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domingo, 10 de maio de 2015

Israel vs Palestina: Operações Militares IV (1954-1966)


Operation Retributions
Na fase pós Qybia, a operação Retributions continuou a fragmentar-se em outras de grande e pequena escala até 1966.

The Lavon Affair

1954
Operation Susannah. Ficou conhecida como Lavon Affair e não foi diretamente contra a Palestina. Porém, merece destaque por ter sido um fiasco que revelou a prática corrente das false flag operations em Israel, ou seja, atentados que incriminem outrem e assim fomentar incidentes diplomáticos ou/e conflitos que justifiquem "represálias" da OTAN ou da IDF contra países que Israel hostiliza.
A operação Susannah foi obra da Israeli Military Intelligence e começou no verão de 1954 como parte de uma false flag operation (Run up someone else's falt and what you do gets blamed on them - hasteaia bandeira alheia a fim de culpá-lo de seu mal-feito).
Israel recrutou um grupo de judeus egípcios para trair sua pátria - prática corrente de Israel em todos os países do planeta; 'sayanim' é como chamam estes traidores - para pôr bombas em propriedades civis estadunidenses e britânicas em Alexandria e no Cairo - cinemas, livrarias e escolas.
O único cuidado humano que tiveram foi de programar as bombas para explodirem fora das horas de abertura ao público.
O "culpado" pré-determinado foi a Irmandade Muçulmana e organizações comunistas do Egito, que deveriam levar a culpa dos atentados terroristas programados em Tel Aviv.
O objetivo era criar clima de violência e instabilidade que induzisse o governo britânico a manter suas tropas de ocupação na zona egípcia do Canal de Suez. Segundo Shabtai Teveth, finado jornalista do Haaretz, a operação visava "To undermine Western confidence in the existing [Egyptian] regime by generating public insecurity and actions to bring about arrests, demonstrations, and acts of revenge, while totally concealing the Israeli factor. The team was accordingly urged to avoid detection, so that suspicion would fall on the Muslim Brotherhood, the Communists, 'unspecified malcontents' or 'local nationalists'."
A operação não fez nenhuma vítima.
Enfim, um dos terroristas judeus, Philip Natanson, sofreu castigo imanente. Uma das bombas que carregava para um cinema explodiu em seu bolso e ele saltou pelos ares antes de chegar ao local do crime.
Dois outros terroristas/sayanim - Yoisef Carmon e Meir Max Bineth - se suicidaram em suas celas.
O julgamento dos demais começou no dia 11 de dezembro e terminou no dia 27 de janeiro de 1955. Dois réus - Moshe Marzouk e Shmuel Azar - foram condenados a enforcamento por traição.
Dois acusados foram absolvidos. Dois - Meir Meyuhas e Meir Za'afran - cumpriram penas de prisão de sete anos, foram soltos em 1962 e os demais em 1968, em troca secreta de prisioneiros.
A operação ficou conhecida como Lavon Affair por causa do ministro da Defesa Pinhas Lavon, que foi forçado a demitir-se quando a trama maquiavélica veio à tona.
Apesar de ter sido pego com a boca na botija, Tel Aviv passou 51 anos negando sua culpa evidente e botando a culpa no Egito. Até 2005, quando o presidente israelense Moshe Katzav acabou condecorando os terroristas por serviços prestados a Israel.
Mas até então, a operação Susannah era citada eufemísticamente como "Unfortunate Affair" ou "The Bad Business".
O Unfortunate Affair foi arquitetado pela Unidade 131 da IDF. Uma célula de inteligência criada em 1948  e sob direção da Aman (Inteligência militar israelense) desde 1950. Na época deste "incidente", o Aman e o Mossad disputavam o controle da 131, mas o atentado foi minuciosamente organizado.
O agente israelense Avram Dar foi mandado para o Cairo anos antes com identidade britânica e com o nome de John Darling. Foi ele que recrutou os judeus egípcios então envolvidos em atividades ilegais de emigração os treinou para operações ocultas diversas.
Durante a operação Susannah, o primeiro atentado aconteceu no dia 02 de julho com a explosão do Correio central de Alexandria. Depois, no dia 14 de julho, os terroristas explodiram escritórios de Inteligência estadunidense em Alexandria e no Cairo, e um teatro britânico, onde foram pegos.
As bombas eram artesanais porque senão não daria para incriminar ativistas amadores. Sacos de plástico cheios de nitroglicerina e fósforo altamentamente incendiários foram enfiados entre livros e prateleiras um pouco antes da hora de fechamento dos locais visados para explodirem mais tarde.
O agente Avri Elad (imigrante alemão na Palestina Avraham Zeidenberg) foi mandado para o Egito para supervisionar os atentados um pouco antes de começarem. Elad chegou ao Egito com a identidade falsa de Paul Frank, ex-oficial SS com conexões nazistas clandestinas.
No final das contas, os dois agentes israelenses Avram Dar e Avri Elad foram os únicos que conseguiram escaparar ilesos. Atravessaram a fronteira para Israel abandonando os peões que haviam recrutado para que pagassem o pato enquanto eles se salvavam.
Avri Elad, de quem o Aman suspeitava de ter denunciado o atentado às autoridades egípcias, continuou a fazer seu trabalho até ser pego vendendo informação secreta para os egípcios em 1956. Foi julgado secretamente em Tel Aviv e condenado a 10 anos de prisão. Durante o processo inteiro a imprensa só podia referir-se a ele como "The Third Man" ou "X" por causa da censura a que é submetida. Foi ele mesmo que revelou sua identidade em 1976 quando já morava em Los Angeles. Em 1980 o chefe do Mossad Isser Harel declarou que Elad era agente duplo bem antes da operação Susannah, pondo fim ao mito da lealdade absoluta dos agentes do Mossad.
E como os processos políticos e militares em Israel não são fiáveis devido às pressões e censuras de origem e tipos variados, só em abril de 1962 uma revisão das minutas revelaram inconsistências de testemunhos e documentos fraudulentos. Estas irregularidades provavam que o ministro da defesa Pinhas Lavon fora bode espiatório dos dois ministros que ele acusara inutilmente durante o julgamento. Um deles se eternizaria no poder em governos de esquerda, de direita e de extrema-direita - Shimon Peres, o lobo em pele de ovelha.
Como Israel conseguiu sair dessa mantendo seus aliados ocidentais que atacara?
Negou sua participação com o discurso de sempre: "Israel does not do such things! Israel is being persecuted". Quando a mídia internacional divulgou as minutas do processo dos terroristas judeus no Cairo, em que estes explicavam em detalhes seu treinamento em Israel, o governo de Tel Aviv argumentou que "the attack was a rogue operation unsanctioned by the Israeli government. A mentira era obviamente absurda já que os comandantes da operação não foram punidos e seriam ao contrário condecorados anos mais tarde. E ficaria por isso, como todas as fabulações que Israel inventa e brada sem vergonha aos dirigentes ocidentais e à imprensa.
Moshe Sharett (Ministro das Relações Exteriores 1948-1956 e Primeiro Ministro 1954-55) publicou em seu Personal Diary no capítulo 7 - The Lavon Affair: Terrorism to Coerce the West - as seguintes notas: ONE. Start immediate action to prevent or postpone Anglo-Egyptian Agreement. Objectives are: one, cultural and information centers; two, economic institutions; three, cars of British representatives and other Britons; four, whichever target whose sabotage could bring about a worsening of diplomatic relations.
TWO. Inform us on possibilities of action in Canal Zone.
THREE. Listen to us every day at 7 o’clock on wavelength G.’
“This coded cable was sent to the Israeli spy ring which had been planted in Egypt many months before it was activated in July 1954. The ring originally was to serve as a fifth column during the next war. The cable was preceded by oral instructions given by Colonel Benjamin Givii, head of Israel’s military intelligence, to an officer headed for Cairo to join the ring. These instructions were:
‘[Our goal is] to break the West’s confidence in the existing [Egyptian] regime ... . The actions should cause arrests, demonstrations, and expressions of revenge. The Israeli origin should be totally covered while attention should be shifted to any other possible factor. The purpose is to prevent economic and military aid from the West to Egypt. The choice of the precise objectives to be sabotaged will be left to the men on the spot, who should evaluate the possible consequences of each action ... in terms of creating commotion and public disorders.’ [Footnote: “Both texts are reproduced from the Acts of the Olshan-Dori Inquiry Commission of the ‘Affair,’ annexed to the Diary, pages 659, 664, respectively.”]
“These orders were carried out between July 2 and July 27, 1954, by the network which was composed of about ten Egyptian Jews under the command of Israeli agents. ... [The dates in the next sentence seem to be confused.] The Israeli ring was finally discovered [July 14] and broken up on July 27 [correct], when [rather July 14] one of its members was caught after a bomb exploded in his pocket in Alexandria."
Reformulo então a pergunta que fiz acima, como Israel conseguiu safar-se de seu crime mantendo seus aliados ocidentais? Apelando para a vitimização que lhe valera um Estado e para a hasbara. Eis os argumentos levantados na época e que se repetiram através das décadas até a atualidade: "...by the declaration of the accused Victorin Ninyo in the military court in Cairo that was published this morning. [According to this Israeli declaration with no proof whatsoever] she was tortured during the interrogation which preceded the trial and by that torture they extracted from her false confessions to crimes which did not happen. The government of Israel strongly protests this practice, which revives in the Middle East the methods used by the Inquisition in the Middle Ages. The government of Israel strongly rejects the false accusations of the general Egyptian prosecution, which relegates to the Israeli authorities horrible deeds and diabolic conspiracies against the security and the international relations of Egypt. From this stand we have protested many times in the past persecution and false accusations of Jews in various countries. We see in the innocent Jews accused by the Egyptian authorities of such severe crimes, victims of vicious hostility to the State of Israel and the Jewish people. If their crime is being Zionist and devoted to Israel, millions of Jews around the world share this crime. We do not think that the rulers of Egypt should be interested in being responsible for shedding Jewish blood. We call upon all those who believe in peace, stability and human relations among nations to prevent fatal injustice.’" In Livia  Rokach "Israel's Sacred Terrorism".
Graças às artimanhas da contra-informação, a Operation Susannah só prejudicou Israel temporariamente dando aos palestinos trégua de um ano nas grandes operações de genocídio inciadas em 1948. Os países lesados - EUA, Inglaterra e aliados - deixaram-se enganar do mesmo jeito que Israel conseguira seu Estado - com o escudo do holocausto. E os países ocidentais voltaram a proteger o novo algoz da nova vítima. A hasbara já estava instalada, em marcha crescente e com uma eficiência de dar inveja ao Ministro da Propaganda nazista Joseph Goebbels.

Norman Finkelstein demole a hasbara (subtitulado en español, 3')

1955
Operation Elkayam. Esta operação recebeu o nome do comandante Saadya Elkayam, morto na Operation Black Arrow contra o Egito (28/02 a 01/03 1955). Aconteceu no dia 31 de agosto de 1955 contra Khan Younis, na Faixa de Gaza.
Até então, o governo egípcio ajudava os palestinos a resistirem à ocupação israelense e haviam improvisado um quartel em um Tegart Fort, uma das instalações militares que o engenheiro inglês Sir Charles Tegart projetara na Palestina durante o Mandato Britânico.
Forças militares de batalhões distintos da IDF cercaram o forte e às 22:45 o dinamitaram por todos os lados o transformando em ruínas. Mataram 72 soldados egípcios e perderam um soldado.
A operação foi considerada um sucesso em Israel porque além de destruírem o forte e matarem tantos adversários, conseguiram a médio prazo espantar o Egito e fazer com seu presidente Gamal Abdel Nasser revisasse seu apoio aos palestinos.

Operation Jonathan. Esta operação durou dois dias, 11 e 12 de setembro de 1955.
Foi executada por dois batalhões paratoop que atacaram a delegacia Khirbet al Rahwa na estrada que ligava Hebron a Beersheba. A IDF matou mais de 20 policiais palestinos e estes só feriram um soldado israelense.

De outubro a dezembro de 1955, Israel lançou várias operações, mas contra os vizinhos cujo território cobiçava para expandir-se. A Operation Egged, contra o Egito, nos dia 28 e 29 de outubro - 12 soldados egípcios mortos e 29 prisioneiros. A Operation Volcano, também contra o Egito, no dia 2 de novembro - 81 soldados egípcios mortos, 55 capturados, 7 soldados israelenses morto. Operation Olive Leaves, no dia 11 de dezembro contra a Síria na beira do Mar da Galileia - 54 sírios mortos, 30 capturado, 6 soldados isaelenses mortos. Operation Sa'ir, contra a Síria, nos Golã, no dia 22 de dezembro.

1956
Operation Lulay. Aconteceu no dia 25 de setembro de 1956 no vilarejo de Husan, perto de Belém, dita em retaliação a operações da resistência em que morreram dois colonos e participantes de uma conferência arqueológica no kibbutz Ramat Rachel, no sul de Jerusalém e Maoz Haim, na Galileia.

Opeation Samaria. No dia 10 de outubro de 1956 a IDF atacou a delegacia de Qalqilya, na Cisjordânia, matando 100 palestinos. Perdeu 17 soldados.

1966
A Guerra do Sinai pôs fim à primeira fase da Operation Retributions. As operações de "retribuição" não pararam, mas foram focadas majoritariamente na Jordânia e na Síria.
Na Palestina, a operação mais importante nem foi chamada operação e sim Samu Incident. Que foi um ataque da IDF no dia 13 de novembro de 1966 ao vilarejo de as-Samu, no sul de Hebron. Seus batalhões dinamitaram várias casas matando 18 palestinos e ferindo dezenas com apoio aéreo de Mirages III franceses. A IDF perdeu um soldado.
Foi o fim oficial da Operation Retributions que durou 16 anos de maneira intermitente mas fulminante.

Anedota sobre Israel (subtitulada en español 49")

HOW ISRAEL WAS ABSOLVED OF DEIR YASSIN AND ALL OTHER MASSACRESIlan Pappe.10/04/2015

 


domingo, 29 de março de 2015

Israel vs Palestina: Operações Militares III (1950-53)



Operation Retributions: Esta ampla operação foi inaugurada no início da década de cinquenta. Israel já era um Estado com instituições administrativas, judiciárias, legislativas e militares devidamente constituídas. Todas sob o comando do Primeiro Ministro David Ben-Gurion e de seu chefe de gabinete, general Moshe Dayan, que continuavam a tentar conquistar a Palestina custasse o que custasse. Estes dois homens eram imigrantes europeus, como a maioria absoluta dos comandantes judeus que protagonizaram a Naqba. Lutavam pela posse da terra e não por amor ao solo ou sentimento nacional, patriótico, como os palestinos que resistiam ao espólio.
A assinatura do armistício imposto pela ONU em 1949 não acalmara os árabes. Ainda feridos no âmago pelos massacres e inconformados com o sequestro de mais de dois terços de seu território para a constituição do Estado de Israel - composto de mais de 90 por cento de imigrantes que não tinham nenhuma ligação histórica, familiar ou afetiva com a Palestina.
Talvez tenha sido por causa dessa indiferença à arquitetura histórica que os imigrantes tenham destruído tantos vilarejos ancestrais e sítios arqueológicos. Além de transformarem as cidades em matadouros. Os nativos que sobreviviam ao genocídio escapavam com a a chave de casa, símbolo de nacionalidade e propriedade que passaria de pai pra filho no exílio alimentando a esperança de um dia retornar à terra natal.
David Ben-Gurion não foi apenas o primeiro governante de Israel. Foi também o precursor das práticas violentas e dos discursos de hierarquização "humana" entre nativos e imigrantes que seus sucessores repetiriam até Binyamin Netanyahu, culminando com o Israeli Project (Blog 08/08/14) contemporâneo.
A retórica era parte da estratégia calculada de aproveitar o choque do holocausto para inverter a noção de perseguido e perseguidor; de vítima e algoz; de ocupante e ocupado. Esta estratégia de guerra ludibriou os dirigentes cristãos europeus e americanos, induzidos a assumir a culpa de Hitler e permitir que a história se repetisse com judeus ocupando o papel invertido do que ocupara sob o jugo nazista.
Apesar do clima propício ao revanchismo cego. Alguns judeus esclarecidos não se deixaram enganar pela hasbara (propaganda) e condenaram a punição coletiva do povo palestino, inocente dos crimes nazistas. Dois destes seres humanos eram o que havia de melhor em seus campos profissionais e usaram sua celebridade e influência para sacudir os ocidentais anestesiados pela culpabilidade dos campos de concentração recém-liberados pelo Exército Vermelho soviético (embora em vez dos soldados russos os filmes de Hollywood mostrem os marines neste papel que não representaram na realidade).
Estes dois judeus eminentes que olharam e enxergaram o genocídio que estava acontecendo na Palestina foram a filósofa Hannah Arendt e o físico Albert Einstein.
Suas mentes excepcionais enxergaram que de presas passivas, os judeus que emigraram para a Palestina se transformaram em impiedosos predadores; de ovelhas, a lobos vorazes de presas afiadas e instinto de vingança sanguinária. Contra seus compatriotas europeus que haviam cruzado os braços? Não, contra um povo que, além de isento de culpa, combatera em favor dos aliados para libertá-los dos campos em que Hitler os enclausurara.
Não precisava ter a inteligência de Arendt e Einstein para enxergar o que estava na cara - os Aliados permitiam na Palestina invadida pelos sionistas a injustiça e as atrocidades que combateram na Alemanha nazista.
Não. Não precisava ter a inteligência desses dois brilhantes alemães para entender o óbvio. Mas precisava ter a coragem que distingue as pessoas comuns das extraordinárias. A coragem de fazer a coisa certa quando a maioria absoluta se conforma com a coisa errada.
A coisa certa na época era unir pensamento, palavra a ato, e escrever a carta aberta ao lado, que os dois e outros imigrantes judeus nos EUA mandaram para o New York Times, que a publicou em dezembro de 1948. Nesta missiva onde a pena de Arendt é visível, denunciam as abominações que os "grupos terroristas" sionistas estavam cometendo na Palestina.
Em 1950, o grito de alerta ainda ressoava e continuava a refletir o que estes intelectuais pensavam assim como a realidade no terreno, imutável. Só que as brigadas "terroristas" haviam sido institucionalizadas na Israeli Defensive Forces - a IDF, que continuava a atuar de maneira bárbara nos territórios ocupados em toda i/legalidade.
Depois das operações de limpeza de 1948 e 49, David Ben Gurion apresentou da seguinte maneira a Operation Retributions que fragmentava a limpeza étnica inclemente: "We have the power to set a high price for our blood, a price which would be too high for the Arab communities to bear."
O preço alto era o que Hitler estabelecera na França contra a resistência - por exemplo, após o atentado contra Julius Ritter, o alemão responsável da requisição de franceses para trabalhos forçados na Alemanha, 50 resistentes foram fuzilados; o preço da vida ou simplesmente da segurança de um ocupante variava entre 10 a 88 franceses civis ou combatentes na resistência.
Os imigrantes judeus importariam consigo as horrendas práticas nazistas, inclusive a de hierarquização do valor da vida como fizera Hitler. Ben Gurion queria mostrar a ferro e fogo que um judeu valia mais, muito mais, do que um nativo cristão ou muçulmano. A superioridade de raça, de credo, era a noção predominante que a Operation Retributions tentou aplicar na terra que os israelitas re-conquistavam com a mesma esperteza e a mesma violência que David usara três mil anos antes contra Golias e seu povo filistino.
Esta noção de hierarquia humana foi a pedra fundamental na construção do Estado de Israel e na destruição da Nação palestina.
A Operação Retributions durou seis anos. Como foi prolífica em massacres, fragmenta-la-ei em dois blogs para que não fiquem muito longos.

1951:
A Operation Retributions começou com o que ficou conhecido como Al-Hamma incident.
Durante o Império Romano, Al-Hamma era conhecida como Emmatha e era sítio turístico de famosas estações térmicas consideradas terapêuticas devido a seu alto conteúdo de sufur. Além dos balneários e banhos públicos, os romanos construíram um anfiteatro e outros edifícios à altura dos recursos naturais da região. Emmatha ficou de pé durante séculos.
Um terremoto causou estragos que foram restaurados no ano 633 DC, durante o reino de Muawiyah I no Califado Umayyad que sucedeu a morte de Maomé. O restaurador aproveitou para adicionar novos prédios que desmoronaram, na maioria, durante o terremoto dos Golã em 749. Foram reconstruídos e de novo destruídos pelo terremoto de 1033. (Hoje excavações arqueológicas descobriram ruínas abertas ao público. Israel acaparou-se do local a fim de privar os palestinos desta mais valia turística).
No recenseamento de 1922, a população de Al-Hammah consistia de 984 cristãos e muçulmanos e de 28 judeus. Em 1936 os palestinos cederam a concessão dos banhos ao empresário libanês Sulayman Nasif que revitalizou a estação balneária que floresceu como na época romana voltando a atrair muitos turistas e migrantes nativos.
O Hagannah "despopulou" o vilarejo de seus habitantes em 1949, mas com a Naqba correndo solta na Galileia, posteriormente, muitos palestinos voltaram e outros chegaram em busca de refúgio. Ao ponto da população cristã e muçulmana chegar a 2.200. O que desagradou bastante Ben Gurion e Moshe Dayan. Sua frota aérea recém-constituída veio a calhar na operação de expulsão desses "intrusos".
As razões da "limpeza" eram as mesmas, matar o máximo de nativos e "confiscar" seus bens móveis e imóveis que os imigrantes judeus cobiçavam para uso próprio.
Esta "oportunidade" chegou no dia 04 de abril de 1951. Apesar da ONU ter vedado a presença de militares israelenses nessa área, nesse dia o comandante da recém-formada IDF no Norte resolveu despachar para lá uma patrulha disfarçada de policiais. A resistência reagiu e matou os sete soldados. Em retaliação, no dia seguinte, quatro avões militares bombardearam a delegacia da cidade e uma base síria em Al Hadid, já que os sírios foram tidos como culpados. Duas mulheres foram mortas e seis pessoas ficaram feridas.
Como a IDF não podia admitir publicamente que desrespeitara a ONU, não pôde revidar com mais um massacre. Ben Gurion resolveu, após ser repreendido pelos bombardeios, mudar de estratégia e proceder à expulsão paulatina dos habitantes por intermédio de terrorismo quotidiano. A perseguição foi implacável; até os últimos palestinos não aguentarem mais os maus-tratos e partirem deixando para trás história e propriedades constituídas por seus antepassados.
Esta operação foi apelidada de "Incidente" porque não atingiu o objetivo de imediato. Não por questões militares ou humanísticas e sim para não danificar os bens materiais que Israel queria recuperar em bom estado. Tanto para os imigrantes judeus ocuparem casas montadas quanto para o governo explorar a infra-estrutura turística sem gastos.
(Na década de 90, via-se o seguinte ao entrar na cidade confiscada. O parque turístico Hamat Gader predominava com piscinas, uma represa e seu estacionamento moderno. A mesquita deserta ainda estava de pé com seu minaret e colunas de mármore intactas. Outras construções antigas, de basalto escuro característico da Galileia antiga, se mantinham, assim como a estação ferroviária (ao lado) que ostentava o nome do vilarejo extinto em sua fachada. Havia mais três imóveis desertos perto da estação e várias casas em pedaços. A Al Hamma de hoje perdeu toda alma.)

Beit Jala raid, foi uma das mini-operações da Retributions. Foi em "resposta" à agressão de uma imigrante judia em Jerusalém, embora não houvesse nenhuma prova que um palestino fosse autor do crime. Muito pelo contrário. Mas isto não importava. Foi desculpa para uma punição coletiva.
Foi outra prática israelense que data dos primórdios de seu Estado: a punição coletiva - crime de guerra e contra a humanidade que nos territórios palestinos ocupados foram estabelecidas como estratégia de limpeza étnica a curto, médio e longo prazo, como se não fosse contrária à Convenção de Genebra.
No dia 04 de dezembro de 1951, a jovem imigrante judia Lea Feistinger foi estuprada, assassinada e seu rosto desfigurado. Seu corpo foi encontrado em uma caverna dentro da cease fire line determinada pela ONU. Por isso, a investigação foi dirigida pelo major Loreaux em nome da Mixed Armistice Commissions (MAC). Como o Major não encontrou nenhum indício que o criminoso fosse palestino e sim que parecia um crime passional, transmitiu a investigação à polícia israelense para que investigasse como um crime comum e não político.
Mas a IDF tomou as rédeas da investigação e desconsiderando o relatório do oficial da ONU, declarou que o criminoso era palestino e que era de Beit Jalla.
Um batalhão entrou no vilarejo no dia 06 de janeiro de 1952 e dinamitou três casas sem avisar as famílias. Nove pessoas morreram no atentado. Um jovem casal, uma mãe e seus quatro filhos de 6 a 14 anos, e mais duas pessoas.
Do ar, caíram panfletos "explicando" este crime: "On 4/12/1951 some persons from among the inhabitants of Beit Jala killed a Jewish girl in the neighbourhood of Bayit VeGan, after committing against her an unpardonable crime. What we have done now is the penalty for that ugly crime. We shall not stand idly by in the face of such crimes. In our quiver there are always arrows for [such criminals]. Let those who can, heed this warning..."
O major Hutchison,d a MAC, investigou a reclamação da Jordânia contra esta punição coletiva injustificável e no final os investigadores da ONU determinaram que os israelenses haviam usado inclusive metralhadoras no atentado, antes de dinamitar as casas. Mas não repreenderam Israel por nada.
Em 1953, o cônsul estadunidense em Jerusalém declararia que os israelenses nem investigaram a possibilidade mais lógica do crime ter sido cometido pelo namorado da moça, outro judeu imigrante, e não por um palestino: "It was never shown that the act was not committed by her Israeli boyfriend".
O embaixador britânico em Tel Aviv chamou o atentado israelense de "simple reprials, degigned to make Arab infiltration umpopular in the Arab villages", e comparou os ataques da IDF aos da Inglaterra contra os egípcios na área do Canal de Suez.
Nem o crime da IDF nem o da jovem Lea foram punidos.

1953:
Operation Shoshana: Esta operação ficou conhecida na Palestina como o Massacre de Qybia. Foi um dos "fragmentos" mais sangrentos da Operação Retributions.
Aconteceu em outubro de 1953. O comandante foi Ariel Sharon (foto ao lado), que ficaria conhecido na Palestina como General Bulldozer. Aos 25 anos, Sharon já era o aprendiz de carniceiro que minha geração conheceria. Invadiu Qybia com dois batalhões originários do Hagannah - paratroop brigade e a Unit 101. Em seis horas, seu batalhão exterminou 69 moradores. Dos primeiros 42 corpos encontrados, 38 eram de mulheres e dois de crianças. No final das contas, mais de dois terços dos mortos eram mulheres e crianças. E fez juz a seu futuro apelido destruindo 45 casas, uma escola, uma mesquita, o posto de saneamento, a central elétrica, a delegacia.
Este massacre em Qybia foi em "retaliação" ao ataque ao vilarejo Al-Abbasiyya, que após a Naqba os novos proprietários chamaram de Yehud. No dia 12 de outubro, um desconhecido jogou uma granada em uma casa matando a uma mulher e seus dois filhos. A identidade do autor do crime não foi descoberta, mas mesmo assim, a punição coletiva aprendida com os nazistas foi aplicada em seguida.
Sharon seguiu as diretivas de Ben Gurion e no dia 14, cobrou 23 vidas palestinas por cada vida judia perdida dois dias antes.
O ataque começou às 21:30, quando as famílias estavam reunidas e desprevenidas, seguindo a mesma estratégia que a IDF mantém até hoje. Primeiro, os cerca de 300 soldados sitiaram o vilarejo bloqueando as saídas. Em seguida, usaram torpedos Bangalore para romper as cercas que protegiam o povoado e minaram as vias de acesso para impedir que resistentes acorressem em socorro de seus compatriotas e evitar que os habitantes que conseguissem escapar do sítio sobrevivessem.
Concomitantemente, outro batalhão sitiou Budrus - também para impedir possível reação de  socorro e resistência - e pelo menos 25 torpedos foram lançados nesta cidade vizinha para manter a população ocupada e amendrontada enquanto agiam na cidade ao lado.
Enquanto isso, em Qybia,  as tropas de Sharon invadiram a cidade em três frentes, encontrando pouca resistência facilmente dominada devido à desproporção de homens e de arsenal.
A fim de ganhar tempo, em vez de inspecionar as residências, os soldados dinamitaram dezenas de casas sem evacuá-las e as construções acima mencionadas. Não perderam nenhum soldado. Este processo de destruição durou até de madrugada, quando Sharon decidiu que a operação fora cumprida com sucesso.
Em seu diário e no vídeo abaixo, Ariel Sharon escreveu que recebera ordens expressas de inflingir o máximo de danos à cidade: "The orders were utterly clear: Qibya was to be an example for everyone'. Documentos da época indicam que Sharon ordenou pessoalmente às suas tropas de proceder "maximal killing and damage to property". Relatórios pós-operacionais relatam que os soldados entraram nas casas jogando granadas e atirando nas famílias.
Os observadores da ONU que chegaram em seguida, viram cadáveres estendidos nos cômodos de entrada, marcas de balas nas portas de casas demolidas, e concluíram que os residentes foram forçados a permanecer dentro de casa enquanto eram exterminados. A descrição de um deles foi a seguinte: 'Bullet-riddled bodies near the doorways and multiple bullet hits on the doors of the demolished houses indicated that the inhabitants had been forced to remain inside until their homes were blown up over them.'
O Primeiro Ministro de Israel tomou a decisão do massacre junto com seu Ministro da Defesa, o imigrante ucraniano Pinhas Lavon. Nenhum dos dois se arrependeu e Ben Gurion declarou inclusive ter usado a força necessária para mostrar aos palestinos que Israel estava no Oriente Médio para ficar e que sua política de "limpeza" continuaria custasse o que custasse.
Mas este preço pareceu caro à recém criada Organização das Nações Unidas. Estas, no dia 15 de outubro, aprovou uma Resolução condenando o ataque como uma quebra do artigo III do Acordo de armistício.
O Ministro das Relações Exteriores de Israel Moshe Sharett desaprovara e foi o único que exprimiu choque pelo resultado. Escreveu em seu diário no dia 16 de outubro:  "Now the army wants to know how we [the Foreign Ministry] are going to explain the issue. In a joint meeting of army and foreign ministry officials Shmuel Bendor suggested that we say that the army had no part in the operation, but that the inhabitants of the border villages, infuriated by previous incidents and seeking revenge, operated on their own. Such a version will make us appear ridiculous: any child would say that this was a military operation". 
Apesar de seu comentário, no dia 19, Ben Gurion optou pela atitude que pontuaria a hasbara. Ousou isentar a IDF de culpa alegando que o ataque fora realizado por civis israelenses e não por soldados. Seu comunicado foi um insulto a mais à ONU:  "None deplores it more than the Government of Israel, if ... innocent blood was spilled ... The Government of Israel rejects with all vigor the absurd and fantastic allegation that 600 men of the IDF took part in the action... We have carried out a searching investigation and it is clear beyond doubt that not a single army unit was absent from its base on the night of the attack on Qibya." E a seus compatriotas, disse na radio para que a notícia atravessasse as fronteiras: "The [Jewish] border settlers in Israel, mostly refugees, people from Arab countries and survivors from the Nazi concentration camps, have, for years, been the target of (...) murderous attacks and had shown a great restraint. Rightfully, they have demanded that their government protect their lives and the Israeli government gave them weapons and trained them to protect themselves. But the armed forces from Transjordan [Palestinian refugees] did not stop their criminal acts, until [the people in] some of the border settlements lost their patience and after the murder of a mother and her two children in Yahud, they attacked, last week, the village of Kibya across the border, that was one of the main centers of the murderers' gangs. Every one of us regrets and suffers when blood is shed anywhere and nobody regrets more than the Israeli government the fact that innocent people were killed in the retaliation act in Kibya. But all the responsibility rests with the government of Transjordan that for many years tolerated and thus encouraged attacks of murder and robbery by armed powers in its country against the citizens of Israel."
(A hasbara estava em marcha com o discurso que seria usado de década em década até virar o Israeli Project. Ben Gurion ensinou a desculpabilizar o ocupante e culpar o ocupado. Na época, culpava os chamados "transjordanianos", hoje, o Hamas.)
Nem que os observadores ocidentais quisessem, teriam conseguido defender esta versão dos fatos, devido à extensão dos danos materiais e humanos que só poderiam ter sido causados por armas pesadas. Ninguém acreditou na mentira e o historiador israelense Avi Shlaim analisou o comportamento do Primeiro Ministro em um e seus livros: "This was not Ben-Gurion's first lie for what he saw as the good of his country, nor was it to be the last, but it was one of the most blatant."
(E o mais digno de nota é que David Ben Gurion estabeleceu, já no início de Israel, uma linha de discurso e de conduta para todos os primeiros ministros até nossos dias. De um a outro, todos foram visceralmente impregnados desta cultura da distorção da verdade, da expansão territorial, da paranóia securitária e da criminalização da vítima).

Ainda sob influência de Einstein e Arendt, europeus e americanos judeus condenaram o massacre e o jornal estadunidense The National Jewish Post, chegou a publicar em editorial do dia 30 de outubro:  Qibya was in effect another Lidice and no United States person who was living at the time of this detestable Nazi wiping out of an entire village will forget the world’s horror at that act.'
Até os EUA reagiram. Seu State Department exprimiu "deepest sympathy for the families of those who lost their lives"  e se disse convencido que os responsáveis "should be brought to account and that effective measures should be taken to prevent such incidents in the future." Descreveu a operação como "shocking" e confirmou a suspensão (temporária) de sua ajuda econômica a Israel, interrompida no dia 18 de setembro por não estar cumprindo os Acordos do Armistício de 1949 com os países árabes vizinhos. (Uma das infrações era de agredir e matar refugiados palestinos desarmados que tentavam retornar à sua terra natal em busca de familiares perdidos durante a Naqba. Outros eram assassinados nas zonas desmilitarizadas ao locomover-se à procura de familiares refugiados na Faixa de Gaza. E uma minoria de resistentes armados precariamente que tentavam recuperar o que lhes fora surrupiado. Outra infração era a de atravessar as fronteiras jordanianas e sírias à caça de refugiados palestinos com a desculpa de se protegerem.)
Retorno temporário de sobrevientes
As estórias de Ben Gurion chatearam os membros da ONU e no dia 27 de outubro de 1953 o Conselho de Segurança da ONU acabou adotando a Resolução 100 (suspendendo atividade na zona desmilitarizada na Palestina), e no dia 24 de novembro, a Resolução 101 (condenando Israel pela violação do Armistício), expressando "strongest possible censure of this [Israeli] action".
Uri Avnery, então com 30 anos, talvez tenha sido o único jornalista a criticar o massacre em sua recém-criada revista HaOlam HaZeh (This World/Este Mundo). O respeito ao seu ofício de informar lhe custou uma represália dolorida. Suas duas mãos foram quebradas para que aprendesse a ficar calado. Intimidação e chantagem também seriam práticas correntes no novo Estado "democrático".
Quanto à IDF, a Unit 101 foi desmontada. Contudo, apesar das demandas públicas que os responsáveis diretos do massacre fossem punidos, seu comandante, Ariel Sharon não foi nem repreendido.
O tenente-general canadense E.L.M. Burns, enviado da ONU para manutenção da trégua, criticou sem parar a atitude de Israel, que ele descrevia como "constant provocation of the Israeli forces and armed kibbutzim." Concluindo que "The retaliation does not end the matter; it goes on and on ..."
De fato.
Qybia viraria exemplo na IDF de operações a serem evitadas para não indispor a comunidade internacional.
Em 1954, um comando para-militar da resistência palestina retaliou este massacre e outros menores com uma operação sangrenta. No dia 17 de março, um grupo atacou um ônibus israelense matando onze dos 15 passageiros.
A primeira reação do governo de Israel ao que ficaria registrado como massacre de Ma'ale Akrabim foi projetar uma vingança "exemplar", maior do que Qybia. Mas foram dissuadidos durante uma reunião em julho de 1954 em que um dos idealizadores do massacre de 1953, Pinhas Lavon, argumentou: "Guys, you have to understand [that] there can be the greatest and most successful military operation, and it will turn into a political failure, meaning eventually a military failure as well. I'll give a simple example: Qibya."
Pois é, Qibya, que ficaria marcada, como Der Yassin, Nablus, Jenin, Gaza, e quantas outras mais, no inconsciente coletivo de gerações de palestinos.

Ariel Sharon reconhece seu crime em Qibya

Em 2003, Eric Ridenour publicou o seguinte artigo no Electronic  Intifada


domingo, 11 de janeiro de 2015

Israel vs Palestina : Operações Militares I (1-6 1948)


Ainda sob efeito traumático da Operação Protective Edge (cujas consequências os gazauís continuam sofrendo na pele e na precariedade - desde o começo do inverno, várias crianças já morreram de frio por estarem desabrigadas ), das operações israelenses correntes de desapropriação e "limpeza" dos palestinos na Cisjordânia, e do baque da carnificina de criminosos sociopatas no Charlie Hebdo no dia 07 de janeiro, a partir de hoje, além de intercalar a História do conflito Israel vs Palestina com a atualidade, uma vez por mês publicarei esta nova série de matérias paralelas que retraçam as inúmeras operações militares israelenses de limpeza étnica da Palestina, precedentes à chacina do ano passado na Faixa de Gaza.
Acho necessário apelar para a história para deixar claro que a selvageria não tem religião nem etnicidade. Ela pode se manifestar em qualquer pessoa, em qualquer hora, em qualquer lugar. Individualmente, como foi o caso dos assassinos dos meus colegas franceses e do dos fregueses do mercadinho de Vincennes assim como de tantos jovens estadunidenses que matam colegas friamente, vide exemplo do caso de Columbine, nos EUA.
E não é apenas o Islamismo que fabrica "jihadistas". Não é só o Al-Qaeda e o ISIS que recrutam jovens estrangeiros para fazer seu trabalho sujo. A IDF, Forças Armadas israelenses, está cheia de judeus europeus, estadunidenses, e de outras paragens ocidentais que saem de seus países e do aconchego de seus lares para ir matar Palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Mas como não é em nome de Alah e sim do projeto sionista de limpeza étnica da Palestina, não choca ninguém e não tem espaço na grande mídia. Mas a barbárie é semelhante e até pior, pois é programada por pessoas tidas como 'bem pensantes' e executada minuciosa e perversamente durante anos e décadas tanto como durante horas e instantes.
A selvageria não pode ser considerada maior ou menor conforme o algoz e a vítima. Ela não tem fórmula. Rápida ou lenta, ela não perde a intensidade. Que dure 5 minutos ou 50 anos, ela tem de ser repudiada com a mesma força pois causa o mesmo efeito traumático. Que seja cometida contra jornalistas ocidentais na cidade mais bonita do mundo ou contra um povo indefeso e injustiçado na Terra Santa, ela tem de ser combatida com ênfase igual. Os jihadistas muçulmanos e os jihadistas israelenses são igualmente condenáveis. Só assim os movimentos extremistas perderão seus argumentos ocos que atraem jovens marginais.
O problema é que os dois jihadistas franceses descendentes de argelinos, criados pela "assistência pública" de casa em casa, são crucificados, enquanto que os jihadistas judeus são celebrados até em seriados consagrados, como é o caso do The Good Wife em que a filha de uma das personagens principais, o genial Eli Goldman, está voltando de Israel após ter servido na IDF dois anos e é parabenizada. Por quem? Pelo governador do estado de Chicago. Uma autoridade pública. Como se um judeu nascido e criado nos EUA sair de lá para servir o exército de um país estrangeiro cujas forças armadas cometem crimes de guerra e contra a humanidade não fosse repugnante e sim louvável.
Há de se combater o extremismo crescente entre uma juventude islâmica marginal influenciável, mas se há também de combater o extremismo crescente entre jovens judeus burgueses que, com apoio e incentivo dos pais, pegam em armas para ser o instrumento de Israel cometendo atrocidades na ocupação ilegal da Palestina.


A maioria das operações israelenses no processo de ocupação da Palestina - que registro a partir de hoje - já foram abordadas breve ou exaustivamente em capítulos da História do conflito. Por isso optei por não narrá-las de maneira exaustiva e por deixar de lado as ações terroristas sionistas contra os ingleses durante o Mandato Britânico - já que estes dispunham de exército, como defender-se e em vez disso escolheram partir abandonando os nativos à mercê dos imigrantes que de exterminados pelos nazistas passaram a exterminadores na Palestina.
O vídeo abaixo mostra como a resistência palestina se constituiu.


A fim de facilitar a analogia entre a história e hoje em dia, eis abaixo uma apresentaçãozinha dos principais grupos para-militares israelitas, que os ingleses chamavam então de terroristas.
A amputação da Palestina começou em 1947. O desmembramento continua inexoravelmente até nossos dias. À nossa vista. 

The Promised Land?  I  (10')

Haganah - predominante grupo para-militar sionista que seria a base das forças armadas oficiais de Israel, hoje conhecida como IDF (Israeli Defensive Forces) hoje conhecida como IOF (Israeli Occupation Forces).
Era liderado pelo imigrante polonês David Ben Gurion, secundado pelo general Moshe Dayan - filho de imigrantes ucranianos; Golda Meir - imigrante ucrano-estadunidense que mal falava hebraico, e outros dirigentes com mais ou menos eminência histórica. Além destes, vários outros futuros primeiros ministros israelenses foram "terroristas" ativos nestas forças para-militares: Yitzak Rabin, Ariel Sharon, Yigal Allon; e ministros, tais como Rehavam Levi (assassinado em 2001 pelo PFLP durante a Segunda Intifada).
Como a IDF, o Haganah se considerava moral, porém, por baixo do pano não hesitava, com raras excessões, a cometer barbaridades em nome do de seu objetivo máximo: sionismo e a "limpeza" da Palestina.
O Haganah era composto de várias brigadas, quase todas parte da IDF atual: Palmach - Givati/Harel, Negev, Yiftach - Golani, Oded, batalhões armados especiais, e batalhões regulares.  A partir de junho de 1948 a IDF, forças armadas oficias e regulares, absorveu o Haganah no papel, embora a mentalidade "terrorista" para-militar permacesse durante o começo, retornasse após 1967, reassumisse postura totalmente amoral a partir da Primeira Intifada na década de 80 e agravada à potência máxima a partir da Segunda Intifada, no início deste milênio.    
Irgun - Grupo criado pelo imigrante russo extremista Avraham Tehomi era de vocação para-militar revisionista com práticas literalmente terroristas cuja política era baseada nos ensinamentos de seu criador - Ze'ev Jabotinsky - que delcarava que "every jew has the right to enter Palestine, only active retaliation will deter the Arabs; only Jewish armed force will ensure the Jewish state".
O Irgun é o predecessor político do partido de extrema-direita Herut ("Liberdade"), que virou o Likud atual, ativo nos governos israelenses desde 1977. O imigrante belga Menahem Begin foi um de seus líderes durante a Naqba.
Lehi - Grupo mais conhecido como The Stern Gang, dirigido pelo imigrante polonês Avraham Stern. Para entender esta gangue que assumia publicamente o que o Irgun e o Haganah faziam na calada, basta ler a delcaração de Stern em seu artigo "Terror" publicado no jornal do Lehi He Khazit (A Frente):  "Neither Jewish ethics nor Jewish tradition can disqualify terrorism as a means of combat. We are very far from having any moral qualms as far as our national war goes. We have before us the command of the Torah, whose morality surpasses that of any other body of laws in the world: "Ye shall blot them out to the last man." But first and foremost, terrorism is for us a part of the political battle being conducted under the present circumstances, and it has a great part to play". Estes dizeres eram contra os ingleses, entretanto, o lema prosseguiu contra os nativos palestinos árabes cristãos e muçulmanos.
Shin Bet - Serviço de Segurança Geral, conhecido pela sigla Shabak. Seu lema em hebraico é מגן ולא יראה:- defender sem ser visto. Era o serviço de contra-espionagem do Haganah e prosseguiu sua inclemente trajetória na IDF até agora.
Norman Finkelstein explica estes grupos para-militares que protagonizaram a Naqba

A Resistência

Agora passemos à cronologia anunciada acima, após a segunda parte do Promised Land?
The Promised Land? II  (12')

1948

Operation Hashmed. De fevereiro a março, "limpeza" dos municípios palestinos de Isdud (hoje Ashdod) e Yibna (cidade antiga no sul de Jaffa). Ambas parte do antigo império Filistino que teve como rei, Golias.


Operation Nachshon. Esta foi um passo largo e sanguinário dos grupos para-militares sionistas Haganah  dado com os recursos das brigadas Givati e Harel. Na linha direta do Plano Dalet.
O Plano Dalet foi de conquista por meio de fogo e balas das cidades palestinas árabes populadas majoritariamente por cristãos e muçulmanos. Ou seja, o Plano Dalet gerou a Naqba, pois focava na "expropriação" forçada das cidades palestinas. Em caso de resistência do nativo de abandonar o lar ancestral, sua cidade, sua terra, o invasor procedia à execução sumária que seus líders em Tel Aviv haviam ordenado. E em caso de rendição, alguns palestinos eram "autorizados" a ficar, contanto que se sujeitsassem ao comando militar dos imigrantes israelitas.
Esta operação ganhou o nome de uma figura religiosa judaica. Seu objetivo era através de uma série de estratagemas assumir o controle da parte de Jerusalém que a ONU traçara para a minoria de palestinos judeus, dentro e fora das fronteiras pré-determinadas.
Shimon Avidan comandava os 1.500 homens das Brigadas Givati e Harel (armadas por Stalin através da Tchekoslováquia) que acabaram controlando a estrada de Jerusalém.
Os israelitas travaram várias batalhas com os resistentes palestinos. Em uma delas, em al-Qastal, conseguiram matar o líder palestino Abd al-Qadir al-Husayni, figura carismática que entusiasmara seu povo e cuja perda o desanimou por um breve tempo. Seu sucessor foi Emil Ghuri, que não gozava do carisma de Husayni mas era pragmático; entendendo que seu arsenal era precário, mudaria as táticas de luta passando a provocar uma séria de ciladas ao invasor longo das estradas.

Massacre de Deir  Yassin: No dia 09 de abril, 120 para-militares bárbaros do Irgun e do Lehi armados até os dentes penetraram no vilarejo de 600 habitantes e foram jogando granadas nas casas e atirando nos moradores que encontravam - homens, mulheres, crianças - indiscriminadamente. Foi o começo do Plano Dalet, de "limpeza" étnica da Palestina, e traumatizou o país inteiro. Serviu de exemplo, como os ideólogos sionistas almejavam, para que nos outros vilarejos a população se deixasse expulsar sem resistir para proteger seus familiares de outro massacre. O caminho da Naqba estava aberto. Seria doloroso e interminável. Dura até esta data.

Operation Harel: do dia 15 a 21 de abril, durante os quais o Haganah "limpou" as estradas entre Tel Aviv e Jerusalém dos resistentes palestinos.

Operation Bi'ur Hametz ou Passover Cleaning: Nos dias 21 e 22 de abril o Haganah capturou todos os bairros palestinos de Haifa, que contava então 135 mil habitantes divididos proporcionalmente entre semitas judeus e árabes cristãos e muçulmanos. No dia 23, dos mais de 65 mil, só sobravam 4 mil palestinos na cidade. Os demais tinham sido forçados ao êxodo pelas forças militares israelitas que os ameaçavam e queimavam suas propriedades.
O general Moshe Dayan foi escolhido para administrar as propriedades palestinas "desapropriadas" e ordenou a "coleta" de tudo que os imigrantes judeus pudessem aproveitar para si mesmos.
Golda Meir, a ogra falsamente tida como virtuosa, concordou com a medida de pilhagem.
O procedimento lembra o de David nas cidades palestinas após covardemente assassinar Golias. A história de quase três milênios antes se repetia com a mesma determinação de desapropriar os nativos da terra que os israelitas haviam estabelecido como a eles prometida.


Operation Hametz: Na manhã do dia 25 de abril, o Irgun, sob o comando do Haganah, começou a tomada de Jaffa. A ofensiva militar incluiu três dias de tiros de morteiro ininterruptos no centro da cidade. Houve pouca resistência porque a população palestina civil estava desarmada e indefesa.
91 palestinos foram mortos, vários feridos e só não houve mais sangue derramado por causa da intervenção dos soldados ingleses. Porém, o êxodo forçado foi massisso e imediato. Ben Gurion conta em seu diário que a única pessoa que encontrou na cidade no fim da operação foi uma palestina cega que vagava.
Na mesma operação, além de Jaffa, o Irgun e o Haganah "despopularam" também os vilarejos de Sagiya, Kafr'Ana, al-Khariyya, Salama, Yazur, BaytDajan, Al-Safiriyya e Al-Abbasiyya. Enxotando mais de 50 mil palestinos em 5 dias.

Operation Yevusi: Esta operação da Brigada Harel durou duas semanas, do dia 22 de abril ao dia 03 de maio. Visava "despopular" os bairros cristãos palestinos Katamon e Augusta Victoria, que ficavam no caminho do Monte Scopus. Os para-militares sionistas não conseguiram todo o seu intento porque os soldados britânicos intervieram a tempo. Mesmo assim, causaram muito dano. O comandante Yitzhak Sadeh ordenou o requisicionamento de toda comida dos armazéns e das residências palestinas e depois as pilharam uma atrás da outra "religiosamente". O  que não queriam carregar, vandalizavam, como fazem até hoje nas casas que ocupam na Cisjordânia. Depois se apropriaram de várias propriedades das quais seus donos haviam sido enxotados ou na qual haviam sido executados.


Operation Yiftach. Foi outra ofensiva Palmach, a tropa de elite do Haganah, sob o comando de Yigal Allon, que seria mais tarde Primeiro Ministro de Israel. Desta vez a "limpeza" devia ser feita na Galileia oriental, em Safed, antes do Mandato Britânico terminar no dia 14 de maio. Esta ofensiva durou do dia 28 de abril ao dia 23 de maio. Já na manhã do dia 11 de maio os para-militares começaram a "evacuação" das famílias palestinas de seus lares, de seus comércios, de suas cidades.
No final da operação, conta o judeu imigrante da Irlanda Chaim Herzog que seria o quinto presidente de Israel, "The only civilians who remained in Safed were about 100 Muslims, average age 80 and 34-36 elderly Christians".
Até o início de junho, todos seriam "removidos". Os muçulmanos seriam deportados para o Líbano e os cristãos seriam temporariamente poupados, sendo "apenas" transitoriamente deslocados, na marra, para Haifa - não em um trem como faziam os nazistas e sim em um caminhão lotado. 4-5.000 beduinos e outros que ficaram na área de Hula seriam deportados de caminhão para a Síria durante a Guerra de Suez em 1956.

Operation Matateh - Operation Broom: Esta foi uma ofensiva do Haganah dez dias antes do fim do Mandato Britânico, com o ojetivo de "capturar" terras palestinas férteis entre os lagos Hula e Tibérias e "limpar" a área de acampamentos beduínos.
Também foi feita pela unidade Palmach sob o comando de Yigal Allon, cuja recomendação era "to clear the beduins encamped between the Jordan, Jubb Ysuf and the Sea of Galilee".
Quatro clãs beduínos viviam na região há séculos. As ordens de Allon foram respeitadas ao pé da letra: "The destruction of bases fo the enemy; to destroy points of assembly; to join the lower and upper Galilee with a relatively wide and safe strip; to expell the inhabitants and blow up their houses". Foi o que os para-militares sionistas fizeram metodicamente. Explodiram mais de 50 casas na área.
No dia 04 de maio as autoridade sírias informaram o governo britânico que mais de 2 mil refugiados palestinos haviam atravessado a fronteira. Segundo o responsável deste desastre, "Operation Broom had a tremendous psychological impact on the population of Safed and of the Hula Valley to the north". O chamado 'Efeito', neste caso, foi um trauma que os palestinos transmitiram a filho, neto, bisneto, enfim, à posteridade.
Além das duas cidades citadas, a unidade Palmach "despopulou" e destruiu Arab al-Shamalina, al-Butayha, al-Qudayriyya e al-Zanghariyya. No mesmo dia, 04 de maio.

Operation Maccabi: O Haganah lançou esta operação no dia 08 de maio contra o Exército de Libertação da Palestina. Atacaram os palestinos com duas brigadas. A Givati na Frente ocidental e Harel na Oriental, sobretudo na área de Latrun que os sionistas cobiçavam.
Do dia 09 ao 11 a Brigada Harel tomou o vilarejo Bayt Mashir. Entre 14 e 15 de maio, as brigadas sionistas tomaram Abu Shusha, Al-Na'ani e al-Quab ao norte de Latrun.
A resistência palestina era composta de civis e de ex-soldados que lutaram com o Exército Britânico na Segunda Guerra com a promessa de independência após o Armistício. A Inglaterra não cumpriu a palavra e estava se retirando da Palestina deixando os nativos desprotegidos, ao Deus dará, sem cidadania.
Ao Haganah não faltava munição nem armas. Era abastecido regularmente por Stalin (por sabe-se lá que cargas d'água. Decisão sua, privada, inexplicável para os russos na época. É bem provável que fosse para livrar-se dos judeus que o incomodavam, por vias indiretas, prejudicando os palestinos com os quais pouco se preocupava).
Diante da desproporção de meios, uma legião árabe composta de soldados da Síria, Iraque, Jordânia e Egito veio ao socorro dos palestinos encurralados. Conseguiram que a Maccabi fracassasse. Entretanto, os israelitas já estavam programando outra operação com assistência estrangeira e de muitas, muitas armas.
Esta Operação se fragmentaria em várias com o mesmo objetivo de conquistar o Forte Latrun em Jerusalém, e em seguida, a cidade.

Operation Bin Nun Alef. A brigada para-militar, sob o comando de Shlomo Shamir, um imigrante ucraniano que faria fortuna em seu novo país, consistia de 2.100 homens e munição à vontade. Foram apoiados por 300 para-militares da Brigada Harel que estava na área de ataque.
A legião de árabes era maior e terminou a batalha com 5 mortos e 6 feridos. Os israelitas contaram 72 mortos, 140 feridos e 6 prisioneiros.
Ariel Sharon, o buldozer sanguinário (que permitiria 34 anos mais tarde o massacre dos palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila em Beirute e que seus compatriotas elegeriam primeiro ministro em décadas seguintes) era então tenente comandante de um batalhão. Foi um dos feridos. Shlomo Shamir era de novo o comandante desta operação dos dias 24 e 25 de maio e teve de bater em retirada.
No fim de maio, as reservas dos imigrantes judeus estavam se esgotando e Ben Gurion estava convencido que a Legião Árabe retomaria o controle de Jerusalém. Aí o lobby sionista acionou seus aliados e no dia 29 o Conselho de Segurança da ONU declarou que tencionava impor um cessar-fogo de 4 semanas. Este veio a calhar aos israelenses porque permitiu que se reorganizassem e esperassem a chegada da cavalaria estadunidense na forma do coronel voluntário David Marcus com a patente de aluf (general). O militar gringo assumiu o comando de duas brigadas e em pouco tempo organizou tudo, transformando a estrutura para-militar precária em uma estrutura moderna de exército regular.

Operation Bin Nun Bet. Esta nova operação foi dirigida por Shlomo Shamir nos dias 30 e 31 de maio. Outra derrota, que David Marcus atribuiu à infantaria, embora analistas a considerassem mais um erro tático de dispersar as forças em objetivos variados em vez de concentrar todas as brigadas no objetivo principal que era o forte de Latrun.
Mais tarde conseguiriam um sucesso relativo, livrando-se do sítio.
Esta vitória foi concreta mas amarga por causa de uma perda grave. A dele, do aluf estadunidense David Daniel Marcus, morto por fogo amigo durante a noite de 10 para 11 de junho. O chamado Mickey Marcus ficou com a fama de primeiro general moderno do país recém-autoproclamado. Viraria vários filmes em Hollywood, onde os produtores sionistas reinam em absolutistas. Kirk Douglas representaria seu papel em Cast a Giant Shadow como se fosse um herói e não um conquistador desvairado.

Operation Pleshet: Esta operação teve o nome da área em que foi realizada do dia 29 de maio ao dia 03 de junho. Seu objetivo era capturar Isdud e obstacular o avanço do Egito em defesa dos palestinos.
Foi precedida de bombardeamento aéreo israelense das linhas egípcias. No final das contas Israel teve de bater em retirada devido à fraca ineligência que tinha de seus antagonistas. Terminaram de mãos vazias, sem o território que queriam e sofreram duras perdas militares.
Em seguida o Egito, super-estimando as forças israelenses, cometeria um erro estratético passando do ataque à defesa, o que o faria perder a vantagem que ganhara, embora ainda haja controvérsia sobre a internção do Egito de chegar ou não até Tel Aviv.

Operation Yoram: Esta realizada nos dias 8 e 9 de junho tinha o mesmo objetivo de tomar o forte. Os para-militares israelenses começaram a operação com uma barragem de artilharia no vilarejo de Latrun e em posições estratégicas em volta. A Legião Árabe aguentou firme e no dia seguinte atacou o Kibbutz Geser de onde o Haganah lançava suas ofensivas. O kibbutz foi derrotado em quatro horas. Mas os legionários acabaram se retirando para proteger outros lugares e o Haganah voltou a ocupá-lo forçando os habitantes da cidade à diáspora.
Em julho a ONU declararia  uma trégua, a primeira, para  desencargo de consciência diante dos massacres que os para-militares israelitas estavam executando na Palestina, friamente.
De perseguidos, os judeus imigrantes passavam a perseguidores; de vítimas a algozes; de exterminados a exterminadores. A Naqba estava em marcha, inexorável. À vista do mundo inteiro. E como hoje, os palestinos matavam soldados e os israelenses matavam civis aos punhados. Impunemente.

Documentário de Rawan Damen: Al Nakba  
I
In English, legendado em português (95'')