domingo, 4 de dezembro de 2016

Clinton, bye bye! Abu Mazen, retire! Free Marwan Barghouti, já!

Em respeito ao velório e enterro de Fidel, resolvi atualizar esta página mais tarde. Não na manhã de domingo ao acordar e sim após o funeral. No fim do luto oficial dos cubanos e o começo de uma nova etapa neste país tão bonito e tão humano.
Sobretudo porque os três assuntos que me ocupavam estavam a anos luz dos ideais humanistas que celebrei durante a semana. Semana de constatação física e da lembrança dos feitos do Comandante das vitórias sociais e educativas do povo cubano. Semana de celebração de Fidel com pessoas que conheceram sua ideias, seu coração, seu pensamento, pessoalmente.
 E ouvindo as hienas de Miami esbravejando contra Fidel e festejando, e ouvindo em Cuba os soluços e o discurso de reconhecimento das conquistas e determinação de resisgir ao "imperialista estadunidense", temo que os cubanos tenham de retomar a luta, se quiserem conservar seus direitos universais ao estudo, à saúde e à cultura. E seguir o exemplo moral do Comandante.
A vontade de Fidel é que Cuba continue sem nenhum monumento, nanhuma rua, nenhuma praça, nenhum edifício público com seu nome. Não precisa. A juventude, produto desta sociedade extra-ordinária, cuidará de manter sua memória viva. Yo soy Fidel! Era o que se ouvia os estudantes secundários e universitários repetirem, emocionados, na Habana e em Santiago.
A cerimônia no cemitério de Santa Efigênia foi simples. Suas cinzas repousam em um lugar simples. A única sofisticação estava nas palavras que se ouvia da boca do povo que o louvava.
Eis sua herança mais preciosa, a cultura.
Deus o tenha.

Nesse ínterim, através de colegas estrangeiros recebi transcritos dos Estados Unidos e da Palestina.
Da Palestina, foi o congresso do Fatah. Uma vergonha que abordarei no fim da página.
Dos Estados Unidos vieram duas notícias. A primeira, risível e irritante, de que a Clinton continua culpando todo mundo por sua derrota sem fazer seu mea culpa. Não tenho nada com isso, pois só lido com geo-política e não com policitagem doméstica, mas essa mulher me irrita tanto que não consigo engolir seus estertores calada. Mas prometo que é a última vez que lhe dedico mais do que um parágrafo.
As a colleague has just said, in the aftermath of a political catastrophe as devastating of the election of Donald Trump as president of the United States, you've got two choices. You can blame the elites or blame the people. As she, contrary to most "liberal" journalists - that in the afermath of Clinton's loss basically demanded that we dissolve the people and elect another - I'm gonna go with the elites
Desde a vitória do histrião Trump nas eleições estadunidenses que a ogra derrotada tenta isentar-se da culpa da derrota. Levando os clintonites a culparem os eleitores pelo fiasco, e além deles, os white working class e os usual suspects, ou seja, a esquerda.
Mas de fato, concorrendo  com Trump, a Clinton teve sorte, porque foi salva de um vexame. Se tivesse concorrido com um candidato republicano "normal", em vez desse bufão que a derrotou na reta final, teria sofrido uma queda vertiginosa que ficaria nos anais.
Ora, não precisa ser um grande politicólogo para afirmar que quando um candidato antipático já começa a campanha com um nível de desaprovação alto, é quase impossível ganhar.
Apesar disso, os Democratas pensaram que a vitória fosse possível porque seu oponente era ainda mais desprezado, pelas elites.
Pelas elites.
No rol da elite Democrata, foram usados todos os golpes baixos imagináveis e inimagináveis - primeiro contra Bernie Sanders, depois contra tudo e todos os obstáculos à ascensão da vampira insaciável.
O resultado foi que, como Hollande demoliu o Partido Socialista na França (mas acabou tendo a decência de não recandidatar-se), a Clinton, além de perder as eleições, nocauteou o partido Democrata já nas primárias. O casal pressionou, ostensivamente e com meios até pouco recomendáveis, os patrocinadores abastados e influentes (AIPAC em primeiro plano). Além destes, asseguraram, através de cobranças e ameaças veladas, o apoio da cúpula do partido e de diversos grupos de interesses, tais como de direitos humanos, meio-ambiente, sindicatos, etcétera.
Pois os Clintons funcionam como a máfia. Exigem uma lealdade cega e indefectível - mesmo quando estão claramente errados - e punem a honestidade, que chamam "deslealdade", de maneira categórica.
Foi assim que derrubaram um a um os candidatios potenciais. O único que resistiu aos golpes foi Bernie Sanders, porque não tinha rabo e por ser considerado "esquerdista" inofensivo. Quando Bernie ganhou terreno ao ponto de ameaçar a "candidata natural" do partido - ex-primeira dama, ex-secretary of state, ex-senadora de Nova York - o casal usou de todo seu arsenal para derrubá-lo. Foi aí que alienou o eleitorado Democrata jovem e ideológico. Uns debandaram para o partido Verde, outros não votaram. Teriam votado em Elizabeth Warren ou em Joe Biden, com certeza. Mas na Clinton, nem pensar.
Quanto mais as eleições se aproximavam, mais a prepotência da Poderosa Chefona a desfavorizava e as mentiras se acumulavam.
O vazamento de seus emails clandestinos não foi uma punição nem um golpe baixo. Foi prova de sua arrogância incomensurável. Uma figura pública que sonha desde menina em ser presidente de seu país e arquiteta sua vida em função desse objetivo, cometer uma imprudência dessa, é imperdoável. Além do ato em si ser deplorável, é uma prova a mais de sua preoptência imperdoável. É a atitude de uma pessoa que tem a presunção de ser intocável.
Se os Clinton tivessem uma boa assessoria, isto jamais teria acontecido. Mas não. Também são conhecidos pela mediocridade de seu entourage.
Como priorizam lealdade em detrimento de qualidade, tanto o ex-presidente quanto a pretendente preterida são conhecidos por se cercarem de incompetentes. O professionalismo da campanha era só de fachada. A equipe era de um amadorismo primário.
Um amigo lembrou os 2 millhões de votos em favor de Clinton e lembrei-o que o sistema dos Estados Unidos é anti-democrático, mas é constitucional. O problema foi os Democratas perderem, raspando, estados importantes, só porque a equipe de campanha errou o alvo e negligenciou colégios eleitorais Democratas por trabalhar com listas obsoletas - da campanha de John Kerry em 2004.
Para completar, a campanha foi concentrada em áreas urbana e na classe média estudada e os privilegiados, deixando de fora as áreas rurais e os desfavorizados.
E esta é a palavra final.
Desfavorizados.
Estes, reagiram ao abandono ao qual o programa de campanha da candidata Democrata os relegou. Estes, se lembravam do desastre social que foi a presidência de Bill Clinton no plano social e da ameaça bélica que ela representava, que geraria a perda de seus filhos soldados.
A política neoliberal do Clinton presidente, apoiada a 100% por sua cônjuge - com medidas do livre comércio que respondesse à sua obcessão pela redução do déficite comercial - aumentou o nível de desigualdade social a um ponto próximo do insuportável, com a queda dos salários. Esta perda do poder de compra foi agravada pela não-cumprida promessa de seguridade social, obstaculada justamente pela atual candidata.
A política econômica de Bill Clinton arruinou muitas famílias, sobretudo negras, e despejou dezenas de milhares de estadunidenses na pobreza.
É inegável que Clinton e Obama condenaram o partido Democrata à bancarrota. O primeiro, com seu governo neoliberal que atendia aos interesses dos lobbies que o financiaram, mas desiludia o eleitorado Democrata tradicional de base. O segundo, por desinteressar-se de sua instituição partidária.
Hoje o partido Democrata só tem dezoito, dos 50 governadores e perdeu a eleição presidencial para o oponente que o casal acha mais fraco.
O balanço da política internacional do presidente Clinton e da secretary of state Clinton são ambos de amargar. O desastre da Líbia, o fracasso das negociações de paz no Oriente Médio, o apoio indiscrimiando aos "rebeldes" na Síria, a pressão desenfreada para bombardear o Irã, são obras dela. Ela adora guerra e destruição à sua passagem. Deve ter sido tenente de Napoleão em uma encarnação passada.
Seu apoio incondicional à ocupação israelense foi também muito mal vista, já que cerca de 60 por cento do eleitorado Democracata apóiam sanções contra Israel.
No dia da eleição, os clintonites tinham tanta certeza da vitória que abriram o champagne antes da hora. Presunção pouca, é bobagem.
A única culpa da derrota de Clinton é do casal.
De ninguém mais.
Deveriam pelo menos ter a dignidade de parar de choramingar como garotos mimados e retirar-se sem jogar pedras a três por quatro.
E que se aposentem no cume do Ártico.
Não! Que maldade a minha! Coitados dos ursos polares!

A segunda notícia que chegou dos Estados Unidos passou em branco na grande mídia. Como para provar que o governo de Barack Obama vai ficar marcado pelo fortalecimento da ocupação israelense e o crescimento das invasões judias na Cisjordânia, o Senado estadunidense aprovou uma lei que prejudica ainda mais a Palestina.
Uma lei que penaliza crítica legítima de Israel como anti-semitismo.
Um escândalo anti-democrático que provocou revolta na mídia independente, mas nas demais, passou batido, embora o precedente seja gravíssimo.
A lei se chama "Anti-Semitism Awareness Act" e foi condenada por todas as ONGs de Direitos Humanos internacionais..
O objetivo da lei é parar a onda de mobilização estudantil nas universidades estadunidenses em favor da Palestina Livre.
A lei foi apresentada na calada, votada em tempo récorde e ameaça mais ainda a liberdade democrática de criticar os crimes de guerra da IDF, do governo israelense e os abusos cometidos contra os palestinos pelos invasores judeus civis instalados nas colônias ilegais na Cisjordânia ocupada.
Como diz o JVP, "instead of fighting antisemitism, new Senate bill threatens free speech." A primeira medida anti-democrática aprovada foi em Nova York, onde o prefeiro proibiu apoio ao BDS, ou seja, proibiu o boicote de produtos originários das colônias ilegais na Cisjordânia. Falando nisso, lembre-se, jamais comprar produto com código barra  que comece com 7 290!
Hasta la victoria, siempre! Já diziam os Comandantes. Grandes.
O vídeo abaixo data de 2006, mas é assustadoramente atual 

A terceira notícia da semana vem da Palestina, de Ramallah, que sediou o congresso do Fatah que reelegeu Mahmoud Abbas com especulações sobre sua sucessão.
Para começar, os palestinos merecem mais, muito mais, mil vezes mais, do que Mahmud Abbas, que deixou de ser Abu Mazem desde a morte de Yasser Arafat.
Eu já sabia que, após sete anos sem reunir-se, os cartolas do Fatah pretendiam dar à assembléia uma imagem de união e uma legitimidade a Mahmoud Abbas o reelegendo à presidência deste. Já que é presidente ilegítimo de seu povo há anos, que Israel, apoiado pela "comunidade internacional", priva de eleições democráticas desde 2006.
O problema é que o oponente direto de Abbas é Mohammad Dahlan, o cara acusado de ter feito o trabalho sujo de Israel de assassinar Abu Ammar, ou seja, Yasser Arafat.  
O outro problema é Binyamin Netanyahu ter aproveitado a onda Trump para enterrar a Two state solution. Agora fala abertamente no Grande Israel, do Mediterrâneo ao Jordão (quem sabe a Jordânia, o Líbano e a Síria a longo prazo?), com os palestinos sendo cidadãos israelenses de última classe, com estrela preta e verde como um alvo no coração. 
Ou seja, o Fatah também se encontra entre o menor dos males e a Palestina frente a um perigo de extinção definkitiva real. Já que o candidato popular, legítimo e capaz - Marwan Barghouti - encontra-se nas masmorras de Israel, detido desde a Segunda Intifada, e Abbas não move uma palha para tirá-lo de lá.
Nasser al-Kidwa chamou a reunião de "renewal of legitimacy" de Mahmoud Abbas.
O jornalista Samer Badawi, do +972, ao passar a informação questionou legitimamente, "Legitimacy in whose eyes? In the West Bank, the Abbas regime seems to have no say in how its people are treated. Israeli officials proclaim their government’s lust for the entire corpus that is the West Bank, build settlements to consecrate it, and then blame Abbas for questioning the borders of “a Jewish state.” And in Gaza, Israel continues to corral Palestinians into an involuntary human experiment, meting out routine beltings from above—as if all two million of Gaza’s residents were little more than defiant children.
And therein lies the paradox that is Mahmoud Abbas. What father figure is this, so emasculated by an occupier with implicit license to punish, deprive, and discipline him and his people at will? He would seem more deserving of our pity, were he and his supporters not so intent on projecting something else."
Em seu discurso no dia 28, segundo o relatório da A Jazeera, Abbas disse que a Primavera Árabe não foi nem uma primavera e nem árabe. E sim uma versão moderna do Sykes-Picot — referência ao acordo secreto de 2016 entre a França e a Inglaterra que mapeou as fronteiras atuais do Oriente Médio.
Pois é, o problema de Abbas é que há uma distância enorme entre discurso oficial e gesto - político e concreto. Cada vez que penso que ele finalmente virou um estadista nos atos, me desilude; sem parar.
Why, then, would he stand by the so-called Oslo agreement, which wrought the same fate upon the Palestinian territories? Por que então manter os Acordos de Oslo que sangram e rasgam a Palestina como uma colcha de retalhos com pedaços incoláveis? É a pergunta que me faço cada vez que o ouço dizer coisas deste tipo.
Em vez de pisoteá-lo como devia, chegou ao ponto de dizer que foi um "passo avante" (dado por Yasser Arafat), embora diga em seguida que os acordos (dos quais ele foi participane ativo) não puseram fim à ocupação nem asseguraram o direito retorno dos refugiados.
So, why not propose an alternative? Então por que não propor uma alternativa viável?
Nada, vai empurrando com a barriga.
Os delegados jovens representavam um quinto dos presentes. Eram provas vivas que os Acordos de Oslo foram muito menos do que um passo adiante. Haviam prometido ativar resistência popular pacífica. Ao que Abbas respondeu, quase desabusado, no dia 28: "Onde está a resis^tencia popular pacífica? Eu digo, saiam às ruas; e ninguém sai."
Má fé pouca é bobagem. Ou então Abbas ignora o que sua polícia faz. Ele não deve ter tido notícia de sua chamada "forças de segurança" (usadas para implementar a segurança imposta por Israel, segundo os acordos de Oslo) reprimindo violentamente uma passeata pacífica. E deve ter esquecido que durante as passeatas em 2014 contra sua passividade frente as penas de seus compatriotas, foram  tropas israelenses que "guardaram" a delegacia de polícia da Autoridade Palestina em Ramallah.
Mas como não reeleger Abbas quando se sabe que 40 por cento dos palestinos são funcionários público, portanto, dependentes diretamente de Abbas?
As minutas do congresso do Fatah levam a crer que os palestinos preferem sobreviver oprimidos e humilhados do que viver com dignidade em liberdade.
Eu acho que não.
Acho que os palestinos merecem muito mais.
Merecem er pátria como eu tenho. Merecem ter a liberdade de ir, vir, estudar, viajar, ou simplesmente caminhar pelas ruas sem medo do soldado, do colono, da bala do sniper, da bomba que vai destruir sua casa.
Como diz um colega estadunidense, "Palestinians deserve an alternative to this status quo, one that places dignity above ritual and bold policy over patriarchy."
Inside Story: What's ahead for the Palestinians?
 


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