domingo, 31 de março de 2013

A Palestina celebra a Páscoa e o Dia da Terra



O dia 30 de março é o dia em que os palestinos comemoram o Dia da Terra.
Todo ano, desde 1977, passeatas são organizadas na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, nos países limítrofes e em países solidários com a causa destes milhões de desterrados.
O Dia da Terra marca o aniversário da morte de seis palestinos em 1976. 

Durante as manifestações de repúdio ao confisco de dois mil hectares de terra palestina na Galileia. 
A área "desapropriada" ia das cidadezinhas árabes Sakhnin a Arrabe.
Na época, o governo de Israel classificou a área de "zonas militares fechadas", mas na verdade, após o confisco que acabou acontecendo nas barbas da ONU, que cruzou os braços, as terras foram usadas para a instalação de "assentamentos" de imigrantes judeus em terras que há séculos pertenciam aos nativos árabes.
"Assentamentos" que foram agregados às cidades históricas palestinas para tirar-lhes a identidade, a alma e cercear a liberdade.    
Na época, a IDF despachou mais de 4.000 soldados à região para calar os manifestantes. 
No fim do dia, os feridos abundavam e seis corpos jaziam nas calçadas.

Fato corriqueiro na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. 
Porém, foi a primeira vez que a IDF (Forças Armadas de Israel) matava palestinos-israelenses, ou seja, israelenses-árabes, como são chamados os palestinos que sobreviveram aos massacres e ficaram do lado ocidental da Linha Verde.
Hoje representam 20 por cento da população de Israel. 
Vinte por cento de cidadãos que não gozam dos mesmos direitos dos cidadãos judeus de Israel. São vítimas de discriminação quotidiana que vai desde dificuldade de emprego a acesso a saúde e educação.

As duas gerações que cresceram no auto-declarado Estado de Israel, sofreram "lavagem cerebral" nas escolas para adequar-se ao conquistador de suas terras. Obrigados a cantar o hino israelense, aprender a história do invasor e não a própria, apagar pouco a pouco sua nacionalidade milenar, foram assimilados à sociedade sem serem assimilados e sem assimilar-se. 
Foram postos em guetos com aparência de bairros em Telv Aiv, em Haifa, os cristãos fincaram o pé na Galileia e lá ficaram em Nazaré e em outras cidades históricas. 
Com muita dificuldade.
Sempre policiados, cerceados, matracados "quando necessário".

Neste ano o calendário pregou mais uma peça em Israel e o Dia da Terra caiu na véspera da Páscoa.
O dia em que os bilhões de cristãos do mundo inteiro celebram a Ressurreição de Jesus justamente nessa terra inóspita em que foi crucificado para ser calado.
Terra em que é vedado aos cristãos nativos, palestinos, o acesso aos sítios sagrados. 

Terra onde os palestinos são proibidos de aceder às igrejas àas quais os turistas acedem cercados pelos muros do apartheid que as agências de viagem, cúmplices de Israel, tentam evitar que os estrangeiros incautos percebam. Contornando muros e atravessando checkpoints que os turistas veem do alto como se fossem uma atração a mais, distraídos pelo guia israelense que decora os pontos principais da nossa história que ele recita sem alma e com veemência para abafar os ruídos das barragens em que os palestinos, sem mais nem menos, são bloqueados.

Como sempre, ONGs nacionais (palestinas e israelenses) e internacionais de Direitos Humanos organizaram passeatas para comemorar o Dia da Terra.
Como sempre, agências de turismo despejaram centenas de turistas ocidentais na Palestina desde o início da Semana Santa. Estes vieram agradecer o Homem que sacrificou-se pela humanidade e viver o evento único do Fogo Sagrado.
http://mariangelaberquo.blogspot.com/2012/04/pascoa-na-terra-santa.html

Como sempre, a IDF estava preparada para  pegar pesado, com balas de borracha, gás lacrimogênio (que despejaram à vontade em jornalistas e manifestantes), enfim, todo o aparato repressivo milionário que ostenta todos os dias na ocupação da Cisjordânia e nos bombardeios intermitentes da Faixa de Gaza.
No ano passado o Dia da Terra foi um dia a mais de violência da IDF  In Pictures: Commemorating Land Day. Neste ano, idem, mas com mais cuidado por causa do novo estatuto da Palestina na ONU e por a  opinião pública internacional estar cada vez mais vigilante ao que a IDF, o Shin Bet e o Mossad fazem.
Pois neste ano de 2013 teve um probleminha.
A coincidência com a Páscoa fez com que tivesse turistas demais nas paragens.
Portanto, desta vez, a IDF corria o risco de ferir ou matar algum gringo.
E se tem uma coisa que Binyamin Netanyahu sabe é que embora a vida de dez, cem, mil palestinos não valha nada na mídia internacional, na balança mediática, um turista ocidental baleado, sobretudo se for da Europa ou dos EUA, pode complicar a história da ocupação e deixar Israel ainda mais vulnerável às críticas dos cidadãos estrangeiros que tentam inspirar-se na magnanimidade do Homem em nome do qual fomos batizados.

As passeatas deste ano foram menores do que nos anos passados porque a repressão foi ativa durante toda a semana da Páscoa e os palestinos estão cansados de enterrar familiares.
Porém as ONGs de Direitos Humanos marcaram sua solidariedade a esta comemoração que com o passar dos 37 anos vem simbolizando um NÃ0 à desapropriação forçada, NÃO à ocupação, NÃO ao apartheid, e um SIM ao Estado Palestino, um SIM à desocupação civil e militar da Cisjordânia, trocando em miúdos um SIM ao respeito da Justiça Internacional.
E todos marcaram encontro para o dia 15 de maio, em que os palestinos celebram a Naqba.

Feliz Dia da Terra (atrasado) aos palestinos e Feliz Páscoa a nós todos!

Dia da Terra 2013

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