domingo, 11 de dezembro de 2011

Israel vs Palestina: História de um conflito I (1900-1948)



A Palestina antes de 1946
Dando sequência ao prólogo do domingo passado, começo a traçar uma cronologia sucinta do conflito entre Israel e Palestina a partir do início do Século XX, em vez de voltar à época pré e logo após Jesus Cristo.
Quando o livro fundador do Sionismo, "O Estado Judeu", foi publicado em 1896, tinha apenas doze mil judeus na Palestina, bem integrados, inclusive falando árabe. Theodore Herzl, o criador do Movimento, nessa época advogava que o Estado Judeu fosse estabelecido na Argentina.
Em 1897, Basle, Suíça, sediou o primeiro congresso sionista e estabeleceu a Organização Mundial Sionista (WZO).


O quarto congresso da WZO foi em 1904 e determinou que a Argentina, até então, "Terra Prometida", seria o Lar Nacional para os judeus.
Dois anos depois o WZO voltou atrás, talvez por recusa dos nossos vizinhos, e foi só então que pensaram em instalar-se na Palestina.
Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha prometeu a independência das terras árabes, inclusive da Palestina, então sob controle do Império Otomano, se os árabes os apoiassem contra a Turquia, então aliada de Hitler.
E devido ao incentivo da WZO e à perspectiva de libertação do país, a imigração judia aumentou para 85.000 pessoas que chegaram falando iídiche - língua hebraico-eslavo-alemã escrita em caracteres hebraicos, falada pela comunidade asquenazita (derivado de Achkenaz, um dos netos de Noé) e hoje, por judeus ortodoxos inclusive em Israel.



Em 1917, a Grã-Bretanha derrotou o Exército Otomano e conquistou a Síria e a Palestina, naquela campanha militar em que o oficial T.E.Lawrence (conhecido como Lawrence da Arábia) incitou os árabes a defender seu território.
O primeiro ministro da Grã-Bretanha era Lloyd George e sua campanha militar foi uma Cruzada moderna na qual sonhava, segundo suas Memórias, em celebrar o Natal em Jerusalém "a cidade mais famosa do mundo com seus lugares sagrados."
Em novembro deste ano, o barão de Rothschild, lobista sionista influente que defendia junto ao rei da Inglaterra a ocupação judia da Palestina, foi presenteado com uma carta enviada pelo então ministro das Relações Exteriores Arthur James Balfour, informando que sua magestade concordava com a imigração solicitada. A carta dizia que os imigrantes "não deveriam fazer nada que prejudicasse os direitos civis e religiosos das comunidades não-judias (leia-se os nativos cristãos e muçulmanos)) nem os direitos políticos que os judeus desfrutavam em seus países de origem."


No contexto da época da Primeira Guerra Mundial, em que os britânicos precisavam de apoio judeu tanto no plano político-financeiro quanto científico - o influente sionista Chaim Weizmann era adulado como pesquisador "pai" da fermentação industrial e da acetona - esta Declaração chocou poucos. 
E o que ficou conhecido como a Declaração de Balfour foi incorporada no Tratato de Paz assinado na França com os turcos e a partir daí começou a discórdia na percepção da Palestina.
De um lado os judeus europeus interpretaram a Declaração como uma promessa de ocuparem as terras de um país já populado.
Do outro, os palestinos, que haviam combatido os Otomanos ao lado dos ingleses para obter independência e liberdade, se sentiram traídos e organizaram em 1919 uma Conferência Nacional para exprimir sua oposição à trama de ocupação.



Em 1922, o Conselho da Liga das Nações (européias) outorgou à Grã-Bretanha uma comissão legal para a administração da Palestina.

British Mandate, efetivado no ano seguinte os autorizava a aceitar e administrar a imigração judia, protegê-los e ao mesmo tempo defender os direitos civis e religiosos dos palestinos.
Embora os primeiros imigrantes sefarditas convivessem bem com os palestinos, alguns até antes deste ano, a quota de imigração imposta pelos ingleses logo foi ultrapassada pela imigração européia, provocando as primeiras desavenças.
Nas primaveras de 1920 e 21 nacionalistas palestinos se rebelaram e atacaram judeus em Haifa e Jaffa, e no verão de 1929, devido a rumores que os judeus estavam destruindo sítios sagrados islamitas e cristãos em Jerusalém, a população de Hebron revoltou-se contra os recém-imigrados asquenazis (judeus europeus) causando a morte de 67 pessoas. Os sefarditas (originários da África do Norte), bem integrados e fluentes em árabe, deviam ser poupados e muitos foram salvos por vizinhos.
No fim do choque Jerusalém contou 133 israelitas e 116 palestinos mortos.
Em seguida a organização para-militar sionista Haganah foi criada.


Em 1936, uma grande revolta dos nativos eclodiu por iniciativa do Alto Comando da Palestina recém-criado para defender o país do que entendiam como "invasão" judia.
A revolta começou com uma greve geral e recusa de pagar impostos aos britânicos e degenerou em uma violência que resultou na morte de duzentos soldados britânicos, quatrocentos imigrantes israelitas e cinco mil palestinos.
Enquanto isto, em Londres a influência sionista crescia. Lloyd George continuava sendo um político eminente e continuava a defender os interesses sionistas, pois "os judeus, com toda a influência que possuem, responderam nobremente às solicitações que lhes foram feitas durante a Guerra... E por isto o Governo (britânico) decidiu que era melhor garantir a simpatia e cooperação desta comunidade remarcável... Não é como se os árabes estivessem em posição de dizer que os imigrantes judeus os estão expulsando, os haitantes antigos, para fora."
Porém, o grande historiador cristão libano-egípcio George Habib Antonius, afirmava o contrário. "O estabelecimento de um Estado Judeu na Palestina, ou um lar ncional baseado em soberania territorial, não pode acontecer sem causar a deslocalização dos palestinos."       
Já sofrendo os efeitos da imigração crescente e agressiva , a revolta dos palestinos durou até 1939 e teve duas consequências importantes.
As economias israelita e palestina foram separadas e Tel Aviv deixou de usar o porto palestino de Jaffa, criando um próprio.
Os britânicos, por sua vez, procederam ao confisco de armas da população nativa. Enquanto isso o Haganah crescia criando sub-grupos como o Irgun, encarregado das retaliações junto aos civis palestinos.

Preocupada com o impasse em que se encontrava, em 1937 a Grã-Bretanha nomeou uma comissão liderada pelo lorde Robert Peel para estudar a situação e encontrar uma saída.
Considerando a escalada de violência no país, a Comissão Peel constatou a impossibilidade de amizade entre imigrados e nativos e recomendou a divisão da Palestina em dois estados.
Contudo, a imparcialidade era difícil.
Em 1938, George Habib Antonius, publicou O Despertar Árabe, onde avisa do perigo do controle de opinião pelas forças sionistas. "Em parte por causa da propaganda aberta ou velada e em parte por causa da distância das fontes árabes indispensáveis. A propagada sionista é ativa, muito bem organizada e ampla; a imprensa mundial, pelo menos nas democracias ocidentais, é bastante influencida por ela; ela comanda muitos dos canais de divulgação de notícias, e particularmente os dos países anglófonos. Em comparação, a propaganda árabe é primitiva e com muito menos técnica de comunicação, bilinguismo e recursos financeiros, vantagens que garantem a eficiência da propaganda judia. O resultado é que ao longo dos anos o mundo tem enxergado a Palestina com óculos sionistas e tem inconscientemente adquirido o costume de pensar com suas premisas."

A prova da exatidão da análise de Antonius é que no ano seguinte a Comissão Woodhead foi criada para examinar a precedente e recomendar um plano de partição para permitir que a Grã-Bretanha abandonasse o navio o mais cedo possível deixando os imigrantes judeus protegidos.
A Comissão chegou na Palestina em 1938 com três planos.
O que obteve aprovação da maioria desenhava um Estado Judeu de 1.250 km². O que correspondia a 5% do território palestino. Conforme o mapa estabelecido pela Comissão Peel, acima.
Os palestinos conservariam a maioria do seu território e a Grã-Bretanha controlaria o resto, ou seja, Jerusalém e arrabaldes como uma zona internacional, considerando a sensibilidade da área.

Os participantes da conferência de Londres 
no Palácio St James
Entretanto a questão não foi resolvida. No ano seguinte os britânicos estabeleceram um novo documento, conhecido como MacDonald White Paper em que abandonavam a ideia da divisão da Palestina em favor de outra que previa um único Estado co-governado por israelitas e palestinos, com uma garantia de restrição da imigração judia e proibição dos judeus comprarem terra árabe.
A proposta foi recusada por ambos os lados por razões opostas.
Os judeus por considerarem que era uma derrota, em relação à ambição de expansão e criação de seu próprio estado.
Os palestinos porque entenderam que a independência era uma quimera, já que os imigrados podiam bloquear o processo e os britânicos não podiam garantir que a imigração judia não recomeçasse e não aumentasse nos anos seguintes.

Foi o caso.
O controle da imigração foi impossível, sobretudo por causa dos barcos clandestinos.
Em 1945 acabou a Segunda Guerra Mundial e com a libertação dos Campos de Concentração nazistas, a pressão sionista na Europa e os ataques terroristas das organizações para-militares sionistas Irgun e Stern contra os soldados britânicos na Palestina, a Grã-Bretanha começou a pensar seriamente em uma saída do problema em que tinha se metido com o Mandato da Palestina.
Foi então que os Estados Unidos, com toda a corda da vitória, começaram a intervir diretamente na questão. O presidente Harry Truman, após visita do líder sionista Chaim Weizmann, em 1946 pressionou para que fosse criada uma nova Comissão de investigação, mas esta, Anglo-Estadunidense.
No final, a Comissão "recomendou" que a Grã-Bretanha permitisse a entrada de mais cem mil imigrantes judeus, anulasse a proibição de compra de terras árabes, e providenciasse a formação de um estado binacional israelita/palestino sob a tutela da Organização das Nações Unidas.
Foi então que os ingleses começaram a passar a batata quente para a ONU e lavar as mãos.
Enquanto isso, judeus continuavam a imigrar ilegalmente aos montes.

No dia 22 de julho de 1946, o Irgun atacou o Hotel King David jogando bombas que causaram a morte de 91 britânicos, palestinos e judeus e deixaram 46 feridos leves e graves.
O Irgun distribuia panfletos em inglês ameaçando os soldados britânicos e organizava frequentes ataques individuais e coletivos.
Em Janeiro de 1947, durante uma briga entre um operário palestino e um israelita em uma refinaria de petróleo de Jaffa, a luta virou nacionalista com mortos de ambos os lados.
Em represália às perdas judias, na noite de 30 para 31, para-militares atacaram de casa em casa Baldat al-Shaikh e Hawasa, cidades palestinas em que os operários moravam, matando cerca de sessenta pessoas em uma hora, muitas delas mulheres, velhos e crianças, na cama.
Foi o grito de alerta do que seria a Naqba e do Modus Operandis de ataques noturnos que a IDF (Exército israelense) continua mantendo.


No dia 29 de novembro de 1947 a Organização das Nações Unidas aprovou a Resolução 181.
Esta repartia o território da Palestina em dois Estados: um israelita e outro palestino, segundo o mapa ao lado, deixando a área de Jerusalém e Belém sob controle Internacional.
Porém, a decisão tomada em Nova Iorque pelos 51 membros da ONU não foi acompanhada de nenhum gesto no terreno para impor a lei e a ordem.
E os britânicos concordaram com o Plano, mas cansados dos sete anos de guerra e dos assassinatos de seus soldados pelas milícias sionistas, queriam entregar a batata quente e voltar para casa.
Então começaram a repatriar seus soldados anunciando que poriam fim a seu Mandato no ano seguinte, no mês de maio.
A partir de então, os ataques aos ingleses diminuiram e foram fixados em outro alvo, os nativos.
Não é que todos os imigrantes israelitas quisessem briga com os palestinos, muito pelo contrário, na maioria, queriam paz; é que os grupos terroristas Irgun (liderado por Menachen Begin) e Stern eram implacáveis, armados com o que precisavam, muito bem organizados e o discurso de Menachen Begin era inflamável.
Dizia que os palestinos não iam conformar-se e atacariam o que era o" pequeno Estado israelita, na guerra adiante temos de lutar sozinhos pela nossa existência e o nosso futuro."
A liderança palestina, por seu lado, estava preocupada com o número de seus compatriotas que ficariam presos na quantidade de terra dada à comunidade judia, terra que julgavam desproporcional e de melhor qualidade, já trabalhadas e aradas por seus antepassados.
A revolta começou em seguida com passeatas em Jerusalém
E nem bem os britânicos começaram as primeiras etapas de sua retirada as milícias sionistas começaram os massacres nas cidades palestinas.
Doze em um dia, no dia seguinte, uma bomba matou mais sete e feriu 23 na Porta de Damasco, em Jerusalém; outra matou seis e feriu 40 em Jaffa; e em Yehida, soldados britânicos conseguiram restringir o número de vítimas a sete - um carro de patrulha intervindo por acaso. Este dia 13 ficaria na história.
A Naqba estava em marcha.
No dia 18, dois carros carregados de membros do Haganah entraram em Khisas, na fronteira com a Síria, descarregando metralhadoras e jogando granadas. Quando saíram, deixaram vários feridos e dez mortos.
No dia 19, uma casa foi bombardeada em Qazaza, e entre os mortos, tinha cinco crianças.

Em janeiro, no dia 6, com o propósito de forçar os palestinos a abandonarem Jerusalém, o Irgun e a Agência Judia, decidiram bombardear o hotel cristão Semiramis de madrugada provocando a morte de 26 pessoas e ferindo outras tantas.

Outros ataques se sucederam, mas a apoteose foi em abril, na reta final da retirada britânica, durante a noite do dia 9, quando a milícia do Irgun cercou a cidadezinha de Deir Yasin, próxima de Jerusalém, e depois de dar 700 moradores endormecidos 15 minutos para abandonarem suas casas, foram de casa em casa jogando granadas e atirando nos que ficaram.
Mataram 254 mulheres, homens e crianças (jogando corpos em cisternas), feriram 300 e desfilaram pelo setor judeu de Jerusalém com as 150 mulheres e crianças capturadas. Muitos deles seriam levados de volta para Deir Yasin para serem executados.
A Agência Judia, liderada por David Ben-Gurion e o Haganah condenaram a atrocidade, contudo, só permitiram que a Cruz Vermelha acedesse ao local três dias mais tarde.
A indignação dos palestinos foi maior ainda porque os moradores de Deir Yasin tinham assinado um tratado de não-agressão com a colônia judia Giv'at Shaul e tinha recusado proteção armada.
Nos dias 13 e 14 do mesmo mês, membros das milícias Lehi e Irgun entraram em Naser Al-Din (perto de Tiberias) disfarçados com roupas árabes e só pararam de atirar quando todos os habitantes estavam no chão. Só 40 pessoas sobreviveram ao massacre e todas as casas foram derrubadas.
Naqba continuou o ano todo.

No canto do cisne do Mandato Britânico, no dia 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência, sem preocupar-se com a ONU e sua Resolução.
A Declaração de Independência do Estado de Israel foi lida publicamente em Tel Aviv e o Vaad Leumi, Conselho Nacional Judeu, reuniu-se no Museu de Arte da cidade em um local que chamam de Independence Hall para aprovar a proclamação, unilateral.
O novo Estado e governo foram reconhecidos nos minutos seguintes pelos Estados Unidos da América.
O resto foi questão de forma.

Nos dias 21-22 de abril, os palestinos que sobravam dos 75.000 da cidade de Haifa, foram acossados na operação que o Haganah chamou de Bi'ur Hametz ( מבצע ביעור חמץ‎), "Limpeza da Páscoa", e no fim do que ficou conhecido como "Batalha de Haifa", só quatro mil sobravam.
Em julho de 1948, o jornal escocês the Scotsman publicou que "Em Haifa os judeus abriram um gueto para os palestinos. Quatro ruas foram cercadas de arame farpado e, como os judeus em Cracóvia (sob os nazistas), cristãos e muçulmanos têm de viver e dormir sob guarda. Empresários podem solicitar passes para saírem durante o dia... é difícil visualizar uma população mais oprimida e aterrorizada do que os palestinos que ficaram."
Em maio os palestinos de Jaffa tiveram o mesmo destino dos vizinhos. Cerca de 50.000 foram empurrados para o mar e forçados à diáspora.

No dia 11 de dezembro de 1948, com o escândalo internacional da Naqba e do êxodo compulsório dos palestinos, as Nações Unidas publicaram a Resolução 194, tristemente famosa e jamais posta em prática. Esta ordenava a desmilitarização, acesso livre a Jerusalém e aos sítios sagrados, e sobretudo, o retorno dos palestinos expulsos de casa.
Resolução vã, já que não foi acompanhada de nenhum meio de pressão e que no mesmo dia 11, mas de maio do ano seguinte, em outra Resolução, n° 273, a ONU, apesar da Naqba e da "independência" unilateral, reconheceu o Estado de Israel (esquecendo de reconhecer o Estado da Palestina) com uma frase surreal sobre o novo membro da Organização das Nações Unidas: Israel is a peace loving State which accepts the obligations contained in the Charter and is able and willing to carry out those obligations.
Sir John Bagot Glubb, conhecido como Glubb Pasha e por ter sido comandante da Legião Árabe da Transjordânia durante a II Guerra Mundial, chegou a comentar emocionado que "a tragédia judia aconteceu em nações cristãs da Europa e América. Pelo menos a consciência do cristianismo foi despertada. A longa tragédia judia tem de cessar. Mas quando chegou a hora de pagar compensação expiatória, as nações ocidentais decidiram que a conta seria paga por uma nação árabe."    
Os refugiados vítimas da Naqba que passam para seus descendentes a chave da casa ancestral, desapropriada ou destruída, como o bem mais precioso da família que o digam.
Documentário Journeyman: Deir Yassin remembered
Early in the morning of April 9, 1948, commandos of the Irgun (headed by Menachem Begin) and the Stern Gang attacked Deir Yassin, a village with about 750 Palestinian residents. The village lay outside of the area to be assigned by the United Nations to the Jewish State; it had a peaceful reputation. But it was located on high ground in the corridor between Tel Aviv and Jerusalem. Deir Yassin was slated for occupation under Plan Dalet and the mainstream Jewish defense force, the Haganah, authorized the irregular terrorist forces of the Irgun and the Stern Gang to perform the takeover.
In all over 100 men, women, and children were systematically murdered. Fifty-three orphaned children were literally dumped along the wall of the Old City, where they were found by Miss Hind Husseini and brought behind the American Colony Hotel to her home, which was to become the Dar El-Tifl El-Arabi orphanage.


A construção da Naqba

The Promise
I
II
III
IV
Mini-série da BBC: The Promise, de Peter Kominsky
A Promessa retrata o fim do Mandato Britânico e também aspectos atuais do conflito em quatro episódios historicamente realistas.
A parte contemporânea é no início de 2005, e por isto mostra os últimos atentados suicidas palestinos que pararam nesse período.
A parte de 1945 conta a história com a ótica de um soldado britânico, que fez a promessa mais importante que se possa fazer a um palestino.

Documentário canadense de Ronen Berelovich : The Zionist Story

Documentário da BBC: The Birth of Israel

Documentário: Jerusalém 1948 - Yoom Ilak, Yoom Aleik
De Leon Willems e titus Kraner
Tenta explicar a complexidade histórica da Naqba através de entrevistas com sobreviventes e documentos da época.

Livro: O nascimento do problema dos refugiados palestinos,
1947-1949
Do historiador israelense Benny Morris, diplomado na Universidade de Jerusalém e doutorado em Cambridge.
O livro é baseado em arquivos sionistas e do grupo para-militar Haganah.




"...and may I add another similar statement by Erich Fromm, criticizing the Zionist assertion that Palestine is the land of the Jews, noting: "The principle holds that no citizen loses his property or his rights of citizenship and the citizenship right is de facto a right to which (Palestinians in Israel) have much more legitimacy than the Jews.... If all nations would suddenly claim territories in which their forefathers lived two thousands years ago, this world would be a madhouse." (Jewish Letter, February 9, 1959)
Ed Seiler of the Asimov Society responded to a query by Ed Corrigan.

Reservista da IDF, Forças isralenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence

Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Try-not-to-cry, de Yusuf Islam e The Outlandish, sobre o massacre de Deir Yassin

domingo, 4 de dezembro de 2011

Israel vs Palestina: Prólogo - Xô, doutrinação Shabak!


Na semana passada, o governo de Israel tomou mais duas medidas arbitrárias inconcebíveis em um regime democrático.
Amordaçou a informação fechando a rádio liberal Kol Hashalom Vozes da Paz, criada por ativistas palestinos e israelenses que trabalham em boa camaradagem.
Vozes da Paz é uma órgão de imprensa importante, autorizado pelos Acordos de Oslo, porque dá espaço a todos os segmentos das populações de ambos os lados, tentando inclusive abrir diálogo com militantes políticos palestinos e com colonos sionistas de extrema direita. Em uma tentativa democrática de estabelecer comunicação e promover a paz.
Mas em vez da rádio pacifista, o governo criou a rádio Galey Israel Ondas de Israel, que veicula ideias mais de ódio do que de paz, tanto na Cisjordânia quanto em Israel, onde suas ondas vagueiam, e a mensagem é transmitida, como quem não quer nada.
E assim Binyamin Netanyahu continua coerente com seu governo expansionista e cada vez mais arbitrário.
Segundo um parlamentar de extrema-direita, "Uma estação de rádio esquerdista que se transforma em instrumento de incitação não pode ser autorizada a transmitir para o público."
Enquanto que Mossi Raz, ex-parlamentar que co-dirige a rádio, e outros democratas ficaram preocupados com a escalada das restrições democráticas que a população israelense vem sofrendo.
Raz declarou ao jornal inglês The Guardian que "É uma decisão política. Estou muito preocupado. Não tem democracia aqui. As pessoas acham que democracia é apenas o direito de voto, mas não é apenas isto. Não tem democracia sem liberdade de imprensa." "E de expressão" acrescentou um judeu militante de Direistos Humanos, se referindo às leis anti-boicote e de financiamento estrangeiro que só prejudica as ONGs, e a mudança do controle da Corte Suprema para o Parlamento.
Jornalistas israelenses vêm reclamando bastante da censura nos meios de comunicação.
O Canal 10, uma estação de TV independente, está quase fechando porque o Governo condicionou uma negociação do pagamento de suas dívidas à demissão do jornalista que revelou o "patrocínio" de viagens privadas de Binyamin Netanyahu antes de ser primeiro ministro.
O âncora do Canal 2, Yair Lapid, por seu lado, disse que Um governo incontinente está silenciando vozes dissidentes."   
Voltando à rádio Kol Hashalom, a mordaça em si já é repreensível, mas o pior é que a sede da rádio não é em Israel e não transmite nem de Jaffa, nem de Haifa nem de Tel Aviv - transmite de Jerusalém Oriental e de Ramallah... na Cirjordânia.

E depois do anúncio feito por Mahmoud Abbas das próximas eleições em Maio de 2012 na Palestina, em retaliação à ousadia do Fatah e o do Hamas concordarem que está na hora do povo voltar às urnas (a última eleição autorizada pela "Comunidade Internacional" aconteceu seis anos atrás com o resultado que se sabe), o governo de Israel voltou a bloquear os fundos de pagamento dos 153.000 funcionários da Autoridade Palestina e simplesmente pagar as contas.
Pois é, até o dinheiro gerado diretamente pela Palestina é "coletado" em grande maioria por Israel e transita pelos bancos de Tel Aviv que transferem ou não os fundos até para pagamento de funcionários, o que é o mínimo.    
Faz parte dos Acordos de Oslo e beneficia sobretudo israel que cobra 3% de todo o dinheiro dos impostos que coleta. E beneficia também os bancos, pois enquanto o dinheiro "dorme" na conta...  
Avigdor Lieberman, o sionista integrista que ocupa o Ministério das Relações Exteriores disse que faria tudo para que o dinheiro não fosse transferido.
A situação é tão esdrúxula, para não dizer absurda, que desta vez até os aliados israelenses de carteirinha,Tony Blair, Ban Ki-moon e Hillary Clinton solicitaram a Netanyahu, em público (ao telefone ficou entre eles) que liberasse os fundos sem os quais os palestinos não vivem.
A resposta de Tel Aviv, off the records, foi que com este comportamento negativo e irresponsável eles não podem esperar business as usual.  
O Comportamento negativo e irresponsável da Autoridade Palestina, ao qual referem, é o de ter conseguido o reconhecimento da Unesco e estar tentando a obtenção da cadeira na ONU que garanta ao povo o direito de ter carteira de identidade e passaporte palestino, que lhes dê o direito de existir e de transitar como você e eu em seu território e fora.
Israel e os EUA consideram que os palestinos precisam da bênção de ambos para pleitear o que a ONU lhes deve desde 1947. E definem o comportamento da Autoridade Palestina de unilateral, embora a iniciativa desta seja diplomática, respeitando as vias oficiais internacionais.
Ao contrário do que Israel fez em 1948. Vamos ver a história direitinho nos próximos blogs.

O título do blog de hoje, ou seja, esta palavra desconhecida para a maioria, vem de Israel.
Shabak é um acrônimo de Shérūt ha-Bītāhōn ha-Klālīa, vulgo Shin Bet, como o Serviço Secreto Israelense interno (tipo o SNI no Brasil dos militares) é chamado. 
O Mossad é a CIA local e o campo de atuação do Shin Bet é o "território nacional", no qual leia-se Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaz..., como se os Territórios Ocupados fossem de Israel de direito e de fato, o que para bom entendedor já é sintomático. 
O que me interessa hoje não são as ações do Shin Bet, condenadas pelas ONGs de Direitos Humanos pela crueldade (como o DOI-CODI dos nossos militares), mas sim o adjetivo em que virou a palavra.
"Educação Shabak" é como os israelenses, e os palestinos que sobreviveram em Israel bem que mal à Naqba, definem o processo de doutrinamento que recebem desde a infância nas escolas.
Como minha geração foi "instruída" nos cursos de "Moral e Cívica" do Primeiro Grau, de "OSPB" do Segundo e "EPB" da Universidade.
Em Israel, o processo consiste de inculcar nos israelitas o sionismo exacerbado e extirpar da memória árabe sua identidade cristã ou islamita distanciando este cidadão de segunda classe emocionalmente dos compatriotas encurralados nos Territórios Ocupados e na Faixa de Gaza.
Às vezes tenho a impressão que todo o Ocidente sofre a lavagem cerebral da educação shabak que leva o cidadão brasileiro, francês, estadunidense, etc. a acreditar que o principal objetivo da vida é acumular bens e dinheiro, e no plano geopolítico do Oriente Médio, a identificar-se com o algoz em detrimento da vítima. Inclusive a grande maioria da mídia. 
As imagens indutivas são tão fortes que até hoje, embora faça cinco anos que os palestinos puseram fim aos atentados suicidas, no imaginário popular individual e coletivo estes atos isolados lamentáveis ocupam muito mais espaço do que os abomináveis bombardeios de 2006 e 2008/9 do Líbano, da Faixa de Gaza, que deixaram centenas de mortos e cidades inteiras destruídas, e as agressões quotidianas que os palestinos sofrem de soldados e colonos israelenses, que os insultam e destroem suas casas e o fruto de seu trabalho.
O general Golbery do Couto e Silva não conseguiu nos transformar nas ovelhas passivas que pretendia porque vivíamos no Brasil e sentíamos na pele os efeitos do regime e víamos o que os militares faziam.
Já que nem todo mundo quer e pode dar um pulo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para ver e sentir o drama palestino, e como contra todo mal tem um antídoto, o que combate a Educação Shabak é a informação, simples e accessível.
Eu sou apenas uma fonte entre tantas outras. Como os documentários, sites e filmes que recomendo abaixo e tento selecionar o melhor possível.

Documentário de Essam Billan: Inside Shin Bet (48')

Por lembrar na semana passada de Juliano, de Vittorio e a batalha pela justiça da qual ambos foram trágica e precocemente arrancados, resolvi atender aos pedidos que me fazem amiúde de esclarecer a história do conflito israelo-palestino.
É para os que recusam a Educação Shabak que se destina a história, legítima, mas vista pelo prisma do vencido, que começa neste blog e terminará em janeiro de 2012.
Vou tentar desfiar, com a ajuda de fatos e de dados recolhidos em ONGs de Direitos Humanos israelenses, os porquês, quem e quando.
Sendo alérgica a ocupação, espoliação, opressão, “limpeza” humana programada, minha posição no conflito é clara. Sou contra a ocupação israelense da Cisjordânia – militar e através das colônias – e a favor dos dois Estados autônomos e livres convivendo um ao lado do outro, como povos civilizados.
Como desejam os democratas liberais de ambos os lados.
Mas tem jornalistas, jornais, que desejam outra coisa, o contrário. Quem discordar de mim pode lê-los e me deixar de lado. Isto se chama democracia, liberdade.
Porém, não conheço nenhum ser humano, inclusive repórter acostumado com as piores atrocidades, que tenha estado de cabo a rabo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e que consiga "entender" a política de limpeza étnica do governo de Israel na Palestina.
Dito isto, volto a precisar que não tenho nenhuma antipatia por Israel e nem pelo povo israelense, muito pelo contrário.
Haifa e Tel Aviv são bolhas animadas (vide filme homônimo de Eytan Fox) cheia de boas pessoas interessantes, inteligentes, simpáticas, que não se consideram superiores a nenhuma outra gente. Estas pessoas bem-intencionadas querem viver em paz com os vizinhos em pé de igualdade, e quem sabe até serem amigos – parentes já são, já que têm a mesma raiz semita.
Estão longe de ser maioria; se fossem, o governo seria outro e agiria de outro jeito. Mas fazem tanto barulho quanto os compatriotas influenciados pela Educação Shabak e por isto sua liberdade de expressão vem sendo embargada.
Como sou da geração brasileira que ainda se lembra da ditadura, vejo os sinais do autoritarismo, me arrepio e me solidarizo com os democratas engajados na luta contra este governo belicoso e expansionista que envergonha a memória de seus antepassados. 
A história que vou desenrolar nestas três semanas é para quem gosta de conhecer todas as verdades antes de escolher a sua. Que questiona a propaganda veiculada pelos lobbys e pelos meios de comunicação com agenda própria ou que trabalham com comunicados oficiais dos poderosos que escrevem a história.
Eu só enxergo o óbvio, sinto, raciocino e me ponho no lugar do outro para entender o que ele sente, passa, sofre sem poder fazer nada.
Nesta onda brava do Oriente Médio, antes de abordar a história, vou navegar abaixo por certos mitos ou/e “inverdades” que ouço amiúde de israelenses integristas ou doutrinados e de simpatizantes de Israel que nunca pisaram nos territórios palestinos ocupados e que talvez por isto defendam o que a maioria das pessoas no mundo considera indefensável.

A primeira é uma inverdade muitas vezes repetida até muitos acreditarem: O conflito Israel/Palestina é religioso.
Não é não.
É um confronto entre duas nações.
É um conflito político e expansionista entre um Estado com grande potência bélica que ocupa um outro que nem existe de fato e que não tem direito de armar-se, defender-se e revidar.
Apesar dos componentes religosos, sociais e outros que acabam exacerbados pelos extremistas, a questão não é religiosa, é de território.
A Palestina não era terra de ninguém quando os judeus chegaram. Era uma terra habitada por 500.000 pessoas das quais 90% eram já de dezenas de gerações.
Conheço muitos judeus esclarecidos que sabem disto e condenam o governo de Israel com mais veemência ainda. Morrem de vergonha de alguém confundir a riqueza da religião hebraica com os atos bárbaros praticados pelo governo de Israel, através dos colonos e dos soldados, nos territórios ocupados.
Eles, como eu, quando ouvem alguém dizer que faz parte de uma raça superior, mais inteligente, mais talentosa, do povo escolhido, lembram de Hitler e arrepiam de pavor! E você, leitor?

A segunda é uma das mantras que os israelenses repetem de pai para filho e para os estrangeiros que passam por lá, para justificar seu desprezo pelos "animais" que eles fazem tudo para exterminar.
Mostram as terras irrigadas que cultivam, produtivas centímetro por centímetro, e mostram um pedaço de terra palestina ainda não confiscada, enchem a boca e dizem: veja como são incapazes e atrasados!
O que omitem é que as laranjas de Jaffa, tão conhecidas na Europa, eram cultivadas pelos palestinos antes de 1948 até as terras serem confiscadas, os donos serem deportados e os ocupantes de hoje desviarem toda a água para a própria agricultura e para os colonos, cuja diversão favorita é destruir e queimar lavouras e oliveirais palestinos ancestrais.
Dezenas de casos já foram levados a tribunal. Nenhum foi julgado.
Como boa goiana, sei que sem água, nem erva daninha pega.
Sem contar o lucro do turismo cristão, embora a maior parte dos sítios históricos se encontrem na Cisjordânia e a manutenção seja feita pelos palestinos, é só Israel que ganha.

O terceiro é o mito alimentado por uma certa mídia: Em 2000, as negociações de Campo David, apadrinhadas por Bill Clinton, capotaram por causa da partida enraivecida de Yasser Arafat.
De jeito nenhum.
É verdade que Yasser Arafat partiu no meio do Encontro, mas foi por indignação com a proposta de Ehud Barak.
Veremos os detalhes quando atingirmos este ponto na História do conflito que começarei a traçar na semana que vem.
Embora eleito pelo Partido Trabalhista, desde que assumiu o governo em 1999, Ehud Barak, em vez de devolver aos palestinos pelo menos um ínfimo do que lhes pertencia, incrementou a expansão das invasões/assentamentos na Cisjordânia confiscando terras, demolindo casas, aumentando as invasões já montadas e construindo novas.
Quando Ariel Sharon o sucedeu no governo era só prosseguir no terreno minado.
Desde então, a situação só tem piorado.
Até Netanyahu voltar ao poder com ideias mais extremistas, com o apoio de Shimon Peres no alto, de Ehud Barak de um lado e Avigdor Lieberman do outro, para agir com maquiavelismo e crueldade.   
Aí ouço também o argumento de que Sharon fez o gesto de "boa vontade" de evacuar as colônias da Faixa de Gaza... Pois é, mas para bombardeá-la à vontade dois anos mais tarde.
Se isto não for tática de guerra em vez de tática de paz, o mundo em que vivemos não é nem o purgatório. É o inferno.

O quarto ponto é uma inverdade e um ultrage: Os palestinos mandam os filhos jogarem pedras nos soldados da IDF (exército israelense) para provocarem a própria morte e a mídia lhes dar espaço.
Como imaginar que os palestinos não se importem que os filhos morram, que sejam assassinados?!
Se num país livre os pais não conseguem controlar os movimentos dos rebentos (só os trancando a sete chaves, e olhe lá!), como os palestinos, em situação de ocupação, de guerra, conseguiriam evitar que os filhos, indo para a escola e se defrontando com obstáculo armado que os impede de ir à aula, demonstrem sua impotência e raiva jogando pedras na barreira bélica, na esperança, vã (mas sem esperança a vida não vale nada) de forçar passagem e reocupar o espaço que é seu e que lhe foi arbitrariamente confiscado?

Sei que para um cidadão brasileiro bem nascido, leia-se, no hospital, com mãe e pai, tendo crescido livre convivendo com seus compatriotas pra cima e pra baixo com babá-celular, é difícil imaginar o que significa nascer e crescer em seu país ocupado por soldados e invasores estrangeiros que falam outra língua, o privam de água que jorra da terra de seus ancestrais, o acordam de madrugada abruptamente com um bulldozer que está destruindo a sua casa o deixando na rua sem nada, o encurrala em cercas de arame farpado e de cimento armado e ainda por cima, o trata como animal e o humilham cada vez que você sai de casa.
Dá para imaginar?
Não?
Tente imaginar a cidade em que mora com checkpoints por toda parte, com barricadas, soldados armados e de cara amarrada.
Para ir trabalhar você tem de fazer fila, ser revistado, ser despido na frente de estranhos e dos filhos, e esperar a boa vontade do soldado estrangeiro que é tão rápido quanto uma tartaruga para decidir se você pode ou não passar.
Quando dá na telha, o oficial dá ordem de fechar o checkpoint e você, para chegar ao trabalho, tem de dar mais uma volta de mais de hora para chegar a quatro quarteirões de sua casa, cercada de um muro que corta a rua e que esconde o outro lado, uma paisagem milenar familiar aos seus antepassados.
Para ir à escola é o mesmo calvário.
Pior ainda, pois você é menor e todo obstáculo é super-dimensionado. Os checkpoints são estratégicos em ruas vizinhas e você caminha, caminha, em sua prisão murada, e quando está chegando, encontra um checkpoint que não estava lá nos dias passados, era por isto que tinha dado esta volta saindo de casa uma hora adiantado para chegar à escola que fica a meio, um ou dois quilômetros de casa.
As meninas, quando cruzam com professoras também bloqueadas, têm aula na rua, sentadas no chão, os cadernos no joelho, conformadas.
Os meninos às vezes fazem o mesmo e outras vezes jogam pedra, para desabafar. Quem já sentiu sabe que sentimento de impotência aperta o peito e é difícil segurar; é barra.
Isto quando meninos e meninas não são apedrejados das janelas dos prédios de invasores instalados em Jerusalém Oriental.
E mesmo assim, 90% dos palestinos chegam à Universidade. Não conheço muita gente com tanta força de vontade.
Aliás, este é outro mito: que os israelenses são inteligentes e os palestinos burros. Se fossem, não teriam uma porcentagem tão alta de sucesso educacional com meios tão precários. O maior valor em uma família palestina é a educação, o estudo.
"Imparcialidade jornalística" além de quimera (como já disse no ano passado), em assuntos graves como este significa omissão, consentimento, cumplicidade com o inadmissível. Com o insuportável.


Trocando em miúdos, por que dou mais espaço a este conflito entre tantos outros nesta e nas demais regiões que cubro?
Já expliquei no ano passado. Não é por parcialidade, pois esta implica em um interesse próprio arquitetado.
Apenas informo sobre uma situação que interpela minha humanidade.
Este conflito reflete todas as injustiças das quais o homem é capaz quando é movido por ignorância, cobiça e ódio.
Este conflito reproduz todo tipo de opressão possível de um povo sobre outro desprovido de meios e apoio para que se levante: ocupação de terra; humilhações e abusos quotidianos de adultos e crianças; detenções arbitrárias; confisco de riquezas naturais (1); apartheid; confinamento murado e de arame farpado...
No dia em que a ONU oficializar o Estado da Palestina na fronteira completa de 1967, pelo menos a metade dos problemas internacionais serão solucionados, o mundo se reconciliará com Israel e Jerusalém vislumbrará, quem sabe, um pouco de luz e de paz.
Enquanto isto, para que a morte de Vittorio e Juliano não tenham sido vãs, sinto-me na obrigação de continuar a batalha que os dois, Naji Salim al-Ali, Rachel, James, Peter e tantos mais, iniciaram e travaram, ao preço de suas vidas, sem jamais vender a alma.          

Palestina antes de 1948
        
"No matter what's happening in the Middle East - the Arab Spring, et cetera, the economic challenges, high rates of unemployment - the emotional, critical issue is always the Israeli-Palestinian one."
King Abdullah II

Documentário: Occupation 101; de Sufyan e Abdallah Omeish
Documentário: Defamation, de Yoav Shamir
legendado em italiano

Documentário/livro: The Israel Lobby (US), dos professores John Mearsheimer e Stephen Walt

Channel 4: The Israel lobby in United Kingdom, de Peter Oborne (48', 2009)
Press TV: UKPolitics and the Israely Lobby (7')

Documentário: American Radical, the trials of Norman Finkelstein


Livro: Stay Human
De Vittorio Arrigoni
http://guerrillaradio.iobloggo.com/





Conferência do professor Noam Chomsky na Brown University, EUA 

"By 2001, there were 225,000 Israeli settlers in the West Bank and Gaza. The best offer made to the Palestinians -- by President Clinton, not Prime Minister Barak -- was to withdraw 20 percent, leaving 180,000 in 2009 settlements covering about 5 percent of the land. The 5 percent figure is quite misleading. It describes only the actual footprints of the settlements. In addition, there are other large areas that have been taken or earmarked for future expansion -- roadways that joined the settlements with each other and to Jerusalem, and life arteries, so-called, that provide water, sewage, electricity and communications. These range in width from 500 to 4,000 meters, and Palestinians cannot use or even cross many of these connecting links."
Jimmy Carter, Council on Foreign Relations

Shovrim Shtika - Breaking the Silence