domingo, 4 de agosto de 2013

Peace Talks ou intox de Tel Aviv e Washington?



Vinte anos após os Acordos de Oslo, a notícia internacional da semana foi a retomada das negociações entre Israel e Palestina em Washington.
Peace Talks, no jargão internacional informal da mídia, dos intermediários e dos interessados.
Daí o título do blog de hoje: Peace Talks ou intox(icação, ou seja, conversa fiada de cartas marcadas)?
Nesta trama intermitente dos Estados Unidos dois tipos de analistas mostram a cara. Os que demonstram esperança cautelosa e os céticos que já viram este filme varias vezes com o mesmo prólogo "bem intencionado" até o fim enroscado.
Eu faço parte do segundo grupo que conhece de cor e decorado o desenrolar e o fim da história que termina sempre com os EUA puxando o tapete dos palestinos da primeira à última hora.
Infelizmente, Binyamin Netanyahu é um dos dirigentes mais falso que Israel já teve. Nem Ehud Barak chega aos pés dele.
  
Meu ceticismo vem desde a primeira visita de John Kerry ao Oriente Médio.
Pisava em ovos nas conversas com o governo israelense, dominado majoritariamente por sionistas extremistas exaltados. Evitou nas reuniões os assuntos "melindrosos" que quer queira quer não são o cerne do conflito. Sabia que Netanyahu e seus ministros são pró-ocupação civil e militar da Palestina e tapou o sol com a peneira evitando controvérsia.  em vez de abordar o fundo do problema que só tem um nome: ocupação ilegal de terra alheia e suas consequências nocivas.
Nas capitais árabes e em Ramallah, foi o inverso.  Kerry pressionou como pôde, fez promessas que não cumprirá (a não ser que os EUA ousem dizer a Netanyahu: Basta!) e distribuiu ameaças veladas.
Suas propostas eram tão frágeis e vagas que só conseguiu que Abu Mazem concordasse em mandar alguém a Washington quando acenou com a libertação de 104 prisioneiros - três por cento irrisórios, considerando o número total de presos políticos palestinos que Israel detém há anos e os que continuam sequestrando aleatoriamente. Inclusive menores.

Meu ceticismo vem também do fato que negociar sem a presença de um representante do Hamas é perda de tempo. Sobretudo nas condições atuais. Um enviado de Khaled Meshaal teria e tem de estar presente.
 Além disso, há coisas erradas aos montes. Começando pelo elenco do filme.
Primeiro, a chefe da delegação israelense,  Tzipi Livni, filha de um imigrante polonês que foi um dos dirigentes do Irgum (grupo para-militar sionista que em 1948 foi ativo no massacre dos palestinos). É verdade que em terra de cego, quem tem um olho é rei, o que transposto ao governo israelense, entre todos os extremistas sionistas do governo, ela aparece como a mais moderada.  Porém, esta advogada, hoje Ministra da Justiça, não deixa de ser a mesma pessoa que disse há poucos anos que  "I am a lawyer… But I am against law - international law in particular. Law in general."
E é a mesma pessoa que está "negociando" porque "restarting negotiations would stop the snowball rolling towards us at the UN and in general". São suas próprias palavras, ditas em 2011.
(Sem contar que ela estava no governo em 1998/1999 durante o bombardeio de Gaza.)
Israel acedeu à demanda dos EUA porque está com a corda no pescoço, seu primeiro ministro Binyamin Netanyahu é persona non grata em todos os países ocidentais (orientais, nem se fala), a economia israelense está sendo aos poucos asfixiada pelo boicote crescente... aí, viram a saída de sempre que os EUA lhes oferecem com um tapinha nas costas: Peace Talks pro-forma para melhorarem a imagem no exterior e cedo ou tarde inventarem que se retiraram porque os palestinos demonstram má-vontade.
Este filme é manjado. Repeteco do passado, quando Israel se encontrava encostado na parede e para prosseguir a ocupação tinha de dar uma paradinha estratégica antes de dar o pulo do gato e continuar a fazer só o que lhe interessava.
Pois a posição de Israel quanto à ocupação, expansão e limpeza étnica continua a mesma e obstacula a luta intrínseca à Palestina pela liberdade, soberania e retorno dos refugiados.
Segundo, o do chefe da delegação palestina. Faz mais de vinte anos que Sa'eb Erekat senta-se às mesas de negociações do lado palestino. Desde a Conferência de Madri, em 1991. Ele nasceu em Jericó, na Cisjordânia, e formou-se em Ciências Políticas nos EUA. Tem um doutorado e foi professor da Universidade An-Najah de Nablus, na Cisjordânia.
Foi companheiro de Yasser Arafat e após sua morte foi se moderando até ser acusado de conchavo com os negociadores estadunidenses.
Recebeu as revelações como um balde de água fria e dizem que serviu-lhe de lição. Porém, seu nome foi quase imposto por Israel e os Estados Unidos.
Aliás, há um diálogo entre a israelense e o palestino, gravado em maio de 2008, que é uma pérola de bastidores. Erekat: "Short of your jet fighters in my sky and your army on my territory, can I choose where I secure external defence?"
Livni: "No. In order to create your state you have to agree in advance with Israel – you choose not to have the right of choice afterwards."
Mas o maior erro do elenco não está nos protagonistas israelenses e palestinos. Está no detentor do papel principal do filme, o "enviado especial" dos Estados Unidos.
Pois a partir de agora, Kerry passa o bastão para Martin Indyk.
Quem é ele mesmo? Alguém imparcial e de competência comprovada em questões internacionais melindrosas como George Mitchell?
Não. Indyk está a anos luz do senso de justiça e imparcialidade de Mitchell.
Quem é mesmo este cara, além de ser ex-morador de um kibutz e o único estrangeiro naturalizado estadunidense a ocupar o cargo de embaixador?
Bem, Indyk é lobista israelense em Washington desde a década de oitenta. Foi vice-diretor de pesquisa do AIPAC, o lobby sionista mais poderoso dos Estados Unidos e grande patrocinador de ódio e preconceito dentro da comunidade judia e seus amigos.
Foi embaixador dos EUA em Tel Aviv de 1995 a 1997 e de 2000 a 2001, deixando lembranças indeléveis de seu apoio "velado" a Israel durante estes anos em que serviu Washington e Tel Aviv com devoção canina.
É neste homem que os palestinos têm de confiar?
Um pouco de bom senso na Casa Branca facilitaria o entendimento e evitaria mais esta perda de tempo.  
A não ser que Obama queira deixar claro aos israelenses que os interesses dos extremistas sionistas serão defendidos a unhas e dentes. Danem-se os palestinos! Como sempre.
Aliás, Richard Falk, enviado da ONU aos Territórios Ocupados, abriu o jogo: "Does it not seem strange for the United States, the convening party and the unconditional supporter of Israel, to rely exclusively for diplomatic guidance in this concerted effort to revive the peace talks on persons with such strong and unmistakable pro-Israeli credentials?
What is stranger, still, is that the media never bothers to observe this peculiarity of a negotiating framework in which the side with massive advantages in hard and soft power, as well as great diplomatic leverage, needs to be further strengthened by having the mediating third-party so clearly in its corner. Is this numbness or bias? Are we so used to a biased framework that it is taken for granted, or is it overlooked because it might spoil the PR effect if mentioned out loud?"
Falando nisso, mesmo que Israel concordasse em desmantelar as invasões civis que proliferam na Cisjordânia, a mera definição de Israel como Estado Judeu excluiria 20% da população israelense.
Vinte por cento que correspondem aos 1.413.500 palestinos que conseguiram sobreviver à Naqba e continuaram do lado ocidental da Linha Verde. São cidadãos de Israel muçulmanos e cristãos. Cidadãos de segundo classe, mas com carteira de identidade e lavagem cerebral desde a escola primária.  São os únicos cidadãos israelenses dispensados do serviço militar obrigatório. Por razões óbvias.
O que será deles em um Estado Judeu? E o que será dos refugiados palestinos que ainda carregam consigo as chaves de casa, confiscada quando o Estado de Israel foi unilateralmente criado?
Não sei o que é pior nesta história. Talvez o mais perigoso é que os israelenses consigam o que querem e o futuro da Palestina seja negro como predisse em 1998 o grande Edward Said, o refugiado palestino mais célebre: "Most important, a state declared on the autonomous territories would definitively divide the Palestinian population and its cause more or less forever. Residents of Jerusalem, now annexed by Israel, can play no part, nor be, in the state. An equally undeserving fate awaits Palestinian citizens of Israel, who would also be excluded, as would Palestinians in the Diaspora, whose theoretical right of return would practically be annulled."
Contudo, o leão invisível desta safra Peace Talks 2013 patrocinada pelos EUA, inclusive no caso da solução de Direito dos dois Estados,  que ela só está acontecendo para proteger Israel do que Tel Aviv vê como a maior ameaça aos seus proje
tos de limpeza étnica: responsabilidade.
O processo de paz encabeçado pelos Estados Unidos isenta os israelenses de responsabilidade na raiz do processo legal. A raiz da legalidade no mundo civilizado é a ONU, as leis internacionais e os fóruns internacionais que há anos se esforçam para resolver o conflito de maneira justa e equilibrada. Dentre estes, a Iniciativa de Genebra.
A exclusão da ONU em si é bastante temerária. Mesmo com suas falhas e com a fraqueza de seu atual Secretário, as Nações Unidas são o que são: 193 nações dos cinco continentes, unidas para resolver problemas e encontrar soluções justas, equitáveis, sem recurso de armas. Foi para isto que foi criada após a Segunda Guerra Mundial.
A iniciativa do maior aliado (talvez o único) de Israel de constituir-se juiz, promotor e advogado de um conflito em que uma das partes é sua afilhada é, por definição, mais do que fadada ao fracasso.
Às vezes acho que os estadunidenses ignoram que a Palestina tem o maior índice de universitários do mundo (90% da população - apesar de todas as dificuldades) e que são bastante cultos e inteleligentes. Não apenas os dirigentes do Fatah e do Hamas são todos altamente intelectualizados. Entre os palestinos o estudo é uma questão de honra. Daí o esforço dos israelenses de com as barragens impedirem o acesso às escolas e universidades.
Além de estudo, têm uma cultura mais vasta do que a da maioria absoluta dos estadunidenses e de muitos israelenses.
Aviso aos navegantes dos Peace Talks: os palestinos são apátridas, mas pensam.
Este partidarismo cego, irresponsável e injusto seria uma canseira se não causasse tanto prejuízo material, moral e físico a um povo inteiro.
Minam sistematicamente as vitórias palestinas de reconhecimento nas instâncias internacionais que contam - UNESCO e ONU - e ainda ousam dar uma de bonzinhos.
Vale lembrar os distraídos que toda vez que a Palestina conseguiu reconhecimento em um órgão internacional eminente, os Estados Unidos, junto com Israel, lançaram aos brados acusações de "harm" do processo de paz.
Como se a única via aceitável é a que dá vantagem a seu afilhado.
Ao ponto de exigir como condição sine qua non às negociações atuais que a Autoridade Palestina desista de acionar a Corte Internacional de Justiça para obrigar Israel a respeitar as leis que infringe à vontade no processo de ocupação.
Israel já começa as negociações ganhando, no mínimo, tempo.
Com este compromisso, Obama amarra as mãos de Mahmoud Abbas e ganha no mínimo nove meses.
Enfim, se os palestinos aguentarem tanto tempo.
Em Tel Aviv, esperam, ou melhor, contam que este novo capítulo da novela Peace Talks esvazie o movimento de boicote que Isarel vem sofrendo inexoravelmente.
Prova disso foi Shimon Peres que aproveitou a deixa de Washington para "pedir" para a União Europeia voltar atrás em relação à medida de boicote recém-tomada contra todo e qualquer intercâmbio que envolva as colônias judias na Cisjordânia.
Tudo premeditado nos mínimos detalhes.
Tzipi Livni nos EUA e Shimon Peres na Europa. Ataque nas duas frentes de combate. Este Peres é mesmo o rei do disfarce.
Um jornalista israelense disse o que todos sabem, que para Israel, estas negociações são "preferable over the current anti-Israel incitement campaign being conducted in supermarkets across Europe".
É impressionante o quanto os Estados Unidos e Israel subestimam o resto do mundo. O quanto subestimam os cidadãos do mundo que enxergam e raciocinam e que não se deixam iludir por miragens maquiavélicas.
O boicote continua ativo em todos os mercados do mundo.
Concluindo, Peace Talks 2013 protege Israel da descolonoização obrigatória e viável, apesar dos 500 mil judeus "assentados" em terras alheias na Cisjordânia.
Os israelenses criaram o problema. Agora têm de resolê-lo desocupando como fizeram na Faixa de Gaza. Nem que seja na marra.
Ou então aceitar a proposta dos palestinos. O judeu que quiser ficar no lado oriental da Linha Verde será cidadão do Estado da Palestina. Com carteira de identidade e submetido às leis nacionais. Como os palestinos que vivem do lado ocidental da Linha Verde.
O que já é uma concessão inestimável.
E seria justa, se a solução dos dois Estados proposta pelos EUA, que visa proteger Israel como um Estado etnocrático judeu na maioria história palestina, vingar ou vingasse.
Mas o que Washington e Tel Aviv desejam é Jérusalem inteira para os judeus sionistas e uma fraca autoridade palestina em Ramallah a fim de salvar as aparências.
Ou seja, tudo do mesmo jeito.
Isto está explícito nos pronunciamentos de vários membros do governo, inclusive de Livni, que disse em junho deste ano que "the only way to preserve Israel" - como Estado judeu - "is through the political process".
É por isso que mais de 120 judeus estadunidenses influentes  escreveram para Netanyahu recentemente pedindo que prosseguisse a negociação dos dois Estados.
Vão sentar nas mesas de negociação não para que a justiça prevalesça e sim para manter seu status quo ilegal legalmente.
Há quem diga que quaisquer Peace Talks são melhores do que nenhum diálogo porque obriga as duas partes a sentarem e trabalharem para encontrar uma solução.
Quanto a mim, acho que este argumento não passa de um truismo simplista.
É claro que haverá alguma conversa em algum ponto, e submetida às relações de poder desequilibrado envolvidas.
Eu não vejo razão nenhuma para acolher com entusiasmo em vez de ceticismo e suspeita, negociações em que uma das partes é tão claramente protegida e beneficiada logo de início.
Peace Talks EUA 2013 não é a única solução, não é a certa, não é a justa e nem pode ser a defintiva, embora Barack Obama esteja obcecado em deixar o feito da "Paz no Oriente Médio" em seu currículo.
Para isto ele teria de ser uma pessoa que tenta ser, mas não é: sem preconceito, sem apriori, imparcial, magnânime e justo.
A única solução possível tem de vir das Nações Unidas junto com a Iniciativa de Genebra e o Tribunal Internacional de Justiça.
O resto é tapinha nas costas de Binyamin Netanyahu e seus cupinchas e tapa nas mãos e na cara de Abu Mazen e de Khaled Meshaal. Enfim, de todos os palestinos na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e na diáspora.


"It became clear that Kerry did not have a serious project or vision toward the Arab-Israeli conflict. We in Hamas don't place our hopes or bets on the White House or any international capital. It is true that we have followed Kerry's announcements, including his statements and calls to renew negotiations. We saw how he chose to put pressure on the Palestinian presidency and some Arab parties, without going to the root of the problem — the Israeli occupation — and putting pressure on its leaders. It was the latter that killed the so-called peace process, and still refuses to recognize Palestinian national rights. 
Kerry arrived in the region already knowing that he was faced with an incredibly right-wing Israeli government; a government of settlers. Thus, he avoided any confrontation with the government and put forward ideas of economic peace and investment projects in the West Bank, without addressing the real crux of the conflict, which is the occupation. 
This choice was a mistake on the part of the US administration, and therefore they will fail in these endeavors as they have failed in the past. We are convinced that the future of the Palestinian cause and achieving our people's rights — first and foremost freedom and liberation from the occupation — will be made here on [our] land. This will be achieved via the options we have and the trump cards we possess, most notably the resistance in all its forms. While we will remain open to the regional and international situation and will take advantage of all opportunities, we have not and will not beg anyone. 
Here I must say something clear: the wheel of history and the people's march toward freedom and liberation cannot be stopped by anyone, no matter how great his power. 
Gaza has been absent from the efforts of the US administration, because these efforts are not aimed at a just solution to the issue or an end to the suffering of the Palestinian people. These efforts are limited to crisis management, buying time, and maintaining the "peace process" without genuine peace."
Khaled Meshaal, líder do Hamas em entrevista ao Monitor.
"The negotiations due to open in Washington, after all the efforts of Secretary of State Kerry, will stand or fall primarily with one issue: an agreement that the Green Line, the internationally recognized borders of Israel as they were on June 4, 1967, will be the basis for the permanent border between the existing State of Israel and the State of Palestine which will come into existence at its side" says Gush Shalom, the Israeli Peace Bloc.
"If this is agreed on, we have a breakthrough to a peace agreement with the Palestinians and with the entire Arab world. It would be possible then to hold detailed negotiations of demarking the precise boundary line and define small, reciprocal swaps of territory. Also other issues such as Jerusalem and refugees, highly emotional for both sides, can be solved once it is defined where the two parties stand on the ground and what will be the border between the two states.
On the other hand, if there no agreement on the 1967 borders as the basis for an agreement - and clearly the Government of Israel in its current composition is not likely to agree to provide such an agreement - then negotiations are foredoomed to failure. In that case, the Washington talks will be remembered as a passing episode, followed by escalating violence on the ground and an increasing international isolation for Israel. Decision makers couldn’t disclaim responsibility."
GUSH SHALOM, ONG israelense pela Paz.
"The simplest solution was that provided by Charles de Gaulle. After signing the peace agreement that put an end to the occupation of Algeria after a hundred years, he announced that the French army would leave the country on a certain date. He told the more than a million settlers, many of them fourth or fifth generation: If you want to leave, leave. If you want to stay, stay. The result was a last minute frantic mass exodus of historic dimensions.
I can’t imagine an Israeli leader bold enough to follow that prescription. Even Ariel Sharon, a brutal person without compassion, didn’t dare to.
Of course, the Israeli government could tell these settlers: “If you can make arrangements with the Palestinian government so you can stay there, as Palestinian citizens (or even as Israeli citizens), by all means do so. ”
Some naïve Israelis say: ”Why not? There are a million and a half Arab citizens in Israel. Why can’t there be some hundreds of thousands of Israeli Jews in Palestine?”
Unlikely. The Arabs in Israel live on their own land, where they have lived for centuries. The settlers live on “expropriated” land, and they have justly earned the hatred of their neighbors. I don’t see how a Palestinian government could allow it.
There remains the hard core of the hard core. Those who will not budge without violence. They will have to be removed forcibly by a strong government supported by the bulk of public opinion, expressed through the referendum."
Uri Avnery, jornalista pacifista e ex-parlamentar israelense.




CRONOLOGIA de negociações e acontecimentos de relevância nos últimos vinte anos:

1991: Conferência de Madri, convocada pela Rússia e os Estados Unidos a fim de livrar Israel da Intifada. O movimento de revolta dos palestinos nos territórios ocupados surpreendera Israel em 1987 e vinha lhe causando danos enormes. Inclusive econômicos.  
Israel foi convidado para um face a face com Jordânia, Libano e Síria e representantes palestinos no mês de outubro.
A OLP (Organização para a Libertação da Palestina) liderada por Yasser Arafat (Abu Ammar) foi excluída.
A intenção de descartar a Organização considerada então "terrorista" e humilhar seu líder foi infrutífera.
O chefe da delegação palestina Sa'eb Erakat chegou com um keffiyeh (o "lenço" preto e branco tradicional na Palestina) nos ombros e esteve em contato constante com seu líder que ditava as ordens da Tunísia.
A OLP era o movimento catalizador das forças de resistência palestina e nada podia ser decidido sem seu acordo. Sabia-se disso, mas Israel e os Estados Unidos assim mesmo a excluíram em mais uma tentativa de humilhar Yasser Arafat.
O primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin acbaria entendendo que chegar à paz tinha de lidar diretamente com Abu Ammar e autorizou negociações secretas com a OLP que culminariam em um famoso acordo.

1993: Acordos de Oslo, monitorado por organizações norueguesas, estabeleceu a Autoridade Palestina.
O documento foi negociado por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat na Noruega, mas Bill Clinton e a esposa viram a oportunidade de entrar na História e a capturaram.
(Pensaram certo, pois a foto na Casa Branca continua sendo uma das mais publicadas quando se fala em Oriente Médio.)
Os EUA e Bill Clinton colheram os louros do trabalho alheio e os Acordos foram assinados em Washington no dia 13 de setembro.
O "negócio" dos Acordos era bom para Israel e de grego para a Palestina. Por isso foi impopular desde o início. Não oficializava o mínimo que a população queria: um Estado independente em toda a extensão territorial das fronteiras de 1967.
Tal independência estava subordinada a um teste de semi-autonomia ao qual os palestinos seriam submetidos com restrições múltiplas.
Yasser Arafat sabia quão aleatório era o compromisso, porém, sabia também quão aleatório é o tempo de vida -  no ano anterior o avião em que se encontrava caíra de ponta cabeça no deserto líbio durante uma tempestade de areia e, embora ele tivesse sido enrolado em cobertores para diminuir o impacto da queda, o acidente o deixara com ferimentos que exigiram uma cirurgia para remover coágulos sanguíneos no cérebro. Portanto aceitou a promessa sem garantia porque estava louco para voltar para casa após as décadas de exílio e também porque achava que com um governo próprio, em seu território, conseguiria chegar à soberania pretendida.
1994: Tratado de Paz entre Israel e a Jordânia. Assinado no dia 18 de julho.
1998: Peace Talks de Wye River que fracassaram no dia 23 de outubro, no estado de Maryland nos EUA.
Com Yitzhak Rabin fora da jogada por ter sido assassinado por um compatriota extremista, Bill Clinton reuniu em Washington o novo Primeiro Ministro, Binyamin Netanyahu e Yasser Arafat.
Os assuntos principais abordados foram a segurança (mútua) e transferência de terras.
Clinton entendeu de cara que Netanyahu era inconfiável e quanto mais o Primeiro Ministro  israelense falava, menos acreditava no que dizia. Yasser Arafat já sabia disso e não tinha ilusão nenhuma.
Os Estados Unidos ofereceram a Israel todas as garantias em troca de retrocesso na ocupação e devolução de terras, mas Netanyahu chegaria ao ponto de dizer mais tarde que Clinton era "radically pro-Palestinian".
Clinton pode ser acusado de muitas coisas, mas de radical no que quer que seja e de pró-palestino exacerbado.... Há divergências.
2000: Peace Talks de Camp David, que fracassaram em julho de 2001, nos EUA.
Desta vez Bill Clinton reuniu o novo Primeiro Ministro de Israel, Ehud Barak e Yasser Arafat.
Apesar das pressões sobre Arafat para que aceitasse o impossível, os obstáculos da quantidade de território que Israel desocupara, quem controlaria Jérusalem e o direito de retorno dos refugiados palestinos foram obstáculos intransponíveis.
Como sempre, estas questões foram apresentadas como uma concessão de Israel e não um direito palestino inalienável, segundo as leis internacionais. Mas mesmo assim, Barak não abriu mão de nada, Arafat viu que perdera a luta e jogou a toalha, e foi culpado pelo fracaso da "negociação de paz" inaceitável.
(Na época, um colega ganhou o Prêmio Pulitzer por um artigo errado. Ou melhor. Bem monitorado pela contra-informação de Israel. Mas não foi o único a deixar-se enganar ou a ser enganado. Outros fizeram seu mea culpa mais tarde e deixaram de confiar nos comunicados de imprensa formais e dos "informais" "exclusivos".)
2001: Peace Talks de Taba, ou o "canto do cisne" de Bill Clinton, no dia 21 de janeiro.
A Intifada Al-Aqsa (Segunda Intifada) começara em novembro de 2000 nos territórios ocupados, assim como a campanha israelense de assassinatos dos líderes do Fatah e do Hamas, a IDF (forças Armùadas israelenses) estavam reprimindo a revolta palestina com todas as armas das quais dispunha, os mortos se acumulavam, enfim, foi nesse clima que negociadores israelenses e palestinos se encontraram no Egito para tentar encontrar um terreno comum pacifico para resgatar as negociações fracassadas em Campo David.
O clima em Taba foi agradável em todos os sentidos.
Foi a única vez em que se viu um progresso verdadeiro, com pessoas em volta da mesa que falavam, ouviam, se respeitavam e se entendiam.
Porém, George W. Bush fora eleito e estava assumindo o poder à sua maneira. Barak sentiu que com ele seria mais fácil obter tudo o que quisesse e queria, e a concórdia de Taba foi infrutífera.
2003: O Road Map, "desenhado" na Jordânia no dia 04 de junho.
Yasser Arafat já estava sendo ostracizado por George W. Bush por influência do novo Primeiro Ministro israelense Ariel Sharon e os dois se reúnem com o Primeiro Ministro palestino Mahmoud Abbas um novo plano de paz.
Este Plano já é muito menos ambicioso do que os anteriores. É mais para apagar fogos da ocupação do que para extinguir seu incêndio e construir sobre as cinzas.
A base inicial é da demanda aos israelenses de gelarem as colônias/assentamentos, em vez de desmontá-los pura e simplesmente, e a criação de um Estado da Palestina independente, "em 2005".
2004: Assassinato do Sheik Ahmed Yassine e de Abdelaziz Rantissi, líderes fundadores do Hamas.
Morte suspeita de Yasser Arafat.
2005: Fim da Intifada Al-Aqsa e dos atentados suicidas palestinos.
Início da campanha cívica de boicote internacional de Israel, encabeçada pelo BDS Movement

2006: Vitória do Hamas nas eleições legislativas na Palestina.
Com maioria no Congresso e nos municípios, no dia 25 de janeiro o Hamas acede ao direito de eleger o Primeiro Ministro.
Porém, Israel declara que jamais negociará com uma Autoridade Palestina dirigida pelo Hamas (como fizera antes com a OLP de Yasser Afarat) e demoniza o partido. Os Estados Unidos pressionam o Fatah para que reaja (!) e acaba conseguindo minar as tentativas mútuas de formar uma coalizão para os dois partidos governarem juntos.
Sem Yasser Arafat para impor o diálogo e para dar a liga, as manobras políticas externas vingam. Acontece a ruptura entre os dois partidos e uma divisão administrativa.
O Fatah governando a Cisjordânia e o Hamas a Faixa de Gaza.
Foi uma vitória absoluta de Israel e dos EUA sem nenhuma participação direta em nenhuma negociação. Ariel Sharon assegurou seu reinado. Com a divisão que há anos Israel monitorava.
Em junho Israel bombardearia o Libano em mais uma tentativa mortífera e frustrada de enfraquecer o Hezbollah.

2007: Conferência de Annapolis.
George W. Bush, preocupado com o fortalecimento do Hamas, reúne o novo Primeiro Ministro de Israel, Ehud Olmert e Mahmoud Abbas para uma reunião, sem o Hamas.
No dia 27 de novembro, Olmet e Abbas fazem uma declaração conjunta de negociações que levariam a um acordo de paz no fim de 2008.


 2008: Operação Cast Lead - מבצע עופרת יצוקה‎ ou Massacre de Gaza مجزرة غزة‎.
Em vez de paz, no dia 27 de dezembro, aproveitando as férias ocidentais da semana entre o Natal e a Virada, Israel sorateiramente levou violência e morte à Faixa de Gaza.
Usou toda sua potência bélica nos ataques aéreos e terrestres. Inclusive armas químicas como o fósforo branco. 
A operação foi organizada durante meses, minuciosa e sigilosamente.
O primeiro passo foi evacuar os colonos judeus da Faixa em uma operação de desmantelamento dos assentamentos/invasões. Seria impossível causar o dano que pretendiam sem efeitos colateriais nos invasores judeus que ocupavam grande parte da Faix.
Depois foi a preparação militar para levar a cabo a violência vedada à imprensa e às autoridades da ONU durante três semanas.
No fim da Operação Cast Lead a Faixa de Gaza estava em escombros e os corpos de 1385 gazuís jaziam sob os escombros. Dentre eles, 117 mulheres e 410 crianças durante e em consequência.
Israel perdeu 13 homens. 4 deles por friendly fire. Ou seja, mortos pela própria IDF.
Os palestinos feridos, que perderam membros, foram queimados pelo fósforo ou ficaram cegos pela mesma arma química, sobretudo crianças, nunca foram recenceados por organismos independentes, devido ao número.
Falar de paz depois disso, ficava difícil.

 2009: Barack Obama põe sua pedra no processo de paz.
No dia 04 de junho discursa no Cairo e declara seu apoio ao Road Map, inclusive à independência da Palestina e o bloqueio dos assentamentos ilegais israelenses na Cisjordânia. E diz que o Hamas pode "play a role" participar das negociações se parar com as agressões (os foguetes obsoletos que lançava de Gaza) e reconhecer o direito de existência de Israel.
No dia 25 de novembro, após uma visita a Washington em que Obama parecera convincente, Binyamin Netanyahu anunciou o gelo de novas colônias. Gelo que não incluía as já programadas, cujo número era ignorado.
Este número foi anunciado em Tel Aviv durante a visita do vice-presidente estadunidense Joe Biden. 1.600 unidades estavam em andamento. Biden recebeu a notícia como um tapa na cara. Entendeu direitinho o que Clinton já descobrira: Netanyahu é inconfiável da flor da pele à alma.

2010:
Maio: Proximity talks entre Mahmmoud Abbas (Abu Mazem) e Binyamin Netanyahu, por iniciativa de Barack Obama.
Dezoito meses após Gaza começar a contar seus mortos, o enviado especial dos EUA ao Oriente Médio, George Mitchell, iniciou um processo de negociações entre as partes interessadas.
Acabou desistindo pelas razões de sempre: Netanyahu não quer paz; quer ocupar mais território.
No dia 02 de setembro, Netanyahu e Abu Mazem se encontram em Washington pela primeira vez após dois anos de afastamento.
Ficou combinado que se encontrariam de duas em duas semanas e declararam que um Acordo final poderia ser alcançado dentro de um ano.
Porém, no dia 26 do mesmo mês o prazo de 10 meses de gelo das colônias que Netanyahu dera expirava, inviabilizando a promessa feita na Casa Branca.
No dia 02 de outubro Abu Mazem anunciou que a Autoridade Palestina suspendia as negociações até que Israel impusesse novo gelo nas invasões.
Como resposta, duas semanas mais tarde, Netanyahu ordenou a retomada das obras de centenas de unidades habitacionais nas invasões judias de Jérusalem oriental, em pleno bairro palestino.

2012: Novo bombardeio da Faixa de Gaza em novembro.

2013: Processo de negociações encabeçado por John Kerry.
No dia 04 de março John Kerry faz sua primeira viagem ao Oriente Médio como Secretary of State estadunidense. Assumiu o cargo com a determinação de deixar a Paz entre Israel e Palestina como o grande legado do governo Barack Obama e de sua gestão na pasta de Relações Exteriores dos EUA.
Nessa primeira viagem foi a Ramallah encontrar o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas. Voltou varias vezes para encontrar Binyamin Netanyahu e Mahmoud Abbas empurrando um e outro para que voltassem a negociar.
No dia 28 de julho, conseguiu que Netanyahu fizesse um gesto de boa vontade da parte de Netanyahu. Israel aprovou a libertação de 104 prisioneiros palestinos, alguns dos quais, há décadas estavam presos.
A partir daí, John Kerry fez o convite oficial aos dois homens para um tête-à-tête em Washington.
Para ter certeza de favorecer Israel do início ao fim, o Presidente dos Estados Unidos nomeou como mediador do processo um judeu defensor da causa sionista em Washington.
E para ter certeza que as negociações vão parar aí, Netanyahu vai sabotá-las já.

Documentário Journeyman Pictures (trailer de 11'): Road Map to Apartheid

Palestine in Israeli School books: Nurit Peled Elhanan

Documentário Journeyman Pictures:
Israel/Palestine - Al Awda: The Return  
   


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