domingo, 26 de junho de 2011

Tem moral em toda história?

Como recebi reclamações por não ter feito nenhuma atualização sobre a Palestina na semana passada, hoje faço meu mea culpa tentando cobrir o atraso com algumas notícias rápidas.

Steve Jobs, o ícone da Apple, era, até há alguns dias, a imagem do sucesso sem mancha no currículo, o protótipo do empreendedor sem “rabo” e com certa moral. Até a semana atrasada. Até atender ao “pedido” de Israel de suprimir do iPhone uma aplicação (app ThirdIntifada) Palestina que anunciava as próximas passeatas de protesto contra a ocupação, acesso a artigos e editoriais e links a material informativo sobre o que está acontecendo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. O ministro israelense Yuli Edelstein argumentou que a app iPhone era “anti-Israel e anti-sionista” e que “poderia unir muitos em um objetivo que poderia ser desastroso”. Não precisou nem dizer para quem talvez fosse desastroso. A app ThirdIntifada foi banida em seguida.
Moral da estória, a Primavera Árabe é bem-vinda na web, contanto que não inclua a libertação da Palestina.

Facebook não fica atrás. Ou melhor, foi o primeiro a banir os palestinos do espaço cibernético se deixando convencer (com muita facilidade) a suprimir a página ThirdIntifada. Página que já tinha atraído 350 mil fãs em poucas horas, dentro e fora da Palestina. Neste caso, os executivos recusaram em toda a escada hierárquica e Israel teve de ir direto ao fundador para obter a decisão antidemocrática. Mark Zuckerberg deu a ordem de supressão sem saber bem do que se tratava.
Esta Moral da estória fica por conta de quem assistiu a The Social Network de David Fincher. Eu não conheço este indivíduo e não sei se a esperteza é o único atributo do qual é dotado.

É pena, pois os jovens palestinos realmente acreditam, ou acreditavam, que o fim dos 44 anos de ocupação israelense pudesse acabar com um movimento de protesto não-violento e democrático. Estavam apostando em um remake da primeira Intifada, de 1987, caracterizada por uma desobediência civil e passeatas massivas, reprimidas a gás e bala. A geração internacional de hoje só conhece a reputação violenta da segunda Intifada provocada por Ariel Sharon em 2000. O recurso marginal aos bomba-suicidas prejudicou bastante a imagem global dos palestinos, embora estes atentados só tenham durado dois anos, 2003 e 2004, e tenham ocorrido em retaliação aos assassinatos, menos divulgados, de membros do Hamas, inclusive dos dois filhos do líder do partido. Este ordenou o fim dos atentados em dezembro de 2004. Desde então, a única ação armada contra Israel tem sido foguetes artesanais esporádicos lançados de Gaza por um grupo inconformado.
Desde então, além da violência psicológica e física quotidiana, Israel bombardeou o Líbano e Gaza causando centenas de vítimas irrelevantes, na ótica da ideologia predominante.
Moral da estória, o conceito de violência é relativo. Depende do poder de controle da mídia de quem a aplica.

No dia 24 foi o aniversário de 5 anos de cativeiro do soldado israelense Gilad Shalit. Então várias ONGs de Direitos Humanos israelenses, palestinas e internacionais solicitaram, com pertinência, a libertação e bons-tratos do prisioneiro de guerra alegando que “seres humanos não são fichas de câmbio”. No dia seguinte, a Casa Branca apelou para que o Hamas soltasse “imediatamente” o prisioneiro, sem condições.
Zyiad al-Shaloudi, 15 anos, espancado
por tentar proteger sua cunhada dos soldados
Desde a captura em 2006 que o Hamas vem negociando a troca do soldado por umas dezenas das centenas de prisioneiros políticos palestinos que Israel detém atrás das grades. Inclusive 64 parlamentares. E até abril deste ano, só em “prisão administrativa”, termo usado para os detentos sem julgamento e sem acusação formal, havia 216 adultos, 180 menores de 18 anos e 37 menores de 16.
Moral da estória, dependendo da nacionalidade, a vida de um soldado capturado em serviço vale mais do que as de centenas de civis sequestrados.

Nesta semana, na iminência da chegada da Flotilha humanitária nas águas internacionais que avizinham Gaza, Israel “autorizou” a UNRWA (Agência da ONU para refugiados) a reconstruir dezoito escolas e mil e duzentas residências que alojariam algumas das centenas de famílias gazauís cujas casas foram bombardeadas em 2008/09. Por incrível que pareça, este anúncio não virou anedota na mídia e nem causou indignação na maior instância administrativa internacional. Esta saudou a “autorização” como se fosse uma dádiva e a informação foi veiculada nos jornais com naturalidade, como se Israel tivesse autoridade para negar ou autorizar acesso a um território estrangeiro que transformou em gueto nos anos de sítio inexpugnável.
A lista, longa e detalhada, dos produtos que podem passar pelo No man’s land que separa Israel da Faixa é religiosamente respeitada até pelos funcionários da ONU. Esta inclui material hospitalar e de construção. Gêneros perigosos como papel higiênico já podem ser encontrados nas prateleiras de alguns mercados.
Moral da estória, às vezes (muitas) a imprensa falha; e a ONU, tem moral?

Temendo não conseguir que seu lobby impeça o reconhecimento do Estado da Palestina em setembro pelas Nações Unidas (EUA à parte), e sob pressão dos habitantes da cidade de Bil’in e das ONGs humanitárias israelenses e internacionais que resistem à construção de um novo muro de apartheid, o governo israelense declarou a suspensão de um pedacinho que cerca uma cidade continuando a construção em outras paragens menos midiatizadas.
Vale lembrar que no dia 9 de julho de 2009, a Corte Internacional de Justiça declarou a ilegalidade de toda a extensão da barreira israelense e ordenou seu desmantelamento conforme a Assembléia Geral da ONU.
Vale lembrar também que a barreira, ou muro, ou cerca cimentada, além de encurralar os autótones, já engole 413 dos seis mil km² de terras que compõem a Cisjordânia.
Moral da estória, esta estória não tem nenhuma moral.

Resolução 181 da ONU
O governo de Israel argumenta que os palestinos não podem reivindicar um Estado porque esta reivindicação é unilateral e os EUA concordam.
Dizem também que os palestinos estão recorrendo a golpe baixo indo à ONU solicitar o reconhecimento de um estado sem consultá-los.
Enquanto isto, na Tel Aviv que pensa, reage e resiste ao pragmatismo irresponsável de seus dirigentes expansionistas, questiona-se por outro lado:
Mas o Estado de Israel não foi proclamado por David Ben-Gurion e seus colegas unilateralmente no dia 14 de maio de 1948?
Mas o Estado de Israel não foi proclamado em uma resolução adotada pela Assembléia Geral da ONU sem consultar quem já lá morava?
A resolução em questão é a 181 do dia 29 de novembro de 1947 que dividia a Palestina em dois estados.
Um foi formalizado e o outro foi deixado de lado.
A resolução 181 que serviu à declaração de Ben-Gurion no ano seguinte é a mesma na qual os palestinos se apóiam para oficializar seu Estado.
Trocando em miúdos, como diz o jornalista Uri Avnery, os palestinos têm de ser condenados pelo esforço impertinente de recorrer à ação “unilateral”.
É o que diz Binyamin Netanyahu. É o que diz Barack Obama. É o que diz Hillay Clinton. É o que diz Angela Merkel (por razões diversas).
Moral da estória, qualquer que seja a frase, encarreada, vira mantra. Que como se sabe, em sânscrito significa “arma ou utensílio do espírito” que deveria ser usado para o bem-estar físico e espiritual. O mantra é baseado no poder do som. Pela sua vibração e ressonância ele teria a capacidade de transformar o ambiente e quem o recita. O mantra é repetido a fim de produzir um efeito determinado.
Neste mantra acima, de “punamos os palestinos pela impertinência de recorrer à ONU para legalizar seu Estado”, o efeito desejado é influenciar a opinião pública internacional para quando os EUA vetarem a decisão dos demais Estados, poderem dizer: Tomou papudo! sem chocar demais.


Acabei de ser informada do "aviso" do governo de Israel que os jornalistas a bordo da Flotilha humanitária que está se dirigindo a Gaza terão todo material confiscado e serão banidos pessoal e profissionalmente do país por 10 anos.
Gato escaldado que cobre o Oriente Médio sabe do perigo que corre de não poder trabalhar e fica de fora, consternado.
Em solidariedade aos que estão nos navios, tanto os ativistas quanto os que vão fazer o trabalho vetado aos especialistas - que paradoxalmente são obrigados a entrar pelo aeroporto Ben-Gurion e esperar na praia - aí vão algumas palavras para lembrar do que se trata.
No ano passado nove ativistas turcos foram assassinados e as dez toneladas de mantimentos que os navios carregavam foram confiscadas, além dos pertences dos passageiros dos barcos.
Este ano a Freedom Flotilla - Stay Human está a caminho para a Faixa com nove navios de passageiros e dois cargueiros que levam ainda mais mantimentos e cerca de mil ativistas de vinte países.
Alguns membros das ONGs humanitárias levam
câmeras cujas imagens irão ao ar na chegada, se a
Internet não for bloqueada.

Bons ventos tragam todos a porto seguro,
sãos e salvos.

O jornalista italiano Vittorio Arrigoni (à direita),
na flotilha do ano passado.
A deste ano foi batizada Stay Human
em sua homenagem





Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
;

domingo, 19 de junho de 2011

Um homem e uma Mulher

A Turquia acabou de reeleger Recep Tayyp Erdogan para o cargo de Primeiro Ministro, tirando um suspiro de alívio dos democratas laicos que observam este país que foi o núcleo do Império Otomano e que hoje é o Brasil regional.
Erdogan é o único político que rivaliza com Lula no percurso extraordinário. Como Lula, é respeitado pelas pessoas que apreciam a inteligência bruta em vez da que ofusca e a coragem de opiniões contraditórias com o status quo político.
Erdogan liderou seu partido em três eleições vitoriosas e levou a Turquia à prosperidade e ao destaque internacional. E como Lula, nas ruas dos bairros pobres de Istambul, tais quais Kasimpasa, Kulaksiz, desconhecidos dos turistas, ele é um herói saudado aos gritos. Foi nestes bairros que cresceu vendendo pão e jogando futebol na rua. É neste e em outros bairros da periferia que homens, mulheres e crianças o chamam bizden biri (um de nós) de peito estufado
O AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) de Erdogan ganhou as últimas eleições parlamentares atestando sua liderança que começou em 1994 quando foi eleito prefeito de Istambul. A capital da Turquia é Ankara, mas é Istambul que dá as cartas.
Quem conhece o país sabe quanto mudou nos últimos 20 anos. O salto de qualidade de vida e de modernização foi gigantesco. Na década de 90, por exemplo, nenhum país árabe trocava um milhão de Liras turcas por sequer um tostão local. Hoje os sauditas trocam 250 de seus Riyals por 100 liras de boa vontade.
Este é só um exemplo entre tantos tão ou mais importantes, como a laicidade que predomina em Istambul e em Ankara. Nestas duas cidades o islamismo não oprime as mulheres tanto quanto no interior e elas andam de cabelo solto e participam ativamente do crescimento econômico em empregos qualificados. Inclusive com aumento de 14% na representação parlamentar, passando de 48 a 78, nas 550 cadeiras do Congresso - na Europa a média é de 19% e o objetivo da Turquia é atingi-la com grandes reformas que corrijam as desigualdades no código penal.
Contudo, as mudanças que foram feitas ainda estão longe de acabar com a discriminação contra as mulheres ativas. Elas desejam que desta vez Erdogan ouse mudanças que realmente lhes assegurem igualdade de direito e de fato.
Mas para isto Erdogan precisa de coragem para em vez de baixar o nível ao dos aliados que precisa para ter maioria parlamentar confortável, eduque melhor a população e “peite” costumes arcaicos de “valores morais” contrários a uma modernização real da sociedade turca. Dizem por lá que medidas concretas a favor das mulheres poriam em risco a carreira que o primeiro ministro tanto preza. Eu digo, Ou não. Pode também propulsá-lo mais alto e assegurar-lhe um lugar na história como o político que conseguiu colocar a Turquia no mapa da Europa porque estava mais preocupado em governar bem do que em se perpetuar no cargo.

Suu Kyi diante da foto do pai, general Aung San

 “Não é o poder que corrompe e sim o medo. Medo de perder o poder corrompe os que o manejam e medo do flagelo do poder corrompe os que se submetem.”



Falando em mulher, falemos na Mulher que disse a frase acima. Daquelas mulheres que orgulham o gênero feminino em todas as nuances de sua particularidade. Feminidade, inteligência, sensibilidade, força e coragem. A Mulher por excelência em quem falo é a birmanesa Aung San Suu Kyi.
O início do nome de Suu Kyi indica que é filha do general Aung San, herói da independência da Birmânia, assassinado quando ela tinha dois anos de idade.
Suu Kyi ficou conhecida fora das fronteiras birmanesas em 1995 graças ao filme do inglês John Booman Beyond Rangoon, em que uma turista estadunidense (interpretada por Patrícia Arquette) que está em Rangun no momento da insurreição popular contra a ditadura em 1988 e acaba participando de passeatas estudantis pro-democracia em companhia da personagem que retratava Suu Kyi. O filme foi o sucesso do festival de Cannes, o público prestigiou a coragem de John Boorman enchendo os cinemas e alguns chegaram a compará-lo com o grande clássico Paisa, em que Roberto Rossellini em 1946 retratou a ocupação de Nápoles. 
Eu prefiro não comparar o incomparável e só constatar que Beyond Rangoon entrou na curta lista de obras cinematográficas corajosas que influenciaram a história. Algumas semanas após o lançamento na Europa, a junta militar da Birmânia libertou a verdadeira heroína do filme, que embora já tivesse tido o Prêmio Nobel da Paz em 1991 era uma ilustre desconhecida. Aliás, Suu Kyi agradeceu John Boorman publicamente quando foi libertada, em entrevista concedida à BBC. Ficou em prisão domiciliar durante alguns anos e em seguida voltou às masmorras até voltar a ser confinada em casa. 
Suu Kyi é o Nelson Mandela de saias. Ou melhor, Suu Kyi é uma mulher, de verdade. A Amélia era o exemplo do qual as mulheres do mundo inteiro e da Turquia de hoje, querem distanciar-se. Suu Kyi, na Birmânia, é simplesmente chamada A Senhora, como se fosse a única que contasse. Daw Suu é como a chama quem tem o privilégio de encontrá-la.
Suu Kyi é a mulher que faz o mundo avançar e a vida valer a pena ser vivida com responsabilidade do respeito do outro e dos sonhos que valem a pena ser realizados. Suu Kyi é a prova que o verdadeiro idealismo é uma realidade. Que o ideal das causas justas se reforça com o tempo e a adversidade, e não o contrário.
A Senhora nasceu em 1945, no ano em que os nazistas foram derrotados. Estudou Ciências Políticas na Universidade de NewDelhi e em 1964 (...) foi estudar Política, Economia e Filosofia em Oxford. Voltou para a Birmânia em 1988 e mostrou que era filha do pai. Entrou de cara no movimento democrático e acabou encabeçando a Liga Nacional pela Democracia pela qual correu o país discursando por reformas e pela paz. Sua campanha terminou com a eleição de 392 deputados dos 485 que compunham o Congresso e para ela, prisão domiciliar ou Fora! Isto foi em 1989. Desde então ela tem vivido presa, em casa ou em celas oficiais. Atualmente está em prisão domiciliar disfarçada.
Casa da família Aung San Suu Kyi
Sua casa é constantemente vigiada, as visitas selecionadas, os emails e telefone grampeados e censurados. Quem passa na rua ouve o som do piano que ela toca todos os dias e quem tem sorte consegue trocar algumas palavras com ela na antiga residência familiar.
Por que estou falando nela hoje e não em novembro do ano passado quando foi libertada?
Porque foi agora que o seu padrinho, Paul Hewson, vulgo Bono, conseguiu recuperar o filme sobre ela que havia encomendado e que finalmente foi "contrabandeado" para fora da Birmânia a fim de ser apresentado no telão durante a turnê mundial do U2. Depois desta, até o velho e o jovem mais alienados vão saber quem ela é.
Se você tiver oportunidade de assistir ao show, esqueça o Bono, o Edge, o Adam, o Larry, e encare Daw Suu quando tocarem Walk On, a música composta em sua homenagem.
É ela a moral da história dos quatro irlandeses engajados em causas humanitárias. Diga-se de passagem, graças à força moral do discreto percussionista Larry Mullen, cabeça e consciência do grupo – a ética que brilha através da eminência parda.


50 anos de Anistia Internacional: http://youtu.be/xUzq43-eZFo;
Suu Kyi: http://youtu.be/iG9LizSi4zc;
U2 Wal On: http://youtu.be/8R5oBosyO-s; http://youtu.be/aKeD1_puAPg;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/; http://youtu.be/rzqgGnAS8OQ;
http://www.bigcampaign.org/;

domingo, 12 de junho de 2011

Paquistão, Somália, e Oriente Médio


Syed com Talibã em Kumar
No dia 31 de maio, o jornalista investigativo paquistanês Syed Saleem Shahzad foi encontrado morto em um canal no nordeste do seu país natal. O corpo do chefe do escritório do Asian Times on line, baseado em Hong Kong, tinha marcas evidentes de torturas variadas. Syed era também correspondente da agência italiana de notícias AdnKronos e uma figura conhecida e respeitada pelos colegas que cobrem a área geográfica Paquistão/Afeganistão e o al-Qaeda.
Por que falar só em Syed, quando nos cinco primeiros meses deste ano vinte e quatro colegas já morreram exercendo nosso ofício? Porque ele foi sequestrado, torturado e jogado fora como lixo três dias após ter lançado o livro Inside al-Qaeda and the Taliban, no qual fazia revelações sobre o funcionamento da organização e sua infiltração em postos chave.
Quando Osama ben Laden foi executado falei de passagem da ineficácia deste desagravo estadunidense (como são todas as desforras que semeiam ódio e mais vingança), já que este não passava de um velhote sem nenhuma voz ativa no movimento terrorista internacional - Talvez por isto tenha sido deixado quieto pelos paquistaneses em seu refúgio de aposentado, após os serviços internos que lhes havia prestado.
O livro de Syed é baseado em uma série de entrevistas feitas durantes anos com vários líderes do al-Qaeda. E considerando suas fontes (perto das quais 95% dos jornalistas só tinham migalhas que transformavam em manchetes sensacionais) representa o retrato mais fiável da situação atual nesta região, nesta área.

Ayman al-Zawahiri
Syed confirma que Osama ben Laden era uma figura de proa para consumo público e que quem tocava o navio era mesmo o Dr Ayman Zawahiri, que formulou a linha ideológica e operacional da organização. Ele resume a estratégia do al-Qaeda em como “ganhar a guerra contra o Ocidente no Afeganistão” antes de mudar o rumo para a Ásia Central e o Bangladesh. Segundo ele, os aliados do al-Q no norte e no sul do Waziristão transformaram as áreas tribais do Paquistão em bases estratégicas de resistência dos Talibã às Forças EUA-OTAN, porém, deixa claro que a organização terrorista alimenta a luta dos Talibã não para que se livrem dos ocupantes, mas para que a ocupação seja mantida, pois é graças a esta que consegue atingir o objetivo global de polarizar o mundo islâmico. O temor do al-Q é que os Talibã cedam a um acordo, que as tropas ocidentais se retirem e lhes tirem a cenoura que atrai adeptos à sua organização.
Perto de Zawahiri, Maquiavel parece um garotinho de cinco anos. Em meados de 90 a eminência parda do alQ teria planejado tudo nos mínimos detalhes, desde os ataques dos EUA em 2001 e a retaliação no Afeganistão que estimularia uma revolta nos países islâmicos. Em seguida começariam acusações veladas contra os regimes corruptos árabes e sua submissão a Washington, a fim de destruir sua imagem. Documenta com uma entrevista que data de 2004, em que o líder saudita Saad al Faqih, suposto colaborador de ben Laden, afirma que este foi convencido por Zawahiri a jogar com o imaginário cowboy estadunidense que o colocaria como um “inimigo implacável” e “produziria um líder muçulmano capaz de desafiar o Ocidente com sucesso”.
As ocupações do Afeganistão e do Iraque, segundo as fontes de Syed, proporcionaram ao al-Q a chance de expansão que buscavam. Permitiram a orquestração de uma insurgência islâmica mundial, detectada pela Arábia Saudita que vem tentando mediar um acordo EUA/Talibã desde 2007 por temer a repercussão nacional. Tentativas que vêm sendo sistematicamente sabotadas pelo al-Q e pelos sectários estadunidenses incautos.
(A ironia do destino é que os jovens instruídos não são facilmente manipuláveis e por isto tomaram as rédeas de seus destinos, sem extremismo, e realizaram a Primavera Árabe sem o al-Qaeda.)  
Mollah Omar
Syed lembra que o líder dos Talibã Mollah (erudito) Omar também não está em fase com o al-Q, dando como exemplo o fato de em 2005 o líder ter ordenado que todos os Talibã instalados no Waziristão abandonassem “qualquer outra atividade” e retornassem ao país e em 2007 ter condenado a campanha do al-Q contra o Paquistão mesmo esta sendo em favor dos Talibã.
Trocando em miúdos, Syed refuta o argumento que o Pentágono usa para prosseguir as ocupações, ou seja, que o principal interesse do al-Qaeda é expulsar as Forças Ocidentais do Afeganistão porque está intimamente ligado aos Talibã. Outros jornalistas também sabem o quanto esta teoria é falsa.
Apesar de todas suas revelações serem devidamente documentadas, Syed pode ter sido torturado e executado por um “crime jornalístico” local, mais grave. Pelo que revelou da cooperação entre o al-Qaeda e o ISI (Serviço de Informação) do Paquistão, cujo chefe de então, em 2001 em Kandahar, teria garantido à organização terrorista que os deixaria tranquilos enquanto não fossem tocados - os ataques do al-Q começaram após a adesão pública do Paquistão aos EUA, selada com o ataque de Talibã no norte do Waziristão, em outubro de 2003. E Syed pode ter morrido também por causa do que sabia e ainda estava para falar.

Falando em al-Qaeda, no início da semana a polícia da Somália matou em um checkpoint na capital Mogadishu, um de seus líderes mais procurados, o comorense Fazul Abdullah Mohammed (que Hillary Clinton nomeou de ouvido “Harun Fazul”, que é uma das alcunhas do terrorista).
Fazul Abdullah era um dos operadores al-Q África Oriental mais perigosos, devido ao seu alto grau de inteligência, sua capacidade linguística (falava cinco linguas fluentemente e se virava em mais), de disfarce e sobretudo, pela sedução que exercia em novos recrutas e pela violência que não poupava.

Fazul Abdallah e seu parceiro mortos
Desta vez os EUA passaram a informação às autoridades locais e estas cuidaram de interceptá-lo. Quem o conhecia, sabia que oporia resistência e que sua vida terminaria no gesto que faria e fez para escapar descarregando sua K47 “incrementada” (uma versão “falsificada” da famosa kalachnikov russa de 1947), a arma mais popular no tráfico internacional.
Sua presença em Mogadishu é um forte indício da ligação entre o al-Qaeda e a organização “rebelde” local al-Shabab, cujo objetivo é aplicar no país sua interpretação extremista da lei islâmica promovendo atentados.
O ministro do interior, por exemplo, foi assassinado na sexta-feira
 na explosão de um carro.
A Somália está sem governo central efetivo desde que o ditador do país foi
destituído em 1991. A capital é uma ilha cercada de grupos rebeldes que disputam território, liderança, praticam pirataria no Oceano Índico, sequestram,
matam uns aos outros e apostam no caos.

Campo de refugiados sírios na Turquia
Tirando estas duas mortes por motivos antagônicos, esta semana foi marcada pela corrente de insurreição da população síria e a política de repressão do presidente Bashar Assad que continua resultando em dezenas de milhares de vítimas que perdem a vida, ou são feridas ou forçadas ao exílio. Centenas de famílias já atravessaram a fronteira em direção ao Líbano.
E estão chegando cada vez mais refugiados na Turquia, onde neste domingo a população vota em seus futuros representantes legislativos. Dia importante por causa de todos os problemas internos que vão dos debates sobre a manutenção da laicidade, a marginalização da população kurda, à ansiedade para entrar na União Européia.

Enquanto isto, em nosso capítulo semanal sobre o presente e o futuro da Palestina, em vez de negociar, o Ministro das Relações Exteriores de Israel começou uma ofensiva diplomática internacional contra o reconhecimento do Estado da Palestina na reunião prevista na ONU em setembro.
Sua estratégia foi denunciada pelo jornal israelense Haaretz: Acionar as organizações judias em todos os países para que promovam lobbys junto aos políticos e que influenciem a opinião pública através de artigos destrutivos contra a Palestina publicados nos jornais mais lidos (no Brasil inclusive. Que o leitor fique advertido!).
O governo de Israel sabe que o reconhecimento do Estado da Palestina vai isolá-los e forçá-los a retirar-se da Cisjordânia e que terminem o bloqueio de Gaza. Argumentam que só negociações (em seus termos) trarão a paz e o presidente da Palestina Mahmoud Abbas retruca que a única solução para a sobrevivência da Palestina é a legalização de seu Estado com base na fronteira de 1967.
O que tem lógica por causa do colapso das negociações patrocinadas pelos EUA no ano passado devido à recusa israelense de gelar a colonização. Humilharam o coitado do vice-presidente Joe Biden anunciando novas construções no meio da sua conversa com o primeiro ministro Benyamin Netanyahu e mostraram que Israel só quer paz se conservar o controle da água dos palestinos, todo o território ocupado e o que está em processo de ocupação, e levar os gazauís à penúria total.
Na verdade, a aprovação do Estado da Palestina na Assembléia da ONU seria puramente simbólica, já que os Estados Unidos, que têm poder de veto, já deixaram claro que se oporão à decisão. Mas não deixará de ser um embaraço a mais e um golpe fatal na popularidade internacional de Barak Obama. E até nacional, entre seus aliados liberais.
No documento vazado, o ministro israelense Rafael Barak é claro: “Nosso objetivo é conseguir que o máximo de países se oponham ao reconhecimento do Estado da Palestina. Os esforços palestinos têm de ser referidos como um processo que provoca a erosão de Israel e compromete a paz.”
São tão obtusos que não vêem que estão fazendo tudo errado. Os jovens que protagonizaram a Primavera Árabe podem muito bem apoiar os vizinhos palestinos em uma Intifada outonal.
Os israelenses pacifistas e preocupados com a justiça já começaram no mês passado suas passeatas em Tel Aviv em apoio à criação do Estado da Palestina.


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domingo, 5 de junho de 2011

Crime e Castigo

Vítimas da chacina de Srebrenica
O jornalismo, como todas as profissões "respeitáveis", se aprende na faculdade. E como todos os profissionais fiáveis, o peso do jornalista é o da bagagem. É a história quotidiana que se grava e com a qual se pontua a atualidade, de preferência, contribuindo para que o mundo avance no bom sentido.
No meu caso, entre estágio e exercício da profissão diplomada, faz um pouquinho mais de três décadas que estou na praça. Internacional, um pouquinho menos. Nestes anos de trabalho e aprendizado do mundo, das ambições e vontades, entre todos os conflitos, massacres e atos bárbaros dos quais homens “normais” se mostraram capazes em surtos, curtos ou prolongados, de ódio, ambição, ou algo que prefiro chamar de insanidade, três horrores povoam meus pesadelos acima de todos os demais.
Dois deles tiveram, direta ou indiretamente, as mesmas vítimas e os mesmos carrascos.

Sabra e Shatila, rua após o massacre; Ariel Sharon encarte 
Um ocorreu no Líbano, em setembro de 1982, no setor oeste de Beirute, ocupada pela IDF (Forças Armadas de Israel). Os soldados atiravam e vagavam (como Ari Folman, em sua Valsa com Bashir), e em dois dias, 16 e 17, os Falangistas, milícia de extrema direita libanesa dirigida então por Elie Hobeika, invadiram os campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila e, enquanto os soldados israelenses montavam guarda, foram de casa em casa assassinando as famílias. O número de mortos varia, segundo a fonte, entre 700 e 3.500 pessoas. Ariel Sharon, então ministro da Defesa de Israel, foi acusado por Hobeika de ter orquestrado o crime através das Forças Especiais da IDF. Hobeika foi calado por um atentado mortífero em 2002. Ariel Sharon, na época considerado culpado por seus compatriotas responsáveis, foi destituído do cargo e oito anos mais tarde provocou a segunda Intifada, foi eleito primeiro ministro, incrementou a ocupação da Palestina importando imigrantes aceitáveis – russos brancos, afrikaners e argentinos afetados pela crise – para instalá-los em colônias na Cisjordânia, e apesar da queixa contra ele registrada na Justiça Internacional, tudo terminou em pizza; não, terminou no seu prato preferido que é a continuidade de seu projeto de ocupação da Palestina.


Uma das dezenas de famílias gazauís bombardeadas
O outro ocorreu há três anos, em Gaza. O modus operandis foi o mesmo. A Faixa cercada, o povo encurralado, os jornalistas afastados, e os bombardeios começaram. Logo após o Natal, no dia 27. Em seguida veio a investida de tanques e armas pesadas contra um milhão e quinhentos mil civis indefesos. Os jornalistas mais tarde viram os escombros, casas pilhadas e com fezes no chão e nas paredes formando insultos contra mortos e vivos, crianças sem família, pais sem filhos, estado de choque e caos indescritível. No fim de 22 dias de ataque, havia treze soldados israelenses mortos (alguns por fogo amigo) e 113 feridos; e do lado palestino, 1.315 mortos (410 crianças e 100 mulheres), 5.300 feridos graves (2/3, mulheres e crianças), sem contar as perdas materiais e os danos morais que a população sofreu e continua sofrendo, por causa do bloqueio da Faixa. Nesta chacina, o exército israelense foi o protagonista, seus soldados os perpetradores ativos e os espectadores passivos foram a população mundial e os jornalistas. Em 2010 uma queixa foi registrada na Bélgica contra 14 dirigentes políticos e militares israelenses. Ninguém foi preso nem interrogado. Ehud Barak, então ministro da defesa de Ehud Olmert continua no cargo. O futuro dirá se um dia, pelo menos um deles será julgado.
General Ratko Mladić
O terceiro aconteceu na Europa, continente tido como civilizado.
Não vou desfiar a história da guerra chamada da Iugoslávia, que durou anos, com episódios vergonhosos, inclusive de estupros sistemáticos para deixar as mulheres com a humilhação insuportável de engravidarem dos assassinos de irmãos, maridos e pais.
Entre tantos massacres, um deles é indelével, apesar de outros tantos inaceitáveis - talvez pela mesma semelhança de curral, de pessoas serem trucidadas como animais sem terem para quem apelar e nem como escapar do sítio macabro. A cidade se chama Srebrenica. O ano foi 1995. O mês, julho.
No dia 11, cerca de vinte mil refugiados se espremiam em Potočari procurando proteção na base da ONU. Os que cabiam entraram e os outros se espalharam por campos e fábricas. A maioria era de mulheres, crianças, deficientes e idosos apavorados que se agarravam aos soldados holandeses como se estes fossem uma bóia que os salvaria do naufrágio. A comida e a água eram escassas e as Forças da ONU tinham ordens de não pegar em armas; mas o que não se sabia é que tinha muitos sérvios infiltrados entre os refugiados.
Enquanto isto, do lado, durante a noite, na iminência do ataque das milícias sérvias, começou a evacuação de Srebrenica do restante das mulheres, crianças e homens válidos para apoiar os exilados.
À meia-noite, cerca de dez mil pessoas cobriam a estrada em coluna, a fim de evitar as minas, em direção de Tuzla. Andavam depressa para cobrir os 50 quilômetros a salvo. Os homens armados puxavam a marcha para abrir caminho, apressados, sem saber que o fim da fila estava sendo atacada pela milícia inimiga que tinha acabado de penetrar na cidade desprotegida.
No dia 12, nas barbas dos soldados da ONU em Potočari, apareceram dezenas de cadáveres de homens, mulheres e crianças esfaqueados ou com a garganta cortada.
Em seguida, dentro de Srebrenica, invadida pelo batalhão sérvio, os cadáveres seriam contados por milhares – 8.752 é a conta exata.
Este genocídio, como os dois outros, também tem responsáveis. A diferença é que os responsáveis deste crime atroz foram capturados. Um deles era o presidente da Sérbia, Slobodan Milosevic, cujos dias foram encurtados por um suicídio providencial no centro de detenção da Háguia.
O outro é o general encarregado das Forças Armadas, Ratko Mladić. Este está sendo julgado. Dezesseis anos após os crimes pelos quais todos esperam que seja condenado.
O terrível sobre Mladić é que não é um monstro. Como não são Ehud Barak, Ehud Olmert, Ariel Sharon, George W. Bush, Tony Blair, Benyamin Netanyau e outros mais do mesmo naipe que têm sim, algo em comum  com Napoleão - a arrogância e a presunção de serem intocáveis.
Mladić nasceu em 1942 na então Iugoslávia, no leste do enclave chamado Bósnia-Herzegovina com população majoritária convertida ao islamismo durante o império otomano. Mladić nasceu em plena campanha nazista de exterminação que durou um ano. Estima-se que cerca de 1.7 milhões de iugoslavos da região, de religiões diferentes (sérvios cristão-ortodoxos, croatas católicos e muçulmanos bósnios) tenham sido assassinados. Devido à conjuntura da época, seu pai, resistente ao nazismo (morto no campo de batalha), o batizou de Guerra e Paz. É o que seu nome significa.
Mladić cresceu, estudou e entrou no exército do presidente Tito, herói nacional que foi o mais liberal dos líderes comunistas e um grande estrategista que conseguiu promover a união das três comunidades. Devido à origem de sua família, Mladić virou um perfeito iugoslavo.
A morte de Tito fragmentou o espírito unitário, com o fim do comunismo foi-se o espírito solidário, e em 1991 começou o conflito entre as comunidades com o exército – soldados e oficiais – se dividindo em três lados, mas os sérvios conservando o arsenal militar da ex-Iugoslávia.
Mladić voltou a ser sérvio, passou a considerar todos os demais, civis e militares, como inimigos e em 1992 assumiu o comando do Exército bósnio-sérvio e não hesitou a ordenar o bombardeio de Sarajevo quando viu que seus compatriotas estavam sendo assassinados por soldados bósnios.
A partir daí ficou obcecado com a sua “causa” pela qual ordenou e participou, como no caso de Srebrenica, de inúmeras matanças. Como Napoleão, em suas campanhas militares, ele se achava um grande homem que agia por "altos propósitos, acima da moral convencional". E em seu rastro, só deixou destruição.
Hoje o homem que nasceu 69 anos atrás durante um genocídio, está sendo julgado pelo mesmo crime contra o qual o pai lutou e o havia prevenido lhe dando o nome de uma obra literária humanista, sobre quão aleatória é a história e quão volúvel é a glória, do grande Lev Nicolaievitch Tolstoi.
Guerra e Paz poderia ter sido o título do blog deste domingo, mas optei por Crime e Castigo, outra obra prima da literatura russa do século XIX, porque nela Fiodor Mikhailovich Dostoievski pôs na boca de seu protagonista, Rodion Ramonovitch Raskolnikov uma frase que revela, quem sabe, a motivação de Mladić e dos outros homens citados acima: Se um dia! Napoleão não tivesse “tido coragem” de metralhar uma multidão desarmada, teria passado despercebido e teria sido um desconhecido.
Qual é mesmo a moral da estória?
Raskolnikov premedita e comete um crime a sangue frio tentando convencer-se que tem razão de cometê-lo porque mata uma velha maldosa, agiota implacável, para roubá-la e sair da pobreza em que se degrada. Ele se inspira em Napoleão, na impunidade do homicídio (quando é em massa) para esperar imunidade. Só que Raskolnikov, ao contrário dos líderes internacionais acima citados encabeçados por Mladić, tem uma consciência que o oprime e que o transforma em um morto-vivo que inconscientemente quer ser preso, julgado e punido para obter redenção pelo passo em falso.
Os livros de Dostoievski banhavam na ética cristã que o inspirou também neste ensaio memorável de crime e castigo.
Recuando mais na história greco-romano-cristã que é a nossa base, busco outra frase popular: A César o que é de César, que, no planeta Terra, megalomanias à parte, é a Organização das Nações Unidas. E a justiça desta é da alçada do Tribunal da Háguia, que tem, ou teria, de punir quem mata dezenas, centenas, milhares de pessoas indefesas com a mesma severidade que se pune um estudante que mata uma velha agiota detestável.

Pintura de Adolph Northern (séc. XIX):
Napoleão em retirada de Moscou.

"Much unhappiness has come into the world because of bewilderment and things left unsaid."
Fiodor Mikhailovich Dostoievski

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