domingo, 27 de maio de 2012

Israel vs Palestina: História de um conflito XI (1999)


Com um ex-assessor de Yitzhak Rabin no comando, em Tel Aviv e em Gaza de onde Yasser Arafat governava, previa-se que o diálogo fosse logo retomado.
Quando Ehu Barak anunciou no dia 20 de maio de 1999, três dias após ser eleito, que acumularia o Ministério da Defesa a fim de assumir o controle direto tanto do governo quanto da IDF - suas Forças Armadas - ninguém, ou melhor, só uns gatos-pingados interpretaram a atitude do general como um ato autoritário. Os demais pensaram que fosse a maneira certa de controlar as derrapagens militares.
(Durante o governo acumularia progressivamente outros cargos de Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Educação e Indústria.)
Enquanto a era do Partido Trabalhista não chegava, no dia 27, jovens palestinos fizeram passeatas pacíficas em seu lado Oriental de Jerusalém para protestar contra a construção das colônias anunciadas pelo ainda primeiro ministro Binyamin Netanyahu, o movimento foi violentamente reprimido pela polícia israelense, o guarda-costas de Faisal Husseini foi espancado e este membro eminente da OLP sofreu ferimento leve.
Quando no dia seguinte Netanyahu declarou publicamente que cederia sua cadeira no Knesset e abandonaria a política (voto enganoso comum na política israelense), o incidente foi desdramatizado para não dificultar o esperado colóquio com o sucessor que o substituiria em julho.
Enquanto este não assumia o cargo, novas manifestações pacíficas foram organizadas na Cisjordânia e em Gaza contra a expansão colonial e para lembrar o futuro primeiro ministro dos Acordos de Oslo que ele conhecia a fundo porque tinha secundado Rabin ao longo das discussões que levariam ao Tratado.
A IDF recorreu aos métodos violentos com os quais estava acostumada, os palestinos reagiram com pedradas, três soldados e dezenas de manifestantes foram feridos, mas os defensores da paz acalmaram os ânimos exaltados e convenceram os mais afoitos a esperar que Barak assumisse e pusesse ordem na casa que Netanyahu desarrumara.

A própria OLP (Organização de Libertação da Palestina) adiou uma reunião para após a mudança de governo, Yasser Arafat encontrou o presidente egípcio Hosni Mubarak em Alexandria e no dia seguinte à sua posse no dia 06 de julho, Ehud Barak anunciou que em breve entraria em contato com ambos a fim de retomar as negociações abandonadas.
Dito e feito, sete meses depois da última discussão de cúpula, o novo primeiro ministro de Israel encontrou o líder da Autoridade Palestina no dia 11 de julho a fim de abordar a questão espinhosa da expansão das colônias na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
No dia 14, Ehud Barak, em sua primeira visita a Washington, sugeriu que os Estados Unidos retomasse o papel de "policial e árbitro" no processo de paz e em seguida declarou-se otimista quanto a um resultado positivo nos próximos quinze meses.
E para isto, Yasser Arafat programou reuniões com os dois grupos da OLP baseados em Damasco. Queria convencer estes militantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina e da Frente Democrática para a Libertação da Palestina, contrários aos rumos que estavam tomando os Acordos, a dar uma oportunidade à paz.
Conseguiu o voto de confiança que buscava e enquanto as negociações não eram retomadas, avisou Barak que se não começasse a retirada das tropas de pelo menos parte dos 13% do território determinado em Wye River, outras áreas sob seu próprio controle explodiriam e ele não teria recursos policiais para manter a ordem à qual Oslo o obrigava.
Barak respondeu através de seu porta-voz que a retirada prometida começaria no dia 1° de outubro e em seguida nomeou Nawaf Massalha para o cargo de Ariel Sharon no Ministério das Relações Exteriores.
A substituição provocou surpresa e alívio.
Massalha fora ministro da saúde de Yitzhak Rabin. Além disso é árabe e foi o primeiro e único nativo a ocupar cargo de tal relevância em Tel Aviv. Nasceu em 1943, durante o Mandato Britânico na Palestina, em Kafr Qara, cidadezinha fundada no século XVII a 35km de Haifa, com população de 15.300 habitantes quase todos palestinos sobreviventes à Naqba.
É formado na Universidade de Tel Aviv, bilingue árabe-hebraico, foi eleito deputado em 1988 e sua carreira política ascendente no Partido Trabalhista terminou em 2003 quando o partido deu uma guinada para a direita que o desviou dos princípios em que foi criado.
Esperava-se que a origem de Massalha facilitasse os contatos e de fato, no dia 09 de agosto, três dias após ser nomeado, Arafat concordou com a proposta de implementação do acordo de terra-para-segurança.
As negociações começaram no mesmo fôlego. Foram intensas no dia 15 e apesar de desentendimentos nos dias seguintes, no dia 25 a imprensa recebeu comunicado que os negociadores tinham chegado a um acordo sobre a agenda de retirada final da IDF da Cisjordânia, mas que ainda não havia nenhuma garantia de libertação dos 500 prisioneiros políticos palestinos que ainda faltavam, na lista dos 750 prometidos.
Por isto as reuniões foram prolongadas até uma entre os dois líderes ser confirmada para o dia 04 de setembro.
Quando Ehud Barak e Yasser Arafat chegaram ao Egito, o documento negociado já estava impresso e pronto para receber as devidas firmas. 
O Acordo de Charm-el-Cheikh - cidade que sediou este encontro de cúpula - fixava datas para a retirada israelense da Cisjordânia, condição sine qua non para que o processo de paz moribundo ganhasse um sopro de convalescença.
A Secretária de Estado estadunidense Madeleine Albright estava lá para cumprir seu papel de "policial e árbitro" e para marcar um encontro em Washington que formalizasse aquilo tudo sob os olhos de Bill Clinton, que estava terminando o segundo mandato presidencial e queria ficar para a história do processo de paz do Oriente Médio custe o que custasse.
Este Acordo egípcio era de fato uma ponte entre o Memorandum de Wye River de 1998 e um novo Memorandum que implementasse os diversos pontos mortos.
Previa que negociações mais aprofundadas prosseguissem até o dia 12 de setembro do ano seguinte - prazo que Barak dera a seus eleitores para concretizar pelo menos uma paz relativa.
O primeiro passo foi a libertação de 199 dos 500 prisioneiros que faltavam a fim de demonstrar a Arafat boa-vontade. O segundo foi organizar devolução ao controle administrativo palestino de 7% do território devido desde 2004.   
Tudo parecia em bom caminho.
Nem a notícia do serviço secreto jordaniano ter detido três líderes eminentes do Hamas no aeroporto de Amman - Khaled Meshal, Musa Abu Marzook e Ibrahim Ghosheh - não estragou os planos.
Suspeitou-se que o quiet american da CIA (autorizada no território pelos acordos assinados com Bill Clinton) e o Mossad estivessem por trás desta detenção importuna, mas as coisas acabaram sendo resolvidas sem atrito.
O disparate foi amenizado graças ao anúncio do cumprimento de uma das promessas feitas por Yitzhak Rabin. Esta era de abrir uma via de ligação entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza que permitisse aos palestinos irem e virem de um a outro lado de seu território descontinuado com relativa liberdade.
A rodovia chamada "passagem segura" foi celebrada por Arafat como o segundo passo (o primeiro sendo o aeroporto de Gaza) para o estabelecimento do Estado da Palestina e as esperanças foram revificadas.
Duraram só cinco dias.
No sexto Ehud Barak aprovou a construção de mais 2.600 "unidades habitacionais" em invasões judias na Cisjordânia, dizendo em seguida que em contrapartida retiraria as não-autorizadas por Tel Aviv - anúncio que soou mal aos ouvidos palestinos, "Todas as colônias são ilegais, com ou sem autorização de Tel Aviv são invasões! Suas palavras subentendiam que ele achava que Tel Aviv tinha autoridade de direito e de fato sobre os Territórios Ocupados... Era mal sinal," disse um negociador palestino.
Nesse dia os observadores começaram a duvidar que Barak estivesse tão bem intencionado quanto dizia durante a campanha eleitoral e entenderam que pretendia prosseguir a política de seus antecessores de expansão colonial e de dar com uma mão e tirar com a outra, subestimando a capacidade de compreensão dos palestinos do conceito de vitória, de derrota e de trava.
Para desviar a atenção da bomba que lançara com a expansão colonial, o primeiro ministro libertou mais 151 prisioneiros no dia 15, ciente que o retorno destes é sempre meio de distração pontual por causa da satisfação dos familiares e da população em geral que os recebe como heróis pela independência.
Dez dias depois ensaiou o cumprimento do Protocolo assinado no dia 05 de outubro de 1999. Começou a construção de alguns quilômetros da rodovia de conexão entre Cisjordânia e Gaza, mas no dia seguinte os caterpillars derrubaram residências na Cisjordânia despojando mais quatro famílias de seus pertences e de domicílio, embora um dos moradores tivesse obtido da corte israelense uma liminar que impedia a demolição.     
Mas isto nem foi notícia, pois as atenções estavam voltadas para outro encontro de cúpula no dia 01 de novembro em Oslo, monitorado pelos noruegueses.
Bill Clinton chegou otimista, dizendo à imprensa que esperava injetar energia renovada no processo de paz para que um Acordo final fosse assinado dentro de 10 meses. "Esta é a parte difícil na qual temos de dar nosso apoio", disse ele com a aprovação do primeiro ministro norueguês Kjell Magne Bondevik que estava lá porque ser o dono da casa e não porque tivesse voz ativa em algo.  
As discussões entre Arafat e Barak terminaram no dia 04, todos voltaram para casa e a negociações entre seus respectivos representantes para o ansiado Tratato de Paz continuaram no dia 08, em Ramallah.
A discussão durou duas horas, apesar da explosão de bomba-suicida que ferira cerca de 30 pessoas na cidade litorânea israelense Netanya na véspera, "em retaliação ao aumento das invasões, à demolição de moradias e a todos atos repressivos próprios da ocupação," segundo foi divulgado.
Parecia então que nada obstacularia a decisão de avançar.  
Ehud Barak começou a retirada militar e civil de 5% da Cisjordânia no dia 10, mas cinco dias depois os negociadores chegaram a um impasse quanto à finalização da agenda de evacuação da área marcada.
Sentindo que não deixaria o cargo com o sucesso de mediador que esperava, Bill Clinton convocou Ehud Barak a Istambul onde estava de visita. Lá conversaram sobre a devolução prometida das terras, sem a qual a perspectiva de paz iria por água abaixo.
De fato o problema se agravava. Nem bem novembro terminava, 15 colonos invadiram um novo sítio perto de Belém, região há anos devolvida à Autoridade Palestina e os ânimos voltaram a alterar-se - os ânimos do povo e de Arafat que constatou quão fictício era seu poder policial.
"De repente o absurdo da situação saltou aos olhos", disse um membro da AP. "Os Acordos nos coagiam a manter a ordem com todos os meios físicos necessários para reprimir o nosso povo, mas nos proibiam de tocar em um fio de cabelo dos invasores para evitar e punir a violência constante contra nossos compatriotas."
O controle policial que os Acordos de Oslo conferiam a Arafat era, além de imaginário, de sentido único, extremamente limitado e perigoso para sua popularidade, já que só podia usar a força policial, já mal equipada, apenas contra seus concidadãos e com o único objetivo de garantir a segurança de Israel reprimindo atentados cada vez mais difíceis de serem abortados.
A consciência desta fragilidade fez com que Yasser Arafat começasse dezembro apelando, mais uma vez, para Hosni Mubarak, que usasse sua influência junto a Israel e aos EUA de quem era aliado.
Quando voltou do Cairo para Gaza, disse aos repórteres que a conversa girara em torno das invasões que só aumentavam e de suas objeções aos mapas de retirada de 5% de terras descontínuas.
Arafat argumentava que as regiões propostas eram pequenas demais, recortadas, e com uma densidade demográfica extremamente baixa para representarem boa vontade.
Arafat vivia sobre uma corda bamba, sobretudo por causa das acusações de corrupção da estrela ascendente do Fatah, Marwan Barghuti, que começavam a incomodá-lo.
Ehud Barak ainda estava com a corda toda para agir à vontade. Por isto encontrou o ministro das Relações Exteriores sírio Faruq al-Shara e Bill Clinton em Washington para discutir sobre a ocupação dos Golan que também se eternizava, sem concretizar a devolução que Afez Assad esperava.
Mas na política das vantagens ilusórias, libertou mais 26 prisioneiros de guerra/políticos em uma cidade emblemática, Ashkelon - uma das cinco metrópolis do extinto Império Filistino, hoje no lado ocidental da Linha Verde.
A transação atrasou semanas por causa do Supremo Tribunal estar julgando queixas dadas por parentes de vítimas de atentados que se opunham à libertação dos supostos cérebros atrás dos bombas-suicidas e clamavam vingança.
Esta leva de libertação, além de complicada internamente, foi estéril nas negociações bilaterais, pois desta vez Barak não conseguiu enganar ninguém. Os palestinos logo retrucaram que estes presos, que elevavam a 350 o número de libertados - dos 750 negociados - eram insuficientes e estavam quase todos em fins de pena, ao contrário dos de penas longas cuja soltura haviam solicitado.
Não receberam nenhuma satisfação e engoliram mais este sapo. Que ficou entalado porque estes 26 que faziam parte da terceira leva seriam os últimos a serem libertados.
O novo milênio se aproximava, os cristãos palestinos, os outros dois bilhões espalhados pelo mundo se preparavam para celebrar os 2.000 anos da era cristã celebrando o nascimento do homem que a edificara, e no Vaticano, o papa João Paulo II estava se preparando para ir a Jerusalém a convite de Yasser Arafat.
Em Tel Aviv Ehud Barak começava a mostrar as garras e Jerusalém não abrigava só santuários.
Nela residia um ogro. Um general à paisana que andava à espreita de dar o bote contra a paz.



"All who want to see an end to bloodshed in the Middle East must ensure that any settlement does not contain the seeds of future conflict. Justice requires that the first step towards a settlement must be an Israeli withdrawal from all the territories occupied in June, 1967. A new world campaign is needed to help bring justice to the long-suffering people of the Middle East."
Bertrand Russel, 1970
Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
 Shovrim Shtika - Breaking the Silence
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/

domingo, 20 de maio de 2012

Omissão, indiferença, consciência de genocídios: Armênia, Palestina...


Todo mês de abril as comunidades armênias espalhadas pelo mundo comemoram um dos maiores genocídios do século XX, cometido contra seus antepassados no canto do cisne do Império Otomano, na atual Turquia.   Como os armênios pouco investiram em lobby, esta data passa quase desapercebida.   Inclusive muitos amigos de descendentes de armênios forçados a imigrar para países como o Brasil pouco sabem do drama que os antepassados destes brasileiros viveram antes de chegar ao aconchego da nossa terrinha tupiniquim.   Para não deixar a data passar em branco e reviver em poucas palavras memórias recalcitrantes, eis alguns dados importantes que não hão de ser esquecidos só porque os armênios tentam perdoar o imperdoável sem clamar por vingança.
A despeito deste espírito de boa-vontade, eles gostariam que a Turquia reconhecesse oficialmente o genocídio e que os sobreviventes que vivem até hoje nesse país pudessem praticar o cristianismo fora de casa sem correr perigo.
O genocídio armênio foi praticado através de deportações e massacres bem organizados.
No final da marcha fúnebre de abril de 1915, Um a um milhão e meio de homens, mulheres e crianças perderam a vida por assassinato ou mau-trato crônico.
Porque eram diferentes ou cristãos, a razão é dupla ou vaga.
O certo é que a violência foi generalizada contra os cidadãos de todas as idades e de ambos os gêneros.
Abusos de toda ordem, estupros, execuções sumárias, privação de comida e água foram lugares comuns durante a "depuração" étnica cuja responsabilidade até hoje a Turquia nega.

Documentário Al Jazeera: Common Pain sobre os armênios na Turquia até 1915


O mês de abril foi o da lembrança do genocídio armênio e o de maio é o da Catástrofe palestina.
A Catástrofe/ Naqba foi desapossamento, expulsão, deportação de mais de 760 mil palestinos de casa e território - cujos descendentes compõem a diáspora atual de 4.7 milhões de refugiados.
A Naqba aconteceu no processo de criação do Estado de Israel em 1948 e atingiu mais de 60 por cento da população nativa. 
 Mais de 530 cidadezinhas foram despopuladas e dizimadas em operações para-militares nesse período.
Cerca de 160 mil palestinos ficaram para trás (hoje são mais de 200 mil). Foram "poupados" e são hoje cidadãos de segunda classe no que é o Estado de Israel (do qual constituem cerca de 20% da população atual). Foram desapossados de bens e moradia como os demais, mas "só" internamente deslocados e impedidos de retornar a suas cidades de origem e às casas de seus antepassados. Suas residências foram "transferidas" a imigrantes judeus, mas até hoje, como os refugiados vítimas do êxodo, guardam com o maior cuidado a chave de casa. 
Passeata Naqba em Amman, na Jordânia 
Passeata na praça Tahrir do Cairo, no Egito
Neste ano a Naqba gerou manifestações em países árabes - Jordânia, Egito, Líbano... - na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A repressão da IDF correu solta e deixou dezenas de feridos - em Gaza atiraram inclusive em uma criança que se aproximou de um checkpoint.
Mortos também não faltaram, de todas as idades, vítimas das balas de borracha e outros artifícios cada vez mais perversos e sofisticados que os israelenses usam à vontade para manter o regime de terror e a ordem de superfície nos territórios ocupados.

Documentário Al Jazeera: The Great book Robbery

Além de destruir vidas na criação de seu Estado, Israel destruiu também patrimônios arquitetônicos e culturais universais em sua campanha de ocupação territorial.
Durante a Naqba em 1948, por exemplo, bibliotecários da recém-criada Biblioteca Nacional de Israel acompanhavam os para-militares e soldados quando estes penetravam nas residências palestinas para despojar as famílias de seus pertences, vandalizarem suas moradias, expulsá-las e massacrá-las in loco ou em seguida.
Estes "civis" eram encarregados da pilhagem intelectual; de apreender o máximo de livros e manuscritos antigos que encontrassem.
No final do saque, 30.000 livros foram surrupiados em Jerusalém e 30.000 em Haifa e Jaffa.
Os israelenses apresentaram este desapossamento como "operação de resgate cultural" mas os palestinos o veem como "furto cultural".
Desde então as vítimas denunciam o confisco da herança cultural de seus antepassados, mas os israelenses se faziam de surdos e a comunidade internacional não agia por não ter prova concreta do saque.
Em 1998 um doutorando israelense "tropeçou" neste acervo estrangeiro durante sua pesquisa de tese no arquivo nacional e levou o fato ao conhecimento da imprensa e das autoridades.
As ONGs de Direitos Humanos israelenses andam fazendo duas perguntas às quais ainda não obtiveram resposta:
Por que este patrimônio cultural palestino ainda se encontra em cofres da Biblioteca Nacional de Israel?
Por que ainda não foi restituído aos proprietários legítimos?
"Se não for restituído, a operação não foi de preservação como foi dito, mas sim roubo, puro e simples," é a opinião que predomina na Tel Aviv pensante.

  
Al-NAQBA
http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2011/05/naqba-catastrofe.html
Al-Jazeera Listening Post: Nakba, rebels and reporters

Na véspera da comemoração da Naqba Netanyahu acabou se dobrando à negociação com os 2.000 grevistas de fome palestinos. Cedeu direitos magros que deveriam ser desde o princípio inalienáveis a um ser humano, mas já foi um passo bastante apreciado em Ramallah.
O "milagre" aconteceu por causa da perspectiva de passeatas gigantes incontroláveis na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e nos países limítrofes, cujas consequências a IDF e os serviços de segurança israelense temiam debaixo do pano.
Outro fator decisivo deve ter sido a ameaça do Hamas de retomar a resistência militar caso um só grevista perdesse a vida "na manifestação legítima de protesto".
O acordo intermediado pelo Egito e pela Jordânia aconteceu in extremis, mas a tempo de evitar a morte dos grevistas já moribundos.
As garantias foram poucas, mas suficientes para acalmar a onda de protestos que tomava proporções graves cujas consequências, do lado de cá e de lá da Linha Verde, apreendia-se.  
No papel, Israel prometeu o seguinte.
Embora os prisioneiros em "prisão administrativa" - sistema esdrúxulo que permite detenção sob "prova secreta", sem acusação formal e sem julgamento - continuem a cumprir penas, estas só serão renovadas se houver provas novas, ou seja, devidamente formalizadas. 
A outra "concessão" feita por Israel é de transferir para celas normais os inúmeros detentos em solitária - um dos maiores pontos de discórdia, pois este confinamento se devia a uma medida retaliatória que há meses caducara, já que era condicionada à libertação do soldado Gilad Shalit, preso em 2006 em Gaza e solto no ano passado.
Para não dar o braço a torcer e aproveitar para levar vantagem, Binyamin Netanyahu disse que seus esforços se inseriam em um contexto de retomada dos Acordos de Paz congelados e que suas concessões eram uma "resposta ao pedido do presidente palestino Mahmoud Abbas.. Esperamos que este gesto de Israel dê início à restauração de confiança entre as duas partes e aproxime a paz."
Naquela prática corrente de dar com uma mão fechada transformando a concessão esquálida em divina dádiva mediática e tirar com a outra arreganhada na discrição dos microfones desligados, concomitante ao comunidado do porta-voz de Netanyahu chegou um mais discreto do Shin Bet ("SNI" local), enfatizando uma "luz verde" das facções palestinas que os líderes dos prisioneiros assinassem "um compromisso de terminar as atividades terroristas dentro dos presídios.... Os prisioneiros pararão todas as atividades que constituem apoio ao terrorismo, inclusive recrutamento de pessoas para atividades terroristas, conselho, financiamento, coordenação e ajuda de recrutas, etc."

O Shin Bet não especificou como tais atividades vêm sendo praticadas, mas entende-se que além da suspeita das visitas dos familiares serem usadas para ativismo político, a falta de clareza visa a contra-informação habitual de justificar os maus-tratos e arbitrariedade nos presídios como necessários, e alimentar no inconsciente coletivo o fantasma dos atentados, embora estes tenham parado há sete anos.   O Protocolo, levado por um mediador egípcio, foi entregue aos líderes do movimento na prisão de Ashkelon no dia 14.
Na Faixa de Gaza houve manifestações de alegria de familiares dos presos que sairiam da solitária. Em Ramallah, a deputada Hanan Ashrawi declarou vitória para milhões de palestinos, " A magnífica coragem dos grevistas e sua generosidade são profundos exemplos de humildade. Eles demonstraram que a resistência não-violenta é um instrumento essencial na luta pela liberdade."
Hanan suspirou de alívio junto com toda a Autoridade Palestina que viveu dias de tensão enquanto os grevistas jejuavam. Temiam as terríveis consequências de Tha'er Halaleh e Bilal Diab, membros do Jihad Islâmico, não resistirem aos 77 dias de greve. As vidas dos dois homens estavam por um fio. Assim como qualquer perspectiva de paz futura.
Ao ouvir a notícia, um ativista de Direitos Humanos declarou que a ONU deveria forçar Israel a definir claramente o estatuto dos prisioneiros palestinos que são sequestrados no próprio território e jogados em cadeias temporárias ou presídios sem nenhum controle da Justiça Internacional e das organizações humanitárias.
"Se Israel definir que os prisioneiros são estrangeiros, são, por definição da Convenção de Geneva, prisioneiros de guerra e têm de ser tratados como tal e gozar do direito de vigilância das Nações Unidas.
Se definir que são prisioneiros locais, considerando os Territórios Ocupados como extensão do Estado de Israel, são então, por definição, prisioneiros políticos, já que seus 'crimes' são em protesto contra o status quo opressivo e repressivo que transforma seu quotidiano em inferno.
Uma coisa é certa, não são prisioneiros comuns e têm de ter direito a uma defesa além e aquém das fronteiras internacionais ".

Detentos palestinos em Israel, em 2012.
Apenas os números fornecidos pelo IPS (Israeli Prison Service).
Não inclui os prisioneiros detidos fora dos presídios, cujo número, lugar e condições de detenção são indefinidos.  
Mês
Dia
Prisão
Total
Cumprindo pena
Detentos
Detentos sob a
Lei de combate ilegal
Detentos em processo
Detentos
Administrativos
Abril
30
IPS
4,424
3,097
165
1
853
308
Março
31
IPS
4,386
3,125
145
1
795
320
Fev.
29 
IPS
4,411
3,213
164
1
713
320
Jan.
31 
IPS
4,357
3,215
156
1
676
309

Detenções aleatórias, horas a fio debaixo de sol e chuva nos checkpoints

 


 Tipos de tortura usadas em prisioneiros de todas as idades



Projeção do número e tipo de detenção nos últimos cinco anos. Fonte B'Tselem. 

Entrevista com o professor Noam Chomsky sobre a Greve de Fome dos prisioneiros palestinos

TED em Ramallah

PS. Netanyahu está furioso com a recusa do Comitê Olímpico de autorizar o "minuto de silêncio" solicitado por Israel em memória dos atletas israelenses assassinados em Munique em 1972.
Aí alguém explicou que se o Comitê concordasse em politizar o evento esportivo, seria obrigado a atender também às inúmeras reivindicações de boicote de Israel das Olimpíadas por desrespeito constante das leis internacionais na prática de apartheid e nas décadas de ocupação da Palestina com os estragos inerentes a estes atos arbitrários.
Aí os sionistas calaram o bico e continuaram suas barbaridades.   


“Since visiting Israel and the occupied territories in 2006, I have been part of an international movement to support the Palestinian people in their struggle for freedom, justice and equality.
I am honored to have been asked by the Palestinian BDS National Committee, to announce an initiative, to hold the World Social Forum Free Palestine in Porto Alegre, Brazil in November of this year, in cooperation with the Brazilian social movement and international civil society networks.
The object will be to create an international gathering there, that will encourage the basic human instinct in all men and women of good faith to unite in support of the Palestinian people in their struggle for self determination.
All over the world, our movement is growing.
Encouraged by events like the one coming here to Brazil, our voice will grow.
We will continue our call for an end to the Israeli occupation of Palestinian land, for the tearing down of The Walls of colonization and apartheid, for the creation of a Palestinian state with its capital in Jerusalem, for the granting of full and equal rights to the Arab-Palestinian citizens of Israel and for promoting the rights of Palestinian refugees to return to their homes as required by the Geneva convention, as stipulated in UN resolution 194, in 1949 and as restated by the International Court of Justice on the 9th of July 2004.
I find myself greatly encouraged by the growth of this movement in Israel, particularly among young Jewish Israelis, not least ‘Boycott From Within,’ With whom I am in contact.
We stand with you.
Events in Israel and the occupied territories are not widely or accurately reported in the west. The coming World Social Forum Free Palestine in Porto Alegre will help to break down The Walls of misinformation and complicity.
I urge people of conscience to support this forum and help make it a turning point in the international solidarity with the Palestinian people.
The truth will set us free
In Solidarity,
Roger Waters, durante a turnê 2012 do Pink Floyd no Brasil

Pink Floyd - Tour for Palestine (2010)

Documentário American Radical: the trials of Norman Finkelstein




domingo, 13 de maio de 2012

Israel vs Palestina : História de um conflito X (1998-1999)



Em 1998, o ano político começou no Dia de Reis, quando o representante dos Estados Unidos Dennis Ross encontrou Yasser Arafat e Binyamin Netanyahu com o objetivo de preparar um encontro em Washington logo em janeiro.
Porém, antes da reunião acontecer no dia 20, Binyamin Netanyahu voltou a torpedear as conquistas de Yitzhak Rabin anunciando no dia 18 que mesmo que um Acordo de paz fosse assinado Israel manteria o controle de grande parte da Cisjordânia.   
Portanto, quando esteve com Bill Clinton no dia 20 não concordou nem com a perspectiva de implementação de autonomia palestina restrita.
Quando Yasser Arafat chegou em Washington no dia 21 foi encurralado de cara, primeiro pela secretária de Estado Madeleine Albright e no dia seguinte por Bill Clinton.
Nas duas reuniões Arafat foi instado a pôr fim às atividades guerrilheiras do Hamas - então ponto pacífico, já que as bombas-suicidas estavam momentaneamente caladas para deixar espaço ao diálogo -  e em contrapartida os EUA se comprometiam a convencer Israel a proceder a uma retirada militar e civil credível da Cijordânia.  

Checkpoint em Hebron de uma rua para outra
No final os líderes voltaram para casa e enviaram aos Estados Unidos representantes para negociar um plano paralelo.
Enquanto os enviados conversavam, Netanyahu minava o terreno do seu lado.
Um mês após a reunião conciliatória, tropas da IDF na Cisjordânia investiram por um campo de refugiados adentro invadindo residências e prendendo seis homens sob suspeita de futuros ataques, e no dia 11 de março mataram em um checkpoint próximo de Hebron três operários a caminho do trabalho.
O protesto palestino veio na maneira de sempre, com passeatas que terminaram em pedras e queima de pneus contra gases, tanques e balas da IDF, enquanto os soldados implicados no assassinato eram interrogados.
Foram libertados no dia do funeral dos três trabalhadores seguido por milhares de pessoas indignadas com o crime, a impunidade e a situação que em vez de melhorar, piorava.
As passeatas continuaram e em Hebron os feridos aumentaram enquanto o ministro das relações exteriores da Inglaterra Robin Cook terminava a turnê no Oriente Médio com um relatório etregue ao primeiro ministro Tony Blair para que alguma providência oficial fosse tomada.
No terreno os dois líderes se distanciavam, mas nos bastidores seus representantes dialogavam com pouca margem, mas suficiente para que no fim de março os Estados Unidos apresentassem um projeto de retomada das negociações interrompidas em 1997.
Em sua dança de um passo pra frente e três pra trás, Netanyahu rejeitou de cara a proposta de retirada da IDF de 13% da Cisjordânia, embora a porcentagem fosse aquém da prometida por Yitzhak Rabin nos Acordos de Oslo.
E no dia 02 de abril a discórdia chegou ao ápice com a morte de Mohiyedine Sharif, pupilo de Yahya Ayaash, novo artífice das bombas usadas pelo Hamas.
Sharif foi baleado e seu corpo foi deixado perto de um carro explodido para eliminar as marcas do assassinato.
Israel negou o crime, mas mesmo assim o Hamas jurou vingança por não acreditar na versão oficial que Sharif fora vítima de um grupo interno rival não identificado.
A este seguiu o assassinato de um dos líderes do Hamas, desta vez com responsabilidade clara da polícia israelense e Abdel Aziz Rantisi, do Hamas, exigiu a demissão de membros da Autoridade Palestina que acusava de passividade ou cumplicidade com o inimigo.
Em vez de demiti-los, Arafat ordenou a prisão de Rantisi dificultando ainda mais as relações entre o Hamas e a Autoridade Palestina.
Nesse ínterim Tony Blair, recém-empossado em 1997 e ainda vulnerável aos ideais do Partido Trabalhista que o pusera em Downing Street, marcou reunião em Londres no dia 04 de maio para tentar desenredar a situação e durante o ano deu um pulo em Gaza para visitar Arafat.
Enquanto a reunião de Londres estava sendo oranizada, Dennis Ross voltou à carga, pedindo que Netanyahu cumprisse o combinado e tentando acalmar Arafat que sofria pressões de todos os lados por submeter-se às vontades do adversário.
Apesar das dificuldades o Encontro em Londres começou na data marcada, mas foi Madeleine Albright que tomou as rédeas das conversas, separadas, com os líderes israelense e palestino.
O dia foi movimentado, mas embora a Secretária de Estado estadunidense não tivesse conseguido abrir os olhos de Netanyahu nem convencer Arafat a abdicar das magras conquistas do Acordo de Oslo, conseguiu pelo menos que nenhum fosse embora.
As reuniões se repetiram no dia seguinte, Albright anunciou que Arafat concordara com a proposta de resgatar as negociações de paz, pediu para Netanyahu também concordar, o israelense não lhe deu nenhuma bola, e o Encontro terminou no dia 06 sem que nenhum passo adiante fosse dado.
E lá foi Dennis Ross à cata de Netanyahu para convencê-lo a, no mínimo, participar de um diálogo bilateral em Washington, mas não conseguiu a atenção do primeiro ministro israelense nem por uma hora.
Ao ouvir a condição imposta - a devolução à Autoridade Palestina do controle da área combinada - Netanyahu deu de ombros e foi embora.
Nesta altura dos acontecimentos, uma digressãozinha sobre os intermediários escolhidos por Washington para mediar a paz no Oriente Médio parece útil.
A Secretária de Estado Madeleine Albright detestava Yasser Arafat, dizem que por influência histórica.
E o enviado especial Dennis Ross (de volta à ativa este ano junto a Hillary Clinton na questão iraniana) teve sua imparcialidade várias vezes questionada.
Em 2006 Stephen Walt, professor da Universidade de Harvard, nos EUA, incluiu o nome de Ross na lista de membros do lobby israelense em Washington; e em 2008, Daniel Kurtzer, ex-embaixador dos EUA em Tel Aviv (1982-1986), publicou uma monografia que continha depoimentos anônimos de negociadores árabes e estadunidenses que reclamavam que Ross tomava o partido de Israel nas negociações.

Quaisquer que fossem os interesses pessoais e ideológicos dos dois mandatários estadunidenses no processo de paz, Netanyahu estava confiante e pôs todos os trunfos do seu lado voltando a Washington para influenciar Albright em meados de maio.
Não sei se abandonou o navio de propósito, mas escolheu justamente o período do ano em que os palestinos comemoram o luto da Naqba.
Enquanto os dois conversavam, na Cisjordânia e em Gaza a "passeata de um milhão de homens" acontecia no dia 15, aniversário de 50 anos da "Catástrofe".
A repressão foi sangrenta e desenfreada às passeatas que eram também de frustração pelos 14 meses de suspensão da implementação dos Acordos.
O dia terminou com dezenas de feridos e oito mortos. Mas Washington só parecia preocupada com eventuais retaliações do Hamas que prejudicassem a população israelense.
No dia 19 de maio Madeleine Albright foi a Londres encontrar Yasser Arafat sem levar-lhe nem promessas vagas. A reunião foi uma perda de tempo para ambos e ela voltou para casa convencida que Arafat era o mal encarnado, por não se conformar com sua proposta esquálida.
Vendo que os Estados Unidos se encontrava em um beco sem saída e que Tony Blair já era apenas um office boy da Casa Branca, a França e o Egito propuseram a mudança de intermediário em uma Conferência de Paz que os dois países organizariam de boa vontade. Porém, Netanyahu recusou a oferta de Jacques Chirac e Hosni Mubarak.
Tel Aviv não queria nada com o presidente da França, cuja simpatia pela "injustiça cometida contra os palestinos" era notória, mas não tinha nada contra o encontro de seu Ministro da Defesa Yitzhak Mordechai com Mubarak que, devido aos laços que unia o Egito aos EUA, não deixava de ser um precioso aliado no mundo árabe.
Diante da proliferação das invasões na Cisjordânia, no dia 11 de junho os palestinos voltaram a apelar para as Nações Unidas para que protegessem os sítios arqueológicos que Israel estava destruindo em Jerusalém Oriental para expandir as colônias.
Em vão.
Ao invés de interromper as obras controversas e ilegais Israel demoliu mais quatro casas pretextando que  não tinham autorização de Tel Aviv para estar onde estavam.
E para que suas intenções fossem claras, Netanyahu reafirmou que a paz jamais seria alcançada se os palestinos continuassem a reivindicar seus direitos sobre Jerusalém, inclusive a parte Oriental, embora tais direitos lhes tivessem sido outorgados pela própria ONU, que rege - ou deveria reger - as fronteiras planetárias.
E para unir ato à palavra, apesar das críticas da União Europeia e até dos Estados Unidos, Netanyahu decidiu incrementar o seu "super-município"' em Jerusalém no qual incluiu várias colônias da Cisjordânia, dobrando ilegalmente o território que a ONU destinara ao seu próprio Estado.
Do lado oriental da Linha Verde a crise político-administrativa só aumentava e Arafat voltou a trocar vários ministros inconformados com a perda crescente de território sem que Arafat conseguisse recuperar nada.

Enquanto a Autoridade Palestina se enredava, o sheik Ahmed Yassine, fundador do Hamas, que fora ao Cairo para tratamento de saúde, retornava a Gaza e Arafat gritava no vazio que os palestinos defenderiam Jerusalém dos planos expansionistas israelenses com unhas e dentes, se necessário.
Dentes de leite e unhas corroídas até a carne.
Consciente de sua supremacia bélica e da impunidade em que manobrava, a IDF começou o mês  de julho bloqueando, no dia 3, o trânsito dos moradores das cidades de Rafah e Gaza para não poderem se locomover dentro da Faixa de uma a outra cidade.
Os gazauís engoliram em seco, os compatriotas na Cisjordânia protestaram, a tensão aumentou nos dois lugares e em Tel Aviv a oposição começou a relamar que Netanyahu estava conduzindo o país a uma guerra de fato, chamou-o de mentiroso e ele foi perdendo a popularidade.
Nesse ínterim, a ONU decidiu no dia 08 de julho elevar o estatuto da Palestina na Organização, passando de "observador" a "membro sem direito de voto".
Os únicos votos contrários à decisão da Assembleia Geral foram dos Estados Unidos, de Israel e de dois outros membros inexpressivíssimos das Nações Unidas - Micronesia (107 mil habitantes) e Ilhas Marshall (63 mil habitantes), que têm fronteiras devidamente protegidas na Oceânia e gozam dos direitos que aos palestinos negavam.
Dando continuidade à política de proteção incondicional de Israel na ONU e da pressão sobre a Palestina para a segurança absoluta de Israel, Madeleine Albright seguiu a agenda que interessava os EUA e disse em alto e bom som no dia 10 de julho que os dois líderes tinham de encontrar-se para conversar.
Três dias mais tarde uma bomba explodiu na sede da OLP em Jerusalém Oriental deixando os palestinos ressabiados.
Quando Arafat voltou da China ficou sabendo que a responsabilidade pelo atentado não fora determinada e que os Estados Unidos haviam vetado outra Resolução da ONU condenando as invasões em Jerusalém - Netanyahu ousou dizer que seu projeto de expansão estava fora da jurisdição das Nações Unidas.  
Mas nesta altura das disputas Netanyahu não enganava mais nem seus compatriotas quanto mais os diplomatas estrangeiros.
O Knesset começou a discutir e a votar medidas para antecipar as eleições e o povo eleger um  primeiro ministro que os tirasse do impasse no qual o atual os colocara.
Netanyahu não se deu por achado. Atacou com a arma da desinformação que viraria sua marca registrada: "Proponho que os palestinos parem de usar a linguagem de ultimatum. As negociações estão progredindo com a boa vontade de Israel e quero acreditar que também dos palestinos."
Isto porque os representantes da AP que estavam negociando com os israelenses o Tratado, cansados de galgar obstáculos cada vez mais altos, haviam declarado que estavam perdendo tempo e que parariam os contatos se os negociadores israelenes não apresentassem ideias novas e produtivas.
Segundo eles, os enviados de Netanyahu batiam na mesma tecla que os palestinos tinham de renunciar a quase tudo se quisessem paz.
O pessimismo se espalhou pelos Territórios Ocupados e um cisjordaniano matou dois colonos para-militares de 18 e 24 anos que azucrinavam a vizinhança.
Netanyahu respondeu com um decreto que aprovava a construção de mais colônias.
Espremido contra a parede, Arafat voltou a mudar seu ministério e exprimiu sua impotência diante de parlamentares sul-africanos. "Israel desafiou a legitimidade internacional e as Resoluções da ONU abrindo a porta para o retorno da violência, anarquia, guerra e destruição. Cumprimos nossas obrigações, mas o primeiro ministro Binyamin Netanyahu deu as costas aos acordos de paz definidos em Madri e Oslo."

O Hamas estava relativamente controlado, mas atos isolados de revolta eram inevitáveis nas áreas em que a violência dos colonos era constante e não policiada.
Um hebronita esfaqueou o rabino Shlomo Raanan, neto do líder espiritual do movimento radical de colonização da Cisjordânia e pôs fogo na casa que o dito-cujo invadira e morava.
O ato individual gerou a já conhecida punição coletiva contra a população de Hebron inteira, com a  IDF bloqueando todas as vias entre as três zonas e de acesso à cidade. Os palestinos não podiam entrar nem sair de seus bairros nem do município, nem para atividades de primeira necessidade como fazer compras e ir trabalhar.
Netanyahu encurtou suas férias, deu carta branca à repressão, Arafat declarou que o primeiro ministro de Israel estava brincando com fogo na fogueira da ocupação, e no dia 27 de agosto, após uma longa trégua, uma bomba explodiu dentro de Tel Aviv ferindo 21 pessoas. O último atentado fora em março de 1997.
Nenhum grupo palestino de resistência reivindicou o ato, mas a explosão sacudiu os eleitores de Netanyahu, sensibilizou o lobby israelense em Washington e Dennis Ross voltou à carga.
Ross foi dizer para Arafat acalmar seus compatriotas e tentar convencer Netanyahu a devolver aos palestinos um pouquinho do território prometido por Rabin a fim de aplacar a frustração que se alastrava e levava a atos desesperados cuja consequência em Israel nenhum dos dois desejava.
Netanyahu preferiu dificultar a vida de Arafat aprovando o assassinato dos irmãos Imad e Adel Awadallah, dois responsáveis militares do Hamas.
Adel tinha 31 anos, era casado com quatro filhos, tinha estudado Matemática e Tecnologia na Universidade de Jerusalém e estava estudando Literatura árabe na Universidade de Belém quando foi fechada durante a Intifada. Imad era o caçula, também casado, com três filhos.
Os irmãos Awadallah eram ativos em Ramallah e al-Bera, na Cisjordânia, mas o crime repercutiu até na Faixa de Gaza.  
Cinco anos após o aperto de mão entre Arafat e Rabin que selava os Acordos de Oslo e a esperança de paz, o Hamas clamou vingança e em uma operação "preventiva" a IDF pôs as tropas em alerta, bloqueou toda a fronteira da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, declarou estado de emergência e procedeu ao mesmo castigo de sempre invadindo residências, ocupando moradias, tornando a vida da população impossível.
Dennis Ross estendeu sua estadia e disse que estava determinado a acabar com os 19 meses de interrupção das negociações de paz.
Isto foi no dia 18 de setembro.
No dia 19, colonos israelenses na Cisjordânia balearam um adolescente palestino, mas a perspectiva da ida de Arafat à ONU fez com que os ânimos dos seus compatriotas não se exaltassem ao ponto do Hamas voltar a recorrer à reciprocidade da violência que lhes era infligida.
No dia 28 de setembro Yasser Arafat usou da palavra na Assembleia Geral das Nações Unidas de maneira comedida, pois prometera a Bill Clinton que não tocaria no assunto de reivindicar "unilateralmente" um Estado Palestino no an seguinte - data fixada nos Acordos de Oslo testemunhados em 1993 pelo próprio Bill Clinton, que já se esquecera que firmara tal compromisso.
O presidente dos EUA não queria irritar Binyamin Netanyahu para quem a reivindicação dos palestinos na ONU dos direitos adquiridos há cinco anos era inadmissível e inviabilizaria as discussões nascentes.
Yasser Arafat se comportou como Israel e os EUA exigiam e os mediadores marcaram data para concretizar um Acordo, enquanto na Galileia os residentes das duas maiores cidades palestinas - Umm al-Faham e Nazaré - faziam greve contra confisco de terra e a IDF usava da mesma força bruta à qual recorriam nos Territórios Ocupados - gás e balas de borracha à vontade.
Em Hebron os problemas só multiplicavam, com o mês de outubro começando com uma confrontação entre hebronitas e soldados, causada por ações dos vândalo-terroristas que estes protegiam. A cidade viveu mais um dos ciclos intermitentes de estado de sítio de comércio fechado, trânsito pedestre obstruído e proibição de locomoção dos hebronitas para o trabalho, compras e aulas. Só os colonos podiam sair às ruas e continuar suas agressões triviais.   
Como desgraça pouca é bobagem, Binyamin Netanyahu resolveu tornar a situação de Yasser Arafat ainda mais insustentável lhe dando um tapa na cara com a nomeação surpreendente para o Ministério das Relações Exteriores - o general Ariel Sharon, verdugo dos palestinos no massacre de Sabra e Shatila, em 1982 no Líbano.
Yasser Arafat engoliu o sapo, pediu para os camaradas do Fatah e do Hamas fazerem o mesmo, e foi para Washington para a reunião de cúpula ruminando o desaforo.

A filosofia dos Acordos de Oslo era que Yasser Arafat e Yitzhak Rabin construissem confiança mútua progressiva entre seus compatriotas que levasse à autonomia e ao reconhecimento natural do Estado da Palestina.
O assassinato de Rabin e a ambição expansionista de Binyamin Netanyahu em dois anos haviam destruído a ideia incial para provocar o inverso que seu predecessor previra - os dois povos estavam se afastando cada vez mais.
Este encontro marcado para o dia 15 de outubro nos Estados Unidos e com duração prevista de quatro dias, se destinava a remediar a situação clarificando as responsabilidades recíprocas estabelecidadas nos Acordos de Oslo II assinados em setembro de 1995.
Mas até para um observador sem grande acuidade mental e capacidade analítica era óbvio que todos estavam lá para agradar um Bill Clinton que queria deixar sua marca, mas cujo ego era mil vezes superior a lucidez e perspicácia.
Em vez de quatro, o presidente dos Estados Unidos demorou oito dias para arrancar de Netanyahu o mínimo que este não queria. E nos bastidores os estadunidenses não deixavam dúvida que temiam que o primeiro ministro israelense não cumprisse a palavra.

No dia 23 quando o Memorandum de Wye River foi assinado na presença do rei Hussein da Jordânia, talvez nem o progenitor estadunidense botasse fé no Acordo que parira. A não ser que fosse ainda mais ingênuo do que parecia.
A desconfiança que reinava entre os adversários era tamanha e o desrespeito de Netanyahu por Arafat era tão gritante que nenhuma cabeça lúcida acreditava que o primeiro ministro de Israel cumprisse as etapas às quais estava se engajando em Washington.
Aliás, os cortes e as colagens do texto final que foi aprovado transformaram o documento em um emaranhado de formulações ambiguas, cheias de buraco, em que tudo e nada era provável.
O Memorandum definia três fases de implementação de Oslo II, nas quais sobressaiam duas medidas que vinham sendo procrastinadas.
Primeiro o controle palestino total da Área A (definida em Oslo II); Área B, controle civil palestino e militar israelense; Área C, controle integral israelense.
Para viabilizar esta fase os israelenses teriam de transferir 1% de controle do território da Área C para a A e 12% para a B, 3% das quais os palestinos designariam reservas verdes e naturais. Os israelenses se comprometiam a manter a área C que continuaria sob seu controle temporariamente (por razões de segurança) como reserva natural.
Segundo, a abertura de um aeroporto palestino, sob controle israelense, nos Territórios Ocupados.
Terceiro, a libertaço de 750 prisioneiros políticos palestinos.

Os palestinos sairam de Washington preocupados com vários aspectos do Memorandum, sobretudo com os pontos que haviam motivado as negociações. Ou seja, a dimensão e prazo da implementação das fases de retirada civil e militar israelense dos Territórios Ocupados, e o mais importante, a potencial declaração unilateral de Estado em maio de 1999 quando vencia o prazo especificado na Declaração de Princípios de 1994.
Mas o pior das negociações de Wye River foi quão generoso foi Bill Clinton com Netanyahu em troca da assinatura deste no Memorandum que forçara, guela abaixo, aos dois líderes.
O presidente dos Estados Unidos concordou em fazer vista grossa à construção da controvertida colônia de Har Homa condenada pela ONU contanto que os israelenses parassem o lobby contra o veto presidencial à transferência da embaixada estadunidense para Jerusalém, prevista no Jerusalem Embassy Relocation Act de 1995. 
(Esta lei, aprovada no Congresso por maioria absoluta (Senado 93 votos contra 5, Câmara dos Deputados 347 contra 37), estipulava que a política oficial dos Estados Unidos em relação a Jerusalém era que Israel tinha direito de determinar sua própria capital; que os EUA tinham de reconhecer Jerusalém como capital de Israel; que Jerusalém não seria dividida; que os direitos de todos os grupos étnicos e religiosos tinham de ser protegidos; que a Embaixada dos Estados Unidos deveria ser estabelecida em Jerusalém o mais tardar no dia 31 de maio de 1999, data definida para a completação dos Acordos de Oslo.
Uma emenda ao Ato deu ao presidente o poder semestral de opor-se à mudança da Embaixada com o argumento de perigo para a segurança dos EUA.
(Desde 1995, tanto Clinton, quanto Bush e Obama vêm renovando o direito de veto por serem cientes que além do perigo, esta mudança interferiria no processo de negociações de paz.)

Voltando a Wye River, Clinton exprimiu desacordo na construção de novas colônias embora concordasse com a "acomodação de crescimento natural".
Com esta finta semântica obteve de Arafat a promessa de não declarar o Estado Palestino no dia 04 de maio de 1999 como os Acordos de Oslo permitiam.
E no final, os EUA aprovaram fundos para ambas as partes: U$1 bilhão para Israel, para "cobrir os custos de retirada da Cisjordânia"; U$300 mil para a Palestina, para "infraestrura econômica".
E como Bill Clinton é vaidoso mas não é bobo, sabia que o Memorandum estava longe de significar um acordo, queria gente sua no terreno e por isto introduziu na jogada um terceiro componente aos dois adversários - a Central Intelligence Agency.
A CIA foi nomeada para o "cargo" de monitor e árbitro de tudo o que se relacionasse a segurança e a contradições antecipadas das interpretações de israelenses e palestinos do que haviam assinado.
Em suma, os EUA se deram o direito de intervenção (secreta) unilateral enquanto negavam sistematicamente às Naçãos Unidas o direito de intervir legalmente no terreno como árbitro imparcial.

A trégua patrocinada por Bill Clinton não durou quase nada, só vinte dias.
Já no início de novembro, Netanyahu procrastinou a ratificação do recente Memorandum condicionando sua assinatura à prisão de trinta suspeitos de participação de atentados contra Israel e argumentando que Arafat não lhe transmitira segurança suficiente.
Seus compatriotas pagaram o pato em seguida, quando um carro explodiu perto do mercado de Jerusalém ferindo 21 pessoas e provocando a morte dos dois bomba-suicidas.
Uma reivindicação anônima emergiu em nome do Hamas, Arafat condenou o atentado, Netanyahu o culpou pela "má-vontade" e a resistência armada palestina justificou o atentado como "o único argumento que as autoridades de Tel Aviv respeitavam".
Deviam ter razão, pois apesar das retaliações da IDF, o Conselho de Estado Israelense resolveu aprovar o Memorandum com uma emenda que o anularia caso os palestinos declarassem um Estado e não tirassem de sua Carta a destruição do Estado de Israel.
O Knesset ratificou a firma no dia 18 (75 votos a favor, 19 contra e nove abstenções) para demonstrar boa-vontade e as negociações seguiram, com os EUA aumentando a verba israelense a U$1.2 bilhões para "cobrir os gastos de implementaçãos dos Acordos".
Para dar uma contrapartida visível ao dinheiro que os estadunidenses desembolsavam, no dia 20 a IDF começou a retirar tropas de 313 km² da Cisjordânia e o governo anunciou a libertação de 250 prisioneiros políticos.

No dia 24 de novembro um Yasser Arafat rindo até as orelhas inaugurou o Aeroporto Internacional de Gaza, louvado como um símbolo da soberania que almejavam.
Aviões egípcios, marroquinos, jordanianos e espanhóis aterrizaram no aeroporto que havia custado U$250 milhões, mas que para os palestinos valia trilhões, se fosse o caso, pois foi a primeira marca de autonomia em seu solo.
A festa foi bonita, o povo exultava de alegria, dançava ao som de uma banda que acolhia com risadas as aterrisagens nos três quilômetros de pista que abafavam o som dos instrumentos e da cantoria animada.
No dia 30 de novembro, representantes de cinquenta países reunidos em Washington prometeram U$3 bilhões à Autoridade Palestina para que esta pudesse financiar sua estrutura socio-administrativa, no dia 02 de dezembro em Assembleia Geral a ONU se comprometu a apoiar a implemenação do Memorandum, tudo parecia em bom andamento, apesar da reticência de Netanyahu a ceder terreno.
Porém, no dia 4 de dezembro Israel suspendeu a retirada que começara para justificar os milhões que embolsava com a desculpa do ataque de dois colonos e no dia 11 a Cisjordânia viveu uma greve geral para marcar o 11° aniversário do levante palestino contra a ocupação.
Bill Clinton, bem informado pela CIA, resolveu ir ao Oriente Médio dar um empurrãozinho na segunda fase do Memorandum - e lembrar Netanyahu que a primeira ainda não fora cumprida, considerou aterrizar em Gaza, mas a pedido de Netanyahu "a fim de não dar aos palestinos mais asas aos clamores de independência que o aeroporto lhes dava", desistiu e o Air Force 1 pousou em Tel Aviv no dia 12 de dezembro. Visitou o aeroporto de Gaza mais tarde.
No dia 14 o Parlamento palestino assinou por unanimidade a renúncia à destruição do Estado de Israel, removendo de sua carta o parágrafo contencioso desde 1964, conforme Clinton pedira para facilitar o Encontro de três dias programado para apaziguar as acusações mútuas de violação dos Acordos.
Mas a alegria de Clinton foi curta. No dia seguinte constatou que não conseguirira convencer Netanyahu a prosseguir a retirada combinada, mas para não perder a face disse que sua viagem de três dias fora um sucesso.
Sua conselheira em segurança nacional foi mais realista quando retificou a frase de Clinton de ter posto o processo de paz de volta no caminho. É um caminho esburacado, disse.
Esburacadíssimo, os repórters concordariam. Pois nem bem uma semana tinha passado quando o Knesset suspendeu a implementação da retirada das tropas conforme o Memorandum mandava, culpando os palestinos. E aprovou no mesmo dia uma Lei antecipando as eleições para o dia 17 de maio de 1999, seguindo uma resolução de desaprovação da política do primeiro ministro Binyamin Netanyahu.

O ano de 1999 começou mal, como sempre, por causa de Hebron.
Um palestino foi morto por soldados, temendo represálias a IDF declarou estado de sítio previsto para uma semana, mas constantemente renovado. As confrontações lá não paravam e em Jerusalém um judeu extremista continuava a esfaquear nativos aumentando sua lista para nove palestinos sem que a polícia israelense tomasse as providências necessárias, a IDF continuava a desapropriar famílias da noite para o dia com os buldozers caterpillars que as deixavam sem domicílio e sem os pertences que eram soterrados como se não valessem nada, e uma ou outra bala de borracha matava algumas das dezenas de crianças, adolescentes e adultos feridos em manifestações de força dos soldados.
Enquanto o caos aumentava, Binyamin Netanyahu lutava e conseguia a nominação à candidatura a primeiro ministro pelo Likud contra o candidato do Parto Trabalhista Ehud Barak.
Fevereiro começou e terminou sem nenhum progresso nas promessas feitas em Wye River. Os 750 prisioneiros políticos continuavam na cadeia, nenhuma estrada fora aberta entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza e a retirada militar israelense dos Territórios Ocupados era nula, enquanto as colônias em vez de pararem, aumentavam.
No dia 10 de fevereiro a ONU aprovou uma outra Resolução por 115 votos contra 2 contrários - dos EUA e Israel - convocando os assinantes da Convenção de Geneva de 1949 a uma convenção para considerar medidas que parassem as atividades coloniais ilegais de Israel na Cisjordânia que violavam os Acordos de Paz.
A única novidade foi a morte do rei Hussein da Jordânia, cujo funeral no dia 8 proporcionou o encontro "casual" do palestino Nayef Hawatmeh e o israelense Ezer Weizman, que apertaram as mãos estendidas, e o encontro de Yasser Arafat com o papa João Paulo II no dia 19, a quem fez o convite de visita a Belém em 2000, para o Milênio.

O mês de março foi de campanha eleitoral em que Netanyahu prometia aos colonos expansão em troca de votos e Ehud Barack prometia paz.
Teria sido corriqueiro se o ministro das relações exteriores Ariel Sharon não tivesse começado a mostrar as garras. No dia 15 considerou Nula a Resolução das Nações Unidas de 1947 de internacionalizar Jerusalém.
Diplomatas estrangeiros contra-atacaram no dia 18 encontrando Yasser Arafat em Jerusalém Oriental apesar das intenções frustradas de Netanyahu de evitar a reunião, que aliás rendeu frutos, pois quatro dias mais tarde, em Washington, Arafat  pediu para Madeleine Albright formalizar sua proposta de adiamento da declaração palestina de Estado em um documento que estabelecesse outro prazo para um acordo final de paz.
Albright não formalizou nada e ficou com mais raiva do líder palestino por ousar exigir que os EUA quebrassem por escrito a palavra dada.
No canto do cisne, Netanyahu continou a minar as bases de Arafat fechando seus escritórios em Jerusalém Oriental, inclusive a Agência de notícias oficial da Autoridade Palestina, embora não tivesse jurisdição nenhuma sobre esta parte da cidade.
Os protestos dos jovens contra o confisco de terras continuou na Cisjordânia em que as moradias dos nativos continuavam a ser derrubadas para abrir caminho para as colônias.

Abril começou com uma piada. Ariel Sharon foi a Washington conversar com Madeleine Albright sobre o processo de paz enquanto o primeiro ministro japonês insistia com Yasser Arafat em nome de Washington a não declarar o Estado da Palestina na data marcada do dia 4 de maio.
Israel continuou suas operações militares no sul do Líbano, bombardeando e anunciando a captura da cidade de Arnun, e o secretário de gabinete de Arafat Ahmad Abdul-Rahman reiterou o pedido aos Estados Unidos de garantir apoio escrito a um Estado palestino em troca do adiamento do prazo de declaração unilateral de Estado, em vão.
Para evitar novas reuniões internacionais que o embaraçasse, Netanyahu arrematou a caça às bruxas fechando a sede tradicional da OLP em Jerusalém, a Casa Oriental que passara a sediar a  Autoridade Palestina e que acolhia as reuniões diplomáticas.
Alguns diplomatas ocidentais reclamaram, mas tudo terminaria em pizza. Até hoje os palestinos lutam para que ela reviva.
E a vitória de Albright, Ross, Clinton e Netanyahu foi completa quando o Conselho palestino decidiu no dia 28 de abril, em uma demonstração de boa vontade que custaria caro a Arafat, adiar a declaração de Estado prevista nos Acordos de Oslo.

Maio chegou e com ele o prazo dado em Oslo para concretização dos Acordos que culminariam com o Estado da Palestina. O dia 04 passou sem alarde.
No dia 17 de maio o candidato do Partido Trabalhista Ehud Barak alcançou vitória esmagadora sobre Binyamin Netanyahu no pleito antecipado.
Em seu discurso na praça Rabin em Tel Aviv, prometeu retirar as tropas do Líbano em um ano, curar as divisões entre os israelenses e um acordo de paz com os palestinos.
A esperança que plantou não chegaria nem ao caule. Ele a mataria no coleto do pragmastimo das vitórias imediatas.
Mas é outra parte da história.

Binyamin Netanyahu, em uma vídeo-pirata de 2001:
"They asked me before the election if I'd honor [the Oslo accords]... I said I would, but [that] I'm going to interpret the accords in such a way that would allow me to put an end to this galloping forward to the '67 borders. How did we do it? Nobody said what defined military zones were. Defined military zones are security zones; as far as I'm concerned, the entire Jordan Valley is a defined military zone. Go argue."
Em seguida Netanyahu explica que condicionou a assinatura dos Acordos de Hebron em 1997, com o consentimento dos Estados Unidos, a que não houvesse nenhuma retirada de localidades militares que ele mesmo especificasse como tal - como o Vale do Jordão.
"Why is that important? Because from that moment on I stopped the Oslo Accords."


Reservista da IDF, Forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence
 
Global BdS Movement: http://www.bdsmovement.net/



Postscriptum atualidade
No dia 07 de maio houve uma passeata geral dos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para chamar a atenção para a greve de fome que centenas de compatriota estão fazendo nas masmorras israelenses.
As condições de prisão em Israel são uma preocupação constante para todos os palestinos que crescem nos Territórios Ocupados, pois sabem que todos os dias correm risco de prisão aleatória em um checkpoint ou em casa e que a partir dos 12 anos pode parar no mesmo lugar sem saber porquê nem quando e se voltará para casa.
Neste mesmo dia 7 de maio a Europa democrática celebrava o armistício da Segunda Guerra Mundial que deu cabo de Hitler, Mussolini, e deveria ter dado cabo do nazismo, do fascismo e de atos inadmissíveis decorrentes destas duas ideologias calcadas em superioridade étnica, repressão de opinião contrária, opressão dos que não enquadram em desígnio próprio, expansão territorial a fim de impor seu domínio e extinguir outros povos, chauvinismo exacerbado à potência máxima da supremacia racial.
Ideologia que concebe o inconcebível, tais como prisões sem motivo e sem delito definido, em que a simples razão de existir constitue crime de lesa majestade que prescinde de formalidades jurídicas básicas para o detento ser punido; torturas variadas pelo simples prazer de emoções fortes ou por desprezar tanto o prisioneiro que o ato ignóbil de supliciar é tido como brinquedo; mordaça da imprensa e das consciências sob pena de vilipêndio e calúnia de quem fizer denúncia; e aparelho de informação desvirtuada, deformada, falsa, que induza o público a admitir e às vezes inclusive abraçar suas ações indefensáveis.
Tal ideologia nunca mais?!
Quem dera!
Se o algoz de hoje tiver sido a vítima de outrora, nada escandaliza e tudo é permitido.
Até o silêncio cúmplice da imprensa e a vista grossa das Nações Unidas.
Onde e quando no mundo mais cerca de 2.000 prisioneiros de guerra (?) políticos (?) (o número aumenta todos os dias) estariam em greve de fome por mais de 75 dias sem que isto virasse manchete de jornal e escândalo planetário?
Até se os prisioneiros fossem de uma ilha perdida na Oceânia, mas com sede na ONU, uma greve de fome legítima ou ilegítima seria notícia.
(Carandirú apareceu em todas as televisões do mundo...)
Mas sendo os prisioneiros em questão palestinos, não tem importância nem relevância alguma.
De tanto ouvirem os israelenses tratarem os palestinos de e como animais, talvez os repórteres já acreditem que este povo não seja humano como os demais.
Por que estas centenas de homens, mulheres e adolescentes enjaulados em presídio israelense estão em greve de fome, que é o recurso desesperado pelo dano que o grevista faz a si mesmo?
A greve é pelo mínimo devido a um prisioneiro em uma sociedade civilizada - tratamento humano e direito de julgamento.
É por isto que os grevistas palestinos estão definhando dia a dia (vários já foram postos sob controle médico) tentando sensibilizar o mundo que nem lhes dá bola porque os jornais não veiculam esta notícia, péssima, mas notícia que os milhões de leitores e telespectadores do planeta merecem receber, mesmo que a causa palestina seja indiferente à maioria (que vive naquela premissa do "enquanto não for comigo, a injusça pode correr solta que não ligo").
Neste caso não é mais nem questão de tomar partido pela justiça. É a simples questão de exercer o ofício informativo de jornalista.
O único caso semelhante ao dos palestinos na história contemporânea foi, em menor escala mas com igual relevância, o dos prisioneiros políticos irlandeses nos presídios britânicos, retratado no filme Hunger de Steve Mcqueen* (abaixo na íntegra).
A ONU monitorada homem a homem por Obama vira o holofote para Assad e a Síria para deixar os israelenses tranquilos para cometer qualquer crime.
Aliás, Netanyahu está seguríssimo de si e do apoio incondicional de Barack Obama - pelo menos até ser reeleito com o apoio da APAIC (lobby israelense em Washington), pois o último encontro entre os dois homens foi o primeiro da história do Estado de Israel em que o presidente dos Estados Unidos nem toca no assunto da Palestina.
Como se a ocupação tivesse acabado, as colônias na Cisjordânia tivessem sido desmanteladas, o Vale do Jordão tivesse sido devolvido aos devidos proprietários, a IDF estivesse com todos os seus soldados do lado ocidental da Linha Verde, os palestinos tivessem recuperado o direito de consumir sua própria água, a Faixa de Gaza estivesse aberta ao trânsito de pessoas e bens básicos de consumo,  as centenas de prisioneiros palestinos estivessem de volta ao lar, os checkpoints tivessem desaparecido do mapa e os muros estivessem em migalhas.
Mas não.
Até esta manhã, no domingo que precede a celebração da Naqba, o status quo era o mesmo e as colônias se expandem de semana a semana como se não fossem invasões e sim construções legais, na indiferença internacional.
Lembro-me que até 2005 ouvia sem parar o argumento que se os palestinos cessassem a resistência armada, ou seja, as bombas-suicidas que explodiam em Israel com estardalhaço, o mundo os ouviria como ouviu Ghandi.
Foi o que fizeram. Mudou algo na concepção das pessoas que repetiam a lenga lenga acima que a violência provocava antipatia?
Os atentados pararam há mais de seis anos, as colônias continuam se expandindo em vez de serem desmanteladas, a situação dos palestinos está tão ruim ou pior do que antes, e a violência de Israel até aumentou; angariando agravo apenas das pessoas bem-informadas que pressionam seus governos e exercem o direito de boicote não comprando produtos israelenses nem de empresas estrangeiras que financiam as invasões que a nossa imprensa chama inclusive de assentamento, que, segundo o Aurélio, indica "algo colocado em seu devido lugar"... Certamente uma tradução apressada do termo errôneo gringo settlement. Deixa pra lá.
O que é mesmo que o mundo está esperando para agir contra esta aberração contemporânea?
Que as bombas voltem a explodir em Tel Aviv para lembrar-se que os palestinos existem e chorar um punhado de mortos e feridos israelenses traumatizados com o atentado, esquecendo as centenas e milhares de vítimas palestinas que padecem da ocupação vivendo traumas quotidianos inimagináveis como ocupados e apátridas há 64 anos?
Durante este período, mais de 250 mil palestinos - de 12 a 70 anos - já foram detidos em prisões israelenses por períodos curtos (seis meses) ou longos, de anos. Todos devidamente humilhados e muitos deles torturados e sem que o "crime" cometido seja discriminado e sem direito a serem julgados.
O Hamas já avisou Israel que se os cadáveres de seus compatriotas começarem a empilhar, a trégua da resistência pacífica através do boicote pode acabar.
"O muro é uma miragem securitária. Só concretiza o apartheid. Não impede nenhum atentado," diz um observador internacional. "Se o Hamas quisesse e quiser voltar o relógio a sete anos atrás, Tel Aviv vai voltar a viver em sobressalto e experimentar na rua o medo que os palestinos sentem dia e noite até dentro de casa. Aí vão lembrar que os "animais" ainda não foram todos exterminados e que jamais abandonarão a terra de seus ancestrais."

 Crianças presas
 Soldado da IDF humilhando uma prisioneira de mãos e pés atados  
 Filhos de prisioneiros

*Filme HUNGER, de Steve McQueen,
com Michael Fassbender no papel do irlandês Bobby Sands