domingo, 21 de agosto de 2016

The Ugly American

A última semana das Olimpíadas foi manchada por uma estória lamentável protagonizada por um Ugly Americain
Para quem segue a política internacional dos Estados Unidos, o que aconteceu com Ryan Lochte e seus companheiros no Rio - ironizado nos EUA como Lochtegate - é apenas um exemplo em micro (indivíduo) da atitude geral do Tio Sam em macro no mundo.
Ugly Americain é um termo usado frequentemente para definir o mau comportamento dos gringos fora de suas fronteiras.
In plain English: Ugly americain is a pejorative term used to refer to perceptions of loud, arrogant, demeaning, thoughtless, ignorant, and ethnocentrice behavior of most Americain citizens mainly abroad.
(Definição na qual alguns europeus que mantêm a empáfia de ex-colonizadores podem ser incluídos...)
Ugly Americain é o estadunidense que sai planeta a fora fazendo o que bem entende, depois, em vez de arcar com as consequências de seus atos repreensíveis e repreendidos, inventa mentiras para cobrir seu delito. E quando é pego em flagrante e não dá para acobertar o crime - leve ou grave - se desculpa sem desculpar-se realmente.
Australianos costumam dizer em relação aos colegas gringos: "Guess who will write the best article?" E aponta para um jornalista gringo: "Of course it's him, because he will write it in Americain!"
O Ugly Americain é o gringo que has a sense of entitlement, however subtle and a feeling of superiority, however unintended, but always present. Ou seja, que acha que tudo lhe é devido e que sabe e pode mais do que todo mundo.
(Como os israelenses. Aliás, vou inaugurar neste momento um novo termo: Ugly Israeli.)
Lochte desculpou-se sem admitir a mentira. Desculpou-se para livrar a cara e não perder os três patrocinadores que incluíram esta cláusula verbal no contrato.
Lochte desculpou-se mantendo seu estatuto de vítima.
Quando não se fazem de vítimas, os gringos apertam as feridas de quem reclama para que engula o sapo, em seco, e que eles saiam incólumes e por cima.
Aliás, até o NYTimes (que perdeu a credibilidade desde a "guerra" do Iraque) comprova a arrogância dificilmente dissimulada do mea culpa. Criticam o autor do delito, mas os artigos são cheios de menções à criminalidade no Rio e insistem em dizer que um assaltante, no Rio, jamais deixaria o assaltado livre com o celular.
(Aí pergunto: algum assaltante em algum lugar iria embora sem um IPhone última geração que poderia vender na esquina para um comprador irresponsável? Nova York, Paris, Londres, está cheio de oportunistas prontos a pagar uma ninharia por um  objeto que só pode ter sido roubado. Mas o articulista teima em especificar que um assaltante carioca jamais deixaria pra trás um celular...)
Pois é, o Ugly Americain é Ryan Lochte e é Barack Obama, os Bush, os Clinton, que posam de cristãos, mas que quando dão, mostram a mão; e quando batem, escondem a mão e a arma com a qual dispararam. Quando não a exibem mentindo que é propriedade alheia. 
Onde quer que vá, este Ugly Americain chega como conquistador e não como convidado. Chega como dono e não como hóspede. Chega como parasita, sanguessuga, invasor bárbaro.
A atitude de Ryan Lochte no Rio não foi uma exceção, e sim uma regra dos gringos fora de casa.
Entre o Quiet Americain e o Ugly Americain só há uma diferença - a ingenuidade do primeiro. Mas um pode virar o outro a qualquer momento. Em qualquer lugar. Em qualquer circunstância. Pois esta duplicidade é alimentada pela própria sociedade estadunidense: ingenuidade e prepotência.
Erramos ao bombardear o Iraque? Erramos, MAS fizemos enganados, diz o Ugly Americain.
Israel é fora da lei, genocida, e os apoiamos? Pois é, MAS fazemos isso porque é o nosso maior aliado no Oriente Médio e conhece todos os nossos podres, justifica o Ugly Americain off the record.
Os menininhos palestinos também são traumatizados pelas bombas que damos para Israel jogar neles tanto quanto o meninino sírio? Talvez, mas só choramos pelo que sofre em Aleppo. 
Are we Ugly? Yes, BUT we are Good. Occasionally. When it suits us and when it does us good.
By the way, a expressão tem origem no livro The Ugly Americain, publicado em 1958, em que Eugene Burdick e William Lederer descrevem o fracasso da diplomacia estadunidense no Terceiro Mundo diante do sucesso da União Soviética devido aos erros de abordagem dos EUA.
O palco da trama é um país fictício da Ásia, mas hoje poderia ser o Iraque, o Afeganistão, onde quer que pise um gringo em rítmo de conquista.
Do lado dos estadunidenses, um desprezo pela cultura, língua e costumes locais; do lado dos soviéticos, seu interesse em entender essas três particularidades, a integrar-se e contribuir com algo.
Um pouco como Napoleão e César. O primeiro invade e semeia destruição por onde passa; o segundo conquista e leva o progresso por toda parte.
O título do livro da dupla de escritores foi um tipo de continuidade do Quiet Americain do Grahan Greene. Sem a nuância de linguagem e de personagens, pois Grahan Greene, no gênero jornalístico-conflito é incomparável. Mas é um bom livro, bem próximo da realidade.
Aliás John Kennedy ficou tão impressionado com a leitura que presenteou todos senadores com um exemplar para ver se caiam na real. Pois o livro descreve a incapacidade do corpo diplomático estadunidense de lidar com os nativos por isolar-se socialmente, ser ignorante, presunçoso, arrogante e quando propor negócio, este sempre beneficiar mais as americain corporations do que os nativos.
Enquanto que os diplomatas soviéticos falam a língua do país e tentam entender sua cultura.
Na verdade, há um ugly Americain no livro, Pat Hingle que interpreta a personagem de Homer Atkins, um estadunidense feio, no sentido próprio, fisico, mas que é um bom elemento que se comporta como os russos, tentando ajudar a comunidade.
Foi ele que levou JFK a pensar que o Ugly Americain poderia ser corrigido com campanhas para popularizar o livro e tentar mudar a imagem de seu país no exterior criando o Peace Corps e outros organismos do gênero.
A má atitude dos Estados Unidos e dos estadunidenses não mudou, porém, o termo pejorativo pegou e virou definição de tudo o que os gringos têm de pior, quando estão fora, e dentro de suas fronteiras quando lidam com estrangeiros.
Como não podia deixar de ser, em 1963, Marlon Brando, grande ativista, insistiu em fazer o filme. Produção e direção ficaram a cargo de um de seus melhores amigos que pensavam como ele, George Englund. Marlon Brando fez o papel do Ugly Americain real no filme, o embaixador Harrison Carter MacWhite cuja empáfia encarna tão bem que foi até criticado por verdadeiros Ugly Américains que ficaram incomodados em reconhecer-se na tela.
Infelizmente, apesar do livro ser muito popular nos Estados Unidos, nenhum governante estadunidense consegiu desmentir que, no fundo, pensa e age com um Ugly americain.
É claro que há exceções à regra entre a população. Mas infelizmente, insuficientes para que o termo caia no esquecimento.
Enquanto esse Ugly Americain nos distraía de coisas realmente importantes nas Olimpíadas como o sacre do Bolt, que sonhava em virar o Pelé do atletismo, e virou, na Escócia, acontecia uma bela demonstração de solidariedade à Palestina.
Os torcedores do Celtic FC, obrigados a receber um time israelense em Glasgow para um jogo da Copa da Europa (uma das corrupções da FIFA/UEFA que parece que jamais serão corrigidas: a inclusão de Israel na Copa da Europa!) reagiram com a torcida transformando a arquibancada em um mar de bandeiras da Palestina.
Resultado, a UEFA sofreu pressão sionista e pretende voltar a punir o clube recidivista.
O Celtics hoje é o 37° clube de futebol do planeta. Nada mal. Mas começou modestamente em 1888, na igreja St Mary de Glasgow.
Seus torcedores de hoje apoiam a Palestina porque seus antepassados que criaram o clube, sofreram horrores como cidadãos de segunda classe por serem católicos. O clube foi criado porque os católicos eram proibidos de jogar nos times existentes, reservados aos protestantes.
Nas próprias palavras de um torcedor do Celtics: Celtic is a football club with Irish Roman Catholic roots and the majority of the fans are Catholic. Irish Catholics are known for being notably pro-Palestinian in their leaning on the Israeli-Palestinian conflict, with many viewing the Palestinian cause as similar to that of the Irish under British occupation in Northern Ireland. Israel maintains a military occupation over Palestinians in the West Bank and a blockade on the Gaza Strip.
Aliás, no dia do jogo, o Celtic abriu um fundo caritativo para ajudar duas obras de solidariedade palestina. Já arrecadou mais de  £130,000.
Mondoweiss: The shocking story of Israel's disappeared babies. New information has come to light about thousands of mostly Yemeni children believed to have been abducted in the 1950s.
Síria: Para quem não viu, eis o vídeo que deu a volta ao mundo "chocando" quem vive na Lua como o vídeo de Ahmed, o refugiadinho estendido morto na praia chocou há alguns meses. Sem que ninguém se interesse em abordar o fundo de nenhum dos problemas.
Quem trabalha na Síria vê isso todo dia. Como quem trabalha em Gaza vê todos os dias durante as operações militares israelenses que não acontecem só quando chama atenção da mídia.
O quotidiano dos meninos palestinos, desde 1967, é este. Na Cisjordânia, com ataques por terra. Em Gaza, aéreos. O que não diminui o horror da Síria, nem do Yêmen (bombardeado pela Arábia Saudita com apoio dos EUA) mas demanda o mesmo peso e a mesma medida. 
Para que isso termine, eis Jill Stein, alternativa à ogra Clinton e ao palhaço Trump
candidatos à presidência dos Estados Unidos.

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