No dia 02 de novembro de 2017, a famigerada Declaração Balfour completa cem anos. O
lorde Arthur James transmitiu a seus descendentes um dos sobrenomes com energia
mais negativa nos países árabes e entre pessoas bem-informadas. Balfour. Um
epíteto que virou substantivo definido de uma leviana destituição de
nacionalidade dos palestinos em troca de vantagens obscuras e uma supremacia
regional hipotética. Como
a Grã-Bretanha pôde cometer tal infâmia? Eu
gostaria de acreditar que no século XXI tal sentença de morte de uma nação seria
inexecutável. Graças à amplitude dos meios de comunicação, à melhor compreensão
das culturas que compõem o mundo, e à diligência das ONGs internacionais de
direitos humanos. Contudo, ontem e hoje, as decisões de cúpula continuam sendo
ditadas por interesses econômico-políticos deletérios e imponderados.
Os
tempos mudaram, mas os homens, pouco ou nada.
Hoje
as más decisões são tomadas com a desculpa de terrorismo, que, diga-se de
passagem, é produto de antigas e recentes decisões mal tomadas.
Nas
primeiras décadas do século passado, os “terroristas” eram o Califa e o Kaiser.
A
Primeira Guerra Mundial deixou a Europa coberta de cadáveres – mais de sete
milhões de civis e nove milhões de soldados. Foi uma guerra selvagem, do corpo
a corpo, do fincar sua baioneta vendo os olhos da vítima passarem da vida à
morte em todas suas etapas de surpresa, sofrimento e esvaziamento da energia
vital.
O status quo mundial desmoronava. Na
Europa, o império austro-húngaro se fragmentava; a Rússia tzarista dava o
último suspiro com os bolcheviques às portas do palácio de inverno de Nicolas
II; e do Oriente Médio à Europa do Leste, o império Otomano estava prestes a
desmembrar-se em países a serem divididos entre os vencedores, sem nenhuma
consideração étnico-cultural. Como fora feito na África.
Foi
nesse clima de ganância e disputa dos espólios que a Grã-Bretanha teceu sua
rede para instalar no Oriente Médio uma comunidade fundamentalista com a qual
tinha mais afinidade do que com os árabes, embora estes já houvessem comprovado
sua lealdade.
Dos
males, o menor, pensaram.
Esta
frase me obriga a divagar em algumas linhas sobre o cerne do preconceito que
leva a tanto malfeito.
O
racismo consome espíritos inseguros, obtusos, e tem nuances intrincadas.
O
racista carrega a rejeição na alma. É a diversidade que o amedronta e
desagrada. São temores especulativos que motivam o gesto de excluir seu
semelhante de aspecto e estirpe desconformes ao que lhe é familiar. É sua
insegurança que acende a flama da intolerância. É a sua ignorância do outro que
o leva a escolher errado, o que, a seu ver, é o menor mal. Pois o racismo tem
graus e o racista sobe e desce degraus fundados em impulsos fatuais.
Os
ingleses não fogem à regra que se aplica aos falhos seres humanos de forma
geral (e os sionistas em particular, em doses cavalares).
Antes
de elaborarem seus documentos estapafúrdios, Balfour e Sykes haviam feito
comentários antissemitas que demonstravam que não era a simpatia pelos judeus
que os motivava e sim a escolha de um aliado a seus olhos menos ‘exótico’ e
mais ‘próximo’.
Os
árabes inventaram a escrita, os algarismos, a álgebra, a lupa, a câmera
fotográfica, inovações cirúrgicas, a organização hospitalar gratuita (hospital
Ahmed Ibn Tulun, no Cairo, em 872), as virtudes do álcool e de plantas
medicinais, legaram à humanidade progresso e tantas coisas úteis, além do
consumo do café.
Porém,
usavam túnicas em vez de ternos, falavam árabe em vez de línguas europeias,
enfim, quantas barreiras viram os ingleses?
Quanto
desdém no trato com estes associados secundários!
Quão
fácil para um comitê de lordes não cumprir a palavra dada a um povo crédulo,
visto como subalterno!
Os promotores
da declaração Balfour devem ter tido a ilusão que suas diferenças com os
sionistas eram menores por estes serem de origem europeia e terem sido criados
nos moldes ocidentais, além de terem uma rede político-financeira
poderosa.
Os
árabes, inclusive os cristãos, não exerciam nenhuma influência na América e na
Europa. Eram povos e não ideólogos sem amor à pátria mater. Nômades ou
sedentários, constituíam nações distantes e ainda não tinham aprendido a
exercer o poder do petróleo.
Levando
em conta apenas o aspecto externo, os recursos financeiros e a lábia, a opção
deve ter sido até fácil.
No
dia 02 de novembro, o porta-voz do então poderoso império britânico – ainda
inteiro e aspirando a crescimento – transcrevia a carta, curta, mas devastadora,
a ser enviada ao banqueiro que encabeçava uma das famílias mais influentes da
Europa e talvez do mundo, com entrada em parlamentos, palácios, e gabinetes
presidenciais em Paris, Londres e Washington.
Será
que Balfour assinou o bilhete de testa franzida, com mão firme e decidida?
Quantas
não foram as rasuras corrigidas, as folhas de papel timbrado rasgadas, antes da
versão taxativa?
Mesmo
os servidores de sua majestade tendo debatido a questão a fundo antes de
Balfour sentar-se à sua escrivaninha, não deve ter sido fácil pôr sua firma, o
sobrenome de sua família, embaixo de uma sentença que não lavrara.
Ou
quem sabe não mediu as consequências drásticas de um único parágrafo, sucinto e
dogmático.
"Caro Lorde
Rothschild, Tenho o grande
prazer de endereçar-vos, em nome do governo de Sua Majestade, a
seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas,
declaração submetida ao gabinete e por ele aprovada: ‘O governo de Sua
Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina,
de um lar nacional para o povo judeu, e empregará todos os seus esforços no
sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que
nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das
coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o
estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.’
Desde já, declaro-me
extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta declaração ao
conhecimento da Organização Sionista.
Arthur James
Balfour."
Uma das
versões anteriores que vazou dizia “raça judia” em vez de “povo”. Um disparate
retificado só pela metade; a menção “religião” talvez tenha sido cogitada, mas se
tiver sido, foi descartada porque não cumpria a função desejada.
O
enigma era como o rei George V, Balfour e as autoridades britânicas contavam
garantir os direitos civis e religiosos dos cristãos e muçulmanos palestinos em
um estado sionista de vocação declaradamente sectária.
Como
criar um lar nacional judaico sem afetar drasticamente a população local, de
outras crenças, com outras convicções e com uma cultura árabe de hospitalidade?
Nenhum
jornal denunciou a cabala ou interpelou os conspiradores acerca da bomba
relógio que depositavam no coração da Terra Santa.
Se
alguém tiver perguntado algo, a resposta não foi publicada e não ficou nos
anais.
O
que ficou nos anais foi a contradição explícita que a Grã-Bretanha não
resolveria nunca e conflagraria a contenda mais longa e a ocupação mais injusta
da História, de Alexandre a Donald Trump.
A
intenção implícita de Londres era conquistar a simpatia dos sionistas
respondendo ao afã destes de “um renascimento nacional do povo judeu e seu
‘retorno’ à Palestina”.
Por
isso a carta foi endereçada ao barão de Rothschild, porta-voz dos sionistas abastados, vistos como
detentores de influência oculta considerável.
Visão
e razão que, triste ironia da história, são próximas das dos antissemitas que
detectam a “mão judia” nos grandes negócios nacionais e internacionais.
A
propósito, o primeiro ministro da época evocou em suas memórias a potência da
“raça judia” guiada por seus próprios interesses financeiros, enquanto que o lorde
Balfour em questão, em 1905, promovera um projeto de lei que limitava a imigração
na Inglaterra de quem? De judeus russos.
Às
vezes, temor, obediência e desprezo se confundem em um coquetel explosivo que
acarreta repercussões graduais e efeitos imprevisíveis.
Esta
breve missiva endereçada a Lionel Walter Rothschild atendia a demanda do banqueiro, mas era dirigida também,
indiretamente, aos judeus estadunidenses, suspeitos de simpatia pelo império
austro-húngaro, e aos judeus russos próximos do poder revolucionário. Muitos
membros do incipiente regime comunista queriam que a Rússia assinasse um
tratado de paz separado e Londres esperava evitar a debandada de um precioso
aliado.
Aliás,
Balfour evocou, verbalmente, a missão que seria confiada aos judeus europeus
que se instalassem na Palestina: fazer com que seus correligionários no mundo
se comportassem bem. Ou seja, que fossem dóceis espias e mensageiros de Londres
no Oriente Médio. (No final das contas, o feitiço viraria contra o feiticeiro,
como veremos nos últimos capítulos.)
Quanto
ao empenho dos judeus russos no projeto sionista, os promotores da declaração
Balfour calcularam mal. Ou sua influência não era tão grande junto aos
dirigentes bolcheviques ou então seu objeto de lealdade era a pátria recém-conquistada
e não um lar a ser forjado a centenas de quilômetros de distância. Pois na
noite de 6 para 7 de novembro de 1917, os insurgentes tomaram Petrogrado e
solicitaram paz imediata, sem levar em consideração os interesses sectários dos
aliados.
Dito
isso, não posso fechar este capítulo sem esclarecer que Balfour foi testa de
ferro, voluntário ou manipulado, de um marionetista político de garras afiadas;
intermediário entre a cúpula sionista e os que decidiam atrás de portas
fechadas.
Balfour
deixou um sobrenome até hoje amaldiçoado em milhões de lares, mas não foi o
artífice da mensagem. A eminência parda era Leopold Amery (1873-1955), que
talvez tenha sido o maior contribuinte anônimo ao movimento sionista. Sua lábia
funcionou direitinho nos bastidores do poder por onde circulava.
Em
outubro de 1917, seu cargo oficial era de assessor político do gabinete de
guerra. Foi como tal que recebeu o encargo de redigir a versão final enviada a
Rothschild. Fora nomeado no ano anterior por Alfred Milner, então ministro das
colônias, que, insatisfeito com as diversas versões rascunhadas, pediu-lhe que
sintetizasse a mensagem.
Diz
a lenda que este marionetista político produziu-a em um piscar de olhos; o que leva a crer
que a missiva já tenha chegado ao gabinete ministerial no bolso interno de sua
casaca, dissimulada, pronta para Balfour copiar. Balfour levou a fama, mas
Amery ficou para a história de seus correligionários como o autor da “carta
fundadora do estado de Israel”. Por
que Milner incumbiu um sionista convicto e ativo de um documento tão grave, é
um enigma. Talvez tenha sido pelas mesmas razões contraditórias que levaram
Balfour a assiná-lo sem problema de consciência.
Daí
em diante Amery galgaria os escalões com o objetivo principal de viabilizar a
tomada da Palestina. A contribuição seguinte a este pacto infame foi respaldar
a criação da legião judaica sob controle britânico na Palestina durante a
primeira guerra mundial. Neste sentido, como subsecretário militar do lorde
Derby, ministro da Guerra, junto ao qual advogou empreendimento militar
submetido pelo empresário sionista Simon Marks (1888-1964), co-fundador da loja
de departamentos Marks & Spencer.
Ele
mesmo escreveu mais tarde que Marks, “um velho amigo dos tempos de guerra
Sul-africana... pediu minha ajuda na condução das negociações” que consistiam
de formar três batalhões judaicos no propósito de fincar um pé armado na
Palestina no fim do império otomano. Esta legião foi a primeira força armada
explicitamente judaica e foi precursora das brigadas paramilitares yishuv.
Mais
tarde, Amery, orgulho de suas proezas, diria de peito estufado: “Parece que meu
dedo estava não só na [declaração] Balfour como também na gênese do exército
israelense”.
O
partidarismo do homem era patente, mesmo não mostrando a cara publicamente.
E o
apoio incondicional aos sionistas não fazia unanimidade, muito pelo contrário.
Mesmo
assim a Grã-Bretanha não admitiu estar embarcando em canoa furada. Preferiu
acreditar na teoria que o lobby sionista patrocinava, que os judeus europeus na
Palestina representavam a solução para o império britânico perdurar no Oriente
Médio.
Foi
com o objetivo de manter seu domínio que o espólio dos vencidos fora negociado
entre os Aliados antes mesmo da vitória ser definitiva em 1916, quando Londres
e Paris assinaram o acordo Sykes-Picot. E Inglaterra e França não abririam mão
de suas pretensões de esticar seus tentáculos a fim de assegurar as matérias
primas e supremacia mundial. Para
Londres, a Palestina “protegia” o flanco oriental do Canal de Suez, linha vital
entre a Índia e a metrópole europeia. O patrocínio do projeto sionista visava
conseguir o máximo de controle regional.
Mas
como vimos, os britânicos não se contentaram em comprometer-se com os sionistas,
que, para alcançar seus objetivos, teriam feito todas as juras lucrativas sem
intenção de cumpri-las. Londres envolveu os dirigentes árabes em promessas de
liberdade em contrapartida do apoio logístico e de homens que precisavam para
ganhar a guerra; o califa otomano (que exercia autoridade política e religiosa
nos países árabes) aderira à Alemanha e ao império austro-húngaro em 1914 e
chegou a lançar apelo à guerra santa contra os “infiéis”.
A
resposta de Londres foi incitar a insurreição árabe contra o califa, comandada
pelo influente xerife Hussein ibn Ali, de Meca.
Mas
promessa de político só é compromisso para quem acredita.
Quem
não acreditava via que independência árabe, respeito às tradições nacionais
palestinas cristãs e muçulmanas, e um lar nacional judeu, eram inconciliáveis em um único estado dominado por sionistas.
São. De fato.
Hoje que os palestinos perderam muito mais de dois terços de sua nação e continuam sendo desapropriados. O único meio de reverter o processo é o reconhecimento do estado palestino nas fronteiras de 1967 e dar um ultimatum aos yishuv do século XXI: ou vão embora para Israel ou ficam, submetidos ao governo independente palestino.
E para implementar esta solução paliativa, é só a ONU mandar seus capacetes azuis para impor o respeito às leis internacionais às quais todos, inclusive Israel, devem obediência.
Newsweek: Balfour Sparked a National Tragedy For the Palestinian People - with BDS, we can fight back
Al Jazeera: Did British Mandate pave way for Israeli Occupation of Palestine?
The Independent: It's not 'antisemitic' for Jeremy Corbyn not to celebrate the Balfour Declaration - it's sensible.
The worst of all, is Rotschild's boasting version of the taking over of Palestine
The government body in charge of transport in the UK capital London has banned these adverts which highlight Palestinians’ objections to the Balfour Declaration.
Transport for London said it blocked the campaign from transport links on the basis that the issue is politically controversial; however, the Palestinian Ambassador to the UK Manuel Hassassian accused the body of censorship.
The adverts had been drawn up to run in key stations in the run up to the centenary of the signing of the declaration on 2 November.
In a statement the Palestine Mission said: “We are deeply disappointed that TfL refused to run our modest advocacy campaign which aimed to raise awareness, among the British public, about the way the Balfour Declaration affected the Palestinian people.”
“It was appropriate and timely to run this campaign as we mark the centenary of the Balfour Declaration, which was instrumental in the forced expulsion of the Palestinians from Palestine who made up 90% of the population in 1917.”
It added: Britain has unfiinished business when it comes to Palestine. It has legal and moral responsibility which must be acknowledged. Restorative action must be taken to give back the Palestinians their basic rihts and self-determination.
The Balfour Declaration refers to the letter sent by UK Foreign Minister, Sir Arthur James Balfour, on 2 November 1917 to Lord Lionel Walter de Rothschild, referring to the British government’s support for the establishment of a Jewish homeland in Palestine.
Human rights activists have reiterated calls for Britain to acknowledge the role it played in creating the Israeli state and facilitating the ongoing occupation of Palestine.
Last year, the Palestinian Authority called for the UK government to apologise for the declaration, and sought to sue the UK for causing irreparable damage to the Palestinian people. Such calls have been largely ignored by British politicians who have instead reinforced their support of Israel.
British Prime Minister Theresa May and her Israeli counterpart, Benjamin Netanyahu, are expected to be the guests of honour at a London dinner celebrating the 100th year since the signing of the declaration.
There are nearly six million Palestinians around the world; the majority are refugees living in Jordan, Lebanon, Syria and Egypt, while hundreds of thousands live in Europe, the United States and other countries.
Helen Thomas on Israel's occupation of Palestine (07/11)
PALESTINA
Israeli government has been secretly using a U.S. law firm to help it fight the boycott, divestment and sanctions movement in Europe, North America and elsewhere, according to documents obtained by Haaretz.
Tel Aviv has hired the Chicago-based firm Sidley Austin to prepare legal opinions and handle court proceedings. The Justice Ministry and the Strategic Affairs Ministry have declined to reveal the nature of these activities, for which the state has paid hundreds of thousands of dollars over the past two years. The ministries call the activities “diplomatically extremely sensitive.”
The secrecy surrounding the contracts raises the suspicion that the work involves not only writing legal opinions but also preparing lawsuits against BDS Movement supporters, as Israel does not want to be revealed as supporting such actions, to avoid the perception that it is interfering in the internal affairs of other countries.
The money is disbursed as budgetary allocations for international contracts. The Justice Ministry’s report on such contracts shows that Israeli government contracted with Sidley Austin in March 2016 for consulting services, without issuing a tender for competitive bidding. In the first half of 2017, the firm received $219,000 in payments. No other law firms were paid under the same budgetary section.
Sidley Austin did not reply to questions on whether it was working for Binyamin Netanyahu's office.
Sidley Austin is one of the largest American law firms and employs 1,900 lawyers. It is the firm where a young lawyer, Michelle Robinson, met a summer intern named Barack Obama. The firm has four offices in Europe: in Brussels, London, Munich and Geneva.
Sidley Austin did not reply to questions on whether it was working for Binyamin Netanyahu's office.
Sidley Austin is one of the largest American law firms and employs 1,900 lawyers. It is the firm where a young lawyer, Michelle Robinson, met a summer intern named Barack Obama. The firm has four offices in Europe: in Brussels, London, Munich and Geneva.
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