domingo, 22 de maio de 2016

"The Banality of Evil" no Brasil, em Israel na Palestina

O Brasil que resiste aos golpistas

Quem tem um mínimo de cultura já ouviu falar na frase "a banalidade do mal". 
Quem tem certa cultura sabe que foi dita por Hannah Arendt (1906-1975), filósofa judia discípula de um dos maiores pensadores do século XX, seu compatriota alemão Martin Heidegger (1889-1976). 
Quem tem cultura e espírito crítico, já leu seus artigos publicados em 1963 no New Yorker ou/e o livro "Eichmann em Jerusalém", onde a frase foi escrita.
Resumindo a obra, Hannah, que cobriu o processo do nazista Eichmann, em Jerusalém - após este ter sido sequestrado por uma brigada do Mossad em Buenos Aires violando as fronteiras internacionais (que como se sabe, não se aplicam a Israel) - defende a tese que qualquer um é capaz de cometer atos horrendos, desumanos, por falta de espírito crítico e de princípios morais firmes. Baseia sua teoria, que venho comprovando ao longo de minha carreira de jornalista, no fato de Eichmann, de intelecto limitado e um dos organizadores e instrumentadores do holocausto orquestrado por Hitler, ter agido sem preconceito, sem malícia, sem ideologia, simplesmente por obediência e carreirismo.
A Palestina é, e o Brasil está sendo, vítima desta banalidade do mal a que está sujeita a humanidade inteira. 

BRASIL

Há meses que a "elite" brasileira - tanto empresarial (que admitiu participação no golpe) quanto a social e jurídica - vem banalizando o mal por ganânia, ignorância ou sabe-se lá que razão incompreensível.
Na semana passada, um ente querido discordou de minha análise sobre o golpeachment dizendo que a verdadeira razão era a Economia.
Resolvi responder seu email, com todo respeito, aqui, porque talvez haja algum leitor que pense como ele.
Sou jornalista profissional, analista geopolítica, portanto, tenho a obrigação de focar meu olhar além da aparência para enxergar o que se esconde atrás da evidência e da propaganda. A meu ver, a Economia não é um fim e sim um meio de atingir um fim que é 99 por cento das vezes de interesse das classes dominantes.
Na Alemanha, na década de 30 do século XX, Hitler a usou como pretexto para edificar o nazismo e destruir paulatinamente toda oposição às suas ideias totalitárias até a Segunda Guerra Mundial e os campos de concentração de judeus, comunistas, homossexuais, enfim, todos os não arianos e os oponentes ao seu regime.
Quem viveu o período ou quem conhece a história do Brasil, sabe que em 1964, a elite reacionária foi às ruas pedindo a cabeça do presidente João Goulart por causa da reforma agrária, de suas medidas sociais e por seu distanciamento dos EUA.
A história está se repetindo como se os 20 anos de ditadura não tivessem ensinado nada à geração intermediária.
A mesma classe social estudada, mas inculta, desprovida de espíritio crítico e de inteligência abstrata (quando não, pobres de espírito, como Eichmann), que gritou palavrões nos estádios durante a Copa das Confederações e a Copa do Mundo insultando a presidente, enlameou o país inteiro - que riu amarelo, mais de bobo alegre do que por realmente achar graça. Espero.
Depois de pagarem esse mico internacional, os líderes do golpe tiveram o despudor de incitar os brasileiros a não assistirem "Aquarius" por o elenco denunciar o golpe com elegância, diga-se de passagem. Sem os palavrões usados pela "elite" nos estádios. Segundo os golpistas, os atores "envergonharam"... quem? Eles? já provaram que não têm vergonha na cara. Os brasileiros de respeito, ficaram foi honrados e agradecidos à Sônia Braga e seus colegas por terem mostrado ao mundo que o Brasil é superior a esses ladrões de colarinho branco da Câmara, do Senado, e dos burguesinhos que desfilam com babá em passeata.

Marieta Severo bota os pingos nos is no MinC
Patrícia Pillar, idem
Baianos desconhecidos, idem
Em Floripa, idem

Dilma em BH na semana passada, nos braços dos 99%
Depois de fechar o Ministério da Cultura como em 1964, o próximo passo dos golpistas talvez seja de lançar os auto-colantes da era Médici: "Brasil, ame-o ou deixe-o", para tentar marginalizar os resistentes manipulando um patriotismo destorcido nos inocentes úteis que querem proteger seu magro ou gordo patrimônio financeiro a qualquer preço.
O meu Brasil brasileiro é constituído de um povo majoritariamente honrado e de intelectuais e artistas conscientes do perigo e prontos para defender com unhas e dentes nossa Constituição, nossa liberdade de falar, agir, e de escolher quem governa nosso país, em vez de parlamentares, juízes e promotores que só querem derrubar o PT e não o bem do Brasil.
Se o judiciário responsável realmente quisesse moralizar o país, já teria feito limpeza no Congresso e nos estados nos livrando da quadrilha inteira da Lavajato e dos ladrões estaduais, qualquer que fosse o partido. Teria feito um favor ao Brasil, a todos nós. Mas, não, a condenação de José Dirceu a 23 anos de prisão (!) prova que a agenda do judiciário também está traçada desde o início. É partidária e não equânime, como a Justiça que se preza.
Voltando à vaca morta para finalizar, a Economia que Temer defende é a dos Estados Unidos, a das corporations que querem nossos recursos naturais. Não é a nacional. Não é a sua. Não é a minha.
A Economia vai mal em toda parte. Não é um golpe que resolve uma crise mundial. Os golpistas sabem que a Economia não foi/é um catalizador e sim um subterfúgio para que as forças reacionárias sequestrassem nossa democracia, uma vez mais.
A Economia vista pelos golpistas tem tanto cunho político elitista quanto a política de Temer e sua corja tem cunho econômico em benefício próprio e da minoria favorecida.
Banalizar o mal o disfarçando ou justificando-o como se tivesse um motivo, é um perigo.
Todo ato é político. Da omissão ao compromisso ao "apolítico". Assim como a Economia.

Glenn Greenwald entrevista Dilma no Palácio da Alvorada cercado de policiais
(É incrível precisar de jornalista estrangeiro fazer uma entrevista imprescindível! Cadê os brasileiros?)

Eis a entrevista de Glenn com Lula, um mês antes desta acima com a Dilma. Apesar de suas "pedaladas" inaceitáveis, Lula diz muitas verdades que valem a pena ser lembradas.
Portuguese with English subtitles 

Conversa Afiada

TV Afiada

E como tudo no Brasil termina em música...
Caetano arrasa no show protesto no MinC no dia 20 de maio
E a galera avisa: Fora Temer! Golpistas, fascistas, não passarão!
Caetano Veloso sang his song "Hatred" and the audience finished the sentence with Temer's name
Músicos clássicos: "Fora Temer" em paródia 
Carmina Burana, de Carl Orff
Aleluia, de Handel
Pra não dizer que não falei de Flores, do Geraldo Vandré, em coro popular
 

PALESTINA
Na Palestina a banalidade do mal é ainda mais visível.
Por um lado, Mahmoud Abbas e a velha guarda do Fatah fazendo o trabalho sujo de Israel na Cisjordânia.
Por outro, o ocupante se radicalizando.
Passou desapercebido pela mídia, mas em Israel também houve um golpe que põe em risco a democracia interna e prejudica bastante os palestinos.
Falou-se na nomeação do fascista Avigdor Lieberman para o Ministério da Defesa, cargo público mais influente de Israel abaixo do de primeiro ministro - o terceiro é o Chefe do Estado Maior, o quarto, do vice. Não vou estender-me nesse indivíduo que virou ministro da defesa porque ele é ainda mais abominável do que Binyamin Netanyahu, por fora e por dentro, e só de pensar nele, arrepio de nojo.
O leão invisível na nomeação desse indivíduo asqueroso é mais importante do que a nomeação propriamente dita.
No dia de celebração do holocausto, o general Ya'ir Golan, vice-comandante do Estado Maior, fez um discurso (escrito) bastante divulgado em que um parágrafo escandalizou Israel: "If there is something that frightens me about the memories of the Holocaust, it is the knowledge of the awful processes which happened in Europe in general, and in Germany in particular, 70, 80, 90 years ago, and finding traces of them here in our midst, today, in 2016.".
Verdade irrefutável.
Vale dizer que os israelenses têm uma característica que não é só deles, mas que em Israel é doentia. Quando confrontados a uma verdade inconveniente, os israelenses tapam o sol com peneiras que justifiquem discursos e atitudes repressivas contra os palestinos, e ao mesmo tempo, fabricam contra-argumentos ou hasbaras que os exonerem de sua culpa imensa.
O general Golan não é nem liberal, nem anti-sionista, nem bonzinho - participou ativamente das três últimas operações genocidas em Gaza sem dar um pio e subiu na hierarquia reprimindo os palestinos com todos os meios bélicos e cruéis disponíveis. Só que é pragmático e como todo militar, tem instinto de preservação e conhece a realidade no terreno melhor do que os políticos. Por isso caiu na real e verbalizou em público o que os israelenses lúcidos e com espírito crítico pensam e uns pouquíssimos dizem. Foi apedrejado pelo governo e pela mídia (conhecemos este filme no Brasil, da grande mídia a serviço do horrível) por tentar proteger seu país do suicídio.
O general Golan é muito respeitado na IDF. Seu discurso foi pensado e conversado com seus colegas do alto comando militar. Tanto que recebeu apoio de seu superior direto, general Gadi Eisenkot, e do ministro da Defesa general Moshe Ya'lon, que por não retirar seu apoio ao colega acabou perdendo o cargo de ministro... para Lieberman. Foi um golpe, diferente do dos nossos parlamentares, mas um golpe.
Pois não se há de esquecer que os oficiais da Wehrmacht também discordavam das idéias e/ou dos meios de Adolf Hitler e tentaram pará-lo antes que levasse o país à ruína. A tentativa de assassinato fracassou e o exército alemão continuou a cometer barbaridades na frente oriental. Barbaridades que a IDF repete e aprimora há décadas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Como concordo plenamente com Hannah Arendt e estou convencida que um Hitler pode surgir em qualquer parte do mundo em que as condições favorizarem sua emergência, Israel hoje, com Lieberman no Ministério da Defesa, é um perigo real. Eminente e iminente porque além do fascismo evidente que ele representa, há os generais Ehud Barak, Moshe Yalon, e outros criminosos de guerra que se encontram acidentalmente fora do governo e que acusam sua "guinada" extremista não por se oporem ao projeto sionista de limpeza étnica da Palestina e sim por temor de alienação da comunidade internacional à qual Israel estará condenado com um genocício expeditivo, além de explicito.
O objetivo de Lieberman, Barak, Yalon, Golan, e civis como Livni, é o mesmo. O que muda é a maneira de realizar o crime. O crime é o sionismo. O projeto do grande Israel, impossível, em uma terra que há séculos e milênios é palestina.
A sociedade israelense já banalizou a limpeza étnica da Palestina e está propensa a abraçar a ideologia do primeiro predador que a manipule com jeito. Avigdor Lieberman pode ser sim, um novo Hitler. E ao contrário da Alemanha da década de trinta, encontrará pouquíssima oposição de fundo.
A história dá voltas e se repete nos lugares em que menos se espera.
Mas a história se repete sempre, de forma nítida, com avisos intermitentes e sinais crescentes.
A nomeação de Lieberman é um deles.
Com a ogra Hillary Clinton no governo dos EUA, o terreno vai estar livre para Netanyahu, Lieberman e os sionistas que não latem, mas mordem e matam, condenarem o Oriente Médio a Apocalipse Now"Horror!" Repetia Marlon Brando no final. Pois é.
Por causa da banalização do mal e de sua banalidade intrínseca.
The social clima in Israel/ O clima social em Israel, by Dan Cohen and David Sheen
Dan CohenOn April 19, 2016, thousands rallied at Tel Aviv City Hall in support of an Israeli soldier who had been filmed executing an immobilized Palestinian man. As I filmed the gathering crowd, I was attacked by one rally-goer, then by a mob of rally-goers. Articles about the rally and the attack: (1) https://electronicintifada.net/blogs/...(2) http://mondoweiss.net/2016/04/thousan... Video of the rally itself: http://bit.ly/elorazaria.

Enquanto isso, o Congresso belga lançou a candidatura de Marwan Barghouti ao Prêmio Nobel da Paz. Belgian Parliament nominates Marwan Barghouti for Nobel Peace Prize

When a little child says "If we would have died it would have been better." Unbelievable this is tolerated. This horror and inhumane siege & bombing that has never stopped since 2014 Operation Protective EdgeKnow this is life in Gaza because of Israel: 
Quando uma criança diz: Teria preferido morrer durante os bombardeios em 2014 do que ir morrendo aos poucos, dá calafrio.

IMEU: 75% of Palestinian children interviewed reported enduring physical violence by Israeli forces after being arrested / 75% dos meninos palestinos entrevistados pelo IMEU denunciaram abusos durante a detenção.


Note how Israel has intentionally choked the Gaza Strip, including, crucially, 
by preventing the "exit" of goods.

AJ+: Political tourism in Jerusalem
The Banality of Evilby Margareth Von Trotta with Barbara Sukowa. Full movie 1h39'

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