Há acordos internacionais assinados por países europeus situados a milhares de quilômetros dos povos interessados que geram problemas temporários, intermitentes e muitas vezes crônicos, poucos ou muitos anos mais tarde da assinatura dos ditos Tratados.
A África foi vítima destas divisões aleatórias e vira e mexe as etnias, mal-colocadas em territórios, lutam dentro de uma Nação fabricada com culturas distintas e até opostas.
O Oriente Médio também é prejudicado por várias divisões entre impérios.
O primeiro Tratado que mudou a geografia dos países árabes foi o chamado Sykes-Picot, que posteriormente permitiria que a Grã-Bretanha implementasse um outro que prejudicaria os palestinos décadas a fio, até agora - o de inicitativa do ministro das relações exteriores Arthur Balfour, em 1917. Este famigerado Tratado prometeu aos judeus uma "homeland" na Palestina contra a expectativa sionista original que pleiteava a Argentina.
Quando o império otomano desmoronou em 1918, foi dividido em dois eixos. O Noroeste e o Sudoeste. Mais ou menos de Mosul no norte do Iraque passando pelo deserto sírio até a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Mosul, ficou com os franceses. Com a demanda comercial crescente de petróleo a Inglaterra acabou "esquecendo" o Acordo e Mosul foi parar na zona britânica dentro do Estado do Iraque, antiga Mesopotâmia. Londres assegurou assim sua parte de ouro negro.
Nessa época Iraque, Palestina, Transjordânia estavam sob Mandato Britânico; a Síria e o Líbano, sob Mandato francês; a Líbia, italiano, etcétera.
Veio a Segunda Guerra e entre cobranças e alianças, os "Mandatos" europeus se dissolveram e Estados foram formados um pouco como haviam sido ocupados, indiscriminadamente.
Com exceção da Palestina, que em vez de ser regularizada recuperando sua autonomia com a partida dos britânicos, ficou apátrida e ocupada por Israel no território que deveria ser seu Estado.
O tempo passou, o império atravessou o Atlântico e os Estados Unidos saíram fomentando ditaduras na nosso Cone Sul, na Ásia, guerras, e mais tarde aventurou-se pelos países árabes criando divergências e armando indivíduos mal-intencionadas por interesses imediatos. E um dia sombrio surgiu o Al-Qaeda.
Primeiro veio Ossama Ben-Laden, que era a versão "light" criado pelos EUA e logo auto-emancipado. Ben-Laden aplicava a pena do "quem com ferro fere com ferro será ferido", mas respeitava certas fronteiras, como por exemplo, as dos países árabes. Comparado com os "novos terroristas" que polulam no Iraque e na Síria, poder-se-ia dizer que tinha até alguns princípios.
Barack Obama aplicou a vingança o executando o "aposentado" desarmado, ele virou mártir e deixou o campo aberto para mentes mais estreitas ainda. (Há, sempre há pior. Basta dar oportunidade. Talvez daqui a cinquenta anos o pragmatismo irresponsável do império estadunidense comparado com a crueldade do chinês seja até fichinha).
A nova geração que já estava galgando os degraus de comando do Al-Qaeda desabrochou, no Iraque, em uma semi-dissidência extremista chamada Islamic State in Iraq and the Levant, ISIL, ou ISIS - acrônimo confuso que usa grande parte da mídia ocidental. De lá, se exportaram para a Síria com o nome Jabhat an-Nuṣrah li-Ahl ash-Shām - Frente de Suporte para o povo sírio, encurtado para Frente Síria, dita Nusrah, um grupo para-militar que há três anos vem causando terríveis estragos na Síria, da qual vem tenta tomar cidades e regiões inteiras, até o Líbano.
Esta nova gangue ISIL-Nusrah é de arrepiar os cabelos e dar frio na barriga só de vê-los em sua indumentária preta, seus capuzes e seus olhares ameaçantes. O discurso é obtuso e os atos são de uma selvageria planificada.
Terrorismo não é a palavra adequada para essa geração selvagem. São conquistadores bárbaros. Talvez mais bárbaros do que os antagonistas dos romanos à origem deste adjetivo. O ISIL, e suas filiais sírio-libanesas, é composto dos piores salafistas de países variados, unidos só pelo obscurantismo.
Seus "soldados" vão de jovens incautos aliciados através das redes sociais, passando por militares e policiais desempregados até a bandidos, sequestradores, infratores de leis humanas e jurídicas básicas. Reunidos por um homem que decidiu ter um paísão próprio para impor-se em rei: o Islamic State in Iraq and the Levant.
Tudo começou no Iraque caótico pós-invasão/ocupação britânico-estadunidense. George W. Bush e Tony Blair forneceram a mão-de-obra armada quando demitiram todos funcionários públicos do Exército e da Polícia de Saddam Hussein. Da noite pro dia, dezenas de milhares de jovens e pais de família ficaram desempregados e sem nenhuma perspectiva de trabalho. Até aparecer os "benfeitores" do ISIS, que os empregaram já com as armas com as quais haviam ficado.
Tudo começou com atentados esporádicos nas barbas dos soldados estadunidenses cujos oficiais acabaram se cansando e aconselhando seu presidente a lavar as mãos, deixar sua Embaixada imensa continuar a espoliação, contratar empresas de "segurança", ou seja, de mercenários para varrer as cidades, e ir-se para o Afeganistão combater os Talibã - que, diga-se de passagem, são combatentes locais sem ambição de expansão. Só combatem a ocupação.
Hoje o ISIL dispõe, entre a Síria e o Iraque, de cerca de dez mil para-militares treinados, e determinados, a quê, precisamente? Ao que al-Baghdadi mandar.
Através de suas operações militares no Iraque, Síria e Líbano, pleiteiam o tal Estado que desejam modelar no extremo religioso que permita sua união nacional pela obtusidade, por sua interpretação destorcida do Alcorão, nele continuarem a modelar exércitos de um Allah sectário e de lá patrocinarem e protagonizarem um retrocesso geral nos países árabes e depois, só Deus sabe.
Forçaram a barra na Síria e Bashar el-Assad vem aguentando firme com a ajuda direta do Irã (que não quer extremistas à porta de casa) e indireta da Rússia, que não quer perder sua única base militar nos países árabes.
No Iraque encontraram oposição recalcitrante e fraca.
O Iraque estava em frangalhos quando os GIs foram embora deixando em seu lugar uma penca de mercenários estrangeiros e uma geração iraquiana jovem com futuro incerto e cheia de ódio - condimentos propícios a violência e revoltas.
Quando os jihadistas do ISIL resolveram imaginar seu país ideal (recortado de países já estabelecidos) o nome deste virou também sua legenda.
Começaram a conquista do Iraque por Fallujah, em janeiro de 2014. Cidade em que o exército estadunidense cometeu atrocidades que a população talvez não esqueça nunca - al Bagdhadi serviu-se desta memória para recrutar militantes.
O governo fraco que ficou em Bagdá deixou correr, um pouco por inconsciência outro pouco por negligência, pois estavam acostumados a deixar tudo nas mãos dos patrões em Washington.
Aí eles foram para Tikrit, e depois Mosul, a segunda cidade do Iraque em tamanho e importância econômica. De lá para Raqqa foi um pulo que deram até o país vizinho.
Lá na Síria pleiteavam dominar de Homs a Hama até Aleppo. Cidades onde cometeram atrocidades que foram então atribuídas a Assad, a cujo exército resistiram com a violência que os caracteriza por ondem passam.
Depois começaram a atacar os próprios rebeldes sírios bem-intencionados.
Desde o começo da "rebeldia" na Síria eu disse que havia forças extremistas estrangeiras infiltradas e que sua quantidade aumentava a olhos vistos. Falei quase sozinha porque os poucos jornalistas que viam isso temiam ir de encontro ao pensamento único do politicamente correto neste conflito, que era "derrubar o ditador Assad". Dizer a verdade era mal-visto.
Hoje Assad conseguiu resgatar Homs, quebrar o sítio de Aleppo e, bem que mal, segurar Hama para que não caia no precipício. E até os rebeldes sírios já querem mesmo é que ele dê conta do recado e que recupere o país pra eles.
Três anos de destruição, para quê? Para estrangeiros fanáticos tomarem tudo deles. Mas Bashar el-Assad não quer perder nem um alqueire do país que herdou do pai. Nem os "rebeldes" locais, que há meses avisaram seus chefes bem acomodados em Doha e Ankara do perigo dos infiltrados. E estes os mandaram calar-se.
No Iraque a história é outra. O governo é frágil, o exército debilizado, e os meios financeiros precários e usados mais para corrupção do que para reforçar o exército.
Em contrapartida, nos últimos anos a família real saudita vem investindo bilhões de dólares nessas gangues jihadistas que estão tentando conquistar a Síria e que conquistaram cidades importantes do Iraque.
Por incrível que pareça, são os maiores aliados dos Estados Unidos nos países árabes, a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais inclemente e um dos maiores patrocinadores dos salafistas, junto com os outros ditadores vizinhos. Mas nada é feito oficialmente. São "doações" "pessoais" anônimas.
Enfim, doação é para obra de caridade, para organizações do bem. Este dinheiro é é patrocínio de terror (im)puro e simples.
E por quê os poderosos de Ryad fariam isso?
Porque os saudistas se consideram a fundação do poder sunita na região e mantiveram o controle da riqueza petroleira no Golfo árabe até a derrubada de Saddam Hussein por ter querido voar com as próprias asas, mudar a moeda de negociação do petróleo, e, consequentemente, provocar a queda mais rápida do império estadunidense.
Depois que foi substituído pela maioria xiita no governo de Bagdá, aliada ao Irã, os sauditas resolveram intervir para mostrar quem manda da maneira brusca que sabem - a mesma que usam contra as mulheres sauditas que ousam querer fazer coisas tão perversas quanto dirigir carro.
(Resta saber se a família real saudita consegue/guirá controlar estes possessos do Isis como controla suas concidadãs.)
Desde a tomada do Iraque que Ryad reina soberana sobre a OPEP em preço e divisa sem oposição nenhuma, já que é o maior bully do Irã, estrangulado pelas sanções de Washington. Sanções impostas por razões político-econômicas em favor da Arábia Saudita e paranóicas de Israel, não por causa de um pseudo-perigo atômico, diga-se de passagem.
Com o colapso do governo de Bagdá, o petróleo de Mosul foi parar nas mãos dos sunitas. Dinheiro para financiar o ISIL não falta, considerando os poços de petróleo já existentes e as vastas reservas inexploradas localizadas no deserto próximo de Bagdá que também se encontra sob controle dos extremistas sunitas e não do governo central.
Além do caminho mais fácil, o da pilhagem. A primeira coisa que o ISIL faz quando conquista uma cidade é esvaziar os bancos e soltar todos os presos, que são logo convertidos em "soldados". Só em Mosul roubaram mais de US$400 milhões. Portanto, dinheiro não falta mesmo. Nem mão de obra criminosa. E já dispõem de alguns tanques.
O pior que pode acontecer nesta história é Obama convencer o Irã, com promessas de amenizar ou acabar com o bloqueio que lhe impõe há anos, a recomeçar uma guerra contra o Iraque. A da década de 80 do século XX levou à morte de 1.5 milhões de xiitas e sunitas armados por estrangeiros.
Lembro que na época as potências ocidentais estavam mais do que satisfeitas com esta guerra entre Teerã e Bagdá. Além de não perderem nem um soldado, os Estados Unidos e seus aliados lucraram milhões em venda de armas, inclusive químicas, que despejaram no Iraque para Saddam Hussein usar à vontade nos iranianos.
E, mais uma vez, por incrível que pareça, na época, Israel foi um dos países que mais venderam armas para o Irã. Negócio é negócio e Tel Aviv regozijava de ver não-judeus se matando e eles enchendo os bolsos com dinheiro sujo de sangue. Mas já estão acostumados a lucrar com desgraça alheia, na Palestina.
O freguês de ante-ontem, inimigo de ontem, com a ameaça do terror verdadeiro (o sem fronteiras que é o ISIL) pode virar o amigo do momento. Pensa Washington. E Obama já apelou para Rohani que também tem horror de extremista.
Pois o fato é que os Estados Unidos e seus aliados desperdiçam adjetivos com partidos e países que antagonizam seu jugo economico-colonialista - "terroristas' para o Hizbollah e o Hamas por defenderem seus territórios legais; "extremista" para o Irã que se dá ao direito de escolher seus próprios valores democráticos - e quando aparecem organizações merecedoras dessas etiquetas, elas estão gastas.
Hoje, há duas formas e frentes de terror no mundo.
O terror implícito, de subjugação através da espoliação, destruição e humilhação diária, constante, que Israel aplica na Palestina na limpeza étnica que tem feito nas últimas décadas em nome do sionismo.
E o terror explícito, de subjugação através da força bruta, sem nuança, selvagem, que o ISIS tem aplicado na última década no Iraque, na Síria, no Líbano.
Terror não é defesa, é ataque. Terror não é reação desesperada e sim ação calculada. Terror é força, é arsenal de peso e não pedrada e estilingada.
O ISIL poderia ter sido contido quando era embrionário se essa fronteira linguística fosse reconhecida e tivesse sido respeitada e os EUA tivessem encarado o problema inerno com seriedadede. E com as devidas armas, quando os Estados Unidos ainda estava presentes oficialmente no Iraque.
(Quanto ao outro terrorismo, o de Israel, basta a intervenção legal e militar da ONU. Como se sabe.)
Uma outra intervenção militar direta doso Estados Unidos no Iraque hoje seria mais um erro crasso. Têm de desfazer o processo no qual investiram por ignorância e preparar os xiitas para defenderem seu Estado dos extremistas.
(Falando em xiita, nunca entendi porquê "xiita" virou no Ocidente adjetivo de extremista. Não deveria. Há xiitas esclarecidos como há sunitas. Hoje, os extremistas são todos sunitas. Acho que talvez "xiita" tenha virado adjetivo pejorativo por causa da propaganda anti-iraniana. Mas é um erro. O regime iraniano é conservador, tradicionalista, mas não é extremista como a Arábia Saudita, cuja família real é sunita.)
Acontece que tanto no Iraque quanto na Líbia, a paz só era mantida por causa dos ditadores que tinham a mão pesada, infelizmente necessária. Como é na Síria.
Agora vou responder às perguntas que me fizeram sobre o Islamic State in Iraq and the Levant, ou ISIL.
Primeiro, quem são eles.
São "jihadistas" sunitas chiefiados pelo iraquiano Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai, vulgo Dr. Ibrahim; vulgo, Abu Bakr al-Baghdadi al-Husseini al-Qurashi; vulgo Abu Du'a; emir de Rawah. É tratado de doutor porque tem um doutorado em Islamismo e embora seja chamado de "emir" (príncipe, em árabe), não descende de nenhuma família real árabe.
Ele nasceu em 1971, em Samarra, cidade "nova" (833 DC) tombada pela UNESCO. Antes era um dos maiores centros urbanos da antiga Mesopotâmia, uma jóia à beira do rio Tigre. Hoje um pouco dilapidada devido à invasão de Inglaterra e Estados Unidos em 2003, aos recentes conflitos inter-religiosos e à proximidade de Bagdá, 125 quilômetros.
Baghdadi, é o "nome de guerra" do chefe do ISIS. Esta palavra não é nome e sim indicação de sua origem "de Bagdá".
Al Baghdadi é um salafista que aderiu ao Al-Qaeda logo após sua criação. Foi um "soldado exemplar" responsável do enquadramento de extremistas para-militares sírios e sauditas no Iraque.
Os estadunidenses o prenderam em 2003 no campo de detenção de Bucca, um dos mais violentos da CIA, e lá ele ficou entre torturas e interrogatórios até 2009.
Foi à sua saída que declarou a criação do ISIS e foi com este que ganhou proeminência.
Dizer que Baghdadi é um produto do tratamento que lhe foi inflingido no campo de detenção estadunidense talvez seja exagero. Ele já tinha tendência malígna. Mas dá para dizer que os "maus-tratos" serviram para aumentar seu ódio e para ensinar-lhe técnicas de tortura que lhe servem bastante em sua carreira de líder terrorista.
O rascunho do que é hoje o ISIL era chefiado pelo jordaniano Abu Mussab al-Zarqaui, executado em uma operação militar dos Estados Unidos no dia 18 de a abril de 2010.
Um mês depois, no dia 17 de maio, chegou às mãos da mídia um comunicado nomeando al Baghdadi "emir" do movimento e o ISIS começou a tomar forma no terreno.
Sob suas ordens, os ataques aos xiitas e aos cristãos iraquianos proliferaram no Iraque e no dia 31 de outubro de 2010 o bando invadiu a catedral de Bagdá e no fim do sequestro acabou matando dois padres, seis policiais e 46 pessoas que assistiam à missa.
As operações de intimidação e os golpes sanguinários continuaram, se multiplicaram e quando Ossama Ben Laden foi executado em maio de 2011, al Baghdadi foi um dos primeiros a jurar fidelidade a seu auto-proclamado sucessor, o sunita egípcio Ayman al-Zauahiri - bem criado no Cairo, filho de professor universitário, que integrou a Irmandade Muçulmana aos 14 anos, teve uns probleminhas, mas continuou estudando, formou-se em Medicina, especializou-se em cirurgia, e um ano mais tarde, em 1979, integrou o Jihad, foi se radicalizando até parar no Afeganistão (com Ben Laden patrocinado pelos EUA para combater a então União Soviética) e de lá já saiu fiel a Ben Laden e ao Al Qaeda.
A associação de al Baghdadi e al Zauahiri durou quanto tinha de durar. Ou seja, até o aprendiz suplantar o mestre em todos os domínios malígnos.
Os atentados no Iraque e a pressão sobre a população de Monsul e alhures para a formação do tal Estado islâmico se intensificaram já em 2011 e eram preocupantes. Quando os EUA se retiraram de lá, deixaram o problema em andamento e lavaram as mãos como Pilatus.
O ISIL aproveitou a oportunidade do movimento anti-Assad na Síria para ganhar terreno. O que fez a passos largos, sob indiferença ocidental, todos mais preocupados em derrubar Assad do que acreditar no que ele dizia e o que era óbvio quando se via .
Hoje, para combater Baghdadi na Síria e no Iraque o Ocidente tem de encarar a realidade e ser objetivo.
Na Síria, têm de deixar Bashar al-Assad agir contra o Nusrah e talvez até ajudar o Exército sírio.
No Iraque, têm de preparar os xiitas para combaterem o ISIL agora, enquanto os sunitas fanáticos reforçados pelos prisioneiros comuns ainda são minoria (embora organizadíssima - bastou 800 deles para derrotarem milhares de soldados iraquianos despreparados).
Mas sobretudo, nem Estados Unidos nem OTAN deveriam intervir diretamente em nenhum dos dois países.
Na Síria, com apoio militar, Bashar dá conta do recado. Sobretudo se os ex-rebeldes nacionais ajudarem.
No Iraque, têm de devolver ao governo os meios militares que lhe foram tomados quando o país foi invadido e ocupado.
O que não se pode fazer é bobagem ditada pela conhecida miopia estadunidense. Ou seja, libertar extremistas rivais com a esperança que estes resolvam o problema em uma guerra de gangues - como o rei da Jordânia acabou de ser obrigado a fazer soltando um perigoso líder salafista, oponente a Baghdadi, mas próximo do Nusrah que está destruindo a Síria. Na próximas semanas ou meses talvez ele façam o que esperam dele, e depois talvez vire um Ben Laden. Nesses casos o tiro sai sempre pela culatra.
Este problema do ISIL/Nusrah é realmente grave. Já se fala em separação do Iraque como se fosse um fato.
Nada a ver com a emancipação da Crimeia, separação étno-cultural voluntária.
Nada a ver com a luta intestina entre o Sudeste e o Oeste da Ucrânia, em que a diplomacia, se quiser, resolve tudo em uma sentada de representantes ucranianos de ambos os lados, se os EUA deixarem.
Não, no Iraque e na Síria ameaçados pelo ISIL/Nusrah não há vez para diplomacia porque os "conquistadores" salafistas desprezam o diálogo, só conhecem a voz da violência e da crueldade até com parentes.
A despeito de tudo o que disse acima, sou visceralmente contra intervenção estrangeira em todos os conflitos intra-fronteiras.
Porém na realpolítica a não-intervenção estrangeira é uma ironia. Desde a Segunda Guerra Mundial, antes de uma guerra civil há sempre uma incitação externa e as razões são sempre financeiras. É para um estrangeiro lucrar.
Dito isto, alguns acham que a solução é separar o Iraque entre as três comunidades que parecem não se entenderem. Que talvez um Estado xiita, outro sunita, outro kurdo resolvessem o problema a curto, médio e longo prazo.
Eu acho que quem tem de decidir, são os iraquianos. Por enquanto, eles não querem ver seu país dividido nem sequestrado metro a metro pelo ISIL que quer ficar com o petróleo e o país inteiro.
Um governo de união nacional? Que união? Houve eleições e al Bagdadi nem se candidatou ao pleito. Ele quer governar na marra e não em um Estado de direito.
Aliás al Bagdadi e seu ISIL criaram asas que estão cada vez mais fortes e largas. Ao ponto de desafiarem até o Al-Qaeda.
Neste caso, o problema tem de ser resolvido por quem criou. A Inglaterra e os Estados Unidos. Se houvesse justiça para os assassinos em massa que matam com mandato, George W. Bush e Tony Blair deveriam pagar por seus crimes. Como só há justiça para os líderes warmongers de país sub-desenvolvido, quem vai ter de resolver o problema são os Estados Unidos, que chegaram em um país autoritário, mas arrumado, esculhambaram e foram embora deixando tudo bagunçado.
O Oriente Médio também é prejudicado por várias divisões entre impérios.
O primeiro Tratado que mudou a geografia dos países árabes foi o chamado Sykes-Picot, que posteriormente permitiria que a Grã-Bretanha implementasse um outro que prejudicaria os palestinos décadas a fio, até agora - o de inicitativa do ministro das relações exteriores Arthur Balfour, em 1917. Este famigerado Tratado prometeu aos judeus uma "homeland" na Palestina contra a expectativa sionista original que pleiteava a Argentina.
Quando o império otomano desmoronou em 1918, foi dividido em dois eixos. O Noroeste e o Sudoeste. Mais ou menos de Mosul no norte do Iraque passando pelo deserto sírio até a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Mosul, ficou com os franceses. Com a demanda comercial crescente de petróleo a Inglaterra acabou "esquecendo" o Acordo e Mosul foi parar na zona britânica dentro do Estado do Iraque, antiga Mesopotâmia. Londres assegurou assim sua parte de ouro negro.
Nessa época Iraque, Palestina, Transjordânia estavam sob Mandato Britânico; a Síria e o Líbano, sob Mandato francês; a Líbia, italiano, etcétera.
Veio a Segunda Guerra e entre cobranças e alianças, os "Mandatos" europeus se dissolveram e Estados foram formados um pouco como haviam sido ocupados, indiscriminadamente.
Com exceção da Palestina, que em vez de ser regularizada recuperando sua autonomia com a partida dos britânicos, ficou apátrida e ocupada por Israel no território que deveria ser seu Estado.
O tempo passou, o império atravessou o Atlântico e os Estados Unidos saíram fomentando ditaduras na nosso Cone Sul, na Ásia, guerras, e mais tarde aventurou-se pelos países árabes criando divergências e armando indivíduos mal-intencionadas por interesses imediatos. E um dia sombrio surgiu o Al-Qaeda.
Primeiro veio Ossama Ben-Laden, que era a versão "light" criado pelos EUA e logo auto-emancipado. Ben-Laden aplicava a pena do "quem com ferro fere com ferro será ferido", mas respeitava certas fronteiras, como por exemplo, as dos países árabes. Comparado com os "novos terroristas" que polulam no Iraque e na Síria, poder-se-ia dizer que tinha até alguns princípios.
Barack Obama aplicou a vingança o executando o "aposentado" desarmado, ele virou mártir e deixou o campo aberto para mentes mais estreitas ainda. (Há, sempre há pior. Basta dar oportunidade. Talvez daqui a cinquenta anos o pragmatismo irresponsável do império estadunidense comparado com a crueldade do chinês seja até fichinha).
A nova geração que já estava galgando os degraus de comando do Al-Qaeda desabrochou, no Iraque, em uma semi-dissidência extremista chamada Islamic State in Iraq and the Levant, ISIL, ou ISIS - acrônimo confuso que usa grande parte da mídia ocidental. De lá, se exportaram para a Síria com o nome Jabhat an-Nuṣrah li-Ahl ash-Shām - Frente de Suporte para o povo sírio, encurtado para Frente Síria, dita Nusrah, um grupo para-militar que há três anos vem causando terríveis estragos na Síria, da qual vem tenta tomar cidades e regiões inteiras, até o Líbano.
Esta nova gangue ISIL-Nusrah é de arrepiar os cabelos e dar frio na barriga só de vê-los em sua indumentária preta, seus capuzes e seus olhares ameaçantes. O discurso é obtuso e os atos são de uma selvageria planificada.
Terrorismo não é a palavra adequada para essa geração selvagem. São conquistadores bárbaros. Talvez mais bárbaros do que os antagonistas dos romanos à origem deste adjetivo. O ISIL, e suas filiais sírio-libanesas, é composto dos piores salafistas de países variados, unidos só pelo obscurantismo.
Seus "soldados" vão de jovens incautos aliciados através das redes sociais, passando por militares e policiais desempregados até a bandidos, sequestradores, infratores de leis humanas e jurídicas básicas. Reunidos por um homem que decidiu ter um paísão próprio para impor-se em rei: o Islamic State in Iraq and the Levant.
Tudo começou com atentados esporádicos nas barbas dos soldados estadunidenses cujos oficiais acabaram se cansando e aconselhando seu presidente a lavar as mãos, deixar sua Embaixada imensa continuar a espoliação, contratar empresas de "segurança", ou seja, de mercenários para varrer as cidades, e ir-se para o Afeganistão combater os Talibã - que, diga-se de passagem, são combatentes locais sem ambição de expansão. Só combatem a ocupação.
Hoje o ISIL dispõe, entre a Síria e o Iraque, de cerca de dez mil para-militares treinados, e determinados, a quê, precisamente? Ao que al-Baghdadi mandar.
Através de suas operações militares no Iraque, Síria e Líbano, pleiteiam o tal Estado que desejam modelar no extremo religioso que permita sua união nacional pela obtusidade, por sua interpretação destorcida do Alcorão, nele continuarem a modelar exércitos de um Allah sectário e de lá patrocinarem e protagonizarem um retrocesso geral nos países árabes e depois, só Deus sabe.
Forçaram a barra na Síria e Bashar el-Assad vem aguentando firme com a ajuda direta do Irã (que não quer extremistas à porta de casa) e indireta da Rússia, que não quer perder sua única base militar nos países árabes.
No Iraque encontraram oposição recalcitrante e fraca.
O Iraque estava em frangalhos quando os GIs foram embora deixando em seu lugar uma penca de mercenários estrangeiros e uma geração iraquiana jovem com futuro incerto e cheia de ódio - condimentos propícios a violência e revoltas.
Quando os jihadistas do ISIL resolveram imaginar seu país ideal (recortado de países já estabelecidos) o nome deste virou também sua legenda.
Começaram a conquista do Iraque por Fallujah, em janeiro de 2014. Cidade em que o exército estadunidense cometeu atrocidades que a população talvez não esqueça nunca - al Bagdhadi serviu-se desta memória para recrutar militantes.
O governo fraco que ficou em Bagdá deixou correr, um pouco por inconsciência outro pouco por negligência, pois estavam acostumados a deixar tudo nas mãos dos patrões em Washington.
Aí eles foram para Tikrit, e depois Mosul, a segunda cidade do Iraque em tamanho e importância econômica. De lá para Raqqa foi um pulo que deram até o país vizinho.
Lá na Síria pleiteavam dominar de Homs a Hama até Aleppo. Cidades onde cometeram atrocidades que foram então atribuídas a Assad, a cujo exército resistiram com a violência que os caracteriza por ondem passam.
Depois começaram a atacar os próprios rebeldes sírios bem-intencionados.
Desde o começo da "rebeldia" na Síria eu disse que havia forças extremistas estrangeiras infiltradas e que sua quantidade aumentava a olhos vistos. Falei quase sozinha porque os poucos jornalistas que viam isso temiam ir de encontro ao pensamento único do politicamente correto neste conflito, que era "derrubar o ditador Assad". Dizer a verdade era mal-visto.
Hoje Assad conseguiu resgatar Homs, quebrar o sítio de Aleppo e, bem que mal, segurar Hama para que não caia no precipício. E até os rebeldes sírios já querem mesmo é que ele dê conta do recado e que recupere o país pra eles.
Três anos de destruição, para quê? Para estrangeiros fanáticos tomarem tudo deles. Mas Bashar el-Assad não quer perder nem um alqueire do país que herdou do pai. Nem os "rebeldes" locais, que há meses avisaram seus chefes bem acomodados em Doha e Ankara do perigo dos infiltrados. E estes os mandaram calar-se.
Em contrapartida, nos últimos anos a família real saudita vem investindo bilhões de dólares nessas gangues jihadistas que estão tentando conquistar a Síria e que conquistaram cidades importantes do Iraque.
Por incrível que pareça, são os maiores aliados dos Estados Unidos nos países árabes, a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais inclemente e um dos maiores patrocinadores dos salafistas, junto com os outros ditadores vizinhos. Mas nada é feito oficialmente. São "doações" "pessoais" anônimas.
Enfim, doação é para obra de caridade, para organizações do bem. Este dinheiro é é patrocínio de terror (im)puro e simples.
E por quê os poderosos de Ryad fariam isso?
Porque os saudistas se consideram a fundação do poder sunita na região e mantiveram o controle da riqueza petroleira no Golfo árabe até a derrubada de Saddam Hussein por ter querido voar com as próprias asas, mudar a moeda de negociação do petróleo, e, consequentemente, provocar a queda mais rápida do império estadunidense.
Depois que foi substituído pela maioria xiita no governo de Bagdá, aliada ao Irã, os sauditas resolveram intervir para mostrar quem manda da maneira brusca que sabem - a mesma que usam contra as mulheres sauditas que ousam querer fazer coisas tão perversas quanto dirigir carro.
(Resta saber se a família real saudita consegue/guirá controlar estes possessos do Isis como controla suas concidadãs.)
Desde a tomada do Iraque que Ryad reina soberana sobre a OPEP em preço e divisa sem oposição nenhuma, já que é o maior bully do Irã, estrangulado pelas sanções de Washington. Sanções impostas por razões político-econômicas em favor da Arábia Saudita e paranóicas de Israel, não por causa de um pseudo-perigo atômico, diga-se de passagem.
Com o colapso do governo de Bagdá, o petróleo de Mosul foi parar nas mãos dos sunitas. Dinheiro para financiar o ISIL não falta, considerando os poços de petróleo já existentes e as vastas reservas inexploradas localizadas no deserto próximo de Bagdá que também se encontra sob controle dos extremistas sunitas e não do governo central.
Além do caminho mais fácil, o da pilhagem. A primeira coisa que o ISIL faz quando conquista uma cidade é esvaziar os bancos e soltar todos os presos, que são logo convertidos em "soldados". Só em Mosul roubaram mais de US$400 milhões. Portanto, dinheiro não falta mesmo. Nem mão de obra criminosa. E já dispõem de alguns tanques.
O pior que pode acontecer nesta história é Obama convencer o Irã, com promessas de amenizar ou acabar com o bloqueio que lhe impõe há anos, a recomeçar uma guerra contra o Iraque. A da década de 80 do século XX levou à morte de 1.5 milhões de xiitas e sunitas armados por estrangeiros.
Lembro que na época as potências ocidentais estavam mais do que satisfeitas com esta guerra entre Teerã e Bagdá. Além de não perderem nem um soldado, os Estados Unidos e seus aliados lucraram milhões em venda de armas, inclusive químicas, que despejaram no Iraque para Saddam Hussein usar à vontade nos iranianos.
E, mais uma vez, por incrível que pareça, na época, Israel foi um dos países que mais venderam armas para o Irã. Negócio é negócio e Tel Aviv regozijava de ver não-judeus se matando e eles enchendo os bolsos com dinheiro sujo de sangue. Mas já estão acostumados a lucrar com desgraça alheia, na Palestina.
O freguês de ante-ontem, inimigo de ontem, com a ameaça do terror verdadeiro (o sem fronteiras que é o ISIL) pode virar o amigo do momento. Pensa Washington. E Obama já apelou para Rohani que também tem horror de extremista.
Pois o fato é que os Estados Unidos e seus aliados desperdiçam adjetivos com partidos e países que antagonizam seu jugo economico-colonialista - "terroristas' para o Hizbollah e o Hamas por defenderem seus territórios legais; "extremista" para o Irã que se dá ao direito de escolher seus próprios valores democráticos - e quando aparecem organizações merecedoras dessas etiquetas, elas estão gastas.
Hoje, há duas formas e frentes de terror no mundo.
O terror implícito, de subjugação através da espoliação, destruição e humilhação diária, constante, que Israel aplica na Palestina na limpeza étnica que tem feito nas últimas décadas em nome do sionismo.
E o terror explícito, de subjugação através da força bruta, sem nuança, selvagem, que o ISIS tem aplicado na última década no Iraque, na Síria, no Líbano.
Terror não é defesa, é ataque. Terror não é reação desesperada e sim ação calculada. Terror é força, é arsenal de peso e não pedrada e estilingada.
O ISIL poderia ter sido contido quando era embrionário se essa fronteira linguística fosse reconhecida e tivesse sido respeitada e os EUA tivessem encarado o problema inerno com seriedadede. E com as devidas armas, quando os Estados Unidos ainda estava presentes oficialmente no Iraque.
(Quanto ao outro terrorismo, o de Israel, basta a intervenção legal e militar da ONU. Como se sabe.)
Uma outra intervenção militar direta doso Estados Unidos no Iraque hoje seria mais um erro crasso. Têm de desfazer o processo no qual investiram por ignorância e preparar os xiitas para defenderem seu Estado dos extremistas.
(Falando em xiita, nunca entendi porquê "xiita" virou no Ocidente adjetivo de extremista. Não deveria. Há xiitas esclarecidos como há sunitas. Hoje, os extremistas são todos sunitas. Acho que talvez "xiita" tenha virado adjetivo pejorativo por causa da propaganda anti-iraniana. Mas é um erro. O regime iraniano é conservador, tradicionalista, mas não é extremista como a Arábia Saudita, cuja família real é sunita.)
Acontece que tanto no Iraque quanto na Líbia, a paz só era mantida por causa dos ditadores que tinham a mão pesada, infelizmente necessária. Como é na Síria.
Agora vou responder às perguntas que me fizeram sobre o Islamic State in Iraq and the Levant, ou ISIL.
Primeiro, quem são eles.
São "jihadistas" sunitas chiefiados pelo iraquiano Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai, vulgo Dr. Ibrahim; vulgo, Abu Bakr al-Baghdadi al-Husseini al-Qurashi; vulgo Abu Du'a; emir de Rawah. É tratado de doutor porque tem um doutorado em Islamismo e embora seja chamado de "emir" (príncipe, em árabe), não descende de nenhuma família real árabe.
Ele nasceu em 1971, em Samarra, cidade "nova" (833 DC) tombada pela UNESCO. Antes era um dos maiores centros urbanos da antiga Mesopotâmia, uma jóia à beira do rio Tigre. Hoje um pouco dilapidada devido à invasão de Inglaterra e Estados Unidos em 2003, aos recentes conflitos inter-religiosos e à proximidade de Bagdá, 125 quilômetros.
Baghdadi, é o "nome de guerra" do chefe do ISIS. Esta palavra não é nome e sim indicação de sua origem "de Bagdá".
Al Baghdadi é um salafista que aderiu ao Al-Qaeda logo após sua criação. Foi um "soldado exemplar" responsável do enquadramento de extremistas para-militares sírios e sauditas no Iraque.
Os estadunidenses o prenderam em 2003 no campo de detenção de Bucca, um dos mais violentos da CIA, e lá ele ficou entre torturas e interrogatórios até 2009.
Foi à sua saída que declarou a criação do ISIS e foi com este que ganhou proeminência.
Dizer que Baghdadi é um produto do tratamento que lhe foi inflingido no campo de detenção estadunidense talvez seja exagero. Ele já tinha tendência malígna. Mas dá para dizer que os "maus-tratos" serviram para aumentar seu ódio e para ensinar-lhe técnicas de tortura que lhe servem bastante em sua carreira de líder terrorista.
O rascunho do que é hoje o ISIL era chefiado pelo jordaniano Abu Mussab al-Zarqaui, executado em uma operação militar dos Estados Unidos no dia 18 de a abril de 2010.
Um mês depois, no dia 17 de maio, chegou às mãos da mídia um comunicado nomeando al Baghdadi "emir" do movimento e o ISIS começou a tomar forma no terreno.
Sob suas ordens, os ataques aos xiitas e aos cristãos iraquianos proliferaram no Iraque e no dia 31 de outubro de 2010 o bando invadiu a catedral de Bagdá e no fim do sequestro acabou matando dois padres, seis policiais e 46 pessoas que assistiam à missa.
As operações de intimidação e os golpes sanguinários continuaram, se multiplicaram e quando Ossama Ben Laden foi executado em maio de 2011, al Baghdadi foi um dos primeiros a jurar fidelidade a seu auto-proclamado sucessor, o sunita egípcio Ayman al-Zauahiri - bem criado no Cairo, filho de professor universitário, que integrou a Irmandade Muçulmana aos 14 anos, teve uns probleminhas, mas continuou estudando, formou-se em Medicina, especializou-se em cirurgia, e um ano mais tarde, em 1979, integrou o Jihad, foi se radicalizando até parar no Afeganistão (com Ben Laden patrocinado pelos EUA para combater a então União Soviética) e de lá já saiu fiel a Ben Laden e ao Al Qaeda.
A associação de al Baghdadi e al Zauahiri durou quanto tinha de durar. Ou seja, até o aprendiz suplantar o mestre em todos os domínios malígnos.
Os atentados no Iraque e a pressão sobre a população de Monsul e alhures para a formação do tal Estado islâmico se intensificaram já em 2011 e eram preocupantes. Quando os EUA se retiraram de lá, deixaram o problema em andamento e lavaram as mãos como Pilatus.
O ISIL aproveitou a oportunidade do movimento anti-Assad na Síria para ganhar terreno. O que fez a passos largos, sob indiferença ocidental, todos mais preocupados em derrubar Assad do que acreditar no que ele dizia e o que era óbvio quando se via .
Hoje, para combater Baghdadi na Síria e no Iraque o Ocidente tem de encarar a realidade e ser objetivo.
Na Síria, têm de deixar Bashar al-Assad agir contra o Nusrah e talvez até ajudar o Exército sírio.
No Iraque, têm de preparar os xiitas para combaterem o ISIL agora, enquanto os sunitas fanáticos reforçados pelos prisioneiros comuns ainda são minoria (embora organizadíssima - bastou 800 deles para derrotarem milhares de soldados iraquianos despreparados).
Mas sobretudo, nem Estados Unidos nem OTAN deveriam intervir diretamente em nenhum dos dois países.
Na Síria, com apoio militar, Bashar dá conta do recado. Sobretudo se os ex-rebeldes nacionais ajudarem.
No Iraque, têm de devolver ao governo os meios militares que lhe foram tomados quando o país foi invadido e ocupado.
O que não se pode fazer é bobagem ditada pela conhecida miopia estadunidense. Ou seja, libertar extremistas rivais com a esperança que estes resolvam o problema em uma guerra de gangues - como o rei da Jordânia acabou de ser obrigado a fazer soltando um perigoso líder salafista, oponente a Baghdadi, mas próximo do Nusrah que está destruindo a Síria. Na próximas semanas ou meses talvez ele façam o que esperam dele, e depois talvez vire um Ben Laden. Nesses casos o tiro sai sempre pela culatra.
Este problema do ISIL/Nusrah é realmente grave. Já se fala em separação do Iraque como se fosse um fato.
Nada a ver com a emancipação da Crimeia, separação étno-cultural voluntária.
Nada a ver com a luta intestina entre o Sudeste e o Oeste da Ucrânia, em que a diplomacia, se quiser, resolve tudo em uma sentada de representantes ucranianos de ambos os lados, se os EUA deixarem.
Não, no Iraque e na Síria ameaçados pelo ISIL/Nusrah não há vez para diplomacia porque os "conquistadores" salafistas desprezam o diálogo, só conhecem a voz da violência e da crueldade até com parentes.
A despeito de tudo o que disse acima, sou visceralmente contra intervenção estrangeira em todos os conflitos intra-fronteiras.
Porém na realpolítica a não-intervenção estrangeira é uma ironia. Desde a Segunda Guerra Mundial, antes de uma guerra civil há sempre uma incitação externa e as razões são sempre financeiras. É para um estrangeiro lucrar.
Dito isto, alguns acham que a solução é separar o Iraque entre as três comunidades que parecem não se entenderem. Que talvez um Estado xiita, outro sunita, outro kurdo resolvessem o problema a curto, médio e longo prazo.
Eu acho que quem tem de decidir, são os iraquianos. Por enquanto, eles não querem ver seu país dividido nem sequestrado metro a metro pelo ISIL que quer ficar com o petróleo e o país inteiro.
Um governo de união nacional? Que união? Houve eleições e al Bagdadi nem se candidatou ao pleito. Ele quer governar na marra e não em um Estado de direito.
Aliás al Bagdadi e seu ISIL criaram asas que estão cada vez mais fortes e largas. Ao ponto de desafiarem até o Al-Qaeda.
Neste caso, o problema tem de ser resolvido por quem criou. A Inglaterra e os Estados Unidos. Se houvesse justiça para os assassinos em massa que matam com mandato, George W. Bush e Tony Blair deveriam pagar por seus crimes. Como só há justiça para os líderes warmongers de país sub-desenvolvido, quem vai ter de resolver o problema são os Estados Unidos, que chegaram em um país autoritário, mas arrumado, esculhambaram e foram embora deixando tudo bagunçado.
But the army (including land, sea and air forces) is the only potent armed force in the country. It can carry out a coup d’etat and grab power at any given moment.
In recent months alone, army commanders have carried out coups in Egypt and Thailand, and perhaps in other places, too.
So what prevents army commanders carrying out coups everywhere? Just the democratic values, on which they were raised.
Iin israel, a military coup is unthinkable.
Here is the place to repeat the old Israeli joke: the Chief of Staff assembles his senior commanders and addresses them: “Comrades, tomorrow morning at 0600 hours we take over the government.”
For a moment there is silence. Then the entire audience dissolves into hysterical laughter.
A cynic might interrupt here: “Why should the army bother with a coup? It governs Israel anyhow!”
In civics classes, we learn that Israel is a democracy. Officially: “a Jewish and democratic state”. The government decides, the army follows orders.
But, as the man said: “It ain’t necessarily so.”
... Just now, the army is involved in the annual ritual of the budget fight.
The army says it needs much more than the Finance Ministry says it is able to give. It is a question of national security, nay of national survival. Terrible dangers are mentioned. After a bitter dispute, a compromise is reached. Then, a few months later, the army comes up and demands some billions more. A new danger is looming on the horizon. More money, please.
The Finance people argue that a huge chunk of the military budget is spent on pensions. In order to keep the army young and fresh, officers are pensioned off at the ripe old age of 42 – and for the rest of their lives receive very generous pensions. This applies not only to combat officers, who spend much time in the field and neglect their families, but also to paper shifters, wallahs and technical personnel, whose job is essentially civilian. Timid suggestions to pay less from now on are angrily rejected.
When a general goes home, the army considers it its comradely duty to provide him with a suitable civilian job. The country is swimming with ex-generals and ex-colonels who hold central positions in politics, public administration, government-owned corporations and services etc. Tycoons employ them for huge salaries because of their influential connections. Many of them have founded “security”-related companies and are engaged in the world-wide import and export of arms and military equipment.
Almost every day, these ex’s appear on TV and write in newspapers as experts on political and military affairs, thus exercising enormous influence on public opinion.
Few of them are “leftists” and propagate pro-peace views. The vast majority propound opinions which range from “center-right” to the fascist right.
Why?
The same cynic may put forward a very simple explanation. War is the army's element.
The essence of the military profession is making war and preparing for war. Its entire existence is based on war-making.
It is natural for every professional person to long for an opportunity to show his or her professional proficiency. Peace rarely provides such an opportunity for military officers. War is a huge opportunity. War brings attention, promotion, life-long advancement. In war, a military officer can show his mettle and excel in ways unsuspected in peace.
(Senior officers like to declare that they hate war more than anyone else “because they have seen its ravages”. That is pure nonsense.)
Occupation is also, of course, a kind of war. It is, to quote Clausewitz, a continuation of politics by other means.
...The state of Israel was born in the middle of a long and brutal war. From day 1, its existence depended on the moral and material strength of its army. The army is the center of national life, the darling of its Jewish citizens. It is by far the most popular institution in today’s Israel.
This reminds one of the German Reich of the Kaiser, where it was said that “Der Soldate / ist der beste Mann im Staate” (“the soldier is the best man in the state”). Perhaps it was not an accident that the founder of Zionism, Theodor Herzl, was an ardent admirer of the Kaiser’s Reich.
... Every young Jewish Israeli is supposed to serve in the army. Men serve for three years – the most formative years in the life of the human male, the years of idealism, still unburdened by families, ready to sacrifice.
(In practice, almost 40% do not serve at all – both Arab citizens and Orthodox Jewish citizens are exempted, though for different reasons.)
The army is the melting pot for native-born youngsters, immigrants from Russia, Morocco, Ethiopia and many other countries. During 1100 days and nights, the army forges their common denominator and their common outlook.
They come to the army already prepared. The Israeli education system is a factory for Zionist indoctrination, from kindergarten on. These 15 years, crowned by the three army years, produce a vast majority of narrow-minded, nationalist, ethnic-centered men and women. From there the professional military officer starts his career, however far it may go, taking his ideological baggage with him.
Leaving the army at 42 and starting on a civilian career does not mean shedding these blinkers. On the contrary, army officers remain army officers even when donning civilian garb. One could say that the officers, present and past, constitute the only real party in the country.
... After 57 years of occupation, the army has become brutalized, many officers are settlers, many wear nationalist-religious knitted kippahs. The extreme right-wing religious parties make a deliberate effort to infiltrate the officers corps and succeed on a large scale.
More than 200 years ago, Count Mirabeau, a leader of the French revolution, famously said that Prussia is “not a state that has an army, but an army that has a state”.
The same can be said today about the Only Democracy in the Middle East."
Uri Avnery, 14/06/2014
In recent months alone, army commanders have carried out coups in Egypt and Thailand, and perhaps in other places, too.
So what prevents army commanders carrying out coups everywhere? Just the democratic values, on which they were raised.
Iin israel, a military coup is unthinkable.
Here is the place to repeat the old Israeli joke: the Chief of Staff assembles his senior commanders and addresses them: “Comrades, tomorrow morning at 0600 hours we take over the government.”
For a moment there is silence. Then the entire audience dissolves into hysterical laughter.
A cynic might interrupt here: “Why should the army bother with a coup? It governs Israel anyhow!”
In civics classes, we learn that Israel is a democracy. Officially: “a Jewish and democratic state”. The government decides, the army follows orders.
But, as the man said: “It ain’t necessarily so.”
... Just now, the army is involved in the annual ritual of the budget fight.
The army says it needs much more than the Finance Ministry says it is able to give. It is a question of national security, nay of national survival. Terrible dangers are mentioned. After a bitter dispute, a compromise is reached. Then, a few months later, the army comes up and demands some billions more. A new danger is looming on the horizon. More money, please.
The Finance people argue that a huge chunk of the military budget is spent on pensions. In order to keep the army young and fresh, officers are pensioned off at the ripe old age of 42 – and for the rest of their lives receive very generous pensions. This applies not only to combat officers, who spend much time in the field and neglect their families, but also to paper shifters, wallahs and technical personnel, whose job is essentially civilian. Timid suggestions to pay less from now on are angrily rejected.
When a general goes home, the army considers it its comradely duty to provide him with a suitable civilian job. The country is swimming with ex-generals and ex-colonels who hold central positions in politics, public administration, government-owned corporations and services etc. Tycoons employ them for huge salaries because of their influential connections. Many of them have founded “security”-related companies and are engaged in the world-wide import and export of arms and military equipment.
Almost every day, these ex’s appear on TV and write in newspapers as experts on political and military affairs, thus exercising enormous influence on public opinion.
Few of them are “leftists” and propagate pro-peace views. The vast majority propound opinions which range from “center-right” to the fascist right.
Why?
The same cynic may put forward a very simple explanation. War is the army's element.
The essence of the military profession is making war and preparing for war. Its entire existence is based on war-making.
It is natural for every professional person to long for an opportunity to show his or her professional proficiency. Peace rarely provides such an opportunity for military officers. War is a huge opportunity. War brings attention, promotion, life-long advancement. In war, a military officer can show his mettle and excel in ways unsuspected in peace.
(Senior officers like to declare that they hate war more than anyone else “because they have seen its ravages”. That is pure nonsense.)
Occupation is also, of course, a kind of war. It is, to quote Clausewitz, a continuation of politics by other means.
...The state of Israel was born in the middle of a long and brutal war. From day 1, its existence depended on the moral and material strength of its army. The army is the center of national life, the darling of its Jewish citizens. It is by far the most popular institution in today’s Israel.
This reminds one of the German Reich of the Kaiser, where it was said that “Der Soldate / ist der beste Mann im Staate” (“the soldier is the best man in the state”). Perhaps it was not an accident that the founder of Zionism, Theodor Herzl, was an ardent admirer of the Kaiser’s Reich.
... Every young Jewish Israeli is supposed to serve in the army. Men serve for three years – the most formative years in the life of the human male, the years of idealism, still unburdened by families, ready to sacrifice.
(In practice, almost 40% do not serve at all – both Arab citizens and Orthodox Jewish citizens are exempted, though for different reasons.)
The army is the melting pot for native-born youngsters, immigrants from Russia, Morocco, Ethiopia and many other countries. During 1100 days and nights, the army forges their common denominator and their common outlook.
They come to the army already prepared. The Israeli education system is a factory for Zionist indoctrination, from kindergarten on. These 15 years, crowned by the three army years, produce a vast majority of narrow-minded, nationalist, ethnic-centered men and women. From there the professional military officer starts his career, however far it may go, taking his ideological baggage with him.
Leaving the army at 42 and starting on a civilian career does not mean shedding these blinkers. On the contrary, army officers remain army officers even when donning civilian garb. One could say that the officers, present and past, constitute the only real party in the country.
... After 57 years of occupation, the army has become brutalized, many officers are settlers, many wear nationalist-religious knitted kippahs. The extreme right-wing religious parties make a deliberate effort to infiltrate the officers corps and succeed on a large scale.
More than 200 years ago, Count Mirabeau, a leader of the French revolution, famously said that Prussia is “not a state that has an army, but an army that has a state”.
The same can be said today about the Only Democracy in the Middle East."
Uri Avnery, 14/06/2014
BBC Hard Talk: Are young Jews falling out with Israel?
Jovens judeus estão se afastando de Israel?
E neste momento de Copa do Mundo, recomendo o seguinte documentário da Al Jazeera com o nosso grande Sócrates: Football Rebels - Socrates and the Corinthians' Democracy
How Brazil's football legend turned every Corinthians' match into a political meeting for democracy.
http://aje.me/YrnGsZ
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