domingo, 29 de maio de 2011

Dando um passo pra frente e um galope pra trás, Obama afasta a paz


Mapa das cercas e muros ditos de "apartheid" que recortam a Cisjordânia além da Fronteira de 1967,
marcada pela Linha Verde.
Os nomes indicam as principais cidades palestinas.   
Eu pensava em falar sobre a Anistia Internacional, ONG de Direitos Humanos que está completando 50 anos e sobre o pedido de socorro do G8 à Rússia para que intermedie a partida de Kadhafi do governo da Líbia. Mas o último discurso de Barack Obama deu um pontapé nas minhas vontades. Ou uma cotovelada, para que celebrasse o aniversário da Anistia e sua militância internacional, incorruptível e inatacável, mais tarde. Hoje tenho de reagir ao bombardeio do presidente dos EUA das esperanças que ele mesmo tinha levantado na semana passada.     
“Quando eu tinha 9 anos na Alemanha, ousei deixar meu braço parado quando os dos colegas se levantaram para fazer a saudação nazista e cantar os hinos a Hitler. Não tem ninguém em Washington com esta coragem simples? Bastou um parlamentar levantar-se e aplaudir e todos o seguiram. Washington é realmente IOT – Território Ocupado de Israel – como dizem os anti-semitas?”
Esta frase-pergunta indignada foi feita pelo jornalista israelense Uri Avnevy a propósito dos aplausos do congresso estadunidense ao discurso do líder máximo (pareciam parlamentares da Дума - Duma, Congresso russo, diante de Stalin), em que bota os pingos nos is sobre o que realmente (?) entende (?) por Fronteira de 1967, entre Israel e a Cisjordânia.

Rodovia construída junto do muro em Tulkram, na Cisjordânia,
para uso exclusivo dos colonos
Eu mesma ainda não sei se Obama é um homem sem coragem; se justiça não é mesmo sua praia; se fala o que público quer escutar (aliás aconselhou o líder do Labour Party em Londres que Para ganhar, têm de acenar com perspectivas otimistas e não falar nos problemas do passado); ou se no fundo (bastante raso) está tão comprometido com Israel quanto Bush, Clinton, Reagan, Nixon e vai deixar a água rolar até inundar a Palestina inteira e os palestinos afogarem. Aquela história de limpeza étnica disfarçada.
Em poucas palavras, ele disse que os interesses de Israel e a segurança deste país continuavam prioritários. Que a alusão à fronteira de 1967 não significava autonomia palestina a partir da Linha Verde e nem que Israel fosse obrigado a retirar-se (militarmente e colonialmente) dos territórios ocupados. Ou seja, Obama joga com a semântica como se fosse um dado: A volta às negociações está “baseada” e não “estabelecida” nas Fronteiras de 1967. Caso os ouvintes não tivessem entendido a nuance dialética (perdoe-me Marx pela heresia verbal!), precisou que as partes envolvidas negociariam uma fronteira “diferente” da de 1967, considerando as “mudanças” dos últimos 44 anos, “inclusive demográficas”.
O palestino Said Eid observa a construção
 de uma colônia israelense em Jerusalém oriental,
na Cisjordânia
Obama pôs no mesmo plano ocupantes e ocupados, admitiu direitos iguais aos colonos (no Brasil, a palavra é invasores) que vivem nas invasões na Cisjordânia e aos palestinos que são donos das terras usurpadas. Neste prisma, o muro de separação que devora a Linha Verde parece ser mesmo parte de um plano maquiavélico de ocupação de facto do território palestino anexado; Obama e Bush, tirando o floreado universitário, parecem falar a mesma língua securitário-sectária sem nenhum respeito pela justiça internacional e pela legalidade, a não para seu próprio interesse imediato.

Sinais que os israelenses põem nos arames farpados e no cimento armado
Zona Militar: Quem atravessar ou estragar põe sua vida em perigo
(de mina, tanque e bala)
Devolvo a palavra a Avnevy, que é pessoalmente afetado pelo muro no qual Obama subiu e depois de hesitar, parece ter saltado para o lado oposto ao que os israelenses humanistas, intelectuais, lúcidos, e até os pragmáticos, querem que salte.
“A mensagem que Obama passou pode ser resumida em uma palavra: NÃO.
Não ao retorno às fronteiras de 1967. Não à capital palestina em Jerusalém Oriental. Não a um retorno mesmo simbólico de refugiados. Não à retirada militar do Vale do Jordão – o que significa que o Estado Palestino seria completamente cercado pelo exército israelense. Não à negociação com um governo palestino ‘apoiado’ pelo Hamas, mesmo que este não esteja representado. E assim por diante – Não. Não. Não.
O objetivo é que nenhum líder palestino possa sequer sonhar em aceitar negociar (Prova disto é que a Liga Árabe já anunciou que as negociações só começarão quando Israel estiver disposto a negociar), nem na situação improvável de concordar com a condição de reconhecer que o o Estado-Nação de Israel é do povo judeu... Netanyau e seus comparsas estão determinados a evitar a criação do Estado da Palestina de qualquer jeito. Isto não começou com este governo – está calcado na ideologia e na prática sionista montada por seus fundadores e que David Ben-Gurion implementou em 1948, em colisão com o rei Abdallah da Jordânia. Netanyahu só está fazendo sua parte.
Não a um Estado da Palestina, representa não à paz, agora e jamais. O resto é bobagem. Todas as frases carolas sobre felicidade para as nossas crianças, prosperidade para os palestinos, paz com o mundo árabe, um futuro brilhante para todos, são bobagem.
Netanyahu cuspiu nos olhos de Obama. O público republicano deve ter se divertido. Talvez até alguns democratas. Pode ser que Obama não tenha se divertido. Se não tiver, o que vai fazer agora? Tem uma piada judia sobre um homem que pede comida em um hotel ameaçando fazer o que o pai fazia. Apavorado, o responsável do local o alimenta e depois pergunta timidamente: ‘O que o seu pai fazia?’ Engolindo a última garfada o homem responde: ‘Ele dormia de barriga vazia’.
É provável que Obama faça de conta que o cuspe em seu rosto é pingo de chuva. Sua promessa de evitar que as Nações Unidas reconheçam o Estado da Palestina lhe tirou a maior arma de pressão sobre Netanyahu. Alguém em Washington parece estar querendo que Obama discurse no Knesset em Jerusalém, como uma retaliação a Netanyahu por este ter se dirigido diretamente a seus concidadãos. Foi o que sugeri no ano passado, mas não neste ano.
Anwar Sadat no Knesset em novembro de 1977
A ideia da vinda de Obama é inspirada no discurso de Anwar Sadat diante do Knesset, mas a comparação é impossível. Naquela época Israel e o Egito ainda estavam oficialmente em guerra. Ir à casa do inimigo só quatro anos depois de uma batalha sangrenta, provocou um choque na população, eliminando preconceitos e abrindo mentes. Ninguém se esquece da hora em que a porta do avião se abriu e lá estava, bonito e sereno, o líder do inimigo.
A visita de Sadat foi em si um ato e um evento. Obama não. Ele não vai mudar a opinião pública, a não ser que chegue com um plano concreto de paz detalhado, com prazo e vontade explícita de levá-lo a cabo, qualquer que seja o custo político. Um discurso simpático a mais, por mais que seja bem fraseado, não bastará. Discursos são importantes quando são seguidos de atos, mas não substituem atos. Os discursos de Churchil ajudaram a mudar a história porque foram acompanhados de atos históricos. Sem a Batalha da Inglaterra, sem o desembarque da Normandia, sem El Alamein, seus discursos teriam soado ridículos.
Agora que todas as estradas foram bloqueadas só tem um caminho aberto: o reconhecimento do Estado da Palestina pelas Nações Unidas acompanhado de atos não-violentos massivos da parte dos palestinos contra a ocupação. As forças de paz de Israel também vão agir, pois o destino de Israel depende da paz tanto quanto o destino da Palestina.
É claro que os EUA vão tentar obstruir e o Congresso vai pular, mas a Primavera Israelo-Palestina está para começar."



Para aderir ao boicote, basta estar de olho nas etiquetas e perguntar a origem dos produtos que compra na perfumaria e no supermercado. Marcas a boicotar:  Carmel (frutas e legumes);  Jaffa (frutas e legumes);  Kedem (frutas);  Coral (cerejas);  Top (frutas e legumes);  Beigel (biscoito para aperitivo);  Hasat (agrumes);  Sabra (comida pronta);  Osem (sopas, snacks, biscoitos, comida pronta);  Dagir (conservas de peixe);  Holyland (mel, hervas);  Amba (conservas);  Green Valley (vinho);  Tivall (produtos vegetarianos);  Agrofresh (legumes);  Jordan Valley (frutas secas);  Dana (tomate);  Epilady (aparelho de depilação);  Ahava (cosméticos do Mar Morto).
Plantar uma árvore para a Palestina

Esta colônia, Har Homa, custou à Cisjordânia, além da invasão,
a derrubada do último pinheiral de Belém.  
Ação do BDS no salão de turismo em Paris: http://youtu.be/plUA0fVNQAc;
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/;
Global BDS Movement: http://www.bdsmovement.net/; http://www.bigcampaign.org/;


domingo, 22 de maio de 2011

Obama teria coragem de promover a paz no Oriente Médio?


Palestina dos palestinos em verde: Mapa 1- até 1946; 2- Divisão da ONU em 1947; 3-Divisão Naqba em 1948; 4-Território ao qual muros e checkpoints progressivamente os confinaram.
O mapa 3 indica a Linha Verde, fonteira internacional, dita de 1967 
O único caminho para a paz é o de um compromisso histórico no qual Israel devolva os territórios ocupados em 1967 e que em contrapartida os palestinos renunciem aos territórios perdidos em 1948.
Foi Adam Keller, porta-voz da ONG Gush Shalom que pronunciou estas palavras, acrescentando que Quem não quiser pagar o preço necessário, não conseguirá chegar a um acordo essencial para o futuro de Israel. Netanyahu e seu governo estão tentando cortar vários pedaços dos territórios ocupados construindo colônias de maneira acelerada, não permitindo o gelo nem de três horas; instigando a ocupação do Vale do Jordão que representa um terço da Cisjordânia;... Assim o governo de Israel bloqueia todas as estradas para a paz, para o compromisso, e com os próprios atos aumenta seu isolamento no mundo e constrói uma pressão internacional em relação a setembro.
Re-União do Fatah (Abbas) e do Hamas (Meshaal)
Setembro é a data marcada para as eleições parlamentares que definirão as novas lideranças políticas palestinas e também para a reunião prevista na ONU na qual reconher-ce-á, ou não, o Estado da Palestina – quando a ONU criou o Estado de Israel esqueceu-se de legalizar a situação dos autóctones, os deixando sem direitos nacionais e apátridas.
Keller falou antes do esperado discurso de Barack Obama desta semana, no qual o presidente dos Estados Unidos demonstrou menos firmeza do que o (pós-eleição) feito no Cairo. Deu o sermão de sempre aos ditadores árabes hostis e reafirmou, diretamente ou nas entrelinhas, seu apoio aos ditadores aliados apelando até para a ignorância – o que, neste caso, é que protege o “presidente” do Bahein (que usa de meios violentíssimos contra os manifestantes democratas) por causa do perigo de infiltração iraniana no movimento pro-democracia. O que é uma acusação leviana, para não dizer errada, e não um fato.
O fato é que os ditadores do Bahein e da Arábia Saudita (o do Yêmen alega ameaça do Al-Qaida) sabem que seu poder econômico lhes dá carta bege que usam como carta branca para agir como se fossem intocáveis. O outro fato é que a Primavera Revolucionária nos países árabes pegou os EUA de surpresa e tirando a Líbia, que a OTAN concordou em atacar porque o ódio contra Kadhafi e o interesse no petróleo é mútuo, Washington (e nenhuma outra capital) não teve e não tem nenhuma influência sobre estas revoltas nacionais (embora haja rumores de que a Blackwater - empresa provedora de mercenários aos EUA que está sendo processada no Iraque por massacres - esteja recrutando colombianos e africanos para treiná-los; para quê e para onde, ainda não se sabe).      
Onde os EUA intervieram, ou seja, na Líbia, a situação mostra que os líbios vão ser mesmo derrotados. Não apenas Kadhafi. Este está de joelhos, é verdade, mas os “rebeldes” estão prostrados. Todos estão exauridos nesta guerra civil em que, como previsto, os vitoriosos ocidentais é que vão dar as cartas. Pelo menos até a resistência à ocupação estrangeira começar e com ela os atentados. Aí a Líbia vai virar mais um Iraque. Mais um Afeganistão. Mais uma fonte de renda para a indústria de armas e de mercenários. Mais um país instável propício ao Al-Qaida, e em uma zona em que este já está bastante implantado. É aquela política míope do curto prazo. A mesma que pôs os cidadãos do Paquistão à mercê de uma cadeia de atentados, dos taliban e simpatizantes recém-engajados, desencadeada pela execução sumária de Ben Laden.

Colônia israelense na Cisjordânia
Mas voltando ao discurso de Obama, no tocante à Terra Santa amaldiçoada, precaveu-se contra a ira reacionária criticando os palestinos por terem se retirado de uma discussão que ele sabia ser um monólogo de imposições unilaterais, mencionando a multiplicação das colônias israelenses na Cisjordânia sem condenar sua ilegalidade (coerente com seu voto recente no Conselho de Segurança da ONU). Porém, acabou pronunciando a frase que não podia mais deixar de lado; a frase que desde que assumiu o governo vem ouvindo de todos os que realmente entendem algo do Oriente Médio e do caminho que leva à paz. Não foi categórico como Adam Keller, mas reconheceu, para o mundo inteiro, que o respeito de Israel às fronteiras anteriores a 1967 é uma condição sine qua non para a paz. Uma guinada de 360 graus à qual foi quase obrigado pela lógica intelectual e pela moral. Um rompante passageiro, acho.
O aniversário da Naqba na semana passada mobilizou um número recorde de palestinos tanto na Cirjordânia e Gaza quanto dos que vivem em países vizinhos em campos de refugiado. A simpatia da opinião pública internacional à sua causa é inegável. A repressão israelense foi desmesurada e internacionalmente condenada.  

Uma terceira Intifada não parece iminente, mas em um futuro próximo ou remoto, não é descartável.
Se acontecer, será um banho de sangue maior do que o do Líbano (2006) e de Gaza (...2008-09-10...a semana passada) e esta pode ser a gota d'água para o despertar de uma solidariedade concreta dos países árabes recém-libertados.
 Os jovens palestinos também chegaram ao ponto do Basta (prova disto, a união nacional que forçaram), e os vizinhos egípcios que enxotaram Mubarak já deixaram claro que não aceitarão nenhuma cumplicidade na ocupação da Palestina e afirmaram qual é o seu lado.   
Encostado na parede, a voz e a postura de Obama indicaram a recalcitrância em liderar um mundo que não entende tanto quanto desejava, sobretudo sem a força de vontade (ou ideológica) que demonstrava para descompromissar-se dos contratos, dos pesos e dos afilhados inconvenientes que seus antecessores carregavam. As garras da AIPAC e dos demais lobbies sionistas nos EUA e particularmente em Washington, são potentes e tenazes. Duvido que Obama tenha coragem de libertar-se. Afinal de contas, é um político a mais e não um homem de caráter inabalável. A prova disso é manter sua Secretary of State Hillary Clinton, que bóia em uma lama mais pesada do que as águas do Mar Morto, e o impede de re-alinhar-se aos europeus neste caso espinhoso.
Obama está indo à Europa buscar apoio, primeiro em Londres com James Cameron, que, diga-se de passagem, precisa se redimir pelos erros do passado. Tony Blair é caso perdido, um sanguessuga sem escrúpulos que só pensa em lucrar. Apesar dos dois, a sociedade civil inglesa é uma das mais ativas no boicote econômico, intelectual e cultural a Israel e o Primeiro  
Um dos produtos boicotados
Ministro, mais cedo ou mais tarde, terá de acatar o que seus concidadãos proclamam por todos os lados (na televisão-documentários claros e vários seriados que enfocam a questão Palestina), inclusive, ou mais ainda, nas universidades - a União dos estudantes da Universidade de Londres (a maior organização estudantil da Europa) votou a favor do boicote de pessoa, empresa ou instituição que contribua direta e indiretamente na ocupação da Palestina.
Obama também tem de estar em fase com seus eleitores e ele não foi eleito pelos membros da APAIC (lobby sionista radical cortejado por Sarah Palin), mas por judeus liberais formadores de opinião, como o comediante Jon Stewart (Daily Show), o professor Noan Chomsky e tantos intelectuais e artistas estadunidenses contrários à política colonio-expansionista atual.
O contra-ataque do primeiro ministro Binyamin Netanyaun foi imediato, mas sucinto demais para convencer que tem a última palavra. O Conselho de Segurança da ONU só depende de um voto que sempre faltava para impor o Direito nos Territórios Ocupados: o dos EUA. Com este voto, as Nações Unidas estarão em fase na criação dos dois Estados respeitando a fronteira de 1967.
Contudo, não vejo Barack Obama com peito para dar o passo justo para a frente em vez de recuar como os outros presidentes estadunidenses. Só se Netanyahu humilhá-lo, humilhá-lo e humilhá-lo publicamente até ele não poder mais. Os EUA têm um orgulho desmesurado. É por isso que fazem tanta bobagem. Mas neste caso, não seria para causar dano e sim para fazer uma boa ação inquestionável.

checkpoint na Cisjordânia
Fala-se muito na pressão interna que Netanyahu sofre dos ortodoxos e dos sionistas radicais, mas fala-se pouco da pressão das forças democráticas internas, das ONGs de Direitos Humanos que proliferam, dos jovens que dizem Basta, como a própria filha do ex-chefe do Mossad. Exemplares do livro Breaking the Silence lançado no ano passado pelos reservistas que criaram a ONG homônima, têm passado de mão em mão nas escolas e os estrangeiros que o lêem ficam chocados com o relato das violências físicas, psicológicas e morais que os oficiais impõem aos palestinos através dos soldados. Resta esperar que a era obscurantista israelense que se eterniza com a influência crescente do fascista Avigdor Lieberman se reverta para uma tomada de consciência. Não precisa ser nem justa e humanista. Só pragmática.

O livro do Breaking the Silence tem 344 páginas com uma seleção de 183 depoimentos sobre a ocupação diurna e noturna da Cisjordânia. Depoimentos que embora não denunciem os atos mais escabrosos dos ocupantes militares e civis israelenses contra os palestinos ocupados, já dão uma ideia do clima de maudade e impunidade de Israel. Todos os relatos são indiscutíveis. Nenhuma das histórias escabrosas foi negada pelo exército, que nem podia, já que tanto os editores quanto os demais adultos que o serviram sabem discernir a verdade.

Como por exemplo, as incursões militares noturnas nas cidadezinhas tranquilas em que os soldados invadem casas aterrorizando famílias que acordam apavoradas com a investida; as humilhações nos checkpoints entre as cidades, em que os pais de família são maltratados diante dos filhos; as horas de espera injustificada; os entraves diários à ida dos meninos à escola, dos adultos ao trabalho, das visitas familiares.

Fronteira do Egito com Rafah, em Gaza
O Egito de Mubarak ia construir um muro de ferro na fronteira com Gaza. O Novo Egito já anunciou que enterrou estas obras e que vai abrir a fronteira com Rafah. (Mas quanto tempo os EUA deixarão no Egito um governo pró-palestino?)
Por outro lado, a Flotilha da Liberdade já está em marcha com um número crescente de navios hasteando bandeiras de muito mais países do que no ano passado. Em junho alcançarão Gaza - se os países vizinhos deixarem os navios passarem.
Obama já descobriu que matar é fácil. E já matou bastante gente desde que foi premiado com o Nobel precipitado. Mas para ocupar um lugar de destaque na História universal vai precisar de muito mais do que a cor da pele e a execução midiática de Bin Laden. Vai precisar fazer juz ao Nobel que virou jacota e que segundo as más línguas o constrange e pesa  na sua consciência pesada. Deve suspeitar que não é com promessas nem discurso e sim com medidas concretas, justas, que deixará uma marca válida.
Resta saber até que ponto a Paz a que o Prêmio Nobel o engaja lhe dará a coragem que precisa e que lhe falta. Eu acho que se fizer algo positivo, será em fim de um segundo mandato e olha lá.  

Muro/barreira israelense em Belém, na Cisjordânia

No Way through : E se a minha cidade fosse cortada por checkpoints? 

Manifestação semanal contra o Muro em Bil’in, na Cisjordânia: http://youtu.be/8_adfyJvcOw, http://youtu.be/NIdBsChSNRE;
Campanha Breaking the silence no Facebook: http://www.facebook.com/BreakingTheSilenceIsrael;
LIVRO on line: http://www.scribd.com/doc/45787174/Breaking-the-Silence-Full-Book-ENG-Dec22-10-Occupation-of-the-Territories-Israeli-Soldier-Testimonies-2000-2010;
Desapropriação em Jerusalém:http://youtu.be/LcjchhD3qBc;
Free Gaza Movement:http://www.freegaza.org/
Global BDS Movement:http://www.bdsmovement.net/;


Reservista da IDF (Exército Israelense) Breaking the Silence

Passeata anti-lobby israelense AIPAC em Washington

domingo, 15 de maio de 2011

Al Naqba - A Catástrofe

A semana foi tumultuada na Líbia, em que Khadafi se ajoelha e busca uma saída “honrada”; no Baheim, em que de assassinatos Al Khalifa passa ao ataque até nas empresas privadas - cerca de dois mil funcionários chiitas foram demitidos sem justa causa; na Síria, onde Bashar Al-Assad continua sem saber se toma o partido da nova ou da velha guarda, provocando uma debandada de famílias para os países vizinhos em uma procissão que enche as estradas; no Egito, em que apesar da carga das forças sectárias, milhares de democratas voltaram à Tahrir para apoiar a Palestina e reclamar o direito dos vizinhos à liberdade que eles acreditam ter conquistado; e na Palestina, em que Jerusalém foi palco de mais confrontos de pedras contra balas, em uma tragédia de um povo apátrida que continua indignando justos e democratas de todas as nacionalidades.


A semana precedeu este 15 de maio, aniversário da Naqba, como é chamado o êxodo compulsório de 726 mil palestinos no processo de criação do Estado hebraico.
Israel montou um aparato militar impressionante nos Territórios Ocupados, com presença militar ostensiva de soldados armados até os dentes cercando e bloqueando vias, cidades e vilas da Cisjordânia e reforçando o cerco de Gaza, no intuito de reprimir as manifestações previstas neste 63° aniversário.
Os jovens não se deixaram intimidar nem na Cisjordânia nem em Gaza e saíram para manifestar enquanto os refugiados dos países vizinhos desafiavam barreiras, arames farpados e minas para rever familiares e pisar na terra da qual estão distanciados.
O resultado foi sangrento. Tanto nas fronteiras quanto em Gaza, onde os israelenses atacaram com tanques e artilharia pesada e já no início da tarde já se contava quarenta e poucos feridos dentre os quais alguns em estado grave. Na Cisjordânia os soldados atacaram com gazes, cassetetes e prenderam quem conseguiram alcançar. Após terem matado anteontem um jovem de 17 anos a bala, hoje foram até comedidos, em comparação ao que fizeram em Gaza.
Uma das manifestações abortadas antes do início, aconteceria em Lifta, símbolo concreto da Naqba. Lifta é uma das últimas cidades-fantasma palestinas despopuladas em 1948 que não foram destruídas ou que ainda não foram recicladas em colônias para judeus recém-imigrados. Lifta era uma das cidades mais prósperas da Palestina e produzia bordados artísticos disputados. Hoje é um sítio histórico, pertinho de Jerusalém, cobiçado pelo governo de Israel que quer transformá-lo em um tipo de balneário para judeus abastados, apesar das vozes que se levantam na Palestina e até em Tel Aviv para a sua preservação tal qual ou pelo direito dos palestinos reocuparem as casas tiradas dos avós ou dos pais.
Parafraseando Stéphane Hessel - grande humanista de 93 anos, membro ativo da Resistência ao Nazismo que conseguiu escapar dos Campos de Concentração de Buchenwald e de Dora, co-redator da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 e engajado no Global BDS Movement em 2011 - Os judeus têm a Shoah e os Palestinos a Naqba.


Durante a Naqba, centenas de cidades palestinas foram "despopuladas" nos distritos desintregados do Acre, Baysan, Beersheba, Gaza, Haifa, Hebron, Jaffa, Jenin; Nazaré, Ramle, Safad, Tiberias, Tulkharm e Jerusalém. E segundo as Nações Unidas, a diáspora dos 726 mil é hoje constituída de cerca de 6 milhões de refugiados sonhando com o Hakk al-Awda, Direito de retorno.


Além destes refugiados externos, por volta de cem mil palestinos que ficaram no recém-criado Estado de Israel foram compulsoriamente desalojados de suas cidades, “por razões de segurança”, e outros ex-residentes de Ikrit e Birim, hoje refugiados na fronteira com o Líbano e centenas que fugiram durante a guerra de 1967, foram proibidos de retornar às suas casas. Hoje ocupadas por israelenses, mas das quais ainda conservam a chave como todos os demais exilados no Líbano, Síria, Jordânia, Egito e Territórios Ocupados.


A chave é o símbolo da Naqba. Todos os chefes de família de refugiados palestinos carregam este objeto místico, preservado como o bem mais caro, protegido como uma jóia de valor inestimável, as chaves da casa que ficam no bolso (muitas vezes até amarradas), que mostram com uma saudade pungente e antecipando a satisfação de "um dia"! voltar a usá-las para abrir a porta do lar herdado dos antepassados, como dizem com os olhos que brilham de ansiedade, embaçados.


Porto do Acre durante a diáspora palestina.

Distritos e cidades palestinas desapropriadas e esvaziadas em 1948:

Acre: al-Amqa • Arab al-Samniyya • al-Bassa • al-Birwa • al-Damun • Dayr al-Qassi • al-Ghabisiyya • Iqrit • Iribbin • Jiddin • al-Kabri • Kafr 'Inan • Kuwaykat • al-Manshiyya • al-Mansura • Mi'ar • al-Nabi Rubin • al-Nahr • al-Ruways • Suhmata • al-Sumayriyya • Suruh • al-Tall • Tarbikha • Umm al-Faraj • al-Zeeb.

Baysan:Arab al-'Arida • Arab al-Bawati • Arab al-Safa • al-Ashrafiyya • al-Bira • Beisan • Danna • Farwana • al-Fatur • al-Ghazzawiyya • al-Hamidiyya • al-Hamra • Jabbul • Kafra • Kawkab al-Hawa • al-Khunayzir • Masil al-Jizl • al-Murassas • Qumya • al-Sakhina • al-Samiriyya • Sirin • Tall al-Shawk • al-Taqa • al-Tira • Umm 'Ajra • Umm Sabuna, Khirbat • Yubla • Zab'a • al-Zawiya.

Beersheba: al-Imara • al-Jammama • al-Khalasa • Auja al-Hafir.

Gaza: Arab Suqrir • Barbara • Barqa • al-Batani al-Gharbi • al-Batani al-Sharqi • Bayt 'Affa • Bayt Daras • Bayt Jirja • Bayt Tima • Bil'in • Burayr • Dayr Sunayd • Dimra • al-Faluja • Hamama • Hatta • Hiribya • Huj • Hulayqat • Ibdis • Iraq al-Manshiyya • Iraq Suwaydan • Isdud • al-Jaladiyya • al-Jiyya • Julis • al-Jura • Jusayr • Karatiyya • Kawfakha • Kawkaba • al-Khisas • al-Masmiyya al-Kabira • al-Masmiyya al-Saghira • al-Muharraqa • Najd • Ni'ilya • Qastina • al-Sawafir al-Gharbiyya • al-Sawafir al-Shamaliyya • al-Sawafir al-Sharqiyya • Simsim • Summil • Tall al-Turmus • Yasur.

Haifa: Abu Shusha • Abu Zurayq • Arab al-Fuqara • Arab al-Nufay'at • Arab Zahrat al-Dumayri • 'Atlit • Ayn Ghazal • Ayn Hawd • Balad ash-Sheikh • Barrat Qisarya • Burayka • al-Burj • al-Butaymat • Daliyat al-Rawha' • al-Dumun • al-Ghubayya al-Fawqa • al-Ghubayya al-Tahta • Hawsha • Ijzim • Jaba' • al Jalama • Kabara • al-Kafrayn • Kafr Lam • al-Kasayir • Khubbayza • Lid • al-Manara • al-Mansi • al-Mansura • al-Mazar • Naghnaghiya • Qamun • Qannir • Qira • Qisarya • Qumbaza • al-Rihaniyya • Sabbarin • al-Sarafand • Khirbat al-Sarkas • Khirbat Sa'sa' • al-Sawamir • Khirbat al-Shuna • al-Sindiyana • al-Tantura • al-Tira • Umm al-Shawf • Umm al-Zinat • Wa'arat al-Sarris • Wadi Ara • Yajur.

Hebron: 'Ajjur • Barqusya • Bayt Jibrin • Bayt Nattif • al-Dawayima • Deir al-Dubban • Dayr Nakhkhas • Kudna • Mughallis • al-Qubayba • Ra'na • Tell es-Safi • Umm Burj • az-Zakariyya • Zayta • Zikrin.

Jaffa: al-'Abbasiyya • Abu Kabir • Abu Kishk • Bayt Dajan • Biyar 'Adas • Fajja • al-Haram • Ijlil al-Qibliyya • Ijlil al-Shamaliyya • al-Jammasin al-Gharbi • al-Jammasin al-Sharqi • Jarisha • Kafr 'Ana • al-Khayriyya • al-Mas'udiyya • al-Mirr • al-Muwaylih • Rantiya • al-Safiriyya • Salama • Saqiya • al-Sawalima • al-Shaykh Muwannis • Yazur.

Jerusalém: Allar • Aqqur • Artuf • Bayt 'Itab • Bayt Mahsir • Bayt Naqquba • Bayt Thul • Bayt Umm al-Mays • al-Burayj • Dayr Aban • Dayr 'Amr • Dayr al-Hawa • Dayr Rafat • Dayr al-Shaykh • Deir Yassin • Ayn Karim • Ishwa • Islin • Ism Allah • Jarash • al-Jura • Kasla • al-Lawz • Lifta • al-Maliha • Nitaf • al-Qabu • Qalunya • al-Qastal • Ras Abu 'Ammar • Sar'a • Saris • Sataf • Sheikh Badr • Suba • Sufla • al-Tannur • al-'Umur • al-Walaja

Jenin: Ayn al-Mansi • al-Jawfa • al-Lajjun • al-Mazar • Nuris • Zir'in

Nazaré: Indur • Ma'alul • al-Mujaydil • Saffuriyya

Ramla: Abu al-Fadl • Abu Shusha • Ajanjul • Aqir • Barfiliya • al-Barriyya • Bashshit • Bayt Far • Bayt Jiz • Bayt Nabala • Bayt Shanna • Bayt Susin • Bir Ma'in • Bir Salim • al-Burj • al-Buwayra • Daniyal • Dayr Abu Salama • Dayr Ayyub • Dayr Muhaysin • Dayr Tarif • al-Duhayriyya • al-Haditha • Idnibba • Innaba • Jilya • Jimzu • Kharruba • al-Khayma • Khulda • al-Kunayyisa • al-Latrun • Lydda • al-Maghar • Majdal Yaba • al-Mansura • al-Mukhayzin • al-Muzayri'a • al-Na'ani • an-Nabi Rubin • Qatra • Qazaza • al-Qubab • al-Qubayba • Qula • Ramla • Sajad • Salbit • Sarafand al-Amar • Sarafand al-Kharab • Saydun • Shahma • Shilta • al-Tina • al-Tira • Umm Kalkha • Wadi Hunayn • Yibna • Zakariyya • Zarnuqa

Safad: Abil al-Qamh • al-'Abisiyya • 'Akbara • Alma • Ammuqa • Arab al-Shamalina • Arab al-Zubayd • Ayn al-Zaytun • Baysamun • Biriyya • al-Butayha • al-Buwayziyya • Dallata • al-Dawwara • Dayshum • al-Dirbashiyya • al-Dirdara • Fara • al-Farradiyya • Fir'im • Ghabbatiyya • Ghuraba • al-Hamra' • Harrawi • Hunin • al-Husayniyya • Jahula • al-Ja'una • Jubb Yusuf • Kafr Bir'im • al-Khalisa • Khan al-Duwayr • Karraza, Khirbat • al-Khisas • Khiyam al-Walid • Kirad al-Baqqara • Kirad al-Ghannama • Lazzaza • Madahil • Al-Malkiyya • Mallaha • al-Manshiyya • al-Mansura • Mansurat al-Khayt • Marus • Meiron • al-Muftakhira • Mughr al-Khayt • al-Muntar • al-Nabi Yusha' • al-Na'ima • Qabba'a • Qadas • Qaddita • Qaytiyya • al-Qudayriyya • al-Ras al-Ahmar • Sabalan • Safsaf • Saliha • al-Salihiyya • al-Sammu'i • al-Sanbariyya • Sa'sa' • al-Shawka al-Tahta • al-Shuna • Taytaba • Tulayl • al-'Ulmaniyya • al-'Urayfiyya • al-Wayziyya • Yarda, Safad • al-Zahiriyya al-Tahta • al-Zanghariyya • al-Zawiya • al-Zuq al-Fawqani • al-Zuq al-Tahtani



Tiberias: Awlam • al-Dalhamiyya • Ghuwayr Abu Shusha • Hadatha • al-Hamma • Hittin • Kafr Sabt • Lubya • Ma'dhar • al-Majdal • al-Manara • al-Manshiyya • al-Mansura • Nasir al-Din • Nimrin • al-Nuqayb • Samakh • al-Samakiyya • al-Samra • al-Shajara • al-Tabigha • al-'Ubaydiyya • al-Wa'ra al-Sawda', Khirbat • Yaquq

Tulkarm: Khirbat Bayt Lid • Bayyarat Hannun • Fardisya • Ghabat Kafr Sur • al Jalama • Kafr Saba • al-Majdal • al-Manshiyya • Miska • Qaqun • Raml Zayta • Tabsur • Umm Khalid • Wadi al-Hawarith • Wadi Qabbani • al-Zabadida • Khirbat Zalafa



Documentário de Ramez Kazmouz: Lost cities of Palestine

עדותו של אמנון נוימן, חייל בפלמ"ח, Testemunho de Amnon Neumann sobre a Naqba

Documentário de Ronen Berelovich: The zionist story

Documentário AL-NAKBA, da jornalista palestina Rawan ekl- Damen



Documentário: Collecting stories from Exile - Chicago Palestinians remember 1948
De Jennifer Bing-Canar
Com introdução e conclusão do grande Edward Said




Filme: Os Filhos de Eilaboun
De Hisham Kreiq
Conta a história da Naqba em uma cidade cristã









Documentário: Al Nakba : A Catástrofe dos Palestinos 1948
De Benny Brunner e Alexandra Jansse






Filme: O sal deste mar
De Annemarie Jacir
Conta o retorno de uma palestina à Cirsjordânia nos passos de seus pais,
vítimas da Naqba.





Filme: The Dupes
De Tawfik Saleh
Conta o êxodo de três palestinos após a Naqba, em busca de refúgio no Iraque

Documentário: Going Home
De Omar Al-Qattan
Segue o retorno do major Derek Cooper à Palestina em 1995, sua lembrança dos acontecimentos de 1948 quando fazia parte do Exército britânico, e seu relato à esposa da Naqba.


domingo, 8 de maio de 2011

Olho por Olho, Ossama é morto e Obama sobe ao topo; Falando Sério, Fatah e Hamas entram em acordo

A semana começou com a execução de Ossama Ben Laden em Abbottabad, a 50 km de Islamabad e a uns 3 km de uma antiga base colonial que hoje abriga a Academia Militar do Paquistão. Se fosse nos EUA, seria como se ele estivesse a dois passos de West Point.
O Serviço de Informação do Paquistão sabia, é claro. A cumplicidade deste com Ben Laden data do início dos anos 80 quando o terrorista ex-mais procurado atuava como correio transferindo fundos dos Serviços secretos Sauditas para o Jammaat-e-Islami no Paquistão durante a jihad anti-soviética. Portanto, sua transferência em 1996 para o nordeste do Afeganistão, área monitorada pelo Paquistão, foi uma movida natural.
O anti-natural é a celebração da “vitória” da ilegalidade internacional como se perder a autoridade moral fosse uma bobagem e estas operações militares fossem mais um filme de ação hollywoodiano em que os GIs são os mocinhos e que os demais possam e devam ser aniquilados sem serem julgados.
E mais anti-natural ainda é a temeridade de transformar um velho patético em mártir só porque foi executado em vez de ser devidamente condenado no Tribunal Internacional da Háguia, que foi criado também para julgar estes casos.
Entendo que com um Ben Laden é difícil Dar a outra face, mas daí a proclamar que Quem com ferro fere com ferro será ferido como se o Direito que rege as sociedades civilizadas e a consciência que nos distingue dos psicopatas não contassem para nada, é demais.
Eu gostaria de acreditar que a distância entre pessoas deste naipe e os seres normais é abissal. Mas Obama está provando o contrário. Recuperou a popularidade de um dia para o outro como se tivesse feito um milagre porque o nome vai ficar gravado na história dos EUA com o de Ossama Ben Laden; porém, deu um golpe terrível na Justiça Internacional e ficou sem álibi.
Como justificar a permanência no Afeganistão, bombardeado e ocupado desde 2001 por causa de Ben Laden? Hillary Clinton continua boiando em um mundo imaginário quando conjetura que a morte do ex-líder do Al-Qaida vai amansar os Taliban e jogá-los nos braços do governo afgão corrupto apoiado pela OTAM. Alguns taliban admiravam Bin Laden, mas nenhum amor os unia como o que os une ao Mullah Omar que inspira o combate às tropas ocidentais. O perigo no Afeganistão vem deste homem que está bem vivo e não de Ben Laden.
Como o perigo do Al-Qaida há anos vem da geração jovem que tem várias caras, uma delas, a do estadunidense muçulmano, Anwar al-Awlaki, baseado no Yêmen, outro país no qual Washington despeja milhões de dólares e está pronto para seguir os passos do Paquistão e deixar os caubóis agirem, para em contrapartida o ditador obter apoio contra a onda democrática contra a qual vem lutando desde janeiro com todas as armas.
Anwar al-Awlaki lembra o Fundamentalista Relutante do paquistanês Mohsin Hamid. O protagonista do livro se chama Changez (tradução em urdu de Genghis) e conta sua estória a Você, um estadunidense sobressaltado, em um café de Lahore, uma bela cidade paquistanesa no Punjab: como um jovem brilhante, bem diplomado, pragmático, laico, com um futuro promissor, se metamorfoseia em islamista radical ao ser progressivamente estigmatisado após o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque.
A moral da estória é que em vez de ações populistas talvez fosse melhor cortar o mal pela raiz erradicando a causa do ódio e da radicalização daninha que alimenta as vocações para o Al-Qaida.


Enquanto isto, na quarta-feira, sob os auspícios do Novo Egito – após 18 meses de infrutíferas tentativas de reunir-se com as outras onze facções menos mediatizadas e mais ou menos radicalizadas – os líderes do Fatah e do Hamas, com a benção dos demais, assinaram um acordo histórico no Cairo.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e Khaled Meshall, o líder do Hamas, se comprometeram a formar um governo constituído de figuras independentes cujas tarefas principais serão de preparar as próximas eleições lidando com os problemas internos resultados das divisões, promover a reconstrução de Gaza e o fim do bloqueio, unindo as instituições da AP na Cisjordânia e em Gaza; organizar as eleições de 2012 para a Assembléia Legislativa, a Presidência e o Conselho Nacional Palestino que representará os cidadãos dos Territórios e da diáspora; montar um comitê de inspeção do processo eleitoral; formar um Conselho Supremo de Segurança concensual; libertar os prisioneiros políticos detidos em Gaza e na Cisjordânia pelas administrações rivais (ambas partes negam a existência de tais presos) após vistoria de um comitê dos dossiês de detenção.
O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, condenou acerbamente este acordo (“um tremendo golpe à paz!”) que marca uma nova era no conflito que ele não para de alimentar desde que assumiu o governo. Reação normal de um homem que quer dominar e ocupar em vez de negociar. O golpe na paz ocorreu quando parou de dialogar para continuar a expandir sua ocupação colonial na Cisjordânia.
Mas agora, com o Egito mudando de lado e os palestinos em fase, vai ser difícil para Netanyahu impor suas vontades.
E do outro lado, sem a pressão dos jovens em Ramallah e em Gaza e sem Murad Muwafi, o novo diretor do Serviço Secreto egípcio, o acordo um dia teria acontecido, mas não teria sido tão rápido. Em três semanas tudo ficou resolvido e os compatriotas fizeram as pazes. Dir-se-ia até que nunca tinham brigado. Abbas parecia renovado, Meshall estava cheio de entusiasmo e Muwafi estava pronto para apadrinhar a formação dos três comitês necessários à efetivação do Tratado que responde às expectativas nacionais.
Uma frente unida tem mais força para limpar a casa, reconstruir as áreas bombardeadas e negociar uma paz duradoura e real.

Falando em paz, pensa-se em Direitos Humanos, liberdade de expressão, combate pacífico por causas apoiadas nas Leis Internacionais, e o boicote que é um direito ao alcance de todo cidadão. Pois bem, várias vídeos de ações do BDS movement vêm sendo sistematicamente bloqueadas no youtube. É uma prova do sucesso mundial do movimento de cinco anos, mas também do controle de certos lobbys sobre a informação.

domingo, 1 de maio de 2011

Dia do Trabalho; mas nem infantil nem escravo.

Em 1884, os trabalhadores dos Estados Unidos transformaram o dia 1° de maio em um dia de reivindicação de expediente diário de 8 horas.
Mais de um século mais tarde, o trabalho continua longe de ser totalmente regulamentado e suas condições básicas respeitadas. Sobretudo no tocante às crianças e ao trabalho escravo.
A UNICEF, órgão da ONU encarregado da proteção da infância, define o trabalho infantil como um afazer que excede um mínimo de horas, conforme a idade e o tipo de trabalho.
Este labor considerado daninho e que portanto deveria ser eliminado é dividido por faixa etária. As crianças entre 5 e 11 anos não deveriam executar tarefas de cunho econômico que excedessem uma hora ou doméstica que excedessem 28 horas por semana; as entre 12 e 14 anos, as econômicas de mais de 14 horas e domésticas de mais de 28 horas; e as entre 15 e 17, poderiam trabalhar no máximo 43 horas por semana fora e dentro de casa.
Nestes parâmetros, estima-se a 158 milhões o número de meninos e meninas que exercem trabalho para o qual não têm idade. Ou seja, uma entre seis crianças no mundo. Muitos deles executam tarefas árduas e nocivas até para adultos, em minas, no manuseio de produtos químicos e pesticidas ou de maquinário perigoso.
Estas crianças estão em todo lugar, embora sejam invisíveis, arrumando a casa e cozinhando para a família; costurando indumentárias com as quais nos adornamos sem nos preocupar por quais mãos foram tecidas, que usamos para malhar transpirando um suor sadio; ou na labuta agrícola em plantações de cana, milho e algum outro alimento com o qual nos alimentamos sem questionar a origem.
Na África subsaariana, 69 milhões de mãozinhas e de corpos ainda não-formados trabalham para manter adultos bem nutridos. Isto representa uma entre três crianças que lá vivem. Vivem?
No sul da Ásia, mais 44 milhões fazem parte desta mão-de-obra carente e baratinha.
As meninas pobres já nascem na cozinha, esfregando chão e cuidando dos irmãos como se os tivessem parido. Isto quando não vão parar em casa alheia onde na maioria das vezes sofrem abusos psicológicos e físicos.
Não precisa dizer que estas crianças não estudam como estudamos e como estudam os nossos filhos. Se fossem obrigadas a estudar os pais não poderiam comercializá-las ou pensariam duas vezes antes de alugar seus ofícios ou simplesmente vendê-las como Mais-valia - que Karl Marx me perdoe a heresia.
E os traficantes que sequestram crianças para vendê-los como escravos a fabricantes de roupas e calçados que crianças privilegiadas usam sem saber o preço humano que custaram?
Cerca de 8.4 milhões destes meninos e meninas que trabalham são escravos.
A Nike é uma das empresas mais bem sucedidas no mundo, mas em suas fábricas nos países emergentes os salários são irrisórios, a carga horária é excessiva e os funcionários não são autorizados a se sindicalizar.
A Nike patrocina a Seleção Brasileira que promove sua logo no mundo inteiro que conosco pelo futebol vibra. Mas a Adidas não é melhor em nada. Quem sabe ambas e as demais se moralizassem se nós consumidores os boicotássemos em vez de concordarmos em pagar caro um produto fabricado a custo de trabalho malissimamente remunerado para enriquecer mercadores que aviltam a nobreza do esporte?
Bom Dia do Trabalho!


Para informar-se: