O dia 30 de março é o dia em que os palestinos comemoram o Dia da Terra.
Todo ano, desde 1977, passeatas são organizadas na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, nos países limítrofes e em países solidários com a causa destes milhões de desterrados.
O Dia da Terra marca o aniversário da morte de seis palestinos em 1976.
Durante as manifestações de repúdio ao confisco de dois mil hectares de terra palestina na Galileia.
A área "desapropriada" ia das cidadezinhas árabes Sakhnin a Arrabe.
Na época, o governo de Israel classificou a área de "zonas militares fechadas", mas na verdade, após o confisco que acabou acontecendo nas barbas da ONU, que cruzou os braços, as terras foram usadas para a instalação de "assentamentos" de imigrantes judeus em terras que há séculos pertenciam aos nativos árabes.
"Assentamentos" que foram agregados às cidades históricas palestinas para tirar-lhes a identidade, a alma e cercear a liberdade.
Na época, a IDF despachou mais de 4.000 soldados à região para calar os manifestantes.
No fim do dia, os feridos abundavam e seis corpos jaziam nas calçadas.
Fato corriqueiro na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Porém, foi a primeira vez que a IDF (Forças Armadas de Israel) matava palestinos-israelenses, ou seja, israelenses-árabes, como são chamados os palestinos que sobreviveram aos massacres e ficaram do lado ocidental da Linha Verde.
Hoje representam 20 por cento da população de Israel.
Vinte por cento de cidadãos que não gozam dos mesmos direitos dos cidadãos judeus de Israel. São vítimas de discriminação quotidiana que vai desde dificuldade de emprego a acesso a saúde e educação.
As duas gerações que cresceram no auto-declarado Estado de Israel, sofreram "lavagem cerebral" nas escolas para adequar-se ao conquistador de suas terras. Obrigados a cantar o hino israelense, aprender a história do invasor e não a própria, apagar pouco a pouco sua nacionalidade milenar, foram assimilados à sociedade sem serem assimilados e sem assimilar-se.
Foram postos em guetos com aparência de bairros em Telv Aiv, em Haifa, os cristãos fincaram o pé na Galileia e lá ficaram em Nazaré e em outras cidades históricas.
Com muita dificuldade.
Sempre policiados, cerceados, matracados "quando necessário".
Neste ano o calendário pregou mais uma peça em Israel e o Dia da Terra caiu na véspera da Páscoa.
O dia em que os bilhões de cristãos do mundo inteiro celebram a Ressurreição de Jesus justamente nessa terra inóspita em que foi crucificado para ser calado.
Terra em que é vedado aos cristãos nativos, palestinos, o acesso aos sítios sagrados.
Terra onde os palestinos são proibidos de aceder às igrejas àas quais os turistas acedem cercados pelos muros do apartheid que as agências de viagem, cúmplices de Israel, tentam evitar que os estrangeiros incautos percebam. Contornando muros e atravessando checkpoints que os turistas veem do alto como se fossem uma atração a mais, distraídos pelo guia israelense que decora os pontos principais da nossa história que ele recita sem alma e com veemência para abafar os ruídos das barragens em que os palestinos, sem mais nem menos, são bloqueados.
Como sempre, ONGs nacionais (palestinas e israelenses) e internacionais de Direitos Humanos organizaram passeatas para comemorar o Dia da Terra.
Como sempre, agências de turismo despejaram centenas de turistas ocidentais na Palestina desde o início da Semana Santa. Estes vieram agradecer o Homem que sacrificou-se pela humanidade e viver o evento único do Fogo Sagrado. http://mariangelaberquo.blogspot.com/2012/04/pascoa-na-terra-santa.html
Como sempre, a IDF estava preparada para pegar pesado, com balas de borracha, gás lacrimogênio (que despejaram à vontade em jornalistas e manifestantes), enfim, todo o aparato repressivo milionário que ostenta todos os dias na ocupação da Cisjordânia e nos bombardeios intermitentes da Faixa de Gaza.
No ano passado o Dia da Terra foi um dia a mais de violência da IDF In Pictures: Commemorating Land Day. Neste ano, idem, mas com mais cuidado por causa do novo estatuto da Palestina na ONU e por a opinião pública internacional estar cada vez mais vigilante ao que a IDF, o Shin Bet e o Mossad fazem.
Pois neste ano de 2013 teve um probleminha.
A coincidência com a Páscoa fez com que tivesse turistas demais nas paragens.
Portanto, desta vez, a IDF corria o risco de ferir ou matar algum gringo.
E se tem uma coisa que Binyamin Netanyahu sabe é que embora a vida de dez, cem, mil palestinos não valha nada na mídia internacional, na balança mediática, um turista ocidental baleado, sobretudo se for da Europa ou dos EUA, pode complicar a história da ocupação e deixar Israel ainda mais vulnerável às críticas dos cidadãos estrangeiros que tentam inspirar-se na magnanimidade do Homem em nome do qual fomos batizados.
As passeatas deste ano foram menores do que nos anos passados porque a repressão foi ativa durante toda a semana da Páscoa e os palestinos estão cansados de enterrar familiares.
Porém as ONGs de Direitos Humanos marcaram sua solidariedade a esta comemoração que com o passar dos 37 anos vem simbolizando um NÃ0 à desapropriação forçada, NÃO à ocupação, NÃO ao apartheid, e um SIM ao Estado Palestino, um SIM à desocupação civil e militar da Cisjordânia, trocando em miúdos um SIM ao respeito da Justiça Internacional.
E todos marcaram encontro para o dia 15 de maio, em que os palestinos celebram a Naqba.
Feliz Dia da Terra (atrasado) aos palestinos e Feliz Páscoa a nós todos!
As agressões de setembro de 2002 começaram no dia 03.
Faltou pouco para uma família palestina de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, ser esmagada por um caterpillar armado.
O mastodonte mecânico atacou na calada. Derrubou a parede da frente da casa em cima dos nove moradores que se encontravam na sala. Todos foram machucados, inclusive uma criança de 3 anos que foi hospitalizada em estado grave.
O drama destes gazauís só foi notícia na Faixa. Para a mídia ocidental, não passava de uma demolição a mais. A prática israelense virara uma constante que em vez de indignar cada vez mais quem testemunhava, banalizara este crime de desapropriação violenta e ilegal nos territórios ocupados.
No dia 05, Ariel Sharon rejeitou o plano de paz da União Europeia sem nem se dar ao trabalho de analisá-lo.
O plano propunha um esboço da Palestina sem fronteiras delimitadas. Estas seriam definidas após negociações intensivas que levariam a um Estado soberano três anos mais tarde. Ou seja, em 2005 - dez anos após o prazo dos Acordos de Oslo e jamais posto em prática.
O plano não podia ser mais ambíguo, mas mesmo assim Sharon declarou que era "inaceitável na presente forma." Que só "prejudicava" Israel no bloqueio da expansão territorial e na limpeza étnica que há anos vinha sendo praticada.
Quanto a Yasser Arafat, fez um discurso conciliatório que Sharon irrelevou da primeira à última palavra.
A IDF (Forças Armadas israelense) respondeu com dois ataques.
Um deles em Beitunia, cidade vizinha a Ramallah e à Mukata'a do líder palestino. A operação causou uma morte e dois feridos graves. Na leva de rregularidades, "homens" de 15 a 65 anos foram presos e amontoados nas viaturas militares.
O outro ataque da IDF foi isolado. Em Gaza. Um tanque atirou em um carro matando seus dois ocupantes.
No dia 12 foi a vez de Shujaiya, um bairro no leste de Gaza. De manhãzinha, na hora em que as feiras se abriam e os habitantes saíam para a igreja e a mesquita, dezenas de veículos militares "excursionaram" pelo bairro. Vandalizaram carros, destroçaram propriedades, aterrorizaram e impuseram toque de recolher às famílias.
No final do desfile destrutivo, uma casa tinha virado terreno vago, outras tinham ficado inabitáveis, e várias estavam com danos menores. Isto é, parede da frente derrubada, privacidade da família reduzida aos cômodos de trás e prejuízos enormes.
Mas isto também é uma constante e ficou longe dos jornais. Até eu resumo ao máximo. Se citasse todas as "operações" da IDF de demolição, vandalismo, destruição de propriedade, intimidação, terrorismo recreativo, encheria páginas e páginas de um relatório que no final ficaria monótono e repetitivo. Mas talvez ajudasse a explicar o porquê de bombas-suicidas explodirem de vez em quando em Israel e quão desigual eram (são) o tratamento que os dois povos recebem e a disparidade dos meios de combate.
Como por exemplo o que aconteceu no dia 16 e acontecia amiúde nos territórios ocupados. No checkpoint Abu-Holy, perto de Gaza, um soldado matou um palestino naquela mesma história do tiro ao alvo. Era um daqueles dias em que os soldados recebem ordens de azucrinar ao máximo a população local a encurralando mais tempo nas barragens. Em dias assim, em horas e lugares aleatórios (que são também mais correntes do que o suportável), os soldados param táxis e veículos particulares, obrigam todos os passageiros a descer, forçam os homens a tirarem a roupa, a exporem sua nudez aos filhos, a mulheres alheias e a estranhos que padecem da mesma sina. Ficam de molho durante um tempo suficiente para que a humilhação fique impressa na memória da vítima e que o respeito dos filhos vire fumaça. Depois são autorizados a seguir caminho.
De vez em quando um rebelde é punido com um tiro. Assim como os meninos quando jogam pedras nos soldados. Nos meninos atiram no joelho. Para o alvo perder para sempre a mobilidade. Isto quando não atiram no coração ou na cabeça. Nesse dia o exercício de tiro ao alvo fez mais uma vítima.
Uma banalidade.
E as agressões não vêm apenas dos soldados. Os "colonos" judeus contribuem bastante para o reino de terror ao qual os palestinos são submetidos no dia a dia. Os hebronitas são as maiores vítimas, mas não são as únicas.
No dia 17 de setembro de 2002, por exemplo, os invasores civis instalados nas colônias plantaram uma bomba no pátio de uma escola primária palestina em Yatt. A 15 quilômetros ao sul de Hebron. A bomba estava programada para explodir durante o recreio. Explodiu fora de hora. Por isto não houve perda humana, embora tenha chacoalhado a escola e ferido alguns professoros e muitos alunos.
Este tipo de ataque armado somado a tratamento cruel e escarnecedor dos colonos contra os palestinos, sobretudo as crianças, é quotidiano e crescente em estratagemas e violência.
Mas isso também já é uma banalidade.
Inclusive a destruição sistemática das lavouras e dos olivedos palestinos que resistiram ao tempo, a séculos de intempéries climáticas para serem destruídos por paulada e fogo provocado por mão "humana".
A resposta da resistência ou de dois pais fora de si por desalento, chegou dos dois lados da Linha Verde. De dentro, no checkpoint perto de Um El-Faham, um bomba-suicida explodiu levando consigo um soldado e ferindo dois outros.
De fora, em Tel Aviv, um bomba-suicida explodiu em um ônibus levando consigo cinco civis.
Nesse mesmo dia, o Quarteto sobre o Oriente Médio - Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas - elaboraram o Road Map for Peace, já anunciado em junho e que compreendia três fases, que deviam culminar com a autonomia palestina em 2005.
Porém, em Ramallah e em Gaza o ceticismo reinava quanto ao plano, à sua viabilização em tempo hábil, e à vontade do Quarteto de resistir às demandas gulosas do governo israelense.
Enquanto o Quarteto lucubrava um caminho retalhado para a paz, Ariel Sharon só pensava em retaliar, atacar, e acabar com Yasser Arafat.
No dia 21 de setembro de 2002, ele enviou um batalhão de tanques e caterpillars armados a Ramallah com a ordem de reduzirem a Mukata'a e as construções adjacentes a migalhas.
O batalhão postou-se em volta do complexo administrativo atirando sem parar. Tipo Bonny and Clide multiplicado por cem e armados de artilharia pesada.
Três dias mais tarde, no dia 24, foi o dia da Faixa de Gaza. A IDF investiu na calada da madrugada, desta vez com apoio aéreo. Com tropas, tanques, caterpillars armados, e os Apaches iluminando os alvos e limpando um e outro obstáculo com seus torpedos. Enquanto isso, a IDF ia abrindo passagem pelas ruas do norte e nordeste de Gaza logo depois da meia-noite.
Explodiram dinamites, demoliram casas, bombardearam fábricas. Visavam "terroristas e lugares onde fabricavam armas", foi a desculpa dada por Tel Aviv aos jornalistas, às ONGs de Direitos Humanos, a autoridades estrangeiras, enfim, a quem perguntasse a razão desta operação aleatória.
Nove pessoas morreram durante a investida e dezenas sofreram ferimentos leves ou graves.
No dia seguinte a IDF voltou à carga. Em um alvo reduzido.
Apesar disso, os soldados chegaram devidamente protegidos dentro dos tanques "crueis" que na IDF são sua segunda pele dos soldados.
Nessa investida, dinamitaram a casa do ex-prefeito de Dura. A destruição da residência de Namura foi uma punição pela suspeita de envolvimento de um dos filhos em uma operação militar da resistência contra soldados israelenses.
A família teve cinco minutos para deixar a casa com a roupa do corpo e mais nada. Perdeu todos os pertences. Além dos dois filhos que já estavam presos desde o ano anterior em uma prisão israelense. Talvez até sem julgamento, como centenas de prisioneiros políticos, não me lembro bem este caso preciso.
No mesmo dia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas votaram mais uma Resolução - N° 1435 - exigindo que Israel terminasse o sítio da Mukata'a e de Yasser Arafat. Fazia dez dias que o líder palestino se encontrava detido no prédio administrativo bloqueado por batalhões irremovíveis.
No dia 28, atendendo ao apelo de Marwan Barghouti - preso, mas ainda com voz ativa na liderança palestina - passeatas de milhares de compatriotas do líder do Tanzim eclodiram nas principais cidades da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. As vias se coloriram de bandeiras e as cabeças e os pescoços de mulheres, homens e crianças se cobriram de kefiés (kūfīyāt em árabe) pretos e vermelhos para ocupar o terreno em comemoração do início dessa Intifada Al-Aqsa.
Na Faixa, soldados israelenses abriram fogo contra uma destas passeatas pacíficas em Dir al Balah matando um jovem de 17 anos. Logo depois atiraram em crianças que lhes jovagam pedras na porta da escola bloqueada. Seis meninos foram feridos gravemente.
Mas as ruas não se esvaziaram. As famílias continuaram a desafiar o toque de recolher e o estado de sítio o dia todo na Palestina inteira. Só pararam na hora marcada por Marwan Barghuti.
No dia seguinte, sob pressão dos Estados Unidos, Sharon acabou com o sítio da Mukata'a. Entretanto, manteve Arafat detido nas ruínas da sede do governo palestino.
No dia 30, tanques israelenses bombardearam vários bairros residenciais de Gaza. Os feridos foram muitos. Em uma só casa mataram uma mulher de 43 anos e seus seis filhos. Em outra feriram gravemente seis membros de outra família, e assim por diante.
No mesmo dia, soldados da IDF mataram um menino no campo de refugiados de Balata. O menino estava voltando da escola para casa quando foi baleado. O "acidente" foi posto na conta da necessidade de Israel "impor respeito ao toque de recolher" que impedia a ida ao trabalho e às aulas. O menino foi morto "para servir de exemplo".
Serviria. Mas não de obediência e sim para a continuidade da resistência nas gerações futuras.
Outubro começou em efervescência.
As comemorações de dois anos de Intifada foram um sucesso popular. Porém, mais de doze palestinos de idades variadas foram assassinados neste período. Inclusive dois adolescentes que foram mortos nas passeatas.
Os enterros foram imensos e os nervos dos participantes estavam à flor da pele, além da tristeza ambiente.
No dia 03, Ariel Sharon, no final de sua visita à Rússia, contribuiu ao aumento da tensão.
Fez um convite público aos judeus russos para que emigrassem para Israel - seu objetivo foi sempre incitar a imigração askenasi, ou seja, de judeus brancos, de olhos claros, descendentes de filhos de mães louras europeias convertidas ao judaismo.
Para completar a provocação, o Primeiro Ministro israelense declarou que no processo de importação deste monte de imigrantes precisaria alojá-los.
Onde mesmo?
Em Israel?
Não, nos territórios palestinos ocupados.
Para isto invadiria mais terras e demoliria mais moradias palestinas para criar novos "assentamentos" a fim de alojar ilegalmente estes "colonos" importados.
A notícia caiu na Palestina como uma bomba. No sentido figurado.
No sentido físico, além de declarar publicamente que infrigiria ainda mais as leis internacionais, Sharon ordenou a retomada de operações militares na Faixa de Gaza.
Desta vez mandou a IDF investir o bairro Amal, em Khan Younés, no início da madrugada.
O barulho dos Apaches foi logo seguido de fogos de artilharia pesada contra as casas e seus ocupantes adormecidos.
Enquanto isso, os tanques e os caterpillars armados terminavam o trabalho derrubando residências e causando estragos.
No final do ataque noturno, dezessete habitantes jaziam mortos - metade deles eram crianças - e mais de oitenta feridos graves esperavam socorro das ambulâncias que as barreiras bloqueavam.
A brutalidade do ataque aos civis foi difícil de ser acobertadas.
Contudo, comoveu menos o público internacional do que a soldada morta por um bomba-suicida que explodiu em Tel Aviv no dia 10, ferindo mais dez militares.
A retaliação a esta ação da resistência foi imediata. Foram três dias de repressão e destruição na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Sharon mandou que a IDF pegasse pesado. Nos campos e nas cidades.
Os caterpillars foram vorazes. Esmagaram lavouras e demoliram moradias em cadeia. Muitas durante a noite.
Em Rafah, uma família nem teve tempo de escapar. O bulldozer esmagou o caçula dentro de seu carrinho que estava na sala.
No dia 15, a IDF prendeu o Mufti (intérprete do Alcorão, como o Fariseu era do Talmud israelita) de Jerusalém.
O motivo dado foi o sermão que o religioso fizera na mesquita Aqsa na sexta-feira anterior. No sermão, o religioso falou no nazismo israelense contra os palestinos.
Além de ser interrogado sobre isso, Ikrema Sabri foi questionado também sobre uma entrevista em que dissera que "um povo tem todo direito de defender-se contra os opressores e atormentadores que ocupam seu país militarmente."
No dia 16, após longa pesquisa e estatística, a B'Tselem divulgou um relatório acusando as forças de ocupação israelense de visarem deliberadamente a morte de crianças palestinas.
Neste relatório, a ONG israelense de Direitos Humanos demonstrou que 80% dos palestinos assassinados pela IDF durante o toque de recolher eram crianças.
"Curfew", disse o relatório Lethal Curfew, "is no longer a tool to meet specifi security needs, bu a sweeping means to collective punishment". "Shooting a person simply because he left his home during curfews constitutes excessive use of force". "And it creates problems for hundreds of Palestinians, increasing malnutrition and disrupting schools, and are so extensive that they violate the right to freedom of movement included in internacional law."
O relatório fez um pouco de barulho na mídia liberal e entre os pacifistas de maneira geral, mas ficou por isso.
No dia seguinte a IDF continuou sua campanha militar matando mais três meninos de 9, 12 e 13 anos no sul da Faixa de Gaza. Duas mulheres, de 72 e 32 anos. E dois homens de 27 e 45 anos, mortos em uma mercearia.
O número de feridos, nem anotei. É incrível como tudo na vida, por pior que seja, quando se repete muito acaba ficando repetitivo, se banaliza. É terrível!
No dia 19, milhares de gazauís seguiram a procissão funerária de Karam Mohammed Abu Obeid. Um militante das Brigadas Qassam que morreu no dia anterior em um confronto com soldados perto da colônia judia Doget, no norte da Faixa. Dois soldados israelenses foram feridos.
No dia 21, um carro-bomba explodiu no norte de Israel matando 14 pessoas. Incluindo os dois palestinos que jogaram o jipe carregado de explosivos artesanais na traseira do ônibus. A maioria dos passageiros eram soldados a caminho de Tel Aviv.
No dia seguinte, Ariel Sharon tomou medidas retaliativas draconianas.
Uma delas foi maquiavélica.
Soldados da unidade especial entraram em Nablus de ônibus na calada da noite para pôr o plano em prática.
O atentado foi orquestrado em dois tempos. Os soldados à paisana penetraram no campo de refugiados de Balata aparentemente à caça de "terroristas". Abandonaram o veículo e algumas horas mais tarde, quando os moradores de Balata estavam acordando, a bomba que a IDF deixara escondida explodiu ferindo treze pessoas.
Nesse dia, um membro da resistência disse, olhando os feridos, "Os sucessivos governos israelenses, que ocupam nossas terras e nos oprimem, maltratam, humilhan, nunca entenderam que se a Palestina fosse livre, soberana e com um Exército devidamente constituído, prescindiríamos de subterfúgios artesanais e lutaríamos de igual para igual para defender nossa Nação. Os bombas-suicidas são resultado do desespero, da impotência, da precariedade. Já eles [os israelenses] são uma das maiores potências bélicas do mundo, têm as armas mais sofisticadas que fabricam e que recebem dos Estados Unidos, e tentam nos espantar recorrendo aos nossos meios alternativos. Não despertam medo e sim desprezo. Pela covardia de nem se mostrarem, de atacarem de noite e deixarem a bomba explodir mais tarde. Se tivéssemos um quinto das armas que têm, já teríamos conquistado nossa independência há muito tempo, pois temos toda a coragem que lhes falta."
No dia 27, um bomba-suicida explodiu no posto de gasolina de uma colônia judia. Além dele, três soldados morreram e mais de trinta pessoas ficaram feridas.
A IDF retaliou na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Precisamente, em Jenin e em Rafah.
Em 36 horas, mataram dois adolescentes, demoliram residências e deixaram mais de vinte feridos graves.
Na saída, levaram dezenas de jovens prisioneiros.
Uma ruptura política em Israel marcou o fim do mês de outubro.
Os seis ministros do Partido Trabalhista se demitiram. Em protesto à verba que Ariel Sharon conferira à colonização no orçamento de 2003.
Assim terminou o governo de união nacional que já estava mais do que fragilizado.
O Primeiro Ministro, do partido Likud, ficou apenas com 55 dos 120 deputados do Knesset.
A aliança Sharon-Peres continuaria, já que o ex-pacifista do Partido Trabalhista estava para debandar publicamente para o outro lado.
E o bulddozer Ariel Sharon mais uma vez honrou seu apelido. Não se daria por vencido. Faria o que queria fazer há muito tempo e para manter as aparências se continha. Anunciou sua intenção de negociar com a extrema direita para continuar seu projeto de ocupação tranquilo.
Sim. Por incrível que pareça, havia uma direita mais extrema do que o Likud. Pessoas mais próximas de Ariel Sharon e de seus objetivos.
Veremos quem são no próximo capítulo.
Documentário Writers on the Borders, de Samir Abdallah e José Reynès, que documentam a visita que escritores consagrados tais José Saramago, Russel Banks, Bei Doo, Breyten Brejtenbach, Vincenzo Consolo, Juan Gortisolo, Wole Soyinka fizeram ao grande poeta palestino Mahmoud Darwich em 2002.
Reservistas da IDF, Forças israelenses de ocupação
Shovrim Shtika - Breaking the Silence
"For me as commander, that was extremely frightening. It was a team that had just concluded its basic infantry training, they had not had any kind of anti-terrorism warfare practice, the kind they hold at Adam. So it was quite scary for me, they were really young soldiers. We entered on jeeps in a rapid convoy and everyone had his antitank missile and something else. Only my own crew. . . let's say there were three crews and each had its mission within a larger scale operation. We had to mark houses to be taken over, searched. So we'd arrive in jeeps and close in on the house. We also had to search for someone inside the house, conduct an arrest while we're at it, so we had three tasks: closing in, doing what was needed, and waiting. At the time, closing in on the house was usually done with the "neighbor procedure". We'd go next door and ask someone to come with us. He'd knock on the door and wake the people up, asking them all to get out. Anyway, as we were doing this and starting getting back, we heard a phone ringing inside the home of the guy we were after, probably being warned. Okay, they opened the door and got the people out, and he wasn't there. We found his brother or something. So he'd be taken away instead, and the house would be searched. That was the usual procedure."
A resposta à pergunta que a mídia internacional se fazia sobre o Novo Barack Obama, o do segundo mandato, o que mostraria realmente a cara na política internacional, chegou no início de 2013 e continuou até o mês de março.
Não foi uma resposta com medidas radicais.
Foi com dois novos "ministros" e o novo diretor da CIA que mostrou a linha securitária deste mandato.
John Kerry virou Secretary of State, como vimos na semana passada, e com seu papel no Oriente Médio, ele deve voltar a estas páginas.
Mas hoje vamos ver dois homens ligados diretamente à Defesa e à Segurança que George W. Bush transformou em cavalo de batalha e que Barack Obama continua a galopar. Com algumas nuanças, mas em certos pontos, nem tanto.
Comecemos pelo homem da foto acima. Chuck Hagel. O ex-senador Republicano que foi para o Ministério da Defesa.
Hagel na Defesa é mais significativo do que um discurso de dez páginas e promessas vagas.
Hagel na Defesa é uma caução à política dos drones de espionagem e armados.
Hagel na Defesa é também uma vingança premeditada. Um tapa na cara da AIPAC, dos demais lobbys sionistas e uma mensagem clara ao "novo" governo de Israel: Engoli seu apoio a Romney calado, mas o troco não tarda por esperar.
Como Obama é homem de conciliação, de reflexão e poucas palavras, escolheu um herói da guerra do Vietnã que detesta guerra para dar o recado: Enough is enough!
Em Israel, os liberais pacifistas acolheram a nomeação de Hagel com salva de palmas.
Os sionistas radicais, Como Binyamin Netanyahu e seus cupinchas, têm de engolir o sapo calados.
Abro parêntese eleitoral antes de continuar.
Para uma brasileira, o sistema eleitoral estadunidense é anti-democrático. Mais próximo dos biônicos dos nossos militares que do de um país que tem como símbolo uma estátua da Liberdade.
É incrível que ninguém lá, nem os cientistas políticos, questione esse sistema arcaico em que o presidente não é eleito por sufrágio universal e sim por um colegiado.
Às vezes, muitas, acho que o liberalismo e o modernismo dos gringos são mais uma fachada do que um fato.
Eles estão sempre falando em liberdade de expressão, de culto, de ação, mas o discurso repetitivo é mais um mantra que encoberta as derrapagens.
A liberdade de expressão existe só na medida em que expresse o concenso comunitário.
Em todos os níveis.
Jornalistas são perseguidos e demitidos por não se conformarem e até Obama pisou na bola com o Matt Damon por causa de uma crítica legítima ao seu trabalho na Casa Branca.
Em 2008, o ator tinha feito campanha dedicada para o candidato democrata. Depois, desencantou-se do presidente eleito pelas mesmas razões que muitos desencantaram. Aí declarou que não estava gostando de sua performance, e o Presidente respondeu que também não gostara da performance do ator no filme de George Nolfi The Adjustment Bureau.
Uma resposta infantil como a do Fernando Henrique ao Chico Buarque em outra época, em contexto similar. Resposta que revela a fragilidade da tolerância, quando se é o alvo.
Voltando à vaca morta, até os liberais de Nova Iorque, no fundo, são conservadores na alma. Há um verniz liberal na maioria dos habitantes de Manhattan, de Brooklyn Heights, mas até esta é sujeito ao modismo.
O que todos querem por lá é mesmo continuar a mesma vidinha dos avós e dos pais e passá-las aos filhos.
Vira e mexe recorrem aos Founding Fathers para reforçar um argumento gasto ou enferrujado. É como se o mundo deles tivesse parado em 1776, quando a República foi criada.
Como se os parâmetros políticos que John Adams, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, John Jay, Thomas Jefferson, James Madison e George Washington definiram então fossem atemporais e imutáveis.
Como se o mundo não evoluísse e o sistema adequado a um país renascido na independência não fosse ultrapassável.
Segundo Joseph J. Ellis, "The Founding Fathers of the U.S. emerged in the 1820s as the last survivors died out. 'The founders,' or 'the fathers,' comprised an aggregate of semi-sacred figures whose particular accomplishments and singular achievements were decidedly less important than their sheer presence as a powerful but faceless symbol of past greatness."
Neste parágrafo de seu livro The Foundig Brothers, publicado em 2000 nos EUA, o historiador premiado com um Pulitzer, além de resumir a idiossincrasia gringa em poucas palavras, deixou entender, de maneira talvez involuntária, que a decadência do país levaria seus compatriotas a recorrer cada vez mais ao mito dos Founding Fathers.
Análise que se confirma ao pé da letra.
O poder, qualquer e quão real seja, ao esvanecer-se, brutal ou paulatinamente, deixa quase sempre no ex-poderoso uma nostalgia incurável.
Conto nos dedos de uma mão as pessoas que conheço, que perderam ou renunciaram ao poder, que tenham se conformado ao novo status quo com facilidade. Estas poucas que conseguiram eram pessoas extrordinárias - na profissão que exerciam e na consciência absoluta da efemeridade.
Mas isto é uma excessão que confirma a regra do apego à notoriedade.
Voltando ao sistema eleitoral dos EUA, o mais interessante é que foi calcado nos sistemas europeus do século XVIII, sobretudo do britânico. Que de aristocrático e colonial, já evoluiu bastante, apesar da sacrossanta House of Lords. Hoje, para a direção do país, do nobre ao faxineiro, todo voto conta.
O processo estadunidense de eleição de govenadores, senadores e deputados também não é muito democrático. Deixa muito pouco espaço para o voto ideológico. Daí a dificuldade ou impossibilidade de crescimento dos partidos ecológicos que estão na moda nos países ocidentais menos lá.
Mas Barack Obama foi eleito, e embora na Câmara Federal continue sem maioria que o deixe governar direito, continua a contar com o Senado e com uma nova senadora que é peso pesado, Elizabeth Warren, que está ocupando a vaga deixada por Ted Kennedy.
Acho que ainda está em tempo de desejara Obama boa sorte.
E bom senso.
Será que é pedir demais? Bom senso é incompatível com um defeito de Obama que parece incorrigível: o do compromisso. Foi assim que venceu na política, foi assim que perdeu sua batalha econômica com os parlamentares e talvez seja assim que suas boas intenções sejam minadas e ele acabe dando com os burros n'água. (Não! Não lhe desejo nenhum mal. Espero que ganhe a parada!)
Aliás, foi por causa desta vontade de não se indispor com ninguém que passou a batata quente das armas, ou melhor, de desarmar a população estadunidense que dorme com revólver debaixo do travesseiro, a Joe Biden. Mas isto é uma questão nacional que não interessa às Relações Internacionais.
Roupa suja se lava em casa. Esta sangueira fica nas mãos dos colegas estadunidenses.
Voltando ao Obama I, um dos perigos da eleição de Romney, além da irresponsabilidade de novas guerras desnecessárias, era o do batalhão de Atos Institucionais que Obama ia deixar-lhe. Atos absolutistas que nas mãos de um líder inescrupuloso só causaria desastres.
Pois hoje em dia nos EUA, a polícia tem direito de deter um cidadão "suspeito de terrorismo" sem julgamento e por duração indeterminada.
Das listas de pessoas assassináveis, "disposições matrizes", crescente frota de drones, veículos aéreos de combate não pilotados, ao direito de matar cidadãos estadunidenses sem processo, Obama dotou o presidente dos Estados Unidos de poderes quase absolutistas que deixam as liberdades individuais lá no tempo dos Founding Fathers.
Daí também a necessidade que Steven Spielberg sentiu de fazer o tal filme sobre Abraham Lincoln. No qual, diga-se de passagem, captou sem querer captar, a essência dos Estados Unidos. Dentro e fora. Ou seja, a do Quiet American que considera que todos os horrores são permitidos e perdoados; desde que sirvam à causa que lhes pareça válida.
No campo doméstico, as medidas de segurança nacional são exemplo que desnuda a farsa da liberdade. Um mito que Chuck Hagel cuidará de cercear ainda mais? com a política dos drones que pôs no mercado?
O presidente dos Estados Unidos é hoje juiz, júri e algoz potencial de todos os habitantes do país.
A NDAA (National Defense Authorisation Act) por exemplo, permite que o Presidente detenha qualquer concidadão sem julgamento e até sem provas - inspirada na lei similar israelense contra os palestinos.
A War on Terror que George W. Bush declarou após o ataque do Al-Qaeda em solo dos Estados Unidos em 2001, foi intensificada por Obama de maneira surpreendente, para um presidente democrata.
Os drones desarmados que já circulam no mundo inteiro (até em nossas fronteiras) para vigiar as riquezas alheias, e os drones armados, usados para torpedear sem nenhum gringo correr risco de vida, estão sendo fabricados a toque de caixa e estima-se que em 2020 a frota conte com 30.000 unidades.
Estes drones agora autorizados também em solo nacional para vigiar os próprios estadunidenses estão ajudando a apagar a tocha da Liberdade.
Enquanto os drones armados estavam sendo usados no Paquistão e no Yêmen para destruir propriedade alheia e matar estrangeiros, ninguém nos Estados Unidos se preocupava.
Mas quando se fala em usá-los em casa, aí os defensores de valores liberais se alarmam. Sobretudo após a quase eleição de um homem como Mitt Romney, passível de tomar a decisão errada.
Os "islamitas nacionais, por exemplo, estão à mercê da mesma discriminação ativa sofrida pelos japoneses durante e logo após a Segunda Guerra. De vigilânciaídem.
Aliás, "graças" às novas prerrogativas policiais ganhas com a War on Terror que o Movimento Occupy Wall Street foi foi sendo contido. O cerceamento das manifestações e passeatas foi feito com meios anti-democráticos que se usados alhures seriam criticados com lição de moral.
Em um mundo ideal, Obama começaria a pensar em revogar seus Atos Institucionais antes das próximas eleições. Sem o eleitorado latino ele jamais teria sido eleito. Mas nada garante que o potencial futuro candidato democrata, a estrela ascendente Julian Castro, receba a mesma mãozinha da população white se for o candidato do partido. E se a dona Hillary teimar em candidatar-se....
E como a tendência Republicana é que o partido continue a ser controlado pelo Tea Party, ou seja, a ala venal e fanática dos conservadores, seria bom que Obama prevenisse porque não seria nada fácil remediar.
Um país com tal arsenal militar e com a população se empobrecendo irrremediavelmente... enfim, foi assim que os alemães elegeram Adolf Hitler e fizeram vista grossa (não todos, mas a maioria) aos crimes bárbaros cometidos em suposto "interesse nacional". Das system, O Sistema, era a propaganda política hitlerista 80 anos atrás. Para que estas palavras não virem karma, seria bom que os Estados Unidos fosse modernizado e os Atos Institucionais revocados.
A população de nenhum país do planeta é totalmente imune ao vírus do extremismo e do fascismo. O "acidente" em julho de 2011 na Noruega é prova disto. Se até no 1° Mundo, ou seja, na Escandinávia, tem extremistas, imagine o 2° Mundo e um país desigual como os EUA!
Sem transição, passo ao órgão de apoio externo à Casa Branca e ao Ministério de Defesa dos EUA. Ou seja, a CIA. Cujos atos, no final das contas, afetam o mundo todo - como o nosso Cone Sul pôde constatar na Operação Condor que patrocinou os golpes militares no Brasil, Chile, Argentina e Uruguai, com as consequências drásticas que a história recente está aí para provar a quem tem menos de 50 anos.
Só para lembrar, A Central Intelligence Agency, vulgo CIA, foi criada em 1947. No pós-guerra. Inspirada no Military Intelligence Section 6, vulgo MI6 britânico. Uma divisão do Secret Intelligence Service, vulgo SIS.
O Secret Service Bureau (SSB) de sua majestade engloba o MI6 - de Inteligência externa - e o MI5 - de Inteligência interna - e opera sob controle de um comitê nacional de Inteligência. O SSB foi criado em 1909 para controlar as operações de Inteligência no exterior. Sobretudo as atividades do governo imperial alemão. O MI6 e o MI5 se consolidaram na Primeira Guerra Mundial e representaram um papel importantíssimo para os aliados na Segunda Guerra.
Impressionados com a organização do ex-colonizador, os EUA quiseram ter a mesma coisa em casa. Um serviço de Inteligência calcado nos moldes ingleses. Inclusive com o recrutamento dos agentes em uma grande universidade. Na Inglaterra era a Universidade de Cambridge. Nos EUA seria a de Yale.
(Aliás, Robert de Niro fez um filme excelente sobre a construção da CIA, cujo trailer está abaixo)
Pois bem, o tempo passou, a CIA virou o Big Brother planetário que faz e desfaz revoluções, governos, e alimenta ditadores e mercenários nas zonas de interesse volátil dos Estados Unidos.
A CIA espiona por todo lado e seus diretores participam até de negociações externas entre governos alheios aos EUA, como é o caso do conflito Israel vs Palestina.
Uma de suas crias mais controvertidas foi John O. Brennan, que retorna ao "lar" por cima após 25 anos de serviço e quatro de "ostracismo". Ostracismo da CIA e de fachada, já que seu afastamento não impediu seu admirador recém-eleito presidente de contratá-lo como conselheiro anti-terrorismo da Casa Branca.
Obama lhe deu este cargo porque noviço no cargo de presidente e conciliador nato, não ousou então peitar a imprensa e as ONGs de Direitos Humanos que denunciavam em altos brados que Brennan havia aprovado, ou no mínimo feito vista grossa, ao uso e abuso de métodos de tortura bárbaras.
Foi então que Obama, em vez de nomeá-lo diretor da Central de Inteligência, deu-lhe um cargo ainda mais importante.
No segundo mandato, criou coragem e pôs o homem lá onde o queria há quatro anos.
Assim fechou o círculo da política dos drones.
Brennan é o arquiteto das operações "secretas" de Obama no Yêmen.
Brennan seguiu de perto a escalada dos ataques dos drones armados no Paquistão.
Brennan é o homem que ia para a televisão justificar, com discursos inacreditáveis de cinismo oportunista, a "legalidade" e a "moralidade" dos targeted killings - assassinatos comandados.
Quer queira quer não Brennan é o homem da tortura e do assassinato puro e simples através dos drones armados.
Alguns veteranos e especialistas externos na CIA questionam a nomeação, aprovada pelo Senado, deste homem de 57 anos que era um deles, mas que consideram distanciado. Questionam como ele poderá, após anos submerso nos porãos do anti-terrorismo, levar a Agency para o cerne de sua missão - de roubar segredos de governos estrangeiros e fornecer análise em longo-prazo.
Mas fecho este capítulo com uma frase do ex-candidato republicano à presidência John MnCain. O senador republicano foi torturado quando preso durante a guerra do Vietnã e é um dos maiores oponentes ao "interrogatório coercivo" - como a tortura é referida aos ouvidos sensíveis. Declarou logo depois da nomeação do novo diretor da CIA, que estava preocupado com o papel que Brennan "played in the so-called enhanced interrogation programs while serving at the C.I.A. during the last administration, as well as his public defense of those programs.”
Mas digam o que disserem, Obama está determinado a fazer as coisas à sua maneira, neste segundo mandato. A herança que deixar vai ser o que ele é. A História julgará. Por enquanto, os drones continuarão a espionar cidadãos estadunidenses, nós e o mundo, e a bombardear quem e o quê o Quiet American julgar nocivo ao seu way of life e para a paz fictícia reinar dentro dos EUA.
Como ando em uma fase otimista, gostaria de acreditar que Barack Obama vai aproveitar esta segunda chance de fazer coisas certas.
Dentre elas, parar os tais drones que até o ano passado, só no Paquistão, mataram, sem falar nos adultos, mais de 176 crianças.
A título de comparação, dezesseis vezes o número que Ben Laden matou no ataque às Torrres Gêmeas em Nova Iorque.
Estima-se a mil e tantos civis mortos pelo mesmo dirigível letal.
A teconologia foi desenvolvida oficialmente para combater o Al-Qaeda.
As ONGs de Direitos Humanos questionam este programa militar e até alguns políticos. Estes, por causa das ramificações legais e diplomáticas do uso deste artifício letal.
Sem contar os drones preparados para uso em território nacional. Estes representam uma parte ínfima das medidas que atentam às liberdades individuais.
Não se esperava que um ex-professor de Direito autorizasse assaltos a liberdades civis e constitucionais básicas, mas Obama não se acanhou ao assinar embaixo.
Embaixo de autorizações para grampeamento de telefones, prisão indeterminada sem julgamento, punição "exemplar" de whitleblowers, convocação policial de ativistas pacifistas, confisco de computadores e celulares, repressão violenta de passeatas pacíficas e detenções em cadeia para controlar passeatas.
O ex-professor de Direito recorreu à defesa do Segredo de Estado para acobertar ações ilegais secretas, espionagem doméstica por policiais e agentes do FBI contra minorias e comunidades ativistas, chegando ao cúmulo de criminalizar o discurso político.
Se Obama quiser pode começar a redemocratização do sistema e a restauração das liberdades civis e individuais. Se não, temo que a imprensa fale cada vez mais em uníssono e o ativismo político-social, que sempre fez avançar as causas humanistas nos EUA, seja perigosamente abafado.
A outra guerra paralela à War on Terror é a War on Drugs, que também é outro fracasso que deveria ser revisado.
Obama poderia corrigir também a posição ambigua dos EUA na política ecológica internacional. Mas aí tem a estória das eleições dentro de quatro anos e os milhões das multinacionais que poluem mais.
Mas está ao seu alcance, se tiver coragem e for determinado.
Assim como está ao seu alcance parar de apoiar os regimes corruptos e autoritários nos países árabes. E Israel. Que é a causa principal da raiva dos árabes dos Estados Unidos.
Pois na verdade, a ocupação, a violência e a praga da corrupção do Mali ao Paquisão estão intimamente interligadas.
São parte de um sistema mais amplo que os Estados Unidos e a Europa ajudaram a moldar a fim de manter sua influência por lá.
A abordagem da política do Oriente Médio teria de ser feita a partir de uma agenda cujas prioridades fossem os Direitos Humanos, civis e políticos de todos os povos - homens e mulheres, xiitas e sunitas, judeus, alauitas e cristãos, árabes, amzigh, druzos, sahrawis, armênios e kurdos; todos, sem exceção. Só assim a Casa Branca conseguiria pressionar Israel, Arábia Saudita, Irã, Marrocos, a uma mudança fundamental no tratamento de seus concidadãos e fazer com que respeitem os cidadãos estrangeiros cujos territórios e vidas controlam.
Com Chuck Hagel, John Kerry e John Brennan, Barack Obama, se quisesse, poderia finalmente tratar com Binyamin Netanyahu, Avigdor Lieberman, Ehud Barak sem complexo nenhum.
E vale lembrar que Hagel era uma das únicas vozes em Washington a defender a necessidade de negociar com o Hamas.
Mas deve ter mudado de ideia, já que Obama, nesta sua primeira viagem 2013 ao Oriente Médio, não concordou em encontrar Mahmoud Abbas com nenhum líder do Hamas e é bom provável que repita a lenga lenga conhecida do apoio a Israel e pressão sobre os palestinos para que abdiquem do mínimo.
Este posicionamento sectário só aumenta a divisão entre o Fatah e o Hamas. E só serve a política da extrema-direita sionista de dividir para reinar.
É pena que o orgulho, os preconceitos e os defeitos de Obama primem sobre sua inteligência e o bom senso.
Trailer de The Good Shepherd, de Robert de Niro.
Pro-Palestinian campus activism is stirring debate at Harvard College as students marked the ninth annual international 'Israeli Apartheid Week'. Members of the Harvard Palestine Solidarity Committee posted more than 1,000 mock eviction notices on some dormitories, notifying residents their rooms were “scheduled for demolition in the next three days”. The notices also provided information about the thousands of home demolitions that take place in the Occupied Palestinian Territories. The US-based Anti-Defamation League expressed outrage over the tactic and called it "designed to silence and intimidate pro-Israel advocates at Harvard and campuses around the country". Several news sites in Israel and the US erroneuously reported that the notices targeted Jewish students on campus.
John Kerry, o novo ministro das relações exteriores dos Estados Unidos, lá chamado Secretary of State, passou a semana enrolado com a Síria.
Ele foi à Arábia Saudita visitar o príncipe Saud al-Feisal (ditador aliado, portanto, "bonzinho") a fim de "assegurar apoio saudita" para seu plano de armar os rebeldes "moderados" da Síria.
Rebeldes moderados... Bom, boa sorte para quem conseguir distinguir o joio do trigo no terreno e não armar o rebelde errado.
Como aplaudi a saida da madame Clinton e a nomeação de John Kerry( em vez da primeira escolha de Obama - a embaixadora EUA na ONU Susan Rice ) lamento muito ter de discordar dele tão cedo.
Lamento mesmo.
Primeiro, porque ele afirma estar determinado a impor a Israel a solução dos dois Estados no Oriente Médio - que a boa vontade e o bom senso perdurem!
Segundo, porque ao contrário da madame Clinton - que tinha agenda própria e ignorância internacional proporcional à ambição presidencial que a obceca - Kerry é mais preparado para o cargo e tem boas ideias.
Simplificando, ele é um "good american".
Um pouco menos bitolado do que o célebre Quiet american de Grahan Greene, parece.
Suas posições no Senado indicam pelo menos dinamismo e curiosidade.
Porém, como intenção e gesto raramente se traduzem em sucesso, neste caso sírio, tenho de discordar do plano de Kerry porque até arrepio quando ouço falar em "armar os rebeldes".
Não é que eu queira que Bashar el-Assad se sinta livre para esmagar gente e prédio desenfreadamente até que a Síria seja totalme arrasada. É que há duas coisas que não consigo entender.
A primeira é como esta seleção entre moderado - extremista é possível, hoje, na Síria.
É, na teoria. Mas na prática,é uma miragem.
Por exemplo, por desencargo de consciência, os Estados Unidos podem armar a Free Syrian Army, reforçar seus militantes e ajudá-los a destruir o país mais depressa.
Mas como a transferência militar vai passar, como sempre passa nessa região, pela Arábia Saudita e não dá para confiar de jeito nenhum nessa família real...
Os ditadores sauditas sempre detestaram os Assad - alauitas incontroláveis - e estão sempre prontos a ajudar os Estados Unidos de olhos fechados. Contanto que a Casa Branca não conteste a legitimidade de seu próprio regime autoritário.
Por este prisma, podem garantir sem perigo que as armas, cada vez mais pesadas, continuem a atravessar as fronteiras dos países vizinhos.
Mas quem garante que a família real saudita vai armar a Free Syrian Army e não os para-militares islamitas que se infiltraram para combater Assad? Ora, muitos destes são sunitas Wabbabis ou salafistas - como os responsáveis pelo atentado das Torres Gêmes em Nova Iorque e como os governantes sauditas.
O esporte preferido de grupos salafistas como al-Nusra é perseguir os xiitas.
E como acontece com todo fanático extremista, só suas próprias convicções são admissíveis. Portanto, depois de acabar com Assad e os alauitas, vão certamente acabar com outros grupos xiitas. Em seguida, com os sunitas moderados da Irmandade Muçulmana. E depois..., bem, depois acabarão com todos os não salafistas. Até chegar à limpeza dentro do próprio clã.
O extremismo não tem nuança e nem limite. (A charge à esquerda critica o "wabbabismo" através das baratas que saem da Arábia Saudita para infestar os demais países árabes).
John Kerry, os EUA, a Grã-Bretanha, a França, enfim, os países ocidentais que estão privilegiando a luta armada - em vez da solução russa de forçar, literalmente, todos a uma reunião civilizada para conversar - estão brincando com fogo.
Aliás, embora não seja neófito em política internacional, Kerry pisou na bola em Ryad.
A uma pergunta se armar os rebeldes não era uma preocupação (a mais), falou sobre a ajuda militar que Assad estaria recebendo da Rússia, do Irã,... e do Hezbollah.
Peraí!
No mês passado os israelenses divulgaram com estardalhaço que haviam capturado um comboio de armas de Assad para o Hezbollah... Quem está armando quem mesmo?
O certo é que ninguém sabe de nada.
Só se sabe que tanto Assad quanto os "rebeldes" bombardeiam hospitais e o que querem.
Muitos grupos "rebeldes" sequestram, estupram e matam indiscriminadamente. Até mais do que as tropas oficiais.
Mas isso não se pode falar porque não é "policamente correto" revelar os tropeços dos "rebeldes".
Circular na Síria a salvo, só com o Exército de Assad e com seus oponentes da Free Syrian Army.
E olha lá!
Nesta guerra civil, se já teve, não tem mais bandido e mocinho.
Armar não é solução para nada. Talvez bloquear os radares de Assad, mas tem de ser em concertação com a Rússia, o Irã e a China.
Se não, aí a jurupoca vai piar.
Até quem não está no terreno e não segue os eventos vê que a situação na Síria está deteriorando sem parar.
Dizem as ONGs internacionais que mais de 70.000 pessoas já foram mortas nestes dois anos de combate.
É uma estimativa possível. Embora seja impossível contabilizar com certeza.
Quase dois milhões de habitantes foram obrigados a deslocar-se. Dentro e para fora das fronteiras. Os países vizinhos estão cheios de refugiados.
São eles que são entrevistados pelos jornalistas que não têm acesso à Síria ou têm medo de adentrar zonas inóspitas.
E é a versão deles que vai para os jornais e provoca revolta dos estrangeiros de alma sensível ou descendentes de sírios.
Aliás, na semana passada, conversando com uma executiva de uma das maiores ONGs internacionais de Direitos Humanos, a ingerência na Síria voltou à pauta. Por causa destes depoimentos horríveis.
Seu argumento foi uma variação sobre o mesmo tema que alimenta as reuniões mundanas de pessoas "politicamente corretas" nas capitais europeias.
A maioria absoluta destas boas almas sempre foi a favor da ingerência.
Há alguns meses, estas pessoas defendiam apoio, incondicional, aos rebeldes, e um bombardeio puro e simples.
Hoje em dia, argumentam que a OTAM deveria ter agido em 2011 e acabado com Bashar el-Assad no início. (E calam-se quanto aos atentados que a oposição a Assad tem levado a cabo matando muitos civis.)
Os que defendem a medida drástica de intervenção direta, citam como exemplo a Tunísia e o Egito.
Eu, refratária a mudar o mundo em jantares e bares, mantenho minha posição de pé firme.
A ingerência só se justifica e só dá frutos democráticos e pacíficos quando é exercida em um conflito internacional.
Ou seja, entre dois países que se confrontam e um deles corre o risco de ser riscado do mapa - como foi o caso do esfacelamento da ex-Iugoslávia; ou quando um país ocupa outro e procede a uma limpeza étnica - como o que Israel está fazendo há décadas na Palestina.
Aliás, as mesmas pessoas apressadas em intervir na guerra civil na Síria emudecem quando a questão é intervir na Palestina.
(É aquela velha história da "coragem" de opiniões consensuais. Só tomada quando não representa perigo na própria vida social.)
Voltando à vaca já esquálida da Síria, onde o problema é doméstico, sou contrária à intervenção estrangeira para salvar qualquer que seja o lado.
Transpondo para a geopolítica, roupa suja tem realmente de ser lavada em casa.
Pois um estranho que interfere, intercede para o que parece mais fraco, toma partido sem conhecer o fundo da história que gerou a discórdia. Entra mesmo é de gaiato.
Ora, o visível é quase sempre claro.
O invisível, ninguém, mas ninguém mesmo que está de fora da família, da comunidade, da nação cujos cidadãos beligeram, tem condições de determinar quem é mesmo culpado, se a culpa não é compartilhada e como ajudar a vítima sem aumentar o trauma.
A experiência me levou à humildade.
O visível na Síria, no ano de 2010, que viu o surgimento do que foi chamado Primavera Árabe, era um regime autoritário dirigido por Bashar, herdeiro do golpista Afez el-Assad.
A simpatia dos democratas ocidentais e dos revolucionários de bar estava com o punhado de "rebeldes" da Irmandade Muçulmana que gritava "Abaixo Assad". Sem entrarem nos meandros do porquê de a Irmandade Muçulmana querer derrubá-lo.
Por que queriam tirar Assad de Damasco?
Não porque Bashar era ditador e ponto final.
Era porque seu pai havia permitido o bombardeio de Hama trinta anos antes a fim de estancar o crescimento da Irmandade Muçulmana, calá-la na marra e empurrar para o exílio suas vozes religiosas exaltadas.
Errou, é claro.
Sua atitude e suas medidas de repressivas foram e são condenadas e condenáveis.
Mas o problema é da Síria e dos sírios.
Aí outros argumentam que não é normal que Assad, um alauíta, isto é, de confissão religiosa minoritária, controle o país onde os sunistas são majoritários.
Pois é, mas as mesmas pessoas que dizem isso calam-se quando o assunto passa para o Bahrein, que vive um caso inverso com consequências iguais ou piores do que na Síria - uma família sunita que governa com violência uma população xiita majoritária. (vídeo abaixo)
Na Síria, se os rebeldes não tivessem sido armados no começo o país não estaria no caos atual.
É certo que a Irmandade Muçulmana estaria em pior situação do que estava, pois Assad talvez não perdoasse a rebeldia (apesar de prometer anistia).
Porém, esta é a história da Síria.
Duvido que um governo novo mude o jeito do "olho por olho" de governar.
Se, se, se, enfim, se não muda nada.
São águas passadas.
O se final é que uma providência tem de ser tomada para que Damasco, Aleppo e todas as antiguidades maravilhosas que estão hoje em pedaços sejam protegidas dos assaltos de "rebeldes" com agenda própria. Eles acham que atacando as igrejas, os sítios arqueológicos romanos, enfim, a riqueza milenar síria, atacam Assad.
Rebeldia seletiva da qual não se pode falar porque cristão que defende sítio cristão é reacionário. Cristão "moderno" só pode condenar vandalismo contra mesquitas e sinagogas.
Na Síria, a população tem de ser protegida. Mas de todos os homens que carregam armas.
E qualquer quer seja o acordo, querendo ou não, tem de incluir Assad e o partido Bath.
Nem que seja para ele proceder a uma democratização à russa, a passos lentos, mas em direção a uma mudança de mentalidade.
Pois até Bashar sabe que tem de democratizar.
Porém, tem de ser à maneira que a Síria pode e conhece.
Enfim, o jeito que o país achar melhor. Não nós.
Continuo com a mesma opinião de 2010. A revolta na Síria não foi popular como na Tunísia e no Egito. Lugares em que a Irmandade Muçulmana acabou aproveitando a deixa para sequestrar o movimento dos estudantes e galgar ao poder nas costas dos revolucionários.
(E o problema foi só adiado).
Se a revolta na Síria tivesse sido popular mesmo, Assad não teria conseguido manter-se no poder nem a pau - literalmente. Os soldados teriam desertado para o lado dos familiares e o governo teria vindo abaixo. Isto é um fato.
Na Síria, nem o general amigo-irmão de Bashar el-Assad, ao desertar e emigrar para a Turquia - a fim de pleitear o trono que dizia que Bashar vagaria em curto prazo - conseguiu induzir deserção em massa das tropas que comandava.
Nem ele, nem outros oficiais graduados, nem os ministros que abandonaram Damasco.
Portanto, a maioria da população não deu as costas a Assad.
E no final das contas, é sempre a maioria que decide.
Como disse em relação ao Irã, em ditadura, o processo de amadurecimento da população é gradual, progressivo. A emancipação de um povo tem seu próprio ritmo. Ritmo que não pode ser acelerado por vontades e forças alheias ao processo.
Os EUA intervieram no Iraque com resultados dramáticos. E na Líbia, que está caminhando para o caos social a passos largos.
Pensar o contrário, que os "coitados" dos sírios PRECISAM da ajuda ocidental, porque são fracos, é um paternalismo insuportável.
A Espanha e Portugal foram viveram regimes ditatoriais durante décadas. Em plena Europa. O general Francisco Franco e o econismta Antônio de Oliveira Salazar ficaram bem instalados em suas ditaduras represssivíssimas até a morte, natural, em ambos os casos. Sem que nenhum pas europeu pensasse em intervir para salvar os "coitados" dos espanhois e portugueses dos ditadores que se mantiveram tranquilos em seus tronos.
Por quê?
Por que intervir nos países árabes, dar lição aos iranianos, acelerar um processo para o qual o povo não está preparado?
Será que é por paternalismo, misturado de alta dose de imperialismo e cobiça dos 1% de bilionários que querem parasitar os recursos naturais alheios, custe o que custar?
Repito. A intervenção militar é impraticável.
É por saber disto que Putin - único presidente do mundo dito civilizado que está realmente bem informado sobre o que acontece na Síria - anda dizendo Basta. A todos os lados.
Ofereceu-se para resolver o problema à sua maneira. Como pode e como sabe.
Como?
Reunindo todos em volta da mesa de diálogo, a fim de concertarem um plano de reconciliação nacional.
Todos são, Assad e os chefes dos grupos rebeldes identificáveis + os países interessados na resolução do problema.
Tanto as potências ocidentais quanto os árabes.
Pois Putin sabe que não adianta nada os Estados Unidos se reunirem só com seus aliados árabes - Arábia Saudita e os vizinhos de regimes igualmente autoritários - para os quais Assad é uma pedrona no sapato.
O único jeito de acabar com esta guerra civil e sectária é reunindo todos os interessados. Inclusive o Irã e o Hezbollah.
Até os Estados Unidos sabem por onde a solução tem de passar.
Contudo, preferem ver a Síria reduzida a migalhas, todas as maravilhas antigas espedaçadas, a história cristã dos primeiros séculos pulverizada, dezenas de milhares de civis virarem efeitos colaterais de uma disputa absurda, caduca, do que concordar em sentar à mesma mesa com um iraniano para dialogar de igual para igual.
Questão de princípio, dizem.
Questão de soberba, dizem, off the record, até alguns aliados.
Os EUA gostam de brigar, mas conversar, acham difícil - sua diplomacia está longe de fazer parte da elite diplomática internacional.
Vitória com drones é fácil e segura. Mas ganhar batalha verbal, aí precisa de discernimento e sabedoria.
A Síria só vai conseguir resgatar-se se Barack Obama baixar a crista, ser magnânimo (é pedir demais?) e deixar Vladimir Putin tomar as rédeas com prumo.
Gostam de dizer que a culpa dos excessos na Síria são de Putin. Que o Kremlin protegeu Assad por interesse próprio, impedindo que a OTAM interviesse como fez na Líbia.
É inegável que a Rússia tem interesse próprio na Síria - o único país no Oriente Médio e países árabes em que tem base militar.
É também inegável que a preocupação dos russos é legítima.
Os Estados Unidos dispõem de 662 bases militares em 38 países estrangeiros. E tem militares baseados em 130 dos 193 países membros das Nações Unidas.
Nos países árabes, suas bases principais são no Bahrein - Bahrain International Airport, Sheikh Isa Air Base; em Oman - Masirah Air Base, Thumrait Air Base; no Qatar - Al Udeid Air Base; na Arábia Saudita - Eskan Village; na Turquia - Incirlik Air Base; nos Emirados Árabes - Dhafra Air Base.
A Rússia só tem uma. Em Tartus, uma bela cidade que é um dos dois maiores portos da Síria. No Mar Mediterrâneo. Uma ilha de tranquilidade no grande campo de batalha que virou a Síria.
Foi por causa de suas bases militares que os EUA protegeram como puderam os regimes autoritários da Arábia Saudita, do Bahrein e do Yêmen dos movimentos revolucionários ferozmente reprimidos pelos dirigentes pró-estadunidenses.
Portanto, seria ingenuidade e até hipocrisia acusar Putin de defender Assad em benefício próprio.
É aquela história dos dois pesos e duas medidas. É esta história antiga, que a ONU foi criada para remediar, que atrapalha o equilíbrio dentro e entre os países do mundo.
Documentário da Al Jazeera: Bahrain, shouting in the Dark
Post Scriptum: uma lembrancinha de um pedacinho da maravilha arquitetural e histórica que era a Síria até 2010.
O país abriga (abrigava) sítios arqueológicos que datavam de antes e do início do cristianismo.