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domingo, 30 de dezembro de 2012

Israel vs Palestina XXVbis: Teatro da Liberdade de Jenin lava a alma

Jenin Freedom Theater

"Dispersed in their homeland and confined in camps, even the land, the source of livelihood and the foundation of entire culture, passed into the hands of others through sheer robbery and forced displacement, this has left deep wound in my soul. While one half of me is intact the other bears the terrible pain of that reality. In this land were sawn the seeds of racism and suffering, wars and death and pain.
An entire nation stand before us deprived of human rights, where children grow up surrounded by imagery of soldiers, stones and guns. They are scarred, they are threatened and they are venerable. Their cries of suffering are drowned by loud speakers, screaming about law, order, security and progress. I came to resist with the children with the burden of my past. With my broken heart I tried to turn away the vale of hypocrisy and crime, piled up like rubbish on the streets of Jenin and its refugee camp. The refugee camp was erected 45 years ago, and its children and grandchildren were born facing Israeli occupation to this very day.
It is in the name of all these children that I have come here, to speak to you in a language of life, in a language of hope."
Arna Mer-Khamis, ao receber o Right Livelihood Award - Prêmio da Paz sueco alternativo ao Nobel.

O artigo sobre a Operação Defensive Shield em Jenin, suscitou curiosidade sobre Zakaria Zubeidi e o Teatro da Liberdade instalado no campo de refugiados da cidade.
Portanto, o blog de hoje é dedicado a este restrito espaço de liberdade nos territórios palestinos ocupados - assim como aos Mer-Khamis Arna e Juliano Mer-Khamis, e aos meninos e meninas que participaram do início desta empreitada.

Zakaria zubeidi1Comecemos pela grande dama que teve esta ideia humanitária no intrínsico da palavra.
Arna nasceu na Palestina em 1929, em Rosh Pinna, uma cidadezinha fundada em 1882 por 30 famílias judias vindas da Romênia para a Galileia então palestina.
Seu pais e os demais imigrantes viviam em boa vizinhança com os nativos cristãos e muçulmanos.
Arna Mer começou sua campanha por paz, justiça e defesa dos direitos dos palestinos logo após a fundação unilateral do Estado de Israel em 1948. Tinha dezenove anos. Sua combatividade pelos Direitos Humanos já estavam arraigados e com o passar dos anos se fortaleceriam ainda mais.
Aderiu ao Partido Comunista de Israel porque era uma das poucas organizações locais que se preocupavam com os direitos dos palestinos.
Foi lá que conheceu um eminente membro cristão. O intelectual palestino Saliba Khamis, por quem se apaixonou e com quem se casou e teve dois filhos - Abir e Juliano.
Arna Mer Khamis foi presa várias vezes por causa de protestos e passeatas contra a política israelense de expoliação dos palestinos e em 1987, tomou uma decisão que levaria um raio de sol de liberdade a um dos campos de refugiados mais visados pelas Forças de ocupação.
Foi em plena Intifada. A primeira. Foram as consequências dramáticas da repressão israelense junto às crianças palestinas - de quem se sentia próxima por aliança, pelos filhos bi-nacionais e por princípios humanistas - que a levaram a estender a mão às vítimas criando a organização Care and Learning (Cuidado e Aprendizado) para atender às necessidades iminentes dos meninos e meninas afetados pela violência.

"Their wounds are deep although they are not bleeding, their souls and spirits are wounded, their development handicapped. They are children beaten and shocked, who have witnessed their parents and siblings being humiliated by soldiers.
They are children who have experienced long interrogation in prison.
Children who have been prevented from studying, when their schools, kindergartens were closed down.
These children who know the Jew, the Israeli, only as a soldier shooting to kill and who beats and humiliates."

Arna era a prova encarnada que uma religião não é atestado de bondade nem de maudade. Que é o indivíduo que a pratica que é bom ou mau, que pratica atos louváveis ou execráveis. E sobretudo, que nem todo judeu é sionista e se acha superior aos demais.
Ela era boa, fazia o bem e servia o próximo como os cristãos são ensinados e poucos fazem.
Sua primeira iniciativa foi prestar asistência jurídica e humanitária às centenas de menores detidos em presídios israelenses super-lotados, em condições sanitárias mais do que precárias.
Arna mobilizou advogados em Tel Aviv para intercederem a favor da meninada, e com voluntários também israelenses, os visitava regularmente nas celas insalubres. Depois passava recados e notícias para os pais que velavam dia e noite nos portões cuja entrada lhes era vedada - a visita dos detidos palestinos é proibida inclusive aos familiares.
Arna fazia o que podia para amenizar o sofrimento dentro e fora dos cárceres.
Como Israel interditou todas as escolas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza de 1988 a 1990, Arna tentou suprir a carência de ensino formal criando um sistema alternativo informal nas residências, com ajuda de voluntárias.

"Our task was never easy, it was not paid with roses, but mind with bullets and soldiers, anxious mothers and frightened children, whose wounds have yet not healed.
These children have friends, they have friends in Holland, in Switzerland, in France, in Belgium, in Germany and now in Sweden.
We also have friends and supporters and together with the help of financial support we were able to set up a network community of 'child homes'. The first child home was established in 1991, named after the name of the martyr, Abu-Jihad, it provided first library, first game, first quire, first theatre and a human right center for juvenile detainees and the children of the detainees."

Fixou Jenin como "base" de sua ONG Care and Learning, porém, enviou voluntárias com papel e lápis de cor a outros campos de refugiados. Sua intenção era dar aos meninos a oportunidade de extravasarem seus sentimentos estimulando um ensino terapêutico, criativo e interativo.
Por ser fluente em árabe, aproximou-se com facilidade das mulheres palestinas que aderiram a seu projeto formando uma corrente de ensino que, embora restrita e alvo de coações contínuas, representou um alívio durante a Primeira Intifada.
Quando as escolas reabriram, uma pesquisa revelou que muitas crianças de 8 a 10 anos ainda não tinham sido alfabetizadas e que 47 por cento delas tinham sido vítimas de agressões físicas dos soldados da IDF - surras e tiros - e gaseados.

"These children today are crowded into classrooms of 50 - 60 pupils; as a result many drop out, resigning themselves to ignorance and illiteracy.
These children who for days and weeks of curfew have been kept, locked up with their fears in their homes.
Our task has been to reach them in order to elevate their misery, if only by a little, and so we did.
Openly as well as clandestinely, armed with books and games and we needed also milk and bread in order to be with them during these moments."

Aí Arna resolveu abrir a Children's House em Jenin e nos campos de refugiados vizinhos.
Eram centros culturais e educacionais com vocação de oásis de aprendizado, criatividade e tranquilidade em meio à confusão de influências nocivas das invasões civis, da ocupação militar,  enfim, do caos físico e emocional em que os meninos se encontravam.

"Since 1988 a new landscape has started to find its way into the familial life.
In the a alleys of the refugee camp, in the streets of Jenin and the surrounding villages large rolls of papers were unrolled, paints and brushes distributed, and hundreds of children together could be seen laughing and shouting.
Painting together their thoughts, their dreams, their anger and their hope. In all the colors of the rainbow, they were six years old, eight years, twelve years.
Children for whom these hours were the only time they could feel hopeful in the midst of violent occupation and repression."

Em 1993 as Children's Houses tinham 1.500 meninos matriculados em suas atividades.
Arna contava com a ajuda de 15 profissionais e 25 voluntários, mas os meninos sabiam muito bem a quem eles deviam aquele oásis de paz e espaço seguro para desabafo: "Ela é nossa segunda mãe. Ela nos ajuda. Ela nos salvou da rua em que as balas nos tiram a vida ou nos deixam deficientes físicos."
"Ela", era Arna.

"In return (of our dedication), we have received the greatest prize of all, their smiles, their confidence, their friendship. All of which have served to bread a new human relation between Jews and Arabs - the only basis for a real peace."

O ponto alto do projeto das Children's Houses era  um teatro em Jenin no qual contava com a ajuda do filho Juliano, cuja carreira de ator em Tel Aviv já estava em marcha, mas que ajudava a mãe nas horas vagas.

"I have not come here because of philanthropic reasons. I have not come here in order to show that there are nice Jews that help the Arabs. I came to struggle against the Israeli occupation".

Uma viúva local, Samira Zubeidi, doou o segundo andar de sua casa para Arna montar seu centro cultural-educativo.
Juliano era quem selecionava os "atores" potenciais, então de 9 a 10 anos de idade.
Mas o projeto era da mãe. De Arna. Juliano contribuía nas montagens das dramatizações terapêuticas em que os meninos dramatizavam os demônios com os quais conviviam no dia a dia da ocupação para exorcizá-los.
Juliano apegou-se aos pirralhos e os filmava em atividade nos palcos improvisados.
O palco de liberdade durou poucos anos.
Arna Mer-Khamis faleceu em fevereiro de 1995 após longa luta contra o câncer.
Juliano retornou a Tel Aviv onde faria carreira em peças e filmes engajados.
Além dos dois filhos biológicos, Arna deixou para trás centenas de "órfãos" que perderam com ela o porto seguro onde e livravavam de suas penas diárias e onde sua inteligência desabrochava.

"The child under military occupation is affected psychologically, emotionally and academically.
So if one wants to support and strengthen these children, one has to consider them from all these aspects.
The socialisation of the child is the most basic thing in its life; if you see children only as individuals, in fact you can be indirectly deepening their problems...
Our principle is to serve the child: to turn the pyramid [of education and authority] upside down." Este era o lema de Arna.

Zakaria zubeidi17
Encenação "terapêutica" dos confrontos dos meninos com os soldados das Forças de ocupação israelense
Em Jenin, Arna viu cinco meninos se destacarem no palco e no contato com os voluntários, ao ponto de merecerem atenção dobrada.
Primavam pela sensibilidade, acuidade intelectual, liderança e presença cênica: Ashraf, Ala'a, Nidal, Yusuf e Zakaria.

Zakaria zubeidi5Yusuf era o mais "velho" e o mais compenetrado do grupo.
Ele dizia gostar de atuar porque no palco podia dizer o que sentia, o que queria e o que não queria. Enfim, exprimir seus sentimentos em relação à vida.
Um de seus companheiros da trupe diria mais tarde que dos cinco, ele era o  mais romântico e sentimental.
Esta sensibilidade exacerbada causaria seu desaparecimento precoce, embora fosse extremamente pausado.
Zakaria zubeidi6Terminou o segundo grau sem maiores problemas com o status quo em que seu país se encontrava. Não é que fosse indiferente à ocupação, é que queria contribuir para o seu país sem ter de derramar sangue.
Foi por isto que ao terminar o segundo grau entrou na polícia palestina, recém-criada nas determinações dos Acordos de Oslo, para proteger seus concidadãos seguindo as regras dos recentes Acordos. Sua acuidade mental logo lhe valeu um cargo de detetive no departamento de homicídios.
Sua vida seguiu um curso normal até o dia 18 de outubro de 2001.
Nesse dia, Israel bombardeou a Escola Primária Ibrahimiya, perto da delegacia em que Yussuf trabalhava e ele foi correndo prestar socorro às dezenas de crianças atingidas.
Zakaria zubeidi7Já na entrada encontrou uma menina de 12 anos, Hiham Ward, com hemorragia causada pelos ferimentos de estilhaços. Carregou-a para o hospital nos braços, mas ela morreu no caminho.
Desde então, ele não parou de falar na menina com familiares, amigos, e seu comportamento mudou da água para o vinho.
Era como se a morte de Riham o tivesse despertado para a situação em que seu país e seu povo realmente se encontravam.
O romanticismo cedeu lugar à realidade em que um exército estrangeiro despedaçava crianças indefesas, na sala de aula, na maior impunidade.
A maneira que encontrou para sair da mentira em que vivera até então foi a das armas. À cata de um revólver, anunciou por todos os lados que permitiria ao grupo de resistência que o armasse que colhesse os louros por seus atos. A oferta chegou aos ouvidos de um membro local do Jihad Islâmico que o recebeu de braços abertos, junto com seu vizinho Nidal Jibali.
Yussuf gravou uma mensagem de despedida (foto ao lado - com o cartaz da menina que não conseguira salvar, atrás), ele e Jibali conseguiram todas as armas que queriam, e no dia 28 do mesmo mês de outubro, atravessaram a Linha Verde em um carro roubado, entraram na cidade de Hadera e mataram quatro mulheres em um ponto de ônibus.
A polícia israelense abateu-os no ato.
O vizinho de Yussuf tinha 23 anos. Ele tinha 22.
Yussuf foi o primeiro "filho" de Arna a tombar.

Zakaria zubeidi4O melhor amigo de Yussuf na trupe e fora dela era Ashraf (à direita de Yussuf, na foto ao lado).
Ashraf era um dos menores do grupo de teatro, mas logo realçou em todas as cenas devido ao talento inato para interpretar qualquer personagem.
Além da "memória sensorial" (tão enaltecida pelo "papa" da arte dramática, o russo Stanislavski) inerente a todos os participantes - que apesar da pouca idade já haviam passado por todos os traumas que a maioria dos adultos nunca nem ouviu falar - ele gozava do raro talento natural de entrar na pele de outrem com facilidade.
Zakaria zubeidi3Ashraf era sorridente, sociável, entusiasmado, gostava de desenhar e queria ser um grande ator. Porque no palco sentia a liberdade de expressar-se que a ocupação negava. "No palco me sinto como se jogasse um coquetel molotov e pedras na ocupação inteira!"
Mas além de dramatizar seu dia a dia insuportável, queria representar papeis memoráveis. Sonhava com palcos, com câmeras, em ser o "Romeu" da Cisjordânia, o Ingmar Bergman árabe.
Enquanto Ashraf sonhava, seu pai foi demitido por presença irregular no trabalho. As faltas eram causadas pelos checkpoints que obstaculavam a passagem, tornando impossível aos trabalhadores garantirem assiduidade no emprego. As horas de espera aleatória nas barragens eram longas e intermináveis.
Então em vez de virar ator ou continuar na escola com Yussuf, Ashraf teve de deixar teatro e escola para sustentar a família.
Trabalhou como encanador e abriu uma lojinha no mercado. Apesar da vida dura, ainda exercia um de seus talentos, que era o desenho, mas não tinha mais tempo de ensaiar com os amiguinhos.
Quando o irmão mais velho foi detido pela IDF e condenado a oito anos de prisão, a família também foi castigada por um caterpillar D9. A escavadora armada chegou, demoliu sua casa, e pais e filhos ficaram desabrigados. Da noite para o dia, literalmente, ficaram ao Deus dará. Como sempre, sem nem tempo de tirar da residência pertences básicos, de primeira necessidade, para reconstruir a vida.
Ashraf tinha 13 anos.
Ao lado da inconsolável irmãzinha, que o choque do ataque emudeceu a partir desse dia, o menino engoliu as lágrimas para declarar transtornado, "Eu não estou pronto para viver de joelhos. Prefiro morrer de pé."
Nesse dia em que viu a irmã muda, a casa transformada em entulho, a família Abu el-Haje desprovida de teto e do labor de toda a vida, sentiu a humilhação de ser enxotado do próprio lar da maneira arbitrária da punição coletiva e sua vida tomou outro rumo.
Ashraf serrou os dentes e falou da certeza recém-adquirida de estar pronto para virar um shahid, mártir, um bomba-suicida.
Não viraria, escolheria outra via.
O caterpillar armado e as terríveis consequências familiares da demolição causada pelo veículo o privaram de adolescência e nas ruínas que os soldados israelenses deixaram para trás, virou adulto no corpo de menino.
O sorriso desapareceu, seus traços endureceram, mas mesmo assim, ainda continuou no caminho pacífico. Pois o retorno de Yasser Arafat e os Acordos de Oslo o encheram de entusiasmo e fé no líder palestino que representava o caminho para a liberdade.
Por isto, quando alcançou a idade mínima, alistou-se na polícia recém-autorizada pelos Acordos. Mas como Yussuf, desiludiu-se logo ao "encontrar-se garantindo a segurança da interminável ocupação israelense," em vez de contribuir para a emancipação de seus compatriotas e proteger os direitos mínimos de seu povo enjaulado.
A gota d'água foi o governo de Israel confiscar as terras de seu avô para construir uma invasão judia. Como sempre, a desapropriação foi feita de maneira arbitrária. Sem compensação financeira e com a destruição das lavouras e moradias dos legítimos proprietários que dela viviam.
"Israel expropria a terra do meu avô para expandir uma colônia e eu, como policial palestino, tenho de proteger os colonos que usurparam a terra dos meus antepassados... Tem barreiras em cada metro (referindo-se ao corte de Áreas na Cisjordânia estabelecidas nos Acordos): Trabalho na Área C, atravesso a Área B clandestinamente, e durmo na Área A como uma vaca que volta para o curral após o pasto".
E por mais que os sionistas o tratassem de, e como animal, Ashraf era um homem, e perspicaz. Entendeu junto com o líder palestino que Tel Aviv usava os Acordos de Oslo para fincar a ocupação em vez de desmantelá-la, embora os tratados obrigassem Israel a retirar-se.
Mas Ashraf era fiel a Arafat e aguentou firme, apesar das injustiças que sofrera na carne.
Nem a transformação repentina de Yussuf em shahid o levou então a pegar em armas.
O copo da paciência transbordaria três meses mais tarde. Em 2002.
Quando Yasser Arafat ficou enjaulado na Mukata'a em Ramallah e a ONU mostrou-se incapaz de impôr as leis internacionais para proteger seu líder e seu povo do sítio violento e humilhante ao qual assistia sem poder fazer nada, Ashraf parou para pensar.
Podia fazer algo sim, pensou.
Achou que era hora de aderir à resistência armada para defender o pouco que ainda lhes restava.
Quando os tanques e os caterpillars armados invadiram Jenin na Operação Defensive Shield de Ariel Sharon, botando tudo abaixo junto com os mísseis lançados pelos Apaches, Ashraf já fazia parte das Brigadas dos Mártires al-Aqsa.
Lutou sob o comando de Ala'a, outro "filho" de Arna. Ao lado de outro ainda mais jovem, Nidal, irmão caçula de seu melhor amigo Yussuf. Nidal, seguindo os passos do irmão, aderira ao Jihad.
Os dois rapazes tinham Jenin inteira para defender do arsenal sofisticado da IDF. Entretanto, quiseram proteger um prédio que já conheciam bem e lhes era tão caro quanto suas próprias casas.
Escolheram como posto de defesa-tocaia um lugar que conheciam desde pequenos e que abrigava as melhores lembranças que a vida lhes proporcionara. O Teatro. Que para eles era o símbolo da liberdade que jamais deixariam nas mãos dos ocupantes. O pedaço de terra a que jamais renunciariam; a que jamais renunciaram.
Os soldados da IDF avançavam e eles distribuíam explosivos artesanais pelos cantos, afobados - estavam decididos a dar a vida por este resquício concreto de liberdade enquanto os amigos Ala'a e Zakaria defendiam outras partes da cidade.
Resistiram no local durante 10 dias.
No décimo, o da batalha mais acirrada entre as Forças de ocupação e os grupos resistentes, Nidal e Ashraf continuaram a luta determinada, sitiados no campo de refugiados.
Devem ter sentido que estavam perdidos, mas Ashraf não arredou o pé do local que para ele representava a liberdade que almejava e os sonhos de uma vida normal, de ator profissional, que talvez ainda esperasse realizar.
Fez um buraco na parede e através deste atirava, atirava, atirava... Em uma perseverança incansável espantava tanques e soldados... Até um Apache pôr fim à sua luta perdida de antemão pela disparidade de recursos militares. Foi pulverizado em um piscar de olhos por um simples míssil atirado do alto.
Fazia 10 anos que Ashraf deixara Arna. Tinha 22 anos e a vida toda para trás.
Nidal foi morto na mesma batalha.
O Teatro de Arna foi semi-"aplanado" pelos caterpillars armados, assim como o coração do campo de refugiados.
Com Ashraf e Nidal, já eram três dos "filhos" preferidos de Arna a tombarem pela causa que ela defendera com os meios pacíficos dos quais dispunha, contudo, guerreira como os meninos que acolhera e para quem abrira fugazes janelas para a vida.

Zakaria zubeidi10Agora é a vez de Ala'a.
Ele tinha 12 anos quando sua casa foi demolida pelos caterpillars armados.
Era o ano de 1992 e este desastre definiria seus futuros passos na vida.
O ato banal de punição coletiva que os israelenses praticavam sempre, o atingiu na alma.
Nesse dia, ficou horas sentado quietinho (foto ao lado)  nos escombros do que fora sua casa. O corpo estava imóvel, entretanto, sua cabecinha estava a cem por hora e seu coração esmigalhado.
Seu irmão mais velho fora detido poucos dias antes e encontrava-se nas masmorras israelenses incomunicável, mas a IDF não achava que a família já sofrera o suficiente. Precisava também tirar-lhe a residência e todos os bens que esta abrigava, inclusive a esperança e a felicidade.
Ala'a ficou taciturno por repetitiva reação pós-traumática. Era um menino quieto. Introvertido. Parecia que tinha uma ferida aberta em lugar indeterminado; no âmago, quem sabe.
Entrou na família de Arna por insistência de Yussuf.
No início, sua participação se resumia ao desenho. Só desenhava escavadoras - estes caterpillars armados que atormentam toda criança palestina - tanques, soldados e aviões de combate. Enfim, os demônios que povoavam sua infância até essa data.
Demorou a juntar-se aos amiguinhos no teatro, e quando juntou-se a eles, não foi como ator, mas sim para ajudar nas montagens e participar de algum jeito da empreitada.
Na morte de Arna em 1995, sem a válvula de escape dos desenhos e do teatro, Ala'a deixou também a escola. Entrou no "negócio" de comércio de contrabando de carro entre Israel e a Cisjordânia até  o início da Segunda Intifada.
Zakaria zubeidi11Foi um dos primeiros membros das recém-criadas Brigadas al-Aqsa, apesar da desaprovação familiar.
Acontece que o tempo passara, mas o coração de Ala'a tinha parado de bater ao rítmo regular quando seu irmão foi detido e sua casa foi posta abaixo.
Nunca esquecera. Nunca se conformara. Jamais perdoaria os responsáveis pelos dramas que sua família vivera e vivia, calada.
No primeiro ano da Intifada Ala'a atirou em um soldado israelense em um checkpoint e entrou na clandestinidade. Seu nome foi então escrito em vermelho na lista de "procurados" da IDF, do Shin Bet e do Mossad. Apesar da "ficha", levou uma vida mais ou menos normal, constituindo família.
Sua ascenção nas Brigadas foi rápida. Assumiu a chefia de um grupo e foi então que recrutou Ashraf quando o amigo manifestou desejo de aderir à resistência amada.
Foi Ala'a que comandou a defesa de Jenin durante a cadeia de destruição orquestrada pela Operação Defensive Shield em abril de 2002.
Ala'a sobreviveu à batalha fatídica do décimo dia em que seus amigos Ashraf e Nidal foram mortos. A IDF achava que matara também Ala'a, mas o líder que estava na lista de procurados, fora na verdade capturado com um nome falso. E solto 55 dias mais tarde...
Seu pai diz que estes foram os únicos 55 dias em que dormiu sossegado. Não é que achasse que o filho ficaria ileso nas mãos dos torturadores israelenses, é que o preferia vivo, machucado na prisão, do que correndo risco de ser executado de uma hora pra outra por um míssil ou um sniper.
Mas Ala'a foi solto e retornou a Jenin como novo comandante local das Brigadas. Substituiu o que fora morto durante a investida israelense na cidade.
Viveu na clandestinidade em meio aos destroços que a IDF deixou em sua retirada e sobreviveu a uma tentativa de assassinato - os israelenses acabaram descobrindo que ele estava são e salvo e aniquilá-lo passou a ser uma das prioridades do ShinBet.
Zakaria zubeidi12Sua mulher, que ele conseguia encontrar esporadicamente, engravidou, uma luz brilhou em sua trajetória e sua determinação de deixar ao filho uma Palestina melhor foi multiplicada.
Pois foi um menino que o casal recebeu na segunda semana de novembro de 2002. Ele encontrou sua família duas vezes, na clandestinidade.
Uma semana após o nascimento do neto aconteceu o que o pai de Ala'a temia noite e dia.
Ala'a foi assassinado por um míssil israelense. Em uma casa em que estava reunido com Immad Nasharti, líder local do Jihad. Os dois foram mortos instantaneamente. O funeral duplo foi seguido por centenas de pessoas.
Sete anos após a morte de Arna, seu quarto "filho" preferido tombava.
O quinto e último era Zakaria. O melhor amigo de Ala'a.

Antes de passar a Zakaria, quero dizer que a Casa de Arna em Jenin contava com muito mais meninos. Escolhi estes cinco porque formavam uma turminha de amigos do peito dentro da turma larga.
Um dos meninos desta turma expandida, Mahmud, timidíssimo durante a infância no teatro, foi preso, e ao recuperar a liberdade relativa de viver em um país ocupado por forças civis e militares inimigas, retornou à sua oficina de lapidário.
Mahmud, o menino acanhado que buscou refúgio no teatro, sobreviveu.
Mas a sobrevivêcia custou-lhe caro.
Foi ele que fez a laje tumular de Ala'a, Ashraf, Nidal, Yussuf... de todos os ex-companheiros da Casa de Arna.
Há alguns anos, Mahmud descreveu para um colega do Washington Post o que significava, aos 25 anos, olhar para o lado e dar-se conta que todos os seus companheiros de infância estão mortos e enterrados.
"While you are making the headstone, you are crying. You never thought you'd design the tomb for a friend, or a brother.
The theatre was a base for us to become distinguished people.
They were all distinguished in the theatre. They were distinguished here. Their tombs should be distinguished. That is my job.
Sometimes you sit by yourself and think it over.
You think you're living in a dream. It's next to impossible to believe what happened. We were so happy. We fell in love with acting. We thought we'd continue and become something. The sky was the limit...
It was an illusion. We were struck by reality.")

O único companheiro de infância que ainda não precisou de lápide e por quem Mahmud preocupou-se muito mas não derrubou lágrima é Zakaria.
Na foto, ao lado do buraco que o amigo Ashraf fez na parede para defender o que era para aqueles meninos o símbolo comum de liberdade. A casa que era de sua família que virara também a Casa de Arna.
Zakaria é filho de Samira Zubeidi, a mulher que cedeu a Arna Mer-Khamis um andar de casa para que com o filho Juliano instalassem uma tábua de salvação às crianças do campo de refugiados.
Quando o teatro foi criado no andar de cima da residência da família Zubeidi, Zakaria tinha 12 anos e há pouco perdera o pai.
Os primeiros israelenses que Zakaria viu na vida foram os soldados que foram à sua casa prender seu pai - operário, militante pacifista e professor de inglês nas horas vagas - por ser membro do Fatah.
Na morte do pai, a mãe, Samira, criou sozinha os nove filhos em meio aos destroços de casas que os caterpillars armados derrubavam.
Zakaria foi um dos primeiros "filhos" de Arna, junto com o irmão Daud e os quatro amiguinhos que vimos acima, que formavam o grupo permanente da companhia teatral.
Ele desabrochou no teatro. Correspondia perfeitamente ao objetivo de Arna de criar um local em que os meninos pudessem exprimir-se livremente e exorcizar os pesadelos noturnos e diurnos que os sufocavam.
Zakaria conciliava o teatro com a escola que a UNRWA (organismo da ONU que cuida de refugiados) abrira em Jenin.
Aos 13 anos, no jogo de pedras contra soldados israelenses que o ameaçavam e lhe barravam a passagem para a escola, foi baleado na perna. Teve de ser operado quatro vezes e no fim da hospitalização (tardia) de seis meses, voltou para casa com deficiência física. A perna ferida ficou mais curta. Ficou manco para toda vida. Ele virou o exemplo vivo do que os soldados israelenses procuram quando atiram os meninos: matar com tiro na cabeça ou estropiar com tiro no joelho e impedir assistência.
Aos 15 anos voltou a ser preso. Ao ser solto, a dureza da detenção e o atraso na escola (era o primeiro da classe antes do parêntese penitenciário) o levaram a abandonar os estudos no segundo grau.
Voltou a ser preso por responder com coquetel molotov à investida de tanques e caterpillars armados. Foi então que aprendeu hebraico e aderiu ao Fatah.
Foi libertado em 1993 na leva dos Acordos de Oslo. Tinha 17 anos e como seus amigos, entrou nas Forças de Segurança da Autoridade Palestina durante um ano.
Largou por insatisfação com o sistema de favoritismo e passou a viver de bicos mais ou menos legais até a Intifada al-Aqsa. Ou seja, a Segunda Intifada.
Zakaria conta que só aderiu à resistência armada, no fim de 2001, após a morte de Yussuf. Foi então que aprendeu a fabricar bombas.
Mas o ano exato em que sua vida virou para o tudo ou nada foi 2002, no dia 03 de março.
Nesse dia, em uma das incursões intimidativas da IDF em Jenin, um atirador israelense, escondido ao longe, mirou sua mãe pela janela, dentro de casa, e atirou ao alvo.
Dona Samira sangrou até a morte sem que nenhum vizinho pudesse socorrê-la. 
Alguns dias depois, na mesma leva, Taha, irmão de Zakaria, foi assassinado pelos israelenses junto com outros jovens palestinos.
Quando a IDF atacou Jenin no mês seguinte, Zakaria já estava nas Brigadas al-Aqsa. Amargurado com o assassinato de dona Samira, de Taha e com o fato dos israelenses a quem sua mãe oferecera tantas vezes hospitalidade o terem abandonado. 
"You took our house and our mother and you killed our brother. We gave you everything and what did we get in return? A bullet in my mother’s chest. We opened our home and you demolished it. Every week, 20-30 Israelis would come to do theatre there. We fed them. And afterward, not one of them picked up the phone. That is when we saw the real face of the left in Israel."
Um deles apareceria, um pouco tarde. Juliano Mer Khamis, filho biológico de Arna, que desaparecera de Jenin desde o falecimento da mãe em 1995.
Como Ala'a, Zakaria conseguiu escapar ileso da batalha de Jenin em que o amigo Ashraf perdera a vida protegendo sua casa-teatro.
Substituiu o amigo Ala'a na liderança das Brigadas al-Aqsa após enterrá-lo.
Zakaria zubeidi16Zakaria é o mais célebre dos cinco. Talvez por ter sobrevivido, e por causa de seu percurso inusitado.
Sua calma tensa era/é lendária.
Um líder nato que não precisava gritar para ser respeitado.
Desconfiava até da sombra, pois viveu anos na clandestinidade-precária com a esposa, a filha e o filho Hamudi.
Em 2003 dizia "Sou uma pessoa diferente. Tenho armas, guardas, durmo com o dedo no gatilho e com um olho fechado outro aberto a noite toda. Eu gostaria de ter uma vida regular, mas tenho de lutar pela liberdade, pois sem um Estado, meus filhos não têm nenhum futuro."
Encabeçou a lista de homens mais procurados por Israel durante anos. Até hoje, sobreviveu a cinco atentados israelenses de assassinato.
Foi baleado três vezes por soldados da IDF, que acabou matando cinco pessoas no lugar dele em uma barragem.
Em 2004, após o quinto atentado no dia 13 de junho de 2004, declarou que talvez Israel um dia conseguisse matá-lo: "I'm dead. I know that I'm dead....[but] I've gotten out of a lot of things, and I think that maybe we'll succeed in the end. Another Zakaria will come. I'm not the first and not the last.
There was Ziad - and they succeeded. And Zuheir came - and they succeeded with Zuheir. And Ala'a came - and they succeeded with Ala'a. And Zakaria came.
Maybe they'll succeed with Zakaria.
Then came Hamudi. My son....
And they'll succeed with Hamudi.
Then will came Zakaria, the son of Hamudi ... if they want to continue with this cycle.
But if they continue with the cycle of peace, maybe Zakaria will die and Hamudi will live in peace."
Zakaria abandonaria a resistência armada em 2005, com o cessar-fogo do Fatah e a criação do BDS Movement, de resistência pacífica através do boicote internacional comercial, esportivo e cultural de Israel. Como aconteceu com a África do Sul do apartheid.
Disse então ao enfermeiro sueco Jonatan Stanczak que gostaria de entrar em contato com ONGs pacifistas israelenses, Jonatan contatou Juliano Mer-Khamis, Juliano foi a Jenin... e seis meses depois reabriu o Teatro da Liberdade na cidade.
Em fevereiro de 2006. Onze anos após a morte de Arna. Perda que levou ao fechamento das portas do teatro e os "filhos" à orfandade.
Juliano estivera em Jenin em 2002.
Durante a Intifada.
Fora à procura dos pirralhos que deixara em 1995 cheios de esperança e traumas.
Fizera o documentário Arna's Children (na íntregra, abaixo), vencedor do  Festival de Praga em 2004, do Festival do Canadá e do de Tribeca em NY.
Na volta definitiva de Juliano, quatro dos meninos estavam mortos e a cabeça de Zakaria ainda estava a prêmio. Portanto, o "ator" convertido em resistente continuava condenado à clandestinidade.
Em 2006 Zakaria escapou por pouco à tentativa de "captura" da IDF em um funeral. Safou-se em uma troca de tiros que ficaria nos anais do campo de refugiados, e da IDF, humilhada.
Respondendo às pressões múltiplas das ONGs de Direitos Humanos locais, no dia 15 de julho de 2007 o porta-voz do Primeiro Ministro de Israel anunciou que o nome de Zakaria seria incluído na lista de anistia oferecida a vários militantes do Fatah - todos abandonaram as armas em 2005.
Zakaria então saiu da clandestinidade, mas com um pé atrás. Em 2008 foi contratado por Juliano para dirigir o Teatro da Liberdade de Jenin e o sorriso largo voltou ao seu rosto marcado pelos estilhaços da bomba que explodiu enquanto a fabricava.
Em entrevista da época, disse que a Autoridade Palestina lhe dissera que beneficiara de uma anistia geral de Israel, mas ele sabia que não era verdade.
Abandonara as armas assim mesmo por causa do conflito interno entre o Fatah e o Hamas: "Meu objetivo era, através da resistência armada, transmitir ao mundo uma mensagem. Na época de Abu Amar (como Yasser Arafat é chamado pelos próximos) nós tínhamos um plano, havia uma estratégia, e podíamos seguir ordens... agora não há ninguém capaz de usar nossas ações a fim de alcançar... resultado."
Apesar de suas atividades pacíficas e úteis ao Freedom Theatre com esta nova geração de meninos traumatizados, Zakaria continuou a viver em sobressalto.
Vários parlamentares sionistas de extrema-direita fizeram uma petição à Corte Militar israelense solicitando sua prisão, esbravejando que "suas mãos têm sangue israelense".
No dia 29 de dezembro de 2011, esses extremistas conseguiram que Israel rescindisse a anistia de Zakaria sem explicar o motivo e sem que ele violasse nenhuma das condições que lhe foram exigidas.
"Para sua proteção", a Autoridade Palestina o aconselhou a entregar-se à custódia de uma prisão na Cisjordânia, uma semana antes do irmão também ser detido pela AP por razões ambíguas.
Zakaria não se entregou porque não cometera nenhum delito que justificasse sua detenção.
Então a AP resolveu detê-lo assim mesmo.
Foi encarcerado do dia 13 de maio, fez greve de fome contra sua prisão discricionária - nenhuma acusação foi apresentada, nos moldes exatos do que fazem os israelenses em suas detenções arbitrárias.
Uma campanha geral de ONGs de Direitos Humanos levaram Mahmud Abbas a ordenar sua libertação  ... Ele foi libertado em outubro após grande mobilização e petições internacionais.
Acabaria sendo libertado em setembro.
Apesar dos pesares que vem tendo desde a infância, Zakaria é o único filho preferido de Arna que continua vivo.
O único para quem seu companheiro de teatro Muhamad não teve de fazer lápide.

 Thank you from Zakaria



E Juliano em tudo isso?
Juliano atuou ativamente no Teatro da Liberdade durante cinco anos. Com o mesmo espírito combativo da mãe, Arna Mer-Khamis.
Em vez de contá-lo, cedo-lhe a palavra. 
We aim to create a theater of the highest professional level, that will become the leading force in revival of Palestinian culture – not just a local theatre to benefit camp dwellers, but rather a theater that stretches boundaries beyond the very borders. We believe that we can create a joint force that will strengthen the links between advanced technology, women’s rights, and education in promoting nonviolent struggle for culture, justice, and liberty. As a troupe we will advance the theoretical and practical artistic vision of our pathfinders, philosopher Edward Said and creator Mahmud Darwish, to try and create a community that will attempt to free itself from the bonds of the Israeli occupier, simultaneously with the internal bonds of Palestinian Society.”
  
"The pro-Zionist attitude that thinks the problem of violence is the violence of children and not the violence of the Israeli occupation is the exact way to turn the pyramid upside down again, and I mean to use the propaganda to turn the question [upside down]. The question is not about the Israeli soldiers’ violence.
You don’t have to heal the children in Jenin. We didn’t try to heal their violence. We tried to challenge it into more productive ways. And more productive ways are not an alternative to resistance.
What we were doing in the theatre is not trying to be a replacement or an alternative to the resistance of the Palestinians in the struggle for liberation. Just the opposite. This must be clear.
I know it’s not good for fundraising, because I’m not a social worker, I’m not a good Jew going to help the Arabs, and I’m not a philanthropic Palestinian who comes to feed the poor.
We are joining, by all means, the struggle for liberation of the Palestinian people, which is our liberation struggle.
Everybody who is connected to this project says that he feels that he is also occupied by the Zionist movement, by the military regime of Israel, and by its policy. Either he lives in Jenin, or in Haifa, or in Tel Aviv.
Nobody joined this project to heal. We’re not healers. We’re not good Christians. We are freedom fighters.
Just to clarify the theatre [question], joining the Palestinian intifada, by our definition: we believe that the strongest struggle today should be cultural, moral. This must be clear.
We are not teaching the boys and the girls how to use arms or how to create explosives, but we expose them to discourse of liberation, of liberty.
We expose them to art, culture, music — which I believe can create better people for the future, and I hope that some of them, some of our friends in Jenin, will lead … and continue the resistance against the occupation through this project, through this theatre.
Art, in our case, can combine and generate and mobilize other aspects of resistance. All I care about is resistance.
I’m not doing art for the sake of art.
I don’t believe in art for the sake of art.
I think art can generate and motivate and combine and create a universal, liberated discourse.
This is my concern about art.
On the other side there is the therapeutic level, and the therapeutic level is not to heal. This is very important if you can point it out — it’s not to heal anybody from his violence. It’s to create an awareness they can use in the right way.
Not against themselves.
I’ll give you just the framework in which I can analyze this process of history that enabled Israel to confiscate, to settle and to colonize Palestine and not go through the path my mother [Arna] chose.
The reasons are many but the main reason you must understand is that since the Zionist movement was created, it manipulated the history of the Jews, especially the Holocaust period, and used forces around it to create one of the most successful colonies in Palestine.
And since then, the victim philosophy or victim theory or victim policy of Jews and Israelis used all means and all aspects in their history since the pogroms — what they call the persecutions in Russia during the Czar period — till the announcement of hundreds of suicide warnings coming to Israel.
From that to here, we see a policy of fear, a ghetto mentality, a policy that distracts the average Israeli from the truth.
Frightened and victimized people can justify any crime they do and it enables them to live with their conscience in a very comfortable way like most of the Israelis.
Once you are a victim, it’s very easy to create dehumanization and demonization of the other, and this is the success of the first Israeli propaganda in the Zionist movement."
"My mother could not be buried because she refused to be buried in a religious ceremony or funeral. Israel is not a democracy; it’s a theocracy. The religion is not separated from the state so all issues concerning the privacy of life — marriage, burial and many other aspects — are controlled by the religious authorities, so you cannot be buried in a civilian funeral.
The only way to do it is buy a piece of land in some kibbutzim, which refused to sell us a piece of land because of the politics of my mother.
It’s not a very popular thing in a civilian, non-religious way.
And then I had to take the coffin home. And it stayed in my house for three days and I could not find a place to bury her.
So I announced in a press conference that she was going to be buried in the garden of my house.
There was a big scandal, police came, a lot of TV and media [came], violent warnings were issued against me. There were big demonstrations around the house, till I got a phone call from friends from a kibbutz, Ramot Menashe, who are from the left side of the map, and they came from Argentina. Nice Zionist Israelis, maybe post-Zionist. They offered a piece of land there.
And the funny thing is that while we were looking for a place to bury my mother, there were discussions in Jenin to offer me to bring her for burial there, in the shahid’s [martyr’s] graveyard.
They told me there was one Fatah leader, who was humorously saying, “Well, guys, look, it’s an honor to have Arna with us here, a great honor, the only thing is maybe in about fifty years’ time some Jewish archaeologists will come here and say there are some Jewish bones here and they’re going to confiscate the land of Jenin.” [Laughs]
They [the israelis]do it.
Even if they find the Jewish bones of a dog, they take the place.
Every place they confiscate they 'find the bones of a Jew' and that’s how they justify the ownership of the land, by finding bones".

Juliano foi baleado por homens encapuzados no dia 4 de abril de 2011 em Jenin, dentro do carro, em um atentado anônimo na porta do teatro.
Foi transportado imediatamente para um hospital em Israel, provido dos meios que faltam aos da Cisjordânia, mas mesmo assim não conseguiram salvá-lo. Os ferimentos foram fatais.
Juliano tinha 52 anos e um dinamismo invejável.
O teatro fora atacado várias vezes no ano que precedeu sua morte.
Até hoje não se sabe quem foi realmente responsável pelo assassinato. 
Seu funeral foi tão especial quanto a vida que levou até a hora em que foi atingido pelas balas.
A cena foi extraordinária.
Seu caixão foi carregado por amigos israelenses de Haifa à Linha Verde. Eles atravessaram a fronteira e entregaram o ataúde aos palestinos que o enrolaram em uma bandeira nacional. A cantora-atriz Miri Aloni cantou "Song for Peace" em árabe e hebraico enquanto os membros do Teatro da Liberdade carregavam o caixão para que os palestinos prestassem a Juliano uma última homenagem.
Milhares de palestinos consternados e enlutados seguiram a procissão funerária. Quando o filho de Arna foi devolvido para ser levado ao lugar do enterro, jovens palestinos o saldaram com o coro de Allah al-akbar (Deus é Grande) com que saudam seus mártires.
Juliano foi enterrado ao lado da mãe, Arna.
Zakaria, que co-dirigia o teatro com Jule - apelido carinhoso que os palestinos deram ao filho mais velho de Arna - declarou aos jornalistas na porta do Teatro: "This was an organized action, not out of anger or rage over the theater's activities or because of a personal quarrel with Jule. This is something that was done deliberately by an organization or state. We will have no mercy on whoever harmed the man who led the Freedom Theatre. ... We will not forgive this."
Logo após o atentado, surgiram rumores que os assassinos eram palestinos integristas inconformados com a liberalidade das peças que o teatro apresentava. Conhecendo a Cisjordânia e a influência dos grupos de resistência do Fatah no perímetro em que a Autoridade Palestina comanda, é difícil imaginar que Zakaria Zubeidi, o ex-líder das Brigadas al-Aqsa que tem olhos e ouvidos em toda parte, não conseguisse encontrar nenhum indício dos criminosos se eles fossem nativos.
Mais um mistério indecifrável. Como a morte de Yasser Arafat.
Jule nasceu no dia 15 de maio.
Dia em que os palestinos celebram a Naqba.
Desde 2012 que em Jenin celebram, guardando as proporções, duas catástrofes.




Post-scriptum:
O Freedom Theatre está localizado no campo de refugiados de Jenin, no norte dos Territórios Ocupados da Cisjordânia.
Durante mais de quatro décadas de ocupação militar, a população palestina inteira tem sofrido invasões, constantes invasões e apoderações militares de domicílio e assassinatos das Forças Israelenses de Ocupação. Além da divisão e imobilização do território por meio de checkpoints, barragens, sítios e toques de recolher aleatórios.
Para completar o cerco opressivo, os campos de refugiados são estigmatisados, negligenciados, e a população toda vem sendo enclausurada nos nas cercas e muros de separação.
O campo de refugiados de Jenin confirma a regra vigente em toda a Cisjordânia. Criado em 1953 pelas Nações Unidas, abriga 16 mil refugiados. Quase oito mil menores de 18 anos. A área foi ocupada por Israel em 1967, devolvida à autoridade Palestina em 1996 e em 2002, invadida na Operação Defensive Shield de Ariel Sharon. Setenta e cinco pessoas - soldados, resistentes e civis - morreram na batalha que deixou o campo despedaçado.
Uma das maiores tragédias do conflito de Israel vs Palestina é a sociedade inocente vulnerável.
Desde a erupção da Segunda Intifada no ano 2000, as condições de vida se deterioram rapidamente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
As agressões da IDF têm sido constantes e os meninos palestinos têm sofrido quase diariamente os efeitos da violência dos soldados.
A percepção que estas crianças têm do mundo é formada por frustração, trauma acumulado, sentimento de impotência e nenhuma esperança nem perspectiva de futuro.
Quase toda criança e jovem no campo de refugiados de Jenin, por exemplo, já correu risco de vida na mira de um soldado, já vivenciou a morte ou ameaça imediata, já sofreu ataque físico ou ameaça física ou psicológica. 
Devido às experiência traumatizantes que vivem, muitos meninos demonstram sintomas de problemas emocionais severos. Inclusive dificuldade de concentração, comportamento agressivo, insônia, pesadelos, urinam na cama até a puberdade, são retraídos, desconfiados, e outros tantos sintomas psicosomáticos decorridos dos maus-tratos.
A situação é antagônica a uma infância ideal na qual as crianças investigam e experimentam o mundo como um jogo que os desperta para interagir com o meio e as pessoas com quem vivem. Em vez de poder crescer em interação segura com o mundo que a cerca, desenvolvendo assim um sentido de coerência e criando ferramentas próprias para cumprir tarefas e resolver problemas, os meninos palestinos crescem no medo oriundo de opressão e humilhação contínuas. Vendo os pais serem incapazes de protegê-las, as crianças perdem a fonte de segurança e confiança e em lugar disso, tendem a desenvolver sentimentos de desesperança.
Daí a importância de instituições como o Freedom Theatre para paliar os abusos que povoam o dia a dia hostil a que a ocupação os condena.  A dramatização das cenas violentas quotidianas permitem que os meninos extravazem no palco os recalques que acumulam, que vejam outra face do mundo e que adquiram esperança. Este espaço de expressão e desabafo lhes dá uma confiança, recalcitrante mas essencial,  de um dia alcançarem a liberdade e dormirem sem sobressalto de serem bombardeados ou da casa ser invadida por soldados que a confisquem durante dias os confinando em um quarto.  


"This is the other side of the routine army spokesman's announcements: 'In the course of a search for wanted terrorists, the IDF entered the refugee camp . . . . In the ensuing firefight, five armed Palestinians were killed . . . . Our forces sustained no losses . . . .'
It is no secret that lately the army has been sending armored columns into Palestinian towns not to 'arrest wanted terrorists' or to 'eliminate ticking bombs,' but to draw these armed fighters out of their hiding places and induce them to attack the tanks--an action tantamount to suicide.
In the end, the photos of almost all of Arna's children--side by side, again--appeared on the walls in posters commemorating the Martyrs. The children, who are so gay and full of pranks at the beginning of the film, had become solemn and threatening.
In the eyes of most Israelis, they are simply terrorists, murderers and criminals, whose sole aim in life is to 'spill Jewish blood.' They do not see the human beings and do not ask where they came from and what got them to do what they are doing. Therefore, they do not understand the source of their strength and tenacity.
In the eyes of the Palestinians, these are their national heroes, valiant and dedicated young people who sacrifice their lives for the dignity and future of their people. They think of them much as we thought of our underground fighters before Israel was created.
Ashraf, the Palestinian Romeo-to-be, died together with his friends, like Romeo in Shakespeare's tragedy. But seeing this film, one knows that for every one who falls there are dozens to take his place.
Leaving the hall after the screening, a question was forming in my mind: In the end, when the Palestinians attain their independence and these fighters will become part of the national mythology, will the relations formed in the darkest times between these children and Arna and the likes of her provide a basis for reconciliation?"
Uri Avnery, após assistir ao documentário de Juliano em 2004: Arna's children.

Documentário de Juliano Mer Khamis: Arna's children
 “We, the undersigned Palestinian filmmakers and artists, appeal to all artists and filmmakers of good conscience around the world to cancel all exhibitions and other cultural events that are scheduled to occur in Israel, to mobilize immediately and not allow the continuation of the Israeli offensive to breed complacency.
Like the boycott of South African art institutions during apartheid, cultural workers must speak out against the current Israeli war crimes and atrocities.
We call upon the International community to join us in the boycott of Israeli film festivals, Israeli public venues, and Israeli institutions supported by the government, and to end all cooperation with these cultural and artistic institutions that to date have refused to take a stand against the Occupation, the root cause for this colonial conflict.”
Apelo de Juliano à adesão ao Movimento BDS de boicote de Israel.
Seu apelo foi atendido pelos artistas israelenses que decidiram este ano não apresentar mais nenhum espetáculo de teatro e dança nas colônias/assentamentos/invasões judias na Cisjordânia. A vida das crianças palestinas nos campos de refugiados


Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

Zakaria Zubeidi e Nabil Al-Raee, diretor artístico do teatro
 que foi sequestrado em casa, preso em Israel durante meses,
e libertado em julho após greve de fome contra a prisão arbitrária.
Vira e mexe os soldados da IDF, em dias de representação, bloqueiam atores e técnicos em checkpoints para impedir que acedam ao teatro. Quando não invadem e interditam o teatro como faziam nossos generais, quando de representações tão perigosas quanto Alice no País das Maravilhas.
A perseguição é assídua e provoca um desgaste muito grande. Embora não dissuada nem Zakaria, nem os estrangeiros conhecidos e anônimos que ajudam o teatro e nem os meninos que vão lá buscar uma válvula de escape ao quotidiano difícil que a ocupação israelense lhes impõe para que baixem a cabeça e cruzem os braços.
O Freedom Theatre de Jenin é ligado a dois teatros na Faixa de Gaza que sobrevivem  com ainda mais dificuldade. O Theatre Day Productions e o Al-Qattan, em Gaza.
E também a grupos teatrais estrangeiros.
Todo apoio moral e financeiro é bem-vindo, e necessário à sobrevivência do teatro.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XXV (04 2002 - ODS em Jenin)




Como os generais da IDF consideraram a cobertura mediática da campanha militar em Ramallah prejudicial à sua imagem, o alto comando decidiu proibir a presença da imprensa na operação Defensive Shield - ODS em Jenin e Nablus logo de saída.
Ambas foram consideradas "zonas militares fechadas" e postas em regime de permanente toque de recolher antes e durante a investida das tropas motorizadas.
Estas "zonas militares" permaneceram lacradas até o fim da invasão dez dias mais tarde - repetiriam a façanha na Faixa de Gaza em 2008-09 com os mesmos estragos.
A população foi privada de água e eletricidade durante todo o sítio.
Todas as etapas da ODS de Ariel Sharon foram bárbaros. Mas o que ficaria nos anais como a mais selvagem, desde a Naqba, Sabra e Shatila (até o repeteco duplo na Faixa de Gaza), seria o de Jenin.  O assalto foi vedado à imprensa do início ao fim. Portanto, vou começar com o relato do que se viu a posteriori.     
O que os primeiros estrangeiros testemunharam ao entrar no campo de refugiados.
A "paisagem" era apocalíptica.
Desafiava qualquer possibilidade de descrição apropriada.
Não havia tantos cadáveres espalhados pelo caminho como em Sabra e Shatila. Apenas alguns jaziam no caminho. Todavia, o sangue nas ruas indicava um número elevado de vítimas, já carregadas pelos sobreviventes para onde conseguissem abrigo. Socorro era impossível, pois a assistência médica foi vedada durante o sítio.
A maioria dos mortos não estava à vista. Estavam soterrados, enterrados vivos quando os caterpillars armados destruiram residências ainda ocupadas por algum membro da família.
Parecia que um furacão passara deixando atrás de si desolação e desamparo.
Casas total ou parcialmente demolidas, postes caídos, fios elétricos enroscados, concreto despedaçado, ferro fundido na marra, carros pulverizados. Tudo isto misturado, dava a impressão de uma imensa sucata fétida no ar da qual pairava o cheiro inconfundível de cadáver. 
A cidade-campo de refugiados estava abaixo. Nenhuma infra-estrutura fora poupada.
Uma calamidade.

No meio da área urbana sucateada durante os dez dias de assalto, jazia um terreno "vago" meio retangular. Contando os "espaços abertos" pelos caterpillars armados, em que estas escavadoras transformaram fileiras de casas em estrada, o vácuo era bem maior do que a área do explodido World Trade Center após o ataque do Al-Qaeda.
O núcleo residencial aplainado era o bairro Hauachine que dias antes contava mais de  300 casas.
Cento e cinquenta residências foram reduzidas a poeira, a nada. Outras tantas foram gravemente danificadas pelos caterpillars armados que deixaram 435 famílias totalmente desabrigadas.
No fim das contas, duas mil pessoas ficaram ao Deus dará.
O cálculo imediato foi de 52 mortos palestinos e 23 soldados israelenses. Estes últimos, mortos por fogo amigo e pela resistência, unida e ferrenha.
Em Nablus, a IDF destruiria o patrimônio histórico, deixara a maioria das casas depredadas, paredes derrubadas ou esburacadas, mas ainda com possibilidade da família "acampar" de maneira precária.
Em Jenin, não.
Dir-se-ia que a ordem era de não deixar pedra sobre pedra e atropelar tudo o que movesse, visível ou imaginário.
Os caterpillars D9 demoliram o bairro inteiro antes de rodar sobre o terreno onde mulheres, velhos, crianças, adolescentes, vagavam como almas penadas. Todos em busca dos familiares perdidos nos escombros dos lares que dias antes ali estavam.
Estas almas baqueadas penavam.
Alguns cavavam os destroços com as poucas pás disponíveis e outros, a mãos nuas. Esperavam escavar das ruínas filhos, irmãos, pai, mãe, avós enterrados vivos.
Três jovens que cavam onde fora até há pouco sua casa conseguem arrancar dos detritos o cadáver do pai desfigurado. Mais na frente uma mulher em prantos interpela  Deus "Alah, vingue-nos contra Sharon!", escarafunchando os entulhos do que fora sua casa, à procura de parentes soterrados.
Crianças vagueiam com as feições cobertas de horror e incompreensão e uma jovem diz com voz apagada: "Sharon, com sua louca operação criminosa, fez de todos estes meninos e meninas bombas-suicidas potenciais. É ele, este monstro, que nos empurra a replicar, por todos os meios possíveis de expulsar seu exército e seus colonos de nossa terra".
Sua família conseguira salvar-se escapando de Jenin para Rumaneh no início do assalto. Muitos moradores tiveram a mesma sorte, mas grande parte foi presa na engrenagem do cerco ardiloso, perdeu todos os pertences e pelo menos um parente.
Este foi o resultado da Operação Defensive Shield em Jenin.
Antes de contar o desenrolar da operação, vou abrir parêntese para falar em um rapaz de Jenin que perdeu dois amigos de infância no dia 10 de abril fatídico. Além disso, estava para encabeçar a lista negra da IDF e do Shin Bet, como o "terrorista" local mais procurado.
Ele se chama Zakaria Muhammad 'Abdelrahman Zubeidi.
Em Jenin, Zakaria basta. Na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, Zakaria Zubeidi.
Viraria, e é ainda, lenda-viva no Fatah e em toda a Palestina.
Quando as tropas da IDF invadiram Jenin, foi a voz de Zakaria Zubeidi que os soldados israelenses ouviram no megafone. Fluente em hebraico, o resistente palestino avisou os invasores que se não recuassem, a luta seria árdua, pois os moradores não entregariam sua cidade de resistência ferrenha.
Enquanto as tropas israelenses punham Jenin abaixo, a voz extinta do megafone ainda ressoava em suas cabeças. O medo reinava. Os soldados, em uma mistura de super-poder e temor incubado, passavam de casa em casa semeando o caos enquanto Zakaria, e outro amigo de infância então líder local das Brigadas al-Aqsa, escapava de cômodo em cômodo como gato.
Acabou não sendo capturado.
Ele ainda não era o líder das Brigadas al-Aqsa, dissensão armada do Fatah desde o massacre que originou o nome desta célula militar, mas aos 26 anos, seu nome já era conhecido na Cisjordânia inteira, e na IDF. E no Shin Bet. E no Mossad.
Ele subiria na hierarquia das Brigadas em Jenin com os assassinatos sucessivos dos chefes, inclusive do seu melhor amigo, Ala'a. E passaria a ser a maior autoridade - clandestina - local.
Em 2002, a sua cara de menino grande, de sorriso aberto, ainda não estava marcada pela explosão acidental de uma das bombas que fabricava.
Mesmo sem as marcas escuras registradas em todos os dossiês de Inteligência israelense como suas, já era respeitado como um general da guerrilha urbana contra o que os palestinos chamam de  IOF - Israeli Occupation forces - em vez de IDF - Israeli Defensive Forces que acham pouco adequada à função que realmente exercem.
Aos 13 anos, no jogo de pedras contra soldados israelenses, Zakaria foi baleado - como são dezenas de crianças palestinas durante o ano. A bala que lhe foi dirigida o atingiu na perna. Teve de ser operado quatro vezes. No fim da hospitalização (tardia) de seis meses, voltou para casa com uma deficiência física. A perna ferida ficou mais curta. Ficou manco para toda vida.
Foi detido aos 15 anos durante seis meses e durante este período virou porta-voz dos prisioneiros menores junto ao diretor do presídio.
Foi para trás das grades como um menino a mais que a prisão israelense traumatizaria e saiu de lá como líder. 
Voltou a ser preso por mais tempo, aprendeu hebraico e aderiu ao Fatah.
Foi libertado em 1993 na leva dos Acordos de Oslo. Tinha 17 anos e entrou nas Forças de Segurança da Autoridade Palestina durante um ano. Depois largou por insatisfação com o sistema de favoritismo e viveu de bicos mais ou menos legais até a Intifada al-Aqsa. Ou seja, esta Segunda Intifada.
Zakaria conta que só aderiu à resistência armada no fim de 2001 ao perder um amigo.
Mas o fator determinante no passo em direção da resistência armada pode ter sido a impotência. Frente ao assassinato da mãe no dia 03 de março de 2002 e do irmão Taha.
Quando a IDF entrou em Jenin um mês depois, Zakaria já estava na Brigada dos Mártires da al-Aqsa.
Prosseguiria na luta armada sem jamais ser capturado e sem jamais separar-se do revórver que carregava pra todo lado.

Voltando à ODS e a Jenin propriamente dita, ela é a terceira maior cidade palestina.     Sua fonte de renda e subsistência é predominantemente agrícola. Até a Intifada, Jenin era a cidade palestina com maiores ligações culturais e comerciais com Israel.  
Devido à proximidade da Linha Verde (apenas 12 quilômetros), muitos israelenses iam a Jenin fazer compras de legumes e frutas; de boa qualidade e mais baratos do que os do seu lado.
O campo de refugiados foi criado em 1953 junto da cidade a fim de abrigar as vítimas da Naqba originárias das regiões de Carmel e Haifa.  Sua população é de 16.000 habitantes, dentre os quais 40% têm menos de 14 anos.
Não sei se já disse, mas os campos de refugiados palestinos não são constituídos de tendas como os demais campos de refugiados que a ONU monta.
Onde quer que se se refugiem, os palestinos constroem casas e se organizam como um bairro com administração autônoma. Nos países vizinhos em que se refugiaram, instalam-se como um município precário da cidade à qual são agregados. No Líbano, por exemplo, são cidadãos apátridas excluídos da sociedade local. Abordaremos este tema doloroso e crucial para os palestinos em outra oportunidade. 

Em Jenin, as repetidas incursões militares da IDF, que resultavam em detenções aleatórias, execuções sumárias e destruição de propriedades, fizeram deste campo um dos núcleos mais fortes da resistência.
Ariel Sharon sabia do "monstro" que a Naqba e a ocupação fabricara. Por isto ao invadir Jenin na Operação Defensive Shield, acionou as forças de artilharia mais pesadas e sofisticadas para dominar logo de chegada.
O general contava com oposição ao seu intento, mas não tanta quanto a que o esperava. Subestimara a determinação de seus oponentes de defender suas famílias e seu terreno até o último homem, se necessário.
Os resistentes das diversas brigadas armadas do Fatah - Tanzim, Al-Aqsa - receberam os tanques e as escavadoras a balas, a coquetéis molotov, e os meninos, a pedradas e estilingadas.
Muitos chamam esta incursão da IDF em Jenin de guerra. Por causa da resistência militar dos palestinos, que perseveram, defenderam sua cidade contra os "cruéis" e os Apaches com revólveres e algumas Kalachnikov.
A determinação da resistência era grande, mas a disparidade numérica e de recursos bélicos era maior ainda. E esta disparidade de meios somadas à privação de víveres e água, faz lembrar a Batalha de Stalingrado durante a Segunda Guerra.
Em Stalingrado, os russos não baixaram os braços diante da investida das tropas alemãs e resistiram ao sítio do exército de Hitler durante meses. Acabaram exangues, famintos, a cidade em ruínas, mas vitoriosos, graças ao rigor do inverno que forçou os soldados alemães à retirada.
No caso dos resistentes de Jenin, embora também estivessem se defendendo de invasão bárbara, não dispunham da cumplicidade da neve e além disso, os recursos da IDF - alimentados pelos EUA - ao contrário dos da Wehrmacht, eram inesgotáveis.
E foram usados com abundância e sem a piedade mínima que surge, às vezes, de maneira acanhada, quando se lida com seres racionais da mesma espécie.
Não. Os soldados israelenses aprendem desde pequenos que os palestinos são animais, objetos, sem direitos e bárbaros. A piedade não cabe.
Os resistentes passavam de casa em casa evacuada deixando armadilhas atrás de si para os soldados da IDF. Retrocediam lutando e perdendo sangue. 
Sharon só ganhou a partida sangrenta porque, ao perder 23 soldados até o dia 09 de abril, os tanques "cruéis" recuaram e abriram alas para os caterpillars armados. Estes agiram à vontade derrubando todas as casas com apoio aéreo para "que o inimigo ficasse descoberto".
Diante da visão macabra de seus compatriotas indefesos - esposas, mães, filhos, pais - sendo soterrados no processo de a IDF ganhar a batalha, os resistentes depuseram as armas.
Esperavam ainda conseguir, com o gesto de renúncia, salvar os parentes e amigos soterrados.
Gesto vão. Para a maioria, o socorro chegaria tarde.
Militarmente, a IDF venceu, como sempre.
Capturou 34 membros da resistência.
Mas a vitória devastadora custaria caro.
A perda de familiares, o desabrigo forçado pelos caterpillars, o ressentimento, enfim, todos os sentimentos decorrentes da ocupação desmedida, iam facilitar o recrutamento, entre os sobreviventes, de bombas-suicidas prontos a vingar a crueldade.

"I have been in urban environments where house to house fighting has happened: Rwanda, Nicaragua, El Salvador, Colombia, and a city struck by a massive earthquake: Mexico city.
The devastation seen in Jenin camp had the worst elements of both situations.
Houses not just bulldozed or dynamited but reduced almost to dust by the repeated and deliberate coming and goings of bulldozers and tanks.
Houses pierced from wall to wall by tank or helicopter gun ships. Houses cut down the middle as if by giant scissors. Inside, an eerie vision of dining or bedrooms almost intact. No signs whatsoever that that bedroom or dining room or indeed the house had been used by fighters.
Gratuitous, wanton, unnecessary destruction. Children’s prams, toys, beds everywhere.
Where were those children?
I do not know, but I do know where the survivors will be in the future."
Javier Zuniga, diretor regional da Anistia Internacional quando entrou em Jenin no dia 17 de abril de 2002

Relatório da Anistia Internacional:
Between 11 April when the last group of Palestinian fighters had surrendered and 15 April when, after the High Court hearing, the IDF allowed ambulances to enter under strict IDF supervision, about a tenth of the area of Jenin refugee camp was destroyed. According to Palestinian combatants and the IDF some of the fiercest fighting had taken place in this part of the refugee camp and it was in Hawashin that 13 Israeli soldiers were killed in an ambush. But the evidence strongly suggests that the fighting had already stopped when most of the demolition of houses took place.
Given the density of population in the one square kilometre refugee camp, which had a population of around 14,000 before the events of 3 April 2002, the complete destruction of the Hawashin quarter and the partial destruction of two additional quarters of the camp, have left more than 800 families, totalling some 4000 persons, homeless, living in tents or with relatives. About 169 houses with 374 apartment units have been completely destroyed with additional units partially destroyed.(16) Additionally, widespread IDF vandalism and property damage to the interior of homes was visible in a number of areas of the camp, especially in the al-Damaj quarter.
Under the Fourth Geneva Convention destruction of property can be justified only if there is an absolute military necessity. Amnesty International delegates who entered Jenin refugee camp on 17 April, the day the IDF withdrew, saw that the IDF had used bulldozers not just to destroy the houses but to drive backwards and forwards over them, impacting the rubble and rendering it very difficult for residents to dig in search of their possessions, valuables, or missing family members.
The IDF told Amnesty International delegates that fighting had continued after 11 April 2002 and Palestinian snipers remained in buildings. They also argued that the destruction of property, in the wake of hostilities, was necessary because of the proliferation of booby trap bombs and unexploded ordinance.(17) However, today the work of clearing Israeli unexploded bombs and Palestinian booby traps under the crushed rubble is continuing; military specialists have stressed to Amnesty International that buried ordnance under crushed rubble is far harder to clear than if left in undemolished houses.
Palestinian and foreign eyewitnesses inside and outside Jenin refugee camp state that fighting had essentially ceased after 10 April. The aerial photos of the destruction of the Israeli Ministry of Foreign Affairs, dated 11 and 13 April, show that the bulk of destruction took place then. In the opinion of an Amnesty International delegate, Major David Holley:
"There were events post 11 April that were neither militarily justifiable nor had any military necessity: the IDF levelled the final battlefield completely after the cessation of hostilities." He added: "It is surmised that the complete destruction of the ruins of battle, therefore, is punishment for its inhabitants."
Jenin city was also extensively damaged during Operation Defensive Shield. According to official records over 1200 residential properties have been damaged. Forty homes have been completely demolished. Other homes were either partially damaged, burned, had interior damage or damage to exterior walls or water tanks. Nine schools in the Jenin city area were damaged as was the Department of Education.(18) In Jenin’s old city and the market district of al-Sibat, a number of homes and businesses were destroyed or partially damaged including the Jenin Municipality Public Library.
Destruction of property and civil infrastructure
This was the sight that greeted Amnesty International delegates who entered Jenin refugee camp when the IDF lifted their blockade on 17 April 2002.
The IDF demolished Palestinian homes in Jenin refugee camp from the beginning of their offensive though, as testimonies and aerial photos show, the razing of the Hawashin quarter took place mostly after 11 April. But the IDF demolition of homes in the Jenin refugee camp was already the subject of a petition to the High Court filed on 8 April 2002. The petitioners argued that by failing to provide adequate warnings to allow the residents to be heard and to give adequate time to escape before demolishing houses, the State was failing in both its own domestic obligations under Israeli Basic Law: Human Dignity and Liberty, as well as international humanitarian law under the Fourth Geneva Convention.
Access to essential supplies
Residents of Jenin town and refugee camp reported to Amnesty International delegates their increasing fear as stocks of food and water diminished. The delegates in the town between 15 and 17 April witnessed the trauma of families who had spent the previous two weeks confined to their houses, with water and electricity cut off for most of the period.
The electricity supply was cut in the city on 3 April 2002; in most places service was restored within four to 10 days but, according to UNRWA, it was not until 25 April that even a partial electricity supply was restored to the lower part of the refugee camp. In an interview with Amnesty International, the head of electricity services for the Jenin City Municipality provided a detailed log of service interruptions as well as a report of damage assessment by engineers. Several of the main feeders had been, in his view, targeted and repair crews had been subjected to IDF gunfire when they attempted to repair damaged cables.
Water supplies were also cut by the IDF and, in addition, many of the water storage tanks on the tops of houses were damaged by IDF fire; in some places the water supply was not restored for 20 days. The Director of the Water Sector for Jenin city told Amnesty International delegates that in one pumping station supplying Jenin city and the western villages the pumps were inoperable; damage to the network was extensive and "mainlines from the reservoirs or pumping stations were cut intentionally by bulldozers or indirectly through heavy tank traffic. Seven of 11 booster pumps [which help water reach high areas] were hit or destroyed by heavy machine gun fire or tanks. Damage to the network inside the refugee camp was beyond repair." On 5 April the IDF occupied one pumping station and dismissed the operator for four days. Camp residents and those living in the upper areas of the town remained without water for up to three weeks; UNRWA reports that water points to the camp were not restored until 28 April.
The IDF Head of Plans and Policy Directorate told Amnesty International delegates that there was no policy to cut either electricity or water and said that Palestinians used water pipes to make bombs. However, between March and May 2002 Amnesty International’s delegates inspected damaged electric feeders and water pipes in many Palestinian towns and refugee camps. They concluded that damage to electricity cables and water pipes was deliberate and widespread.
The prolonged curfew made it impossible for those in Jenin city or the refugee camp to obtain alternative water supplies, except during the period in which curfews were lifted. Humanitarian relief services were unable to provide water, medical or food supplies until 17 April 2002. Most houses had reserves of food; residents had suffered previous incursions and periods of curfew and laid in supplies of rice, lentils, beans, as well as storing water in bottles or buckets within their homes. Fresh milk and water and fresh food were unavailable. Hospitals reported six cases within Jenin refugee camp of children with complications resulting from drinking wastewater. Hospitals had their own generators but services were affected by water and food shortages; for days Jenin City Hospital patients and staff lived mainly on biscuits.
Blocking medical and humanitarian relief
Medical relief services were denied access to Jenin refugee camp for nearly 11 days, from 12 noon on 4 April until 15 April 2002. In addition the IDF shot at ambulances(10) or fired warning shots around them. Ambulance drivers were harassed or arrested. Meanwhile the dead in Jenin refugee camp remained in the street or in houses for days. The wounded lay for hours untended or were treated at home. In several cases people are reported to have died in circumstances where lack of access medical care may have caused or hastened their death. Many testimonies show families desperately telephoning for help in vain and compelled to stay alone with dying or dead relatives. Many cases of Palestinians killed by the IDF show the difficulty or impossibility of obtaining medical care or an ambulance to remove the dead.
On 15 April, during two hours the IDF allowed Palestinian and international medical and humanitarian teams to distribute some food, water and milk into the camp. On 16 April the IDF allowed ICRC and UNRWA personnel to enter the camp; the ICRC reported, in its daily summary: "Part of the camp looks as if it had been hit by an earthquake ... Civilians in the camp are under shock and report urgent need for medicine, water and food.
Compelling Palestinians to participate in military operations and to act as "human shields"
The IDF systematically compelled Palestinians to take part in military operations. Several Palestinians interviewed by Amnesty International in relation to other subjects said that they had been compelled to take part in military operations and as "human shields". These practices violate international humanitarian law. Although the IDF announced through the State Attorney on 24 May 2002 that it would not use civilians in military operations, Amnesty International has continued to receive reports of cases in which Palestinians were used by members of the IDF during military operations, including as "human shields" (see, for example, the description of the case resulting in the killing of Fares al-Sa’adi above).
The large number of cases of Palestinians used as "human shields" in IDF military operations reveal a clear pattern. Typically the IDF would compel an adult male(6) in their military operation to search property in each area of the refugee camp. A Palestinian would be held by the IDF for a certain period, sometimes for days. These Palestinians were placed at serious risk, in some cases resulting in injury, as the following case illustrates.
Depoimento de um soldado à ONG B'Tselem: "Before searching a house, we go to a neighbor, take him out of his house, and tell him to call for the person we want. If it works, great. If not, we blow down the door or hammer it open. The neighbor goes in first. If somebody is planning something, he is the one who gets it. Our instructions are to send him inside and have him go up to all the floors and get everyone out of the house. The neighbor can't refuse; he doens't have that option. The neighbor shouts, knocks on the door, says that the army is here. If nobody answers, we tell him that we'll kill him if nobody comes out, and that he should shout that out to the people in the house. The basic procedure was the same no matter who gave the briefing. Maybe the "We'll kill him" came from the platoon, but the rest came from the brigada level or higher."
Torture and cruel, inhuman or degrading treatment of detainees:
During their operations in Jenin refugee camp between March and June 2002, the IDF ill-treated and sometimes tortured hundreds of detained men mostly between the ages of 16 and 55.(7) The IDF announced that 685 Palestinians had been arrested in Jenin by 11 April. It appears that the only requirement for detention was gender, nationality, and age.(8) Men were separated from women, children and men over 55. They were stripped to their underwear, blindfolded and their hands were bound with plastic cuffs. Reports of ill-treatment were frequent and some said they were beaten; one detainee died as a result of these beatings.
Those detained were removed from the refugee camp and taken first to Bir Sa’adeh where they were held for between two and five days. During this period they were ill-treated: former detainees interviewed said they were forced to squat, with their heads lowered, for protracted periods of time; their hands were still bound behind their back with plastic cuffs and they were blindfolded. For the first 24 hours no food was reportedly supplied and water distribution was not systematic (some report receiving some water, others none at all). Most said that no blankets were furnished despite the cool temperatures at night and there was limited or no access (or access permitted in difficult or degrading circumstances) to toilet facilities. From Bir Sa’adeh detainees were transferred to Salem detention centre.
At the end of their detention, detainees were interrogated for periods ranging from 15 to 60 minutes.
Detainees were released several kilometres from one of three villages around Salem, usually Rumaneh village. They were made to walk to the town; they were frequently still without clothing and most without shoes. They were told to remain in the village. Amnesty International interviewed several detainees upon their release. They were being housed in temporary accommodation in public buildings (in Rumaneh village, a school was converted into a temporary shelter); families took others in. As the blockade was still continuing most had no idea of what had happened to their families, who had remained in the camp, or their property. They returned to Jenin only after 17 April 2002, following the temporary IDF withdrawal from the refugee camp.
B'TSELEM
As detenções durante a Operação Defensive Shield foram majoritariamente coletivas. A IDF ordenou que todos os homens acima de 14 anos fossem detidos indiscriminadamente por um mínimo de 18 dias.
Durante a ODS, cerca de 7.000 palestinos foram presos simplesmente por serem de sexo masculino. Sem permissão de tomar banho nem trocar de roupa. 5.600 foram soltos após processos de familiares e de ONGs de Direitos Humanos. Foram postos em liberdade longe de casa, sem nenhum "certificado de prisão" e sem carteira de identidade - que é considerado pelas Forças de ocupação um delito que leva à prisão. Isto os deixava à mercê de nova detenção, o que aconteceu em muitos casos também aleatórios.
http://www.btselem.org/sites/default/files2/publication/200207_defensive_shield_eng.pdf

Documentário Journeyman: Activists who became Human Shields
Depoimento de um resistente palestino:
"It is difficult to assess how many fighters there were because fighters were split into two groups: one to lay bombs, the other to fight with rifles; maybe there were around 400 in all; approximately 60 from the refugee camps. There was good cooperation between the resistance groups; it was decided to use bombs only in the beginning of the attack against the Israeli tanks. Once the tanks had broken into the city and were on the outskirts of the old city, this took the IDF three days, it was decided to resist with small-arms fire.
Once the IDF surrounded the old city there were five days of fighting concentrating in two parts of the old city: the Qasbah and al-Yasmina. The Israeli soldiers had good street maps and aerial photos of the town, they seemed to know where to go and what houses to enter and search. The fighting was very difficult because we did not have good communications and the Israeli snipers were so accurate: movement in the alleys and streets was virtually impossible because of the snipers and attacks from helicopters using missiles.
There was no order from Ramallah to resist, we decided to do it ourselves once we saw pictures of the fighting from Ramallah. Groups were concentrated in their own area of houses each with their own leader but communication between groups was primitive and difficult. During the first three days of the fight there was no shooting from our fighters just the use of bombs against the Israeli tanks. Some fighters tried to supply food and water to those who had run out but these were easy targets for the snipers: I was shocked at their accuracy. I also thought that they would never enter the old city but they did, I don’t think we were prepared for this."

Documentário de Mohammed Bakri: Jenin Jenin


Documentário de Charles Annenberg Weingarten: No child is born a "terrorist"
Extrato de entrevista com Zakaria Zubeidi em 2004
Is there a difference between terror attacks in the territories and attacks in Israel?
Zakaria: “In the beginning, we decided to carry out attacks only in the West Bank, against settlers and soldiers. But the technology of the times changed everything. The Israeli gets on a helicopter, flies from Tel Aviv to Jenin and fires a rocket. Right? We don’t have any rockets or helicopters or tanks. Right? We have a different technology. A person, like a rocket, comes out of the camp and goes to Israel (to become a suicide-bomber)."
“Israeli technology is more accurate than ours. One time it falls in a bus, another time on the road, another time in a cafe. Why? Because we’re being killed every day and we have to respond. They’re killing us from inside tanks and they’re killing us with Apache helicopters. Do we have the weapons to take down the Apache? Do we have anti-tank weapons? The F-16 is the world’s top fighter jet and the Apache is the best helicopter, and we have nothing. We have M-16s and Kalashnikovs. So we’re defending ourselves with what we have. And we’re not the ones starting it. After they kill us, we kill. There was a cease-fire and you killed Raed Karmi, and there were other cases like that and now you just tried to kill Rantisi. Who’s to blame for the civilians that have been killed in Israel? The Israeli government that kills our civilians every day.”
Do you have any red lines when it comes to killing people?
“I’m not a murderous person and I don’t like killing. But what happened in my house and what I saw in the camp brought me to these things. I was one of the best students in the school and I never thought that I’d want to kill anyone or to be a criminal. But the Israelis dragged me into these things. I have a lot of friends in Israel, very many friends….”
And if they got hurt?
“That’s not my problem and it’s not Hamas’ problem. It’s the Israeli government’s problem.”
  
Reservistas da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence







Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/