domingo, 30 de outubro de 2011

O sistema que devora o equilíbrio social



Os revolucionários da Praça Tahrir acima (que voltaram a reunir-se para protestar contra a continuidade da prática de tortura nas cadeias), mandaram recado para os “companheiros” de Occupy Wall Street e para os Indignados de todas as nacionalidades:
"Estamos envolvidos na mesma luta. Com os interesses do governo se alinhando cada dez mais ao conforto do capital transnacional privado, nossas cidades e casas têm ficado cada vez mais violentas e abstratas, sujeitas a estragos oriundos de novos projetos econômicos e urbanos. Uma geração inteira mundo afora cresceu com a consciência, racional e emocional, de não ter nenhum futuro neste esquema."

Maravilhoso receber esta mensagem! disse Ed Needham, porta-voz de OWS, Ela dá um sentido empático de solidariedade. É claro que os fatos no Egito e aqui não são os mesmos, mas como os egípcios articularam, a mensagem é sobre sentir e saber que um sistema deixou de ser certo, justo, e não querer mais ser um membro explorado deste sistema. Que o mundo saiba que desde que os protestos Occupy Wall Street começaram no dia 17 de setembro, els estão tendo e continuarão a ter um impacto profundo no status quo financeiro.
O que afeta o Egito afeta Nova Iorque. Os direitos das pessoas no mundo inteiro e toda e qualquer aparência de governo livre têm sido seqüestradas por interesses corporativos. O povo egípcio que busca a solidariedade global é como o povo dos Estados Unidos. Sabemos que estamos juntos, com uma escolha única – vitória.

Porém, Christine Lagarde, substituta de seu compatriota DSK no FMI, não concorda em dar aos Indignados a vitória.
Após a ajuda substancial dos Estados Unidos e a Grã-Bretanha para conter o auto-estrangulamento de seus bancos na crise de 2007/2008, a francesa começou uma campanha frutífera junto à Europa para resgatar os que ainda estão à deriva do naufrágio da cobiça.
Como foi que os EUA cavaram este buraco tão fundo em que a superfície parece inatingível?
Para o neoliberalismo vingar, a elite econômica bolou o truque de convencer milhões de estadunidenses chamados na década de 80 de “Democratas Reagan”, a apoiar políticas econômicas obviamente contrárias aos seus interesses e a acreditar que tais medidas que permitiam o enriquecimento de uma minoria minoritaríssima correspondia aos seus valores liberais.

Como conseguiram?
Primeiro edificaram a contra-cultura do materialismo e do hiperconsumismo, baseada na ideologia envernizada e precária da avidez insaciável.
Depois fizeram da competição que leva ao sucesso a qualquer preço o único objetivo aceitável de uma vida, de uma carreira.
Quem não enquadrava nesta ideologia individualista bandoleira era chamado de loser. Um perdedor. Não por ter sido derrotado, mas sim por não ter vontade de subir a escada da ascenção vertiginosa para ter bens materiais supérfluos que não o satisfazem.
Depois venderam a ideia que todos os cidadãos partiam em pé de igualdade. Que todos podiam e tinham de enriquecer-se tanto quanto os mi/bilionários que estavam acima  e de cujo super-enriquecimento o dos pobre-coitados dependia.
(Como aquele conto do vigário que o Delfin Neto passou no povo brasileiro na década de 70, do tal bolo que tinha de crescer para ser dividido. Bolo do qual a grande maioria do Brasil (oprimida pela ditadura em que estava atolada) nem sentiu o cheiro quando estava assado, quem dirá provar um pedaço...).
O problema nesta equação maquiavélica é que o princípio básico do neoliberalismo é redistribuir a riqueza bem acima do patamar social de quem bota a mão na massa para produzi-la.
Portanto, a distância entre a diretriz de como o cidadão deveria viver e como ele conseguia sobreviver era imensa. Foi só aumentando com o consumo sem freios.
O indivíduo incauto, de olho no sucesso falso do possuir, e não no de ser algo que valha, caiu na armadilha do poder de compra virtual de prestações a longo prazo e de cartões de crédito além da quantia à qual deveria estar/ser limitado...
E foi, e é, aí, que a porca torce o rabo e o indivíduo, sozinho ou com a família, vai parar no buraco.

Aí começou a degringolada.
O homem e a mulher que estavam a anos luz do American Dream com o qual lhes acenavam lá do alto, começaram a contrair dívida para viver como os ricos cuja riqueza almejavam - sem dar-se conta que não estavam nem nos primeiros degraus da escada que levava à parte mais elevada. Só a seguravam, embaixo, para dar estabilidade aos lá de cima para que galgassem cada vez mais alto.
O desemprego, o fechamento de escolas públicas que dificultavam a escolarização dos filhos a quem desejavam o futuro melhor que não alcançavam, a consciência inexorável que a indigência em vez de diminuir só aumentava, foi tudo isto acumulado que fez com que os "sonhadores" caíssem na real. 
Mas a sacolejada brutal foi a crise residencial de 2008. Quando dezenas de milhares de famílias ficaram aos Deus dará. Aí a classe média resolveu encarar o que, para ela, é a fonte do mal.

Será?
Talvez o problema seja que tanto na nossa América quanto na África, Europa, Ásia, enfim, em todo lugar em que a cobiça reina, que o vil-metal governa e que os valores foram deturpados, os 1% de super-ricos vivem em um mundo à parte. Vedado ao comum dos mortais cuja labuta permite que vivam como nababos.
Contudo, a indigência é uma doença erradicável.
O neoliberalismo pode ser apenas seu agente. E a crise financeira só o sintoma que fez com que o mal viesse à tona.
Pois uma conjetura pensada parece óbvia. O vírus é a indiferença dos 1 aos 10% cuja ganância é um poço sem fundo e a cegueira em relação ao que não faz parte de seu "mundo" é patente.
O antídoto deste vírus é a consciência. A reabilitação dos reais valores humanos. Valores nos quais o indivíduo vale pelo que é e não pelo que possui e pelo quanto tem no banco.
É um sonho?

PS. O último filme do cineasa francês Philippe Lioret Toutes nos envies - Todas as nossas vontades, retrata bem este processo de crédito que devora a economia familiar. Recomendo.


Na Inglaterra, o movimento dos Indignados recebeu uma informação esta semana que funcionou como uma lenha sequíssima posta no fogo de sua raiva: Nos últimos anos, enquanto a remuneração do funcionário médio seguiu a inflação com dificuldade, a elite de dirigentes de mega-empresas teve um aumento de 49% de salário.
Só para dar água na boca, eis os salários mais altos da Grã-Bretanha, em libra: Mick Davis (Xstrata) £18.426.105; Bart Becht (Reckitt Benkiser) £17.879.000; Michael Spencer (ICAP) £13.419.619; Sir Terry Leahy(Tesco) £12.038.303; Tom Albanese (Rio Tinto) £11.623.162; Sir Martin Sorrell (WPP Group) £8.949.985; Todd Kozel (Gulf Keystone Petroleum) £8.913.223; Don Robert (Experian) £8.601.984; Edward Bonham Carter (Jupiter Fund Management) £8.003.641; Dame Marjorie Scardino (Pearson) £8.003.641.


Fadwa Barghouti em seu escritório, em Ramallah, com a foto do marido, Marwan, ao fundo, declarou esta semana o que todos sabem: "Israel tem de soltar o meu marido para chegar à paz."
É a opinião unânime de ambos os lados. Marwan Barghouti, primo de Mustafá - outro expoente intelectual do Fatah (1) - está preso desde 2002. Está com 53 anos. Ele é uma das poucas figuras respeitadas por palestinos de todas as tendências políticas e ideológicas. É peça fundamental para o sucesso de um projeto de reconciliação entre o Fatah e o Hamas, e uma consequente negociação de paz durável.
Justiça seja feita ao Hamas, Marwan Barghouti estava incluído na lista de prisioneiros que Israel devia libertar.
O nome dele foi vetado em Tel Aviv, por aqueles que têm interesse em que o conflito seja perpetuado até a Cisjordânia for totalmente ocupada, de fato; até que os palestinos que sobreviverem à limpeza étnica na Cisjordânia vivam enjaulados, como em Gaza.
Aliás, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, provou, uma vez mais, que o fascimo é um mal que polui o cérebro. O Haaretz, jornal moderado de Tel Aviv, publicou no dia 28 que Lieberman, que fala em voz alta o que Netanyahu cochicha em palácio, que Mahmud Abbas tem de ser removido de seu cargo.
Por quê?
Um líder palestino que mobiliza seus compatriotas e o mundo inteiro sem violência, em favor do direito de ter um estado, por vias oficiais, representa perigo para Israel, como?
Para Israel, não.
Para o governo de extrema direita que os dois homens encarnam.    


Neste sábado, após o Hamas concordar com a manutenção da trégua, os israelenses mataram cinco ativistas-militares em Gaza, seus companheiros retaliaram lançando foguetes nas imediações da Faixa, feriram um israelense, que morreu horas mais tarde, e foi só o que a IDF queria para bombardear, mais uma vez, durante a noite, os civis que acordaram assustados e os demais feridos transportados às pressas ao posto de saúde de precário. Os outros quatro, nem acordaram. 
Para entender o extremismo político no qual Israel vem atolando nos últimos anos, basta saber quem lidera o partido “moderado” Kadima, que é a única “oposição” com volume de votos suficientes para participar da disputa eleitoral.
É Tzipi Livni, a mesma advogada que rejeita o Direito quando este não serve seus objetivos e que dirigia Israel em 2008, quando autorizou o bombardeio da Faixa de Gaza, e que por isto corre risco de processos internacionais por crime contra a humanidade.
Na semana passada vestiu camisa de democrata criticando o acordo de troca de prisioneiros que Netanyahu fez com o Hamas, "que fortifica este partido em detrimento de negociações com o líder do Fatah, Mahmoud Abbas."
Interessante. Esta Livni é também a mesma que teve oportunidade de negociar com a Autoridade Palestina e que então exigiu o impossível desta em troca de migalhas (como atestam os Palestine Papers). Razão pela qual os diálogos não deram em nada.
Mas Livni não foi a única a criticar Netanyahu. Outro jurista, Dov Weissglas - braço-direito de Ariel Sharon, o ex-líder do Likud responsável pelo massacre de Sabrah e Shatila, da destruição de centenas de casa palestinas (daí seu apelido de buldozer), da última Intifada (ano 2000) por ter penetrado no pátio da mesquita de Jerusalém com dezenas de soldados armados, e que se encontra em estado de coma desde 2006 - também criticou o Primeiro Ministro por negociar com o Hamas em detrimento da Autoridade Palestina.
"A política do governo atual de enfraquecer a Autoridade Palestina é estúpida e perigosa... Sei dos esforços que o Sr. Abbas e o Sr. Fayad fizeram... A atual estabilidade na Cisjordânia é como uma folha, basta um sopro para que voe."       

Na troca de prisioneiros entre Israel e o Hamas, negociação em que o Novo Egito teve um papel crucial, 25 prisioneiros egípcios também saíram de trás das grades e voltaram para casa em troca de um espião israelense, Ilan Grapel, preso no Cairo no dia 12 de junho deste ano.
Portanto, 25 por 1, é o valor de um cidadão egípcio em relação a um cidadão israelense.
41 vezes mais do que vale um cidadão palestino.



As eleições na Tunísia não foram uma surpresa. Nem no resultado nem na organização democrática, embora os votos, julgados exagerados, no partido islâmico tenham levado centenas de jovens a manifestar dúvidas quanto à não-fraude fora da capital e das cidades principais.
Os votos dos expatriados laicos no Partido Democrata não bastaram contra os muitos emigrantes que na Europa viabilizaram a liderança do partido religioso Ennahda - Renascimento, chefiado por Rached Ghannhouchi.
O vencedor do páreo eleitoral é formado em filosofia na Universidade de Damasco e um homem de ideias islamitas ditas moderadas, com uma longa carreira de oposição a Ben Ali na bagagem. Por isto viveu refugiado em Londres durante os últimos 20 anos e foi um dos primeiros a retornar à Tunísia quando a revolução ficou clara.
Dizem que durante o período de exílio converteu-se à democracia e à igualdade de sexo... Prometeu que o estatuto da mulher não será modificado. Porém, em um país em que o véu foi banido da cabeça das mulheres há décadas e as cidadãs de Tunis se orgulham em ostentar suas madeixas descobertas, as filhas de Ghannouchi ostentam o niqab - nome originário da palavra árabe hajaba, que significa "esconder do olhar" (foto acima).
Apesar de ter conquistado a maioria no Congresso, Ennahda não poderá governar sozinho e querendo ou não terá de respeitar a vontade de Tunis, que não quer perder sua identidade secular e ver Ghannouchi revelar-se uma cópia de Khomeini e a Tunísia transformar-se em um Irã bis governado pela charia (lei islâmica).
No movimento social e no contexto econômico em que o país se encontra, a moderação é o único caminho viável para qualquer político responsável.



Centenas de yemenitas, irmã, filhas, mães de família,  ocuparam o centro de Saana esta semana e confirmaram o papel importante que estão representando na batalha de protestos contra o ditador Ali Abdullah Saleh. Desde janeiro que as passeatas na capital são diárias e a repressão já causou enormes danos.
As mulheres tiraram o makrama- a capa negra com a qual se cobrem da cabeça aos pés - e fizeram uma fogueira de niqab.
Enquanto o país está mergulhado em uma revolta cuja intensidade aumenta sem parar, o "presidente" Saleh não cede em nada. Sabe que os EUA o protegem por causa da ameaça do al-Qaeda e aproveita o caos em que o país está para proteger seus 30 anos de autoritarismo.
É verdade que o grupo terrorista já tomou posse de várias cidades litorâneas no sul e acabou de matar o chefe do Serviço de Segurança do Yêmen, em um atentado.
Mas é também verdade que antes da revolta prolongar-se, o grupo era marginal. Agora está se expandindo e fortalecendo suas bases.
Quanto mais tempo Saleh resistir e atacar, mais a deriva para águas turvas vai aumentar.     




Yesterday’s South African township dwellers can tell you about today’s life in the Occupied Territories... More than an emergency is needed to get to a hospital; less than a crime earns a trip to jail... If apartheid ended, so can the occupation. But the moral force and international pressure will have to be just as determined. The current divestment effort is the first, though certainly not the only, necessary move in that direction.”
Arcebispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984 pelo trabalho contra o apartheid na África do Sul.

 Militarização de Israel e os shiministin


Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements ;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;



domingo, 23 de outubro de 2011

Banalização de execução sumária

I and the public know; What all shcoolchildren learn; Those to whom evil is done; Do evil in return.
Eu e o público sabemos; O que todos os meninos aprendem; Aqueles que são maltratados; Por seu lado maltratam.
Esta é uma estrofe célebre de Wystan Hugh Auden. Genro de Thoman Mann e um dos maiores intelectuais britânicos do século passado.
WH Auden, cristão confesso, disse também que Todos estamos na Terra para ajudar os outros. O que não entendo é para quê estão os outros.
Na semana passada (como tantas outras) os Todos continuavam Indignados de Singapura a Nova Iorque, mas os Outros levantaram a voz, e às vezes, armas.
A execução de Gaddafi só é surpresa (?) para a ONU.
A cabeça a prêmio não precisava as condições de captura, se algemado ou em imagem, mas a expectativa de execução era quase clara.
O choque das imagens, a Rússia botou a boca no trombone e a ONU resolveu pedir contas do assassinato. Mas com que moral?
Só neste ano, deixou os EUA executarem sumariamente Osama Bin Laden e seu próprio cidadão Anwar al-Awlaki com o filho de 16 anos, sem questionarem nada.
Neste contexto de impunidade do "líder das nações livres", como fazer os rebeldes líbios engolirem lição de moral?
Estas execuções fazem o mundo "civilizado" regredir moralmente à Idade Média, ao obscurantismo.
E as nações árabes que emergem à democracia têm em Washington um péssimo exemplo.
Sem punir os Estados Unidos na Háguia, vai ser quase impossível punir os rebeldes da Líbia por crime semelhante.
A não ser que a OTAN esteja disposta a atolar, cada vez mais, no solo enlameado do país inteiro, o pé esquerdo com que entrou nos ares tripolitanos.
Gaddafi é morto. E agora, Jalil? E agora, África?
A queda do ditador da Líbia causa satisfação na América e na Europa. Os demais ditadores árabes e a África estão tensos, apesar de terem costas quentes.
Ele não era o único déspota do continente, mas era o único que não tinha rabo preso a nenhuma potência estrangeira. Daí a rapidez com que estas “socorreram” os rebeldes, os armaram e depois bombardearam de cima para ter certeza que Gaddafi não se safaria e que os próximos líderes lhes abririam as portas econômico-financeiras.
Os demais ditadores africanos têm costas quentes, mas talvez nem tanto.
Mesmo protegidos militarmente pelos Estados Unidos em nome da “guerra contra o terror”, e pela China e Índia que não deixar ninguém matar a galinha de ovos de ouro fazendo revoluções, a grande maioria do povo não beneficia dos investimentos que entram no país ou já vão direto para contas clandestinas no exterior. Por isto e por viver em um mundo em que as distâncias encurtaram, a insatisfação, cedo ou tarde, vai chegar aos países mais improváveis.
Quem sabe até na Somália.

The Death of Gaddafi: The Big Picture

Quanto ao futuro da Líbia, ouve-se que a paz momentânea pode ser guerra civil proximamente.
Gaddafi foi para Sirte sabendo que não sairia de lá vivo. Queria morrer junto de sua tribo e transformar-se em mártir para os humildes.
Morrer isolado em palácio, é uma coisa.
Morrer rodeado na cidade natal é outra, com sentido. 
Daí a pressa da ONU em prometer investigação sobre os crimes de guerra cometidos por ambos os lados.
Há semanas que os rumores na Líbia são de que estava condenada a continuar a novela negra que começou no Iraque em 2003.
A queda de Gaddafi é um triunfo, mas a execução é uma derrota flagrante.
Mostra o quanto a autoridade do NTC (Conselho Nacional Transitório) junto aos grupos rebeldes é frágil. E quão aleatória será a posição destes homens unidos pelo ódio de Gaddafi e separados, quem sabe, por ambições de poder tribal ou/e pessoal.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Já dizia Camões. Vide a foto acima, do ano passado.
Uma coisa é certa. O conflito armado não terminou com a execução de Gaddafi. É quase certo que rixas entre prós e contras e contras e contras vão soltar faíscas em algumas partes.
Resta torcer para que as faíscas não provoquem incêndio nacional e que o NTC consiga controlar o que hoje parece dificilmente controlável.
Alguém na Líbia disse que eles podem inspirar-se no processo de reconciliação da África do Sul, exportado com sucesso para Ruanda, Libéria e outros países, mas tem um porém... O programa inaugurado pelo bispo Desmond Dutu é fundado na fé cristã da confissão do pecado e do perdão. Não sei se funcionaria calcado em outra religião. Quem viver verá.
A OTAN prometeu terminar a “campanha da Líbia” no dia 31 de outubro, mas não falou quando abandonará o navio nas mãos de tripulação e capitães nativos.

Nos Estados Unidos, França, Inglaterra,... as empresas que ainda não estão com caixeiros viajantes postados há meses em Benghazi, para abocanhar os espólios milionários da guerra que seus países patrocinaram, estão sendo incitadas vivamente a voarem já! A fim de participarem da festa econômica e deixarem os empresários locais a ver navios, como em Bagdá oito anos atrás.
Boa sorte para a Líbia e para os líbios! Com votos de que o país não protagonize o Cine-catástrofe-realidade: Iraque Bis.

RT: Que direito a OTAN tem de executar Gaddafi?

Duas “revoluções” com duas caras, poderia ter sido o título de um artigo comparativo entre o processo de “libertação” da Líbia e da Tunísia.
Porém, como nos últimos meses já falei bastante sobre o caminho errado tomado desde o início na Líbia, prefiro dar uma palavrinha sobre o país em que o povo venceu na mais perfeita paz.
Na sexta-feira almocei com Jamel, um tunisiano que faz parte da elite pensante e ativa que reside fora.
A falangeta de seu polegar estava curiosamente manchada de tinta preta e ele disse, com orgulho da conquista de um direito universal nascente, que tinha acabado de votar no Consulado para a escolha do Conselho que comporá a iminente Assembléia Constituinte.
ESclareceu que a tinta preta é para evitar fraude. As eleições no exterior duram dois dias e a tinta é impossível de ser apagada em menos de três. O sistema é infalível.
É a primeira vez que ele votava (tem 39 anos).
Não que o deposto Zine El Abidine Ben Ali tenha presidido o país de 1987 a 2011 sem organizar sufrágios, é que era eleito com mais de 90% de votos, fraudados. Os funcionários públicos, por exemplo, recebiam o envelope com a cédula, única, que depositavam na urna e iam ruminando a frustração de volta ao lar, seguro, graças à cumplicidade a que eram obrigados.
Dez meses após a queda de Ben Ali, tunisianos bem sucedidos em outras paragens retornaram ao país para participar do processo de democratização e oitenta partidos foram criados.
Jamel, como os tunisianos bem pensantes e laicos, votou na lista de personalidades que propõem um esboço de constituição que será submetida ao escrutínio público na internet para ser melhorada conforme a expectativa popular.
Dentro do país, os cidadãos que tomaram seu destino em mãos votam neste domingo.
Revolução popular é isto. É o povo unido contra um sistema apodrecido e que deixa a Justiça punir os criminosos, de colarinho branco e sem colarinho.

Após a primeira leva de troca de prisioneiros no dia 18, negociada entre Israel e o Hamas, e a acolhida de herói que tiveram alguns militantes do Hamas responsáveis por crimes de sangue, me perguntaram se acho isto moral e se não há risco que estes voltem aos atentados.
Começando pela segunda pergunta, as estatísticas que Israel mantém desde que procede a estas trocas de prisioneiros mostram que apenas 15% dos libertados retomaram atividades militares.
O risco hoje é menor ainda, pois na visão destes militantes (muitos eram civis presos por nada), eles cometeram estes atos repreensíveis em situação de guerra e agiram como soldados lutando por justa causa, com comando e ações hierarquicamente determinadas e ditadas por uma vontade política clara.
A vontade explícita do Hamas, desde 2005, é de conciliação e paz, não é mais de atentado.

Nelson Mandela, um “terrorista” anos mais tarde, em vida, popularmente canonisado, durante seus primeiros quinze anos de prisão, costumava cantar a célebre balada popular irlandesa (1) composta em homenagem a Kevin Barry, dando ênfase à frase “Fuzilem-me como um soldado irlandês, não me enforquem como um cão, pois lutei pela liberdade da Irlanda”.
Kevin Barry tinha 18 anos quando foi enforcado junto com nove companheiros do IRA, enterrados no pátio da prisão em 1920. Na libertação da Irlanda em 1934, os túmulos dos dez homens foram identificados. Em 2001 uma missa foi rezada na Catedral de Nossa Senhora e os corpos foram devidamente enterrados no cemitério de Glasnevin, em Dublin, onde um monumento foi edificado aos heróis do passado que permitiram que o presente seja desfrutado com liberdade.
Quem já esteve em Israel e, como eu, observa tudo, deve ter reparado que tem muitas ruas e praças chamadas Shlomo Ben Yosef.
O que valeu tanta homenagem a este membro do controvertido partido sionista revisionista Irgun?
Em 1938, um ano depois de ter emigrado para a Palestina, ele fuzilou um ônibus cheio de nativos com a intenção de matar todos os palestinos que conseguisse.
Ben Yosef foi julgado pelas autoridades britânicas, que então ocupavam a região, e foi condenado a morte pelo crime premeditado.
Para a  grande maioria dos israelenses, este homem movido pelo ódio racista é louvável.

Em 1948, Albert Einstein junto com a filósofa Hannah Arendt e outros intelectuais judeus da época, enviaram ao New York Times uma carta aberta (2) condenando a visita aos Estados Unidos de Menachem Begin. Este era líder do Tnuat Haherut, partido cuja organização, métodos, filosofia política e social se assemelhavam à dos fascistas, segundo os assinantes da missiva.
Esta mostra a clarividência destes intelectuais encabeçados por Einstein a Arendt. Viram nesta visita a vontade política estadunidense de apoiar este partido na Nação recém-criada, contra as ideais de Ben Gurion, mais abertas.
A carta mostrou também que a comunidade judia estava dividida, mas não evitou a ascensão meteórica de Begin.
Embora tivesse participado e dirigido vários massacres de palestinos que resultaram na Naqba (blog do 15/05/11), - inclusive do vilarejo vizinho de Jerusalém, Deir Yassin, em que o genocídio dos palestinos deixou traumatizados os soldados ingleses que chegavam sempre após o fato consumado (algumas raras fotos, como as de acima, atestam a história) - co-ganhou o Prêmio Nobel com Anwar al-Sadat em 1979 por assinarem o Tratato de Paz que seguiu a Guerra dos Seis dias.
Assinatura que não impediu Menachen Begin, entre outros atos, de bombardear uma "usina nuclear" no Iraque em 1982; de invadir o Líbano, dando início à “guerra” que culminou com o massacre dos palestinos nos campos de refugiados de Sabrah e Shatila; e de começar o processo de colonização em Cisjordânia e em Gaza.
Em 1983 retirou-se da vida pública e em 2005 foi eleito por seus compatriotas uma das cinco figuras mais importantes de Israel de todos os tempos.
O que prova a teoria do próprio Einstein. Da relatividade.

A lista de “terroristas” convertidos em “heróis” é longa. 
Uns têm glória merecida. Outros menos.
Mas é raríssimo que as pessoas em nome de quem o atos de violência são cometidos questionem o mérito destes indivíduos.
Eu sou e serei sempre contra a solução armada, pois sangue deixa mancha muitas vezes indeléveis e outras marcas dificílimas de tirar com meios brandos.
Quanto à questão moral que alguns leitores colocaram...
A primeira moral da estória é que a história não tem moral.
A segunda é que a vida mostra que pessoas intrinsecamente morais em toda e qualquer circunstância de estres, pressão, dor física ou psicológica extremas, são espécie rara.
A terceira é que sendo cristã - dos três primeiros séculos em que o cristianismo era calcado na tolerância e engajado em princípios irrepreensíveis - acho que todo mundo merece uma segunda chance.
Eu, prefiro dar a outra face e levar mais uma bofetada encarando o meu agressor do que revidar ou pôr o rabo entre as pernas e seguir adiante, de cabeça baixa, com medo da sombra.
E como todos os israelenses ativistas de Direitos Humanos aprovam a troca de prisioneiros (blog anterior) e querem que os outros seis mil palestinos sejam libertados o quanto antes, quem sou eu para emitir opinião sobre um drama do qual sou espectadora e não participante?
Além disso, o risco é relativamente proporcional à vontade de provocação de Binyamin Netanyahu e de seus planos.

Wag the dog é uma expressão anglófona imortalizada no filme homônimo de Barry Levinson, com Robert de Niro e Dustin Hoffman.
Significa dar predominância de algo irrelevante sobre um acontecimento de grande importância.
Barack Obama, coitado, na semana passada, sem solução para o movimento incontrolável de Occupy Wall Street, resolveu wag the dog para ver se as coisas acalmam.
Primeiro forneceu ao público um inimigo comum. Um complô irano-mexicano para matar o embaixador estadunidense na Arábia Saudita em solo estadunidense.
Depois foi a lenga-lenga do papel catalisador do Irã nos conflitos árabes.
E por último, mas não menos importante, declarou que os Estados Unidos retirará do Iraque seus últimos 39.000 soldados até o dia 31 de dezembro deste ano.
Desde 2003, mais de 4.400 cidadãos dos EUA morreram na ocupação do Iraque.
Segundo uma agência de pesquisa britânica, cerca de um milhão de iraquianos morreram no mesmo período em consequência da guerra e da ocupação.


No Yêmen, os protestos não arrefecem e a repressão prossegue.
Ali Abdullah Saleh quer garantias,
antes de abdicar ao absolutismo de seus 33 anos de presidência  



 
Na Síria,
a palavra de ordem não muda: Assad, reforma, ou fora!
A despeito das  passeatas de simpatizantes do presidente em Aleppo e Damasco.


A título de informação, o Brasil finalmente aderiu, oficialmente, à ocupação injusta da Palestina abrindo uma representação nacional do Movimento Brasileiro BDS (Boycott, Disinvestiment, Sanctions) contra Israel. O evento aconteceu na USP na semana passada.
Agora os nossos compatriotas que quiserem, poderão participar do Movimento e pressionar o governo da Dilma para que não permita que Israel use MADE IN BRAZIL para produzir e exportar seus produtos que vêm sendo boicotados no mundo inteiro.
Temos de ficar atentos para que o lobby sionista não transforme São Paulo em Nova Iorque e Brasília em Washington.
Nós somos brasileiros, defensores dos fracos e dos oprimidos; ou isto é ideal ultrapassado nas novas gerações?
"Palestine is the cement that holds the Arab world together, or it is the explosive that blows it apart."
Yasser Arafat
Israel: Estado Militar

1. Balada Kevin Barry: http://youtu.be/ehWfKQRFwWQ; letra: http://celtic-lyrics.com/forum/index.php?autocom=tclc&code=lyrics&id=283.
2. Carta de Einstein enviada ao NY Times: http://www.physics.harvard.edu/~wilson/NYTimes1948.html
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;

domingo, 16 de outubro de 2011

"Econontifada" gringa e em 82 países contra os efeitos perversos do capitalismo




A Espanha brilhou no topo dos 82 países que se manifestaram no Dia dos Indignados.
E das 951 cidades que aderiram com mais ou menos intensidade ao Dia dos 99%, Madri e Barcelona foram exemplares. Juntaram milhares de pessoas nas ruas, sem nenhum incidente lamentável. A democracia funcionou do começo ao fim das passeatas.


De Tóquio a Nova Iorque, o Dia dos Indignados só deixou marca vergonhosa em um patrimônio histórico-cultural da humanidade.
Em Roma, a praça San Giovanni foi transformada em campo de batalha por fascistas encapuzados que atacaram o Corteo degli indignati - Passeata dos Indignados, sequestrando a cidade da calma e destruindo tudo o que via pela frente. A praça San Giovanni foi devastada. Muitas perdas, muitos danos e muitas questões sobre quem está atrás desta investida para-militar contra os manifestantes e contra a própria cidade.




Em Seul,
na Coréia do Sul












Em Sydney, na Austrália












Em Londres, na St Paul's Cathedral









Occupy Wall Street, na Times Square de Nova Iorque






Quem diria que um movimento revolucionário que começou em um pequeno país árabe chamado Tunísia fosse inspirar revoltas ocidentais e atingir até os Estados Unidos?
O movimento Occupy Wall Street, que começou em Nova Iorque, continua e se alastra por muitos estados.


Que 1% da população dos Estados Unidos controla 40% da riqueza do país, já se sabia.




Que de ano em ano aumenta a distância que separa esta super-minoria super-rica dos demais 99% que suam a camisa e apertam os cintos para pagar as contas no fim do mês, também já se sabia.




Que nosso vizinho lá do alto tem um déficite de U$14.3 trilhões, também é sabido.


Que Wall Street foi resgatada em setembro de 2008 por Washington de seu próprio sequestro monetário, todos viram.

Que Washington deixou todos os lesados desabrigados, foi uma medida ressentida.


Que Wall Street era e é o símbolo internacional do capitalismo selvagem, ninguém duvida.


Por que os cidadãos que ficaram calados durante as últimas quatro décadas, que desde a mobilização universitária contra a guerra do Vietnã são passivos, acordaram de repente para a resistência ativa?
Por que a intifada árabe mostrou que tudo é possível e atingiu os estadunidenses como uma bofetada para que acordem da letargia e reivindiquem o que lhes é devido.


Occupy Wall Street em Nova Iorque vem se expandindo como o fogo de subterfúgios que o capitalismo usa para produzir cada vez mais pobres e ricos cada vez mais opulentos.


Para se entender o Basta cidadão que se alastra pelos EUA é só ver os números, as cifras e a queda dramática da qualidade de vida dos 99% que estão botando a boca no trombone.
De 1999 a 2009, não houve nenhum aumento na criação de emprego, sendo que nas décadas precedentes o número foi de pelo menos 20% por década.
Em 2010, a média de salário anual da classe média era de U$48.445, uma perda de 7% em relação a dez anos antes. Uma perda de U$3.719 que leva o país de volta a 2006.
A classe média alta que ganhava U$141.032 passou a ganhar U$138.923.
Quanto aos pobres, perderam 12% da renda, passando de uma média de U$13.538 a U$11.904.
Enquanto a renda dos 90% desmoronava e dos 9% baixava em vez de aumentar, os 1% lá do alto desfrutaram de um acréscimo de 65% de todo ganho de crescimento que o país registrou nos últimos anos.
O último recenciamento constatou um aumento de 46 milhões de pobres que serão 50 milhões em 2015 e 10 milhões a mais em 2017.
Abaixo destes, há os chamados deep poor, os 20.5 milhões que vivem muito abaixo da linha de pobreza e representam 6.7% da população.
Nem os subúrbios asseptizados à Desperate Housewives, símbolo de prosperidade, vêm sendo poupados. Quinze milhões destes suburbanos caíram no solo de pobreza.
O que no frigir dos ovos indica que nos últimos dez anos, houve um empobrecimento de 53% dos habitantes.
O que em termos econômicos significa, além da pauperização da população, uma queda de dominó econômico - queda de consumo, queda em vendas, crise de fabricantes e varegistas, cortes de despesa, desemprego, etc.
15.1% dos estadunidenses vivem oficialmente abaixo do solo de pobreza definido pelo Banco Mundial.
16.4 milhões de crianças estadunidenses vivem na pobreza, sendo que 22% delas abaixo do solo oficial.
A perda de poder de compra das famílias hispânicas foi de 66%; das negras, de 53%, e das brancas, 16% - vale lembrar que em 2009 a média salarial de uma família branca era de U$113.149; negra, U$5.677; hispânica, U$6.325.
O pior de tudo é o mercado de trabalho.
O déficite atual é de 11.2 milhões de empregos.
O único jeito do governo reverter o declínio seria criar 280 mil empregos por mês. O que no contexto de crise interna e de credibilidade internacional do EUA parece impossível.
Barack Obama tem sido um fiasco em política internacional, mas justiça seja feita, tem feito o possível para corrigir a política iníqua de seus antecessores na Casa Branca. Atacou a Seguridade Social, que Bill Clinton prometeu e não ousou atacar, para que seus condidadãos não morram à míngua hospitalar, estabeleceu imposto sobre as grandes fortunas e outras coisas que apesar de urgentes e necessárias, são insuficientes para recolocar o trem EUA em trilhos pra lá de estragados.
Vendo a onda de protesto de Occupy Wall Street (que por enquanto se restringe à classe média) me lembro do que um colega estadunidense disse vinte anos atrás quando deixou o Brasil para retornar à matriz de seu jornal em Nova Iorque: Falam sobre a violência no Brasil, mas perto da nossa é quase irrelevante porque o brasileiro é de natureza cordial e pacífica. No dia em que os Estados Unidos atingir o nível de pobreza em que o Brasil se encontra agora, vai pegar fogo porque meus compatriotas são alimentados pela lei do mais forte e são potencialmente capazes de atos de violência cinematografáfica.
Espero que ele esteja errado.

Como a marioria da mídia dos Estados Unidos trata a intifada nacional como se os manifestantes fossem um bando de vagabundos, para pôr os pingos nos iis, deixo a palavra aos colegas Naomi Klein e a mídia livre de Democracy Now: http://www.democracynow.org/2011/10/6/naomi_klein_protesters_are_seeking_change.


Mas o mundo vai explodir mesmo quando os cidadãos chineses e indianos começarem a botar a boca no trombone e saírem às ruas para exigir a parte do bolo financeiro que lhes é devido.

Os excluídos do enriquecimento da Índia

Os excluídos do enriquecimento da China
 A Índia, um dos nossos "concorrentes/amigos" do BRIC, tem um número de pobres tão alto e em crescimento tão incontrolável que, embora houvesse abandonado há anos os parâmetros do Banco Mundial - renda mínima de U$38 mensais - baixou seu critério nacional ainda mais, a fim de não assustar investidores maquiando os dados reais e para não aumentar os gastos com sesta básica.
Vai diminuir os U$12.75 que estabeleceu como piso para os moradores de cidades e os U$9.93 da zonal rural para "enriquecer", em seus parâmetros, parte dos 27% da população (a porcentagem chinesa oficial é a mesma) que vivem abaixo deste sofrível critério de solo de pobreza e evitar um acréscimo chocante.
Nos parâmetros do Banco Mundial, 41.6% (37% - 1.35) dos indianos vivem abaixo do solo de pobreza. Ou seja, por volta de 1.5 bilhões de indivíduos. 1.1 bilhões não dispõem de saneamento básico e/ou de água potável.
Os slums indianos são muito mais miseráveis do que as favelas brasileiras e tão insalubres quanto as chinesas. Nos slums indianos morrem dois milhões de crianças por ano de doenças relacionadas com má  nutrição.
Na China, país que virou de ditadura socialista para ditadura capitalista selvagem, não há estatísticas, por razões óbvias.
A super-população e a desigualdade social crescente destes dois países do BRIC são uma bomba relógio que não se pode negligenciar na equação econômica do futuro.

Recente relatório da ONU indica que nos últimos dez anos
o número de favelados no Brasil diminuiu em 16% 
A título de comparação entre Índia, Estados Unidos e Brasil, segundo os parâmetros do Banco Mundial, 8.5% da população brasileira se encontra em estado decrescente de pobreza.
Nos últimos dez anos, 12.8 milhões de brasileiros saíram do estado de pobreza e 13.1 milhões saíram do estado de deep poor, ou seja, de indigência. Segundo a definição brasileira (superior à do Banco Mundial) estabelecida pelo IPEA - menos de U$140 de renda mensal para pobre e de U$70 para indigente.
A renda dos 50% mais pobres aumentou 50% nos últimos anos e a dos 10% mais ricos 10%.
O crescimento desigual de renda tupiniquim registrado em 1990, por exemplo, foi de 0.61%. A deste ano foi de 0.53%.
Se o Brasil prosseguir a política de erradicação da pobreza neste ritmo, estima-se que a miséria desaparecerá em 2016 e "apenas" 4% da população do nosso país viverá abaixo do solo de pobreza. No mesmo ritmo e com a mesma política, dentro de 15 anos veremos a erradicação total desta vergonha socio-moral nacional da nossa consciência.
Durante os mesmos anos em que o Brasil vem procedendo a uma melhor distribuição da riqueza que o país promove, a desigualdade de renda entre a população rica e pobre nos nossos parceiros do BRIC - Rússia, Índia, China - em vez de baixar vem crescendo.

As maiores favelas do planeta


Como o mundo não se resume aos cidadãos indignados com os estragos do capitalismo, no Oriente Médio, uma troca de prisioneiros é a grande notícia.
Quanto vale um israelense em 2011?
Vale 1.027 palestinos – A média desde que estou na ativa é de 1.300 por 1.
Nestes últimos trinta anos, sete mil prisioneiros palestinos foram trocados por dezenove prisioneiros israelenses.
Em 1985, 1.150 palestinos foram trocados por três soldados capturados no Líbano; em 1998, 65 membros do Hezbollah vivos e 40 mortos pelo cadáver de um soldado, e assim por diante.
Acho que foi baseado nesta conta que a indignação pública foi acanhada quando do bombardeio e invasão de Gaza em 2009 em que mais de 3.500 gazauís foram assassinados. No final das contas, como morreram 13 soldados israelenses (a metade por fogo amigo), nesta lógica ilógica, Israel teve 10 mortos a mais do que os palestinos.
Agora sim, eu entendo.
O que eu não entendo é como, com todos os meios de comunicação sofisticados dos quais dispõem o Pentágono e Tel Aviv, nem um nem outro conseguiu descobrir onde o soldado Gilad Shalit estava preso. É um enigma.
Shalit talvez desvende este grande mistério aos jornalistas que nunca pensaram em fazer às autoridades israelenses esta simples pergunta: vocês são incompetentes ou ele não está mais em Gaza, foi levado por um túnel para o Egito... Quem sabe?
Onde quer que estivesse o soldado franco-israelense, Israel sofreu uma derrota militar.
Bombardeia, tem tecnologia para ver o que está na cara e o que está camuflado, mas em cinco anos não conseguiu descobrir onde estava um de seus soldados.
Parece incrível.
A não ser que o Golias do século XXI que está enjaulado na Faixa de Gaza tenha aprendido direitinho a lição de David.

Khaled Meshal, Gilad Shalit, Binyamin Netanyahu
No frigir dos ovos a operação numérica da troca de prisioneiros: Gilad Shalit contra 1.207 pessoas do outro lado do muro foi um sucesso de mídia. E como toda operação David, esta também foi espertinha.
Israel resolve parcialmente o problema de suas prisões superlotadas e mostra, mais uma vez, que a vida de um compatriota vale muito mais do que a de qualquer outro homem que respire.
A OLP chamou a atenção para o fato de nenhum dos nomes da lista ter grande relevância política e é verdade que dela não consta nenhum dos intelectuais que poderiam acrescentar algo à causa Palestina.
Israel vai receber seu soldado e entregar simultaneamente 477 palestinos (450 homens e 27 mulheres), na terça-feira, em várias localidades: checkpoints na Cisjordânia, No man’s land em Gaza;, os demais serão deportados.
A má notícia é que parece que só 313 poderão retornar ao lar. Cento e dez serão devolvidos na Cisjordânia e 203 em Gaza. Os demais serão deportados para a Turquia e países europeus em que deverão obter estatuto de refugiado na chegada, já que não dispõem de identidade nacional e nem passaporte que permita que residam no exterior na legalidade.
O grande vitorioso do negócio parece ser o Hamas, que conseguiu 90% do exigido. E os nomes que sobressaem são os de Khaled Meshal, seu líder político, que já está no Cairo desde quarta-feira passada para providenciar a troca, e de Murad Muwafi, chefe do Serviço de Inteligência (ex-Secreto) do Egito.
A operação é espetacular, mas não contribui ao processo de paz a curto, médio e longo prazo.
Dos nomes que constam da lista de prisioneiros a serem libertados, quatro são militantes-militares do Hamas. Ahlam Tamimi, jornalista convertida em militarista, ajudava na escolha de locais para os bomba-suicidas atacarem e os acompanhava pessoalmente até o lugar fatídico; Mohammed al-Sharatha, é um dos líderes das forças especiais 101 do Hamas e responsável pelo assassinato de dois soldados israelenses em 1989; Nasser Iteima, dirigiu o atentado contra o hotel Netanya em 2002; Walid Anjes, dirigiu o atentado contra o Café Moment em Jerusalém no mesmo ano.
Um dos nomes cuja ausência da lista todos lamentam e que faria diferença é o de Marwan Barghouti. Um dos grandes, se não o maior, cérebro do Fatah e um líder carismático da OLP que poderia ajudar, e muito, no processo de reconciliação com o Hamas.
Deve ser por isto que vai continuar atrás das grades.


Ainda restam cerca de seis mil palestinos detidos em 22 prisões em Israel e na Cisjordânia.
Dentre eles, cinquenta prisioneiros políticos fizeram greve de fome no mês passado contra as más condições de dentenção.
Eles não têm acesso a livros, nem a programas educacionais ou mudas de roupa.
Os que são autorizados a visitas esporádicas de familiares, os encontram algemados.
Muitos passam até cinco anos sem nenhum contato com a família ou o mundo externo e o número de prisioneiros confinados em solitárias tem aumentado bastante.
Uma das razões de Israel ter concordado em libertar um número tão alto, além do valor relativo da vida... pode ser a lotação excessiva de seus cárceres. Pois além dos seis mil prisioneiros políticos palestinos ainda tem os prisioneiros comuns israelenses.
Como em todos países, em Israel também tem muito bandido, de colarinho branco e sem colarinho.

Professor Noam Chomsky fala sobre Occupy Wall Street


"The intellectual tradition is one of servility to power, and if I didn't betray it I'd be ashamed of myself.
It makes sense to work towards a better world, but it doesn't make any sense to have illusions about what the real world is.
Israel's military occupation is] in gross violation of international law and has been from the outset. And that much, at least, is fully recognized, even by the United States, which has overwhelming and, as I said, unilateral responsibility for these crimes. . . . On December 5th [2001], there had been an important international conference, called in Switzerland, on the 4th Geneva Convention."
Noam Chomsky

Lista de produtos das colônias a serem boicotados:
http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
http://www.bigcampaign.org/