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domingo, 26 de agosto de 2012

Tentifada, Mistifada, Paztifada no Oriente Médio

 
 
Em fevereiro deste ano eu disse que era pouco provável que Israel (com a ajuda dos EUA) atacasse o Irã porque até uma vitória militar provável (devido à desproporção de potência bélica conjunta de dois dos maiores fabricantes de armas do planeta) acarretaria uma derrota insuportável para os israelenses a curto, médio e longo prazo. http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2012/02/ira-armacao-ou-perigo-embasado.html)
Há pouco os dois homens que controlam o governo e a IDF de mãos dadas e com maquiavelismo interdependente - Binyamin Netanyahu e o general Ehud Barak - voltaram a declarar que atacarão o Irã neste outono (primavera nossa), prometendo um Outono Sanguinário.
Aí voltaram a me perguntar o que acho: Israel vai ou não atacar Teerã e provocar uma guerra regional? cujas consequências seriam lastimáveis, diga-se de passagem.
Israel vai ou não atacar o Irã, vai depender de fatores internos e do apoio dos Estados Unidos.
Porém, o bom entendedor já sabe que Netanyahu, se insistir na agressão gratuita, vai acionar uma batalha que considera a priori perdida.
Por incrível que pareça, o Primeiro Ministro de Israel afirmou publicamente que no fim da "guerra" (os israelenses e os estadunidenses gostam de chamar agressões unilaterais de guerra) "assumirei" toda responsabilidade desta perante o Committee of Inquiry (Comissão de Inquérito)...
É esta declaração tempestuosa de Netanyahu que atesta aos bons entendedores sua insanidade mental. Insano porque não dá para imaginar que um homem são decida jogar seu povo e sua nação em um conflito bélico cuja derrota ele mesmo antecipa.
Para quem conhece a história israelense, a antecipação da derrota está nas entrelinhas. Tal Comissão só exerceu suas prerrogativas em duas campanhas militares que os israelenses se consideraram derrotados: na "guerra" do Yom Kippur em 1974 e nas "guerras" do Líbano de 1982 e de 2006. 
Tal Comissão não foi convocada em nenhuma das campanhas militares em que Israel considerou ter obtido vitória. Ou seja, na "guerra de independência" em que os imigrantes judeus ocuparam a Palestina em 1948 declarando o Estado de Israel unilateralmente; na "guerra do Sinai" em 1956 quando Israel invadiu o território egípcio; na "guerra dos Seis Dias" em que com a ajuda da França, Inglaterra e Estados Unidos, a IDF pulverizou os exércitos sub-equipados da Síria, Jordânia, Egito e como "espólio" de guerra, ocupou militarmente a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e começou seu processo de ocupação civil com as invasões de judeus importados.   
O jornalista israelense Uri Avnery disse há pouco que "embora a revista TIME, que a cada semana fica mais ridídula (defendendo o governo extremista de Tel Aviv que os prósprios israelenses veem contestando nas ruas) possa coroar Netanyahu 'Rei Bibi' mas Israel não é uma monarquia". E que "Netanyahu se considera um Winston Churchill moderno, mas eu não me lembro de Churchill ter anunciado que assumia responsabilidade de uma futura derrota. Até nas situações desesperadoras ele acreditava na vitória e jamais usou a primeira pessoa do singular em discurso".
O fato é que esta maquinação iraniana leva a duvidar da sanidade mental de Binyamin Netanyahu e Edud Barak porque se não estivessem possuídos pelo demônio da megalomania irresponsável, jamais provocariam uma guerra cuja derrota anteveem antes de ordenar o ataque.
 
Ora, estes dois homens não são ou não podem ser tão imbecis ao ponto de imaginarem que os aiatolás que governam o Irã realmente queiram "riscar Israel do mapa" com uma bomba nuclear, como diz o tagarela Mahmud Ahmadinejad para distrair a atenção de seus concidadãos dos próprios problemas internos que enfrenta.
Os dois braços armados de Israel sabem que Ahmadinejad não tem autoridade para fazer nada grave e que há meses deixou de gozar de estado de graça junto aos aiatolás.
Mesmo que o Irã adquirisse ou adquira a bomba atômica - provável a médio prazo justamente por causa das ameaças constantes de Israel e dos EUA - vai ser uma inconveniência para ambos porque não poderão mais intimidá-lo, mas a ameaça de um "segundo holocausto" é uma manipulação perversa e indecente do imaginário dos sionistas em geral.
Os aiatolás não sofrem da deterioração mental dos dois líderes israelenses e de seus ministros de extrema direita. O líder dos aiatolás Ali Khamenei é da linha dura - foi o braço direito do aiatolá Khomeini - mas dois dos cinco membros do conselho são moderados e todos os cinco são estudados. Não são trogloditas desvairados. Jamais lançariam uma bomba sobre Israel sem serem obrigados. Sabem que Teerã, o país inteiro, viraria um imenso cogumelo de fumaça antes que pudessem cantar uma vitória efêmera, pois em retaliação os Estados Unidos os bombardeariam sem pestanejar.
Além disso, na equação nuclear tem o fator integrante da Palestina.
Jogar uma bomba atômica em Israel ocasionaria, no mínimo, a erradicação colateral da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. E a poluição de Líbano, Síria, Jordânia, Egito... 
Trocando em miúdos, que eu saiba, o Irão vê a posse da bomba atômica como um fator de efeito dissuasivo. Quem conhece um pouquinho o Oriente Médio e o Irã entende isso.
Quem duvida tem agenda própria ou sofre de paranóia crônica e tem de ser internado em um hospício antes de provocar uma guerra que poderia virar planetária.
E como diz Uri Avnery, se Barak, Netanyahu, Lieberman, e os demais que compõem a ala extremista que governa Israel, "tivessem realmente medo da bomba atômica iraniana, fariam duas coisas: ou concordariam com a des-nuclearização da região, desistindo de seu próprio armamento nuclear (o que é improvável), ou fariam a paz com os palestinos e o mundo árabe, o que consequentemente desarmaria a hostilidade dos aiatolás. Mas as ações de Netanyahu mostram que para ele, conservar a ocupação da Cisjordânia é muito mais importante do que a bomba iraniana. What better proof do we need of the craziness of this whole scare? Binyamin Netanyahu may be crazy, but he is not mad. Ehud Barak may be mad, but he is not crazy. Ergo: Israel will not attack Iran."
Enquanto os Senhores de Israel tramam sua derrota anunciada, a ONG Gush Shalom mobiliza a sociedade israelense contra a guerra. No dia 23, organizaram passeatas em Tel Aviv, Haifa, na porta da casa de Netanyahu em Jerusalém e depois na de Barak - onde já tem manifestações diárias, e em Hiroshima (sim senhor/a!) onde estava havendo uma conferência internacional de grupos anti-nucleares.
Sem discordar de Uri Avnery, acho que o perigo da pantomina trágica do Primeiro Ministro de Israel é que seus problemas socio-econômicos internos são tantos, que é bem provável que esteja alimentando esta campanha bélica inspirado na prática comum wag the dog de seu padrinho gringo.
Ou seja, distrair a atenção de seus compatriotas mobilizando-os para uma guerra absurda que os reunisse em defesa do país cuja segurança o próprio Netanyahu mina diariamente com a ocupação da Palestina e que eleva a uma potência reativa dramática com a campanha de ataque do Irã.
Qual será o leão invisível no campo de Barak e Netanyhu que trar-lhes-á ou trar-lhes-ia benefício? Tem de ter um. Não é possível que eles tenham realmente enlouquecido.
 


A operação wag the dog, de Netanyahu, tem alguns motivos. Um deles é o movimento popular chamado em Israel Tentifada, iniciado no ano passado no entusiasmo da Primavera Árabe (   http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2011/08/e-bonita-festa-pa.html;    http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2011/09/israel-na-onda-da-intifada.html).
O movimento retomou impulso no mês de julho forçando o Primeiro Ministro a nomear uma comissão para examinar o custo de vida elevado que desde o ano passado tem gerado onda crescente de protestos até reunir centenas de milhares de pessoas nas ruas principais da capital.
Embora a coalição governamental de extrema-direita não se sinta ameaçada - é o que dizem, o movimento popular tem deixado o governo preocupado porque em vez de diminuir como Netanyahu esperava, fez foi aumentar paulatinamente com novas demandas, tais como de desocupação da Palestina e contra o ataque ao Irã.
A origem dos protestos é a queda nítida do padrão de vida dos israelenses. Estes sentem que as classes B e C estão descendo a escada  e saíram às ruas para reivindicar a justiça social da qual o país vem se distanciando nas últimas décadas ao priorizar as despesas militares em sua paranóia securitária.
O movimento que se restringia a Tel Aviv propagou-se a outras cidades, inclusive a Jerusalém onde residem os mais conservadores e sectários. As passeatas têm sido semanais e é por isto que Netanyahu resolveu reagir, com um ano de atraso.
O porta-voz do Primeiro Ministro, Mark Regev, tentou amenizar a rebeldia dizendo que Israel tem longa tradição de passeatas pacíficas e estas não são portanto inusitadas.
Mas quer queira admitir quer não, estas tomaram outras proporções.
O movimento é tão grande que os obriga a ouvir as reclamações da queda brutal do poder de consumo e da qualidade de vida, e quem sabe, parar a máquina de guerra contra o Irã.
Tudo começou com a crise de moradia - uma jovem expulsa de seu apartamento instalou-se em uma tenda na rua principal de Tel Aviv e logo foi cercada de outras famílias.
Do ano passado pra cá a revolta tem se ampliado com jovens casais protestando contra a dificuldade de tratamento dos filhos, médicos fazendo greve contra precárias condições de trabalho, professores contra os contratos de trabalho restritivos, outros contra salários baixos e o aumento constante dos preços de gasolina e de bens de primeira necessidade.
A amplitude do Movimento o tranformou na maior ameaça ao governo de extrema direita cuja popularidade vem caindo proporcionalmente à inflação que empobrece a classe média e marginaliza a classe baixa.
Apesar das ruas cheias de ativistas improvisados o governo mantém que a situação econômica de Israel é boa, "gozamos da taxa mais baixa de desemprego" determinada pelos organismos internacionais", e embora tenham de ouvir as demandas feitas pelos movimentos de protesto, "temos de manter uma política econômica responsável para assegurar o crescimento econômico de Israel". Ao mesmo tempo que justificam o crescimento econômico em sentido único que enriquece uma minoria e empobrece os demais, reconhecem que "os preços são elevados artificialmente sobretudo por causa de uma prática monopolística e de cartéis."
Vale lembrar que o tráfico de influências e a corrupção em Israel é frequente. Vira e mexe tem um dirigente político nas manchetes dos jornais. O último foi o ex-primeiro ministro Ehud Olmert. 
Netanyahu promete reformas rápidas, mas as ruas não se esvaziam porque a palavra do Primeiro Ministro não vale pouco ou nada apenas para os dirigentes europeus. Em casa também paira dúvida quanto à sua sinceridade.



Enquanto isto, na Cisjordânia, os palestinos também sairam às ruas de Ramallah para protestar contra a violência policial e o aumento das invasões judias que acarreta crescimento da violência dos colonos e dos soldados da IDF contra a população local.
Só nos últimos meses, mais 15.000 estrangeiros judeus se instalaram em colônias nos Territórios Ocupados. Estima-se o número a 650.000 o número atual de invasores, dentre eles, muitos são violentos e procedem a ataques sistemáticos de propriedades, lavouras, cisternas, moradias, carros, mulheres e crianças palestinas.  
Neste clima, há poucos meses Binyamin Netanyahu aproveitou a distração ocidental com a Primavera Árabe para encomendar a um grupo de juristas israelenses um painel de estudos para determinar o estatuto legal da Cisjordânia - como se tivessem alguma autoridade para definir fronteiras internacionais e julgar seus próprios crimes.
A Comissão Levi reuniu-se, discutiu e acabou fazendo "descobertas" e recomendações inacreditáveis e espantosas recentemente divulgadas e passadas em branco na imprensa internacional, embora sejam escandalosas e contrárias até às determinações dos aliados de Israel na Europa e do padrinho estadunidense.
Por incrível que pareça, a Comissão deduziu que não há ocupação de território palestino e que as invasões judias em construção contínua chamada de assentamentos ou colônias - consideradas o maior empecilho aos acordos de paz - são de fato "totalmente legais tanto retroativamente quanto no futuro"...
E como a Comissão Levi justifica esta dedução contrária às leis internacionais e ao bom senso primário?
Estes juristas israelenses determinaram que as invasões "têm de ser consideradas legais", apesar das Resoluções das Nações Unidas e da opinião internacional, "por a ocupação ter sido contínua ao longo de décadas durante todos os governos e portanto ser historicamente única no gênero, e por isto as terras ocupadas terem de ser reconhecidas de fato propriedade de Israel".
Um tipo de Uso Capião que regulariza e legaliza invasão e ocupação estrangeira de terra alheia.
O interessante com o governo israelense é que seu deboche e sua perversão jurídica não têm limites.
O "raciocínio" (destorcido) da Comissão que a Cisjordânia não é um território ocupado e sim parte de Israel contraria o Direito Internacional, a Moral e impõem no mínimo duas perguntas. 
Se estes juristas que infringem as leis internacionais e os direitos humanos consideram a Cisjordânia parte de Israel, quem são para eles os milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia impedidos de locomover-se livremente, de votar nas eleições israelenses e de reclamar cidadania?
Qual é o estatuto destes milhões de palestinos oprimidos no suposto Estado de Israel do qual seriam (aos olhos desta jurisprudência surreal) residentes de classe abaixo dos Intocáveis da India?
Se esta "descoberta" da Comissão Levi for implementada sem que a comunidade internacional mova um dedo para impedir esta apropriação condenada pela Convenção de Genebra (e perigosa pois segue o mesmo padrão da criação unilateral do Estado de Israel imediatamente reconhecido pelos EUA e em seguida pela ONU em 1948, em detrimento de Estado e dos direitos inalienáveis dos palestinos à cidadania em seu território milenar) Israel estaria formalizando o apartheid - prática desumana que o mundo inteiro condenou na África do Sul e que por pressão internacional e boicotes de toda ordem foi extinta com a queda do sistema montado pelos Afrikaners.   
Resta saber se o Conselho de Segurança da ONU vai reagir em tempo hábil ou se o golpe de Netanyahu de escolher justamente o momento em que os olhares estão voltados para a Síria para dar o bote valer-lhe-á mais uma vitória em seu processo de limpeza étnica dos palestinos.
O Brasil poderia reagir e redimir-se do comércio de armas com Israel apresentando uma Resolução ao Conselho de Segurança das Nações Unidas ou em Assembleia Geral para frear esta iniciativa expansionista, ou vamos ficar calados e passivos?

"Edmond Levy took off the robe of a Supreme Court judge – and under it was revealed a shyster, a Likud Party hack providing his client with a highly dubious, made-to-order legal opinion. After 45 years of oppressive military rule former judge Levy discovered that the West Bank is "not an Occupied Territory" and that the settlement enterprise is a pure, lily-white business.
Outside Israel's borders Levi's assertions would be greeted with laughter and derision, if anybody bothers to take notice of them at all. The International Court of Justice, which is the highest interpreter of International Law, ruled unequivocally in 2004 that the West Bank is indeed an Occupied Territory; that Israel may not build settlements or boundary fences inside this territory. The Fourth Geneva Convention, to which Israel is a signatory, specifically states that an Occupying Power is not entitled to settle its own citizens in the Occupied Territory, regardless whether it is on private land or on state land. Also the Supreme Court of Israel of which was a member, decided that in a territory under military rule it is forbidden to confiscate lands for the purpose of building settlements.
The government may be tempted to use Levy's fabrication in order to undermine the rulings of the Supreme Court - a very transparent fig leaf."
ONG Gush Shalom                                          
The Café, Al Jazeera: The Enemy Within


Na Inglaterra, o Grupo Cooperativo, a quinta rede britânica de supermercados, acabou de estender o boicote dos produtos das colônias judias na Cisjordânia.
Além de não comercializá-los desde 2009, os supermercados da rede vão banir de suas prateleiras todas as marcas que se abastecem nas colônias.
Ao contrário de muitas lojas e supermercados que se dobram pontualmente à pressão dos consumidores, o grupo cooperativo foi mais longe e seguiu um processo rigoroso e minucioso. Para ter certeza de englobar todos os produtos ilegais e não se deixar enganar por intermediários, contratou uma empresa de auditoria que pesquisou minuciosamente a origem de todos os produtos que oferece aos clientes.
Além dos produtos etiquetados "7 29 etc."  que indica a proveniência de Israel e das empresas cuja procedência do Vale do Jordão é notória, os auditores descobriram quatro empresas que já são personae non gratae dentro de suas paredes.
"Following an audit of the Group's supply chain, it will no longer do business with four companies, accounting for £350,000 ($560,000) worth of sales, as there is evidence that they source from the Israeli settlements in the Palestinian occupied territories," declarou o porta-voz do grupo que continua a oferecer produtos de 20 empresas israelenses legais, instaladas a Oeste da Linha Verde, concluindo que "The Group will also continue to actively work to increase trade links with Palestinian businesses in the occupied territories."

Nesse ínterim, o governo da África do Sul cancelou a viagem de prefeitos de suas maiores cidades a Israel e seu Ministro das Relações Exteriores Ebrahim Ebrahim em recente entrevista a jornais ingleses afirmou desaconselhar "veementemente" seus compatriotas a viajar para Israel, indicando que esta é a política geral do governo sul-africano.
Por outro lado a África do Sul e a Holanda estão sendo os primeiros a criar dispositivos legais contra a venda dos produtos das colônias judias em suas lojas e mercados de maneira enganosa.
Estes dois países aprovaram lei que obriga os produtos procedentes dos assentamentos/colônias ilegais a serem etiquetados com a menção explícita de sua procedência dos territórios ocupados na Cisjodânia ou Made in Palestine.
Isto facilitará ao consumidor o exercício do boicote cívico, já que todos sabem que a Palestina mal tem direito de produzir para o próprio consumo e quase todas as suas finanças, "graças" aos Acordos de Oslo, passam pelo controle de Tel Aviv.
O governo de Israel está esperneando, mas não pode fazer nada contra países soberanos e devidamente reconhecidos pela ONU.
A "moda" parece que vai pegar.
Outros povos ocidentais estão pressionando seus governos para que tomem a mesma medida para facilitar a identificação dos produtos ilegais.
E o Planalto e o Congresso Nacional, quando vão aprovar a mesma lei para abrir os olhos dos consumidores tupiniquins que são pouco ou mal informados?

Enquanto nossos políticos e governantes não tomam as providências necessárias, não se esqueça de conferir o código barra antes de comprar qualquer produto estrangeiro - sobretudo proveniente de Israel.
Inclusive nas lojas Sephora instaladas em capitais brasileiras. Ouvi dizer que no Brasil a Sephora está vendendo produtos da Ahava (boicotados na Europa, Austrália e Estados Unidos),  por acreditar que contará com a cumplicidade alienada da mulher brasileira.
Será?!

Falando em Ahava, Abigail Disney, herdeira do império que leva seu sobrenome e principal investidora da Shamrock Holdings Incorporated e do fundo de família Roy E. Disney, anunciou seu desligamento das partes da Shamrock que investem nos laboratórios Ahava do Mar Morto. Ahava é esta marca de cosméticos israelenses cujas fábricas são localizadas no Vale do Jordão e cujos produtos são oriundos da ocupação ilegal do Mar Morto. Como a Shamrock possui apenas 18.5%  da Ahava (37% pertence à invasão judia Mitzpe Shalem, 37% à multinacional Hamashbir e 7,5% a outra colônia ilegal Kalia), Abigail não pode fechar a empresa predadodra, mas já está transferindo tudo o que recebe em dividendos a ONGs de Direitos Humanos que defendem a soberania da Palestina.
 
Para concluir este assunto, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma Resolução que prevê uma comissão de investigação - a primeira, em 65 anos de ocupação - das e nas colônias/assentamentos na Cisjordânia.
O objetivo desta é investigar como e quanto estas invasões judias ilegais "podem" estar infringindo os direitos dos palestinos.
Falando nisto, o governo de Israel acabou de "aprovar" mais três invasões da Cisjordânia no dia 20 de agosto.
O Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon recebeu este anúncio "deeply troubled".
Não traduzi porque é uma expressão diplomática até indecente diante da infração que em outras regiões já teriam valido bombardeios ininterruptos da OTAN até que o país ocupante se retirasse do território alheio invadido.
Contando estas três novas, o número de invasões judias se eleva a 123 e aumentará o número de invasores "oficiais", que é de 342.000 pessoas importadas para o Território palestino às vezes diretamente de seus países de origem. Sem saber falar hebraico e sem nem querer ouvir a língua árabe do país em que se instalam em toda ilegalidade.

 


E quando se fala da invasão civil na Cisjordânia não se pode deixar de falar também da militar e da cerca de concreto que envergonha todos os seres humanos que lá botam os pés.
Até esta data, Israel já enjaulou os palestinos em 434 quilômetros de muro de oito metros de altura em volta ou dentro de suas cidades e cidadezinhas.
Isto representa 62% do objetivo do governo israelense do total de 530 km² que pretende anexar a seu próprio Estado. 

 
Mudando de assunto só para atualizar a investigação sobre a morte de Yasser Arafat, os cientistas suiços já receberam convite oficial da Autoridade Palestina para ir a Ramallah examinar o corpo do ex-líder palestino recentemente inumado após a suspeita de morte por envenenamento em 2004.  (http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2012/07/o-que-e-quem-matou-yasser-arafat.html)
O exame que levou a esta conjetura foi realizado no Instituto Suiço de Física Radioativa que detectou alto nível de radioatividade de polonium-210 em pertences de Arafat. 
A equipe suiça procederá a exame minucioso e talvez demorado do cadáver do ex-líder da OLP para que a conclusão seja definitiva e irrefutável.
A esposa de Yasser Arafat, Suha, deu queixa também na França e o Tribunal judiciário de Paris concordou em abrir investigação sobre as condições da morte do líder palestino em solo francês.
 


 
Abusos cometidos por soldados israelenses na Palestina
divulgados no youtube e no Facebook


Israeli youths lynch a Palestinian boy in broad daylight.
At the same time, the Foreign Minister Avigdor Lieberman calls for the deposition of Palestinian President Abbas for not accepting an Israeli diktat.

Publicado no jornal israelense “Haaretz”, 24/08/2012

 
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/


 Jews for justice for Palestinians: http://jfjfp.com/


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Irã, armação ou perigo embasado?



A mitologia persa não é tão conhecida no Ocidente quanto a grega - passada de geração a geração como legado inerente à nossa cultura greco-romana-cristã - mas suas personagens também são marcantes.
Alguns ligam o nome Zoroastro a Sarastro, o sábio da "Flauta Mágica" do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart; outros a "Assim falava Zaratustra" do filósofo alemão Friedrich Nietzsche e ao poema sinfônico homônimo de seu concidadão Richard Strauss.
Mas como se sabe, Zoroastro ou Zaratustra, foi o criador do zoroastrismo, religião transcrita há três mil anos em uma região imprecisa entre Irã, Turquemenistão e Afeganistão.
De maneira simplista, os preceitos filosóficos que veicula são a chegada do Reino da Justiça e a cooperação obrigatória com a obra divina.
Os gregos o tinham como fundador da religião persa e embora estudassem sua obra, o consideravam fantasista.
Nietzsche usou a destruição zoroastriana de deuses conflitantes para matar Deus no presente, e nesta interpretação livre, propor abolir o dualismo do Bem e do Mal, da razão e da moral; a fim de justificar sua própria prática de vida, dizem.
A mitologia persa é povoada deste dualismo do Bem e do Mal que se confrontam em todos os sentidos. Na luta intermitente que opõe estas forças, as figuras mitológicas que representam o Bem vencem sempre.
No Irã atual o Bem está penando para ganhar a partida, mas cada povo amadurece a um rítmo.
Neste Irã que oprime quem quiser exprimir opinião, comportamento e posição diferentes das impostas pelo regime, há uma criatividade cultural e artística transbordante.
Por tradição, o cinema é o reflexo desta ebulição criativa como no Brasil a música refletiu o período da nossa ditadura.
Só que as obras cinematográficas atuais estão longe do maniqueísmo nietzschiano e do super-homem, mas estão tão combativas socio-politicamente quanto na época de Zoroastro, que por sua originalidade foi preso e banido.
Ao contrário de ideias pre-concebidas ou induzidas por uma certa mídia, para os nossos padrões, Teerã é desorganizada como todas as cidades da região, mas é culta e viva.
A cidade foi desfigurada arquitetonicamente durante a dinastia dos Pahlevi, mas ainda existem bairros que lembram a antiguidade magestosa da cultura que a origina e que continua presente em cidades como Isfahan.
Os iranianos são cordiais e prestativos. Não dão nenhum sinal de desvario, de viverem desligados do mundo e de não amarem os filhos.
Acontece que o estigmatismo do qual são alvo por tabela acaba levando até intelectuais liberais a desconfiarem dos interesses dos estrangeiros que lhes oferecem ajuda contra o opressor interno.
Acho que nós brasileiros teríamos feito o mesmo.

Desde 1990 que circula o rumor induzido que o Irã está com bomba nuclear quase pronta.
O "quase" dito em tom diabolizado como se os iranianos estivessem loucos para proceder a suicídio coletivo e assassínio em massa.
O assunto preferido no Knesset (parlamento israelense) é a "iminência de um ataque do monstro iraniano ao nosso pequeno Estado".
Refrão cansativo e gasto. 
E quando se sabe que o "Estadinho" do qual falam só possue 118 bombas nucleares que podem tirar o Irã e até a Europa do mapa, pode até provocar riso. Amarelo, é claro.
Em nome deste mantra devidamente mediatizado, o Mossad, nos últimos dois anos, já assassinou quatro cientistas desarmados e cerca de 25 militares desprevenidos.

O último atentato fatal foi há um mês. Mustafá Ahmadi Roshan, cientista de 32 anos especializado em urânio Natanz enriquecido.
O meio foi espetacular como do gosto do Mossad: dois motociclistas colaram uma bomba em seu carro que explodiu causando alarde, e lá foram os assassinos para casa celebrar a vitória com os brindes de praxe.
O governo iraniano botou a boca no trombone e os suspeitos habituais negaram com veemência. A Inglaterra gritou "Não fui eu!", os EUA "Estou fora desta!"
Israel ficou calado e rindo de lado.
Depois soube-se oficiosamente que foi obra do Mossad. Que conhece sua impunidade e gosta de vangloriar-se de seu terrorismo de Estado praticado em toda impunidade.
Naturalmente, no Irã o povo inteiro se solidarizou com a família e gregos e troianos se uniram em torno de Ahmadinejad para proteger a honra nacional ofendida.
Se o alvo tivesse sido um cientista estadunidense, o culpado do crime já teria sido bombardeado ou vítima de rendition - sequestro relâmpago à luz do dia e desaparecimento em Guantânamo ou outro Campo de tortura do gênero. Como faziam nossos militares durante a ditadura e como fazem os EUA com as pessoas de quem desconfiam.
Mas como foi com iraniano... 

O primeiro alvo desta limpeza de cérebros na comunidade científico-nuclear iraniana foi Massud Alimohammadi - explodido no caminho do trabalho, morreu em janeiro de 2010. Em novembro do mesmo ano foi a vez de Majid Shahriari, explodido do mesmo jeito enquanto em atentado separado no mesmo dia 29, Fereydoun Abbasi-Davani sobrevivia ao que sofreu, mas com ferimentos graves.
O terceiro foi Dariush Rezaeinejad, de 35 anos, executado a bala em julho de 2011.
As outras vítimas foram o comandante da Guarda Revolucionária, figura-chave no programa de mísseis - explodido em um depósito de munição junto com 16 pessoas; no mesmo mês, um local de pesquisa nuclear virou cinzas em Isfahan e em dezembro, sete pessoas foram reduzidas a pedaços em um armazém de ferro em Yasd.
E a lista de assassinatos pode aumentar porque nada indica que os atos terroristas acabem e que a Justiça Internacional faça algo para evitá-los.
Deter os culpados é um sonho inatingível, inimaginável.
A resposta oficial e pública de Teerã tem sido bastante comedida. Algumas expulsões de espiões estrangeiros e umas reclamaçõezinhas.

No mundo dito "civilizado", os cientistas são protegidos deste tipo de violência por leis internacionais eficazes e até durante a guerra o ato de visar civis é considerado crime passível de punição grave.
É por isto que os três sérvios Slobodan Milošević, Radovan Karadžić e Ratko Mladić foram parar no Tribunal de Háguia. 
Em tempo de paz isto é chamado de terrorismo.
Israel tem costume desta prática e nem tenta esconder a responsabilidade pelos atentados. Sabe que é intocável e vive à margem das leis internacionais, a não ser quando recorre a elas em benefício próprio.
É o que se poderia chamar de Estado fora-da-lei, sem nenhum complexo nem consciência pesada.
Neste caso, o problema é que estes atos de terrorismo prejudicam suas relações com os paízes regionais. E neste caso específico, possibilitaram que a ala dura dos Aiatolás fizessem um limpa das figuras liberais do governo, e hoje, por incrível que pareça, Ahmadinejad é tido como moderado...
Esta personagem, diga-se de passagem, tem uma característica interessante que indica uma coerência até engraçada. De entrevista a entrevista é capaz de repetir as mesmas coisas quase com as mesmas palavras.
Seu inimigo gêmeo de Tel Aviv Binyanim Netanyahu não fica atrás. A diferença é que este último tem a insolência dos bandidos de colarinho branco imune à justiça que pune os demais.
Quando me perguntam, respondo que os líderes da extrema-direita israelense não são irracionais, longe disto. Sabem perfeitamente o que seus atos e palavras acarretam e valem.
Só que como não estão nem aí para o "resto" do mundo, dizem e fazem o que bem lhes apraz. O padrinho gringo jamais deixa-los-á limpar o leite derramado sem uma mãozinha providencial.

A dificuldade de diálogo entre o Irã e os "grandes" ocidentais reside em interesses antagônicos e desconfiança mútua.
Os motivos israelo-estadunidenses são conhecidos e tidos como pontos-pacíficos.
Os do Irã estão fincados na história nacional dos últimos sessenta anos e a lembrança viva de 1953, quando os Estados Unidos e a Grã-Bretanha patrocinaram o Golpe de Estado que desempossou o primeiro ministro Mohammad Mossadeq para reempossar o impopular Xá Mohammad Reza Pahlevi que o povo havia enxotado.
A história do Irã é um caso corriqueiro em geopolítica.
A nação foi reunificada no fim do século XVIII por Agha Mohammad Khan que derrotou o imperador Zand e estabeleceu sua dinastia.
Este, quando foi assassinado em 1797, já  se apoderara do título de "Xá", eliminara os rivais, sua dinastia Qajar estabelecera governo em Teerã e o caminho estava livre para seu sobrinho Fath Ali ser o novo líder da nação.
O governo de Ali foi pontuado por guerras territoriais com a Rússia nas quais perdeu a Georgia, o norte do Cáucaso e eventualmente toda a área do rio Aras que compreende a Armenia e o Azerbaijan (este último é dor de cabeça que não acaba) .
Depois dele veio um Xá inexpressivo, sucedido em 1848 por Naser o-Din, o governante mais hábil da dinastia Qajar, mas mesmo assim, não foi bem sucedido.
Tentou manter os poderosos da época - Rússia czarista e Grá-Bretanha - fora, mas perdeu algumas regiões de influência persa como Afeganistão, Turquemenistão, Uzbequistão, e além disso, fragilizou a economia e ficou à mercê do controle britânico.
Foi assassinado em 1896 por Mirza Reza Kermani, que pôs o filho Mozaffar o-Din no trono.
Este foi um governante fraco e incapaz.
Pediu dinheiro emprestado para a Rússia e perdeu-o mais depressa do que o empréstimo tinha saído das mãos do Czar.
Viajava sem parar para distrair-se na Europa e em retorno de pagamentos autorizou várias concessões aos estrangeiros; até o povo reclamar do desperdídio e da evasão desatada de recursos.
Em vez de prestar contas às instâncias religiosas, comerciantes e outras classes sociais reclamantes, o Xá instituiu medidas repressivas que levaram líderes clericais e da burguesia mercantil a buscarem refúgio em mesquitas e dez mil pessoas encontraram asilo na embaixada britânica.
Apesar da repressão, o movimento oposicionista só parou quando o Xá dotou o país de uma Constituição democrática - assinada em 1906 e efetivada em 1907, esta limitava poderes executivos absolutistas.
Este é o marco da passagem do Irã da era Medieval à Moderna, embora a Constituição tenha sido palavra mais morta do que viva.

Mohammad Ali, filho de Mozaffar o-Din, foi empossado em 1907 com apoio do Czar Nicolau II da Rússia.
A partir daí o país foi espoliado sem que o Xá mexesse um dedinho.
A Rússia assinou Tratado Econômico com os britânicos para explorarem as riquezas persas e para as duas potências imperiais trabalharem tranquilas, Mohammad Ali rescindiu a Constituição, bombardeou o Majlis - Congresso iraniano - prendeu vários deputados e fechou a Assembleia.
O povo reagiu e forças constitucionais de Resistência marcharam de Rasht e Isfahan em direção a Teerã, depuseram o Xá (que exilou-se na Rússia dos czares) e restabeleceram a Constituição.
No contra-ataque, o czar Romanov, insatisfeito com a perda da renda iraniana resolveu tomar providências para não perder o filão persa. Em 1910 emprestou tropas ao Xá deposto para que recuperasse o trono e que os negócios continuassem sem distúrbios.
E a Revolução Constitucional que daria aos persas a sonhada autonomia foi por água abaixo.

O Pacto Anglo-Russo (mapa ao lado) foi posto em prática e os russos ficaram com direitos exclusivos ao norte do país. Já os britâncios controlavam o leste e o sul.
O centro ficou aberto à competição político-econômica livre... Não para a Pérsia, mas para os dois impérios que a tinham dividido.
Em desespero de causa, os persas contrataram o estadunidense Morgan Shuster para o cargo de fiscal de renda. Sua missão era reformar as finanças do país e coletar impostos das duas potências que os exploravam e acabar com a sangria desatada.
A ideia de pôr um lobo no puleiro parecia boa, porém os britânicos não iam deixar escapar a galinha dos ovos de ouro sem defender para si a seara da qual usufruia com gulodice.
Nesse ínterim haviam descoberto petróleo na província do Khuzistão e para o primeiro ministro da Grã-Bretanha Henry Asquith - Liberal em casa mas déspota em solo alheio - deixar o Ouro Negro para os donos legítimos estava fora de cogitação.
Shuster tentou mandar guardas do tesouro à "zona russa" e o governo recebeu um ultimatum do Czar exigindo que fosse demitido e tropas imperiais foram postas a caminho de Teerã para reempossar o Xá.
No final da briga pelo petróleo, um batalhão do clã Bakhtiari cercou o Majlis, forçou os deputados a concordarem com o ultimatum russo, a Assembleia voltou a ser dissolvida e a Constituição foi engavetada ad vitam æternam.
Os Bakhtiari ocuparam o palácio e tomaram as rédeas do governo até a maioridade do filho de Mohhamad Ali, Ahmad, que assumiu com grande incompetência e foi incapaz de preservar a integridade da Pérsia de seus antepassados.
Durante a Primeira Guerra (1914-18) permitiu, por imediatismo ou ingenuidade, que tropas dos Impérios Russo, Britânico e Otomano impusessem suas vontades e acabou sendo deixado de lado.
Isto foi demais para seus compatriotas, e sua fragilidade facilitou o Golpe de Estado de fevereiro de 1921.

O Golpe foi liderado por um soldado que passou quatro anos suprimindo rivais e arsenais até conseguir que o Congresso o coroasse.
Ele se chamava Reza Khan.
Quando Reza Khan foi coroado xá, seu primogênito Mohammad Reza foi proclamado príncipe herdeiro.
Foi o começo da dinastia Pahlevi.
Ele mesmo governou pouco. De 1925 a 1941.
Destruiu muito do patrimônio arquitetônico da capital, afastou-se dos britânicos e dos soviéticos (após a Revolução de 1917), e era obcecado com a modernização.
Os idosos dizem que é inegável que modernizou o Irã com grandes projetos de infraestrutura. Abriu rodovias, estradas, escolas, reformou o judiciário e melhorou o sistema de saúde.
A educação pública progrediu depressa fazendo emergir novas classes sociais como a classe média e operária, e ele mandou centenas de iranianos, inclusive o prnícipe, estudar na Europa para poderem transformar o Irã em um país industrial e urbano.
E em 1935 deu o golpe final na/s história/s antiga/s mudando o nome do país de Pérsia para Irã.
(Talvez para incluir definitivamente na nação emergente as etnias diversas, e às vezes antagonistas, que compunham o território que suas fronteiras delimitavam.)

Em 1939, quando começou a Segunda Guerra, Reza Khan que nos últimos anos fizera negócios com franceses, alemães e italianos, declarou neutralidade, mas por trás do pano assinou um Tratado Secreto com a Alemanha nazista.
O segredo de Estado que era para ser de abelha virou de polichinelo e os Aliados não perderam tempo com reclamaçõezinhas.
Em 1941 os soviéticos e os britânicos invadiram o Irã, prenderam Reza Khan porque recusou expulsar os funcionários alemães, tomaram controle do petróleo e da rede de estradas e comunicações, e arremataram o Golpe com linha de aço - forçaram Reza Khan a abdicar em favor do filho Mohammad Reza Pahlevi, educado no Instituto Le Rosey na Suiça, ocidentalizado, e com apenas 22 anos. Portanto, maleável.

Em 1942 a Grã-Bretanha e a URSS assinaram um Acordo de respeito à independência do Irã e prometeram evacuá-lo em um período de seis meses após o fim da Guerra - as últimas tropas a voltar para casa seriam as da União Soviética em 1946.
A eleição de 1944 foi a mais disputada da história do país e a democracia exuberou no Majlis.
Nesse ínterim, a Companhia de petróleo Anglo-Iraniana (AIOC), que apesar do nome só pertencia à Grã-Bretanha, continuava a extrair e comercializar o petróleo do "parceiro" que não lucrava nem um rial.
Então, no fim da guerra, o povo decidiu se desfazer desta parceria que só servia aos estrangeiros e pediu com instância a nacionalização da indústia petroleira. Reclamação que desde então foi o cerne do nacionalismo iraniano.
Mohammad Reza, por seu lado, embora tivesse jurado respeito à Constituição e às instituições democráticas, foi tomando gosto pelo absolutismo e como era indeciso, recorreu mais à manipulação do que à liderança para impor seu regime.
Redourou as Forças Armadas se assegurando da lealdade dos generais, baniu o Partido Comunista em 1949 e expandiu seus poderes ao máximo procedendo à caça a bruxas sistemática para assegurar seu reinado.
Contava com conselho e apoio do aliado certo. O presidente dos EUA Harry Truman, que visitara em Washington.
Nomeou Ali Zazmara primeiro ministro e quando este foi assassinado nove anos mais tarde, resolveu nomear para o cargo um político popular, o nacionalista Mohammad Mossadeg.
Mossadeg aproveitou da popularidade pessoal para logo obter do Majlis a nacionalização da indústria petroleira.
A Grã-Bretanha esperneou e recorreu ao artifício do embargo e bloqueio a fim de pôr o Irã de joelhos.
Obstaculou a exportação de petróleo e prejudicou bastante a economia - como os EUA está fazendo com ajuda de seus aliados de agora.
Encostados na parede, os "conselheiros" estrangeiros do Xá o pressionam para que imponha a vontade deles, e na queda de braço com o Primeiro Ministro o Xá, derrotado, foge para Bagdá e de lá, mexe os pauzinhos para voltar usando os artifícios certos para obter apoio militar externo.
No Oriente a popularidade de Mossadeg vai aumentando, ele vira porta-estandarte da resistência dos pequenos contra os grandes, e no Ocidente, o presidente estadunidense Eisenhower, convencido que o primeiro ministro era simpatizante soviético, põe a CIA na trama de um novo Golpe junto com o MI6 britânico.
Enquanto os dois serviços secretos agem na surdina, a Grã-Bretanha, inconformada com a perda do petróleo, mantém as sanções, mas o Irã não entrega os pontos.
Até 1953, quando em plena Guerra Fria e histeria ante-comunista, a "Operação Ajax" anglo-estadunidense quase falha mas no final vinga, Mossadeg é destituído do cargo, preso, e o Xá é recolocado no trono do qual fugira.
É esta ingerência traíra que o Irã até hoje não digeriu e que teme que se repita.

Daí em diante o Xá vira peão explícito da GB e dos EUA no Oriente e o maior amigo de Israel.
Ao ponto de receber ajuda do Mossad na organização da SAVAK, o serviço de informações local responsável por torturas atrozes.
Sem maniqueísmo, alguns lembram que nem todos os atos do Xá são condenáveis - fez alguns programas sociais  bons que culminaram na chamada Revolução Branca de 1963, na qual organizou reforma agrária, estendeu o direito de voto às mulheres e combateu o analfabetismo.
Mas o regime de terror imposto pela Savak (constituída de 60 mil agentes) foi determinante no fracasso da ditadura de Mohammad Reza.
Conseguiu ser odiado tanto pelos religiosos que temiam perder sua autoridade tradicional quanto pelos intelectuais que buscavam reformas democráticas e em troca eram presos e torturados para se calarem. O Terror reinava.
O poder lhe subiu à cabeça ao ponto de em 1967 organizar uma cerimônia de coroação para ser chamado Shah en Shah,  Xá dos Xás, Rei dos Reis.
Em 1971 foi a vez da celebração extravagante de 2.500 anos da monarquia persa.
Sessenta chefes de Estado participaram dos quatro dias de festa no sítio histórico de Persépolis, o banquete foi faustuoso e o brinde de aniversário foi com champanhe Dom Pérignon Rosé 1959, lembra um lacaio.
Os gastos exorbitantes foram condenados por unanimidade, os ânimos foram se exaltando, mas mesmo assim ele ousou ir mais longe em sua megalomania ilimitável.
Em 1976 substituiu o calendário islâmico por um calendário imperial que começava com a fundação do Império persa em 500 AC.
Aí ficou claro que além dos estudantes e intelectuais que já perseguia há anos, visava os grupos religiosos.

Além disso, em 1978, reprimiu a revolta popular com um massacre.
Foi tiro e queda.
Dispersas até então, estas comunidades se uniram em torno de um exilado que catalisava a insatisfação geral e tinha postura do líder que faltava.
Era o Aiatolá Ruhollah Khomeini.

Greves e passeatas se multiplicam, as prisões se enchem de estudantes, operários, ativistas, e a Lei marcial é instituída.
Em janeiro de 1979 a situação se deteriora tanto que o Xá foge com a família para o exílio.
Qatrocentos universitários sequestram funcionários da Embaixada dos Estados Unidos para obter extradição do fugitivo - em tratamento médico nos EUA - para que responda processo pelos crimes e a crise vai além do tempo de vida do Xá, que morre de câncer durante os 444 dias de ocupação da Embaixada.
O sequestro só termina em janeiro de 1981 com a assinatura de um Acordo intermdiado pela Argélia.
Os funcionários estadunidenses são libertados poucos minutos após o juramento de posse do novo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, que começa o governo com aura vitoriosa.
A Revolução foi feita por estudantes que ocuparam as rádios e instituições públicas chave. Porém, primeiro da França e em seguida do Iraque, o Imã Khomeini fomentava a revolta com palavras de ordem, primeiro contra o Xá e depois contra o primeiro ministro Bakhtiar que mesmo assim permitiu que retornasse à pátria.
Em fevereiro o Aiatolá retorna dos 14 anos de exílio e em abril a República Muçulmana do Irã é proclamada por referendum.
Em janeiro de 1980 Abolhasan Bani-Sadr é eleito presidente e começa um vasto programa de nacionalização.


Em setembro de 1980 o Iraque invade o Irã começando a guerra convencional mais mortífera e mais longa do século XX.
Durou até agosto de 1988, e do início ao fim os EUA e a GB forneceram a Saddam Houssein apoio logístico de satélites e o armamento que precisasse.
Mas não foram os únicos que aproveitaram desta guerra em que os corpos não paravam de amontoar-se enquanto os traficantes de armas se esbaldavam.
Os dois países foram infestados de mascates, oficiais e oficiosos, de engenhos militares e munições de todo gênero.
No final das contas, o Irã enterrou 1 milhão de mortos e o Iraque cerca de 350 mil.
O resultado político foi empate.
O resultado moral foi uma cicatriz indelével na alma das nações vizinhas.

Enquanto isto, os Revolucionários religiosos, aproveitando a estrutura repressiva da Savak, se compraziam em encher prisões e ordenar execuções não apenas dos cúmplices do Xá, mas também dos estudantes e intelectuais de esquerda que os tinham ajudado a derrubar o regime esperando construir uma democracia e gozar de liberdade.
Entre 1971-78, o regime do xá Reza Pahlevi executou cem prisioneiros políticos; e no canto do cisne entre 1978-79 a Savak matou 2.781 pessoas.
Segundo ONGs de Direitos Humanos, o Imã Khomeini, entre 1979 e 1985, executou quase oito mil concidadãos e demitiu mais de trinta mil funcionários e professores considerados ocidentalizados demais para seu gosto.
A lista de presos e executados não tem parado de crescer desde a destituição do presidente civil Abolhassan Bani Sadr no dia 21 de junho de 1981, por sua oposição à Guerra contra o Iraque.
Nos últimos anos as execuções têm sido esparsas e as prisões menos fatais, mas a repressão continua presente no país inteiro, sobretudo na capital.
Os aiatolás que governam o Irã são como a linha dura militar que governou o Brasil de 1964-84. A única diferença é que uns vestem túnica preta dos pés à cabeça e os outros farda.
Mas como os nossos militares, há aiatolás "leves" e democratas.
É por isto que cedo ou tarde o poder da linha dura vai esfarelar-se, como o dos Golberys que nos amordaçavam.
Se desse para comparar com a nossa ditadura, diria que o Irã está no finzinho da época Médici e entrando na Geisel. Em que o povo começa a acordar e soltar-se. Figueiredo ainda pode (ou não) demorar um pouquinho, pois a oposição ainda não tem as lideranças políticas e nem os movimentos sociais independentes que tínhamos.
E como no Brasil, para o povo e a nação não serem prejudicados, a vitória democrática tem de vir de dentro, no ritmo nacional e não com intervenção externa.

História encurtada, o Xá já se foi há anos, mas a lembrança do Golpe estrangeiro que o recolocou no poder contra a vontade popular continua na memória dos iranianos.
Concordam com a inspeção nuclear, mas intervenção alheia, nem pensar!
Ali Larijani, porta-voz do Congresso iraniano, disse que os inspetores nucleares das Nações Unidas seriam bem-vindos no país e que esta questão do programa nuclear podia ser resolvida via negociações bilaterais, em vez das sanções comerciais impostas pelos EUA e aliados, e menos ainda por um bombardeio irracional.
E na semana passada Ahmadinejad foi à televisão estatal mostrar ao povo as nove mil centrífugas que estão processando energia nuclear, e os jornalistas locais deram mais informações sobre o progresso doméstico feito nas usinas de enriquecimento de urânio.
Tipo um sopra e o outro bate.
Os EUA consideraram o comportamento de Ahmadinejad "desafiador e provocante", embora fontes fiáveis militares e do serviço secreto estadunidense infiltrados tenham admitido que o Irã não tem arma nuclear, não está construindo arma nuclear e ainda não decidiu se vai ou não investir em armamento além de energia.
Os fatos não importam quando a motivação é ambígua.
A carta que o chefe do projeto nuclear iraniano Saeed Jalili mandou para a União Europeia não podia ser mais clara.
"O Irã está satisfeito com a disposição do grupo P5+1 retomar as negociações a fim de desenvolver uma cooperação."
O P5+1 consiste dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia + Alemanha.
As sanções comerciais impostas ao Irã pelos EUA e a UE são imprecedentes. É uma perseguição sem base nenhuma a não ser intimidação e enfraquecimento para preparar um possível golpe fatal de intervenção militar que desmantele a nação e que os 9% da reserva mundial de petróleo iraniano mude de dono.

Dando seguimento à aparição televisiva de Ahmadinejad, navios de guerra iranianos acabaram de entrar no Mar Mediterrâneo após passar pelo Canal de Suez.
"Para mostrar a potência de Teerã aos Estados regionais", disse o comandante.
Os israelenses logo lançaram os adjetivos "provocação" e "jogo de poder" e avisaram que estarão atentos a este movimento militar naval.
O almirante Habibollah Sayari não confirmou a missão da mini frota, mas informou através da agência oficial de notícias IRNA que "A marinha estratégica da República Islamita do Irã atravessou o Canal de Suez pela segunda vez deste a Revolução."
Segundo a imprensa iraniana, dois contratorpedeiros - Shahid Qandi e Kharg estão no Mar Vermelho desde o dia 4 de fevereiro, e a manobra atual, conforme o Almirante, "tem mensagem de paz"  - e de demonstração de potência militar.
"Vai provar ao mundo que apesar das sanções inimigas dos últimos 33 anos, nossos soldados, obedientes às ordens do Imã Khamenei, continuam a aprimorar suas habilidades acadêmicas e militares."
Em Terrã afirmam que as manobras são de dissuasão e não de provocação. Como em 2011, quando dois navios fixaram âncora em Latakia na Síria mas depois retornaram ao Irã via Mar Vermelho sem causar nenhum dano.
Na época surtiu efeito.
Autoridades israelenses acusam o Irã de orquestrar atentados ante-israelenses na Índia, Georgia e Tailândia.
Mas Tel Aviv não tem provas do que sugere e Teerã em vez de vangloriar-se, nega.
Não está dando nenhuma munição ao ataque programado do inimigo, e por outro lado, o ministro das Relações Exteriores da Inglaterra, William Hague, já disse em alto e bom som que atacar o Irã custaria muito caro e que seu país não advogava a favor de ação militar neste sentido.
A população inglesa menos ainda. Sairia às ruas como contra o bombardeio do Iraque e desta vez não se deixaria enganar por mentiras.

Este bombardeio anunciado e premeditado, além do objetivo do petróleo, tem o do desejo de Israel permanecer o único detentor da bomba atômica na região para continuar a dominar à vontade.
A parte ínfima de israelenses que raciocina em macro sabe que o Irã não está atrás de nenhuma erradicação nuclear, mas sim de um poder de barganha que o tire da mercê alheia e o proteja de retaliações aleatórias e dos atentados de Estado que vem sofrendo em casa.
Que de certa forma provam que o Irã não é assim tão fechado.
Um atentado terrorista similar em Tel Aviv seria impossível e impensável.
É a certeza da vulnerabilidade imposta pela inferioridade bélica que leva Teerã a querer nivelar-se (no caso, por baixo) em vez de proceder a métodos ineficazes de guerrilha como os usados pelo Hezbollah.
Concluindo esta parte, tenho certeza que ninguém que tenha informação fidedigna pode afirmar hoje, com certeza, que o Irã está fabricando uma bomba nuclear. Nem que o ataque Israel-EUA é iminente.
Nem os repórteres israelenses bem informados.
Pois hoje estes colegas estão na mesma situação que os estadunidenses no pré-ataque ao Iraque em que o governo os alimentava com contra-informação que servisse sua determinação de bombardear Bagdá - chegando ao extremo de forjar provas de armas fantasmas. Provas estas que levaram a imprensa a apoiar uma intervenção da qual muitos discordavam.
Os jornalistas íntegros de Tel Aviv sem dúvida se perguntam, a cada palavra que escrevem, se estão trabalhando para o jornal e os leitores ou para os propósitos bélicos do governo de extrema-direita.
Separar o joio do trigo não é fácil.

Sítios nuclerares iranianos
Trocando em miúdos, embora não faltem suspeitas que o Irã esteja a caminho da famigerada bomba, nenhuma é fundamentada em prova.
Os gritos de alarme de Binyamin Netanyahu não são nem um pouco fiáveis, já que desde 1995 que vem anunciando que "daqui a dois anos o Irã a bomba nuclear iraniana estará pronta!"
E até hoje nenhuma informação interna vazou como em 1986 o israelense Mordechai Vanunu descreveu para o planeta a bomba atômica que seu país fabricara na surdina com cumplicidade passiva (uns dizem que ativa) de Henry Kissinger; que além disso, celou contrato de confidencialidade sobre o artefato destrutivo.

Nos parâmetros do Tratado de Não-proliferação Nuclear que o Irã assinou e outros países que têm armas nucleares, não, seu programa de enriquecimento de urânio é legal e por enquanto irrepreensível.
Dito isto, os aiatolás não são ignorantes  nem cegos.
Viram como vimos que na Coreia do Norte, detentora recente de bomba atômica, Kim Jong morreu de morte natural; o que não foi o caso de Gadaffi na Líbia.


Além disso, qualquer Serviço Secreto que se preze sabe que o Irã tem dissenssões internas graves que extrapolam as "simples" questões de oposição ao regime autoritário.
Como mostra o mapa ao lado, é a própria hegemonia persa que poderia ser contestada e destruir a  homogeneidade nacional.
A mudança do nome do país para Irã não foi por acaso, mas sim bem pensada.
Quem está fazendo tudo para jogar ... no ventilador, sabe, ou tem suspeita fundamentada, que a nação iraniana é um colosso com pés de barro, como o Iraque.
De religiões e/ou etnias díspares que se antagonizam em menos ou maior grau.
A tolerância reina porque os persas (51%), os azerbaijanos (23%), os gilakis e mazandaranis (7,5%), os kurdos (7%), os árabes (3%), os baluchis (2%), os lures (2%), os turcomenos (2%) e as minorias armênias, georgianas, turcas, pashtunes, bakhtiares, assírias, circassianas, talyshes, judias, ciganas-koelis são obrigadas a tolerar-se e conviver pacificamente.
Mas ninguém garante que na primeira oportunidade não se atraquem como lobos, como estão fazendo uns e outros no Iraque.
É questão de identidade, cultura distinta agravada por pressões dos vizinhos fronteiriços com afinidade étnica e religiosa, desejo de preservar o próprio território, ganhar espaço, e se possível, dar as cartas, no lugar dos persas maioritários. Mas não o bastante para dominar incondicionalmente.
É isto que preocupa os intelectuais iranianos "revolucionários" de 2009.
Têm consciência que o processo democrático tem de ser interno e emanar de todas as comunidades para que a Assembleia Constituinte com que sonham inclua, pelo menos, representantes das etnias predominantes.
Uma intervenção externa seria um desastre e deixaria o país desmembrado e fraco.
À mercê dos cartéis internacionais que estão predando a Líbia e predaram o Iraque.
O show televisivo de Ahmadinejad na semana passada e a frota que transita nos mares fronteiriços não foram e não são (só) para "inglês ver".
É também uma mensagem interna. Para mostrar ao povo que (ainda) está no controle.

Pois Binyamin Netanyahu calculou bem o golpe de morte contra o cientista iraniano no mês passado.
Primeiro, esperava que Ahmadinejad reagisse ao atentado humilhante na própria capital com um mais espetacular que permitisse retaliação contundente dos EUA.
Netanyahu sabe que os países árabes que alojam bases americanas jamais reagiriam e conta com a memória curta da mídia de  quem atacou primeiro e com que desproporção bélica.
A História do mundo está aí para provar que Leon Tolstói estava certo no tratado de história que desenvolve no último capítulo de Guerra e Paz.
Mas este é outro conto. Dramático, mas literário.

Voltando ao conto iraniano, a Arábia Saudita quer mais é ficar livre de seus dois rivais regionais Irã e Síria e vai sempre tomar o partido dos EUA cujo arsenal local é um dos maiores fora.
A segunda motivação de Netanyahu para assassinar Mustafá Roshan - além da ilusão de que cortando cabeça por cabeça vai matar o que considera a Hidra de Lerna - foi esperar que o Irã fechasse o Estreito de Hormuz como vive ameaçando.
Os danos financeiros que isto causaria às economias do "Primeira Mundo" seria intolerável e faria com que Obama, em ano eleitoral complicado, e o Congresso estadunidense não deixassem este "ato terrorista" passar batido.
Que seja ponto pacífico entre os membros do G8 que o primeiro ministro de Israel é mentiroso de carteirinha não tem importância nenhuma. O que ele diz é lei e seus desejos são ordens prontamente cumpridas.
Os colegas do New York Times rotulam Netanyahu de singularly influencial, o que em linguagem crua significa mais do que todos os lobistas reunidos em Washington e nas capitais europeias.
Além de autoritário e debochado ele é mal-agradecido.
O presidente dos EUA faz tudo o que ele sonha e exige, mas mesmo assim o desgosto de Obama por ele é recíproco e ele gostaria de ver um republicano em Washington em vez do democrata que lhe custa caro em lobbying e que embora o obedeça cegamente na questão palestina o despreza "quase" abertamente.


Ambos candidatos republicanos que continuam no páreo são sionistas confessos, talvez mais por pragmatismo econômico do que por convicção ideológica - se tiverem alguma que vá além do poder e do vil metal que o financia.
Rick Santorum e Mitt Romney (que faz parte do 1% e que acha normal pagar U$6 milhões de impostos que correspondem a só, somente só, 13% de sua renda bilionária) estão bem cobertos financeiramente. Sobretudo o segundo, que foi ao socorro de Netanyahu quando vazou no programa francês Arrêt sur Image a gravação de um Obama cansado de aturá-lo.
Barack Obama é cúmplice do desmando de Israel no Oriente Médio, mas às vezes pensa em macro além de micro; pragmaticamente.
Tanto que ao saber do assassinato do cientista de 32 anos, ordenou que seu serviço diplomático distanciasse imediatamente os EUA do atentado terrorista e há pouco comunicou-se diretamente com Teerã para lembrar Ahmadinejad dos interesses diretos estadunidenses no Estreito de Hormuz.
Por mais que Netanyahu se esforce, embora Obama mantenha a tradição da Casa Branca de não pedir contas a Israel de suas bombas nucleares (nem deixar nenhum país insinuar uma inspeção das usinas de lá ou questionar a segurança do mundo por causa delas), o presidente dos EUA ainda não está em pé de guerra contra o Irã.
E se Londres mantiver a posição do não bombardeio que exige a população e a opinião pública estadunidense não clamar demonstrar bélica da potência EUA nas próximas semanas, Netanyahu terá de esperar o resultado das eleições estadunidenses para levar a cabo seu projeto de bombardear Teerã.
Cercado de verdade ou paranóico?
Em Tel Aviv, muitas autoridades militares e de espionagem volta e meia deixam escapar palavra e frase que demonstram desacordo com um eventual ataque.
Não que queiram evitar que dezenas de civis iranianos padeçam de morte instantânea e milhares, ou milhões, de outros de morte paulatina causada por ferimentos e radiações.
Temem não conseguir defender território e concidadãos das represálias óbvias.
Todos vão ter de esperar um pouquinho.

Sítios nucleares iranianos

                                                                Usinas nucleares militares de Israel

Documentário da BBC:  Israel's Secret Illegal Nuclear Weapons


Documentário BBC : Iran Undercover - Inside the Hidden Revolution
A jornalista irano-canadense Kahra Kazemi fez várias viagens em que mostra o quotidiano oprimido e reprimido do povo iraniano em 1993.
Excelente.


Filme de animação: Persepolis
De Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud
Baseado no libro autobiográfico de Marjane, o filme de 2007 segue sua vida em Teerã antes e após a Revolução Islamita e termina quando ela se expatria aos 24 anos.
O nome é uma referência à antiga capital persa Persépolis.
E para entender melhor a cultura iraniana por dentro, sem nunca ter pisado no Aeroporto Internacional Imã Khomeini, o cinema atual a retrata bem.
Além disso se assemelha, em poesia e realidade, ao Neorealismo Italiano pós-guerra.
A lista de filmes dos cineastas abaixo não é exaustiva. Apenas alguns mais fáceis de encontrar fora do país.
Os roteiros, como no Brasil dos militares, são submetidos a censura. É por isto que todas as mulheres usam hidjab inclusive em casa.
Na realidade só as mulheres das classes sociais mais baixas e da população menos educada usam burqa ou lenço em lugar fechado; muito menos em casa. Mas os diretores são obrigados a respeitar esta imposição e outras para que seus filmes saiam.
Mesmo assim contornam a censura de várias formas sutis que são em si uma forma de resistência ativa junto ao público nacional que entende a imagem, a analogia, a metáfora.
Como no Brasil com as músicas do Chico, Gonzaguinha, João Bosco e outros da mesma qualidade.

Abbas Kiarostami é o mais célebre. Vedado a fãs de filme de ação.
Koker Trilogy
The Taste of cherry
The Wind will carry us
Ten
Shirin




Asghar Farhadi (http://asgharfarhadi.com/)
Low Heights
Beautiful city
Fireworks Wednesday
About Elly
A separation

Bahman Godhavi
A Time for Drunken Horses
Marooned in Iraq

Turtles Can Fly
Half Moon 2006
No One Knows About Persian Cats 
Rhinos Season




Bahman Farmanara
Ficou proibido de trabalhar durante 22 anos e recomeçou em 2000.
Smell of Camphor, Fragrance of Jasmin
A House Built on Water
A Teensy Kiss
The familiar soil




Dariush Mehrjui
The Cow
The cycle
Hamoun
Sara
Pari
Leila
To stay alive
Santori


Jafar Panahi
The White baloon, um dos melhores filmes infantis que já assisti
Crimson Gold
The Mirror
The Circle
Offside
This is not a film (documentário sobre sua prisão domiciliar após os problemas que teve com Offside)


Kambuzia Partovi
Border cafe







Majid Majidi (http://www.cinemajidi.com/)
A Day with POWs - documentário
Baduk (excelente abordagem de escravidão infatil)
Father
Children of Heaven
The Color of Paradise
Baran (Rain)
Bare foot to Herat - documentário sobre refugiados afgãos
The Willow Tree
The Song of Sparrows
Kashmir Afloat


Mohsen Makhmalbaf (http://www.makhmalbaf.com/persons.php?p=6)
Boycott
The Street Vendor
The Bicyclist
The Marriage of the Blessed

Once Upon a Time, Cinema
Gabbeh
A Moment of Innocence
 Blackboards
 The Silence
     Tales of Kish
Test of Democracy
Kandahar - Safar et Ghandehar
Colder Than Fire
Sex & Philosophy
Chair
Poet of wastes
Scream of the ants
The Man Who Came With the Snow

Entrevista Al Jazeera com o rabino Dovid Weiss:
Zionism has created 'rivers of blood'

"The public almost automatically associates Jews and Israel.
The press continues to refer to "the Jewish State."
Israeli politicians often speak "in the name of the Jewish people."
Yet the Zionist movement and the creation of the State of Israel have caused one of the greatest schisms in Jewish history.
- Yakov M. Rabkin, 2006, no livro A threat from within: New book describes a century of Jewish opposition to Zionism


Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/;
Lista de produtos das colônias a serem boicotados: http://peacenow.org.il/eng/content/boycott-list-products-settlements;