domingo, 15 de janeiro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito IV (1975-1987)


Yasser Arafat começou sua carreira político-diplomática em 1974. Na hora em que a Cúpula Árabe reconheceu a Organização de Libertação da Palestina - OLP como único representante legítimo do povo que representava e a Assembleia Geral das Nações Unidas reafirmaram seu compromisso com um Estado da Palestina independente e soberano, cedendo à OLP uma cadeira de observador na ONU.
Seu primeiro passo foi estabelecer contato com personalidades pacifistas do outro lado da Linha Verde que pudessem influenciar a opinião pública e a política gonvernamental de Tel Aviv.
Para tal nomeou Said Hamami e Issam Sartawi seus emissários junto aos pioneiros israelenses da paz, Matti Peled, o jornalista Uri Avneri (com Arafat na foto abaixo) e o economista Ya'akov Arnon, que por sua vez, criaram o Conselho Israelense para a paz entre Israel e a Palestina - Israeli Council for Israeli-Palestinian Peace.
Em fevereiro de 1976, os fundadores do ICIPP publicaram um manifesto no qual desafiavam a OLP a fazer a Paz mediante a retirada israelense dos territórios ocupados em 1967, o estabelecimento de um Estado Palestino em Cisjordânia e Gaza, e em negociações precisas para garantir a segurança de Israel, baseadas nos acordos assinados com o Egito na retirada do Sinai.
Além disso, o ICIPP não deixou de mencionar que a retirada de seus compatriotas dos Territórios Ocupados não mudaria em nada a situação dos palestinos residentes na área do Estado de Israel, muito pelo contrário. Israel aboliria todas as leis e práticas discriminatórias vigentes para que os autótones árabes se sentissem cidadãos iguais aos imigrantes hebraicos.
O ICIPP ofereceu a Arafat o que achavam o mínimo para que justiça fosse feita. Deixando de lado a questão controvertida dos milhões de refugiados vítimas da Naqba, espalhados mundo afora.

Em 1978 o presidente do Egito Anuwar al-Sadat surpreendeu o mundo indo a Jerusalém para solicitar pessoalmente ao Knesset (Congresso local) que Menahem Begin concordasse com negociações de Paz.
O então líder dos EUA, o senhor Jimmy Carter, a caminho de ser o grande humanista que viraria mais tarde, representou então o papel da locomotiva pacifista e levou ambos os presidentes a Washington, onde patrocinou o Tratado de Paz assinado em Campo David no dia 26 de março de 1979.
O Tratado pôs fim à perspectiva de guerra entre Egito e Israel, porém, deixou de lado a decisão urgente do destino de Cisjordânia e Gaza.
Sadat protegeu só sua casa, apesar das promessas de apoio dadas a Yasser Arafat. Apesar disto, continuou, bem que mal, sendo o escudo que continha os ataques armados de Israel à Palestina.
No mesmo ano, os Estados Unidos e a União Soviética assinaram o SALT II (US - URSS Strategic Arms Limitation Treat) e o governo dos EUA pressionou a URSS para que facilitasse a imigração voluntária, com ênfase na judaica, devido ao escândalo do matemático Anatoly Shcharansky (acusado de espionagem para a CIA, foi condenado a nove anos de prisão - sendo entregue a Israel em troca de espiões).
O resultado da manobra bem-sucedida foi que em 1979, cerca de 180 mil judeus pediram visto de saída, foram ouvidos e foram instalar-se nos territórios palestinos.
Em 1984, o número quaduplicaria. Muitos deles foram direto para as invasões, vulgo colônias/assentamentos, na Cisjordânia e em Gaza.

Em 1980, a resistência armada do Fatah na Cisjordânia atacou colonos judeus na saída de uma sinagoga em Hebron, em resposta ao inferno quotidiano em que eles haviam transformado a vida dos hebronitas.
Os grupos para-militares judeus que protegiam as invasões judias desde 1974 revidaram trinta dias mais tarde, com força triplicada e mortífera.
Atacaram em três frentes com bombas potentes.
À maneira do Irgum, o Jewish Underground armou bombas nos carros dos prefeitos de Nablus, Bassam Shaka'a e de Ramallah, Karim Halfa. A terceira cegou seu desarmador na casa de IbrahimTawil, prefeito de al-Bireh.
O Shin Bet foi surpreendido com a nova forma de terrorismo dos colonos, mas assim mesmo deixou correr a contra-informação que os atentados eram obra de grupos palestinos rivais.
A imprensa engoliu. Os palestinos sabiam que era mentira, mas a mídia já escolhera seu lado desde 1948 e não lhes dava ouvidos. Até eles serem presos mais tarde com a boca na botija. Mas seriam julgados, condenados,... e soltos pelo Primeiro Ministro Shamir em pessoa, com tapinhas nas costas.
Nessa década, pior estava por vir. Nas seguintes, os ataques se banalizariam e continuariam longe da atenção da mídia, como o da foto acima.

Dois anos mais tarde, Anuwar Sadat foi assassinado por um extremista islamita e o escudo que protegia a Cisjordânia e Gaza foi estilhaçado com a rajada de balas e granadas que mataram o presidente do Egito, no Cairo. 
Israel não esperou nem que o ano acabasse. Bombardeou o Quartel General da OLP em um bairro populoso de Beirute e deixou 300 cadáveres libaneses e palestinos, mais 800 feridos sob os escombros das casas vizinhas.
O ataque ficou impune, embora tenha chocado o mundo ao ponto dos EUA suspender temporariamente a exportação de aviões de combate para seu aliado israelense.
O Líbano estava em plena guerra civil desde 1975 e Israel e a Síria estavam pondo lenha na fogueira noite e dia.
Aos olhos da linha dura de Tel Aviv, a OLP representava um perigo maior como pacifista do que como uma organização militar.
Ariel Sharon, que desde 1973 tinha a ideia fixa de forçar o êxodo completo dos palestinos dos territórios ocupados, foi subindo na hierarquia do exército até chegar a Ministro da Defesa em 1981.
Nessa época sua ambição sionista de ocupar toda a Palestina e seu ódio pelos donos das terras não tinha limites. Da campanha de ocupação desenfreada da Cisjordânia e de Gaza até as medidas drásticas que tomaria durante a invasão do Libano.

Em junho de 1982, Israel começa a "Operação Paz para a Galileia" no sul do Líbano sob o pretexto de desalojar forças militares da OLP.
O que era de fato uma retaliação indireta à tentativa de assassinato de seu embaixador em Londres pelo grupo do membro dissidente do Fatah, Abu Nidal, e uma tentativa de erradicar definitivamente a resistência dos milhares de palestinos refugiados no país vizinho.
Em agosto desse ano, Bachir Gemayel, chefe das Forças Libanesas, milícia de cristãos fundamentalistas pró-israelense, é eleito presidente do Líbano.
No dia 01 de setembro os membros da OLP¨deixaram Beirute em direção a um novo exílio, e os sabendo centenas de quilômetros ao sul do Líbano e incapazes de proteger seus compatriotas, no dia 03, as tropas de Israel cercam os campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, no sudoeste de Beirute, e durante uma semana tentam convencer Gemayel a assinar um Tratado de Paz que autorize Israel a deixar soldados no sul do Líbano.
Mas Gemayel não cede terreno e a temperatura ferve em Tel Aviv.

No dia 14 de setembro Gemayel é assassinado em Beirute e no dia seguinte Ariel Sharon convida os falangistas a entrarem nos dois campos de refugiados que seus soldados haviam cercado e instalado miradores para vigiar o que se passava, com o objetivo de limpá-los da resistência.
No dia seguinte começou a matança em Sabra e Shatila.
Um dos maiores pesadelos dos jornalistas. Até dos mais empedernidos.
O balanço final de 3.500 mortos em dois dias está longe de refletir o horror de adultos e crianças encurralados em um círculo de proteção de soldados israelenses que obstruíam as saídas para que não escapassem da chacina.
Foram massacrados um a um com a selvageria inédita. Perpetrada por jovens treinados para virarem assassinos. Como os child soldier das duas últimas décadas em países em que a guerra civil faz parte do dia a dia.
O procedimento de "formação" dos jovens falangistas foi precursor do dos Warlords da África.
As crianças libanesas cresciam com um fusil nos ombros, eram incitados à luta dopados de mandrax. Gemayel abriu casernas e criou brigadas para estes meninos-soldados-drogados, com uma divisa: lá onde os outros não ousam.
Uma noite, trezentos deles foram embarcados em um navio israelense para Haifa, onde seguiram três meses de "estágio de sobrevivência".
Sobreviventes contam que as provas de interrogatório eram extremas - surras, jatos de água quente e fria, eletricidade, suplício do pneu, enfim, torturas para "endurecê-los".
O instrutor israelense projeta um filme sobre o Holocausto e os convence que a causa sionista é a única que é justa.
Um destes jovens soldados conta que foram recebidos no campo por uma mulher nua, "Nikha", uma general, com metralhadora a tiracolo, que os obrigou a correr e rastrejar nus e humilhados até vomitar de cansaço.
No culto da personalidade, estas máquinas treinadas para matar consideram Gemayel como pai.
De volta ao Líbano, o "grande homem" triunfa e logo depois ficam sabendo que foi assassinado.
Da noite pro dia, ficam órfãos e cheios de ódio pronto para ser extravasado.
Maroun Machaalani, braço direito do chefe de segurança Elie Hobeika, os reune e anuncia que vai levá-los até os assassinos de Gemayel para que justiça seja feita.
'Você não quer vingar Bashir? Éclaro que sim. Então vamos lá!"
Quando deixam o quartel, são bombas relógio prontas para explodir em Sabra e Shatila.
Ariel Sharon sabe disso. Pois foi para isto que foram treinados.

São 'avisados' que vão se confrontar com para-militares perigosos e cada grupo pega um itinerário.
"O meu fez uma parada para Hobeika conversar com oficiais israelenses", diz um dos participantes do massacre. Acrescentando que detestava estes aliados acidentais que lhes forneciam caminhões militares, uniformes e que nesta operação rodeavam a área com tanques pesados.
Os jovens falangistas estão armados de kalachnikovs, de fuzis M16, lança-torpedos e granadas.
"Tínham nos falado de combatentes, mas só encontramos homens de mais de quarenta anos que matamos de cara. As mulheres apareceram primeiro, suplicando, achando que fossem nos enternecer, mas tínhamos ordens claras: 'Entrem, atirem, matem tudo que respira!' e as cumprimos. Fomos de casa em casa derrubando a porta de entrada. Metralhávamos, jogávamos granada e passávamos à do lado. A primeira pessoa que matei, hesitei, a segunda foi mais fácil, depois é como jogar bolinha de gude. À noite pedimos para os israelenses iluminarem os campos para facilitar nosso trabalho e eles jogaram foguetes incandescentes até 5 horas da madrugada."
De manhãzinha, cansados da maratona macabra, os homens invadem os armazéns e se servem à vontade; furtam até serem revezados.


Um dos que chegaram nessa hora, conta: "Levei susto de encontrar tantos mortos em tão pouco tempo. Tinha mulheres nuas, as mãos cortadas, a cabeça despedaçada..."
Mesmo assim, ele e seus companheiros continuam os estupros, as mortes, a pilhagem.
"Lembro de uma palestina loira, de lenço, que suplicava, dizendo que era virgem e um companheiro se jogou sobre ela, aproveitou à vontade e depois a matou. Nós ríamos, do lado. Na febre do delírio, tem de torturar também; matar não basta. Encostei um velho na parede com uma faca no pescoço para que não mexesse e quebrei os braços dele. Morrer com uma bala é rápido, não é nada. Com faca, ele morre duas ou três vezes."
No segundo dia acontece uma reunião entre chefes militares falangistas e israelenses e no final os jovens recebem uma ordem peremptória: "Terminem com os feridos e livrem-se dos cadáveres!"
Um buldozer cava um grande buraco na entrada dos campos. É a cova comum para onde levam os feridos, em duas filas, os homens à esquerda e as mulheres à direita. "Cada um tinha de empurrar no buraco o cadáver do que era morto na frente dele ou dela antes de ser executado por bala ou facada. Os israelenes forneciam os plásticos para transportar e cobrir os cadáveres que atrapalhavam. Alguns foram queimados ou destruídos com produtos químicos."

Estes são alguns dos relatos dos hoje homens que levaram a cabo a chacina.
Um jornalista norueguês que conseguiu penetrar em Shatila no dia 17, junto com o diplomata Gunnar Flakstad, viu os falangistas "limpando" as ruas e removendo corpos de casas destruídas.
Os falangistas só deixaram os campos às 5 horas da manhã do dia 18, empurrando os poucos sobreviventes para fora e atirando em um e em outro ao acaso, como se brincassem de tiro ao alvo.
A entrada do primeiro jornalista só foi autorizada às 9 horas, sem máquina fotográfica. Ele viu a mesma cena macabra que os que seguiam seus passos: centenas de cadáveres espalhados nas ruas, muitos deles, mutilados.
Só foram autorizados a divulgar a notícia ao meio-dia.
A indignação internacional foi tal, e até em Israel, que Ariel Sharon perdeu o cargo.
Contudo, ninguém pagou pelo genocídio.

Quanto à OLP, passou a operar da Tunísia, gozando da proteção do então presidente Habib Bourguiba, chocado com os campos de refugiados palestinos que havia visitado nos países árabes.
E pela primeira vez desde sua criação, Yasser Arafat e sua cúpula gozaram de liberdade para tomar as decisões que julgassem necessárias ao avanço de sua causa.
Arafat trocava impressões com Burguiba amiúde e acabou se impregnando de sua ótica revolucionária por etapa, que o líder tunisiano usou no próprio país para libertar-se dos franceses: realismo, razão e pragmatismo.
Em abril de 1984, quatro resistentes palestinos sequestraram um ônibus israelense que ia de Tel Aviv a Ashkelon.
Os rapazes entraram no ônibus 300 em Ashdod e logo depois forçaram o motorista a desviar o trajeto para a fronteira com o Egito. O ônibus foi interceptado na Faixa de Gaza perto do campo de refugiados Deir-el-Balah. Os soldados atiraram nos pneus quando o veículo atravessou uma barreira.
Quando o ônibus parou, vários passageiros escaparam facilmente, pois os palestinos não usaram de nenhuma violência para impedi-los e ainda soltaram uma mulher grávida.
Dois deles foram mortos por snipers e os outros dois, presos intatos, foram linchados pelos soldados da IDF. Um agente do Shin Bet terminou o trabalho esmagando a cabeça dos rapazes com uma pedra.
Desta vez, não havia como inventarem estórias. Havia fotos dos dois rapazes desarmados e sem nenhum arranhão serem levados pelos soldados.
Um crime a mais cometido sob as ordens do então chefe do Shin Bet, Avraham Shalom.
Devido a pressões internacionais e das ONGs de Direitos Humanos nacionais, houve uma investigação até o Promotor Geral de Israel, Yitzhak Zamir ser forçado a demitir-se por ser "abelhudo demais" sobre a responsabilidade do Shin Bet no crime iniciado nos porões da IDF.
Logo depois quem demitiu-se foi o próprio chefe do Shin Bet. Porém, Avraham Shalom saiu do cargo com todas as honras e com total perdão presidencial por "unspecified crimes" dos quais era ou viesse a ser acusado.
Enquanto isso, a pressão de Tel Aviv crescia e o Shin Bet agia. Prendeu dezenas de ativistas palestinos e em 1985, em retaliação ao assassinato de três israelenses (que os palestinos acusaram de agentes secretos) em um iate na costa de Chipre, levou a cabo a operação militar Perna de Pau.
Bombardeou a sede da OLP em Tunis, no dia 01 de outubro, matando 56 palestinos, 15 tunisianos e ferindo cem pessoas mais que se encontravam no local e nas proximidades.
O escândalo foi grande porque na noite que precedeu o ataque, Bourguiba havia ligado para Ronald Reagan para exprimir suas suspeitas da agressão iminente, e havia sido tranquilizado.
O ataque durou seis minutos e causou tanto estrago que foi condenado pelo mundo inteiro, inclusive os EUA, que desta vez, também estavam por fora da manobra.
Mas como sempre, as reclamações não deram em nada.
Shimon Peres, então Primeiro Ministro, respondeu simplesmente que "Foi um ato de auto-defesa. Ponto."
A ONU publicou mais uma Resolução (573) condenando Israel por violar sua Carta (com abstenção dos Estados Unidos) e reconhecendo o direito da Tunísia de reclamar compensação por perdas e danos.
A Resolução, como as precedentes, foi infrutífera.
Oito dias depois, a PLF (Frente de Libertação da Palestina) dirigida por um ex-membro da OLP, Abu Abbas, preocupada com a situação de seus companheiros da OLP presos em Israel, sequestraram o transatlântico Achille Lauro para trocar os passageiros por cinquenta prisioneiros políticos. Acabaram matando um refém judeu e no fim a tripulação onseguiu controlar a situação.
Na briga diplomática entre estadunidenses e italianos, estes últimos, em cujas águas se encontrava o navio, ganharam, e deixaram Abbas livre. Como punição de Bourguiba e dos camaradas, ele foi distanciado da OLP e expulso da Tunísia.

Quem pagou o pato foi a OLP, que viveu um período difícil em Tunis, sofrendo perseguição ininterrupta do Mossad.
A liderança estava distante da mídia, de sua terra, das bases, a tal ponto que foi pega de surpresa com a revolta que estourou na Faixa de Gaza em 1987, sendo obrigada a aceitar que lideranças locais, compostas de representantes de várias facções políticas e sociais, tomassem a frente do que hoje é conhecido como a Primeira Intifada.
Como e porquê a Intifada explodiu nessa hora e não mais cedo ou mais tarde, veremos no próximo episódio desta história.

Documentário - Massaker : Sabra e Chatila por seus verdugos. De Monika Borgman, Lokman Slim, Hermann Theissen. Produzido por Zoetrope. Entrevista com seis participantes da chacina de Sabra e Chatila. De arrepiar. Em alemão, sem legenda, em 4 partes.
 II: https://youtu.be/FyZNnSHxMb0
III: https://youtu.be/19TRY6w-TJQ
IV: https://youtu.be/ZOLN0hd_yMY

Documentário : Children of Shatila, de Mai Masri. 
Dois meninos comentam a vida no campo de refugiados (árabe/inglês)

Filme animado : Valsa com Bachir
De Ari Folman
Produção francesa
O israelense Ari Folman relata sua vivência de soldado durante a invasão do Líbano e o massacre em Sabra e Chatila


Documentário em francês: Sabra e Shatila - Massacre à huit clos

"Remember the solidarity shown to Palestine here and everywhere... and remember also that there is a cause to which many people have committed themselves, difficulties and terrible obstacles notwithstanding. Why? Because it is a just cause, a noble ideal, a moral quest for equality and human rights."  Edward Said

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence
 
 


Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;

Roger Waters - Pink floyd for Palestine

       

domingo, 8 de janeiro de 2012

Vox populi, Vox Dei?



Antes de perguntarem, vou sim, continuar a História Israel vs Palestina, começada no dia 05 de dezembro passado, mas vai ser de 15 em 15 dias, para dar espaço a outros assuntos importantes na minha área.
Como por exemplo, agora que voltei à labuta após as férias curtas no nosso país tropical (banhado pela chuvarada, oriunda dos danos no ecosistema, que há alguns anos cobre o nosso sol de verão) quero atualizar a situação das revoltas e conquistas que abordei no ano passado tentando fugir da mesmice das retrospectivas que chovem no molhado.
Não sei se vou conseguir, mas vou tentar.
A expressão Vox populi, vox Dei deste título, foi lida pela primeira vez em uma correspondência do monge inglês Alcuin de York para o rei dos francos Carlos Magno, que dominou a Europa no século VIII até 814.
Desde então ela virou palavra de ordem dos democratas e de chacota para déspotas e aristocratas.
Na época, Alcuin a imortalizou, mas na negativa, pois a frase completa que escreveu em 798 foi ...Nec audiendi qui solent dicere, Vox populi, vox Dei, quum tumultuositas vulgi semper insaniae proxima sit, ou seja, ...E estas pessoas que continuam a dizer que a vox do povo é a voz de Deus não deveriam ser ouvidas, pois a natureza turbulenta da multidão está sempre muito próxima da loucura.
Eu sempre tento me situar no campo dos justos e dos democratas do mundo, mas às vezes concordo com Alcuin na íntegra. Quando isto acontece é por razões distintas; é quando um homem, um partido ou uma comunidade sectária manipula o povo em interesse próprio.
Porém, na maioria das vezes que pronuncio esta frase me restrinjo à célebre versão encurtada.
Hoje a escrevi acima em homenagem à emancipação de um povo dividido em várias nacionalidades, que começou a tomar as rédeas de seu destino no ano passado e quaisquer que fossem ou sejam nossos temores e vontades ocidentais, não vai parar no meio da estrada da liberdade que pegou em 2011 e que continua a percorrer em 2012 em uma dinâmica própria.
O Despertar Árabe foi o grande acontecimento internacional de 2011. Pois além de sua importância intrínsica, inspirou revoltas econômicas nacionais na maioria dos países ocidentais, de Occupy Wall Street dos Estados Unidos à Austrália, contra os 1% de nababos que beneficiam da desOrdem econômica mundial.

Os movimentos de rebeldia no Ocidente foram contra os bancos que são as versões locais de Mubarak, Ben Ali e Gaddafi. As Agências de câmbio e os bancos estadunidenses são intercambiáveis e envenenam o mercado com suas taxas e com seu vai e vem entre o governo e instituições bancárias, em uma promiscuidade de arrepiar.
Ao ponto que até a mídia especializada, que deveria informar o público incauto, pega leve quando trata destes casos. Bate e sopra; cutuca, mas não move uma palha.
Como a grande maioria dos repórteres estadunidenses que cobrem o Oriente Médio evitando sempre qualquer crítica possível a Tel Aviv. Os comunicados de imprensa dos lobistas da IDF (exército israelense) são divulgados como fatos incontestáveis para explicar aos compatriotas que podem confiar nos "negociadores da paz" de Washington, que os israelenses são os mocinhos e os palestinos os bandidos,  e quão moderados são os "mocinhos" e quão violentos são os "bandidos".
Os banqueiros ocidentais podem destruir as economias domésticas e de mercado, gritar, espernear, infringir a lei, e continuam sendo os "mocinhos" na farsa mediática.
Mas quando os protestadores de Wall Street botam a boca no trombone e exigem que os grandes banqueiros responsáveis pelo caos econômico sejam julgados como Mubarak, são chamados de anarquistas e de terroristas sociais.
Na visão da elite socio-econômico-mediática os ditadores árabes têm de ser derrubados, julgados e condenados por seus crimes políticos, porém, os ditadores da finança ocidental não podem responder por seus crimes econôcios e sociais. São intocáveis. Até quando, não se sabe. Pelo menos até quando nossos jornais também forem controlados por esta elite que transita livremente nos templos financeiros e nas instâncias máximas que governam nossos Estados.

Voltando à fonte da revolta, quem diria que a humilhação de um jovem em dezembro de 2010 em Sidi Bouzid, cidadezinha situada a duzentos quilômetros de Tunis, capital da Tunísia, fosse provocar uma cadeia regional de conscientização e rebeldia?
O dia 17 de dezembro nasceu em Sidi Bouzid como todos, mas naquele dia, a frustração frente à injustiça econômica e à repressão do autoritarismo levaram o jovem Mohamed Bouazizi, vendedor de frutas de 26 anos, reagir mal à afronta pública de uma policial que confiscou sua banca e à incapacidade de recuperá-la no órgão administrativo responsável. Despejou combustível no corpo e imolou-se, em um gesto desesperado. Morreu no dia 4 de janeiro de 2011.
A informação alastrou-se por twitter e facebook formando a corrente que todos sabem e dez dias mais tarde, o presidente Zine El Abidine Ben Ali foi derrubado do poder e o fogo da liberdade saltou as fronteiras para os vizinhos árabes.
Na praça Tahrir, no Cairo, apareceram bandeiras tunisianas e o movimento contra o presidente Hosni Mubarak começou incendiando o país inteiro até sua queda no dia 11 de fevereiro.
A palavra de ordem na região era Ash-shaab yurid isqat an-nizam, O povo deseja a queda do regime!
Os gritos reivindicativos ganharam as ruas de Arábia Saudita (onde a imprensa foi logo amordaçada, os primeiros manifestantes presos de cara, assim como Manal al-Sherif por ter iniciado campanha contra a proibição das mulheres ao volante, o rei Abdullah ganhou o apoio das autoridades religiosas na proibição de protestos públicos e petições por reformas no país e disponibilizou US$37bilhões para programas sociais);

Argélia, onde promessas de reforma e um cabresto firme em que o presidente Abdelaziz Bouteflika mantém a população bastaram para calar a insatisfação crescente; Iraque, onde os jovens se revoltaram em Bagdad, Basra, Kut, em cidades menores e em regiões kurdas, e a presença militar estadunidense impediu que as reivindicações de melhores condições de vida se generalizassem, até sua retirada em dezembro;

Jordânia, onde a ira do povo começou em janeiro, foi acalmada com promessas de reformas, até o povo voltar às ruas em setembro para protestar contra o Tratado de Paz assinado com Israel em plena mobilização de reconhecimento da Palestina - cerca da metade dos seis milhões de habitantes do país, inclusive a raínha Raina, são ligados à Palestina por raízes ou casamento.
Por outro lado, as reformas político-econômico-sociais do rei Abdullah ainda não foram cumpridas e o crescimento político da Irmandade Muçulmana nos países vizinhos os está tornando populares sobretudo junto à população mais carente; portanto, a poeira não vai baixar tão depressa quanto o rei gostaria;
Kuwait, cujo emir Sabah IV calou os súditos loguinho;
Mauritânia, país pobre africano cujo presidente fez o que pôde sem muita violência e em junho nomeou uma celebridade internacional para o Ministério da Cultura, o cineasta Abderrahmane Sissako, cujos filmes tratam de problemas sociais graves, como a difícil condição feminina;
Marrocos, dominado pelo rei Muhammed VI (aliado íntimo dos EUA) que foi rápido no gatilho da repressão e do amordaçamento da mídia, mas não conseguiu impedir um estertor reivindicativo em junho em Rabah onde os gritos de liberdade e dignidade voltaram a aflorar.
Enfim, nestes países acima, onde a repressão causou poucas vítimas fatais, o povo está mais ou menos conformado, mas a revolução parece ter sido apenas adiada para daqui a pouco ou mais tarde.

No Bahrein, Líbia, Síria e Yêmen o número de mortos, feridos e encarcerados deixaram marcas indeléveis nos vencedores e nos derrotados. As cicatrizes serão difíceis de curar.
No Bahrein, um reino ilhado no Golfo árabe em que a maioria chiita é governada por uma família sunita, os protestos ainda não acabaram, embora a violência da polícia tenha sido uma das mais criticadas e as centenas de presos venham sendo bastante maltratados. No domingo passado os estudantes que retornaram às ruas foram recebidos com bomba de gás lacrimogênio, à vontade.

No Yêmen, no finalzinho do ano, milhares de pessoas engrossaram as passeatas na bela capital Sanaa e em outras dezoito cidades. Exigem que o presidente Ali Abdullah Saleh (que no dia 23 de novembro acabou transferindo oficialmente seus poderes para o vice-presidente para livrar a cara) responda processo pelas centenas de mortes cometidas sob suas ordens.
O povo está preocupado porque oficiosamente Saleh parece não querer desencarnar e para salvaguardar-se, espera um visto de entrada nos EUA, para tratamento de saúde, e pode assim fugir à sua responsabilidade.

A Líbia pós-Gaddafi continua governada pelo Conselho Nacional de Transição de Benghazi que marcou eleições para junho ou julho deste ano. Mas sem um governo nacional, realmente centralizado, que governe de fato.
É falho em todos os níveis.
Por exemplo, Saif al-Islam, filho de Gaddafi, foi detido em novembro e continua preso em uma casa perto de Zintan, uma cidadezinha montanhosa no sudeste de Trípoli; sem direito a advogado, visita, rádio, internet, televisão e com a única companhia de guardas armados que o alimentam três vezes por dia.
A Corte Penal Internacional solicitou sua extradição à Háguia para ser julgado por crimes contra a humanidade, mas o Conselho de Benghazi está empurrando com a barriga uma decisão que talvez não possa tomar nem provar que pode julgar imparcialmente o filho de Gaddafi.
Saif denunciou para o representante de Human Rights Watch a incapacidade do Conselho de Benghazi de cumprir a palavra de estabelecer democracia e justiça.
De fato, mais de sete mil prisioneiros próximos de Gaddafi estão detidos em prisões espalhadas pelo país, no mesmo sistema "incomunicado" de Saif. Sem advogado e sem perspectiva de julgamento. E o CNT ainda nem começou a investigação da execução de Muammar Gaddafi.
É por isto que o novo governo da Tunísia recusou a extradição do ex-primeiro ministro Al-Baghdadi Ali al-Mahmoudi. Temem que seja torturado.
Mas Aisha, a filha de Gaddafi que encontrou refúgio na Argélia, resolveu acionar a Justiça por conta própria. Contratou o advogado israelense Nick Kaufman, especialista em crimes de guerra, para solicitar à CPI que investigue a morte do pai.
Donatella Rovera, uma representante da Anistia Internacional entende o porquê disto, "Atualmente, é difícil falar de um judiciário independente na Líbia, pois não existe nenhuma autoridade central da qual se possa falar".
Por pior que tenha sido Gaddafi e por mais inconsequente que tenha sido Saif, que surpreendeu todos os que o conheciam e o tinham por inteligente e ocidentalizado, todo crime tem de ser devidamente julgado. E a Háguia é o melhor lugar para isto.
Sobretudo no caso de Saif, que tem muita história para contar. Inclusive sua relação, bastante chegada, com Tony Blair e seu possível envolvimento na libertação, em 2009, de Abdelbaset al-Megrahi, o terrorista líbio responsável pela explosão do Boeing da Pan Nam em Lockerbie, em 1988. Atentado que causou a morte de 259 pessoas.
Ou será por isto que ele esteja sendo calado?
Enquanto estas questões básicas não se definem, os negócios vão de vento em popa em Benghazi, há pequenas escaramuchas tribais e a população respira, embora alguns ainda não se sintam à vontade para bater-papo nos bares - após 42 anos de boca fechada, falar livremente não é fácil. Minha geração brasileira, que "só" foi amordaçada durante 20 anos, sabe.  
O certo é que o país tem de ser construído do zero. Começando por um sistema jurídico e policial democráticos até escolas e hospitais.
A riqueza do petróleo, que nunca beneficiou o povo, tem de ser utilizada em bens-públicos e as feridas deixadas pela revolução, profundas como um precipício entre as tribos rebeldes e das forças pró-Gaddafi, têm de ser curadas e as divergências tribais resolvidas para que a paz possa reinar.
Contudo, a corrupção da nova elite e a "entrega" do país às multinacionais ocidentais estão longe de ser descartadas.
Apesar das incógnitas políticas e econômicas, para ajudar o povo a sair do buraco, que venham os turistas! A Líbia é muito bonita, as ruinas romanas estão entre as mais bem preservadas; o deserto, junto com o da Tunísia, é o mais impressionante do planeta, Trípoli tem sítios históricos que valem a viagem e os líbios, como todo árabe, tem aquele sentido brasileiro da hospitalidade.

No final das contas da Primavera Árabe, quatro ditadores foram derrubados. Os dois primeiros citados, da Tunísia e do Egito, foram depostos, o líbio Muammar Gaddafi foi executado no dia 20 de outubro, e Ali Abdullah Saleh, do Yêmen, demitiu-se no dia 23 de novembro.
O ano de 2012 começou com grandes desafios que exigem decisões importantes.
Na Tunísia, segundo a ONU, mais de duzentas pessoas morreram durante a revolução e centenas foram feridas pelas forças militares de Ben Ali.
No tocante à política, a mudança é patente. Em outubro o país votou em um líder e elegeu Ennahdha, do partido islamita moderado. O atual presidente é Moncef Marzouki, um ativista de longa data, que devolveu a seus compatriotas o sorriso.
Porém, os revolucionários e a classe média tunisiana dizem que só saborearão o sucesso de seu Movimento quando houver mudança, social e econômica, concreta.

No Egito, a promotoria exigiu pena de morte para Hosni Mubarak, cujo julgamento está sendo seguido em todas as cidades.
Enquanto isto, o partido dos ativistas jovens que puseram o país de cabeça para baixo e enxotaram Mubarak só obteve 2% nas urnas e os Liberais laicos, apenas 9%.
Sessenta e dois por cento dos quinze milhões de eleitores que foram às urnas, segundo resultados preliminares, votaram nos partidos islamitas perseguidos durante o antigo regime, com predominância da Irmandade Muçulmana que dominará o Parlamento.
O destino do país está nas mãos da Irmandade, mas Mohamed Mursi, líder do partido, prometeu que a Assembléia Constituinte contará com representantes de todos os egípcios.
A eleição é baseada em um sistema complexo de representações e turnos. Os resultados definitivos de todas as Assembleias Legislativas locais e nacionais só serão conhecidos após as eleições que começarão no dia 29 de janeiro para a Câmara Alta, que corresponderia ao nosso Senado.
Após a posse, escolher-se-á uma comissão responsável pela nova Constituição. É por isto que a eleição presidencial está prevista só para fim de junho.
Os cristãos coptas, que vêm sofrendo perseguições em algumas regiões, estão divididos entre preocupação e otimismo. Mas é difícil imaginar como o Egito, que quer resolver seus problemas econômico-sociais e modernizar-se, obteria sucesso sem a contribuição da elite intelectual, sobretudo dos coptas.
Para o país sair do buraco o pragmatismo vai ter de falar mais alto do que o sectarismo e uma aliança ampla instalar-se.

E no vizinho abaixo, o Sudão, após quase cinquenta anos de uma guerra civil mediatizada por celebridades, em janeiro de 2011, a secessão foi efetivada.
O Estado do Sul, constituído por uma grande maioria cristã e de religiões indígenas, foi reconhecido pela ONU em seguida.
A separação legal não impediu que a violência continuasse na fronteira, causando cerca de três mil mortes.
E o presidente Salva Kiir este ano tem de enfrentar problemas econômicos e sociais complicados. Primeiro, tirar o país dos 80% de inflação em que está atolado e lidar com o retorno de 350 mil compatriotas e de cerca de um milhão de refugiados cuja volta está prevista em 2012.
No estado em que o país se encontra, prevê-se que cerca de 2,7 milhões de sudaneses do sul passem fome este ano.
E no meio deste caos social, a quem Salva Kiir acabou de fazer uma visita surpreendente?
A Binyamin Netanyahu.
Aparentemente, nada liga israel ao Sudão. Nem fronteira, nem religião, nem cultura, nem etnia. Por outro lado, são distanciados por mais de três mil quilômetros de terra e água...
Na perspectiva de Israel, o Suldão do Sul está geopoliticamente bem localizado porque serviria para bloquear uma suposta rota do Irã (um de seus maiores pesadelos) nessa área.
Como Tel Aviv só pensa em segurança total e armas para garantir o que não quer garantir com bom senso, desocupação e diálogo, o que a liga a Juba só pode ser armamento leve e pesado.
No fundo do poço, Salva Kiir escolheu vender a alma para o diabo (e para o braço armado da nossa América, no norte?) e virar base africana de um Israel governado por uma extrema-direita cega e implacável.
As vantagens fornecidas por Israel (e os EUA por trás?) são tantas, que Kiir chegou a declarar que está pronto a abrir uma embaixada em Jerusalém. Em toda ilegalidade internacional.

E por último, vem a Síria, palco de uma disputa de território acirrada entre Bashar el Assad e uma grande população revoltada.
Nos dez meses de revolta, a ONU afirma que mais de 5.000 mil pessoas foram mortas e o governo contra-ataca com a cifra de que os "terroristas" mataram 2.000 mil policiais.
Na verdade, ninguém sabe de nada. A Síria está fechada e os poucos jornalistas que acedem ao território vêem fatos isolados e não dispõem de nenhuma informação fiável. Até os observadores da Liga Árabe estão confusos
É certo que o regime de Assad, como o do pai e dos demais governantes anteriores, é autoritário e persegue seus opositores. Mas isto não é novidade.
A novidade é que o povo se diz farto.
Neste caso específico, há um componente religioso claro: Bashar é de confissão religiosa alauita, uma minoria chiita, e as outras duas facções muçulmanas chiitas e sunitas querem que ceda o lugar.
Os observadores da Liga Árabe afirmam que sua investigação in loco pode durar bastante, assim como sua intermediação e negociação com os beligerantes.
Voltaremos a este assunto mais tarde.

O ex-primeiro ministro de Israel Ehud Olmert foi indiciado por corrupção nas investigações do Caso Holyland, sob acusação de ter recebido propina, junto com o ex-prefeito de Jerusalém Uri Lupolianski e mais 17 funcionários do governo, para autorizar a construção de novas residências na cidade.
O Projeto Holyland é um dos maiores casos de corrupção da história de Israel. O processo começou em 2010 após uma denúncia anônima de que a construtora responsável teria desembolsado dezenas de milhões de shekels (moeda local) em propina para obter diminuição de impostos, de prazo e retirada de obstáculos ao seu empreendimento imobiliário no bairro Bayit VeGan de maioria de judeus ultra-ortodoxos.
Além do mal gosto de deformar a paisagem do sudoeste de Jerusalém, um pinheiral foi arrancado para acomodar o luxuoso complexo imobiliário e estima-se que pelo menos 300 objeções oficiais tenham sido arquivadas para viabilizar a obra.

"No matter what's happening in the Middle East - the Arab Spring, et cetera, the economic challenges, high rates of unemployment - the emotional, critical issue is always the Israeli-Palestinian one."
King Abdullah II

Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito III (1968-1974)


A vitória da Guerra dos Seis Dias foi a mais amarga das que Israel saborearia.
Esperava que os nativos se submetessem e que ficasse por isso, contudo, os nacionalistas palestinos não se conformaram com a perda de suas terras e de sua autonomia e resolveram lutar contra o ocupante começando uma luta clandestina que não pararia.
Ahmad Shuqeiri, impotente diante dos problemas que via, deixou a OLP nas mãos de Yahya Hammuda, originário de Lifta (cidade palestina que virou um fantasma de casas desapropriadas que Israel quer transformar em resort, mas que a Unesco pode salvar, agora que a Palestina, a seus olhos, tem direitos iguais aos nossos.
A gestão de Shuqeiri só durou dois anos.
Durante seu mandato, em 1968, o movimento palestino al-Fatah, sediado em Karameh, na Cisjordânia, é atacado com toda a potência pela IDF (exército israelense), aviões de combate, tanques, morteiros, em represália a um atentado do Movimento nos Territórios Ocupados.
O rei Hussein da Jordânia ordena que suas tropas não intervenham, mas o general Mash'hor Haditha e alguns oficiais derespeita a ordem e luta junto com os palestinos pela defesa da cidade.
Após 15 horas de batalha, a IDF bate em retirada.
Embora a participação dos soldados jordanianos tenha sido decisiva, o Fatah é festejado e sua popularidade e a de seu líder, Yasser Arafat, não pode mais ser negligenciada.
Virou capa de revista até nos EUA.

Em 1969 Yahya Shuqeiri foi substituído na direção da Organização para a Libertação da Palestina.
Seu substituto era o emblemático Yasser Arafat, conhecido também como Abu Ammar, seu kunya (nome dado a um adulto a partir da palavra mãe Umm ou pai Abu seguido do nome de seu primogênito).
A OLP começa a ativar nesse ano, com meios mais ou menos recomendáveis conforme o comportamento de Israel na Cisjordânia e em Gaza, e consegue reconhecimento internacional como o único representante oficial dos palestinos.
A guerra de guerrilha artesanal foi intensificada contra alvos militares e toda vez a retaliação era desproporcional, com aviões de ataque e até com napalm, e prisões arbitrárias.
E cada vez que o Egito e Israel entravam em conflito por causa do Sinai, como foi o caso entre 1968 e 1970, os palestinos pagavam o pato.

O mês de setembro de 1970 é citado pelos árabes como "a era dos acontecimentos lamentáveis".
Os palestinos localizados na Jordânia começaram um movimento para pôr fim à monarquia e o rei Hussein respondeu com toda a força ao desafio.
No dia 15 de setembro, o rei Hussein nomeou Habis al Majali comandante das Forças Armadas jordanianas, declarou lei marcial, e o brigadeiro paquistanês Muhammad Zia-ul-Haq foi encarregado do treinamento da operação de dizimação dos palestinos.
No dia seguinte um batalhão de tanques atacou os quartel-general da OLP em Ammam, Irbi, Salt, Swaileh, Baq'ah, Wehdat e Zarqa. Como as ruas de Amman são muito estreitas, o exército não conseguiu travar batalha na cidade e por isto os soldados foram de casa em casa à procura dos insurgentes derramando sangue e botando tudo de cabeça para baixo como a IDF nos territórios palestinos ocupados.
No dia 18 de setembro o presidente da Síria Hafez al-Assad tentou intervir em favor dos palestinos mandando três brigadas com tanques sob o comando do ramo sírio da Palestine Liberation Army (PLA) baseada em Damasco. Mas o Exército jordaniano pediu e conseguiu ajuda dos Estados Unidos, que querendo proteger seu aliado, solicitou ajuda de Israel que sobrevoou com seus aviões de combate o magro batalhão palestino que entendeu que não tinha nenhuma chance de conseguir chegar a Amman para ajudar seus compatriotas.
As perdas foram grandes e a luta durou até julho do ano seguinte, com a expulsão da OLP e milhares de palestinos para o Líbano.
Até então, 400 mil viviam na Jordânia, um terço da população.
No dia 27, o presidente do Egito Gamal Abdel Nasser convenceu o rei Hussein e Yasser Arafat a se reunirem com ele no Cairo para conversar e eles acabaram assinando um tratado que estipulava a legitimidade de ambos os lados e permitia que a OLP operasse na Jordânia.
Porém a morte do presidente egípcio Nasser deixaria os palestinos sem padrinho e o rei Hussein continuou sua campanha contra eles para ficar em paz com Israel e os Estados Unidos. Entre acordos e desacordos, acabou ordenando o confisco de todas as armas dos membros da OLP, que acabaram indefesos e obrigados a instalar-se no Líbano.
Por ironia do destino, o filho e herdeiro do rei Hussein mais tarde se casaria com Rania, a bela rainha que faz uninamidade no coração dos jordanianos, uma palestina.
A vida é mesmo imprevisível e o mundo é redondo e gira.
No final das contas, o massacre que ficou para a História como Black September deixou em 11 dias mais de 5.000 palestinos civis mortos. Em seguida os grupos de resistência se mudaram para o Líbano e uma facção mais combativa criou o grupo Black September em homenagem às vítimas do massacre.

Caçados na/da Cisjodânia e de Gaza, exilados no Líbano, alguns membros da OLP acharam que Yasser Arafat estava dando moleza para os israelenses e resolveram atacar por outro lado.
No grupo Setembro Negro que em 1972 transformou as Olimpíadas de Munique em um evento sangrento em vez de esportivo.
Era para ser a Olímpiada da ginasta russa Olga Korbut e do nadador estadunidense Mark Spitz, mas foi a do Setembro Negro. Em que todo o horror vivido pelos palestinos foi transferido para a Alemanha.
O que devia ser um ato político terminou na morte de 11 atletas israelenses. Deu tudo errado porque eram intelectuais e não soldados.
A operação foi chamada "Ikrit e Biram", nome de duas cidades cristãs palestinas cujos habitantes tinham sido exterminados ou expulsos pelo grupo para-militar israelense Haganah em 1948.
Eles atacaram como aprenderam com o Haganah e como a IDF continua a fazer até agora. No calado da noite. Um ataque covarde como os de seus ocupantes e adversários.
Pediram a libertação de 200 companheiros em troca dos nove atletas que sequestraram.
As autoridades alemãs concordaram com tudo e com o avião que os esperava, junto com tropas de elite, de tocaia.
Deu tudo errado. Nos disparos, os nove atletas foram atingidos e morreram no local.
Como se sabe, o Mossad executou todos os palestinos que participaram da operação Ikrit Biram.
Mas não como Steven Spielberg romantizou em seu filme homônimo, Munique. A vingança retaliativa foi cega e brava.
A então primeira-ministra Golda Meir, a Margareth Thatcher de Israel, deu carta branca para o Mossad executar um por um todos os palestinos de quem suspeitavam.
Mohammed Oudeh, conhecido como Abu Daoud, o cérebro da Operação Ikrit Biram afirmava que só três pessoas assassinadas pelo Mossad haviam participado do sequestro que terminou mal.

Abu Daoud morreu em Damasco no ano passado, com 73 anos. E publicou uma autobiografia, em francês: De Jerusalem à Munich.
E deu muitas entrevistas, sobretudo depois do filme controvertido de Spielberg.
Morreu sem nenhum arrependimento. "Não lamento nada. Antes de Munique, éramos considerados simples terroristas. Depois de Munique, as pessoas pelo menos começaram a perguntar Quem são estes terroristas? O que eles querem? Antes de Munique, ninguém tinha nenhuma ideia sobre a Palestina."
Depois, tiveram ideia errada.
Mas o "mundo" que manda pensou e decidiu: dos males, o menor.
No caso, era a OLP, que corrigiria o tiro e passaria pelas vias diplomáticas para transmitir o SOS que os palestinos enviam ao mundo, em vão, desde 1947.

Em 1974, na reunião de cúpula Árabe em Rabat, no Marrocos, a OLP foi reconhecida como o único representante legítimo do povo palestino.
Em seguida, Yasser Arafat foi recebido na ONU, discursou diante da Assembleia de membros constituintes e a Organização reafirmou seu engajamento (verbal) na soberania da Palestina.
O discurso de Arafat deixou saudade na juventude que em 2011 invadiu as ruas de Ramallah.
Advogou pela paz, depois disse, Hoje vim trazendo um ramo de oliveira e um revóver de lutador pela liberdade. Não deixem o ramo cair das minhas mãos."
Este discurso de Abu Ammar ficou para a posteridade e foi transformado em ato, nas iniciativas diplomáticas de Abu Mazen (nome familiar de Mahmoud Abbas).
Abu Ammar acreditava que com o ramo de oliveira recuperaria cidadania e paz.
A história diria em que tudo isto ia dar.

Yasser Rafat nas Nações Unidas em 1974

Documentário: One Day in September. De Kevin MacDonald.
Relata a Operação Ikrit Biram, em Munique.
 
  


Documentário : Promise Lands
De Susan Sontag
Filmado em 1973 logo após a Guerra do Yom Kippur
relata a opinião pública israelense sobre a situação com a Palestina


"Usando o conflito Israelo-Árabe como uma metáfora para a conduta humana, Susan Sontag conseguiu fazer um filme forte, claro e inteligente".
Roberto Rosselini


Documentário da BBC: Israel started it all

"The development of the crisis in the Middle East is both dangerous and instructive. For over 20 years Israel has expanded by force of arms. After every stage in this expansion Israel has appealed to “reason” and has suggested “negotiations”. This is the traditional role of the imperial power, because it wishes to consolidate with the least difficulty what it has already taken by violence. Every new conquest becomes the new basis of the proposed negotiation from strength, which ignores the injustice of the previous aggression.
The aggression committed by Israel must be condemned, not only because no state has the right to annexe foreign territory, but because every expansion is an experiment to discover how much more aggression the world will tolerate."
Bertrand Russel, 31 de janeiro de 1970

Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence  

Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements.