domingo, 20 de março de 2011

A Inês é morta?

A decisão da ONU de autorizar a exclusão aérea da Líbia, por unanimidade, em Paris, chegou tarde.
Em fevereiro teria soado justa para os líbios e para o mundo inteiro. Em março parece interesseira.
A resposta demagógica do ditador máximo veio por rádio: “Chegou a hora de abrir as lojas e armar a massa com todo tipo de artilharia para defender a independência, a unidade e a honra da Líbia!”
Kadhafi reivindicou em seguida seu direito de defesa, estipulado no artigo 51 da ONU, e liberou o caminho da emigração “clandestina” para a Europa. Sua arma secreta contra as Forças Internacionais que marcaram bem nos mapas os poços de petróleo para não serem alvos de nenhuma bomba extraviada. Têm de ser preservados para serem repartidos mais tarde.
As bombas ocidentais visam as defesas e as forças armadas do Coronel, os mercenários e não os soldados. Ingenuidade? Os EUA, que há anos usam esta mão-de-obra no Iraque pelas mesmas razões que Kadhafi (isenção de ética e fidelidade cega ao vil metal) sabem da dificuldade, quando não da impossibilidade, de distinguir quem é quem na hora do ataque, sobretudo quando este é feito do alto.
As bombas caem em pontos estratégicos, mas todos sabem que The End só vai aparecer na tela quando em Trípoli o bunker-palácio virar fumaça.
Por enquanto, o muro deste está com um escudo humano, só se vê na rua homens armados, bombas caem sem que a população apavorada saiba muito bem quem e o que é alvo, mulheres choram mortos enterrados e os que vão enterrar mais tarde, e um senhor idoso, que tem cara de quem passou por tudo que um homem pode passar, mas que apesar de tudo é calmo e amável, fez este comentário: "Até hoje nossos filhos e netos pisam e explodem com os milhões de minas deixadas pelos ocidentais. Se tirarem Kadhafi para voltarem a nos subjugar como fazem no Iraque, vou entregar a alma só depois de esvaziar minha arma."
Se o ataque aéreo não surtir o efeito desejado ter-se-á de ir mais longe e pôr tropas no solo... E aí, o que vai acontecer com os soldados ocidentais neste emaranhado tribal?
Parafraseando William Shakespeare, What's done is done. O que está feito está feito. Só resta torcer para que os danos materiais e humanos sejam limitados.

Neste ínterim,
. No Iraque, os cristãos continuam a ser caçados e o milhão que existia quando os EUA invadiram o país, entre mortos e emigrados, resta menos da metade, dos quais cem mil em Bagdá. Al Qaïda os chama de "alvo legítimo" e há meses abriu a temporada de caça. A Fraternidade Islâmica pediu para os iraquianos protegerem "seus irmãos cristãos".
Ainda tem desavisados que põem ambos no mesmo saco.
. Na Palestina, passeatas reuniram milhares de jovens em Ramallah (controlada pelo Fatah) e na cidade de Gaza (controlada pelo Hamas) para exigir a união dos dois partidos. Em Gaza, o primeiro ministro banido Ismail Haniyeh, do Hamas, declarou que está na hora do processo de reconciliação começar. Em Ramallah, o porta-voz do Fatah, Ahmed Assaf, rejeitou a proposta na terça-feira alegando falta de sinceridade.
Está passando da hora dos EUA tirarem as algemas de Mahmoud Abbas e deixá-lo estender a mão a Ismail Haniyeh para a vontade do povo ser respeitada. O único jeito de negociar uma paz viável e durável com Israel é o Hamas e o Fatah caminharem para a mesa de mãos dadas.
O jogo de dividir para reinar já foi longe demais.

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