No mês de novembro, os gazauís celebraram o aniversário do bombardeio israelense do ano passado (Blog 18/11/12) com uma grande passeata em Gaza.
Binyamin Netanyahu também celebrou à sua maneira. Foi visitar um batalhão da IDF estacionado na fronteira e disse que a Operação Pillar of Defense, como os israelenses batizaram o bombardeio, foi um sucesso. Entre outras coisas, seu comunicado de imprensa (acredite quem quiser) dizia que "In the end, this deterrence is achieved by the enemy's knowing that we will not tolerate attacks on our communities and our soldiers, and that we will respond in great strength. This is the foundation of our deterrence."
Ahmed Jamal al-Dalu, um gazauí cuja casa foi bombardeada durante a Pillar of Defense, e que perdeu em seu lar dez membros de sua família no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo lugar em que uma das centenas de bombas foram jogadas, suspira e diz que "After one year that this happened, nothing [has] changed in Gaza for us, for our family. Nothing [has] changed. The situation is getting worse - not for us only, but all the Palestinian people."
Embora tenha vivido tempos áureos na antiguidade, desde a vitória traíra de David sobre Golias a Faixa de Gaza é famigerada na desgraça.
Parece que os gazauís dos séculos XX e XXI veem pagando por tudo o que os seus antepassados poderosos tiverem feito de errado quando os Filistinos dominavam a região com sua Pentápolis. Há mais quatro mil anos.
Sua história data de 3.300 anos Antes de Cristo, da Idade do Bronze.
A grande Pentápolis, que se estendia às cinco metrópolis filistinas - Ashdod, Ashkelon, Ekron, Gath e Gaza - pelas quais seu líder Golias enfrentou David para salvar seus concidadãos, é mais recente. Data de mais ou menos 12 séculos AC.
Já falei sobre isso tudo neste blog (12/02/2012). Da História Antiga e à contemporânea que venho abordando há três anos. Mas cada vez que Gaza é chicoteada com uma nova tragédia, uma nova ameaça, a história emerge como se tivesse sido anteontem que os israelitas chegaram à Palestina convencidos que era a Terra Prometida. Que David então matou Golias após um gesto traíra, que os filistinos sobreviventes ao massacre que seguiu a derrota de seu líder se refugiaram na Faixa, que recuperaram sua terra mil anos mais tarde com a queda do templo de Jérusalem e a emigração israelita, que voltaram a refugiar-se na Faixa após novo massacre em 1948, que foram ocupados após a famigerada Guerra dos Seis Dias em 1967, e que desde então têm sido paulatinamente despojados de tudo, até da dignidade que dá ao homem, à mulher, o estatuto humano de verdade.
Volto à carga em favor de Gaza porque quando Morsi foi eleito à Presidência do Egito no ano passado, ficou claro que o bloqueio israelense estava ficando obsoleto e abstrato. O Hamas tem boas relações com a Irmandade Muçulmana e Morsi ousara tomar partido pelos palestinos, ao contrário do governo do deposto Hosni Mubarack que pactuava com Israel e obedecia os Estados Unidos à risca a fim de perpetuar-se.
Durante o período pós-revolucionário a fronteira foi aberta mais amiúde para o comércio e para busca de assistência médica, e os túneis foram tolerados.
Os gazauís renasceram com produtos alimentícios nas prateleitas dos supermercados, com água menos regrada, com materiais de construção para reerguer as casas, hospitais, repartições públicas destruídas pelos mísseis do ocupante. Encontrava-se remédios nas farmácias, tratamento possível nos hospitais também abastecidos com o mínimo.
Israel começou a reclamar da perda da margem de manobra com o Hamas, Washington solidarizou-se com o apelo do afilhado, telefonemas foram dados, pressões vingaram, veio o Golpe Militar, e, de repente, dir-se-ia que o Golpe foi feito para atender as lamúrias de Binyamin Netanyahu e não os revolucionários.
É o que acontece nesses casos.
Uma das primeiras medidas do general egípcio golpista foi voltar a estrangular a Faixa de Gaza. Fechou fronteira, bloqueou os túneis que alimentam os gazauís, fez tudo o que podia para ajudar o bloqueio de todos os gêneros que Israel impõe desde 2006.
A bonança precária acabou. A situação voltou a ser dramática.
As prateleiras dos supermercados voltaram a esvaziar-se, a água potável voltou a ser a raridade turva fornecida a preço de ouro pelos tanques israelenses (que a tiram da própria terra palestina, na Cisjordânia para vender na Faixa...), as contruções pararam, os carros ficaram sem gasolina, enfim, a carência voltou à pauta.
51% da população da Faixa de Gaza (1 milhão e 640 mil habitantes) têm menos de 17 anos. 30%, menos de 29 anos. Ou seja, apenas 312 mil gazauís têm mais de 30 anos.
Confinados nesse território exíguo de 41 quilômetros de comprimento por seis a doze de largura, os gazauís continuam resistindo como podem. Sonham com a liberdade, e dizem que não adianta esfomeá-los, humilhá-los, bombardeá-los, matar quantas crianças quiserem, com balas ou de doenças causadas por subnutrição e água contaminada. "Resistiremos porque a terra é nossas há milhares de anos e é a única pátria que temos," respondem os gazauís de oito a oitenta anos.
Eu poderia relatar varias histórias individuais e coletivas para ilustrar o que acontece na Faixa. Porém, acho melhor deixar falar as imagens abaixo.
Mas antes vou pronunciar a frase que incomoda os sionistas extremistas e seus injustos cupinchas. Todos os problemas que o Ocidente tem com os árabes resume-se em duas palavras recheadas: Ocupação (civil e militar) da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
(Não é que os palestinos se metam em terrorismo internacional ou incitem o mesmo. Muito pelo contrário. É que as populações árabes "normais" ficam tão revoltados com a situação da Palestina (não são os únicos) que acabam (alguns) desculpando os extremistas e às vezes até achando que o discurso deles tem fundamento, embora esses Al Qaedas que semeiam medo e morte não pensem nem um pouco em justiça social e quanto menos nos pobres mortais, qualquer que seja a religião destes.)
A injustiça na Palestina em geral e na Faixa de Gaza em particular é grande demais para ser digerida sem o sapo entalar, sufocar, e como dizia o grande Gonzaguinha, o coração explodir de indignação e quem tem boca, reclamar.
Sua história data de 3.300 anos Antes de Cristo, da Idade do Bronze.
A grande Pentápolis, que se estendia às cinco metrópolis filistinas - Ashdod, Ashkelon, Ekron, Gath e Gaza - pelas quais seu líder Golias enfrentou David para salvar seus concidadãos, é mais recente. Data de mais ou menos 12 séculos AC.
Já falei sobre isso tudo neste blog (12/02/2012). Da História Antiga e à contemporânea que venho abordando há três anos. Mas cada vez que Gaza é chicoteada com uma nova tragédia, uma nova ameaça, a história emerge como se tivesse sido anteontem que os israelitas chegaram à Palestina convencidos que era a Terra Prometida. Que David então matou Golias após um gesto traíra, que os filistinos sobreviventes ao massacre que seguiu a derrota de seu líder se refugiaram na Faixa, que recuperaram sua terra mil anos mais tarde com a queda do templo de Jérusalem e a emigração israelita, que voltaram a refugiar-se na Faixa após novo massacre em 1948, que foram ocupados após a famigerada Guerra dos Seis Dias em 1967, e que desde então têm sido paulatinamente despojados de tudo, até da dignidade que dá ao homem, à mulher, o estatuto humano de verdade.
Volto à carga em favor de Gaza porque quando Morsi foi eleito à Presidência do Egito no ano passado, ficou claro que o bloqueio israelense estava ficando obsoleto e abstrato. O Hamas tem boas relações com a Irmandade Muçulmana e Morsi ousara tomar partido pelos palestinos, ao contrário do governo do deposto Hosni Mubarack que pactuava com Israel e obedecia os Estados Unidos à risca a fim de perpetuar-se.
Durante o período pós-revolucionário a fronteira foi aberta mais amiúde para o comércio e para busca de assistência médica, e os túneis foram tolerados.
Os gazauís renasceram com produtos alimentícios nas prateleitas dos supermercados, com água menos regrada, com materiais de construção para reerguer as casas, hospitais, repartições públicas destruídas pelos mísseis do ocupante. Encontrava-se remédios nas farmácias, tratamento possível nos hospitais também abastecidos com o mínimo.
Israel começou a reclamar da perda da margem de manobra com o Hamas, Washington solidarizou-se com o apelo do afilhado, telefonemas foram dados, pressões vingaram, veio o Golpe Militar, e, de repente, dir-se-ia que o Golpe foi feito para atender as lamúrias de Binyamin Netanyahu e não os revolucionários.
É o que acontece nesses casos.
Uma das primeiras medidas do general egípcio golpista foi voltar a estrangular a Faixa de Gaza. Fechou fronteira, bloqueou os túneis que alimentam os gazauís, fez tudo o que podia para ajudar o bloqueio de todos os gêneros que Israel impõe desde 2006.
A bonança precária acabou. A situação voltou a ser dramática.
As prateleiras dos supermercados voltaram a esvaziar-se, a água potável voltou a ser a raridade turva fornecida a preço de ouro pelos tanques israelenses (que a tiram da própria terra palestina, na Cisjordânia para vender na Faixa...), as contruções pararam, os carros ficaram sem gasolina, enfim, a carência voltou à pauta.
51% da população da Faixa de Gaza (1 milhão e 640 mil habitantes) têm menos de 17 anos. 30%, menos de 29 anos. Ou seja, apenas 312 mil gazauís têm mais de 30 anos.
Confinados nesse território exíguo de 41 quilômetros de comprimento por seis a doze de largura, os gazauís continuam resistindo como podem. Sonham com a liberdade, e dizem que não adianta esfomeá-los, humilhá-los, bombardeá-los, matar quantas crianças quiserem, com balas ou de doenças causadas por subnutrição e água contaminada. "Resistiremos porque a terra é nossas há milhares de anos e é a única pátria que temos," respondem os gazauís de oito a oitenta anos.
Eu poderia relatar varias histórias individuais e coletivas para ilustrar o que acontece na Faixa. Porém, acho melhor deixar falar as imagens abaixo.
Mas antes vou pronunciar a frase que incomoda os sionistas extremistas e seus injustos cupinchas. Todos os problemas que o Ocidente tem com os árabes resume-se em duas palavras recheadas: Ocupação (civil e militar) da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
(Não é que os palestinos se metam em terrorismo internacional ou incitem o mesmo. Muito pelo contrário. É que as populações árabes "normais" ficam tão revoltados com a situação da Palestina (não são os únicos) que acabam (alguns) desculpando os extremistas e às vezes até achando que o discurso deles tem fundamento, embora esses Al Qaedas que semeiam medo e morte não pensem nem um pouco em justiça social e quanto menos nos pobres mortais, qualquer que seja a religião destes.)
A injustiça na Palestina em geral e na Faixa de Gaza em particular é grande demais para ser digerida sem o sapo entalar, sufocar, e como dizia o grande Gonzaguinha, o coração explodir de indignação e quem tem boca, reclamar.
Documentário da Channel 4, de Sandra Jordan (maio de 2003)
Gaza : The Killing Zone (trailer de 10')
Para assistir ao documentário completo: https://archive.org/details/KillingZone
Falando nos túneis, o general Sissi, golpista do Egito, os visou desde a primeira semana no poder. Seus soldados os bloquearam e de repente, Gaza foi imobilizada.
Ruas movimentadas ficaram pacatas, mais de 20 mil operários de construção perderam o emprego em uma semana, o comércio voltou a marasmo.
Até o dia 03 de julho, havia cerca de mil túneis em funcionamento entre a Faixa e o Egito. Eles empregavam sete mil pessoas na cadeia comercial do transporte até o local em que a mercadoria é apresentada ao consumidor para ser comprada.
Nos últimos seis anos, os túneis têm sido o oxigênio das centenas de milhares de gazauís, espremidos nos 365 km², que precisam deles para obter gêneros alimentícios e outros produtos necessários. Sem contar os materiais de construção para reerguer o que os mísseis e os bulldozers israelenses destroem regularmente.
Desde o Golpe de Sissi, o Egito destruiu ou bloqueou mais de 80% dos túneis.
Parecia até que o golpe fora também para isso. Para voltar a asfixiar os gazauís e o Hamas.
O comércio dos túneis é regulamentado pelo Hamas e o "negócio" é devidamente fiscalizado e impostos são cobrados e pagos.
Eles representam cerca de 40% da renda do governo local que é revertida em bens públicos.
No início de setembro, o ministro da Economia da Faixa, Alaa al-Rafati, disse que "The Gaza Strip has lost around $225m during the past month due to the halt of imports, namely fuel and crude materials for construction, such as cement, gravel and steel."
Milhares de trabalhadores da construção civil foram demitidos porque as obras tiveram de ser interrompidas - Israel só permite a entrada na Faixa de pequenas quantidas de material e apenas para projetos de reconstrução da iniciativa da ONU.
O resto entra pelos túneis. Pois os palestinos estão sob as garras de Israel inclusive para bens como a gasolina, que lhes é vendida a preço exorbitante, considerando os meios escassos dos gazauís. A gasolina levada através dos túneis custa a metade do preço da que é vendida pelos ocupantes.
Os preços de produtos de primeira necessidade, inclusive a cesta básica local, multiplicaram de maneira astronômica.
Segundo Gisha, uma ONG israelense que monitora o movimento de pessoas e produtos para dentro e fora de Gaza, só o preço do cimento aumentou mais de 60% e continua subindo.
Chris Gunnes, da agência da ONU para refugiados (UNRWA), declarou consternado que "The closure of Rafah comes after years of blockade, which have seen an appalling decline in the conditions in Gaza, taking its brutal toll on the population, more than half of whom are children. The restrictions amount to a collective punishment which is illegal under international law."
Um diplomata ocidental defendeu os interesses obscuros estrangeiros aos quais o general Sissi servia fechando os túneis dizendo que "Egypt is in a quandary – it doesn't want to punish Gaza by closing the tunnels, but it needs to secure Sinai.
Esta é a resposta oficial.
Alguns diplomatas estrangeiros menos partidários do asfixiamento da Cisjordânia e da Faixa de Gaza estiveram na Palestina para avaliar os efeitos funestos da ocupação e do fechamento dos túneis.
Pareciam impressionados com a situação lamentável. Foram embora. Falaram com Sissi? Pressionaram Obama e Netanyahu de alguma forma?
Se tiverem falado ninguém reagiu (ainda?) a favor dos ocupados.
Documentário Journeyman: Abu Jamil Street
Agora vamos à pesca, que em Gaza, é tradicional, antiga, e essencial. Uma profissão transmitida de geração a geração. Os filhos aprendem com os pais e continuam a alimentar suas famílias como fizeram seus avós, bisavós, enfim, em dezenas de séculos passados.
Os Acordos de Oslo assinados em 1993 entre Israel e a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) - representados por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat - autorizava aos pescadores 20 milhas náuticas (cerca de 37 km). Em 2006 a área de pesca foi reduzida a 3 milhas (cerca de 5.5 km).
Os Acordos de Oslo assinados em 1993 entre Israel e a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) - representados por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat - autorizava aos pescadores 20 milhas náuticas (cerca de 37 km). Em 2006 a área de pesca foi reduzida a 3 milhas (cerca de 5.5 km).
Hoje, inclusive dentro destes 5.5 quilômetros a que foram reduzidos, os pescadores continuam sendo atacados, maltratados, e privados do ganha pão quotidiano.
Todos os dias um deles volta para casa morto ou ferido pelos soldados da IDF que os policiam.
A IDF justifica o policiamento violento com os mesmos argumentos que usa para destruir os túneis entre a Faixa e o Egito. Diz que é para evitar o tráfico de armas. Porém, nenhum barco de pescador revistado durante as décadas de ocupação continha nenhum material alheio à pesca.
Os soldados detêm os barcos e fazem a revista como nas casas de família. Invasiva, agressiva, danosa e daninha.
Começam atacando os barcos com jatos d'água. Quando os pescadores se rendem, são obrigados a despir-se e jogar-se no mar, qualquer que seja a estação do ano e a temperatura da água.
Depois, são "pescados" pelo navio que os ataca, são algemados e levados a um porto israelense.
Às vezes, dependendo do comandante encarrregado da "operação", os pescadores são obrigados a nadar até a praia. (As fantasias dos militares israelenses são variadas. Tanto na Cisjordânia quanto na Faixa. Às vezes lembram a personagem do Ralph Fienes no filme A Lista de Schindler.)
Depois, são "pescados" pelo navio que os ataca, são algemados e levados a um porto israelense.
Às vezes, dependendo do comandante encarrregado da "operação", os pescadores são obrigados a nadar até a praia. (As fantasias dos militares israelenses são variadas. Tanto na Cisjordânia quanto na Faixa. Às vezes lembram a personagem do Ralph Fienes no filme A Lista de Schindler.)
Ao chegar à praia, são cercados de soldados que os trancam em uma célula metálica. Depois são interrogados como de praxe.
Os feridos durante a "operação" de abordagem pirata não recebem atendimento médico imediato. Com sorte, são examinados no mínimo 10 horas mais tarde.
A maioria dos detidos são soltos dois ou três dias após o sequestro. São deixados no Checkpoint Erez, na entrada da Faixa. São despojados de tudo o que carregavam, inclusive carteira com dinheiro e documentos.
Mesmo estando feridos, têm de virar-se para chegar em casa.
O barco do pescador com todo equipamento - motor, redes, etc. - é confiscado pelos israelenses que nunca os devolvem e riem na cara do proprietário quando este ameaça denunciar a pirataria militar e processá-los por roubo.
O pescador perde então seu meio de subsistência e milhares de euros de equipamento que ele tem de se virar para voltar a comprar inteiramente. A fim de assegurar o ganha pão de no mínimo dez pessoas que dependem dele.
Aí entra na roda-viva de centenas de colegas que sofreram o mesmo tratamento.
Aí entra na roda-viva de centenas de colegas que sofreram o mesmo tratamento.
O porquê dos interrogatórios é a tática de aterrorizar para oprimir melhor e sempre.
As "sessões" de interrogatórios, sobretudo dos jovens, visam "quebrar" o interrogado e forçá-lo com chantagem ou alguma magra vantagem à traição, a espionar os compatriotas para o Shin Bet.
(Médicos israelenses denunciaram há alguns meses outro tipo de chantagem que Israel faz com as famílias gazauís para que traiam a Palestina. A chantagem é simples. Quem precisar levar para fora um familiar com doença grave que necessita tratamento inacessível na Faixa, tem de transformar-se em espião do Shin Bet/ Shabak. A escolha draconiana é inclemente: trair, espionar, ser responsável pela morte de um compatriota e colaborar com o ocupante ou deixar morrer pai, mãe, irmão, filha ou filho.)
As "sessões" de interrogatórios, sobretudo dos jovens, visam "quebrar" o interrogado e forçá-lo com chantagem ou alguma magra vantagem à traição, a espionar os compatriotas para o Shin Bet.
(Médicos israelenses denunciaram há alguns meses outro tipo de chantagem que Israel faz com as famílias gazauís para que traiam a Palestina. A chantagem é simples. Quem precisar levar para fora um familiar com doença grave que necessita tratamento inacessível na Faixa, tem de transformar-se em espião do Shin Bet/ Shabak. A escolha draconiana é inclemente: trair, espionar, ser responsável pela morte de um compatriota e colaborar com o ocupante ou deixar morrer pai, mãe, irmão, filha ou filho.)
Voltando aos pescadores, o bloqueio tem um impácto negativíssimo não só na vida dos 3.700 pescadores oficiais da Faixa como também na de70 mil pessoas que dependem deles.
Para completar a arbitrariedade, os israelensem impuseram restrição à potência dos motores a menos de 25 cavalos. Portanto, o trabalho no mar fica ainda mais perigoso devido à fragilidade da embarcação.
Trabalho de pescador já é difícil. Dos pescadores gazauís é uma via crucis a cada saída do barco.
Os israelenses usam esta tática porque peixes, crustáceos, são a fonte principal de alimentação na Faixa desde a Idade do Ferro. Hoje, para alimentar-se de maneira conveniente, os que podem têm de comprar peixe "importado" do Egito através dos túneis, como os demais alimentos e produtos de primeira necessidade - inclusive papel-higiênico, que também faz parte dos produtos "perigosos" proibidos de entrada na Faixa.
A subnutrição na Faixa é impressionante. Além das doenças causadas por água insalubre, tem a carência de gêneros alimentícios de base importantes para os adultos e mais ainda para as crianças.
Com o bloqueio inclemente, sem os túneis os gazauís estariam(rão) exangues e moribundos. É esta a meta dos governos de Israel e dos Estados Unidos?
"We Wake up [in Gaza Strip] to terrifying sonic booms and try to sleep while the Israeli navy is shelling. Simple things like daily running water and a full day of electricity have now become luxuries. Nearly four weeks ago the sole power generator in Gaza stopped working due to lack of fuel. We had become used to the eight hours of electricity we were allotted but now we are down to four to six hours at a time and lengthy 12-14 hour blackouts.
At any given moment at least one-third of Gaza will be in the dark. During the long days of summer it is much easier to cope but now the days are much shorter and it seems most of our time is spent in the dark. Students study by candlelight and women cook by flashlight. Men gather on the balconies to smoke and talk politics – the only light that can be seen are the small red dots of their glowing cigarettes.
Some families are able to afford a converter than runs on a car battery and can power a few small items. The cost for the unit is about 700 shekels (£120) and the batteries cost another 700 shekels. This might not seem like much but even that is out of reach for a majority of families especially now the unemployment rate is nearly 40 per cent. Stores, restaurants and larger apartment buildings often use gas generators. These days, however, it is nearly impossible to get fuel and queues are very long with some people waiting 24 hours just for a few litres.
Drivers are feeling the shortage and finding a taxi is impossible at times. Yet everyone knows how hard it is and we try to help each other as much as possible. People pile as many in as can fit in a car, sometimes sitting on laps, just to make sure others can get to their homes. It is not uncommon to see three or even four people squeezed into the front seat of a taxi going from Gaza City to the refugee camps in the middle of Gaza. Some cars are now running on a mixture of cooking oils and the smell of falafel and French fries trails after them. Cooking gas supply runs low every winter but this year it is the worst shortage in a long time. An average family goes through one 12kg gas cylinder a month and it costs 65 shekels. It takes more than a month to get a refill. Neighbours are helping each other and women rotate cooking duties to save gas-cooking large meals for multiple families at one time.
Others less fortunate are resorting to cooking over open fires outside, burning paper and cardboard as fuel. I am constantly worried what will happen when the cold and wet weather arrives next month. Rubbish collection has nearly stopped in the densely populated city. Swarms of flies, wild cats and dogs hover around the rubbish piles. In an attempt to help alleviate the situation, donkey carts have now been deployed to collect what they can. So far it is not making a dent.
Two weeks ago the sewage pumping stations stopped working in many areas – they simply did not have the fuel to work. Raw sewage leaks into the streets. Fathers carry their children to get to school and most cars won’t venture into it. The sludge reeks and brings mosquitoes in swarms.
There is fear it will end up in the water supply as well. The Al-Shati refugee camp, also known as Beach camp, has reported foul smelling and discoloured water this week and many have fallen ill with stomach maladies already. My area has been lucky so far, no sewage in the streets but unfortunately we don’t have any water at all.
As I write this we are beginning the fourth day with dry taps. With the erratic electricity schedule the water pumping station is rarely working when my building has electricity so even when there is water in the lines there is no way to get it up to the flats. Before the fuel crisis we only received water from the municipal lines three or four times a week, now it is half of that if we are lucky. We fill old bottles when we do have water.
This is life in Gaza now: a constant struggle to find the bare necessities. Gaza life is about always being prepared for the worst case scenario because normally that is what happens. It has been a year since the last major Israeli aggression here and we are trying to pick up the pieces. Constructions materials are now refused entry so repairs have ground to a halt.
Our life lines – the tunnels from Egypt – have been severed. Without them we don’t have a consistent flow of food, medicine and fuel. The border with Israel is often closed and only half of the needed trucks of aid are allowed in when it is open. The items on the market shelves are withering away and prices are getting higher and higher.
Sometimes I think someone has hit the pause button on life but then I see all that we have survived and realise we continue on just as before: couples get married, babies are born and children go to school. We laugh with our friends, we love each other and, most importantly, we live."
Sally Idwedar, residente de Gaza
"We Wake up [in Gaza Strip] to terrifying sonic booms and try to sleep while the Israeli navy is shelling. Simple things like daily running water and a full day of electricity have now become luxuries. Nearly four weeks ago the sole power generator in Gaza stopped working due to lack of fuel. We had become used to the eight hours of electricity we were allotted but now we are down to four to six hours at a time and lengthy 12-14 hour blackouts.
At any given moment at least one-third of Gaza will be in the dark. During the long days of summer it is much easier to cope but now the days are much shorter and it seems most of our time is spent in the dark. Students study by candlelight and women cook by flashlight. Men gather on the balconies to smoke and talk politics – the only light that can be seen are the small red dots of their glowing cigarettes.
Some families are able to afford a converter than runs on a car battery and can power a few small items. The cost for the unit is about 700 shekels (£120) and the batteries cost another 700 shekels. This might not seem like much but even that is out of reach for a majority of families especially now the unemployment rate is nearly 40 per cent. Stores, restaurants and larger apartment buildings often use gas generators. These days, however, it is nearly impossible to get fuel and queues are very long with some people waiting 24 hours just for a few litres.
Drivers are feeling the shortage and finding a taxi is impossible at times. Yet everyone knows how hard it is and we try to help each other as much as possible. People pile as many in as can fit in a car, sometimes sitting on laps, just to make sure others can get to their homes. It is not uncommon to see three or even four people squeezed into the front seat of a taxi going from Gaza City to the refugee camps in the middle of Gaza. Some cars are now running on a mixture of cooking oils and the smell of falafel and French fries trails after them. Cooking gas supply runs low every winter but this year it is the worst shortage in a long time. An average family goes through one 12kg gas cylinder a month and it costs 65 shekels. It takes more than a month to get a refill. Neighbours are helping each other and women rotate cooking duties to save gas-cooking large meals for multiple families at one time.
Others less fortunate are resorting to cooking over open fires outside, burning paper and cardboard as fuel. I am constantly worried what will happen when the cold and wet weather arrives next month. Rubbish collection has nearly stopped in the densely populated city. Swarms of flies, wild cats and dogs hover around the rubbish piles. In an attempt to help alleviate the situation, donkey carts have now been deployed to collect what they can. So far it is not making a dent.
Two weeks ago the sewage pumping stations stopped working in many areas – they simply did not have the fuel to work. Raw sewage leaks into the streets. Fathers carry their children to get to school and most cars won’t venture into it. The sludge reeks and brings mosquitoes in swarms.
There is fear it will end up in the water supply as well. The Al-Shati refugee camp, also known as Beach camp, has reported foul smelling and discoloured water this week and many have fallen ill with stomach maladies already. My area has been lucky so far, no sewage in the streets but unfortunately we don’t have any water at all.
As I write this we are beginning the fourth day with dry taps. With the erratic electricity schedule the water pumping station is rarely working when my building has electricity so even when there is water in the lines there is no way to get it up to the flats. Before the fuel crisis we only received water from the municipal lines three or four times a week, now it is half of that if we are lucky. We fill old bottles when we do have water.
This is life in Gaza now: a constant struggle to find the bare necessities. Gaza life is about always being prepared for the worst case scenario because normally that is what happens. It has been a year since the last major Israeli aggression here and we are trying to pick up the pieces. Constructions materials are now refused entry so repairs have ground to a halt.
Our life lines – the tunnels from Egypt – have been severed. Without them we don’t have a consistent flow of food, medicine and fuel. The border with Israel is often closed and only half of the needed trucks of aid are allowed in when it is open. The items on the market shelves are withering away and prices are getting higher and higher.
Sometimes I think someone has hit the pause button on life but then I see all that we have survived and realise we continue on just as before: couples get married, babies are born and children go to school. We laugh with our friends, we love each other and, most importantly, we live."
Sally Idwedar, residente de Gaza
Documentário Doors to the Sea: Gaza's Fishers Under Siege (23')
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