A natureza provocou uma tragédia no Japão e em seguida a ameaça de contaminação nuclear apavorou japoneses e os países vizinhos. Todos se lembram do desastre em Tchernobyl 24 anos atrás, cujas consequências os ucranianos sofrem na pele até hoje.
Fora de lá...
No Egito, depois da agressão aos Coptas, cristãos e muçulmanos esclarecidos voltaram a desfilar ostentando a bandeira com a cruz e a lua crescente entrelaçadas. Quem dera o bom senso fosse geral.
Na sexta-feira a União Européia votou contra a exclusão aérea da Líbia, e Nicolas Sarkozy e James Cameron isolaram a França e a Inglaterra dos demais países encabeçados pela Alemanha, que votou conforme à jurisprudência internacional. Esta impõe três condições sine qua non para a exclusão solicitada. Primeiro, “a necessidade óbvia” tem de ser provada, ou seja, que a população está sob ameaça de ataque aéreo e de uso de armas químicas; segundo, tem de haver “base legal clara”, ou seja, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU ou uma condenação por crimes contra a humanidade oficializada pela Convenção de Genebra, contra Kadhafi; e “apoio regional” tem de estar assegurado, que, no caso da Líbia, é da União Africana e da Liga Árabe. Esta terceira condição é primordial. Sem o aval dos africanos e dos árabes, um envolvimento militar da OTAN seria, além dos riscos que a ingerência comporta, irresponsável. A União Africana ficou calada, mas a Liga Árabe concordou com a exclusão aérea. Talvez um pouco tarde.
As tropas de Kadhafi vêm ganhando terreno estratégico, inclusive recuperando Brega e o aeroporto que lhe proporciona abastecimento em víveres e armas, e abrindo caminho para Benghazi. O que não é surpresa, pois a divisão entre os rebeldes é tamanha, e as lideranças tão heterogêneas e sem tática, que mesmo armados de armas pesadas o recuo é diário. Na Cyrenaica alguns habitantes já balançam entre os lados, pois certos grupos também matam civis que não queiram cooperar.
É provável que os mortos sejam contados por milhares, mas as vontades dos grupos rebeldes (fora a de derrubar Kadhafi) são tão variadas ou indeterminadas, que armar essas tribos seria (está sendo?) um grande erro tático a médio e longo prazo. Em vez de baratear, talvez o petróleo saísse custando caro demais. Como no Iraque.
Na França, Nicolas Sarkozy acabou de dar um bom exemplo da necessidade de ter um diplomata de carreira na cabeça do Ministério das Relações Exteriores, para evitar que o presidente faça bobagem.
Seu país já reconheceu o Conselho Nacional Líbio, auto-nomeado em Benghazi, surpreendendo até os aliados com esta urgência em se desincompatibilizar de Kadhafi.
Ora, para o Conselho de Benghazi servir a democracia, tem de ser de transição ou seu poder também seria discricionário, já que não foi eleito por sufrágio universal. E a história contemporaneíssima do Afeganistão e do Iraque estampa em letras vermelhas garrafais o resultado de reconhecer governos que não contam com apoio popular.
Além do mais, esta validação estrangeira precipitada fornece munição verbal a Kadhafi em sua campanha para desacreditar a motivação nacionalista do movimento que quer derrubá-lo.
Os EUA, à procura de uma via torta para intervir e derrubar o Coronel odiado, fizeram apelo ao rei Abdullah, o ditador amigo, da Arábia Saudita (que desceu o cassetete nos súditos que saíram às ruas; mas aos aliados se perdoa tudo?).
Washington sabe do ódio de Abdullah por Kadhafi, que tentou assassiná-lo no ano passado, e recorreu ao rei para armar os rebeldes por tabela. Este “negócio” não seria (está sendo?) o primeiro entre os dois países. A família real saudita já protagonizou vários tráficos de armas para adversários dos EUA, e no final dá sempre errado.
No nosso continente, durante o governo de Ronald Reagan, eles armaram os Contra na Nicarágua; e depois na Ásia, intermediaram o armamento dos afegãos contra a União Soviética – armas leves e pesadas que acabaram nas mãos dos talibã e depois dos tchetchenos e seus aliados no Cáucaso.
Epílogo Tripolitano: Ouvi dizer que Kadhafi nem se preocupa mais com uma intervenção militar ocidental. Pois caso acontecesse, viraria mártir da pátria invadida pelos EUA.
Se facilitar, seu sonho será realizado e vai acabar o reino de terror como herói nacional, “canonizado” por seus piores adversários, na roda-viva da geopolítica do curto prazo.
E,
Em Nablus, na Cisjordânia, cada vez que alguma estrutura proibida é demolida (por policiais, para manter um suposto limite às invasões nos Territórios Ocupados) os colonos israelenses descontam na população local em operações corriqueiras que chamam de “etiqueta de preço” – há pouco jogaram uma bomba incendiária em uma casa em Huwarra que provocou a hospitalização dos filhos do casal por intoxicação. Cansados dos ataques constantes dos invasores que além das terras lhes confiscam a pouca água, há alguns dias os nablusianos saíram às ruas para reclamar das agressões e a passeata pacífica foi reprimida a bala pelos soldados israelenses que feriram dez participantes.
A tensão foi aumentando e neste fim-de-semana, um casal e três filhos que viviam na colônia de Itamar, próxima de Nablus, foram esfaqueados, provocando uma operação militar israelense violenta na cidade: invasões de casas e tudo o que acontece quando o exército ocupante procede a este tipo de razzia.
Para completar, em “represália”, Binyamin Netanyahu informou, Barak Obama por telefone e o resto do mundo em um comunicado, que construirá mais 500 casas lá.
O assassinato da família Fogel é hediondo. Quaisquer que fossem as razões do assassino – asfixia econômica e moral, vida de animal abusado e encurralado – nenhuma é válida, e as autoridades palestinas já estão à busca do culpado.
Crimes de colonos contra os ocupados são mais comuns, inclusive de um bebê de três meses. Quando é um colono que mata um palestino, é tratado como preso comum, julgado em Tel Aviv e chamado de militante extremista.
Por que o assassino desta família está sendo chamado de terrorista?
É um criminoso que tem de ser punido, mas pela Autoridade Palestina. Se não o sentimento de impotência da população ocupada vai aumentar e a tensão mais ainda.
Os palestinos condenam o crime, mas não conseguem entender porquê os bombardeios de civis de todas as idades em Gaza, noturnos e calculados, são chamados de operação militar e os criminosos desfrutam de impunidade enquanto que um assassinato isolado e raro é chamado de ato terrorista e a comunidade toda paga o pato.
O temor que a punição já anunciada não satisfaça a sede de sangue da Linha dura israelense está tirando o sono de adultos e crianças em Nablus e no resto da Cisjordânia.
Invasão de Nablus em 2007: http://www.youtube.com/watch?v=sXxFVlUKsiA
Situação de Nablus em 2010: http://www.youtube.com/watch?v=QGooZvxBqlU
Na semana passada falei sobre a manutenção do Congresso estadunidense da ajuda militar de três bilhões de dólares a Israel em detrimento de projetos cruciais na área nacional de saúde e educação. Como ganância pouca é bobagem, Ehud Barak, Ministro da Defesa israelense, anunciou há pouco que vai pedir a Washington mais U$20 bilhões para mais aviões de combate, mísseis, submarinos, etc.
(Para se proteger das pedras que os jovens jogam contra os check-points que os impedem de ir à escola? Ou dos adultos desarmados que manifestam diariamente em B’lim contra o muro que devora suas plantações e quintais?)
O primeiro ministro Binyamin Netanyahu posou então ao lado de soldadas, como fazia Muammar Kadhafi quando se pavoneava, e reiterou que seu exército jamais se retirará do Vale do Jordão, que pertence à Cisjordânia. Voltou a desafiar a ONU publicamente completando que esta faixa é de segurança vital para Israel e coisa e tal. Uma ladainha tão antiga quanto a ocupação que também dura 41 anos. A mais longa da história mundial.
E no dia 8, no Knesset, os parlamentares aprovaram uma lei que proíbe seus concidadãos de protestar contra a ocupação da Cisjordânia. A “Lei anti-boicote” foi condenada massivamente pelas 53 ONGs israelenses de Direitos Humanos. Na carta que enviaram ao Knesset condenando a decisão dos parlamentares, reafirmaram que “o boicote é uma maneira de expressão cívica, não-violenta e legítima de exprimir a opinião e promover mudança social e política”. Esta lei anti-boicote não foi a única lei antidemocrática votada em plenário, mas foi a que provocou reações mais indignadas.
Falando nisto, eis o site do Global BDS, movimento que cresce em Tel Aviv e nos países ocidentais, apesar da vontade da Linha dura do Knesset de erradicá-lo: http://www.bdsmovement.net/.
Ação do BDS em Bruxelas: http://www.youtube.com/watch?v=MJncQ7toX9s
Comitê de Israel contra a demolição de casas: http://www.icahd.org/
Free Gaza Movement: http://www.freegaza.org/; http://gazasiege.org/
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