corressem  o mesmo perigo. Até então eram bem cuidadas pelos cristãos palestinos.
"Yasser Arafat sabia muito bem que se seus compatriotas não podiam circular livremente na cidade, mesmo esta sendo legalmente de sua propriedade e sob suposta tutela internacional; como ficaria quando ela tivesse só um dono e este dono em vez da ONU fosse sionista, intolerante e expansionista? Que garantia tinha que os cristãos e os muçulmanos não seriam atacados pelos judeus extremistas como acontecia em Hebron a toda hora do dia?" disse um de seus colaboradores.
Portanto o líder palestino descartou de cara a oferta generosa do primeiro ministro israelense, dizendo que jamais assinaria um tratado de paz que não lhe garantisse a soberania de Jerusalém Oriental incluindo a cidade antiga. Segundo determinação das Nações Unidas.

Foi neste clima que as discussões prosseguiram setembro adentro.
Barak rejeitava quase todas as propostas palestinas, mas mesmo assim, sabendo que o seu padrinho gringo não o deixaria à míngua, declarou que apesar de discordar de "algumas" ideias do líder palestino retomaria o diálogo se Arafat aceitasse que as negociações se baseassem nas ideias de Bill Clinton.
Pressionado por todos os lados e com a fama de ranzinza mal-agradecido ganhando a mídia que convence a opinião pública, Arafat voltou a conversar com enviados estadunidenses em meados de setembro para esclarecer pontos significantes.
Mas quando no dia 19 Ehud Barak negou soberania palestina inclusive no santuário de al-Haram al-Sharif, o pouco que fora construído foi por água abaixo em um minuto.
Em uma última tentativa de conciliação, Arafat adiou a declaração unilateral de Estado enquanto em Tel Aviv a tática da contra-informação prosseguia. Anúncios contraditórios ou ambíguos choviam, embora boatos corressem que Barak estava para concordar com a repartição de Jerusalém, que aos olhos de seus aliados de Washington parecia viável.
Aí chegou o dia 26 de setembro que precedeu uma data que ficaria nos anais negros do conflito.
O general Ariel Sharon, algoz de Sabra e Shatila, anunciou que pretendia ir à Esplanada da mesquita al-Aqsa.
O chefe do serviço de segurança palestino avisou imediatamente o governo israelense: "Se Sharon entrar neste sítio religioso, haverá uma revolta".
Não receberam resposta e a imprensa só obteve dos responsáveis do Likud respostas evasivas como "Não é certeza que a visita aconteça. Estamos esperando o parecer da polícia".
A expectativa aumentou, a preocupação mais ainda, o boato espalhou-se por Tel Aviv e os pacifistas, apreensivos, condenaram a visita que se anunciava de maneira enfática.
Todos sabiam que além da provocação gratuita, para todos os palestinos Ariel Sharon simbolizava repressão, invasão e crueldadde absoluta.
Lembram e relembram os filhos que era ele o Ministro da Defesa em 1982 durante a ocupação militar de Beirute e que inclusive a comissão de investigação israelense o considerara moralmente responsável pelos horrores cometidos nos massacres de Sabra e Shatila.
Sem contar que depois de ter sido afastado do cargo, adquirira um apartamento em plena Jerusalém antiga encorajando outros militantes sionistas a se implantarem na cidade palestina.
Ehud Barak, que acumulava o cargo de Ministro da Defesa, foi avisado e não deu a atenção devida. Limitou-se a autorizar escolta militar à comitiva.
Além de autorizar a "visita", não viu utilidade em preparar os soldados da IDF para a eventual reação visceral que a Autoridade Palestina considerava provável, temia e avisara para evitar que a situação piorasse.
Às sete e meia da manhã do dia 28 do ano 2000, o general Ariel Sharon, presidente do partido de extrema direita Likud, resolveu voltar ao palco com um golpe que ficaria nos anais do oriente Médio como o ato de provocação mais crasso de uma autoridade israelense, quase um ato de guerra. Guardando as proporções, do peso do assassinato em Saraievo do arqueduque austro-húngaro Franz Ferdinand, que em 1914 encadeou uma série de eventos que levariam à Primeira Guerra Mundial.
Sharon penetrou no pátio da mesquita situada no Al-Haram al-Sharif ou o Monte do templo, no coração de Jerusalém, de cara fechada. Estava com sua delegação partidária, protegido por dezenas de soldados das forças especiais bem armados.
Este complexo religioso localizado no sítio do antigo templo de Herodes e da Basílica de Nossa Senhora é hoje o primeiro Qibla dos muçulmanos e o terceiro santuário do islamismo. Ele contém também uma área sagrada do judaísmo.
O pretexto que Sharon usara para esta campanha político-militar era débil - conferir a procedência de reclamações de arqueólogos judeus que diziam que as autoridades religiosas muçulmanas haviam vandalizado sítios arqueológicos de um estábulo presumido do rei Salomão, localizados sob o monte, durante a conversão do local séculos antes.
O que não se sabe é como e se as autoridades responsáveis caíram nessa desculpa esfarrapada ou se concordavam com a iniciativa do presidente do partido rival.
 
Ao serem informados do aparato, parlamentares palestinos e três deputados árabes do Knesset foram lá na hora marcada tentar argumentar, mas foram mantidos à distância enquanto Sharon e comitiva penetravam no recinto com estardalhaço.
A marcha ostentatória foi breve, durou 35 minutos. Sharon sabia do risco que corria e como bom general acostumado com carnificinas, queria estar longe quando o pavio que estava acendendo explodisse a bomba política.
Os palestinos que estavam na esplanada tinham ido orar e foram pegos de surpresa com a visita indesejada, pois a Autoridade Palestina preferira agir sozinha e manter segredo, a fim de não pôr lenha na fogueira.
Esta precaução serviria pelo menos para diminuir as perdas imediatas.
No dia mesmo, após a retirada estratégica de Ariel Sharon às 8h05, os poucos homens que se encontravam na Esplanada apenas gritaram "Dê o fora, assassino!" lançando sapatos contra os policiais israelenses que protegiam o general e que, detrás dos escudos, responderam com balas de borracha que deixaram vários feridos.
Enquanto isto Sharon explicava à imprensa: "É inaceitável que em plena Jerusalém, sob soberania israelense, um judeu não possa ir livremente a um dos lugares sagrados do judaísmo..." acrescentando em seguida a frase que acenderia o pavio da bomba que deixara para trás bem à vista: "O monte do templo está em nossas mãos!"
Foi a frase fatídica divulgada em todos os canais de televisão e emissoras de rádio da região.
A tática de Sharon de deturpar os fatos desviando o enfoque do conflito -  de político-territorial que opunha israelense e palestino, ao religioso (omitindo de propósito os cristãos nativos que sofriam os mesmos prejuízos morais, religiosos e físicos a que os muçulmanos eram submetidos) - foi detectada mas não exposta como devia. Quando reivindicou em nome de "sua" religião a propriedade da esplanada da mesquita que para os judeus é o monte do templo e para os cristãos a antiga basílica de Nossa Senhora - mas nem o Vaticano cria caso com isto - tinha a clara intenção de bloquear toda solução política e abrir caminho aos fanáticos que o ouviam.
Até os palestinos, muçulmanos e cristãos, com nacionalidade israelense, se sentiram diretamente visados pela provocação de Sharon. São mais de um milhão de sobreviventes à Naqba que vivem sobretudo na Galileia, em Jaffa e nas imediações de Haifa e que constituem vinte por cento da população israelense.
E por que Ariel Sharon organizou este ato ostentatório logo nessa hora?
Dizem que é por ter ficado sabendo que o primeiro ministro Ehud Barak estava para admitir o princípio de "uma cidade para duas capitais", ou seja, que Jerusalém seria a capital de Israel e da Palestina.
Esta "urgência" que teria dado uma chance ínfima à retomada das negociações teria motivado a visita estratégica de Sharon.
Mas não foi só por isto.
Sentiu que Ehud Barak estava fragilizado e queria mostrar que Israel é quem mandava, que tudo estava sob controle, lacrado, inclusive os santuários das duas religiões do povo palestino.
Visava as eleições e para ganhar tinha de contar com os votos dos extremistas se colocando como o bravo defensor dos interesses judeus e portanto levar vantagem sobre seu adversário político Barak e seu aliado Netanyahu, com uma única cajadada.
O ato de Sharon foi pensado.
Em um dia, em uma hora, transformou a percepção dos integristas. No conflito político objetivo, suscetível de resolução negociada, o general aposentado com sede de guerra projetou a obscuridade de um conflito pseudo-religioso que é por definição subjetivo e que portanto, neste caso específico, excluía possibilidade de compromisso.
No dia seguinte ao ato desastroso, dia 29, Jerusalém assisitiu a uma passeata de protesto de centenas de universitários, após a oração da sexta-feira (o "domingo" muçulmano).
Despreparados para a rebelião espontânea ao ato desrespeitoso do general Buldozer (como Sharon é chamado pelo seu incentivo à destruição de moradias para implantar invasões judias), a IDF reagiu com força brutal, muitos jovens foram agredidos a cacetada, a balas, sete morreram no local e 1.800 sofreram ferimentos mais ou menos graves.
Multiplicando este número pelo de familiares, parentes, amigos, conhecidos e pessoas relacionadas por tabela, a repressão sangrenta de Jerusalém e imediações fomentou uma bola de neve de passeatas nas principais cidades da Cisjordânia, em Gaza e em Israel - onde pela primeira vez na história a IDF atiraria em cidadãos nacionais.
Um relatório da Anistia Internacional demonstraria mais tarde que a maioria das vítimas palestinas nesta data era de jovens participantes das passeatas e passantes que não constituíam nenhum perigo para os soldados.
Daí em diante, de todo funeral eclodiria uma passeata de protesto que terminaria em pedras contra gases, tanques e balas que provocariam mais feridos, mais mortes, bombas-suicidas, prisões arbitrárias, torturas, mais revolta, bombardeios desvairados...
Assim começou a Intifada Al-Aqsa, conhecida como a Segunda Intifada.

"Palestine is the cement that holds the Arab worl together, or it is the explosive that bloxs it apart."
Yasser Arafat

Objetores de consciência e reservistas da IDF, forças israelense de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence

Professor Edward Said com a palavra

Professor Noam Chomsky com a palavra

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

Petição internacional para o reconhecimento do Estado da Palestina